No 10 de Junho trouxe ao “A-PARTIR-PEDRA” um pedaço da História de Portugal, pedaço esse que só não está esquecido, apenas porque é desconhecido.
Como muitos e muitos outros !!!
Na altura indiquei que voltaria com o resto desse pedaço de História no momento próprio.
É hoje, 14 de Julho.
Estes momentos da História de Portugal são capítulos exclusivos das “histórias de Portugal” de cada um de nós, e neste caso concreto é um capítulo da “minha História de Portugal”.
É um óbvio entendimento egoísta, mas Portugal foi feito com milhares de capítulos destes, desconhecidos de todos, e entendo que seria bom, e principalmente inteiramente justo para os intervenientes, que todos pudessem ter acesso à história de acontecimentos como este.
Este Heroi Nacional faria hoje, 14 de Julho, 97 anos se ...
26 de Fevereiro de 1943
Extracto do Livro de Ordens de Sua Ex. o Comandante,
a bordo do “NRP LIMA”, em S.Miguel, Açores.
Sua Ex. o Comandate determina e manda publicar o seguinte:
Ordem nº 62 –
Louvor: Depois de terminadas as duas viagens ultimamente realizadas pelo contra-tropedeiro Lima, uma de Lisboa a Ponta Delgada de 15 a 17 de Janeiro de 1943, durante a qual sofremos um violento, embora curto temporal, outra de 26 a 31 do mesmo mês, em serviço de busca e recolha de náufragos de navios afundados a mais de 300 milhas para sudoeste de S. Miguel, missão que acabou também por um regresso tormentoso, quero transmitir a toda a guarnição as boas impressões que no meu espírito se sintetizaram e também manifestar-lhe:
1º - Admiração quase ilimitada pelas magníficas provas de resistência e estabilidade que este navio exuberantemente evidenciou, quer correndo com o mar tempestuoso suportando balanços que atingiram 67º, quer quando varrido pela vaga, perdida uma embarcação e arrombadas outras, retorcidos muitos balaústres e ferros de toldo, arrancados das suas cravações sarilhos de espias e cofres de munições, torcidos os turcos e com numerosas avarias em toda a parte, quer ainda aguentando-se bem desafrontado do mar durante capas rigorosas e mesmo quando atravessado durante a noite, em consequência das suas máquinas estarem imobilizadas durante cerca de uma hora. Este conjunto de circunstâncias adversas, não sendo vulgar verificar-se, não teve assim, felizmente, outro efeito do que arreigar-nos ainda mais a enorme confiança que nas qualidades deste navio já depositavamos.
2º - Plena satisfação pelo êxito da missão, que excedeu tudo o que esperavamos pois que, tendo partido em busca de náufragos do afundado navio “City of Flint”, pudemos não só salvar 3 das suas 4 partes, ou sejam 48, como ainda encontrar e recolher os 71 sobreviventes que andavam no mar e tinham pertencido ao navio mercante americano “Julia Ward Howe”. Não só estes salvamentos em si, como também a maneira cuidadosa e cheia de carinho com que os náufragos foram tratados a bordo, levam-nos a crer que algum importante e invulgar serviço tivemos a sorte de prestar ao nosso país, acreditando-o como defensor e praticante dos mais elevados sentimentos humanitários e impondo-o à consideração e respeito de todo o mundo.
3º - O maior apreço pelas qualidades marinheiras que a guarnição demonstrou em todas as emergências das 2 viagens, levando o cumprimento do dever ainda mais além do que é usual esperar-se, surgindo sempre nos locais do perigo ou onde o seu esforço era necessário, trabalhando com disciplina e serenidade, executando as ordens com confiança, facto este que profundamente me anima e desvanece. Ao sangue frio e coragem do pessoal se deve não ter havido mais e maiores avarias e muitas delas terem sido prontamente reparadas. Por todas estas honrosas razões são de louvar todos os componentes desta guarnição que no seu conjunto se mostrou admirável e digna das tradições da nossa marinha. A todos eles, quase um a um, caberia um louvor. Mas como nem quando, felizmente, se tem um elevado nível médio destes, se deve deixar de olhar especialmente para aqueles que melhor se evidenciaram, seja porque de facto possuem mais vincadas qualidades, ou porque nos momentos próprios se lhes ofereceu oportunidade de actuar, poderá parecer que todos os outros foram esquecidos, o que não é assim, como se disse. Por isso individualmente:
Louvo o 1º artilheiro nº 4933, Mário Calvário Setúbal por, no dia 30.01.1943, a bordo do contra-tropedeiro Lima, ter mostrado excepcional competência, desembaraço e serenidade como marinheiro do leme nas mais dificeis condições de governo, a alta velocidade e muito mar da alheta e ainda por ter desempenhado com o maior cuidado o serviço de vigilância sendo o primeiro a avistar uma das embarcações dos náufragos recolhidos a 28 de Janeiro.
A bordo do C/T Lima, em S.Miguel , 26 de Fevereiro de 1943
O Comandante
Manuel Maria Sarmento Rodrigues
Capitão-Tenente