04 março 2009

Retrato caricatural do estado da Justiça

Faço hoje uma pausa na temática habitual deste blogue, para dar conta de um extraordinário documento que mão amiga hoje me fez chegar. Apesar da minha profissão de Advogado, recebi-o a título pessoal e posso por isso divulgá-o, sem estar peado pelo segredo profissional (pois é, a minha vida são só segredos...).

Costumo dizer, em jeito de brincadeira, que, como Advogado, sou especialista em ideias gerais. Sei um pouco de muito e a fundo de quase nada. Tenho de saber um pouco de construção civil, para poder intervir em processos referentes a litígios relacionados com obras, sei um pouco de anatomia e fisiologia humanas, para intervir em processos relacionados com erro ou negligência médica, ou acidentes, e por aí fora... Mas de muito pouco sei verdadeiramente algo a fundo, de A a Z ou, como se diz mais popularmente, de cabo a rabo. Em resumo, muita parra e pouca uva, é o que é... Mas, de uma forma geral, o jurista é suposto ter o que se chama uma cultura eclética, porque o Direito a quase todos os campos abrange e respeita.

A tão falada crise da Justiça já deu origem a variados diagnósticos de dezenas de iluminados. Pena é que, havendo tantos diagnósticos, haja tão poucas soluções ou curas - pelo menos, das que resultem e que vejamos que resultam, antes de o doente morrer de velho... Ele é que a culpa é das leis de processo, que só atrapalham e permitem todos os atrasos e mais alguns, ele é que o problema está nos malandros dos Advogados, que usam e abusam de truques para atrasar os processos em favor dos seus clientes, ele é que a culpa é dos Juízes, que não trabalham, ele é, afinal, que a culpa é de tudo e de todos, que casa em que não há pão, todos ralham e ninguém tem razão.

Tenho para mim que as causas são múltiplas e variadas, que todos os que trabalham na Justiça não estão, nem isentos de culpas,nem angelicalmente puros, enfim, que muitos, das várias profissões jurídicas trabalham muito e bem - e todos vêm o seu esforço prejudicado pela brutal quebra de eficiência que o insuficiente dimensionamento do sistema e as culpas no cartório de uns quantos calaceiros e ou incompetentes causam.

Mas, acima de tudo, tenho para mim que muito do que de deficiente há na Justiça resulta de males que lhe foram transmitidos do exterior. Desde logo, uma assinalável quebra na cultura geral média de quem opera na Justiça (juízes, procuradores, advogados). Que obriga a um esforço acrescido e a mais tempo gasto a estudar o que se não sabe de todo e se devia saber um bocadinho, porque é assunto sobre que se tem de intervir ou decidir. E gera erros escusados, por vezes infantis, com subsequentes perdas de tempo, trabalho e feitio, para serem emendados. Ou então injustiças flagrantes...

O documento que abaixo publico ilustra este meu entendimento. Trata-se de uma cópia de um despacho exarado numa execução (processo pelo qual se dá cumprimento, coativamente, a uma condenação anterior; se uma sentença condenou A a pagar X a B e A não paga, B executa a sentença e o Tribunal coordena as ações necessárias para apreender bens de A, transformá-los em liquidez e entregar a B a quantia a que este tem direito).

Repare-se, antes do mais, que se trata de um despacho de poucas linhas (e sobre questão jurídica não particularmente complexa ou duvidosa...). Mas veja-se que, tendo o processo tido conclusão (isto é, apresentação ao juiz para decisão) em 10 de novembro, só em 12 de dezembro, ou seja, mais de um mês depois, é proferido...

Mas, sobretudo, queiram os caros amigos fazer o favor de verificar o que foi pedido e comparar com o que, candidamente, foi decidido. Santa ignorância!

Assim se demonstra que até se pode ser um eminente conhecedor de direito, saber de cor, de trás para a frente e de frente para trás, todas as leis, decretos-leis, portarias e quejandas minudências, ser um craque na correta interpretação de todas as normas, palavras, vírgulas e pontos finais, mas isso não chega - nem lá perto anda! - para se ser um sofrível jurista. Tudo isso tem de ser acompanhado de cultura geral, conhecimentos, ainda que superficiais (mas que deem para perceber quando é preciso procurar e estudar mais a fundo determinado assunto e que permitam saber onde e como procurar), de tantas matérias quanto possível. E OBRIGATORIAMENTE DE CONHECIMENTOS MÍNIMOS DE MATEMÁTICA!!!!

Este erro porventura já foi emendado. Mais requerimento, menos promoção, lá se deve ter proferido despacho emendando a mão. Não sem mais algum trabalho e tempo perdido, é certo... A divulgação deste erro não é feita para achincalhar ninguém, para apontar o dedo a nenhuma classe. Este erro foi feito por um juiz, mas eu já vi erros iguais ou piores cometidos por procuradores e por advogados. Nem é feita a título de curiosidade ou de humor, que seria bacoco. Esta divulgação é feita para que se perceba que a crise da Justiça cava muito mais fundo do que umas leis de processo complexas, uns magistrados mais lentos ou menos diligentes, uns advogados mais chicaneiros e cheios de truques. A crise da Justiça, como outras da nossa sociedade, também é potenciada por uma quebra de qualidade na formação das nossas gentes, de que agora estamos a sofrer os efeitos, aqui como na falta de médicos ou na dificuldade de encontrar um canalizador de jeito e disponível para vir fazer uma reparação nos canos lá de casa, sem nos levar os olhos da cara por isso. Quero crer que se está já a remediar o erro e que a nova geração já não sofrerá deste mal. Oxalá!

Ah! E, para que não haja dúvidas, isto não tem nada a ver com políticas nem politiquices, nem com velhas ou novas senhoras. Erros, más escolhas, opções deficientes, sempre se fizeram, as velhas senhoras como as novas, os políticos assim como os políticos assado. Isto tem só a ver com tomarmos consciência das causas do que nos aflige, para podermos tentar remediar o que se puder, como se puder e tão depressa quanto se puder. Isto tem a ver, não com culpas ou recriminações ou aproveitamentos, mas com algo simples mas que, por vezes, nos esquecemos de ter em consideração: os erros cometem-se (sempre!); e pagam-se (sempre!); pagamos menos e por menos tempo quando conseguimos detetar o erro e emendá-lo. O passado já passou e nada podemos fazer quanto a ele. O futuro é o que fizermos dele no presente. De preferência, cometendo cada vez menos erros de palmatória!

Clique na imagem para a ampliar, se necessário.
Rui Bandeira

03 março 2009

ESCÂNDALO! A MAÇONARIA VIOLA AS LEIS LABORAIS!

A Maçonaria é uma Fraternidade. Fraternidade pressupõe convívio. Amizade. Vivenciar em conjunto momentos de alegria e boa disposição. E humor!

Desengane-se quem porventura pense que os maçons são um grupo de sisudos, constantemente embrenhados em esotéricos pensamentos e elaborados exercícios de aperfeiçoamento. Os maçons são, acima de tudo, homens normais, que tentam ser bons e buscam ser melhores, mas sempre e só normalíssimos homens, de carne e osso e sangue, com alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, dedicando-se ao trabalho, mas também ao lazer, ao estudo, mas também à descontração. E forjam os seus laços de amizade e união no convívio, em que o respeito mútuo se mistura com a brincadeira. E sabem, e praticam-no, que há alturas em que se trabalha e não se brinca e há momentos em que se brinca e não se trabalha.

O humor também é cultivado e apreciado entre os maçons. As melhore anedotas de maçons que ouvi... foram inventadas por maçons. E, como todos aqueles que são equilibrados sabem, uma muito saudável forma de humor é exercê-lo sobre nós mesmos. Portanto, aqui vai!

ESCÂNDALO! A MAÇONARIA VIOLA AS LEIS LABORAIS!

Estudos feitos por investigadores do fenómeno maçónico, que rejeitaram suspeitas de serem antimaçons, não obstante admitirem integrar o D. I. O. G. O. (Departamento de Investigação da Ordem do Grande Arquiteto e seus Obreiros), trouxeram à luz do dia que a encoberta instituição da Maçonaria afinal não passa de uma sinistra organização, que viola descaradamente as leis laborais e atenta contra os mais elementares direitos dos trabalhadores.

Segundo o A Partir Pedra apurou, da aprofundada investigação resultaram algumas embaraçosas perguntas:
  • Se a lei laboral estipula que o horário de trabalho é de oito horas diárias e 40 horas semanais, porque é que a Maçonaria obriga os seus Obreiros a trabalhar desde o meio-dia até à meia-noite, todos os dias do ano?
  • Sendo proibido o trabalho infantil e estando assente que assim se considera o trabalho de menores de 14 anos, como é possível que a Maçonaria permita em suas Lojas Obreiros com menos de 4 (quatro) anos?
  • Sendo do conhecimento comum que as normas de Higiene e Segurança do Trabalho impõem o uso de equipamento de proteção individual, como se justifica que a Maçonaria permita que os seus Obreiros trabalhem partindo, aparelhando e polindo pedras brutas, usando apenas um avental, sem óculos, máscaras e outros equipamentos de proteção?
  • A Maçonaria paga subsídio de trabalho noturno pelo trabalho realizado após as 22:00 horas?
  • Verificando-se que a Maçonaria não tem representação de classe (sindicato), com que critérios estabelece, sem audição das Centrais Sindicais, o Aumento de Salário de seus Obreiros?
  • Porque a Maçonaria permite um Grande Arquiteto na direção de seus trabalhos que, ao que se saiba, não se encontra inscrito na Ordem dos Arquitetos?
  • O ágape servido aos Irmãos é computado como pagamento de salário em espécie?
  • Como pode o V. M. aceitar a manifestação dos obreiros de que estão satisfeitos, apenas através de um batimento da mão no avental? Por acaso é emitido recibo ou alguma declaração escrita?
  • As Colunas possuem projeto de segurança aprovado e certificado e sinalização de segurança adequada?
Perguntas baseadas em trabalho elaborado por "John Gotheyra" e publicado na página 19 da revista Cultural Maçónica brasileira "Engenho e Arte", nº. 1, de outubro de 1998, complementado pelo Irmão R. B. P., da A.R.L.S. Acácia de Avaré nº 590, G.L.E.S.P. e com adaptação livre para publicação neste blogue efetuada por

Rui Bandeira

02 março 2009

Cornerstone Lodge #178 - Grand Lodge of New York

Imagem retirada do site da GLNY - Renaissance Room




Estive recentemente em Nova York (NY), por motivos pessoais. Sempre que viajo tento conciliar a agenda para encaixar uma sessão de Loja, qualquer que ela seja, no local de destino.

Desta vez não foi excepção. A primeira coisa que tratei foi de pedir a documentação necessária para me poder identificar junto da Grande Loja de Nova York (GLNY) como pertencente a uma obediência reconhecida.

Recorri para tal aos sempre simpáticos, eficientes e eficazes serviços da Milu e da Sandra e obtive assim um passaporte maçónico e uma carta de apresentação dirigida à Grande Loja a visitar. A estes juntei o cartão de Membro da GLLP/GLRP.

Com tudo isto no bolso dirigi-me, num belo dia de sol mas frio (muito frio) pelas 9h00 da manhã à GLNY a fim de tratar da parte burocrática e solicitar que me referenciassem uma Loja que reunisse nessa noite e que estivesse disposta a receber um visitante.

Cumpridas as formalidades e já com a lista de lojas que reuniam essa noite e conhecedor do “modus faciendi” para assistir a uma sessão, cruzei-me já na saída com um dos Irmãos encarregues de mostrar o edifício a visitantes. Assinei o livro de visitantes e comecei a percorrer uma parte dos 19 andares de um dos prédios que compõe a GLNY.

O Irmão guia, ou melhor Right Worshipful Brother A.J.K. (Respeitável Irmão A.J.K. na versão portuguesa) mostrou-me uma parte dos Templos e informando-se das minhas qualidades passou sempre a tratar-me como Right Worshipful Brother e a convidar-me para me sentar na cadeira do Venerável enquanto me mostrava e explicava as particularidades de cada templo. Passamos por uma das salas de reunião do Grão Mestre, e que por especial deferência me foi mostrada por dentro, uma vez que dados os livros aí existentes (raridades) não está incluída nas visitas.
A visita terminou no Grande Templo, com os seus 1200 lugares. Uma sala impressionante não só pelo tamanho mas especialmente pela acústica, pois o mais leve som proferido no Oriente é audível na sala toda.

Poderão ver uma apresentação dos vários templos aqui

Voltei à minha agenda privada passando o resto da manhã e a tarde em NY. Pelas 17h30 recolhi ao hotel, que por uma coincidência (e não fui eu que o escolhi!!) era apenas 2 ruas da GLNY , onde vesti o fato e a camisa branca colocando logo a gravata apropriada. Pus o avental e as luvas numa pequena mochila e ai fui.

Pontualmente às 18h45 apresentei-me ao segurança, a quem expliquei ao que ia. Imediatamente ele decidiu qual a Loja que eu deveria visitar e depois de verificar se estava vestido de fato ou pelo menos de Blazer e calças de fazenda, solicitou a uma empregada que me acompanhasse ao 6 piso, ao Renaissance Room.

Aí fui recebido pelo Venerável da Loja Cornerstone #178, Irmão R., que numa primeira instancia verificou os meus documentos todos, informando-me no entanto que seria o “brother Tyler” (Irmão telhador, ou guarda Externo) que faria a ultima verificação.

Eis que chega este Irmão e que depois de ver todos os documentos novamente, e estando satisfeito com a parte burocrática, me solicitou que o acompanhasse conjuntamente com outro Irmão para uma sala contigua, uma espécie de sala de espera, na qual fui testado ritualmente, sendo-me pedidas todas as palavras e todos os sinais dos 3 primeiros graus.

Satisfeito com as minhas respostas deu-me então as boas vindas e concedeu-me entrada no templo, para que pudesse assistir a toda a sessão.

É hábito na GLNY a sessões decorrerem em Grau de Mestre, e por isso o extenso interrogatório. A Cornerstone Lodge #178 reúne como aliás quase todas as Lojas da GLNY no Rito de York, rito este que não me sendo totalmente estranho, também não me é muito familiar.

Assisti então a uma sessão de Instrução dada por um dos Assistant Grand Lecturer (o Grand Lecturer é um equivalente do Grande Inspector) da GLNY, sobre desempenho ritual em sessões de Iniciação.

Estava deliciado a ouvir a apresentação, pois o método usado era-me muito familiar, tão familiar que até julguei que quem estava a fazer a apresentação era um tal Grande Inspector da GLLP de nome José Ruah. Eis senão quando que sou convidado para ilustrar como se processava uma determinada parte do ritual de iniciação aqui em Portugal e em especial no Rito Escocês Antigo e Aceite (REAA). Lá fui para o centro do templo e comecei a exemplificar e a debitar matéria.

Pensei, coitados já não lhes bastava um e hoje levam com dois Zé Ruah. Mas a coisa não ficou por ali, porque deu entrada em cena o “Rui Bandeira” local e logo a sessão se animou mais um pouco.

É que a Cornerstone Lodge não é muito diferente da Affonso Domingues, ambas têm nas suas fileiras Maçons muito antigos e outros recentes, têm Irmãos com grande conhecimento e outros ainda em fase inicial de aprendizagem, misturando-se assim experiências e pontos de vista, têm ambas o desígnio de ensinar aos seus membros um correcto desempenho do ritual, e das regras maçónicas.

A Cornerstone Lodge também contribui com o seu esforço na campanha de recolha de Sangue da GLNY, e à semelhança das demais organiza refeições de confraternização com as famílias, tal qual a RLMAD o faz.

Terminada a sessão, e com uma sensação de aceitação muito maior que no início fiquei com pena de não os acompanhar na refeição que se seguiu, mas outros compromissos estavam já agendados para o jantar.

Enquanto arrumava as minhas coisas ia respondendo a Irmãos mais novos que inquiriam sobre os costumes em Portugal e no REAA.

Nunca tinha visto aquelas pessoas, mas fui recebido como se fosse um deles e como se o normal fosse estar presente nas sessões daquela loja. E na verdade senti-me em casa, senti-me com os meus. Foi esta mais uma experiência, que me mostrou que aquela coisa da fraternidade Universal não é só um conceito teórico dos livros, é uma prática entre os Maçons.

Da GLNY só guardo boas recordações, tão boas que numa próxima viagem tudo farei para visitar uma loja novamente e não ficaria nada desagradado se fosse a Cornerstone Lodge #178 a Oriente de Nova York.

Dear Brethren, Worshipful Master Brother R.

It was a great pleasure to visit your Lodge. You have made me feel like home, and among brothers. Participating in your lodge and having the possibility to learn about your way and showing a bit of our way here in Portugal, was most interesting and positive. It was an experience that I’ll keep in my heart forever.

Please feel free to call me if ever you are coming this way.

Frats


José Ruah

28 fevereiro 2009

O Orgulho



Certo dia, um casal, ao chegar do trabalho, encontrou algumas pessoas dentro da sua casa. Pensando que eram ladrões, ficaram assustados, mas um homem forte e saudável, com corpo de halterofilista disse:

- Calma, nós somos velhos conhecidos e estamos em toda parte do mundo.

- Mas quem são vocês? - pergunta a mulher.

- Eu sou a Preguiça - responde o homem másculo - Estamos aqui para que vocês escolham um de nós para sair definitivamente das vossas vidas.

- Como pode você ser a preguiça se tem um corpo de atleta que pratica regularmente desporto? - indagou a mulher.

- A preguiça é forte como um touro e pesa toneladas nos ombros dos preguiçosos; com ela ninguém pode chegar a ser um vencedor.

Uma mulher velha curvada, com a pele muito enrugada que mais parecia uma bruxa diz:

- Eu, meus filhos, sou a Luxúria.

- Não é possível! - diz o homem - Você não consegue atrair ninguém sendo tão feia.

- Não há feiura para a luxúria, meus queridos. Sou velha porque existo há muito tempo entre os homens, sou capaz de destruir famílias inteiras, perverter crianças e trazer doenças para todos, até a morte. Sou astuta e posso-me disfarçar na mais bela mulher.

E um homem mal cheiroso, vestindo umas roupas sujas e rasgadas, que mais parecia um mendigo diz:

- Eu sou a Cobiça. Por mim muitos já mataram, por mim muitos abandonaram pátria e família; sou tão antigo quanto a Luxúria, mas eu não dependo dela para existir.

- E eu, sou a Gula - Diz uma lindíssima mulher com um corpo escultural e cintura finíssima. Os seus contornos eram perfeitos e tudo no corpo dela tinha harmonia de forma e movimentos.

Os donos da casa assustaram-se, e a mulher disse:

- Sempre imaginei que a gula seria gorda.

- Isso é o que vocês pensam! - responde ela. - Sou bela e atraente porque se assim não fosse, seria muito fácil livrarem-se de mim. A minha natureza é delicada, normalmente sou discreta, quem me tem, não se apercebe, mostro-me sempre disposta a ajudar na busca da luxúria.

Sentado numa cadeira num canto da casa, um senhor, também velho, mas com o semblante bastante sereno, com voz doce e movimentos suaves, diz:

- Eu sou a Ira. Alguns conhecem-me como cólera. Tenho também muitos milénios. Não sou homem, nem mulher, assim como os meus companheiros que aqui estão.

- Ira? Parece mais o avô que todos gostariam de ter! - diz a dona da casa.

- E a grande maioria tem! - responde o “avô” - Matam com crueldade, provocam brigas horríveis e destroem cidades quando me aproximo. Sou capaz de eliminar qualquer sentimento diferente de mim, posso estar em qualquer lugar e penetrar nas mais protegidas casas. Mostro-me calmo e sereno para lhes mostrar que a Ira pode estar no aparentemente manso. Posso também ficar contido no íntimo das pessoas sem me manifestar, provocando úlceras e as mais temíveis doenças.

- Eu sou a Inveja. Faço parte da história do homem desde a sua criação - Diz uma jovem que ostentava uma coroa de ouro cravada de diamantes, usava braceletes de brilhantes e roupas de fino pano, assemelhando-se a uma princesa rica e poderosa.

- Como pode ser a inveja, Se é rica e bonita e parece ter tudo o que deseja. - diz a mulher da casa.

- Há os que são ricos, os que são poderosos, os que são famosos e os que não são nada disso, mas eu estou entre todos, a inveja surge pelo que não se tem e o que não se tem é a felicidade. Felicidade depende de amor, e isso é o que mais carece na humanidade... Onde eu estou está também a Tristeza.

Enquanto os invasores se explicavam, um garoto que aparentava cerca de cinco a seis anos brincava pela casa. Sorridente e de aparência inocente, característica das crianças, a sua face de delicados traços mostrava a plenitude da jovialidade, olhos vívidos...

E você garoto, o que é que faz junto desses que parecem ser a personificação do mal?

O garoto responde com um sorriso largo e olhar profundo:

- Eu sou o Orgulho.

- Orgulho? Mas você é apenas uma criança! Tão inocente como todas as outras.

O semblante do garoto tomou um ar de seriedade que assustou o casal, e disse:

- O orgulho é como uma criança, mostra-se inocente e inofensivo, mas não se enganem, sou tão destrutível quanto todos aqui; querem brincar comigo?

A Preguiça interrompe a conversa e diz:

- Vocês devem escolher quem de nós sairá definitivamente das vossas vidas. Queremos uma resposta.

O homem da casa responde:

- Por favor, dêem-nos dez minutos para que possamos pensar.

O casal dirige-se para seu quarto e lá fazem várias considerações. Dez minutos depois voltam.

- E então? - pergunta a Gula.

- Queremos que o Orgulho saia de nossas vidas.

O garoto olha com um olhar fulminante para o casal, pois queria continuar ali. Porém, respeitando a decisão, dirige-se para a saída.

Os outros, em silêncio, iam acompanhado o garoto, quando o homem da casa pergunta:

- Vocês também se vão embora?

O menino, agora com ar de severo e com a voz forte de um orador experiente diz:

- Escolheram que o Orgulho saísse de suas vidas e fizeram a melhor escolha. Pois onde não há Orgulho não há preguiça, já que os preguiçosos são aqueles que se orgulham de nada fazer para viver não percebendo que na verdade vegetam.

- Onde não há Orgulho, não há Luxúria, pois os luxuriosos têm orgulho de seus corpos e nas suas riquezas, julgando-se merecedores.

- Onde não há orgulho, não há Cobiça, pois os cobiçosos têm orgulho das migalhas que possuem, juntando tesouros na terra e invejando a felicidade alheia, não percebendo que na verdade são instrumentos do dinheiro.

Onde não há Orgulho, não há Gula, pois os gulosos orgulham-se das suas condições e jamais admitem que o são, arranjam desculpas para justificar a gula, não percebendo que na verdade são marionetas dos desejos.

Onde não há Orgulho, não há Ira, pois as pessoas cheias de ira condenam com facilidade aqueles que, segundo o próprio julgamento, não são perfeitos, não percebendo que na verdade a sua ira é resultado de suas próprias imperfeições. Os irosos não vêem a realidade pois estão cegos pela ira.

Onde não há Orgulho, não há inveja, pois os invejosos sentem o orgulho ferido ao verem o sucesso alheio, seja ele qual for. Os invejosos precisam constantemente de superar os outros nas “conquistas”, não percebendo que na verdade são ferramentas da insegurança.

Texto de Autor Desconhecido

27 fevereiro 2009

AMANHÃ, dar sangue... (conferir na agenda !)

Atenção ao dia de amanhã. Há encontro marcado para o ginásio da escola Melo Falcão, na Pontinha.
Quem queira ir de carro, tem parque a 20 (vinte) metros !
Quem fôr de Metro tem a estação da Pontinha a 5 (cinco) minutos a pé !

Se a V. saúde o permitir então ultrapassem todas as outras possiveis razões e não faltem, vão à Pontinha ou ao INS e façam a V. dádiva.
Alguém, em algum sítio de Portugal, estará à V. espera para continuar a viver.
Não é "fado choradinho", é uma realidade nua e crua.
Recorram aos Vs. ideais solidários, aos Vs. princípios de cidadania ativa, e cumpram esta função fraterna que é também a demonstração do V. interesse para com os restantes cidadãos portugueses.

Lá estaremos. Até amanhã.

JPSetúbal

Ironman ...

Um dia, o filho perguntou ao pai: - Pai, embora fazer a Ironman os dois ?
Ao que o pai respondeu: - Sim.

Para os que não saibam, Ironman é o mais duro dos triatlos.
A corrida conta com três provas de "endurance" de 2.4 milhas (3.86 kilometros) de natação, seguida de 112 milhas (180.2 kilometros) de corrida de bicicleta, e termina com 26.2 milhas (42.195 kilometros) de maratona ao longo da costa da Grande Ilha (Big Island), no Hawaii.
Pai e filho foram completar a corrida juntos.

Vejam a corrida em :

Video - My Redeemer Lives - Team Hoyt - tangle.com

Façam o possível para serem felizes.

JPSetúbal

26 fevereiro 2009

Ritos e rituais

José Restolho, um profano atento a este blogue e que tomou a iniciativa de se corresponder comigo, interessa-se, manifestamente, pelo tema do ritual. Já anteriormente me questionara a propósito deste tema, dando origem ao texto Pergunta de profano. Agora, enviou-me um novo e curto texto, no qual regista a sua visão de profano sobre ritos e rituais, algo que os maçons assumidamente praticam. Ao enviar-me este texto, o meu correspondente pretendia um comentário meu sobre o seu teor. Mais do que me limitar a corresponder a esse pedido, entendi por bem fazê-lo aqui no blogue, para tanto tendo solicitado e obtido autorização para publicar o pequeno texto que segue.

Bom mais uma vez, aproveito para deixar aqui o meu profano testemunho, desta vez sobre os ritos maçónicos.


Um dos aspectos da maçonaria que mais confusão provoca aos profanos é sem sombra de dúvida a existência de ritos “esotéricos”. Muito se tem especulado sobre a sua natureza, desde conspirações políticas, ritos de carácter satânico, etc. Gostaria então de começar com uma pergunta simples:


-O que é afinal um ritual?


Fazendo uma busca simples na auto-estrada da informação, conclui que um ritual é nada mais, nada menos do que “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, várias vezes atribuídas de um valor simbólico, cuja performance das quais é usualmente prescrita por uma religião ou pelas tradições da comunidade.” Proponho agora ao leitor que pare para reflectir sobre aquilo que o rodeia. Eu propus-me a fazer o mesmo e apercebi-me que no final de contas estamos rodeados por rituais e não me refiro apenas aos ritos religiosos (baptismo, matrimónio, missa, etc). Por exemplo no meio académico, as tão polémicas praxes, que no fundo figuram um rito iniciático da vida académica (muito se pode escrever sobre a praxe, mas prefiro deixar esse tema para outro texto), ou ainda a queima das fitas, um rito de passagem tão carregado de simbolismo (o fim de uma grande caminhada e o início de uma outra ainda maior). Nas artes marciais, todo o cerimonial de entrada no dojo, de início e de fim de aula.


Muitos mais exemplos poderiam aqui ser descritos mas, com o produto desta minha modesta reflexão, pretendo apenas fazer uma ponte entre o profano e o maçónico e de alguma maneira contribuir para o derrubar dos vastos preconceitos existentes em relação à Maçonaria.


O texto de José Restolho explana, com acuidade, um ponto de vista possível de um profano, designadamente de um profano que procura conhecer e analisar, sem preconceitos, o fenómeno da Maçonaria. Muito acertadamente, regista que ritos e rituais não são realidades exclusivas da maçonaria, Existem em muitas atividades sociais, de diferente natureza. Por regra, tudo o que assume alguma importância para um conjunto de pessoas é ritualizado.
A espécie humana sente-se confortável com rituais. Transmitem-lhe segurança, identificação.

Os rituais maçónicos partilham desses desideratos e acrescentam mais outro: forma de preparação para aquisição de conhecimentos, forma de despertar a atenção para aspetos da vida interior, do Homem, da Sociedade e do Universo que, sem eles, seriam mais dificilmente identificáveis.

O ritual influencia o humano através de algo a que só muito recentemente a Ciência começou a dar atenção: a inteligência emocional, aquele espaço que está entre a Razão e a Emoção, ou, se quisermos, o ponto por onde os sentimentos e emoções influenciam a Razão. E, inversamente, o território onde, através da Razão,se influenciam as emoções. Um ritual, bem elaborado, bem executado, bem dirigido, pode, à pessoa certa e apta, preparada, para tal, influenciar, desenvolver, abrir horizontes mais largos do que todo um curso com longas e trabalhosas horas de estudo. Um ritual bem feito, relevante, é normalmente complexo e pormenorizado. E há aspetos que só se revelam após se ter apreendido noções que previamente se impunham fossem apreendidas.

Executo e assisto a rituais maçónicos há cerca de vinte anos. Alguns rituais já foram por mim presenciados dezenas, centenas de vezes. Não me é incomum, subitamente, uma qualquer passagem, um qualquer gesto ou ato, uma qualquer chamada de atenção, despertar em mim o acesso a um novo significado, uma distinta relação, um inesperado caminho de análise ou especulação. Não porque nas dezenas ou centenas de vezes anteriores tenha estado desatento. Mas porque é então, e só então, que estou preparado para descortinar esse aspeto. Razão e emoção. A sua interligação, a sua mútua influência, a forma como cada uma pode potenciar a outra, só muito recentemente começaram a ser estudadas em conjunto. Os maçons, através dos seus rituais, há muito que, empiricamente, exploram essa relação. Todos os rituais com significado para as pessoas existem e afirmaram-se e são praticados, porque correspondem a uma necessidade humana de os praticar. Porventura sem se saber porquê, quiçá quem os pratica inconsciente do plano de relação entre a Razão e a Emoção que os torna importantes.

Rui Bandeira

25 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros (2)

No dia 10, publiquei aqui o texto Curso para Aprendizes e Companheiros. Verifiquei depois que este texto serviu de fonte para um texto informativo idêntico publicado no blogue italiano Arco Reale Rito de York. A Internet é assim, possibilita que uma notícia corra mundo com grande celeridade.

Nas informações incluídas no mencionado texto, constaram apenas os temas dos primeiros módulos de Aprendiz e Companheiro - porque só relativamente a esses obtive informação. Entretanto, posso agora completá-la.

O segundo módulo de Aprendiz será dedicado ao tema Arcabouço legal da Maçonaria, Regulamento Geral Federal, Constituição e Landmarks. O segundo módulo de Companheiro tratará o tema Simbolismo do grau e compreensão do ritual. Estes módulos serão ministrados no dia 7 de março.

No dia 4 de abril, lecionar-se-ão os terceiros módulos de Aprendiz e de Companheiro, com os temas, respetivamente, Comentários e estudo do ritual e As sete ciências e as sete artes liberais.

Finalmente, no dia 9 de maio, os quartos e últimos módulos serão disponibilizados. O tema para os Aprendizes será Simbolismo e esoterismo do grau. Os Companheiros dedicar-se-ão também ao Esoterismo do grau.

Para mais informações, reler o texto acima mencionado ou consultar o blogue da Grande Secretaria de Cultura e Educação do Grande Oriente de São Paulo.

Rui Bandeira

23 fevereiro 2009

Encontros no Pará

Organizados pela Grande Loja Maçônica do Estado do Pará, terão lugar, entre 5 e 7 de março de 2009, no município de Santarém (Pará, Brasil), o IV Encontro de Grão-Mestres da Região Norte (do Brasil) e o I Encontro das Damas da Fraternidade do Oeste do Pará (ou seja, o I Encontro das Cunhadas do Oeste do Pará).

São objetivos do evento promover a união e o engrandecimento das Grandes Lojas Maçónicas da Região Norte do Brasil e incentivar o encontro de Irmãos e Cunhadas, para troca de experiências, promovendo a união e a fraternidade.

Entre as 9 e as 17 horas de quinta-feira, 5 de março, decorrerá, no Hotel Amazônia Boulevard, a credenciação dos e das participantes. Pelas 18 horas, no Palladium, iniciar-se-á a sessão de abertura. Pelas 18,30 horas, decorrerá uma palestra conjunta, para os maçons e cunhadas, dedicada ao tema Fraternidade e família: Como isso pode mudar o mundo? Pelas 19,30 horas, será a altura de ocorrer um evento regional, a apresentação do boto cor de rosa. Às 21,30, o dia encerrar-se-á com um Cocktail.

Na sexta-feira, dia 6, os trabalhos decorrerão em separado, os dos maçons no Salão Alter do Chão e os das senhoras no Salão Tucunaré. Pelas 9 horas, os maçons assistirão à palestra dedicada ao tema Unificação da Ritualística Maçónica, que será proferida pelo Past Grão-Mestre da Grande Loja do Estado do Pará, Irmão Washington Lucena Rodrigues. À mesma hora, as cunhadas assistirão à palestra intitulada As damas da Fraternidade e o trabalho filantrópico, proferida pela Dra. Lenimar de Oliveira Vaz, médica pediatra e vice-presidente da Associação Comunitária Damas da Fraternidade. Às 10 horas, as senhoras assistirão à palestra sobre o tema Quarenta anos de filantropia, sendo palestrante Sheilla de Castro Abdud Vieira, professora de arte, enquanto os maçons dedicarão a sua atenção à palestra intitulada A ética maçónica nos tempos modernos, proferida pelo Juiz Federal do Trabalho Irmão Océlio de Jesus Moraes. Após um intervalo para café, entre as 11 e as 11,20horas, os trabalhos recomeçarão, quanto aos maçons, com uma palestra sobre Fraternidade Maçónica, que será proferida pelo Grão-Mestre do Estado do Acre, Irmão Luiz Saraiva Correia, enquanto as senhoras efetuarão uma mesa-redonda, coordenada por Goretti Miranda e por Patrícia Lima, esta última Presidente da Associação Damas da Fraternidade da Grande Loja Maçônica do Estado do Pará. Da parte da tarde, pelas 15 horas, no Salão Alter do Chão, terá lugar uma reunião com os delegados dos distritos maçónicos do Oeste do Pará, enquanto no Salão Tucunaré decorrerá uma mesa-redonda com os Grão-Mestres dos Estados. Pelas 19,30 horas, no Palladium, será proferida uma palestra conjunta para maçons e cunhadas intitulada A Amazónia e a Biodiversidade, proferida pelo Irmão Gilberto Pinheiro, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça Estadual do Amapá. Pelas 20 horas, iniciar-se-á o convívio social, com a apresentação da orquestra jovem Wilson Fonseca e, pelas 21,15 horas, haverá um jantar-dançante, com Walsinho e Banda.

O sábado, dia 7, será dedicado a um passeio a Alter do Chão (Pará, Brasil) e no domingo ocorrerá a despedida das delegações e o regresso a suas casas.

Rui Bandeira

22 fevereiro 2009

O perfil e o Segredo de um Venerável justo e perfeito


Antes de mais, importa esclarecer que o cargo de V:. M:. não deve ser encarado como um passo inevitável no percurso de um maçon. Pretendo com isto dizer que, eventualmente, nem todos os maçons chegarão a ser VV:. MM:., já que o critério de escolha deve ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade.
Anualmente é eleito pelos seus pares um novo Venerável Mestre que, entusiasmado pelo cargo, cheio de enorme boa vontade e responsabilidade, prepara o seu programa de actividades, nem sempre o conseguindo cumprir com o êxito desejado. Isso pode ser visto através da forma como a Loja evolui ao longo do Veneralato:
  • pelo nível de envolvimento e adesão dos II:. às actividades da Loja,
  • pelo nível de indiferença ou ausências às Sessões;
  • pelo nível de não cumprimento de compromissos junto do Tes:.,
  • pela falta de apoio, comprometimento, incompreensão e afastamento de alguns Irmãos.
Formalmente falando, o V:.M:. deve ser um homem sensato, de conduta irrepreensível, com as qualificações para ensinar e para aprender a desempenhar muito bem a sua função. É preciso iniciar a jornada pela base, pelo estudo, de modo a não nos faltar a paz, o equilíbrio e a tolerância para discernir quem será o melhor candidato.
Um brilhante orador, professor, empresário, médico, juiz ou advogado, nem sempre pode ser qualificado para "guia dos Irmãos" de uma Loja Maçónica. Ter um nome famoso, riqueza e posição social, dispor de força ou de autoridade, não são qualificações para este fim.
Devemos ter a certeza de que ele possui conhecimentos maçónicos, compreensão e prática da fé raciocinada que deverá utilizar para facilitar a jornada evolutiva de todo o quadro de obreiros da Loja. Devemos também assegurar-nos de que tem a vontade "correcta" para desempenhar este cargo.
A vaidade pode conduzir um homem a considerar-se poderoso e infalível; porém, os mais avisados sabem que na Maçonaria não existem "poderosos e infalíveis" e, sendo uma fraternidade, não há outra Instituição onde melhor se aplique o lema: "liberdade, igualdade, fraternidade".
Um dos problemas internos das Lojas é que muitos Irmãos mais presunçosos e despreparados, depois de serem exaltados, deixam de estudar, achando que atingiram a "Plenitude Maçónica".
Estes são os primeiros a tentar encontrar vias rápidas e alternativas para serem candidatos ao cargo de V:.M:., tendo sucesso em Lojas que, sem critérios ou cuidados, promovem a sua eleição, propiciando o desrespeito pelas tradições da Ordem por pura omissão, conivência ou até cobardia. Outras vezes Irmãos, por melindres, intrigas, ou apenas pela satisfação de vaidades pessoais ou birra, indicam candidatos para o "trono de Salomão", somente em função dos seus relacionamentos.
Estes candidatos, uma vez eleitos e empossados, pouco contribuem para a Ordem Maçónica e/ou para a Loja, tendem a banalizar a ritualística, ou a achar que mudar e inventar futilidades é sinónimo de modernização e inovação.
É necessário que meditem sobre a disciplina que envolve o estudo, a reflexão em torno dos princípios maçónicos, e o empenho responsável de renovação do verdadeiro maçon.
O que devemos fazer para ajudar a impedir o sucesso desses insensatos que faltam à fé jurada?
  • Percebendo qual será o seu "programa administrativo ou de trabalho";
  • Vendo o modo como se comportaram nos cargos exercidos nos últimos anos;
  • Avaliando se aprenderam a lidar com o diferente;
  • Percebendo que grau e que tipo de envolvimento têm com a Loja e com os II:..
  • Considerando o seu carisma, ou seja, as suas qualidades de liderança.
É imprescindível ter também em consideração aspectos como, o conhecimento doutrinário; se chefia a sua família de forma ajustada; se dispõe de tempo disponível que possa dedicar à Loja e à Ordem, sem com isso prejudicar a sua actividade profissional e familiar, etc. Quanto mais claramente conseguirmos ver as qualidades do candidato, mais valioso ele se torna para nós.
Somando o conjunto destas e de outras qualidades, podemos avaliar se, no seu conjunto, o candidato reúne o necessário para assumir este desafio.
Uma escolha apressada de alguém desqualificado poderá trazer resultados muitas vezes desastrosos. Não bastam anos de frequência às reuniões ou a leitura de alguns livros maçónicos, para se dominar o conhecimento exigido.
Para desempenhar este cargo, é preciso estudar - única forma de alcançar o conhecimento necessário - porque aprender é, evidentemente, um acto de humildade. Mas para adquirir sabedoria, é preciso observar. Só assim conseguiremos, ao invés de colocar o homem no centro de tudo, descobrir o tudo que está no centro do homem.
Para desempenhar este cargo, é preciso também "estarmos envolvidos"; é preciso preocuparmo-nos com os nossos II:., com a Loja em si mesma, com a Ordem, etc. Em resumo, é preciso sentirmos que o nosso percurso está intimamente ligado a todos os que de alguma forma se relacionam, directa ou indirectamente, com a Loja. Desempenhar as funções de V:. M:. implica reconhecer quem são estes "stakeholders", e investir no reforço das suas ligações à Loja e entre eles próprios.
O candidato, quando preparado e com o perfil adequado, pode desempenhar esta missão, conduzindo-a com mãos suficientemente fortes para afagar e aplaudir; sabedoria para ensinar e modéstia para aprender, e por este conhecimento, fazer-se paciente, puro, pacífico e justo; adquirindo a aptidão para reconhecer o seu limitado poder e abundantes erros; a sua capacidade e suas falhas; os seus direitos e deveres; dispor de força para, ciente de tudo isso, libertar-se das paixões humanas e assim adquirir a antevisão e o equilíbrio necessários para se livrar dos obstáculos no seu Veneralato, levando Paz, Amor Fraternal e Progresso à sua Loja.
O V:. M:. escolhido tem que ser um líder agregador que entusiasme os seus Irmãos pela sua dedicação e abnegação à Maçonaria. Os grandes Mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita benevolência. Tratam os Ilr:. da forma como desejam ser tratados e ajudam-nos a serem o que são capazes de ser: filhos amados do Grande Arquitecto do Universo, portanto IRMÃOS.
O V:. M:. precisa compreender que assiste ao outro o direito de ter uma opinião divergente da sua. Deve procurar criar uma empatia com o crítico, ver o assunto do ponto de vista dele, manifestando entender o seu sentimento. Sendo todos iguais, ninguém é mais forte ou mais fraco e deixa que perceba isso. Só assim ele compreenderá que o seu direito de opinar (participar) está a ser respeitado.
Quando um Irmão necessita falar ouve-o; quando acha que vai cair, ampara-o; quando pensa em desistir, estimula-o.
A bondade e a confiança dos seus pares que o elevaram a essa posição de destaque, exige ser usada com sabedoria, aplicando-a no comprometimento da justiça, nunca na causa da opressão.
No desempenho de sua função terá sempre em consideração que ninguém vence sozinho, mas jamais permanecerá ofuscado pelas influências dos que o apoiaram ou se deixará dominar por qualquer tentativa de predominância.
Ele, como V:.M:., é responsável por tudo o que acontecer de certo ou de errado em sua Loja. Por mais que se queixe da "herança perversa recebida" do seu antecessor; de Iniciações de candidatos mal seleccionados, fardos que agora estão a seu cargo; de Irmãos que faltam ao sigilo, à disciplina; da desorganização da Secretaria e da Tesouraria da Loja, que motivam contrariedades, causam prejuízos de ordem moral e monetária de difícil reajustamento. Perante um cenário destes, deve concentrar-se antes no que tem feito para modificar, agilizar e melhorar este quadro.
A condução de uma Loja dá trabalho, requer paciência, é como se fossemos tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. Deve ser feita com destreza, dedicação, vontade e habilidade.
Importa também perceber que temos nos nossos Irmãos os reflexos de nós mesmos. Cabe-nos, por isso mesmo tentar compreendê-los, pela própria consciência, para poder extirpar espinhos, separar as coisas daninhas, ruins, que surgem entre as boas que semeamos no solo bendito do tempo e da vida, já que que se não forem bem cuidadas serão corrompidas.
A atitude do V:. M:. pode ser descrita como um conjunto de diversos aspectos complementares:
  • Fraternidade - quando o V:. M:. lança a semente da união.
  • Consciência - quando nos convida a analisar os nossos feitos para reconhecer erros cometidos.
  • Indulgência - quando aos defeitos alheios pede paciência.
  • Amor - quando floresce um sentimento puro de amizade aos olhos de todos.
  • Bondade - quando convive com os nossos erros, incompreensões, medos, desânimos, perdoando de boa vontade.
  • Justiça - quando deixa que cada um receba segundo os seus actos.
  • Felicidade - quando nos lábios de um Irmão aparecer um sorriso, e outro sorri também, mesmo de coisas pequenas para provar ao mundo que quer oferecer o melhor.
  • Instrutor - quando valoriza a ritualística, o simbolismo, utilizando as Sessões Ordinárias como uma forma objectiva de instruir o Irmão, incentivando o estudo e a discussão de tudo que seja relevante para a Ordem em particular e para a sociedade em geral.
  • Mestria - quando estimula os II:. a apresentarem trabalhos de conteúdo, elaborados por eles, e recusa simplesmente cópias retiradas de livros, revistas ou Internet, e o que é ainda mais inconveniente, insensato e desastroso, o recurso do plágio, ou seja, à cópia ou imitação do trabalho alheio, sem menção do legitimo autor.
Mestre sim, porque, sempre independente, nunca perde a alegria, nunca se acomoda e, como fiel condutor que representa o grupo, que ocupa a primeira posição de comando, isto é, comanda (manda com) os seus liderados em qualquer linha de ideia, se assume como o líder. Quando ao sair das reuniões cada um de nós se sentir fortalecido na prática da Arte Real, do bem e do amor ao próximo, podemos apelidar o local de Loja Maçónica Regular, Justa e Perfeita.
Acabando a tristeza e a preocupação, surge então a força, a esperança, a alegria, a confiança, a coragem, o equilíbrio, a responsabilidade, a tolerância, o bom humor, de modo que a veemência e a determinação se tornam contagiantes, mas não esquecendo o perigo que representa a falta do entusiasmo que também contagia.
E, finalmente, quando se aproximar o final do seu Veneralato, deve fazer uma reflexão sobre quais foram as atitudes reais de beneficência que tomou; referimo-nos não só ao auxílio financeiro a alguma Instituição filantrópica, mas também ao "ombro amigo" na hora necessária, ou o empréstimo do seu ouvido para que as queixas fossem depositadas.
O V:. M:. nunca deve deixar de agradecer por ter sido a ferramenta, o instrumento de trabalho criado por Deus, usado como símbolo da moralidade, para trazer luz, calor, paz, sabedoria, beleza para muitos corações e amor sem medida no caminho de tantos Irmãos.
Ao encerrar o se mandato, é importante que consiga afirmar a todos os obreiros de sua Loja: "não sinto que caminhei só. Obrigado por estarem comigo. Obrigado por me demonstrarem quanto bem me querem. Eu também vos quero bem. Gostaria de continuar, mas é tempo de "passar o malhete" e dizer: MISSÃO CUMPRIDA!"
Nas nossas reflexões, que o amor desperte nos nossos corações e juntos, com os olhos voltados para frente, consigamos tenacidade para construir o presente e audácia para arquitectar o futuro, por isso, NUNCA DEVEMOS DEIXAR O NOSSO VENERÁVEL LUTAR E CAMINHAR SÓ!
Esta não é a enumeração exaustiva de todas as qualidades que distinguem o Venerável Mestre ideal, mas todo aquele que se esforce em possuí-las, estará no caminho que conduz a todas as outras.
Caro leitor, espero tê-lo ajudado a entender "O perfil e o Segredo de um Venerável Justo e Perfeito..."
Adaptado (de forma muito livre) de texto escrito pelo I:. Valdemar Sansão
O Original deste texto pode ser encontrado aqui
A Loja Mestre Affonso Domingues encontrou uma forma bastante eficaz de assegurar a continuidade na qualidade, dos seus VV:. MM:. - estabeleceu um percurso que leva os candidatos designados a percorrerem diversas funções na Loja, até chegarem ao cargo de V:. M:.. No meu entender, esta solução permite atingir diversos fins igualmente importantes:
  1. O futuro V:. M:. desempenha diversas funções cujo conhecimento contribui e é importante para o seu trabalho como V:. M:.
  2. O futuro V:. M:. é envolvido progressivamente na actividade de gestão da Loja, chegando a V:. M:. já com algum domínio sobre os problemas que a Loja possa ter.
  3. Os mestres mais antigos (normalmente antigos VV:. MM:.), podem acompanhar a progressão do futuro V:. M:., aconselhando-o e apoiando-o na sua progressão.
  4. "Permite detectar precocemente" se o candidato vai ou não vai conseguir ser V:. M:. e, em casos extremos, tomar decisões.
Paradoxalmente, no meu caso pessoal, serei eventualmente V:. M:. dentro de algum tempo, o que significa que o sistema que temos não é perfeito - permite ainda erros de "casting". Tenho contudo esperança que, se necessário, haja a coragem de aplicar o ponto 4 (acima), sendo assim a loja consequente com o inicio deste texto - o critério de escolha tem de ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade. A Loja prevalece sobre os II:. e o conjunto destes prevalece sobre cada um, mesmo que possa vir a ser V:. M:..

21 fevereiro 2009

Le seul Orchestre Symphonique de Kinshasa

(Por "razões de ordem técnica" este post sai com um dia de atraso)

Para fazer inveja ao "Zé da Música" e ao Rui, hoje 6ª feira, que por acaso até é um dia especial para mim, resolvo ser eu a deixar um convite de fim de semana.
E logo este que é de Carnaval.

Como logo se verá, inveja ao "Zé da Música"... porque se trata de música no blogue, ao Rui porque se trata de desafio para o fim de semana, implicando com as habituais estorinhas que ele aqui costuma deixar para "des-setressar" (?).

Pois um caríssimo Mano dos nossos, o AD (até podia ser Affonso Domingues, mas não é) mandou -me numa mensagem uma ligação que resolvi trazer para aqui.
Este AD tem dias, é como eu, e de vez em quando abro o correio (à noite como é habitual) e o rapaz (correio, já se vê) até se engasga com um quarteirão bem medido de mensagens dele ! Entretanto é capaz de estar semanas sem dar notícias.

Convém notar que o AD passou "pelas Áfricas" e ficou meio "cafrealizado", como quase todos os que por lá passam, razão porque em cada 3 mensagens que manda, 4 têm alguma ligação àquelas terras.

Desta vez é a música supostamente erudita (é coisa que não existe, mas para já facilita o texto), mas em África e de África vem música de espanto.
Não é o caso deste vídeo em que a música é tão africana como eu, que nasci em Lisboa, embora bem melhor do que eu, naturalmente.

O que aqui há de significativo é o contraste entre limitações de vida e alegria de vida.
Como é fácil ser feliz, quando o coração tem dimensão para isso... E é só isso que é necessário, coração grande e cabeça com vontade !

Vejam o vídeo, vale a pena.
Obrigado ao AD pelo envio

JPSetúbal

19 fevereiro 2009

Loja azul

Por vezes, esquecemo-nos que o que é simples e básico para quem já conhece e está habituado a determinado tema pode não ser assim tão facilmente entendido por quem esteja a iniciar o seu contacto com o assunto.

Veio-me este pensamento à tona há alguns dias quando li o texto do José Ruah Música no blogue - uma nova etapa, vi as alterações que efetuou e, sobretudo, assisti a um comentário brincalhão, com água no bico de "futebolês", do simple e à resposta, a sério, do Ruah à "provocação futebolesa" do simple sobre o uso da cor azul para uma das listas de músicas colocadas no blogue pelo Ruah. Este respondeu, muito a sério, repito:

As Lojas são Azuis e o REAA é Vermelho. Não pense o meu caro amigo que as cores foram escolhidas por acaso.

Os maçons entenderam perfeitamente o alcance da resposta do Ruah. Mas interroguei-me sobre se um profano que deparasse com este comentário o entenderia. E concluí que, embora porventura muitos profanos o entendessem ou pudessem perceber com uma simples busca num motor de busca, certamente haveria alguns que teriam dificuldade em perceber a alusão.

Portanto, vamos lá esclarecer, porque o facto de ser básico para uns não significa que o seja pra todos.

Em Maçonaria, designam-se por Lojas azuis as Lojas que trabalham nos três graus essenciais da Maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Porquê azuis? Simplesmente porque, na sua origem, essa foi a cor escolhida pelos maçons que, no século XVIII, criaram, em Inglaterra, a Grande Loja de Londres. Nesse tempo, havia apenas um rito praticado e a cor que o identificava, a cor principalmente usada nos artefatos dos maçons, era o azul.

E assim permaneceu, designadamente nos países anglo-saxónicos, que, praticamente em exclusivo, praticam apenas o Rito de York ou suas variantes. A cor deste rito é o azul.

Como nos países anglo-saxónicos a tendência é para a prática de um único rito, e sendo a cor associada a esse rito, passou a designar-se por Lojas Azuis as lojas dos três graus essenciais da Maçonaria.

Com efeito, outras cores são associadas a outras situações em Maçonaria. Por exemplo, os Grandes Oficiais das Grandes Lojas anglo-saxónicas usam, normalmente, colares e aventais orlados na cor púrpura.

Após a implantação da Maçonaria, seguiu-se um período de criação e proliferação de ritos. Cada rito era, pelos que o criavam, associado a uma cor. Das dezenas de ritos que apareceram, como é natural só uns poucos subsistiram. De entre estes, o Rito Escocês Antigo e Aceite, cuja cor é o vermelho.

Na Maçonaria anglo-saxónica, os três graus básicos são, quase exclusivamente (existe uma exceção célebre, que adiante referirei) trabalhados no rito de York ou suas variantes, cuja cor, como acima referi, é o azul. Existem, para além dos três graus básicos e essenciais da maçonaria, sistemas de Altos Graus, que prolongam o caminho iniciado nesses três graus básicos. Mas todos os maçons, nos países anglo-saxónicos, trabalham na Maçonaria Azul (os três graus básicos, no Rito de York ou suas variantes). Os que o pretendem e a tal são admitidos, podem ainda trabalhar em Altos Graus, seja do Rito de York, seja do Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos países anglo-saxónicos (ressalvada a tal exceção...) não se trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus. Só a partir do quarto grau.

Na Maçonaria Continental Europeia, em África e na América Latina, pelo contrário, as Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite utilizam-no desde o primeiro grau. Aqui, o Rito não é exclusivamente um rito de Altos Graus, antes é um sistema coerente, que vai desde a iniciação até ao último dos Graus Filosóficos. Apesar de a cor do rito ser a vermelha, continua-se a designar as Lojas dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceite como Lojas Azuis, em uniformidade com o estabelecido no resto do mundo maçónico.

Consequentemente, embora a designação de Loja Azul tivesse originalmente decorrido da cor do rito que no século XVIII se praticava, hoje em dia essa designação aponta as Lojas dos três primeiros graus da Maçonaria, qualquer que seja o rito praticado.

Quanto à tal exceção, que é, afinal, uma mera curiosidade. Presentemente, nos EUA, toda a Maçonaria Regular trabalha num único rito, a variante norte-americana do Rito de York, fixada por Preston e Webb (normalmente denominada por Rito Preston-Webb). À exceção de uns irredutíveis gauleses... Não propriamente a aldeia de Astérix, mas algo de parecido. A Louisiana foi originalmente colonizada por franceses e foi território colonial francês. Foi durante esse período que ali foi introduzida a Maçonaria, segundo o rito mais praticado em França, o Rito Escocês Antigo e Aceite. Ulteriormente, a Louisiana foi vendida pela França aos Estados Unidos e passou a Estado integrante dos Estados Unidos da América. Quando ali se organizou, ao estilo continental norte-americano, a Maçonaria, sob a égide da Grande Loja da Louisiana, todas as Lojas a partir daí criadas passaram a utilizar a variante local do Rito de York. Mas as Lojas pré-existentes que manifestaram o desejo de continuar a trabalhar segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite, mesmo nos três primeiros graus, foram autorizadas a assim continuar a fazer. Até hoje! Subsiste presentemente cerca de uma dúzia dessas Lojas. Os maçons americanos chamam-lhe "Maçonaria Vermelha" e... são um polo de curiosidade...

Rui Bandeira

18 fevereiro 2009

Um Grupo de Macacos

Há algum tempo que não colocava um texto aqui, já que tenho estado envolvido no desenvolvimento do Website da Mestre Affonso Domingues (www.rlmad.net), o que não deixa muito tempo livre; contudo, não resisti a partilhar este texto no Blog:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, tendo no centro colocado uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria sobre os que estavam no chão. Depois de algum tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco se atrevia a subir a escada, apesar da tentação das bananas.

Os cientistas decidiram então substituir um dos cincos macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o agrediram. Depois de algumas agressões, o novo integrante do grupo deixou também ele de subir a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles porque motivo batiam em quem tentasse subir a escada, certamente que a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...", ou “sempre que alguém tenta subir a escada, há que lhe bater …”, ou ainda "os que tentam subir a escada, gostam de apanhar; estamos a prestar-lhes um serviço...".

Creio que nem sempre nos questionamos sobre por que motivo "batemos" ou se faz sentido fazê-lo – limitamos a agredir ou a dizer mal, até porque nesta nossa atitude tão Portuguesa, dizer que está mal (bater), “é uma forma de competência”.

Casa do maçom

Iniciativa da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade Paulista, foi inaugurada, em 27 de abril de 2008, na localidade de Barretos, Estado de São Paulo, Brasil, a Casa do Maçom "João Baroni", que recebe pacientes de várias cidades do país. O espaço oferece hospedagem a maçons e familiares de todo o Brasil, que se encontrem em tratamento no Hospital de Câncer da Fundação Pio XII, de Barretos. Localiza-se na rua Paraguai, nº 1.800, a cerca de 800 metros do Hospital.

A cerimónia de inauguração reuniu representantes das Maçonarias de vários Estados, bem como o Venerável Mestre da Augusta e Respeitável Loja Simbólica Fraternidade Paulista e membros das várias Lojas Maçónicas de Barretos.

A casa é formada por onze apartamentos totalmente mobiliados, apropriados para receber pacientes com acompanhantes. Cinco deles são adaptados para utilizadores de cadeira de rodas. O espaço conta ainda com receção, lavandaria, área de convívio, sala de TV, cozinha e refeitório, num terreno de 1.100 m2, com um total de 460 m2 de área construída.

A casa, concebida com base nos símbolos usados na Maçonaria (esquadro, compasso e régua), foi projetada pelo engenheiro André Ponciano, colaborador do projeto. A construção foi realizada no período de dois anos. A primeira pedra foi colocada no dia 23 de abril de 2006.

(Informação obtida através de mensagem de divulgada no Grupo Maçônico Orvalho do Hermon e pesquisada nos sítios da A.R.L.S. Fraternidade Paulista e A.R.L.S. Cavaleiros de São João, n.º115)

Rui Bandeira

17 fevereiro 2009

Meio por cento


Uma das instituições de solidariedade social que é cara aos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues é a CERCIAMA - COOPERATIVA DE EDUCAÇÃO E REABILITAÇÃO DE CIDADÃOS INADAPTADOS DA AMADORA, CRL. A CERCIAMA tem a sua sede e instalações de assistência, guarda, ensino, apoio, formação e reabilitação de cidadão inadaptados, designadamente em consequência de serem afetados pela trissomia 21 (vulgo: mongolismo) ou outras doenças ou insuficiências do sistema cognitivo, na R. Mestre Roque Gameiro nº 12, 2700-578 AMADORA e está reconhecida como instituição de utilidade pública (DR, II Série. n.º 152, de 03/07/1984). No seu blogue , a CERCIAMA faz o seguinte apelo, que temos todo o gosto em aqui reproduzir e secundar:

A partir da declaração de IRS, respeitante ao Ano 2008, a tributar em 2009, informa-se que pode consignar 0,5% do Imposto Liquidado (Lei nº16/2001 de 22 de Junho, Art. 32º e Portaria nº 80/2003 de 22 de Janeiro) à CERCIAMA.

Basta inscrever no Anexo H, caixa 9, coluna 901, o número de IDENTIFICAÇÃO DE PESSOA COLECTIVA, neste caso da CERCIAMA.

A CERCIAMA tem como Número de Identificação de Pessoa Colectiva (NIPC), o seguinte:

500 636 826

Quer no modelo de IRS electrónico, quer no modelo de IRS entregue em suporte de papel à vossa Repartição de Finanças, a vossa consignação deve ser assinalada no Anexo H, caixa 9, coluna 901, marcando um X no quadradinho com que termina a linha que refere:

-INSTITUIÇÕES PARTICULARES DE SOLIDARIEDADE SOCIAL ou PESSOAS COLECTIVAS DE UTILIDADE PÚBLICA (art. 32º, nº4 e 6).

Recorda-se que não assinalando nada na Caixa 9, … todo o benefício será directamente consignado à Fazenda Pública!

A CERCIAMA AGRADECE o vosso gesto de solidariedade pessoal, sem descurar que outra possa ser a entidade destinatária do donativo.

Seja Solidário uma vez mais!

Ajude a CERCIAMA

Obrigado

Meio por cento é quase nada! Mas lembrem-se que muitos meios por cento ajudam - e de que maneira! - quem, muitas vezes, é a única ajuda de quem dela absolutamente precisa!

Portanto, meus caros leitores sujeitos passivos de IRS em Portugal, é assim: basta ter o cuidado de guardar estes dados e, quando preencherem a vossa declaração de IRS, colocar o número de pessoa coletiva da CERCIAMA e o tal "X" no quadradinho da caixa 9 do Anexo H e, sem custos para vós, 0,5 % do IRS que vos é liquidado é entregue pela fazenda Pública à CERCIAMA. Se nada fizerem, se nada cuidarem, se não quiserem ter o pequenininho esforço de se recordarem de assim fazerem e de efetivamente o fazerem, a Fazenda Pública, em vez de ficar apenas com 99,5 % do vosso IRS e entregar 0,5 % dele à CERCIAMA, fica com os 100 % todinhos do vosso IRS.

A escolha é vossa!

Mas para quem reclama, resmunga ou murmura que o Estado podia aplicar melhor o dinheiro dos nossos impostos, convenhamos que prescindir de determinar-lhe que entregue a pequenina parte do nosso IRS que ele, Estado, aceita que nós determinemos a quem deve entregá-la, não será muito coerente...

E a CERCIAMA merece que nos lembremos dela e que tenhamos para com ele este gesto pequeno, fácil e sem custos para nós: determinar à Fazenda Pública que lhe entregue 0,5 % do nosso IRS! Quem porventura duvidar, tem uma maneira muito fácil e rápida de tirar as dúvidas: é ir visitar a CERCIAMA e ver, com os seus próprios olhos, o fantástico trabalho que ali é feito!

Leitor de Portugal: não guarde para amanhã o que pode fazer hoje! Imprima este texto e guarde-o na pasta dos documentos que precisará consultar quando fizer a sua declaração de IRS. Assim não se esquece!

Rui Bandeira

16 fevereiro 2009

MISERÁVEL MESTRE crónica de ‘MILLÔR FERNANDES’ (?)

Reapareci com o convite para a dádiva de sangue do próximo dia 28.
Acontece que o nosso inesgotável Rui, já há 3 ou 4 semanas, me enviou uma estórinha supostamente de autoria de Millôr Fernandes, autor de quem sou fã indiscutível desde há muitos anos, pelo humor sem paralelo com que escreve crónicas da vida diária, em críticas tão humoradas quanto verrinosas e certeiras.
Desde o tempo de ‘O Cruzeiro’ que o admiro, e já lá vão várias dezenas de anos (ele tem mais do que eu…).
No início do ‘A Partir Pedra’ um dos primeiros posts que coloquei foi exatamente um texto do Millôr, extraordinário ( a famosa definição da ‘Rôsca’… uma rosca é uma rosca, é uma rosca, é uma rosca.) e aí descobrimos, ambos (eu e o Rui), que era-mos igualmente fãs do Millôr Fernandes.
Este texto, após chegar ao nossos correios, teve um acerto igualmente suposto porque neste momento não temos qualquer certeza quanto à sua autoria.
Chegou como sendo do Millôr, mas a logo depois apareceu-nos um desmentido que nos merece tanta credibilidade quanto a primeira autoria.
Com autor ou sem ele fica uma certeza, não é minha autoria e tão pouco do Rui.
Mas ambos estamos de acordo que merece ser postado !
A questão está em que o que aqui vai no texto ‘não é moleza, não…’, bem pelo contrário, é dureza mesmo !
Eu conheço alguns… por muito que isso me doa, e dói, podem crer.
É o caminho para a perfeição…? pois será… !
Por isso é tão duro, por isso é dureza !
Aí vai :


Tô falando....não param de me perseguir! Estão sempre contra a minha pessoa. E ainda se dizem irmãos. O negócio é que a Loja estava um marasmo. "Tava um saco".
Aliás, por falar nisso, sempre preferi AMASSARMARIA à Maçonaria, vocês sabem. Só tem um negócio lá que atrai: O PODER!
Foi aí que resolvi: quero ser Venerável!
Comecei a conversar com os caras, mas eles me vieram com um papo de que era cedo, que eu não tinha sido secretário...! Função subalterna, trabalha mais do que fala. Jamais! Não tenho tempo para isso... QUERO MESMO É SER VENERÁVEL! Mas tudo tem seu jeito. Os dias passaram, bati papo com uns e outros, fui enrolando. Fiz um leilãozinho de cargos.
Pouco trabalho e muita pose. As Vigilâncias vão para dois alérgicos ao trabalho. Nada de preparar Instruções. Se elas já estão escritas, quem quiser que leia, bolas.
A oratória vai para um caso patológico de exibicionismo que precisa de platéia - vai ter sempre! E por ai continuei...
Quanto àquelas condições de elegibilidade, atropelei todas. Pra freqüência, atestado médico comprovando ‘Mal de Escroque’. Nada como uns livrinhos misticistas. Dou uma cheirada neles e viajo no esoterês...

Bons costumes? Não tem problema, eles ainda não me conhecem direito...
Capacidade administrativa? Bah, administração é coisa para jogar em cima do secretário. Meu negócio é bater malhete e usar paramento. O resto, eu leio e só assino. Mas tem uma turminha que se acha dona da Loja só porque não falta, arruma e desarruma o Templo, chega cedo, comparece no Tronco ou na obra de amor e outras besteiras dessas. Eles resolveram lançar um candidato deles. Mesmo que ele não tenha chance, não custa pichar um pouco.
Como dizia meu guru, "da calúnia sempre fica alguma coisa..." Fui armando nos bastidores, fazendo cabalas com minha grande capacidade de persuasão... Vocês sabem, ele é muito jovem, não presta para mandar...
Comprei presentinhos, fiz longos discursos e botei algumas notas no Tronco (pô que desperdício). Prometi, bajulei e menti. Beijei criancinhas, abracei sogras, fui a batizado e enterro. Enfim, tornei-me o candidato ideal.
O outro boboca, coitado, nem fez campanha. Apresentou um tal plano de trabalho que fazia jus ao nome, só falava de trabalho. Argh! Ninguém deve ter gostado.

Chegou o grande dia da eleição, eu lá tranqüilo, já até pensando na reeleição. Aliás preciso até ver quantas vezes é permitido, de repente, dá até para mudar o regulamento... Por falar nisso, será que venerável é como comprar toca-fitas: instalação é de graça? Não importa. Se não for, ponho na conta da Loja, junto com as dos paramentos, que já mandei fazer, bordados a ouro.
Enfim, o grande momento. Começa a apuração.
Há Unanimidade, estão dizendo. É a glória. Eu mereço...
O quê...? Ganhou o outro? Não absurdo! É roubo! E o meu voto e os compars..., quero dizer, correligionários? Heim...? Não tínhamos freqüência? Vocês não me merecem. Vou fundar uma outra Loja, para ser Venerável.
Vocês ainda vão ver a ‘VIGARICE & PICARETAGEM’ em funcionamento ainda este ano. Quero meu Quit Placet! O quê? Tem de pagar? Deixa pra lá então!
TFA
Ir.·. Millôr Fernandes (?)

E hoje fica assim.

JPSetúbal

13 fevereiro 2009

6ª feira, 13 ! Quem falou em DIA DE AZAR ?

Meus Caríssimos Irmãos, Amigos, Leitores, Comentadores, Críticos e demais interessados no "A Partir Pedra", de vez em quando 'dou à costa', que é como quem diz, reapareço para postar umas bocas...
Acontece que já há muito tempo não se 'faz sangue' neste blog e hoje é o dia do regresso às lides consanguíneas.
Pois bem, não vale a pena pôr muito na carta, porquanto é sabido da maioria dos nossos seguidores, embora nos últimos meses tenham aparecido muitas adesões, que através do 'A Partir Pedra' a R:.L:. Mestre Affonso Domingues faz periódicamente uma chamada aos dadores, antigos, novos e futuros, para colaborarem nas nossas sessões de dádiva de sangue.
É uma prática antiga e desde há 2 anos com a colaboração do magnífico Grupo 19, dos Escoteiros da Pontinha, que com o entusiasmo dos jovens de boa vontade contribuem para a angariação de dadores, sendo que eles próprios são os primeiros a dar o exemplo e a apresentarem-se em peso no ginásio da Escola Melo Falcão (justamente na Pontinha, a 5 minutos do Metro).
Então cá fica o desafio do costume para o próximo dia 28 de Fevereiro, Sábado, durante a manhã das 9 e até às 13 horas.
Não há razão para faltas, desde que as condições físicas o permitam.
Não custa nada, nem fisicamente nem económicamente.
Com a certeza antecipada de que alguém, nalgum lugar, se salvará graças a um tão pequeno gesto de cidadania ativa.
Meus Amigos, a deslocação até à Pontinha, se forem de Metro, até é uma viagem bonita, porque a vista pelas janelas das composições é particularmente colorida para aqueles lados, e se por acaso não virem nada não se preocupem demasiadamente, é sinal de que precisam mesmo de dar sangue !!!
Evidentemente que não será do V. conhecimento, mas alguém, algum dia, Vos irá agradecer o pequeno gesto de humanidade que é a V. dádiva.
Não faltem e tragam um Amigo também.

JPSetúbal

12 fevereiro 2009

Continuação da resposta a outra pergunta

Para além da evolução da maçonaria em dois ramos distintos, Regular e Liberal, o outro fator que, na minha opinião, tem dado origem a criação de diversos corpos que, no mesmo espaço territorial, se reclamam de maçónicos é aquilo a que no texto de ontem apelidei de "insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância". Traduzido por miúdos: vaidades, lutas e ambições por vão "poder", incapacidades de integrar desacordos pontuais, transformando-os desnecessariamente em profundas diferenças, geradoras de afastamentos. A minha própria formulação da frase é demonstrativa de que, se compreendo e encontro justificação para a emergência da Maçonaria Liberal, sou claramente crítico destas outras criações.

Historicamente, no mundo a Maçonaria criou-se segundo os princípios da Maçonaria Regular. Pelas razões e no contexto aludidos no texto de ontem, emergiu também a Maçonaria Liberal. Ambas são formas de Maçonaria. A opção por uma ou por outra depende de conceções da vida e do mundo. Resulta de princípios. São, em qualquer dos casos, escolhas inatacáveis.

Por outro lado, a Maçonaria criou-se como uma instituição masculina. Porém, a seu tempo, se colocou a questão de que as mulheres também podiam e eram suscetíveis de se aperfeiçoar seguindo o método maçónico. Criaram-se assim organizações femininas buscando o autoaperfeiçoamento, segundo o método maçónico, com recurso ao simbolismo e trabalho ritual, adaptado à sensibilidade e idiossincrasia femininas. Essas organizações adotam normalmente designações de Grandes Lojas Femininas e são vulgarmente designadas por Maçonaria Feminina. A Maçonaria Regular, embora considere que a designação de "Maçonaria", sem adjetivos, deve corresponder ao conceito de uma instituição exclusivamente masculina, reconhece o direito ao autoaperfeiçoamento feminino, segundo o método da especulação simbólica e prática ritual, adaptada ao género feminino. É uma realidade distinta da Maçonaria, mas que os maçons regulares reconhecem como louvável. Inclusivamente, em Inglaterra não é incomum a partilha de instalações entre Lojas masculinas e femininas. A Maçonaria Regular, a exemplo da sua posição quanto à Maçonaria Liberal, só não admite intervisitação em reuniões rituais entre maçons regulares e senhoras. Porque as práticas rituais de uns e de outras são específicas para a melhoria dos respetivos grupos, não se justificando presenças ou intromissões que seriam meramente do foro da curiosidade ou de praxe social.

Mas, sendo a Maçonaria Regular exclusivamente masculina, aceitando esta sem reservas o direito feminino a emular, em benefício do seu próprio aperfeiçoamento o método maçónico e sendo a diferença de género um facto da vida, é também inatacável o direito de as senhoras se agruparem no que designam por Lojas e Grandes Lojas Femininas.

Também nalguns pontos do globo se criaram organizações mistas de género, autodesignadas de Co-Maçonaria, isto é, organizações abertas a homens e senhoras. Do ponto de vista da Maçonaria Regular, estas organizações não se justificam. Sendo as sensibilidades masculina e feminina diferentes (é conhecida a frase, que vale o que vale, mas é ilustrativa, de que os homens são de Marte e as mulheres são de Vénus), não se afigura útil nem eficaz um método ou, sobretudo, uma prática ritual única e comum. Ao contrário do que sucede com as organizações femininas, que são reconhecidas como uma realidade que, embora necessariamente diferente, é similar à Maçonaria e de utilidade para as suas destinatárias, a Maçonaria Regular não reconhece utilidade nem necessidade a essas organizações mistas. No entanto, pessoalmente admito que quem optar por integrar uma dessas organizações o faça por princípio, pelo que considero também inatacável o direito de, quem assim o desejar, assim fazer.

Questão completamente diferente é, quer no âmbito dos princípios da Maçonaria Regular, quer segundo as opções da Maçonaria Liberal, que haja quem entenda constituir organizações paralelas. Nesse caso, ou haverá pura imitação, ou criação de organizações justamente consideradas pelas originais como clandestinas. E nesse caso o que estará em causa não serão princípios (pois os imitadores ou clandestinos proclamam os mesmos princípios da organização original), mas apenas manifestações de egos.

Esse tipo de situações ocorreu já em todo o mundo maçónico, quer no âmbito da Maçonaria Regular, quer no da Maçonaria Liberal. Ressalvadas algumas exceções, normalmente dão origem a pequenas e isoladas, interna e internacionalmente, organizações, que estiolam durante algum tempo, até ao seu desaparecimento. A maior parte dura umas dezenas de anos (o que, em Maçonaria, é muito pouco...) desde o nascimento à extinção. As que sobrevivem e permanecem durante mais de um século é porque, algures na sua génese ou desenvolvimento, acabaram por corresponder a interesses ou valores ou princípios diversos e que justificam essa existência.

Na minha opinião, não é grave - até porque - repito - normalmente resultantes de meros egos inchados - a ocorrência desses episódios. O tempo se encarrega de separar o trigo do joio. Cada um que faça o seu caminho e se preocupe consigo e com os seus e deixe viver quem quer seguir, certa ou erradamente, caminhos diferentes.

Nestas situações só há, a meu ver, uma questão a ter em atenção: durante a vida da organização clandestina, alguns elementos de boa vontade aderirão a ela, crentes no seu valor e pretendendo seguir os princípios, seja da Regularidade, seja da Maçonaria Liberal. Esses elementos de boa vontade e boas intenções não devem ser penalizados nem sofrer consequências devido aos inchaços de ego alheios. As organizações originais devem estar atentas a essas situações e, em bases estritamente individuais, criar mecanismos que permitam a quem, ciente que esteja do seu engano, poder prosseguir o seu caminho livre do labéu da clandestinidade.

E não é possível a reintegração da organização clandestina na original? Claro que nunca se deve dizer nunca, salvo em questões de princípio. Mas tenho para mim que isso só é passível de ser encarado, com hipóteses de êxito, quando os egos inchados tiverem terminado a sua passagem pela organização clandestina. É certo que, normalmente, o que incha desincha, mas, em matéria de egos, esse processo costuma ser demasiado demorado... Portanto, na minha opinião, sempre que ocorrem situações de cisão ou clandestinidade, o melhor que há a fazer é dar tempo ao tempo, ter presente que atrás de tempo, tempo vem e que o tempo (quase) tudo cura...

Em resumo, meu caro José Luciano: na minha opinião, não há qualquer estilhaçamento, mas apenas alguma borbulhagem. Efeitos de inchaços de ego...

Rui Bandeira

11 fevereiro 2009

Começo de resposta a outra pergunta

Na sequência do texto Pergunta de profano, José Luciano, através de uma mensagem de correio eletrónico, questiona:

Escreve o Sr. em "Pergunta de Profano":

"Especulativa também porque o trabalho primordial do maçon é especular,...", e eu pergunto, será de tão especulativa que a Maçonaria se estilhaça? será do trabalho sobre a "espiritualidade e a moral" que ela se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados?

Seria útil que José Luciano concretizasse um pouco mais o seu entendimento, assim limitando o risco de se estar a referir a alhos e eu a responder a bugalhos. De qualquer forma, procurarei dar a minha opinião, segundo o que alcancei da questão colocada. Se errar o tiro, José Luciano fará o favor de me corrigir o azimute, para que eu vise melhor...

A questão contém em si pressupostos com os quais não concordo: que a Maçonaria se estilhaça e que se perde, tantas vezes, em caminhos tão enviesados.

Assumindo que José Luciano classifica como estilhaçar da Maçonaria a existência de diversas Obediências, com diferentes orientações, cada uma reclamando jurisdição sobre um conjunto de Lojas maçónicas, a minha convicção é que tal não deriva de a Maçonaria ser "tão especulativa". Resulta, antes de dois fatores, um positivo, outro nem por isso: essencialmente, da incomensurável bênção de que beneficia a espécie humana, comummente designada por livre arbítrio; nalguns casos, do insuficiente êxito de alguns em polir a pedra do seu caráter, mantendo-se permeáveis e dominados por vícios como a vaidade, o desejo ou apego ao que consideram Poder, a intolerância.

Especular é uma das mais nobres caraterísticas da espécie humana. É o que nos possibilita evoluir, crescer, avançar. A Ciência Experimental nasce, em cada dia, da especulação. O processo científico resulta da elaboração de uma hipótese (especulação sobre se determinada ideia corresponde à realidade) e sua verificação ou infirmação por via experimental. A capacidade de especular, ínsita na natureza humana, é um componente essencial do Livre Arbítrio com que fomos dotados. Cada um de nós faz, em cada momento, as suas escolhas em função da sua análise das hipóteses que descortina viáveis e da probabilidade da sua ocorrência. Especular, portanto, é tão inerente à natureza humana como respirar. Nisto, a Maçonaria nada trouxe de novo ao Homem. O caráter distintivo da Maçonaria - e que eu sublinhei no texto que suscitou a colocação da questão - é o facto de essa especulação ter como ponto de partida símbolos, de cuja apreensão, estudo e compreensão cada um deve partir. Por isso também a Maçonaria, além de Especulativa, muitas vezes é designada por Simbólica.

A especulação simbólica, em si e só por si, em nada contribui, ao menos decisivamente, para a existência de diversas correntes e Obediências maçónicas. O caso mais paradigmático, o que alguns consideram a cisão entre a Maçonaria Regular e a que é designada ou se designa por Maçonaria Irregular ou Liberal ou Universal, e que eu considero antes uma natural, previsível e frutífera divisão do tronco comum em dois ramos, ambos alimentados pela mesma seiva, provinda da mesmas raízes, mas cada um inclinando-se para o lado que melhor lhe convém - e afinal ambos contribuindo para o equilíbrio do todo... -, resultou, mais do que de diversas conclusões sobre diferentes análises, da porventura inevitável consequência de diferentes ambientes, inserções e convulsões sociais. A Maçonaria de matriz anglo-saxónica, a Maçonaria Regular, implantou-se e cresceu no seio da sociedade e das classes dirigentes da sociedade, enquanto instituição integrada na ordem social existente, com o propósito de aperfeiçoar pessoas e, por essa via, contribuir para a melhoria, a evolução da sociedade em que se integrou. A Maçonaria dita Irregular ou Liberal ou Universal resulta de uma implantação em terreno que rapidamente seria sacudido pelos tumultos de uma Revolução, que tudo pôs em causa, que tudo virou e revirou, baralhou e deu de novo, desfez e refez.

É essencialmente destes dois diferentes ambientes evolutivos que - talvez inevitavelmente - resultam estas duas diferentes cambiantes da Maçonaria. A Maçonaria Regular, inserida na ordem social, procurando contribuir para a sua melhoria, permaneceu fiel à conceção original de que "no princípio era o Verbo". Acrescenta às convicções herdadas do antecedente as noções de Razão, de Ciência, de Tolerância. Evolui da Idade das Trevas para o mundo moderno através do Iluminismo e do Racionalismo, sem perder a sua ligação ancestral ao conceito do Criador. Evolui do teísmo para o deísmo, sem deixar de integrar quem se considere teísta, assimilando a noção de que o Criador existe para além das conceções individuais ou coletivas da sua natureza, identidade, aspeto, forma, caraterísticas, etc.. Com isso, integra qualquer noção individual ou coletiva do Criador como respeitável, aceitável. Institui a Tolerância como paradigma. Mas nunca perde a noção do Criador. O Homem procura aperfeiçoar-se, evoluir, porque essa é a sua natureza, assim resulta da Criação. Separando os planos do divino e do humano, não deixa de especular como o humano se aproxima, surpreende, entrevê, o divino. A Maçonaria dita Irregular, ou Liberal, ou Universal, caldeada nos tumultos sociais, confrontada com intoleráveis vícios sociais, extremas desigualdades, opressões inaceitáveis, assume um cariz muito mais interventivo. Mais do que melhorar o Homem e, por essa via, melhorar a Sociedade, entendeu que se impunha, prioritariamente, melhorar, modificar, a Sociedade, para, por essa via, poder melhorar o Homem. E, assim, evoluindo em sentindo diferente do outro ramo, intervém ativamente na política e na conformação e organização social. Mais do que simples força propiciadora de evolução, assume, sempre que o entende necessário, caráter revolucionário. E, assim, claramente que entra em rota de colisão com as forças sociais de cariz conservador das sociedades cuja modificação rápida pretende. Entre essas forças, historicamente está a Igreja Católica. O conflito é inevitável. Do questionamento da Igreja ao dos seus ministros vai um passo. Da colocação em crise do que estes representam um outro, mais curto. Do questionamento da crença, um outro, mais curto ainda. Por outro lado, a luta por valores tão absolutos, tão válidos, tão corretos, como inquestionavelmente são a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade, faz-se com todos os que partilhem esses valores. Ainda que não partilhem crença... Se a Maçonaria Regular já abolira as diferenças religiosas através da capa da Tolerância perante todas as crenças, por que não estender, alargar, essa capa também a quem não tem opinião formada sobre a existência ou não de Criador? E, mais ainda, a quem entende que não existe Criador, mas partilha os valores da Liberdade, Igualdade, Fraternidade?

Na minha opinião, os diferentes ambientes de implantação da então jovem instituição, após a sua transformação de Operativa em Especulativa, explicam com clareza porque ocorrem estas duas diferentes evoluções. Que só podemos considerar naturais, senão inevitáveis. É da natureza das coisas que o que evolui em ambientes diversos evolua diferentemente. A racionalização especulativa, neste caso, vem depois. Ao analisar as diferenças, as consequências, de cada uma das conceções. Racionalização, especulação, que não pode deixar de reconhecer o que é evidente. Diferente evolução, assunção, ainda que apenas parcialmente, de diferentes conceções estruturantes da Maçonaria, seu propósito, sua inserção, implicam o reconhecimento que não se está já perante uma única realidade, mas de duas, embora muito próximas, muito parecidas, irmãs gémeas criadas em ambientes diferentes, mas por isso não menos irmãs, por isso não melhor nem pior uma do que a outra. Afinal, a Maçonaria, raiz e tronco comum, ao deitar dois ramos, ambos fortes, ambos dando frutos de natureza similar, ambos saudáveis, um de Maçonaria Regular, outro de Maçonaria Liberal (a quem uns chamam também de Irregular, outros de Universal), acaba por permitir acolher e melhorar um mais alargado leque de Homens Bons e contribuir para um positivo aperfeiçoamento social.

Estes dois ramos, tendo raízes e tronco comuns, são hoje claramente distintos. Ambos úteis. Ambos respeitáveis. Cada um partilhando com o outro muito, tanto. Cada um crescendo na direção que entende crescer, por si, sem que necessite de arrastar ou prejudicar o outro. Muito em comum e podendo comummente cooperar. Algo em separado, por cada ramo fruído e cuidado.

Não, meu caro José Luciano. O crescimento destes dois ramos autónomos da mesma árvore não é nenhum estilhaçamento, antes natural evolução. E não resulta da tendência especulativa dos maçons, antes, e simplesmente, do resultado do livre arbítrio humano, em confronto com diferentes ambientes.
Porventura reunir-se-ão estes ramos? Duvido! Questiono mesmo se seria bom, se não seria uma involução. Afinal de contas, existem porque correspondem a necessidade diferentes, possibilitando evolução e aperfeiçoamento a pessoas com diferentes formas de conceber princípios fundamentais. Cada Homem Livre e de Bons Costumes pode integrar-se no local onde se sentir mais confortável. E crescer. E melhorar. E evoluir. Para mim, isso é bom. Não um mal!

O texto já vai longo e ainda me falta responder-lhe sob outra perspetiva: a existência de diferentes Obediências que se reclamam de maçónicas, não em resultado destes diferentes ambientes propiciadores de diferente evolução, mas de outros fatores. Com a sua condescendência, deixarei isso para um próximo texto.

Rui Bandeira

10 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros

O Grande Oriente de São Paulo (Brasil) inicia no próximo sábado, dia 14 de fevereiro, pelas 10 horas, um curso para Aprendizes e Companheiros, em quatro módulos.

O primeiro módulo de Aprendiz é dedicado ao tema Origens históricas da Maçonaria no Brasil e no mundo.

O primeiro módulo de Companheiro tratará dos temas Origem e história do grau e Particularidades do rito.

Embora o curso se destine diretamente a Aprendizes e Companheiros, a Grande Secretaria de Cultura e Educação Maçônicas do Grande Oriente de São Paulo, entidade organizadora, anuncia que o seu público alvo inclui, não só os maçons destes graus, mas também os Mestres. Que, acrescento eu, se devem sempre considerar eternos Aprendizes, se efetivamente aprenderam algo que valha a pena.

Serão emitidos e entregues certificados aos Irmãos que tiverem frequentado pelo menos 75 % do Curso, ou seja, pelo menos três dos quatro módulos.

O curso será dado no Palácio Maçónico do Grande Oriente de São Paulo, sito na Rua São Joaquim, n.º 457, Liberdade, São Paulo. (E que bem que soa que o Palácio Maçónico se situa na Liberdade...)

O curso é ministrado gratuitamente, mas é solicitada a doação de um quilo de alimentos não perecíveis - a que, obviamente, será dado o adequado uso solidário. (Excelente princípio!)

Para melhor organização das sessões, os interessados devem inscrever-se para a frequência do curso, seja através do endereço de correio eletrónico biblioteca@gosp.org.br, seja através do telefone da rede de
São Paulo, Brasil, 11-3346-7088, extensão (como se diz em Portugal) ou ramal (como se refere no Brasil) 150.

Rui Bandeira