19 setembro 2011

Os maus maçons



As boas ações dos maçons ficam quase sempre - como é suposto - no segredo do íntimo de cada um. Não é próprio de um maçon alardear o bem que espalha em seu redor, ou, como diz o evangelho segundo Mateus, "não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita". Assim, os bons exemplos daquilo que os maçons fazem nunca chegam a ser verdadeiros exemplos: desconhecidos de quase todos, é como se não tivessem sequer ocorrido.

Não falam as bocas do mundo das boas obras deste ou daquele maçon, e se falam não mencionam o facto de ser maçon - eventualmente de forma pública. Mas, se por acaso o mencionam, não se diz nunca que foi "a maçonaria", por intermédio dessa pessoa, que fez bem; o bem é, sempre e quando muito, um ato individual.

Já quando o nome de um suposto maçon cai na lama da praça pública, logo os clamores se erguem para estabelecer uma suposta ligação entre um facto e o outro, e logo se toma a parte pelo todo, atacando-se a totalidade dos maçons por causa de uma acusação feita a um ou a uns poucos... De facto, a discrição que carateriza a maçonaria joga frequentemente em seu desfavor.

Negar as evidências não é próprio de seres racionais ou de pessoas inteligentes. Por isso começarei por afirmar: é claro que há maçons que fazem coisas mal feitas; venha o primeiro dizer que nunca cometeu um erro. O facto de um maçon cometer erros só prova que cumpre um dos requisitos para ser maçon: pretender aperfeiçoar-se. Um maçon que cometa um erro pode contar com o apoio dos seus irmãos, e será tanto mais apoiado quando manifeste a firme vontade de se corrigir e aperfeiçoar. Por isto mesmo, uma pessoa perfeita não teria lugar na maçonaria. 

Mesmo os melhores fazem, por vezes, coisas mal feitas. Assim, não me assusta nem me incomoda nada que se diga que um maçon cometeu um erro. Preocupa-me, sim, saber como reagiu ele a esse erro: evitou-o? corrigiu-o? remediou o mal feito? ou persistiu no erro, acomodou-se a ele e voltou a repeti-lo? E quando não são os melhores a errar? Quando são os piores? Quando não é um ato mau cometido por alguém que tem um historial consistente de fazer o bem, mas um ato mau de alguém que costuma fazer o mal?

Deixem que estabeleça um paralelismo. Tem-me chocado, como creio que a milhões de outros, saber do escândalo dos abusos sexuais de crianças por padres católicos por esse mundo fora. Choca-me tanto mais quanto fui criado no seio de uma família católica, e toda a vida conheci e privei com muitos padres. Por isso me repugna a ideia de que um padre possa ser pedófilo. Como é possível que um padre - alguém que eu tenho, em princípio, na melhor das contas - possa tornar-se em algo de tão odioso?

Um dia, de repente, apercebi-me de que estava a ver ao contrário: não eram os padres que se tornavam pedófilos, mas os pedófilos que se tornavam padres. Se bem atentarem, é o disfarce perfeito: não precisa de explicar o facto de não viver com ninguém, e pode estar quase sempre com crianças por perto. Como evitar, então, os padres pedófilos? A meu ver, evitando-se que os pedófilos se tornem padres. Note-se que isso não diminui o número de pedófilos, mas pode reduzir para zero, ou perto disso, o número de padres pedófilos.

Com a maçonaria e os maus maçons acontece fenómeno semelhante. Infelizmente, dos muitos que tentam juntar-se aos maçons para obter prestígio, benefícios e privilégios, alguns conseguem ser admitidos. Quando, por fim, se revelam através das suas más ações, o mal está feito. E, quando as suas más ações são conhecidas, é toda a maçonaria que fica manchada.

Porque a maçonaria regular é cumpridora das leis de cada país onde está estabelecida, e porque pretende, precisamente, manter um distanciamento dessas práticas, caso um maçon seja condenado pela justiça pelo cometimento de crimes ou ilícitos graves, só pode aguardar por um veredicto: a expulsão. Mas melhor do que remediar é prevenir. Quando os processos de inquirição são adequadamente conduzidos minimiza-se o risco de se admitir quem não deva sê-lo. E é assim que deve ser.

Paulo M.

9 comentários:

Candido disse...

É isso mesmo! Um paralelismo feliz!

Ryan Alexander disse...

Como tudo na vida, há coisas boas como coisas más, e o mesmo se passa com os Homens, uns vem por bem e outros que se aproveitam da condição para assim praticarem o mal! Até que se revelam, e quem paga depois a factura, é quem com ele, de boa fé de braços dados anda.

Streetwarrior disse...

Excelente Texto..muito obrigado pela Reflexão.

Gostaria no entanto de deixar as perguntas e se possível, obter respostas.

Creio saber as diferenças e as linhas que diferenciam a maçonaria regular da especulativa.
A minha pergunta é;
Será que a maçonaria especulativa se pauta pelos mesmos parâmetros morais e Éticos da maçonaria regular?
Porque razão, não se distancia e se punem os Maçons com expulsão das suas Lojas e da própria maçonaria quando envolvidos em casos aberrantes?



Nota-se que na maçonaria regular, estes maus exemplos não são tão comuns como na Especulativa

Nuno Raimundo disse...

Boas...
Mais um excelente texto saido da "pena" do Paulo.

TAF

Nuno Raimundo disse...

@StreetWarrior...

Meu caro StreetWarrior. penso que está a fazer algum confusão em relação aos conceitos de Mçonaria Regular e Maçonaria Especulativa.
Aliás encontra-se num local ideal para retirar esse tipo de dúvidas. Neste blog, percorrendo a sua vasta linha de textos encontrará o necessário para melhor entender o que é Mçonaria Regular.

Mas posso adiantar-lhe que a Maçonaria Regular atual e a "outra" Maçonaria dita Liberal, são ambas Maçonarias Especulativas.
Pois ambas foram originárias do Movimento das Luzes (Iluminismo), e têm como origem a transformação de Maçonaria Operativa, dos "construtores de Catedrias", em Maçonaria Especulativa, dita "do pensamento", cujo ponto maior, foi a fundação da Grande Loja de Inglaterra, através da fusão de 04 Lojas londrinas a 24 de Junho de 1717.

O resto, poderá encontrar por aqui no blogue. :)

Abraços

Paulo M. disse...

@Streetwarrior: Espero que o Nuno Raimundo já lhe tenha dissipado as dúvidas com a resposta que deu...

Não sei se percebi a sua última pergunta. Uma pessoa pode estar envolvida num "caso aberrante" e não ser culpada - até pode ser a vítima, ou uma mera testemunha. Pode até ser culpada, mas essa culpa não ser demonstrável nem provada em tribunal. Uma vez que a maçonaria regular respeita os valores e princípios do Estado de Direito, não ousa suplantar os tribunais enquanto meio por excelência de prova da culpa. Assim, só se condenado num tribunal é que um maçon pode, depois, ser objeto de sanção disciplinar no seio da maçonaria, sanção essa que pode ir até à expulsão.

Karinna Carvalho disse...

Bom dia, a Grande Maçonaria Mista da Bahia também acredita que o paraleo deste post foi muito feliz, pois o homem tem uma natureza rude, e vaidosa, necessitando do exercício da humildade e da perseverança em combater esses males da alma, ao mesmo tempo em que juntos são mais fortes.

A GRANDE MAÇONARIA MISTA DA BAHIA, vem desde 2008 trabalhando esta natureza afim de tornar feliz a humanidade e não o contrário.

acompanhamos o trabalho deste blog através do nosso contato ocm o www.grandemmba.blogspot.com, qualquer coisa nos contacte.

Belo trabalho

JPA disse...

Olá;

A queda de uma árvore não afecta a floresta.

a3raços
JPA

Paulo M. disse...

@JPA: É verdade, mas por causa de uma árvore doente pode ficar uma floresta inteira de quarentena... Nestes casos, o que é costume fazer-se é tratar (ou abater, se a doença é grave) a árvore doente - antes que o mal se espalhe pelas outras - e ir vigiando atentamente as que estão em redor. Mutatis mutandis...
Abraço,
Paulo M.