03 julho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1874-1967)

Depois de um período conturbado, emergiu um consenso a partir da década de setenta do século XIX, aliás tal como em toda a sociedade britânica. Este consenso no final da época vitoriana reflectiu-se no facto de, quando o Príncipe de Gales se tornou Grão-Mestre, em 1874, o anteriormente inflamado Conde de Carnarvon transformou-se no seu pacato e diligente Pro Grão-Mestre, enquanto que o antigo rebelde dos anos 50 Canon George Portal se afadigava a trazer a Ordem e a Harmonia às muitas institutições maçónicas que tinham proliferado desde 1856.

A Maçonaria do final da época vitoriana estava instalada na sua posição na Sociedade. As incidências dos debates em várias sessões de Grande Loja eram abertamente relatadas no The Times. Em vilas e cidades de todo o País, as Lojas Maçónicas locais eram partes indispensáveis dos desfiles cívicos, tal como os orgnizados por ocasião dos Jubileus de Ouro e de Diamante da Rainha Vitória. A Maçonaria era suportada por uma fornmidável infraestrutura comercial, visivelmente expressa na firma de George Kenning, que fabricava as caras jóias e paramentos, que permitiam à classe média do final da época vitoriana uma ostentação através da Maçonaria. Kenning também publicou um dos semanários disponíveis nos escaparates das estações ferroviárias, no qual se debatiam temas da actualidade maçónica e se publicavam notícias acerca de personalidades e eventos maçónicos. Este período também constituiu a emergência da Maçonaria como uma das mais abastadas e mais bem organizadas organizações filantrópicas do país.

Algumas notas devem, porém, ser enfatizadas neste quadro de prosperidade, estabilidade e crescimento. Desde logo, a Maçonaria não estava sozinha neste ambiente social. Fazia parte do que foi descrito como o "fraternalismo competitivo". Por outro lado, o crescimento de várias formas mais racionais de lazer e recreação a partir da década de 1860 fora, em parte, a reacção a uma crise de identidade por parte dos habitantes das grandes cidades industriais. Como poderiam eles mantero seu antigo sentido de comunidade e, no caso da classe média, afirmar a sua liderança cívica? Uma resposta foi escolher entre a esplendorosa variedade de novas actividades sociais. Um cavalheiro de sociedade podia viver uma vida cheia de uma variedade de organizações filantrópicas, empresas comerciais e publicações. Um maçon empenhado podia, similarmente, preencher a sua vida com várias reuniões maçónicas, levar o The Freemason para a sua leitura semanal, utilizar a Biblioteca Maçónica e envher a sua casa de uma variedade de objectos maçónicos. A Maçonaria era apenas uma das formas pelas quais a classe média do final da época vitoriana podia afirmar a sua respeitabilidade e prestígio social e manter um paroquial sentido de comunidade.

Um exemplo deste uso da Maçonaria como forma de expressão de identidade no final da época vitoriana foi a emergência de Lojas destinadas a profissões específicas. A criação de lojas maçónicas deu a classes profissionais emergentes, relutantes em frequentar bares e tabernas, um meio através do qual podiam conviver depois do trabalho, numa atmosfera neutral. Assim, membros do Serviço de Educação de Londres peticionaram a criação de uma loja maçónica própria, onde poderiam confraternizar após as reuniões profissionais. Lojas similares foram criadas por vários outros grupos profissionais. São particularmente dignas de nota as lojas criadas por membros das profissões do sector público, tais como polícias e professores. A posição social destes grupos profissionais era, frequentemente, ambígua: a Maçonaria proporcionava a cada um deles a possibilidade de se reclamar pertencer à classe média.

Como parte deste desejo de respeitabilidade, a religiosidade tornou-se cada vez mais importante. Com a adopção de cânticos religiosos populares, a importância do ofício de Capelão (um dos ofícios de Loja do Rito de Emulação, cuja função é a de pronunciar orações em momentos determinados do ritual) e a aparência pseudo-eclesial de muitos dos novos Templos Maçónicos, a frequência das reuniões de loja parecia quase como comparecer a um serviço religioso.

A atmosfera eclesiástica da Maçonaria Britânica afastou-a crescentemente da Maçonaria em todo o resto do Mundo, muito especialmente do Grande Oriente de França, o qual se tornou, a partir da década de 1870, crescentemente ateu e secularista e se ia transformando no guardião da chama da Terceira República. Estas tensões agudizaram-se com a decisão do Grande Oriente de França de dispensar como requisito de admissão dos seus membros a crença num Ser Supremo, o que resultou na cessação de relações com os membros desse Grande Oriente pelas Grandes Lojas Britânicas.

As duas principais orientações do Mundo Maçónico, que divergiram entre si na década de 1870, ainda hoje se vêem uma à outra através do equivalente maçónico do Muro de Berlim. A culpa por esta cisão não pode ser inteiramente atribuída aos franceses. É justo fazer notar que, enquanto a Maçonaria Francesa se moveu numa direcção, a Maçonaria Britânica adoptou um tom cada vez mais religioso.

É por esta razão que Andrew Prescott tende a olhar o consenso do final da época vitoriana em torno da Maçonaria como persistindo até à dácada de 1960, talvez com as celebrações do 275.º aniversário da Grande Loja Inglesa, em 1967, marcando o seu último fôlego. Tal como em recente trabalho de Callum Brown se defendeu que, no período final da época vitoriana, se verificou um aprofundamento do sentimento religioso popular, que é considerado como tendo persistido até às mudanças culturais da década de 1960, parece que se pode detectar a mesmoa evolução na Maçonaria. Apesar da sua proclamação de que não exige a crença numa particular religião, desde, pelo menos, a década de 1870 que a Maçonaria Britânica se tormou uma muito efectiva expressão do mais alargado consenso moral, cultural e político em que se alicerçou o Império Britânico. Apesar daqueles que eram não conformistas, fossem anglicanos, judeus ou hindus, havia um forte entendimento do que constituia o comportamento apropriado para um leal súbdito britânico, o qual se alicerçava numa espécie de religiosidade instintiva e discurso moral, que caracterizaram a sociedade britânica até à década de 1960.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

02 julho 2007

Exposição IN DEFINITION

No muito especial espaço da Mãe d'Água das Amoreiras, integrado no Museu da Água, vai ser inaugurada na terça-feira, dia 3 de Julho, pelas 19 horas, a exposição IN DEFINITION, de Manuel do Carmo.

O pintor Manuel do Carmo nasceu em 1958 em Lisboa. Estudou arte e pintura no Ar.Co. O seu estilo, absolutamente contemporâneo, não se inscreve em nenhuma escola.

O seu estilo de realismo fantástico está patente na sua arquitectura imaginária, que nos desvenda a história da Humanidade, seus valores e espiritualismo - algo também muito caro aos maçons.

Nos últimos vinte anos, Manuel do Carmo criou inúmeros trabalhos expostos em colecções privadas e públicas e em alguns museus nacionais e internacionais, encontrando-se ainda representado em diversas galerias e em esculturas de arte urbana de Lisboa.

Sobre ele disse a crítica de arte em New York Nancy di Benedetto: A maior homenagem que se lhe deve fazer é a de que o seu trabalho não se insere em escolas ou movimentos predeterminados, a sua obra artística desafia uma categorização e rompe novos territórios na Arte do século XXI.

A exposição IN DEFINITION encontra-se integrada na no programa da Presidência de Portugal da União Europeia. Será seguida por uma outra, do mesmo autor, THE CORRIDOR OF LIFE IN WATER, fazendo ambas parte do projecto IN DEFINITION, sobre a relação entre o ser humano e a água, buscando na inversão a força evolutiva dessa relação. Uma exposição sucede à outra, completando-se mutuamente e dando conceito global e unificado ao projecto.

A 3 de Julho, o público poderá ver a Mãe d'Água como raramente foi vista: a Mãe d'Água das Amoreiras inverte-se, pois, esvaziando o depósito de 5.500 m3 de água, possibilita-se a visita ao seu interior (possibilidade muito raramente disponibilizada ao público), numa simbólica viagem ao que existe preambular à Criação, debaixo do elemento Água - um Hino à Água.

No centro do reservatório, uma enorme esfera simboliza a semente inicial, da qual tudo nasceu.

No dia 12 de Julho, será apresentada a segunda exposição, a segunda parte do projecto. A Mãe d'Água das Amoreiras regressa ao seu posicionamento normal: água em baixo, no reservatório de novo cheio.

Tudo o que estava em baixo vai agora para cima: o terraço da Mãe d'Água enche-se com as fotografias gigantes até então ocultas na Arca de Água e, neste momento, projectadas para o Céu.

Deste modo se completa a alusão hermética, tornando a exposição visível do Céu, para fruição dos passageiros dos aviões que sobrevoam Lisboa!

Esta segunda parte do projecto permanecerá em exposição até 8 de Setembro.

Uma inauguração a não faltar, duas exposições a não perder, quer pelo valor intrínseco da arte de Manuel Carmo, quer pela simbologia que delas se extrai. Quem está em Lisboa, deve ir. Quem não está, pode aproveitar e viajar para Lisboa, de avião, entre 12 de Julho e 8 de Setembro e apreciar duplamente o trabalho de Manuel do Carmo: do ar, através da janela do avião, à chegada a Lisboa e depois no local!

(Este texto foi elaborado com base em elementos informativos fornecidos pela Directora do Museu da Água)

Rui Bandeira

29 junho 2007

Novas funcionalidades no blogue

A partir de agora o blogue A Partir Pedra disponibiliza duas novas funcionalidades para quem tem interesse nos textos que aqui se publicam.

Uma delas já podia ser utilizada por quem usa as aplicações de navegação na Rede Internet Explorer 7 e Mozilla Firefox 2.0: as actualizações via RSS. Mas talvez alguns dos que já tinham essa possibilidade não a utilizassem, por desconhecimento da sua existência na sua aplicação de navegação na Rede.

Para esses e também para aqueles que usam outras aplicações de navegação sem essa funcionalidade, colocámos um atalho, logo abaixo do Arquivo do Blogue, com um pequeno ícone similar à imagem que ilustra este texto e sob o título ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS. Quem quiser beneficiar da funcionalidade, basta clicar no ícone e abrir-se-á uma página onde, ao alto, está o nome do blogue e, à direita, vários ícones. Basta clicar no ícone que prefira e, após confirmação da subscrição do serviço (inteiramente gratuito, é claro!), passará a dispor, na barra de tarefas do serviço que escolheu, da funcionalidade RSS, que lhe permitirá verificar quais os últimos textos publicados no A Partir Pedra. Quem utilizar o Yahoo poderá clicar no ícone respectivo; quem preferir utilizar o Google, idem; quem preferir utilizar a barra de tarefas da sua aplicação de navegação, desde que esta suporte o serviço, deverá utilizar o pequeno ícone laranja com o texto "View feed XML".

Quem quiser receber na sua caixa de correio electrónico os novos textos que forem publicados, pode, ou utilizar o ícone do sobrescrito em fundo azul na página que se abre quando se clica no ícone ÚLTIMOS TEXTOS VIA RSS ou - mais fácil ainda! - clicar no atalho que se encontra criado logo abaixo do ícone de acesso ao RSS, sob o título NOVOS TEXTOS VIA CORREIO ELECTRÓNICO. O atalho em si é, para que ninguém tenha dúvidas, constituído pelo texto Receba os textos do A PARTIR PEDRA por correio electrónico. Clicando nesse atalho, abrir-se-á uma janela intitulada REQUERIMENTO DE CADASTRO DE EMAIL, onde deverá preencher, na caixa disponibilizada para o efeito, o seu endereço de correio electrónico. Após preencher, na caixa inferior esquerda as letras de controlo que visiona, clica na caixa COMPLETAR SOLICITAÇÃO DE CADASTRO e... está quase. Seguidamente, abra o seu leitor de correio electrónico. Se não estiver já lá uma mensagem com o assunto "Active a sua subscrição por correio electrónico para: A Partir Pedra", clique em enviar-receber para que esta seja recebida. Uma vez aberta esta, basta clicar no atalho constante da mensagem (ou copiar o mesmo e inseri-lo na barra de endereços da sua aplicação de navegação na Rede) e, uma vez acedida a página de destino, está completado o processo: desde que tenha sido publicado um novo texto no A Partir Pedra, diariamente receberá uma mensagem de correio electrónico com o mesmo. Por agora, o serviço está configurado para enviar a mensagem entre as 17 e as 19 horas, hora de Portugal Continental. Eventualmente, se se vier a concluir ser mais adequado ou conforme com os interesses dos subscritores do serviço, pode ser alterado o intervalo horário de envio de mensagens.

Uma outra alteração foi feita no modelo do blogue, mas esta é mais uma brincadeira do que outra coisa: quem for ao fundo do blogue, deparará com um ícone, o qual declara (em inglês) que este blogue foi classificado para todas as audiências e todas as idades. O ícone é verdadeiro e esta é a classificação que foi efectivamente atribuída ao blogue. Mas, aqui para nós, não podia deixar de assim ser: feita a verificação dos textos do blogue, a aplicação atribuiu essa classificação em face da ausência de palavras indicativas de pornografia ou violência. É certo que este blogue efectivamente não divulga pornografia nem violência, mas, manda a verdade que se reconheça que, mesmo que o fizesse, a classificação seria a mesma: é que o sítio de atribuição de classificações busca palavras desses temas... em inglês! No nosso caso, a única palavra que detectou (o que não foi impeditivo da classificação PARA TODOS) foi... "breast" (do atalho para o Breast Cancer Site)!

Rui Bandeira

28 junho 2007

O quarto Venerável Mestre

O Venerável Mestre no período entre Setembro de 1993 e Setembro de 1994 foi Ilídio P. C..

Foi o homem certo na altura certa. A Loja aprendera a trabalhar em condições mais difíceis do que aquelas em que se formara. A Loja aproveitara para perceber as vantagens de fazer rodar os Mestres - particularmente os mais recentes - nos vários ofícios rituais. É verdade que tal ocorrera por necessidade, devido à diminuição de assiduidade nas reuniões havidas às quartas-feiras. Mas ultrapassara a dificuldade e ainda obtivera um ganho com a forma como a ultrapassara. Mas a Loja necessitava de obter uma maior empatia com o seu líder. E Ilídio P. C. era o homem ideal para isso.

Ilídio P. C. teve a seu favor, desde logo, o factor emocional. A Loja aprendera a trabalhar sob uma liderança menos carismática, mas recordava com alguma saudade a ligação emocional e carismática que tivera com José M. M.. E, na verdade, com Ilídio P. C. teve o mais próximo disso que era possível, até num plano simbólico: Ilídio P. C. e José M.M. tinham sido cunhados (um deles, já não me recordo qual, tinha sido casado com a irmã do outro), a sua ligação pessoal mútua era grande (sobrevivera ao fim do casamento que os tornara cunhados) e Ilídio P. C. era também um emotivo, tal como José M. M.. Eram, obviamente diferentes - José M. M. motivava o grupo pela garra, pela combatividade, pelo carisma; Ilídio P. C. arregimentava afectos mansamente, ouvindo todos pacientemente e, num fio de voz, anunciando a decisão que todos instantaneamente sentiam que tinham contribuído para ser tomada e que reconheciam como a melhor, em face das circunstâncias analisadas. Era um carisma sossegado, mas não deixava de ser carisma.

Tinha uma actividade profissional intensa e competitiva e costumava dizer que a Loja era o seu porto de abrigo, o seu local de descontracção, onde podia estar à vontade e com as defesas em baixo, sem preocupações de ser traído (a palavra que utilizava era mais vernácula...), nem apunhalado pelas costas. Dizia-o, parte por ser verdade, mas também parte como meio de incutir na Loja a coesão entre os seus membros. A sua mensagem era: não importa a luta que travemos na vida profana, a forma como aí tenhamos de estar atentos; aqui é um espaço de camaradagem, de confiança, de amizade. Não é preciso gostar de todos, ser amigo de todos; mas não se trai nenhum e por nenhum se é traído. Aqui cada um pode e deve ser ele próprio, mostrar as suas fraquezas e colaborar com as suas forças; ninguém se aproveita das fraquezas de qualquer dos demais, ninguém abusa das forças dos seus irmãos.

E, dando-se a si como exemplo, agindo em consonância com o que dizia, calmamente fez com que todos o seguissem, e a Loja voltou a levantar voo, com as capacidades que tinha, enriquecida com a coesão que passou a fazer parte das suas características genéticas.

Ilídio P. C., que beneficiou também do paulatino regresso de muitos dos que, esgotados, tinham passado por um "ano sabático" de recuperação, no fim do seu mandato transmitiu ao seu sucessor uma Loja mais forte, mais coesa, mais madura, que entendera que a liderança também se exercia de uma forma calma e, com isso, crescera mais um pouco.

Ilídio P. C., aquando da cisão de 1996, sofreu como poucos o desgosto da separação e a forçada e inesperada quebra da coesão por que tanto se esforçara. Coerente, afastou-se. Mas, algum tempo depois, o apelo da Maçonaria foi mais forte. Uma vez maçon, sempre maçon. Acabou por se integrar numa Loja do GOL e aí certamente que o seu estilo brando e calmo exerce tanta influência como exerceu em nós.

Continuamos a revê-lo e a com ele conviver, sempre que possível, seja numa qualquer organização a que ele nos dá o gosto da sua presença, seja no jantar anual do Solstício de Inverno que a Loja organiza. E é sempre com grande alegria que o revemos e com ele convivemos e, sempre, algo de novo aprendemos. Porque o Ilídio P. C. não foi apenas um dos nossos. O Ilídio P. C. contribuiu, e muito, para a nossa identidade e características, mostrando-nos o imenso valor da coesão. Esteja onde estiver, esteja com quem estiver, é e será sempre um dos nossos!

Rui Bandeira

27 junho 2007

Uma História da Maçonaria Britânica (1856-1874)

O descontentamento com a administração da Maçonaria por Lord Zetland culminou em 1855 com a secessão de um grupo de maçons canadianos para formarem a sua própria Grande Loja. Isto foi seguido pouco depois pela formação da Grande Loja dos Maçons Mark Master.

Estes eventos fizeram parte de uma breve, mas profunda, crise política e social precipitada pele Guerra da Crimeia. Os ataques a Lord Zetland foram encabeçados por um jornal maçónico chamado Masonic Observer, escrito por um grupo de jovens e radicais maçons, entre os quais Canon George Portal e o Conde de Carnavon. Este defendia um maior papel para as províncias na organização maçónica. Estas reivindicações ligavam-se com as reformas da organização provincial, tais como a introdução dos Anuários Provinciais, reuniões provinciais mais frequentes e um papel mais activo para os Grão-Mestres Provinciais. Tudo isto pode ser visto como a exigência de um maior acesso à autoridade política e social por parte dos líderes sociais das novas cidades industriais. Isto foi impressivamente expresso em Birmingham, onde um certo número de ricos proprietários de fábricas e membros da elite social providenciaram pela criação de uma loja com o nome de Loja do Progresso, que iria reunir no Templo Maçónico, evitar o álcool e os ágapes e apoiar as virtudes da caridade, temperança e respeitabilidade. Idênticas iniciativas podem ser encontradas em muitas outras cidades industriais. Para referir de novo o exemplo de Bradford, a Loja da Esperança foi dominada por um grupo de ricos empresários, que entusiasticamente debatiam a melhor forma de atingir a Virtude Maçónica.

É nesta altura que a Maçonaria se torna uma avassaladora instituição da classe média. Convém notar que este parece ser um fenómeno intrinsecamente inglês. Na Escócia e na Irlanda, a presença significativa de elementos das classes trabalhadoras na maçonaria permanece até aos dias de hoje. Em Inglaterra, a importância da Maçonaria para a coesão das elites sociais nas cidades de província expressou-se na construção de Templos Maçónicos como parte integrante dos novos centros das cidades - em cidades como Manchester e Sheffield, localizados mesmo ao lado dos novos edifícios das Câmaras Municipais e outros edifícios públicos . Um dos muitos pontos de investigação futura acerca deste período fulcral da História da Maçonaria é verificar que efeito tiveram estas mudanças no papel da Maçonaria no Império Britânico.

Algumas das pressões junto da maçonaria Imperial eram diferentes e distintas - por exemplo, os Distritos indianos eram relutantes quanto à aceitação de não-cristãos nas lojas maçónicas e só vieram a admiti-los após determinações explícitas nesse sentido por parte de Londres. A relutância dos maçons coloniais da Índia em partilhar as suas lojas com os indianos propiciou um particular entusiasmo pelos trabalhosos de George Oliver e pelo desenvolvimento dos Altos Graus Crísticos - os indianos podiam integrar-se nas Lojas, mas só cristãos teriam acesso completo às glórias da Maçonaria, proclamava-se nos púlpitos das igrejas em Bombaim e por toda a Índia.


(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira

26 junho 2007

Aniversário da Grande Loja

Decorreu este fim de semana a Sessão de Grande Loja do Solsticio de Verão. Esta sessão é coincidente com o Aniversário da Grande Loja, que este ano festejou o seu 16º.

Optou o M.R.Grao Mestre por dar maior enfase a questões de trabalho que a questões ludicas, indiciando assim o caminho que pretende ver percorrido.

Aproveitou a oportunidade para lançar a nova edição do ritual de aprendiz do R.E.A.A. que foi revisto, corrigido e melhorado. Ficou a informaçao que brevemente os demais ritos praticados terão também os seus rituais revistos e editados.

Seguiu-se jantar branco em ambiente muito agradavel.

Evidentemente que a organização de toda esta logistica teve o cunho das nossas queridas amigas Milu e Sandra, o que agradecemos.

Jose Ruah

Uma História da Maçonaria Britânica (1834-1856)

A crescente clivagem social entre a maçonaria e outras formas de organização fraternal foi impressivamente expressa em 1834, quando elementos de uma organização fraternal foram presos e julgados ao abrigo da Lei das Sociedades Proibidas, um evento que foi aproveitado por oficiais da Grande Loja para lembrar às lojas maçónicas que a excepção que isentava a Maçonaria dessa Lei continuava em vigor. No entanto, as mudanças sociais começavam a colocar grandes desafios à Grande Loja.

Para o Duque de Sussex, a capacidade da Maçonaria de reformar a sociedade expressava-se melhor na sua capacidade de transcendência dos conceitos cristãos. Para outros, como Robert Crucefix, a Maçonaria precisava de aumentar a sua acção social. Crucefix elaborou um projecto de criação de um lar para os maçons idosos e pobres, a que Sussex se opôs.

A publicação da Nova Lei dos Pobres em 1834 deu um novo impulso ao projecto de Crucefix: havia agora a possibilidade de os maçons poderem obter instalações para o Lar. Crucefix lançou a Freemasons Quarterly Review para ajudar a promover o seu projecto do asilo maçónico. A Freemasosn Quarterly Review rapidamente se tornou um veículo de divulgação de um novo tipo de Maçonaria, que se pode considerar ligado a um maior movimento de busca de reformas ocorrido naquela época. Crucefix defendia uma Maçonaria mais Evangélica e mais comprometida com as reformas sociais. Acima de tudo, defendia que a Maçonaria devia ser mais explicitamente cristã. Quanto a este aspecto, o maior aliado de Crucefix foi o George Oliver, um clérigo, que desenvolveu uma teologia cristã da Maçonaria, que exerceu enorme influência até ao final do século XIX. Crucefix concebia a Beneficência Maçónica em ligação a uma mais ampla promoção da auto-ajuda e segurança. Para Crucefix, a maçonaria destinava-se à respeitável classe média. A Freemasons Quarterly Review publicava angustiantes relatos acerca de maçons pobres, geralmente membros de lojas na Irlanda ou na Escócia, que se pensava usarem as lojas maçónicas como meio para tentarem obter trabalho - o tipo de prática censurável a que Crucefix pretendia por cobro.

O êxito de Crucefix na implantação da sua reforma da Maçonaria de classe média foi relativo - enquanto que a sua influência no ressurgimento de lojas dirigidas pelos seus seguidores era entusiasticamente exaltado nas páginas da Freemasons Quarterly Review, em cidades industriais como Bradford ou Sheffield o seu impacto foi mais limitado. Não vale a pena detalhar a titânica disputa entre Crucefix e o Duque de Sussex. Mas interessa mencionar que as alegações de que os debates em Grande Loja eram truncadamente publicados na Freemasons Quarterly Review levaram ao pormenorizado registo dos debates nas actas da Grande Loja...

O ponto importante a frisar é que a evidente clivagem que ocorreu em vida de Crucefix continuou após a sua morte em 1850, tendo o Grão-Mestre Lord Zetland sido sujeito a ferozes ataques à sua displicente administração da Obediência nas páginas do Freemasosn Magazine, publicação sucessora da Freemasons Quarterly Review. Crucefix traçou linhas divisórias no interior da Maçonaria cuja influência ainda hoje se faz sentir.

(Prossegue-se na divulgação do trabalho do Professor Andrew Prescott, que constituiu a sua lição de despedida do Center for Research in Masonry da Universidade de Sheffield)

Rui Bandeira