28 outubro 2008

A decisão


Duas dezenas de homens numa sala fechada. Ambiente de concentração. Decisões a tomar. O projeto, já anteriormente decidido, já estava em andamento. Mas havia que acertar as regras do seu funcionamento. Era altura de decidir sobre essas regras. O que tinha sido proposto já todos sabiam. Noventa por cento concordava com tudo ou, pelo menos, não tinha objeções essenciais em relação ao projeto que se ia discutir. Dez por cento concordava com noventa por cento do projeto. Mas esses dez por cento tinha discordâncias quanto aos restantes dez por cento da proposta...

Parecia que não seria difícil resolver. A esmagadora maioria concordava e mesmo os que tinham discordâncias era em relação a uma ínfima parte do que se discutia.

Mas aqueles homens eram todos homens que pensavam pela sua cabeça. Privilegiavam a razão. Sabiam que nem sempre ser o maior número implica ter-se razão. Apreciavam o debate, a discussão, o sopesar de argumentos.

O debate começou. Os argumentos foram apresentados. Depois reforçados. Seguidamente esgrimidos. Um que outro, aqui e ali, mostrava entusiasmo na defesa do seu pensamento. Entusiasmo para um lado, entusiasmo para o outro, aquecia o debate entre 90 % e 10 % em relação a 10 % de discordância no meio de 90 % de concordância. Como se afinal metade pensasse branco e a outra metade apontasse negro.

Quando tão poucos discordam de tantos em relação a tão pouco, a discordância pode confundir-se com teimosia, quiçá obstinação. Quando tantos veem tão poucos a discordar em tão pouco, pode surgir a tentação de usar a força do número, a imposição da maioria. Afinal, democracia também é isso, o seguir da opção da maioria...

Mas um dos discordantes fundamentava que a sua discordância era de princípio, que até concordava com a solução, não admitia era que fosse estipulado que era obrigatória. Se assim fosse, sentiria violada a sua liberdade. Os noventa por cento consideravam que era um preciosismo, um excesso de sensibilidade. Mas pensaram de novo. Se havia quem sentisse que algo intoleravelmente feria a sua liberdade, resolver o problema era o mínimo que tinham a fazer. E, conversa daqui, puxa dacolá, tesourada à esquerda, ponto e linha à direita, lá se achou maneira de deixar claro que a regra era fazer assim, mas quem em cada momento em concreto se opusesse podia exigir assado. Ficou a regra e ficou salvaguardada a liberdade de cada um.

Depois, outro dos discordantes mostrava o seu desconforto em relação a outro ponto, à forma como se apresentava algo. Parecia a muitos um excesso de zelo, um receio demasiado, uma prudência excessiva. Mas, bem vistas as coisas, para quê arrastar um para algo que lhe parecia uma imprudência? A quase todos parecia que era prudência excessiva. Mas para quê impor ao prudente o desconforto do que ele considerava imprudência? De novo, todos pensaram melhor. E concluíram que, se o prudente não devia travar todos os demais, também todos os demais deviam atender ao temor deste. Ficou assim decidido que se avançaria de determinada maneira, mas que, especificamente em relação a quem achasse melhor que se fizesse de mais cautelosa forma, assim se procederia. E assim nem ninguém era travado, nem ninguém seguia a velocidade que considerava louca...

Já só faltava um detalhe, quase que só uma palavra. Mas aí uns achavam que sim e outros que não. Aos que achavam que sim, parecia-lhes que avançar sem algo não valia a pena. Os que achavam que não, esses entendiam que o algo era mesmo para não avançar. Aqui parecia não haver consenso possível, saída airosa, exceção exequível. Era sim ou não. Noventa por cento discordava de dez por cento quanto a meio por cento. Mas esse meio por cento constituía uma discordância insanável.

O consenso busca-se, mas não é um princípio sagrado. Sempre que é possível, deve obter-se consenso, mas, quando não é, decide a maioria. Esta a ideia que bailava na cabeça de todos. A votação estava iminente. A discussão já cansava. Eis então que voz respeitada, até então silenciosa, lembra que as mudanças não são aceites por todos ao mesmo tempo, que os novos hábitos são seguidos com maior dificuldade por uns do que por outros. E sugere que se dê tempo ao tempo. Para que quem receia tenha tempo e possibilidade de se habituar. E quiçá dissipar os seus receios. E de novo todos pensam melhor. E concluem que não há mal nenhum em só tomar a definitiva decisão, em relação ao último ponto em que não havia consenso, tempos mais tarde. Que entretanto se praticaria uma versão limitada e experimental do que muitos queriam e alguns rejeitavam, para se ver os resultados. E depois, mais tarde, se veria se as objeções permaneciam.

E assim se decidiu. E todos os homens saíram da sala fechada. E foram recuperar do esforço de tanto debater e discutir tomando em conjunto uma refeição. E, assim fazendo, de mil coisas conversaram. Menos do que tinham debatido. Isso já não era preciso. E já não havia noventa por cento nem dez por cento nem meio por cento. Eram todos. Como sempre foram. Como há muito tinham aprendido a ser, em mútuo e inabalável respeito mútuo. Porque um é tão importante como todos e todos têm a importância que cada um ao conjunto dá.

Chamam a estes homens maçons. Os que estão de fora temem a sua união. Eles constroem-na, acarinham-na, fabricam-na, dia a dia, momento a momento. Também quando discordam. Sobretudo quando discordam!

Rui Bandeira

27 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XV


BASE XV

DO HÍFEN EM COMPOSTOS, LOCUÇÕES E ENCADEAMENTOS VOCABULARES

1º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz, arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, és-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô, turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense, sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.

Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.

2º) Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo; Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.

Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen: América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.

3º) Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inâcio, bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).

4º) Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf malfalante), bem-mandado (cf. malmandado). bem-nascido (cf. malnascido) , bem-soante (cf. malsoante), bem-visto (cf. malvisto).

Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.

5º) Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico, além-mar, além-fronteiras; aquém-fiar, aquém-Pireneus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia, sem-número, sem-vergonha.

6º) Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:

a) Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;

b) Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;

c) Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;

d) Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;

e) Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de, debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;

f) Conjuncionais: afim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.

7º) Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando, não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique, e bem assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.).


O uso do hífen é matéria tão complexa que ocupa três Bases do Acordo Ortográfico - estas e as duas seguintes. As regras agora fixadas, sendo complexas, constituem, no entanto, uma razoável simplificação em relação ao antecedente. Francisco Álvaro Gomes, na sua obra O Acordo Ortográfico, Edições Flumen, Porto Editora, 2008, elucida que a Base XXIX do Acordo Ortográfico de 1945 fixou, nada mais, nada menos, do que 99 critérios para o uso do hífen! Leram bem: 99!

Esta Base não prevê mudanças em relação ao antecedente. Iremos ver que não é assim nas Bases seguintes.

Rui Bandeira

24 outubro 2008

As nove respostas do sábio

Recebi há tempos uma mensagem de correio eletrónico com uma apresentação dedicada ao filósofo grego Tales de Mileto e à sua sabedoria. Não sei se a situação descrita existiu ou se se trata de uma situação imaginada e que a sabedoria atribuída a Tales de Mileto é afinal devida a desconhecido autor da história... Seja como for, seja real ou putativa a sabedoria atribuída a Tales, não deixa de ser sabedoria. E bem avisado anda aquele que lhe der atenção! Como de costume, o texto abaixo publicado foi editado por mim, tendo-lhe sido introduzidas alterações que tive por adequadas.

Tales de Mileto foi um filósofo grego, fundador da Escola Jónica, considerado como um dos 7 sábios da Grécia Antiga.

Matemático, astrónomo e um grande pensador, Tales de Mileto viajou para o Egito, onde realizou estudos e entrou em contato com os mistérios da religião egípcia. Ali realizou uma façanha incrível, para a época: o seu talento matemático era tão pouco comum, que conseguiu estabelecer com precisão a altura das pirâmides, apenas medindo a sombra que projetavam. Terá sido o primeiro a dar una explicação lógica,para a ocorrência dos eclipses. Aliás, é-lhe atribuída a previsão de um eclipse do Sol, no ano de 585 A.C.. Foi o primeiro a sustentar que a Lua brilhava pelo reflexo do Sol e determinou o número exato de dias de um ano. Destacou-se principalmente pelos seus trabalhos em filosofia e matemática. Nesta última ciência, são-lhe atribuídas as primeiras demonstrações de teoremas geométricos, mediante o raciocínio lógico. Foi por estes trabalhos que foi considerado o pai da Geometria.

Para provar que o seu conhecimento tinha utilidade prática, afirmou que num determinado ano, a colheita de azeitonas seria excecional e arrendou a maioria das refinarias de azeite de Mileto. Com esta manobra ganhou uma boa quantia, somente com o propósito de fazer calar os que diziam que a filosofia era um capricho dos ociosos.

Eis então a história.

Um sofista aproximou-se de Tales de Mileto e tentou confundi-lo com as perguntas mais difíceis de que foi capaz. Mas o sábio de Mileto estava a altura da prova, porque respondeu a todas as perguntas sem a menor vacilação, e com a maior exatidão.

1 – O que é mais antigo?

R.– DEUS, porque sempre existiu.

2 – O que é mais belo?

R.– O UNIVERSO, porque é a obra de Deus.

3 – Qual é a maior de todas as coisas?

R.– O ESPAÇO, porque contém tudo do Criador.

4 – O que é mais constante?

R.– A ESPERANÇA, porque permanece no homem, mesmo depois de ter perdido tudo.

5 – Qual é a melhor de todas as coisas?

R.– A VIRTUDE, porque sem ela não existiria nada de bom.

6 – Qual é a coisa mais rápida de todas?

R.– O PENSAMENTO, porque em menos de um minuto, nos permite voar até aos confins do Universo.

7 – Qual é a mais forte de todas as coisas?

R.– A NECESSIDADE, porque é com ela que o homem enfrenta todos os perigos da vida.

8 – O que é o mais fácil de tudo?

R.– Dar CONSELHOS.

Quando chegou a nona pergunta, este sábio deu uma resposta quiçá não entendida por seu mundano interlocutor. A pergunta foi esta:

9 – O que é o mais difícil ?

E o Sábio de Mileto replicou:

Conhecer-se a si mesmo.

Qualquer destas resposta é tão válida e tão sábia hoje como no tempo de Tales de Mileto. E, mesmo sendo a tarefa mais difícil, bem avisado anda aquele que procura, antes e acima de tudo, conhecer-se a si mesmo...

Rui Bandeira

23 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIV


BASE XIV

DO TREMA


O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas. Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc. Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião; abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta, linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.

Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.

Em Portugal, já há muitos anos que o trema tinha sido suprimido. Só agora, com o Acordo Ortográfico recentemente entrado em vigor, idêntica supressão ocorre no Brasil.

Tal como alguns intelectuais em Portugal se pronunciaram contra o Acordo Ortográfico, defendendo a manutenção da prioridade à etimologia sobre a fonética, também no Brasil alguns ilustres manifestaram discordância. Um dos polos desta, no Brasil foi precisamente a supressão do trema. João Ubaldo Ribeiro, grande escritor, apreciado em ambos os lados do Atlântico, chegou a clamar: Devolvam-me os meus tremas!

Em Portugal, os opositores do Acordo, sobretudo referindo a supressão das consoantes não pronunciadas, clamaram que este era uma cedência à norma de escrita brasileira. Porventura no Brasil alguns entenderão que a supressão do trema é uma cedência brasileira à norma de escrita lusa. Nem sequer discuto se, em qualquer caso, há ou não cedências. Mesmo que haja, não vejo qual o problema. Um Acordo é isso mesmo: cedências mútuas em relação às posições iniciais de forma a que se atinja uma posição conjunta.

Tal como em Portugal rapidamente se perceberá que as consoantes não pronunciadas não fazem falta nenhuma, também no Brasil não demorará muito a perder-se a nostalgia do trema, que um dia será lembrado como um exotismo semelhante ao ph que em tempos estava na pharmácia... E o trema vai passar a ser apenas coisa de alemão!

Rui Bandeira

22 outubro 2008

Hoje a música é...


Ele passa dias e dias que parece que não aparece.

Mas - como ele diz! - nunca anda longe.

Só escreve quando lhe apetece e está livre de bloqueios criativos.

Agora iniciou um novo projeto profissional e anda (ainda) mais ocupado.

Ultimamente deu-lhe para nos dar música - na Loja Mestre Affonso Domingues e aqui no blogue.

Ele é o José Ruah.

E hoje, 22 de Outubro, é o seu aniversário!

Portanto, hoje a música é outra!

Vá lá, cantem comigo: "Parabéns a você...".

Rui Bandeira

21 outubro 2008

A Festa dos Herois



Disse o Zé Ruah há 2 posts atrás que uma imagem vale mais do que mil palavras.

Sábias palavras de alguém, que ele lembrou e eu aproveito agora como balanço para Vos trazer alguns dos nossos herois, como dizia o outro, dos verdadeiros, dos bons...

Na 6ª feira passada o Presidente da República veio (escrevo veio naturalmente porque estou cá!) a Odivelas prestar homenagem à seleção nacional de parolímpicos que representou Portugal em Pequim, brilhantemente, sem terem sono pela manhã, nem complexos, nem nervosinho miudo.

E trouxeram 7 medalhas, sete (bonito número) !


Não são as medalhas que são importantes ?
Claro que são.
É ver o orgulho transbordante com que as mostram e as acariciam.
Não há palavras...

Mas é um grupo fabuloso ! A alegria é contagiante. Ninguém consegue ficar indiferente. Alguns já não se encontravam há algum tempo e a alegria natural juntou-se à emoção do reencontro.

Foi uma tarde linda, das que vale mesmo a pena viver e ver.

Tenho um filme feito que Vos trarei para aqui logo que esteja editado. Por agora ficam algumas fotos do encontro.














































Até breve com o filme !
JPSetúbal

20 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base XIII


BASE XIII

DA SUPRESSÃO DOS ACENTOS EM PALAVRAS DERIVADAS

1º) Nos advérbios em -mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil), ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico), espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico).

2º) Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam vogal tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha (de avó), bebezito (de bebé), cafezada (de café), chepeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego).

As regras decorrentes desta Base já se encontram em vigor em Portugal desde 1973 e no Brasil desde 1971. Aqueles que já escreviam na altura recordar-se-ão, certamente, como muitos diziam que nunca se haveriam de habituar à alteração de regras, que iam continuar a escrever como se tinham habituado a escrever e não se iam preocupar com essas "modernices", etc.. Pouco mais de trinta anos depois, ninguém já acentua as palavras em causa nesta Base... Nem os recalcitrantes dessa época! Talvez seja um indicador do que vai suceder com o Acordo Ortográfico de 1990...

As pessoas habituam-se a determinadas regras e temem, rejeitam, desagrada-lhes, mudanças. Escrever palavras diferentemente do que sempre se escreveu obriga a uma atenção, a um esforço, que muitos bem dispensariam. Ler palavras escritas diferentemente do que estávamos habituados a ler também nos causa inicialmente um desconforto, uma sensação de que algo não está bem. Mas, como escreveu Fernando Pessoa, quando criou uma frase publicitária para a Coca-Cola, primeiro estranha-se, depois entranha-se.

Tal como em Portugal com a transição do Escudo para o Euro e no Brasil com a transição entre as várias moedas ali sucessivamente usadas (Cruzeiro, Cruzado, Real), daqui a algum tempo não se estranhará as mudanças do Acordo Ortográfico de 1990, que recentemente entrou em vigor. Teremos o nosso período de estranheza e... depois as mudanças entranhar-se-ão!

Rui Bandeira