A
Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5, foi fundada em 30 de junho de 1990, no
âmbito do Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française. É uma das
cinco Lojas fundadoras da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja
Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal. Não é melhor nem pior do
que as demais Lojas da Obediência. Mas indubitavelmente que, ao longo dos mais
de trinta anos do seu funcionamento criou uma cultura própria, que lhe confere
individualidade.
Mais
do que descrever o que fez no passado (o passado já passou…), mais do que
mencionar o seu estado presente (o presente de agora não tarda nada e já é
passado…), mais do que expor os seus projetos para o futuro (o futuro ainda não
chegou…), julga-se útil referir (algum)as caraterísticas que compõem a
individualidade da Loja Mestre Affonso Domingues, n.º 5.
1) Na
Loja nunca houve, não há e desejavelmente nunca haverá pugnas eleitorais.
Na
Loja Mestre Affonso Domingues, é eleito Venerável Mestre o Primeiro Vigilante
do ano anterior, e ponto final! E é eleito Tesoureiro o obreiro que o candidato
a Venerável Mestre propõe para tal, parágrafo!
Nesta
Loja não se perde tempo, nem se gastam energias com pugnas eleitorais. Temos mais
e melhor que fazer! Com este
princípio identitário não se perde tempo em lutas estéreis, não se formam
artificialmente grupos, não se estabelecem quezílias. Acordos e desacordos
estabelecem-se e discutem-se em relação a opções a tomar, a tarefas a realizar,
a projetos a desenvolver. Isso, sim, debate-se o tempo que for preciso até se
nos tornar evidente qual o melhor (às vezes, qual o menos mau...) caminho a
seguir. Porque não perdemos tempo em questiúnculas de (ilusório!) poder,
podemos mais utilmente gastá-lo a debater o que vamos e como vamos fazer.
2) Cada Venerável Mestre é eleito para
exercer um ano de mandato e depois dá lugar a outro.
O Regulamento Interno da Loja prevê a
possibilidade de uma (única) reeleição para um segundo mandato, por maioria
qualificada. Mas esta é uma possibilidade ali colocada apenas em face da
eventualidade de sobrevir um "dia de chuva" tal que nos obrigue a
recorrer ao guarda-chuva de uma excecional reeleição. O exercício do ofício de
Venerável Mestre por um ano e basta tem duas evidentes vantagens: todos os
obreiros interessados e intervenientes na Loja exercem, a seu tempo, o ofício
de Venerável Mestre; não se sacrifica demasiado ninguém, pois, como todos os que
se sentaram na Cadeira de Salomão sabem, exercer este ofício permite ao seu
titular duas alegrias: a primeira quando é instalado para exercer o ofício, a
segunda quando (finalmente, ao fim de um loooongo ano...) vê instalado o seu
sucessor e é aliviado da responsabilidade de dirigir a Loja.
O Segundo Vigilante de um ano é o
Primeiro Vigilante do ano seguinte.
Este princípio identitário é crucial,
pois impede que se criem cliques de direção da Loja, impedindo o Venerável
Mestre recém-eleito de ser ele a escolher o seu sucessor. Com efeito, o
Primeiro Vigilante é (ver o primeiro princípio identitário acima) o sucessor natural do
Venerável Mestre e, consequentemente, não deve ser por ele escolhido, ao
contrário da esmagadora maioria dos demais Oficiais da Loja. O Venerável Mestre
tem o dever de designar para Primeiro Vigilante o Segundo
Vigilante do ano anterior, que foi escolhido para essa função pelo seu
antecessor, com a expectativa do próprio, do Venerável Mestre que o nomeou e de
toda a Loja, de ser no ano seguinte Primeiro Vigilante e, no subsequente,
Venerável Mestre. Assim não proceder, para além de ser uma condenável forma de
se arrogar o direito de escolher o seu sucessor, seria uma tremenda falta de
respeito pelo seu antecessor, uma forma de lhe dizer meu caro, foste um
palerma, fizeste uma má escolha para Segundo Vigilante, eu é que vou ser o
Cavaleiro Branco que vai emendar o teu erro e escolher o homem certo para o
lugar certo... O incumprimento deste princípio identitário da Loja
abriria uma Caixa de Pandora de consequências imprevisíveis, correndo-se o
risco de deitar a perder tudo o que a Loja foi e construiu ao longo de mais de trinta
anos.
Todos devem saber fazer tudo.
Por
rotina, todos os Mestres da Loja rodam no exercício de todos os ofícios. Sempre
que possível, reservam-se para os Mestres Instalados, para além dos Ofícios de
Ex-Venerável e de Guarda Interno (o Ex-Venerável do ano anterior), os Ofícios
de Orador e de Hospitaleiro, dadas as suas especiais caraterísticas. Os demais
ofícios, sempre que possível, são assegurados por Mestres que ainda não
passaram pela Cadeira de Salomão. Ao rodar todos os Mestres por (quase) todos
os Ofícios, assegura-se que quando o Obreiro chega à Cadeira de Salomão conhece
perfeitamente o funcionamento de toda a Loja e está, assim, apto a dirigi-la.
Serviço é serviço, copos são copos.
Antes da sessão, brinca-se e convive-se.
Depois da sessão, idem. Desde o momento em que o Venerável Mestre bate pela
primeira vez com o malhete até ao momento em que são dados por findos os
trabalhos, trabalha-se! Sobretudo, procura-se executar o ritual sempre o melhor
possível, corrigindo em cada sessão eventuais erros cometidos em sessões
anteriores.
A espontaneidade e o humor nunca fizeram
mal a ninguém.
Entre o ritual de abertura e o ritual de
encerramento, e quando não se estão a executar outros rituais, o serviço é
serviço, mas não tem de ser macambúzio. Se houver uma nota de humor, todos riem
com gosto! E logo se retoma o trabalho… Mas atenção que o malhete do Venerável
Mestre é que pontua os trabalhos e, sempre que o entenda necessário, lá está o
Orador para moderar algum ocasional excesso… Estamos entre Irmãos, a
espontaneidade temperada pela disciplina faz maravilhas pela coesão do grupo!
Os mais novos são para integrar o melhor
possível
Cada Aprendiz só o é porque foi cooptado
para integrar o Quadro da Loja. Cada Aprendiz é um Venerável Mestre potencial.
Cada Companheiro é um elemento em transição para Mestre. Toda a Loja procura
integrar os elementos mais novos, não só através da sua aquisição dos
ensinamentos próprios dos respetivos graus, mas sobretudo na noção e na prática
de que todos estão ali para se aperfeiçoarem, para cada um de nós ser melhor
hoje do que ontem e pior do que amanhã. O trabalho faz-se com o grupo e os seus
resultados são apresentados na Loja e em Loja.
Não há pressas, o tempo é indispensável;
não há baldas, o trabalho é imprescindível
Os interstícios são para cumprir, porque
o tempo é um fator indispensável à boa integração no grupo. Ninguém é aumentado
de salário sem elaborar e apresentar a sua prancha de proficiência em Loja,
porque deve demonstrar a sua evolução aos seus pares.
Eu não sou mais do que tu, tu não és
mais do que eu, tu e eu somos iguais.
O grupo influencia o indivíduo o
indivíduo influencia o grupo. Seja Aprendiz, Companheiro, Mestre ou Mestre
Instalado. Basicamente todos somos iguais, todos temos de melhorar e todos
estamos em processo de aperfeiçoamento. O Mestre guia o Aprendiz e auxilia o
Companheiro, mas também aprende com o Aprendiz e beneficia da ajuda do
Companheiro. Aprendiz, Companheiro e Mestre são necessárias fases de evolução e
aprendizagem, mas todos os que nelas estão são basicamente iguais e como tal
nos vemos uns aos outros.
Tudo
se debate; mas quando o Venerável Mestre decidir, está decidido.
Tudo se debate, com exceção de política
e religião. O debate pode e deve ser vivo. Não há mal nenhum em que se revelem
divergências, diferenças de pontos de vista. Tal é necessário para que
seguidamente se construam convergências e consensos. No debate, no fundo todos
agem como conselheiros do Venerável Mestre. Mas a maioria não tem,
necessariamente, razão. O Venerável Mestre pode decidir em consonância com a
maioria, mas normalmente a melhor decisão é a que resulta do entendimento da
maioria temperado com os contributos da ocasional minoria. E, uma vez tomada a
decisão pelo Venerável Mestre, está decidido. Acaba o debate e passa-se
adiante…
Ninguém pode obstaculizar à decisão do
Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a cumpri-la.
A Maçonaria é essencialmente,
voluntária, mas todos jurámos obediência as decisões do Venerável Mestre. Por
outro lado, todos somos iguais e ninguém deve ser compelido a fazer algo contra
a sua consciência. Do confronto destes dois princípios, há muito que na Loja é
consensual que ninguém tem o direito de obstaculizar ao cumprimento da decisão
do Venerável Mestre, mas ninguém é obrigado a executá-la, contra a sua
consciência.
Eu
e tu podemos estar em desacordo, mas que ninguém de fora ouse meter o bedelho.
O hábito de (quase) tudo debater
necessariamente que pode gerar diferenças de opinião, frequentemente conduz a
debates acesos. Mas são debates que ocorrem entre nós e diferenças de opinião
que resolvemos todos nós. Que ninguém de fora alguma vez tenha a infeliz ideia
de meter o nariz onde não é chamado e atacar algum de nós! Os poucos que
tiveram a ousadia de o fazer, viram, ao vivo e a cores, como toda uma Loja
passa do modo debate para o modo muro de betão e como, se alguém se mete com um
de nós, leva com todos!
Venham
às nossas sessões, que nós gostamos de ser visitados.
Os visitantes na nossa Loja são sempre
bem-vindos! Saudamos com sincera alegria a sua presença e procuramos dar-lhes o
melhor tratamento possível: tratá-los como da casa! Por isso, não se admirem se
nós discutirmos o que tivermos que discutir, pela forma que houver que
discutir, na vossa presença. O visitante é como se fosse da casa, logo, não temos
nada a esconder-lhe. Mais: se o visitante também quiser participar na
discussão, a sua opinião é bem-vinda e apreciada. Só pedimos que tenha cuidado com a nossa caraterística anterior…
Ah! E os nossos visitantes são sempre também muito bem-vindos aos nossos ágapes,
onde – não tenham dúvidas! – terão também sempre um tratamento rigorosamente
igual aos da casa. Até no pagamento do custo do ágape…
A
nossa Loja denomina-se MESTRE Affonso Domingues
Por favor não digam que a
nossa Loja é a Affonso Domingues. Nós sabemos que, quando assim dizem, não o
fazem por mal, mas o nome da nossa Loja é MESTRE Affonso Domingues. É um favor
que nos fazem se não esquecerem uma parte do nosso nome. E, já agora, quando o
escreverem, não esqueçam que o Affonso do nosso nome tem dois ff…
Uma
vez da Mestre Affonso Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues
Quem entrou na Loja, tornou-se um de
nós. Todos aqueles que saíram, quantas vezes para formar outras Lojas ou
colaborar na sua formação, fizeram-no no uso da sua liberdade individual, mas
sempre sem azedumes nem qualquer espécie de mal-entendidos. Alguns já voltaram
e foi como se nunca tivessem saído. A maior parte, quando está connosco,
sente-se e é sempre tido e tratado como um de nós, que continua e continuará a
ser. A nossa Loja é um espaço de formação, que desejamos marque quem por cá
passa, esteja onde estiver. Todos sabem que quem foi um dia um de nós, é e será
sempre um dos nossos.
E, neste particular, também os que já
franquearam o umbral do Oriente Eterno continuam a ser um dos nossos. Por isso,
este texto é dedicado ao nosso muito querido e recordado Luís Rosa Dias, mas
também ao Rui Clemente Lelé, ao Alexis Botkine, ao João Damião Pinheiro, ao
Carlos Antero Ferreira, ao Luís Prats, ao Jorge Pereira de Almeida, ao Salomão
Amram, ao Jorge Silveira, ao Paulo Guilherme d’Eça Leal, ao José Luís Moita de
Macedo, ao André Franco de Sousa, ao António Cunha Coutinho, ao Enrique
Fugasot, ao José Manuel Severino e ao Eduardo Gonçalves.
Estamos certos que, lá no assento etéreo onde subiram estão a manter
viva e em bom funcionamento a versão do Oriente Eterno da nossa Loja Mestre
Affonso Domingues, a que, em devido tempo, nós nos juntaremos.
Porque uma vez da Mestre Affonso
Domingues, sempre da Mestre Affonso Domingues. Aqui e no Oriente Eterno!
Rui Bandeira