28 maio 2018

A eventual promiscuidade entre Maçonaria e poderes, sejam eles políticos, ou outros...


Qualquer sociedade dos tempos modernos é sujeita, de forma clara ou não, à influência de grupos organizados, que intencionalmente ou não procuram influenciar "a trajectória" em função dos seus interesses. Se um desses grupos puder ter um nome e esse nome for uns dos tradicionalmente identificados como "de risco", então está criada uma mistura delicada, até porque será certamente visada pela comunicação social.

Assumo que sou maçon... e faço-o com a duplicidade de quem se sente orgulhoso de o ser, e de quem sente que quer dar... unicamente dar, sem estar a pedir que lhe dêem. Infelizmente, a nossa sociedade parece não conseguir visualizar uma coisa sem a outra... possivelmente é a isto que chamam a sociedade materialista, traduzida naquela "famosa" frase - ninguém dá nada a ninguém.

Toda a polémica que ocorre periodicamente, relacionando políticos com maçons ou maçons com interesses obscuros e/ou ilegais, é um claro sinal dos tempos em que vivemos - perdemos valores, perdemos a nossa capacidade crítica, engolimos tudo os que nos impingem, mas preferimos centrar-nos em identificar culpados, de preferência "culpados de estimação" - aqueles que podem sempre ser os responsáveis, até porque estão tão ocupados em fazer bem, que não têm tempo para se defender.

… e nada vende mais jornais do que uma boa “conspiração” orquestrada por uma organização de quem se sabe quase tudo, mas de quem se ignora quase tudo. A Maçonaria é uma dessas organizações: somos discretos, não fazemos alarde do que fazemos de bem, toda a gente acredita que temos uns segredos, que não temos; em resumo – é para desconfiar…

Não pretendo afirmar que todos os maçons são "impolutos". Por mais apertado que seja o nosso método de selecção, procurando identificar homens cuja prioridade seja crescerem e tornarem-se Homens, haverá sempre alguns erros de "Casting"... pessoas que usam o que for preciso para seu benefício pessoal.

Contudo, esta incapacidade de ler as pessoas na sua totalidade, identificando as suas reais intenções, não deve e não pode levar a confundir o trigo com o joio. Um maçon, que o é de verdade, procura melhorar, ajudar, dar a mão... contribuir para um homem melhor e para uma sociedade melhor.

Compete-nos assegurar que assim é, e compete-nos impedir que a Arte Real seja utilizada para projectos individuais ou colectivos que nada tenham a ver connosco e com os ideais que defendemos.

Fraternais abraços de António Jorge
Publicado no website da RLMAD em 28.05.2018

18 maio 2018

Aqui ficam mais alguns quadros da autoria da Pintora Larysa Kalinichenko, também eles com temática maçónica e também eles inspirados pela "sessão de demonstração" que referi no texto anterior sobre este tema:

Nova evolução – Acrílico s/tela – 60×60 (2018)

O segredo… – Acrílico s/tela – 60×46 (2018)

Espreitando… do outro lado – Acrílico s/tela – 55×46 (2018)

Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge

14 maio 2018

A Pintora Larysa Kalinichenko

Por iniciativa do Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, I:. Rui Bandeira, realizou-se em Dezembro passado uma sessão "de demonstração" que se poderia ter chamado de "Maçonaria quase a descoberto", onde os familiares e convidados dos Irmãos da Loja puderam contactar não só com o Templo, mas também com toda a simbologia aí existente e ainda com partes do cerimonial.

Tratou-se de uma sessão onde quase tudo foi mostrado, onde foi possível fazer perguntas e obter respostas e que (de acordo com opiniões recolhidas) terá cumprido o seu duplo propósito:
  • Aproximar os Irmãos e todos os que os envolvem - famílias e amigos.
  • Desdramatizar a Maçonaria e as suas práticas.
Foi com grande surpresa e alegria, que descobri hoje que essa sessão deu origem a dois quadros da autoria da Pintora Larysa Kalinichenko, que se inspirou no que viu e ouviu. Apresento-vos os quadros:
Três Livros Sagrados
Este quadro foi inspirado em toda a simbologia existente dentro do Templo e tem a característica de ser um díptico horizontal em que as duas partes podem rodar e constituir quatro versões diferentes do mesmo quadro:




Com o Título "Reflexão", a visita serviu também de inspiração para o seguinte quadro:

Reflexão
Á pintora a quem tenho a honra de poder tratar como Cunhada, fica o meu (nosso) emocionado Muito Obrigado por estes excelentes trabalhos. Mal podemos esperar por ver os próximos.

Artigo publicado originalmente no Website da RLMAD
António Jorge

10 maio 2018

Integrado na comemoração dos 300 anos da Grande Loja Unida de Inglaterra, a Ilha de Man emitiu um conjunto de selos postais alusivos que merecem ser vistos:



07 maio 2018

Republicação: A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia



Foi há quase dois anos (em 9 de maio de 2016) que este texto foi pela primeira vez publicado no A Partir Pedra. Como, na GLLP/GLRP, estamos de novo em período eleitoral, com o inevitável cortejo de promessas de perfeição, juras de sublimidade, compromissos de primor, acho oportuna a sua republicação aqui e agora.

Aqui vai: 

Mão amiga fez-me chegar o texto do pequeno conto que seguidamente publico. Este texto terá sido encontrado num pequeno e velho cofre que ganhava pó num sótão, dentro de um sobrescrito em cujo exterior estava rabiscado: PARA LER E DAR A LER EM PERÍODOS DE ESCOLHAS.

Na GLLP/ GLRP, entramos em período de eleição do Grão-Mestre para o próximo biénio. É a altura de ler e dar a ler este pequeno conto!

A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia 

A Harmónica Utopia era um lugar - bem, não foi nunca um lugar porque na verdade não existiu... - onde tudo acontecia de forma ideal.

Todos eram amigos, não havia infracções, os meninos e meninas eram todos excelentes alunos, não havia pobreza (nem mesmo a de espirito – bem, desta talvez houvesse...), nem fome, nem opressão, nem …

Tamanha perfeição era também timbre dos maçons da Grande Loja da Harmónica Utopia. Todos tinham já burilado as suas asperezas e imperfeições. Mais um pouco, muito pouco, e seriam todos “Grandes Arquitetos do Universo”!

Esse pouco era mesmo só o prescindir da disciplina (não fazia falta), da Justiça (porque não havia infrações que não se solucionassem com um abraço e uma conversa), da gestão (os anjos podiam fazê-lo em outsourcing), e, como tudo era ideal, não era preciso pagar quotas. 

Decidiu-se passar a assim proceder.

A partir de então, na Grande Loja da Harmónica Utopia, o Grão-Mestre não precisava de poder. Também para que precisaria disso, se os Irmãos eram todos tão cumpridores? Aliás, era sabido que o Grão-Mestre, quando deixasse o cargo, passaria a usar o titulo de Antigo Grande Arquiteto...

Um dia um homem malvado, talvez o único que ainda restasse, conseguiu disseminar a ideia que a Harmónica Utopia era isso mesmo, uma Utopia - e de repente o sonho acabou.

A Grande Loja da Harmónica Utopia também não resistiu e colapsou. O cobrador do fraque apareceu à porta, parece que queria receber. O Grão-Mestre ainda tentou uma conversa e um convencimento e uma solução harmoniosa, mas não foi suficiente! Então alguém com memória lembrou-se da “estória do grande alicate”.

Parece que no passado, quando ainda não se estava no máximo da Harmónica Utopia, o cobrador da electricidade veio cobrar umas contas atrasadas e que lhe contaram que era precisa a assinatura do Grande Tesoureiro e do Grande Secretário e do Grande ….. e que se ele fizesse o favor de passar na semana seguinte já haveria cheque. O homem lá fez isso e quando chegou, uma semana depois, lá lhe foi dito que já havia a assinatura do Grande e do outro Grande mas que o Grande estava no estrangeiro e que talvez na semana seguinte. O dito cobrador terá então retorquido: “não há qualquer problema, vou ali ao carro buscar o Grande Alicate e corto já a electricidade”.

E quando o Grão-Mestre quis saber como estavam a gestão e as contas e as listas de obreiros e os procedimentos, tudo estava entregue aos anjos do outsourcing e estes não tinham responsabilidade pois só trabalhavam com o que lhes era dado - e fazia dois anos que não lhes davam documentos (embora nunca o tivessem reportado e tivessem sempre recebido o seu cheque...).

E assim acabou a Harmónica Utopia e a sua Grande Loja.

 Felizmente que esta fábula não passa de um sonho. Ou será pesadelo?


Como não gosto de me enfeitar com penas de pavão, garanto que este texto não é de minha autoria. Aliás, nem sequer tenho qualquer jeito para a ficção. Mas subscrevo-o na íntegra. 

Prezo muito a Harmonia - mas não pode haver harmonia sem disciplina, sob pena de ocorrer rapidamente a degradação numa anárquica aparência de organização, em que os mais "fortes", ou os mais "espertos", ou os mais "próximos" mandam e põem e dispõem e os restantes... harmonizam!

Prezo muito a Tolerância. Mas Tolerância não implica não haver Justiça e não serem sancionadas as condutas que violem as obrigações assumidas e as normas vigentes. Até por uma questão de Igualdade entre todos: se uns quantos podem infringir diretamente as normas e - em nome de uma alegada "Harmonia" e de uma enviesada "Tolerância" - não verem punidas as suas condutas, por que razão os demais haveriam de cumprir as normas? Nesse caso, cada um faria o que entendesse, quando entendesse, pela forma que entendesse, segundo o seu livre alvedrio e ao arrepio das normas e das decisões de quem foi eleito para as tomar e alegremente se caminharia rumo à Grande Loja da Harmónica e Tolerante... Anarquia.

Invocar como argumentos eleitorais a prevalência da Harmonia sobre a Disciplina e da Tolerância sobre a Justiça não tem sentido. Afinal, uma Grande Loja é uma Obediência Maçónica - não uma Desobediência...

Cada um pensa por si e decide por si. Mas eu, quando vejo certas posições, lembro-me sempre de um excerto de uma velha canção de Lena d´Água (letra e música de Luís Pedro Fonseca):

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total

Disse!

Rui Bandeira