O curioso corte de inexistentes relações
No fim de semana passado, li em várias edições eletrónicas de órgãos de comunicação social a notícia de que o responsável máximo do GOL (Grande Oriente Lusitano) tinha publicado um comunicado segundo o qual tinha decidido que esta instituição iria "congelar" relações com a GLLP/GLRP "enquanto José Moreno (Grão-Mestre da GLLP/GLRP) estiver no exercício de funções e não desmentir ou clarificar devidamente as informações publicadas".
Segundo boa parte da imprensa eletrónica, tal decisão resultaria da publicação de um artigo no semanário Sol que, especulando a propósito de uma intervenção do Grão-Mestre José Moreno no American Club, afirmava que estavam a decorrer negociações para a unificação maçónica em Portugal, por integração dos elementos do GOL na GLLP/GLRP.
Segundo boa parte da imprensa eletrónica, tal decisão resultaria da publicação de um artigo no semanário Sol que, especulando a propósito de uma intervenção do Grão-Mestre José Moreno no American Club, afirmava que estavam a decorrer negociações para a unificação maçónica em Portugal, por integração dos elementos do GOL na GLLP/GLRP.
A primeira perplexidade que este comunicado me suscita é como se "congelam" relações inexistentes. Desde o cisma maçónico de 1877, protagonizado pelo Grande Oriente de França, que aboliu a obrigatoriedade da exigência de um maçom ser crente, de as Lojas trabalharem à Glória do Grande Arquiteto do Universo (entendido como a divindade em que cada maçom deposite a sua crença) e de os trabalhos obrigatoriamente decorrerem na presença do Livro Sagrado ou Livros Sagrados da(s) crença(s) dos obreiros da respetiva Loja, que a Maçonaria que permanece fiel a estas regras, que tem por essenciais, e assim se denomina a si própria de Maçonaria Regular, considera as organizações que adotaram a postura inaugurada pelo GOF (entre as quais o GOL) como Irregulares e, pura e simplesmente, não mantêm quaisquer relações institucionais com elas.
Há mais de 140 anos que não existem relações institucionais entre as Potências Maçónicas Regulares (entre as quais a GLLP/GLRP) e as organizações Irregulares (entre as quais o GOL). Não obstante o total respeito pelas opções e decisões de cada um, não me faz qualquer sentido que se declare "congelar" relações que, pura e simplesmente, não existem!
Quanto à impossibilidade de congelamento de inexistentes relações institucionais, parece-me estar o assunto claro. Mas, não havendo relações institucionais, evidentemente que existem relações pessoais e colaborações pontuais. Os maçons prezam a Tolerância e, assim, convivem facilmente com as diferenças, mesmo quando estas respeitam a questões essenciais. E é pura questão de bom senso que qualquer maçom se sinta mais próximo daqueles que buscam aperfeiçoar-se segundo o método maçónico, ainda que com divergências essenciais, do que daqueles com quem não partilham essa busca. Mas, a este nível, parece-me inócua a decisão do autor do comunicado.
Os meus amigos do GOL continuam a ser meus amigos e eu amigo deles, com ou sem comunicado! Não é por se decretar um qualquer congelamento que as relações pessoais entre nós ficam arrefecidas...
Também não creio que as colaborações pontuais entre maçons regulares e irregulares fiquem afetadas. Se numa dada localidade os maçons da GLLP/GLRP e os elementos do GOL decidiram unir esforços para angariar fundos para obter uma nova ambulância para os bombeiros, não é por causa do anunciado congelamento que o esforço para arranjar a ambulância vai deixar de ser feito.
Se, numa outra terra, os elementos da Loja do GOL e os obreiros da Loja da GLLP/GLRP combinaram entre si que, para maior eficácia na ajuda prestada, uns oferecem à estrutura local de acolhimento de crianças em risco ou sem família fraldas e os outros medicamentos, não será por causa do anunciado congelamento que vão ambas as Lojas passar a inundar a estrutura só com fraldas, sem que nenhuma providencie medicamentos.
Portanto, também ao nível das relações pessoais e da cooperação no auxílio a quem dele necessita me parece inócuo este anunciado congelamento.
Por outro lado, nem sequer se entende muito bem a motivação desta atitude. Se, como diz o líder do GOL não há negociações quanto à fusão do GOL com a GLLP/GLRP, então o que se justificava era verberar, discordar, denunciar, desmentir, as conclusões, as especulações, do semanário, que, ele sim, é quem, pelos vistos, extrai conclusões indevidas, tira ilações erradas.
Aliás, o mesmo semanário refere que o autor do comunicado esteve presente no American Club e assistiu à intervenção do Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Aparentemente, então não houve qualquer desconforto com essa intervenção - e, a meu ver, justifica-se plenamente essa ausência de desconforto, já que é natural e saudável que o líder de qualquer organização declare ansiar a liderar todos os que se posicionam na órbita da esfera de atividade da mesma e declare que veja com bons olhos que a sua organização exerça atração perante quem está de fora dela. É tão normal e saudável que o Grão-Mestre da GLLP/GLRP o afirme como seria se, similarmente, o líder do GOL o fizesse... Cada um defende a sua dama e só lhe fica bem que o faça...
Aparentemente, o que desagradou ao autor do comunicado não foi a intervenção efetuada pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP no American Club, mas as ilações, as especulações, as conclusões que os jornalistas do semanário retiraram. O que me permite que eu, já agora, também tire uma ilação: para o autor do comunicado, o que o incomodou não foi o que o Grão-Mestre da GLLP/GLRP disse; foi que tivesse sido publicado e interpretado pela comunicação social...
Ou seja, não é grave - e não é mesmo! - que o Grão-Mestre manifeste o seu anseio de unificar os maçons portugueses sob a égide da GLLP/GLRP e se mostre disposto a que tal possa ocorrer, se tal possível for. O que, para o autor do comunicado, é grave e o faz declarar congelar o que não existe é que se saiba disso - porventura que os membros da organização que dirige vejam publicamente aberta esta porta.
O comunicado de congelamento de inexistentes relações tem a aparência de uma posição de força mas afinal o que mostra é receio.
O que não me alegra nada. Pela minha parte, não quero vencer ninguém. Apenas unir o que porventura possa ser unido.
Rui Bandeira
Há mais de 140 anos que não existem relações institucionais entre as Potências Maçónicas Regulares (entre as quais a GLLP/GLRP) e as organizações Irregulares (entre as quais o GOL). Não obstante o total respeito pelas opções e decisões de cada um, não me faz qualquer sentido que se declare "congelar" relações que, pura e simplesmente, não existem!
Quanto à impossibilidade de congelamento de inexistentes relações institucionais, parece-me estar o assunto claro. Mas, não havendo relações institucionais, evidentemente que existem relações pessoais e colaborações pontuais. Os maçons prezam a Tolerância e, assim, convivem facilmente com as diferenças, mesmo quando estas respeitam a questões essenciais. E é pura questão de bom senso que qualquer maçom se sinta mais próximo daqueles que buscam aperfeiçoar-se segundo o método maçónico, ainda que com divergências essenciais, do que daqueles com quem não partilham essa busca. Mas, a este nível, parece-me inócua a decisão do autor do comunicado.
Os meus amigos do GOL continuam a ser meus amigos e eu amigo deles, com ou sem comunicado! Não é por se decretar um qualquer congelamento que as relações pessoais entre nós ficam arrefecidas...
Também não creio que as colaborações pontuais entre maçons regulares e irregulares fiquem afetadas. Se numa dada localidade os maçons da GLLP/GLRP e os elementos do GOL decidiram unir esforços para angariar fundos para obter uma nova ambulância para os bombeiros, não é por causa do anunciado congelamento que o esforço para arranjar a ambulância vai deixar de ser feito.
Se, numa outra terra, os elementos da Loja do GOL e os obreiros da Loja da GLLP/GLRP combinaram entre si que, para maior eficácia na ajuda prestada, uns oferecem à estrutura local de acolhimento de crianças em risco ou sem família fraldas e os outros medicamentos, não será por causa do anunciado congelamento que vão ambas as Lojas passar a inundar a estrutura só com fraldas, sem que nenhuma providencie medicamentos.
Portanto, também ao nível das relações pessoais e da cooperação no auxílio a quem dele necessita me parece inócuo este anunciado congelamento.
Por outro lado, nem sequer se entende muito bem a motivação desta atitude. Se, como diz o líder do GOL não há negociações quanto à fusão do GOL com a GLLP/GLRP, então o que se justificava era verberar, discordar, denunciar, desmentir, as conclusões, as especulações, do semanário, que, ele sim, é quem, pelos vistos, extrai conclusões indevidas, tira ilações erradas.
Aliás, o mesmo semanário refere que o autor do comunicado esteve presente no American Club e assistiu à intervenção do Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Aparentemente, então não houve qualquer desconforto com essa intervenção - e, a meu ver, justifica-se plenamente essa ausência de desconforto, já que é natural e saudável que o líder de qualquer organização declare ansiar a liderar todos os que se posicionam na órbita da esfera de atividade da mesma e declare que veja com bons olhos que a sua organização exerça atração perante quem está de fora dela. É tão normal e saudável que o Grão-Mestre da GLLP/GLRP o afirme como seria se, similarmente, o líder do GOL o fizesse... Cada um defende a sua dama e só lhe fica bem que o faça...
Aparentemente, o que desagradou ao autor do comunicado não foi a intervenção efetuada pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP no American Club, mas as ilações, as especulações, as conclusões que os jornalistas do semanário retiraram. O que me permite que eu, já agora, também tire uma ilação: para o autor do comunicado, o que o incomodou não foi o que o Grão-Mestre da GLLP/GLRP disse; foi que tivesse sido publicado e interpretado pela comunicação social...
Ou seja, não é grave - e não é mesmo! - que o Grão-Mestre manifeste o seu anseio de unificar os maçons portugueses sob a égide da GLLP/GLRP e se mostre disposto a que tal possa ocorrer, se tal possível for. O que, para o autor do comunicado, é grave e o faz declarar congelar o que não existe é que se saiba disso - porventura que os membros da organização que dirige vejam publicamente aberta esta porta.
O comunicado de congelamento de inexistentes relações tem a aparência de uma posição de força mas afinal o que mostra é receio.
O que não me alegra nada. Pela minha parte, não quero vencer ninguém. Apenas unir o que porventura possa ser unido.
Rui Bandeira