A Maçonaria não é uma religião
M. A., em comentário a O maçom e a Religião, formulou as seguintes questões:
Sendo a Respeitável Loja um espaço sagrado, para os maçons, um espaço onde se executam determinados rituais (agora não em causa) e um templo, não será a Maçonaria, ela mesmo, uma religião?
Não será a fusão das várias religiões, profanas, na cultura de um único grande Arquitecto, também um movimento orgânico de criação de uma religião própria, em alternativa às várias confissões, religiões existentes?
Não será esta uma forma de criar uma religião alternativa, agarrada a um lema, “profano”, da necessidade de o homem se tornar livre, honrado e mais culto, uma forma de “angariar novos membros para essa tal e hipotética nova religião?
As perguntas colocadas e as respostas que tenho para elas fazem-me lembrar uma peça processual que há muitos anos vi, escrita por um antigo, patusco e bem-humorado Advogado, uma contestação a uma ação em que eram alegados três factos. Escreveu então o meu bem-humorado Colega:
Art. 1.º: Não.
Art. 2.º: Não.
Art. 3.º: Não.
Art. 4.º: Resumindo: não, não e não!
Já sabe M. A. quais as minhas respostas às três perguntas! Mas, obviamente que não vou ser tão sintético como o meu bem~humorado Colega.
Não, a Maçonaria não é, nem pretende ser, uma religião. Não prega, não detém, não apregoa, não oferece, qualquer Salvação. A Religião é a ligação entre os homens e o Divino. A Maçonaria Regular limita-se - e muito é! - a buscar a melhoria dos homens que crêem no Divino.
A Religião é o conjunto de preceitos seguido por um crente para se ligar, ascender, ao Divino. A Maçonaria não intemedeia entre o Homem e o Divino, destina-se unicamente ao Homem, enquanto tal. É um meio, um método, um ambiente destinado a favorecer o aperfeiçoamento, a melhoria, o crescimento, dos homens crentes. Mas cada um seguindo a sua crença, a sua religião, e nos termos em que entende praticá-la.
A Maçonaria nasce na Europa cristã. É completa e absolutamente teísta e cristã, na sua origem. Perante as lutas, dissensões, querelas, entre católicos e protestantes, fez ressaltar esta simples verdade: uns e outros criam no mesmo Deus, sendo insano matarem-se uns aos aos outros em nome das suas diferentes formas de se relacionarem com o mesmo Deus. Esta base cristã demorou poucos anos a alargar-se ao judaísmo: também o Deus da religião judaica é o mesmo... E seguidamente a lógica impunha o alargamento ao islamismo: o Deus permanece o mesmo, o nome é que muda, as culturas é que divergem. E, partindo-se de uma base monoteísta, em que existe um único Deus, qualquer que seja a sua designação, racionalmente é indiferente que outras religiões (hinduísmo, por exemplo) sejam politeístas: para o monoteísta, o politeísmo mais não é do que diferentes manifestações do mesmo e único Deus...
Sobre a base teísta, acrescenta-se posteriormente e admite-se também o crente deísta, isto é, aquele que prescinde da intermediação da Revelação, da igreja, do sacerdote, na sua relação com o Divino, aquele que crê poder estabelecer essa relação sem necessidade dessa intermediação. A partir do momento em que a maçonaria se alarga até este ponto, admite no seu seio qualquer crente, qualquer que seja a sua crença individual. Deixa portanto de ser essencial qualquer conceção de Criador, do Divino. Porque reconhecida a liberdade individual de crença, é a crença individual que conta. Uma ponte a todos une: a crença de que somos mais do que mera carne e ossos e sangue e miolos, a crença que somos também, ou quiçá principalmente, espírito, que sobreviverá à extinção da chama da vida na carne, nos ossos, no sangue e nos miolos. O que essencialmente conta é portanto a crença na permanência da dimensão espiritual do Ser, chame-se ela vida para além da vida, reencarnação, ressurreição, nirvana - o que for. Assim a tónica se estende à espiritualidade, inclusiva, por exemplo, dos budistas.
Não, a Maçonaria não é uma religião. É um espaço comum de crentes em todas as religiões, organizadas ou individualmente sentidas. É um espaço comum de convívio, de fraternidade e, sobretudo, de instrumento para o aperfeiçoamento de cada um, segundo a sua crença, a sua vontade, o seu caminho.
Rituais não são exclusivos de religião. Rituais existem em muitas Tradições não religiosas (rituais de passagem, de acesso à idade adulta, por exemplo). Templo é apenas designação, nada mais.
Nada se pretende ou cria em alternativa a nada. Acentua-se o que de bom em todas as religiões existe. Mostra-se o que de essencialmente semelhante em todas elas há. Deixa-se as particularidades das diferenças para as práticas particulares de cada um. A Maçonaria não é a religião das religiões. É, se se quiser, o primeiro espaço ecuménico, em que os crentes das diversas religiões desde sempre puderam confraternizar e aperfeiçoar-se, nos aspetos comuns, sem se deixarem perturbar ou afetar pelas diferenças. É portanto um espaço em que a diferença é assumida, apreciada e valorizada. Nada se funde. Tudo se aceita no que contribui para os demais.
Não se pretende criar alternativas a nada. Dentro do quadro do que existe e do que cada um livremente crê e aceita, procura-se aproveitar de cada um o que de útil possa dar aos demais, recebendo cada um dos demais o que para si tenha de útil. Tão simples...
Tão simples afinal como o ovo de Colombo. Só que, conta a historieta, antes de Colombo ninguém se tinha lembrado de tão simples forma de pôr o ovo em pé...
Rui Bandeira
Sendo a Respeitável Loja um espaço sagrado, para os maçons, um espaço onde se executam determinados rituais (agora não em causa) e um templo, não será a Maçonaria, ela mesmo, uma religião?
Não será a fusão das várias religiões, profanas, na cultura de um único grande Arquitecto, também um movimento orgânico de criação de uma religião própria, em alternativa às várias confissões, religiões existentes?
Não será esta uma forma de criar uma religião alternativa, agarrada a um lema, “profano”, da necessidade de o homem se tornar livre, honrado e mais culto, uma forma de “angariar novos membros para essa tal e hipotética nova religião?
As perguntas colocadas e as respostas que tenho para elas fazem-me lembrar uma peça processual que há muitos anos vi, escrita por um antigo, patusco e bem-humorado Advogado, uma contestação a uma ação em que eram alegados três factos. Escreveu então o meu bem-humorado Colega:
Art. 1.º: Não.
Art. 2.º: Não.
Art. 3.º: Não.
Art. 4.º: Resumindo: não, não e não!
Já sabe M. A. quais as minhas respostas às três perguntas! Mas, obviamente que não vou ser tão sintético como o meu bem~humorado Colega.
Não, a Maçonaria não é, nem pretende ser, uma religião. Não prega, não detém, não apregoa, não oferece, qualquer Salvação. A Religião é a ligação entre os homens e o Divino. A Maçonaria Regular limita-se - e muito é! - a buscar a melhoria dos homens que crêem no Divino.
A Religião é o conjunto de preceitos seguido por um crente para se ligar, ascender, ao Divino. A Maçonaria não intemedeia entre o Homem e o Divino, destina-se unicamente ao Homem, enquanto tal. É um meio, um método, um ambiente destinado a favorecer o aperfeiçoamento, a melhoria, o crescimento, dos homens crentes. Mas cada um seguindo a sua crença, a sua religião, e nos termos em que entende praticá-la.
A Maçonaria nasce na Europa cristã. É completa e absolutamente teísta e cristã, na sua origem. Perante as lutas, dissensões, querelas, entre católicos e protestantes, fez ressaltar esta simples verdade: uns e outros criam no mesmo Deus, sendo insano matarem-se uns aos aos outros em nome das suas diferentes formas de se relacionarem com o mesmo Deus. Esta base cristã demorou poucos anos a alargar-se ao judaísmo: também o Deus da religião judaica é o mesmo... E seguidamente a lógica impunha o alargamento ao islamismo: o Deus permanece o mesmo, o nome é que muda, as culturas é que divergem. E, partindo-se de uma base monoteísta, em que existe um único Deus, qualquer que seja a sua designação, racionalmente é indiferente que outras religiões (hinduísmo, por exemplo) sejam politeístas: para o monoteísta, o politeísmo mais não é do que diferentes manifestações do mesmo e único Deus...
Sobre a base teísta, acrescenta-se posteriormente e admite-se também o crente deísta, isto é, aquele que prescinde da intermediação da Revelação, da igreja, do sacerdote, na sua relação com o Divino, aquele que crê poder estabelecer essa relação sem necessidade dessa intermediação. A partir do momento em que a maçonaria se alarga até este ponto, admite no seu seio qualquer crente, qualquer que seja a sua crença individual. Deixa portanto de ser essencial qualquer conceção de Criador, do Divino. Porque reconhecida a liberdade individual de crença, é a crença individual que conta. Uma ponte a todos une: a crença de que somos mais do que mera carne e ossos e sangue e miolos, a crença que somos também, ou quiçá principalmente, espírito, que sobreviverá à extinção da chama da vida na carne, nos ossos, no sangue e nos miolos. O que essencialmente conta é portanto a crença na permanência da dimensão espiritual do Ser, chame-se ela vida para além da vida, reencarnação, ressurreição, nirvana - o que for. Assim a tónica se estende à espiritualidade, inclusiva, por exemplo, dos budistas.
Não, a Maçonaria não é uma religião. É um espaço comum de crentes em todas as religiões, organizadas ou individualmente sentidas. É um espaço comum de convívio, de fraternidade e, sobretudo, de instrumento para o aperfeiçoamento de cada um, segundo a sua crença, a sua vontade, o seu caminho.
Rituais não são exclusivos de religião. Rituais existem em muitas Tradições não religiosas (rituais de passagem, de acesso à idade adulta, por exemplo). Templo é apenas designação, nada mais.
Nada se pretende ou cria em alternativa a nada. Acentua-se o que de bom em todas as religiões existe. Mostra-se o que de essencialmente semelhante em todas elas há. Deixa-se as particularidades das diferenças para as práticas particulares de cada um. A Maçonaria não é a religião das religiões. É, se se quiser, o primeiro espaço ecuménico, em que os crentes das diversas religiões desde sempre puderam confraternizar e aperfeiçoar-se, nos aspetos comuns, sem se deixarem perturbar ou afetar pelas diferenças. É portanto um espaço em que a diferença é assumida, apreciada e valorizada. Nada se funde. Tudo se aceita no que contribui para os demais.
Não se pretende criar alternativas a nada. Dentro do quadro do que existe e do que cada um livremente crê e aceita, procura-se aproveitar de cada um o que de útil possa dar aos demais, recebendo cada um dos demais o que para si tenha de útil. Tão simples...
Tão simples afinal como o ovo de Colombo. Só que, conta a historieta, antes de Colombo ninguém se tinha lembrado de tão simples forma de pôr o ovo em pé...
Rui Bandeira
5 comentários:
Estimado e Mói Respeitável Rui Bandeira;
O seu texto trouxe “LUX EX TENEBRIS”, sobre o “NEGRO” provocado pelos “VÍCIOS” de uma visão “PROFANA”, sobre a “MAÇONARIA”.
Obrigado;
M.A.
Excelente Mestre Rui Bandeira;
Crêr em Deus não depende de questões religiosas.
Os Físicos descobriram-O agora (desde 1994) segundo Frank Tripler, denominam-O por Ponto Omega, segundo consta no seu livro "A Física da Imortalidade" da Editorial Bizâncio.
Física e Metafísica comecam a tocar-se o que mostra o quão certa está a Maçonaria Regular.
Cumprimentos
JPA
Peço desculpa. O nome do autor é Frank Tipler e não Tripler.
Cumprimentos
JPA
Irmão Rui Bandeira
Vou começar pelo fim, pelo ovo de Colombo cuja galinha que o pôs havia de ter uma estátua.
UMA PERGUNTA PARA QUE SERVE DEUS E DIABO PARA OS HUMANOS.
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