18 dezembro 2019

Comunicação do Grão Mestre da GLLP/GLRP por ocasião do Solstício de Inverno


Meus Queridos Irmãos, 

TEMOS DE AGIR! 

Estamos prestes a comemorar o Solstício de Inverno, uma efeméride ritual que provém de uma ocorrência astronómica, que assinala o início do Inverno. 

E surge até nós pela ancestralidade de que somos depositários, pois esta data sempre foi importante para as culturas antigas que a associavam a aspectos como o nascimento ou renascimento da vida. 

Por ser o dia com a maior noite no ano, o Solstício de Inverno é associado ao desconhecido ou à escuridão, enquanto o de maior claridade (21 de Junho) é associado à Luz (Solstício de Verão). 

Na antiguidade, as iniciações eram feitas sempre no Solstício de Inverno, porque sendo o último dia da maior noite, significava o início do ciclo de dias de luz cada vez maiores; significava ainda a saída do mundo dos mortos (a noite, a escuridão), e a entrada no mundo dos vivos.

As iniciações tinham assim o significado de renascer, ou nascer de novo para a Luz; o renascimento assume, deste modo, o significado simbólico da vida que eternamente se renova. 

Meus Queridos Irmãos, 

Queria lançar aqui uma palavra de ordem para os próximos seis meses, e ela é: TEMOS DE AGIR! 

Vivemos tempos de uma enorme desconfiança em tudo que nos rodeia. Tempos de extremismos políticos, de desigualdade social, de uma enorme crise ambiental e de guerras e conflitos culturais. 

Neste Séc. XXI em que vivemos, também marcado pelos avanços da ciência, pelas novas tecnologias, pela globalização, pelas viagens rápidas e por um encurtamento das distancias, o Solstício não perdeu a substancia mística que sempre transportou, mas há roupagens novas, sobretudo as que soubermos vestir, de forma a prolongar o encanto que nos trouxe à nossa AO e que por sermos fiéis depositários dela, obriga-nos a levá-la mais longe. E digo novas roupagens porque a essência é imutável, tal como imutável é o G.A.D.U..

O Deus Criador não muda, o que se altera da sua obra deve-se aos homens, e é desta obra – a Criação Universal – de que fazemos parte enquanto criaturas, de que falo quando cito a necessidade de reinventar as roupagens dos solstícios que cada Irmão representa. 

Pois bem, o mundo enfrenta muitos abismos, tal como referi por ocasião do Equinócio do Outono, mas bem sabemos que os problemas são sobretudo questões imateriais, porquanto nascem nas mentes humanas antes de se materializarem no quotidiano das pessoas. Bastas vezes nem sequer se materializam e já se fazem sentir. 

O mundo sempre careceu de mais humanidade, de mais caridade, de mais generosidade, de mais disponibilidade de uns para com os outros, sobretudo para com os necessitados, os explorados, os humilhados, os desprotegidos, os fragilizados, enfim, os pobres e os excluídos.

O enorme impacto no clima e na temperatura da Terra das actividades humanas, nomeadamente a queima de combustíveis fósseis, o abate da floresta tropical e a pecuária é cada vez maior, sendo que as enormes quantidades de gases provenientes destas actividades, juntam-se às presentes na atmosfera, reforçando o efeito de estufa e o aquecimento global.

Já são visíveis os impactos destrutivos das alterações climáticas e as previsões não são animadoras.

Limitar o aquecimento global exigirá a limitação das emissões de dióxido de carbono em todos os sectores da actividade humana. Nunca a destruição foi tanta e tão rápida, e governos e comunidade internacional estão a falhar no combate à crise climática.

As alterações climáticas representam uma emergência sem precedentes, diz a ONU.

A UE cuja divisa é Europa Sustentável- Futuro Sustentável tem como principal prioridade o reforço, como líder mundial, no domínio da acção climática.

Ambiente é a nova arma da Comissão Europeia para pôr a UE a crescer, centrando-se no combate às alterações climáticas como estratégia de crescimento da UE.

Ursula Von der Leyen, Presidente da Comissão Europeia manifestou, no seu recente discurso do passado dia 27 de Novembro deste ano, a sua preocupação sobre as alterações climáticas dizendo: “Temos o dever de agir e o poder de liderar”.

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou na Cimeira sobre as alterações Climáticas, conhecida como COP25, ao aumento da “vontade política” dos líderes mundiais para fazerem o que a comunidade científica lhes pede na luta contra as alterações climáticas: “O que ainda falta é vontade política, sendo fundamental pôr o mundo em linha com o que a comunidade científica definiu”, disse Guterres em conferência de imprensa.

“Durante muitos séculos a espécie humana esteve em guerra com o planeta e o planeta está agora a contra-atacar”; “Temos de parar a nossa guerra contra a natureza e a ciência diz que podemos fazê-lo”, sublinhou ainda Guterres. 

O Papa Francisco criticou, no encerramento do sínodo a propósito da preservação ambiental da Amazónia e do problema provocado pela mineração e desfloramento da bacia amazónica - que os cientistas dizem ser um incremento à ameaça do aquecimento global-, todos aqueles que consideram os povos indígenas “atrasados e de pouco valor”, não reconhecendo o que a cultura deles pode ensinar às outras: “Quanta superioridade presumida, que se transforma mesmo hoje em opressão e exploração”! Disse o Papa Francisco.

Neste momento começa a ser dramático para Portugal o imparável envelhecimento da população e as suas consequências, a todos os níveis da sociedade, da saúde ao crescimento económico. Mantem-se a tendência de envelhecimento demográfico, em resultado da redução da população jovem e em idade activa e do aumento do número de pessoas idosas.

O envelhecimento não só coloca problemas de sustentabilidade dos sistemas sociais, como as sociedades mais envelhecidas tendem a perder o ritmo de crescimento económico, o que agrava tudo ainda mais. A OCDE explica, por outro lado, que este envelhecimento demográfico resulta, por um lado, do reforço da esperança média de vida e, por outro, a redução do número de filhos por casal.

De acordo com os dados divulgados recentemente pela OCDE, Portugal está entre os países onde se prevê que esse envelhecimento aconteça de forma “muito rápida”, que deverá pressionar continuamente o sistema de pensões, e levar a aumentos das contribuições exigidas e resultar na redução dos salários líquidos e no aumento o desemprego, ou em novos cortes nas pensões.

A este problema soma-se o risco de desigualdade na velhice, o desenvolvimento de novas formas de trabalho e o cenário de baixo crescimento económico.

A Maçonaria Regular deve-se manter à margem do debate político e religioso, mas temos o dever de nos juntarmos contra o anti-semitismo que se verifica em algumas cidades francesas, e temos de dizer basta ao crescimento de manifestações de ódio contra a população judaica. Devemos deixar muito claro que o ideal de Fraternidade que nos caracteriza está em total contradição com o anti-semitismo em todas as suas expressões, tal como o “ódio racial” ou qualquer forma de racismo. 

Neste contexto juntemo-nos à maçonaria francesa no apelo à “liberdade e responsabilidade de todos “nas diferentes iniciativas para “parar o aumento do ódio nas relações sociais actuais, um ódio que, no passado, cristalizou tragicamente contra os judeus”. 

Mas hoje, a urgência em acorrer aos carenciados, os da nossa casa, da nossa rua, do nosso bairro, da nossa cidade, do nosso país, também se estende àqueles que nos chegam de fora, os imigrantes e, sobretudo, os refugiados que fogem de todas as guerras, conflitos e tormentas que vamos conhecendo, na procura de uma vida melhor.

As migrações são hoje um problema incontornável a nível mundial. As migrações como fenómeno social, económico e político têm vindo a assumir um papel central na opinião publica e no debate político. 

Meus Queridos Irmãos, 

Hoje, como sempre, devemos celebrar a Vida, a nossa Liberdade e a Democracia, e de fazer tantas coisas que, aparentemente simples e fáceis, foram fruto de árduo trabalho e difíceis conquistas, como a liberdade de falar, de discordar e de votar. 

Não é fácil compreender a complexidade de necessidades e de como a elas acorrer. Mais difícil ainda é ter soluções para essas ocorrências brutais que se multiplicam um pouco por todo o lado, a par das emergências climáticas, ambientais, demográficas e até políticas, algumas delas bem perto ou até dentro da geografia a que pertencemos. 

Ora, todo o Maçon – cada maçon – tem a obrigação de estar atento e reflectir sobre estas questões e, claro, saber agir. Temos de agir! Esta deverá ser a palavra de ordem para o Solstício. E Temos de Agir porquanto sem acção não há obra e sem ela, não realizamos o Templo que está em nós, e impedimos o carente de obter o amparo que precisa. 

Só agindo poderemos proclamar a obra do G.A.D.U., e ela consiste em consumar o nosso juramento como maçons exercendo a solidariedade. E é nesse acto perante o irmão fragilizado, perante a comunidade necessitada ou perante a premência de ajudar a encontrar rumos justos na sociedade, que estaremos a erguer um novo mundo, aquele em que habitarão os filhos que nos sucederem. 

A G.L.L.P./G.L.R.P. tem uma responsabilidade maior, não pelo facto de ser a maior obediência maçónica em Portugal, mas pelo facto de ser a única Obediência Regular, e por isso mantermos laços de amizade e de reconhecimento com as Grandes Lojas Regulares de todo o mundo, e com elas partilharmos os antigos princípios da Fraternidade Maçónica Universal, assim como a tradição iniciática. 

Esta tradição iniciática ancestral torna possível a procura e a construção de valores dentro do respeito, mais absoluto, pelas crenças particulares de cada um de nós, dando um verdadeiro sentido à nossa vida. Esta é a verdadeira e única explicação para a extraordinária vitalidade que a maçonaria conserva e representa nos nossos dias. 

É neste contexto que proponho vivermos com mais alegria, com mais robustez nos bons propósitos de vencer e de ter sucesso, não nas coisas grandes, mas nas mais pequenas ou ínfimas, nas que estão em nós e ao nosso redor. Não é preciso ir para longe para tentar fazer o bem ou melhorar o mundo.

Bem connosco ao nosso lado, em casa, na nossa rua, no nosso bairro, na empresa onde trabalhamos, ou olhando melhor o amigo ou o vizinho que temos, possamos dedicar o esforço em ajudar quem precisa.

Temos de assumir que representamos os Maçons Regulares e que, verdadeiramente, pertencemos a uma comunidade fraterna, independentemente da religião, da origem social ou da raça de cada um dos seus membros.

Devemos estar preocupados com o futuro dos nossos Irmãos sem qualquer discriminação, como um amor que não espera nada em troca, e que se acontecer um infortúnio nas suas vidas devemos estar presentes para lhes dar a força, a esperança e a confiança. Não podemos ficar indiferentes. Devemos estar presentes e agir! Os princípios de solidariedade devem ser a nossa principal preocupação e bandeira. 

A generosidade que juramos sob a forma da caridade, não é mais do que o exercício dos afectos e são estes que transformam o mundo, primeiro em cada um de nós e depois na diferença que fazemos nos outros, que deles carecem para reduzir as suas agruras ou dificuldades. 

Vamos, pois, dedicar algum tempo aos afectos – até porque se aproxima a época do Natal – para que diminua o sofrimento no mundo. Não é preciso buscar batalhas distantes, basta olhar perto e todos perceberemos que podemos fazer a diferença. E olhai bem, quantas vezes só fazendo o bem a outrem é que abrimos a porta para que beneficiemos do bem dos outros. 

Temos de utilizar as ferramentas da esperança, da lucidez e da alegria neste fascinante caminho de renovação. Não podemos desperdiçar os nossos dias, que são poucos, mas que bem contados podem valer uma eternidade. 

Meus Queridos Irmãos, 

Permitam-me que cite, mais uma vez, Albert Pike: “Tudo o que fizermos na vida só para nós, morre connosco, tudo o que fizemos pelos outros e pela humanidade permanece e é imortal”. 

Ou, ainda, um sábio pensamento judaico: “O dia de hoje jamais acontecerá novamente. Mas uma boa acção pode fazê-lo durar para sempre.” 

Ou citando, Mário Martin Guia: “A maior felicidade é a de termos a capacidade de sermos felizes com a felicidade dos outros!” 

Eram estas as palavras simples, mas cheias de emoção, que do fundo do meu coração queria partilhar convosco e que por isso espero que não sejam inúteis e contribuam para um futuro melhor. 

Meus Queridos Irmãos: 

TEMOS DE AGIR! 

Armindo Azevedo 
Grão-Mestre