A dita Sustentabilidade de Likes e Views
O tempo passa, mas as palavras ficam. Sustentabilidade é uma delas.
Sustentabilidade está por todo o lado, é a palavra do momento. Está em discursos políticos, manuais escolares, relatórios de empresas e nas páginas das redes sociais dos indignados profissionais. É a palavra da moda e como tantas anteriores que, de tanto a gritarem, esvaziaram-na, tornaram-na banal. Hoje, tudo é “sustentável”.
No meio do ruído e da moda, poucos param para pensar o que o termo realmente quer dizer. Ser sustentável não é parecer moderno nem exibir virtude, sustentável é aquilo que dura, aquilo que resiste ao tempo, sempre pensado com medida, propósito e responsabilidade. Sustentável é aquilo que se mantém sem destruir, não destrói os outros, nem a si próprio.
Mas no mundo das tendências “woke”, o equilíbrio não cabe, quem ousa questionar, mesmo com respeito, é rotulado sem apelo de extremista, fascista, do Chega ou trumpista. É uma lógica binária onde ou repetes o mantra do momento, ou passas a ser tratado como inimigo. Basta duvidares para seres suspeito, basta pensares para seres perigoso, a virtude, nesse universo, está sempre com quem grita mais, ainda que os argumentos sejam frágeis, incoerentes ou pura e simplesmente absurdos.
O pensamento livre? Silenciado.
A discordância? Catalogada.
A dúvida? Criminalizada.
Mas os paradoxos não se ficam por aí, o mesmo militante, camarada (camarades para ser inclusivo), que grita contra a agroindústria orgânica do vizinho, contra um restaurante tipico português ou uma marisqueira, compra com orgulho abacates do Peru, e faz saladas de quinoa da bolivia e frutos secos do sudeste asiático. Afinal, são verdes, não é? Esquecendo-se que o cultivo de abacate é responsável pela destruição de milhares de hectares de floresta, pelo esgotamento de aquíferos e por toneladas de emissões logísticas em aviões e contentores refrigerados. Que o aumento de quinoa a nível mundial deixou as pessoas onde a quinoa era o alimento base sem poder de compra para a obter ou até a violação de direitos laborais e as peles queimadas das mãos das trabalhadoras que descascam os cajus.
Ser “verde”, afinal, pode ser altamente tóxico, só depende da embalagem.
Tudo isto revela o mesmo problema, confunde-se sustentabilidade com sensação de virtude, confunde-se o fazer com o parecer. Sobretudo, evita-se pensar nas verdadeiras causas dos desequilíbrios.
Portugal, por exemplo, fala de sustentabilidade com entusiasmo, somos os melhores nas eólicas, temos um sol como ninguém para alimentar os nossos parques solares, somos super, hiper, mega sustentáveis. Os Cristianos Ronaldo das energias renováveis, mas depois olhamos para o país real e percebemos que a sustentabilidade é apenas mais uma palavra bonita numa estratégia de comunicação partidária.
Temos uma das mais baixas taxas de natalidade da Europa, uma juventude qualificada a emigrar em massa, e uma política de imigração que mais parece uma porta destrancada. Entra-se porque sim, sem critério nem visão e depois nem os que cá estão vivem com dignidade, nem os que chegam encontram condições para o fazer.
As cidades estão saturadas, os serviços públicos colapsam, as barracas, as favelas, os musseques ou como se gosta de dizer agora as àreas urbanas auto construídas crescem exponencialmente e o discurso oficial? Fala de “acolhimento”. Como se bastasse uma palavra bonita para resolver o caos, acolher sem estrutura, sem planeamento, sem exigência mútua é apenas semear conflito. E conflito, sabemos, é o oposto de equilíbrio.
E no meio disto tudo, onde entra a Maçonaria?
Entra onde sempre entrou. No ofício silencioso de construir, com esquadro e compasso, com ponderação e intenção.
Aprendemos a não aceitar tudo, mas a medir.
A não excluir por medo, mas a acolher com exigência.
A não nos escondermos atrás de palavras vazias, mas a polir, a lavrar, a deixar marca, marca que dure, que se sustente, e que sirva.
Porque ser Maçom é trabalhar o que importa, mesmo que não brilhe, que seja um obreiro anónimo e desbaste a sua pedra na ausência de likes e views. É lembrar que a construção precisa de uma base sólida, não de cartazes, e que o progresso, sem direcção, é apenas deriva.
Afinal…
o que é que queremos mesmo sustentar para os que vierem depois de nós?
João B. M∴M∴