11 outubro 2008

Se eu soubesse ...



Se algum dia eu soubesse que nunca mais te veria,
Dar-te-ia um abraço mais forte e pediria ao G.'. A.'. D.'. U.'.
Para o guardar para a ressurreição.

Se eu soubesse que seria a última vez que te via
Saindo para sempre do templo, do Ágape,
Dar-te-ia um fortíssimo T.'. F.'. A.'.
E chamar-te-ia para te dar mais um.

Se eu soubesse que seria a última vez que ouvia a tua voz
Na Palavra a Bem da Ordem,
eu gravaria cada movimento e cada palavra,
Para revê-los depois todos os dias.

Se eu soubesse que seria a última vez
Que eu poderia parar mais um ou dois minutos
Para te dizer "meu querido Ir .'. como gosto de ti"
Eu diria, ao invés de deixar que tu presumisses.

Se eu soubesse que hoje seria o último dia
A compartilhar contigo,
tenho certeza de que o sentiria muito mais intensamente
em vez de deixá-lo simplesmente passar.

Sempre acreditamos que haverá o amanhã para corrigir
um descuido e para ter uma segunda chance de acertar.

Será que haverá, sempre, um outro dia
Para expormos os nossos sentimentos?

Haverá sempre uma chance para dizer
"Meu Querido Ir.'., posso fazer alguma coisa por ti"?

O amanhã não é garantido para ninguém,
Sejam para jovens ou mais velhos,
e hoje pode ser a última oportunidade
De abraçarmos aqueles que amamos.

Então, se estamos à espera do amanhã,
Por que não agirmos hoje?

Assim, se o amanhã nunca chegar,
não teremos o arrependimento
De não termos aproveitado
um momento para um sorriso,
para um abraço, uma gentileza,
porque estávamos muito ‘ocupados'
para dar a um Ir.'. o que poderia ser o seu último desejo.

Abracemos hoje aqueles IIr.'.
Que amamos, falemos mais de perto,
se peciso for até nos seus ouvidos,
dizendo-lhes o quanto nos são caros
e que sempre os amaremos.

Encontremos tempo para dizer:

"Desculpa-me"
"Perdoa-me"
"Obrigado"
"Eu perdou-te"
"Eu adoro-te"

Meu Querido Ir.'.
Como tu és importante pra mim!

"Como é bom ter-te como Ir.'. e Amigo"

Adaptado de (autor desconhecido)

10 outubro 2008

O estropiado

Quem costuma visitar este blogue já se apercebeu que, em muitas sextas-feiras, aqui publico pequenas histórias que são pretextos ou pontos de partida para alguma reflexão. São historietas que seleciono de entre as muitas coisas que recebo por correio eletrónico, normalmente de autoria desconhecida e que eu reescrevo à minha maneira. A de hoje é um pouco diferente. Porventura a primeira reação que provocará em quem a ler será de alguma perturbação. Mas convido à leitura da história e depois se verá que caminhos de reflexão ela nos abre.

Esta é a história de um soldado que, finalmente voltava para casa, depois de ter lutado na guerra. Os pais, em sua casa, receberam dele um telefonema:


- Mãe, pai, vou voltar para casa, mas antes quero pedir-lhes um favor. Tenho um amigo que eu gostaria de levar comigo.


- Claro. Nós adoraríamos conhecê-lo também! - responderam os pais.


O filho, porém, continuou:


- Há algo que precisam de saber antes. O meu amigo foi terrivelmente ferido em combate. Pisou uma mina e perdeu um braço e uma perna. O pior é que ele não tem nenhum outro sítio para onde ir.


- Credo!!! Que tragédia, filho! Talvez possamos ajudá-lo a encontrar algum sítio para viver!


- Não, mãe, eu quero que ele possa viver connosco na nossa casa!


- Filho, não vês o que nos estás a pedir? Não tens a noção da gravidade do problema? - interrompeu o pai.


A mãe, concordando com o marido, reforçou:


- Alguém com tantas dificuldades seria um fardo para nós. Temos as nossas próprias vidas e não queremos que uma situação dessas interfira no nosso modo de viver. Acho que deves voltar para casa e esquecer esse rapaz. Ele encontrará uma maneira de viver por si mesmo!


Nesse momento, o filho desligou abruptamente o telefone e nunca mais os pais ouviram uma palavra dele.


Alguns dias depois, os pais receberam um telefonema da polícia, informando que o filho tinha morrido de uma queda de um prédio. A polícia acreditava em suicídio.

Os pais, angustiados, deslocaram-se à cidade onde o filho se encontrava e foram conduzidos à morgue para identificar o corpo. Reconheceram o seu filho e, para o seu terror e espanto, descobriram algo que desconheciam:

“O FILHO DELES TINHA APENAS UM BRAÇO E UMA PERNA!”


Este é o tipo de situação que não é fácil de analisar nem evidente tirar lição. Os pais amavam o seu filho. Não tinham qualquer ligação com o desconhecido amigo que ele mencionava. Recebê-lo-iam de bom grado... se ele fosse "normal". Mas a perspetiva de ter indefinidamente a viver com eles um estropiado não lhes era agradável. Se fosse o filho quem estivesse nessa situação, não hesitariam em acolhê-lo e prestar-lhe todo o auxílio e assistência que necessitasse e de que fossem capazes. Mas não estavam dispostos a perturbar a sua vida por causa de um estranho e da sua infelicidade. Ele haveria de resolver o problema. Ou o Estado... Ou alguém...


Podemos, em bom rigor, criticar a reação dos pais? Podemos atirar a primeira pedra? Porventura não teríamos nós idêntica reação? Não damos nós absoluta prioridade à nossa família e só na medida em que esta não seja afetada estamos dispostos a auxiliar outrem?


Por seu turno, o filho, estropiado, temendo ser um fardo insuportável para os seus pais, quis testar a reação que teriam perante a perspetiva de verem a sua vida altamente perturbada com a presença de alguém tão incapacitado e a necessidade de o auxiliar. E a confirmação da sua suspeita de que o fardo que ele iria constituir seria demasiado penoso para os seus pais levou-o ao desespero.


Agiram mal os pais? Mas não agiríamos nós também assim? Não diferenciaríamos o nosso filho de um estranho? Não estaríamos nós dispostos a fazer sacrifícios pelo nosso filho que não faríamos por um estranho?


Agiu mal o filho? Mas não agiu ele por amor a seus pais, querendo certificar-se de que não seria um insustentável sacrifício para eles lidar com um filho estropiado?


Em bom rigor, há que reconhecê-lo, quer uns, quer o outro agiram de forma natural. No entanto, o resultado foi trágico!


A lição a extrair - digo eu! - é que não basta agir de forma natural, socialmente aceite. Pessoas de bem devem elevar os padrões de exigência perante as suas próprias escolhas e ações. Porque as escolhas naturais, as que a maior parte das pessoas faria, por vezes não chegam. Se pretendemos ter um elevado sentido ético, temos de entender que a equivalente responsabilidade pelas nossas escolhas também aumenta. Não basta ser normal. Devemos procurar ser melhores do que o normal. Porque só assim podemos tornar a normalidade melhor!


Os pais agiram de uma forma que achamos normal. Mas não agiram bem. É natural que o seu amor pelo filho se sobreponha à indiferença perante um estranho. Mas... deveriam ter indiferença perante um estranho? Em especial, AQUELE putativo estranho? É claro que não podemos, ninguém pode, resolver todos os problemas de todos em todo o mundo! É claro que nos toca mais quem nos está mais próximo e nos preocupamos menos com quem desconhecemos. Mas o facto de ser manifestamente importante para o filho acolher o putativo amigo estropiado deveria alertá-los, sacudir-lhes a indiferença, predispô-los a analisar a melhor forma de ajudar quem era importante para o filho, sem prejudicar a sua família. Na história, era o filho o estropiado. Mas podia ser um amigo que tivesse assim ficado ao salvar o filho... E então haveria uma dívida de gratidão a a pagar...


O erro dos pais foi não prestar atenção ao filho, não dar importância ao que o filho sentia e pretendia, sem se questionarem sobre a razão que estaria subjacente a essa pretensão. O filho não era louco. Alguma razão deveria existir para que ele pretendesse impor um tão pesado fardo à sua família. Recusar liminarmente a possibilidade, sem sequer questionar o porquê, a motivação, foi a receita para o desastre. Os pais amavam o filho, mas não o respeitaram o suficiente para analisar COM ELE os seus motivos e o seu propósito. Se o tivessem feito, se tivessem tido o respeito suficiente pela individualidade do filho, não teriam rejeitado liminarmente a sua pretensão, mostrar-se-iam dispostos a receber, ainda que porventura numa base provisória, o putativo estropiado que tão importante era para o filho e procurariam descortinar as razões que estavam por trás do seu pedido. Se assim tivessem procedido, teriam podido VER essas razões e teriam evitado a tragédia!


Eis portanto uma importante lição que podemos tirar desta história: não basta amar os nossos filhos: temos que também os RESPEITAR. Respeitar o suficiente para não rejeitarmos liminarmente as suas escolhas, as suas pretensões, sem sequer curar de saber os motivos que subjazem a essas escolhas, a esses pedidos. Ter presente esta lição e efetivamente praticá-la pode porventura evitar uma tragédia ou simples consequências desagradáveis, em relação aos que mais amamos.


E uma segunda lição, mais genérica, será: não basta ser bom; há que ser melhor!


A Maçonaria alerta-nos constantemente para isso!


Rui Bandeira

09 outubro 2008

Ser maçon é...

...conciliar o egoísmo com o altruísmo...

Conceitos aparentemente opostos e impossíveis de harmonicamente se justaporem e operarem em simultâneo! No entanto, a natural e intuitiva conciliação entre estes dois opostos integra a essência da condição de maçon.

O maçon deve prosseguir o egoísmo de se aperfeiçoar a si mesmo, como objetivo principal. Não aperfeiçoar os outros, a Sociedade, a Loja ou seus Irmãos. Aperfeiçoar-se a si mesmo: este o verdadeiro e essencial objetivo do maçon. Nesse processo, o maçon descobre que uma ferramenta de inestimável valor é a sua interação com seus Irmãos, com eles e através deles aprendendo, intuindo, tateando, tenteando, reconhecendo e percorrendo o caminho do seu aperfeiçoamento pessoal, aqui largo e prazenteiro, ali rude e pedregoso, acolá estreitamente demarcado, mais adiante dificilmente reconhecível em suas fronteiras. E, egoística mas indispensavelmente, aproveita tudo o que pode - tudo o que deve! - do que seus Irmãos, a sua Loja, a sua Obediência, lhe proporcionam e que se revele útil para o pretendido aperfeiçoamento: uma ideia aqui, um pensamento acolá, uma lição deste, um conselho daquele, desejavelmente o exemplo de muitos, se não todos. Tudo, desde o mais brilhante artefato, ao simples resquício de uma sombra de um leve conhecimento, deve ser avaramente guardado, diligentemente aproveitado, oportunamente utilizado na construção a que cada um incessantemente se deve dedicar: a construção dele próprio, do seu caráter, do espírito livre e puro e capaz de evoluir, de pairar, de avançar para desconhecidos limites até para além do Ilimitado. E assim cada dia vai um pouco mais longe, é um pouco melhor, é, afinal, maçon!

Mas o maçon depressa aprende que, tal como os seus Irmãos são inestimável ferramenta para sua melhoria, assim também ele próprio é, por sua vez, não desprezável ferramenta para a demanda efetuada por cada um de seus Irmãos. Logo intui que, ao tirar, também põe, e é tirando e melhorando que cada vez mais põe para que outros também tirem, e por sua vez melhorem, e reponham, e lhe permitam de novo algo mais retirar, num infindável e frutuoso círculo virtuoso.

Nenhum maçon é maçon sozinho. Só se é plenamente maçon no confronto com seus Irmãos, dando e recebendo e todos assim aproveitando. O todo é, cada vez e cada vez mais, sempre superior à soma das partes. Esta inata cooperação, em que cada um gostosamente contribui para o Outro é condição indispensável para que cada um retire o seu salário da Arca da Loja - e cada vez retire mais e melhor salário.

Portanto, o maçon é altruísta como meio de prosseguir o seu egoísta objetivo de aperfeiçoamento e coloca o resultado em cada momento egoisticamente obtido ao altruísta dispor dos demais.

... viver a vida plenamente e não temer a morte...

Na demanda do Graal de cada maçon, rapidamente cada um se apercebe de que é bem mais do que mera acumulação de ossos e sangue e carne e vísceras, matéria fremente e animada, que um dia se gastará e quedará inanimada. Logo questiona a origem e a razão da existência da Vida e do Universo. E busca o seu significado. E encontra suas respostas, tendo presente e reconhecida a noção do Grande Arquiteto do Universo - do SEU Grande Arquiteto do Universo, seja o que reconhece da religião que pratica, seja o que entrevê através da sua própria Razão, em pessoal teologia, tão válida como qualquer religião instituída. E assim percebe o seu lugar na Vida e no Universo - e alcança a Paz. Paz consigo mesmo, Paz com o sentido da Vida, Paz com a perpétua evolução.

Cada maçon aprende - desejavelmente aprende, mais cedo ou mais tarde! - que a vida física, material, é apenas parte da Vida com V maiúsculo. Que o invólucro que é o nosso corpo, com suas dores e cansaços e doenças e envelhecimento e inexorável fim, é apenas isso, a vasilha que transporta e contém e protege o verdadeiramente valioso conteúdo que cada um de nós realmente TEM (que digo eu? É!), tantas vezes sem o saber, sem sequer o intuir. Conteúdo a que uns chamam alma, outros espírito, outros ainda outra coisa qualquer e que eu gosto de designar pela Centelha Divina que existe em cada um de nós, que é a razão de ser de cada um de nós e que sobrevive para além da materialidade de cada um de nós.

Ao compreender isto, o maçon entende que a vida física é parte do conceito mais abrangente da Vida (com V maiúsculo), como fator indispensável à evolução dessa Vida, por isso que existe, pois, se o não fosse, não teria razão para existir - seja-se criacionista, seja-se evolucionista, é território aprazivelmente neutro e comum a conceção de que o que não tem razão para existir, papel para desempenhar...não existe ou se, por erro ou acaso, existiu, extingue-se... Mas, sendo a vida física apenas parte da Vida (com V maiúsculo), é apenas um episódio, certamente importante, mas só um episódio. E, ao compreender isto, pode viver plenamente e em Paz esse episódio, aquilo a que chamamos a nossa vida, o tempo que nos é concedido entre o nascimento e a morte.

E, assim compreendendo, está em condições de não temer a morte física, que pode entender como mais uma Iniciação, uma Passagem, uma Elevação a um novo estádio da Vida (com V maiúsculo).

Uma obra do género designado por ficção científica, cujo título há muito esqueci e cujo autor também há muito olvidei, postulava que existia na vida da Humanidade um terrível segredo. Segredo que, algum dia, alguém descobriu e que era que, afinal, toda a Humanidade via o filme ao contrário: aquilo que temos por nascimento é afinal a morte, a degradação para o plano físico de algo mais puro e perfeito, e que aquilo que se tinha por morte é então o verdadeiro nascimento para o próximo passo da evolução da nossa Essência. Essa esquecida obra de esquecido autor será porventura mera e imaginosa caricatura. Mas não vemos nós que em toda a caricatura está, quiçá de modo deformado, o traço da realidade?

Ao entender que vale muito mais do que o seu invólucro material, o maçon aprende a viver plenamente a vida e a não temer a morte.

... viver a Iniciação em todos os dias da sua vida...

O maçon, quando iniciado, recebe lição, noções, princípios, afinal ferramentas que - muitas delas - não entendeu plenamente nessa ocasião. De algumas porventura nem mesmo se apercebeu então. Só mais tarde, revivendo a Iniciação, participando na Iniciação de outros, a pouco e pouco tudo vai entendendo e encaixando. E, fazendo-o, se bem refletir, verá que o que viveu , o que ouviu, o que sentiu, as lições que recebeu naquela ocasião são um guião de vida que deve ter sempre presente.

Se o maçon se comportar sempre de acordo com o que simbolicamente viveu na sua Iniciação, com o que ouviu, com as lições que aí recebeu, será efetivamente um Homem Livre e de Bons Costumes. Se viver de forma conforme com a lição da sua Iniciação, viverá bem, será útil a si próprio, aos outros e à sociedade. Nada mais precisa de fazer. Nada mais lhe é exigível.

No fundo, uma das coisas que é agradável na Maçonaria é a sua desarmante simplicidade: não são precisas grandes invenções, não são necessários etéreos princípios. Para se ser Digno, Justo e, tanto quanto humanamente possível, Perfeito, para aliar a Sabedoria à Força e à Beleza, para viver em Liberdade e em Fraternidade segundo os princípios da Igualdade, só é necessário proceder segundo o que aprendeu na Iniciação. E, chegada a hora, poderá pousar as suas ferramentas em Paz e com a noção do dever cumprido.

... conhecer e praticar os sinais , palavras e toques...


Não há que inventar! Está num texto que o Aprendiz deve conhecer e não se deve nudar o que está bem:

Um maçon é reconhecido pela sua forma de agir, sempre correta e franca (sinais); pela sua linguagem leal e sincera (palavras); por fim, pela solicitude fraterna que manifesta com todos a que se acha ligado pelos laços da solidariedade (toques).

É afinal tão simples ser maçon!

... Ser, simplesmente e verdadeiramente Ser - não Parecer!

O maçon, beneficiando da absorção, na sua personalidade, no seu caráter, na sua prática de vida, dos princípios que recolhe na Loja e na Fraternidade - afinal, dito mais simplesmente, aperfeiçoando-se - só precisa de Ser. Ser como é. Ser aquilo em que se transforma. Fazendo-o, vale a pena ser maçon, o salário está ganho, o objetivo é atingido.

No fim como no princípio, a noção-chave é a de aperfeiçoamento individual. Que se obtém pelo trabalho, pelo esforço, pela dedicação. Que se pratica. Que não se consegue parecer que se obteve!

Inútil é tentar "parecer" maçon. Tarde ou cedo - mais cedo do que mais tarde! - os que efetivamente são maçons reconhecem que quem quer "parecer" sem "ser" não é efetivamente um maçon. Quando muito, poderá ser um profano que passou por uma iniciação, mas não foi verdadeiramente iniciado. E esse pode continuar a tentar "parecer" à vontade. Nenhum verdadeiro maçon se incomodará com isso. Mas nenhum verdadeiro maçon o reconhecerá como tal, até que deixe de tentar Parecer e tente começar a Ser.

Rui Bandeira

08 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base X

BASE X

DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS


1º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís (de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), atraísse (id.) baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.

2º) As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.


3º) Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das formas oxítonas terminadas em r dos verbos em -air e -uir, quando estas se combinam com as formas pronominais clíticas -lo(s), -la(s), que levam à assimilação e perda daquele -r: atraí-lo(s,) (de atrair-lo(s)); atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s) -ia).


4º) Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas, quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha (de saia).


5º) Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de ditongo, pertencem a palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú, tuiuiús.


Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim.


6º) Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).


7º) Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem; argua, arguas, argua, arguam. O verbos do tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins, por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue, averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.; delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquis) ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas, enxágua, enxáguam; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques, delínque, delínquem; delínqua, delínquas, delínqua, delínquam).


Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registe-se que os verbos em -ingir (atingir, cingir, constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em -inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc.; distingo, distinga, distingue, distinguimos, etc.).


Esta Base em nada altera a norma ortográfica antecedente em Portugal. Quanto ao Brasil, por si só também nada altera em relação ao antecedente. Os casos em que desaparece o trema (¨) resultam, não desta Base, mas do dispositivo de uma outra, que adiante será tratada.

Note-se o duplo paradigma previsto no ponto 7.º. Em Portugal, nunca dei conta da utilização de acentuação gráfica nas vogais "a" ou "i" radicais, nos casos indicados. Também não dei conta dessa utilização em textos escritos por quem utiliza a norma brasileira do antecedente. Presumo, pois, que os casos indicados relevam de regionalismos ou arcaísmos, em qualquer caso sem expressão significativa.

De notar ainda que, segundo as regras desta Base, escreve-se Luís e Luísa, porém escreve-se juiz, mas juíza e juízes, tal como se escreve raiz, mas raízes.

Descodificação de alguns termos técnicos:

Palavras oxítonas: palavras agudas, isto é, com o acento tónico na última sílaba.

Palavras paroxítonas: palavras graves, isto é, com o acento tónico na penúltima sílaba.

Clítico - elemento gramatical que mostra um comportamento intermediário entre o de um morfema (a menor unidade gramatical que se pode identificar) e uma palavra. Sintaticamente tem um comportamento mais similar ao de palavras mas fonologicamente é dependente de outras palavras adjacentes.

Forma rizotónica - em que a tónica se situa na raiz da palavra.

Rui Bandeira

07 outubro 2008

D. Pedro I e a Maçonaria

Dom Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon foi o primeiro imperador do Brasil, como D. Pedro I, tendo sido também Rei de Portugal durante um curto período.

Recebeu os títulos de Infante, Grão-prior do Crato, Príncipe da Beira, Príncipe do Reino Unido de Portugal do Brasil e Algarves, Príncipe regente do Reino do Brasil além de primeiro imperador do Brasil, como D. Pedro I, de 12 de Outubro de 1822 a 7 de Abril de 1831, e ainda 28º Rei de Portugal (título herdado de seu pai, D. João VI), durante um período de sete dias (entre 26 de Abril e 2 de Maio de 1826), como D. Pedro IV.

Ficou conhecido como o Rei-Soldado, por combater o irmão D. Miguel na Guerra Civil de 1832-34 ou o Rei-Imperador. D. Pedro I abdicou de ambas as coroas: da portuguesa para a filha D. Maria da Glória e da brasileira para o filho D. Pedro II.

D. Pedro I era o quarto filho (segundo varão) do rei D. João VI e de sua mulher, Carlota Joaquina de Bourbon, princesa de Espanha, primogénita do rei espanhol Carlos IV da Espanha.

Talvez uma faceta menos conhecida da sua vida, seja a sua ligação à Maçonaria. D. Pedro I, cujo nome simbólico era Guatimozim, foi um dos Grão Mestres da Maçonaria brasileira, tendo sido instalado em 4 de Outubro de 1822.

Do seu legado maçónico destaca-se desde logo o Hino Maçónico Brasileiro, para o qual escreveu música e letra, que a seguir se reproduz:

Da luz, que si difunde, sagrada filosofia
surgiu no mundo assombrado, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Da razão, parte sublime, sacros cultos merecia
altos heróis adoraram, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza vingai direitos, da natureza.
Da razão, suntuoso templo, um grande rei erigia,
foi então instituída, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Nobres inventos não morrem, vencem do tempo a porfia
há de os séculos afrontar, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Humanos sacros direito, que calcará a tirania
Vai ufana restaurando, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Da luz deposito augusto, recatando à hipocrisia
Guarda em si com zelo santo, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Cautelosa, esconde e nega, a profana a gente ímpia
Seus mistérios majestosos, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.
Do mundo o Grande Arquiteto, que o mesmo mundo alumia
Propício protege, ampara, a pura maçonaria.

Maçons alerta, tende firmeza
vingai direitos, da natureza.

Deísmo - II


Vimos já que, na versão francesa da Wikipedia, a definição de deísmo, em aparente contradição com o que se escreve na versão inglesa, postula (tradução livre minha):

O deísmo, do latim deus, é uma crença ou doutrina que afirma a existência de um Deus e a sua influência no Universo, quer quanto à sua criação, quer quanto ao seu funcionamento.

Mas, tal como fizémos em relação à versão inglesa da enciclopédia virtual, olhemos um pouo mais fundo. Verificamos que o artigo prossegue, do seguinte modo (sempre em tradução livre minha):

Para o pensamento deísta, certas caraterísticas de Deus podem ser compreendidas pelas faculdades intelectuais do homem.

Cá está, afinal, o fio condutor, o cerne efetivamente definidor do conceito! Afinal, as versões das três línguas da enciclopédia virtual acabam por confluir no conceito de deísmo... Pena que tenham dado destaque a elementos secundários diferentes, criando a confusão onde deveria haver esclarecimento...

Mas, no anterior texto sobre este tema, deixei escrito, talvez enigmaticamente, que é possível aceitar as menções aparentemente opostas das versões em inglês e em francês ambas como não incorretas. Sabido como é que já Sócrates, o filósofo da Antiguidade grega, deixou claro que Ser e não ser não pode ser, parece impossível tarefa, mesmo para um experimentado diplomata, conciliar as duas visões. E sê-lo-ia, se nos ativéssemos à literalidade da frase da versão francesa e não buscássemos o real significado dela.

Mais adiante, a versão em francês da Wikipedia sumariza o que chama os principais pontos da doutrina deísta, mencionando que o deísmo afirma que (ainda e sempre tradução livre minha - e os comentários, obviamente, também...):

  • Tudo o que não é obra do homem foi produzido por uma fonte original e inteligente (designada por Deus) - ou, acrescento eu, por Allah, Jehovah, mil outras designações ou... simplesmente por... Grande Arquiteto do Universo...
  • Não é concebível que nada esteja na origem de tudo.
  • A essência de Deus não é material (Deus é espírito).
  • Deus tem uma ação permanente no Universo - já vejo os anglófonos a torcerem-se todos nas suas cadeiras...
  • Deus manifesta-se pelas suas obras (a natureza, a vida, o cosmos, a consciência humana...) - anglófonos: parem de se torcer e atentem bem na concretização da tal ação permanente...
  • O sentimento da ação de Deus vem do estudo da criação (contemplando-se a pintura pode compreender-se o pintor) - é favor conferir o texto Sobre o Grande Arquiteto do Universo - 2: eu, deísta, ali me confessei como tal...
  • Escutar a sua consciência é o único meio para o homem se unir a Deus (as leis de Deus estão inscritas na consciência de cada homem e não nos Livros Sagrados).
  • O respeito das regras morais ditadas pela consciência é essencial para a salvação do homem
  • A prece a Deus é livre e espontânea
  • A relação do homem com Deus é direta (através do pensamento) e sem intermediários.

Lidos os princípios ditos doutrinais do deísmo, verificamos então que a falada "ação permanente de Deus no Universo" traduz-se nas "suas obras" e que estas têm a ver com a Criação e as Leis instituídas aquando dela - a natureza, a vida, o cosmos, a consciência humana (esta, necessariamente quando a evolução, decorrente das Leis Universais instituídas, determinou que surgisse a espécie humana - eis como um Crente Deísta pode perfeitamente conciliar o seu entendimento com a teoria evolucionista...). Ou seja, a "ação permanente" a que alude a versão em francês da Wikipedia corresponde à... ausência de ação reclamada pela versão em inglês! Mais uma vez, em ambas as versões diz-se a mesma coisa com palavras diferentes e, até, aparentemente inconciliáveis. Só entendendo o que se entende por "preto" se percebe que, afinal... se está a chamar preto ao que outros chamam branco...

Fica, assim, explicada a aparente contradição. E evidenciadas as carências da Wikipedia, que não deixa, no entanto, de ser um instrumento útil, mas apenas se não aceitarmos acriticamente o que em cada uma das suas versões está escrito...

Para terminar este texto, que já vai longo, insisto: no meu entendimento, a definição que se aproxima mais da verdadeira noção de deísmo é a da versão em português da Wikipedia: O deísmo pretende enfrentar a questão da existência de Deus, através da razão, em lugar dos elementos comuns das religiões teístas tais como a "revelação divina", os dogmas e a tradição.

Este o alcance do conceito. Se é com este significado, e só com ele, que o mesmo é utilizado, mesmo em Maçonaria, isso é outro problema. Mas, para com ele lidar, temos que previamente dedicar a nossa atenção ao conceito de teísmo, à relação entre deísmo e teísmo e ainda à relação de ambos estes conceitos com ateísmo. Ainda há muita pedra para partir até que se consiga obter uma pedra devidamente aparelhada para se colocar na edificação que o pensamento constrói sobre o significado do Mundo e da Vida...

Rui Bandeira

06 outubro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base IX


BASE IX

DA ACENTUAÇÃO GRÁFICA DAS PALAVRAS PAROXÍTONAS
1º) As palavras paroxítonas não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa, Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente, moçambicano

2º) Recebem, no entanto, acento agudo:


a) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em –l, -n, -r, -x e –ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl. dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. répteis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen (pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lúmens); acúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl. cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl. córtex; var. córtice, pl. córtices, índex (pl. índex; var. índice, pl. índices), tórax (pl. tórax ou tóraxes; var. torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl. fórcipes).


Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com a vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e xênon; fêmure fémur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.


b) As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou -us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl. acórdãos), órgão (pl. órgãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl. de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amaveis (id.), cantaríeis (de cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (di. júris), oásis (sg. e pl.); álbum (di. álbuns), fórum (di. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).

Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba, seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus.


3º) Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico, onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, hoia, boina, comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito, jiboia, moina, paranoico, zoina.


4º) É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos, louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português.

5º) Recebem acento circunflexo:


a) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -l, -n, -r, ou -x, assim como as respetivas formas do plural, algumas das quais se tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pl. pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone (pl. cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger; bômbax(sg. e pl.), bômbix, var. bômbice (pl. bômbices).


b) As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e, o e que terminam em -ão(s), -eis, -i(s) ou -us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de dever), escrevêsseis (de escrever) ,fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.

c) As formas verbais têm e vêm, 3ªs pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são foneticamente paroxítonas (respetivamente / tãjãj /, / vãjãj / ou / têêj /, / vêêj / ou ainda / têjêj /, / vêjêj /; cf. as antigas grafias preteridas, têem, vêem, a fim de se distinguirem de tem e vem, 3ªs pessoas do singular do presente do indicativo ou 2ªs pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém), desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detem), entretem (cf. entretém), intervêm (cf. intervém), mantêm (cf. mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).

Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias detêem, intervêem, mantêem, provêem, etc.


6º) Assinalam-se com acento circunflexo:


a) Obrigatoriamente, pôde (3ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), no que se distingue da correspondente forma do presente do indicativo (pode).


b) Facultativamente, dêmos (1ª pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma (substantivo; 3ª pessoa do singular do presente do indicativo ou 2ªpessoa do singular do imperativo do verbo formar).

7º) Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico oral fechado em hiato com a terminação -em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo, conforme os casos: creem deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem (conj.), releem, reveem, tresleem, veem.


8º) Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tonica fechada com a grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de voar, etc.


9º) Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que, tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas. Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é), substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (é), substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular de por e lo(s); etc.


10º) Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo, e acerto (é,), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução prepositiva cerca de, e cerca (é,), flexão de cercar; coro (ó), substantivo, e flexão de corar; deste (ê), contracção da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir, e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.


Apesar da sua extensão e complexidade, poucas alterações em relação ao antecedente resultam desta Base.

A primeira alteração a notar é que deixam de se acentuar os ditongos ei e oi da sílaba tónica das palavras paroxítonas. Anteriormente, havia algumas palavras deste grupo que eram acentuadas segundo a norma lusitana e não o eram na norma brasileira, enquanto que outras havia que recebiam acento no Brasil, mas não eram acentuadas em Portugal. Unifica-se, assim, a norma de escrita com a regra de que os ditongos oi e ei em sílaba tónica de palavras graves nunca levam acento. Assim, o introito do feito heroico do fulano que pegou na jiboia é de todo desprovido de acentos. E os comboios, mesmo os brasileiros, também perdem os acentos, embora, desejavelmente, conservem os assentos... E, ainda no Brasil, uma ideia, ainda que luminosa, também deixa de ser iluminada por um acento... na aldeia ou na cidade.

Outra grande mudança é o desaparecimento do acento circunflexo nas formas verbais da terceira pessoa do plural do presente do indicativo ou do conjuntivo que terminam em -eem (anteriormente, pelo menos em Portugal, escreviam-se com acento circunflexo no primeiro e): leem, deem, veem (verbo ver; não confundir com vêm, verbo vir).

Finalmente, deixa também de se usar acento para diferençar palavras homógrafas mas heterofónicas: para (preposição) e para (forma do verbo parar), pelo (por o) e pelo (revestimento piloso do corpo) são exemplos desta mudança, que unifica a regra de prescindir de acento para diferenciar estas pronúncias diferentes em relação a outras palavras em que assim já se procedia - ex: pregar (um prego) e pregar (fazer uma prédica)

Para além disso, na execução da política de aproximação da escrita à fonética, consagra-se a dupla grafia, com acento agudo ou circunflexo, consoante a vogal seja pronunciada aberta ou fechada e admite-se que algumas formas verbais do pretérito perfeito do indicativo se escrevam ou não com acento agudo, também em função de serem ou não pronunciadas com vogal aberta - em regra, levarão acento agudo em Portugal e não serão acentuadas no Brasil ou, pelo menos, em algumas pronúncias do português falado no Brasil.

Alguns significados de termos mais técnicos:

Palavras paroxítonas: palavras em que a sílaba tónica é a penúltima, também designadas por palavras graves.

Palavras proparoxítonas: palavras em que a sílaba tónica é a antepenúltima, também designadas por palavras esdrúxulas.

Palavras homógrafas: palavras que se escrevem da mesma maneira.

Palavras heterofónicas: palavras que se pronunciam de maneira diferente.

Proclítica: Diz-se da palavra que, anteposta a outra, fica sujeita à acentuação desta, formando ambas um só vocábulo fonético.

Rui Bandeira