05 novembro 2007

O maçon e os filhos

O simple colocou a questão que se segue:

Contaram-me o caso de um maçon que toda a vida ocultou a sua condição à família, e de quem só durante o velório os filhos e os netos souberam, por uns senhores que nunca tinham visto mas que mostraram conhecer muito bem o falecido, que o pai de uns e avô de outros fora maçon a vida toda...
A minha questão - que não é, certamente, nem nova nem original - é esta: como consegue um maçon manter oculta dos profanos a sua condição, e ao mesmo tempo envolver a família nesses eventos, se tiver filhos ainda pequenos - e naturalmente pouco sensibilizados para a discrição? Recorre-se à grande Instituição que são as baby-sitters?!
A partir de que idade é comum revelar-se à respectiva prole a condição de maçon - especialmente quando se preveja um anátema por parte da família alargada caso tal fosse conhecido?
Ah, e não vale responder "cada pai sabe dos seus"... até aí já eu discorri. :)

Nos termos e condições que o simple coloca, a questão é irrespondível, precisamente porque a única resposta correcta é a que ele não quer que lhe seja dada: "cada pai sabe dos seus"...

Mas o desafio foi feito e, mal ou bem, merece resposta. Como todos os problemas de difícil resolução, a melhor abordagem é a sua divisão em pequenas questões, de resposta mais acessível. No final, teremos a resposta possível.

O ponto de partida é o caso - hipotético, lendário ou real - de um maçon que escondeu de sua família chegada essa condição, a ponto de seus filhos e netos só no seu velório virem a ter conhecimento dessa faceta do seu parente, através, retira-se do texto, de maçons que ao velório compareceram.

A situação de partida, nos termos em que está colocada, se bem que não impossível, afigura-se-me de difícil verificação, a não ser que se refira a um indivíduo com um núcleo familiar atípico e com um relacionamento atípico com esse núcleo familiar. Só por notável ausência de intimidade ou por presença de inesperada distância entre ascendente e descendentes se pode entender o absoluto desconhecimento, ao ponto da surpresa, de que o ascendente "fora maçon a vida toda". Porque ser maçon é ter e viver e transmitir princípios. Se um maçon não vive segundo os princípios inerentes à condição de maçon, só de nome poderá sê-lo - mas seguramente não será "maçon a vida toda", pela simples razão de que nem a vida como maçon viveu! Se um maçon não educa os seus filhos nesses princípios, ou é mau maçon ou péssimo educador! Se os filhos de um maçon não são capazes de reconhecer no comportamento de seu pai a aplicação dos princípios de um maçon, ou estavam muito distantes do seu progenitor ao ponto de não o conhecerem verdadeiramente, ou não foram educados por um verdadeiro maçon. Este deve distinguir-se perante os que o rodeiam pelo seu comportamento. E, mesmo que não diga que é maçon, se e quando os que o rodeiam vierem a saber que o é ou o foi, mau será se esse conhecimento não vier a confirmar o juízo que fazem da pessoa - seria sinal de que não fora digno de usar o avental que um dia lhe foi imposto...

A situação descrita, a não ser assim, só podia ocorrer num quadro de - para mim - impensável distância entre um homem e sua família mais chegada. Teria implicado a vivência em dois mundos estanques e absolutamente sem pontos de contacto. Isso não é vida real, é argumento de filme da guerra fria... Aliás, pelo menos um ponto de contacto entre esses dois mundos, um dos quais ignorava o outro, necessariamente tinha que haver: um amigo ou conhecido da família (a quem esta informou do óbito...) teria de ser maçon não menos discreto que o falecido, pois só assim poderia dar conhecimento aos maçons que compareceram no velório do passamento do Irmão...

E, das duas, uma: ou esse amigo ou conhecido levou a sua discrição ao ponto de não comparecer ao velório ou de aí comparecer separado dos maçons que se identificaram como tal, anónimo e secreto, ou, ao fim de tantos anos quebrou abrupta e incompreensivelmente a sua discrição...

Tal como a questão foi contada ao simple, parece-me, pois, mais um mito urbano, no caso, o mito do secretismo absoluto da Maçonaria, que só os anti-maçons alimentam. Contra este mito, em ambiente democrático, no século XXI, devemos combater, mostrando que discrição não é secretismo, esclarecendo e divulgando os nossos princípios.

Com este ponto de partida, pergunta simple como consegue um maçon manter oculta dos profanos a sua condição, e ao mesmo tempo envolver a família nesses eventos. Estando assente que "profano" é todo aquele que não é maçon e que, portanto, a família do maçon necessariamente que inclui profanos, a resposta a esta questão é simples: NÃO CONSEGUE. Ou mantém oculta da sua família a sua condição de maçon, ou não envolve a família nos eventos da Maçonaria... Ser e não ser não pode ser, já na Antiguidade dizia Sócrates, o filósofo...

Comer o bolo e continuar com o bolo não é possível, digo na actualidade eu, despretensioso escrevinhador... Com filhos pequenos ou grandes, discretos ou indiscretos, a dualidade secretismo/envolvimento simplesmente não é possível e, portanto, não é um problema.

Pergunta ainda o simple a partir de que idade é comum revelar-se à respectiva prole a condição de maçon.

A resposta depende, a meu ver, mais do pai do que dos filhos... Depende essencialmente de como o pai vive a sua condição de maçon, do seu grau de envolvimento com a Ordem, do seu relacionamento mais próximo ou mais distante com a sua prole, da sua forma de educar, do seu conceito de transmissão dos seus valores - e também das circunstâncias e das oportunidades.

Eu diria que, mais do que cada um sabe dos seus, a resposta correcta é cada um sabe de si...

Porque a resposta a essa questão só pode ser dada a cada um por si mesmo, o melhor que posso fazer é contar como é que eu fiz.

Sempre eduquei as minhas filhas segundo dois princípios: os valores passam-se primeiro pelo exemplo e só depois pela palavra; as informações devem ser dadas quando quem as recebe está preparado para as receber.

Assim sendo, sempre me comportei como eu próprio, com os meus valores, os meus amigos, os meus Irmãos. A minha filha mais nova nasceu já eu era Mestre Maçon. Desde o berço que conhece os meus Irmãos, e de entre estes, que lida mais assiduamente com aqueles com quem estabeleci mais apertados laços da amizade, que me acompanha nas viagens que a Loja organiza para serem efectuadas pelos maçons e suas famílias, que me acompanha aos jantares brancos. Em toda a sua vida viu, com naturalidade, que havia dias em que o seu pai não estava em casa, porque "ia à reunião".

E, durante vários anos, a bebé cresceu, a menininha medrou, sem se preocupar em catalogar os amigos do pai, sem estranhar almoços e jantares em grupo, mais interessada em saber que outras crianças estariam presentes.

Muitas vezes me viu sair e me perguntou "vais à reunião?" e eu confirmei que sim, sem que houvesse a necessidade de acrescentar que reunião era aquela onde eu ia. Um dia, finalmente, perguntou de que era a reunião a que eu ia. E eu respondi que era da Loja. E, não muito tempo depois, tendo percebido que a Loja de que eu falava, não era uma loja de se ir comprar coisas, um belo dia lá me perguntou de que era essa Loja. E eu respondi que era da Maçonaria. E passaram mais uns tempos até que perguntou o que é que se fazia na Maçonaria - e eu respondi e esclareci...

No fundo, educar é transmitir aos nossos filhos os nossos Valores. e isso não se faz escondendo esses valores deles, ou dando a noção de que esses Valores são para ser vividos clandestinamente. Pelo menos, quando se vive em Liberdade!

Mas também temos que ter a noção de quando é que a criança está preparada para receber e processar uma determinada informação. Não faz sentido dar uma conferência sobre "Simbolismo, Esoterismo, Moralidade e Axiologia da Visão Imanente ao Entendimento do Universo, Criação, Criador e Criaturas na Maçonaria Contemporânea" a uma criança (nem sequer a certos adultos, diga-se de passagem)... Convém antes responder ao que é perguntado, certificando-nos do que é efectivamente perguntado, não vendo nós complexos problemas em questões, por vezes muito simples e básicas, que são o objecto, naquele momento, do interesse da criança.

Rui Bandeira

02 novembro 2007

Reincidência... reincidente



Tive 2 dias muito complicados em termos de ocupação de tempo e tive que desleixar a atenção ao nosso “A-Partir-Pedra”.
Agora que recuperei o “estado do blog” li o comentário do nosso Amigo e atento Simple Aureole.
Bem, meu caro, obviamente que Lhe devo uma explicação.
Tentarei, pois…

1- Não fiz, ou pelo menos não quis fazer, qualquer comparação entre coisas que, para mim, são incomparáveis, como sejam “um Pai”, ou candidato a tal, e os monstros que referi no post.
Trata-se, meu caro Simple, de uma ilação que não tem qualquer correspondência com a minha cabeça e se o que escrevi o levou àquela conclusão, então peço-lhe desculpa pela falta de capacidade na expressão das ideias.

2- Não faço qualquer confusão entre controlo da natalidade, solidariedade e truques para obtenção de apoios sociais.

3- Os Pais têm, entre outros, o direito inalienável de decidir sobre ter ou não ter filhos, quantos e quando, competindo aos políticos de serviço a decisão sobre os apoios à natalidade que, do ponto de vista exclusivamente político, deve ser orientada no sentido de incentivar ou não o aumento da natalidade de acordo com critérios de manutenção do nível etário da população e suas consequências na economia do país.

4- Não aceito a intromissão de quaisquer normas, de carácter religioso, político, ou outro, que não sejam dependentes da vontade dos principais e mais directos interessados, que são os Pais. E estes saberão que procedimentos adoptar de acordo com as suas próprias escolhas e essas sim, poderão ser de carácter religioso ou outro qualquer.

5- Os Pais deverão saber quais as obrigações para com os seus descendentes, de carácter educativo, económico, social,… e decidir ter ou não filhos de acordo com a sua capacidade de cumprir aquelas obrigações. De resto penso ter percebido que são essas as preocupações que atrapalham o “pai preocupado” a que se refere.

6- Quanto à solidariedade também não me parece que se possa concluir, do que eu escrevi, qualquer confusão com os apoios sociais aos mais “desfavorecidos”.

7- Não, não tem nada a ver uma coisa com a outra. O que eu refiro tem a ver apenas com atitudes pessoais e não com o que quer que seja de institucional. Ser solidário tem de ser uma atitude interior em cada um de nós. Não se inventa, não se compra e não se impõe, ou se é ou não se é ! E é a esse sentimento que recorro quando insisto em que o bem estar da humanidade não é conseguido pela diminuição da natalidade, muito menos ainda se imposta justamente com esse objectivo.

8- Os apoios sociais institucionais poderão ser entendidos, também, como uma atitude solidária, mas apenas dentro do conceito do Estado Social que é tão só uma das variantes de organização social das nações. A Solidariedade a que recorro é pessoal e, existindo, não está dependente da organização do Estado. E não vejo nenhuma possibilidade de ser confundida com qualquer “direito à asneira”. Ela tomará o seu lugar com o acordo do Estado, ou sem ele. Não é o subsídio de sobrevivência (rendimento mínimo ou outra denominação qualquer) que alguns recebem e que outros dizem que não deve existir, talvez por causa do direito à asneira. Mas não é a dessa solidariedade que falo.

9- Meu Caro Simple, pelo menos uma coisa importante temos em comum. É a ideia de que o grande responsável pelos problemas com o “verde” é o homem. Pois o grande e único ! Que outro responsável poderia haver ? E é o homem porque no seu incomensurável egoísmo partiu do princípio que é dono e senhor do universo, usando-o sem critério, sem regras e sem limites, explorando sem controlo tudo o que há a explorar, desequilibrando o sistema natural e provocando as rupturas cujas consequências estão à vista e que todos estamos a sofrer.

10- E, desculpe a insistência, não é com a diminuição pura e simples dos nascimento nem com o fim da solidariedade (nem que seja apenas a institucional), que o Homem recupera as condições equilibradas do meio-ambiente.

11- É assim que penso.

12- Quando à discussão política a que se refere no “P.S.” (não confundir com Paiva Setúbal…) também só posso falar pelo que vai na minha cabeça. A discussão dos assuntos da humanidade, a procura de soluções para as dificuldades que se nos deparam, tanto pode ser feita por políticos, como por técnicos, como… por Amigos.
JPSetúbal

31 outubro 2007

A mudança


Costuma-se dizer que um homem pode mudar de emprego, de casa, de camisa, de automóvel, de quase tudo, mas que não muda de clube.

Tenho um amigo que hoje vai demonstrar que a frase anterior não é inteiramente verdadeira: vai formalizar a sua mudança de clube!

A decisão que hoje vai ser levada à prática fora já decidida há uns tempos e era conhecida de um grupo restrito de familiares e amigos. Como todas as decisões importantes da vida, há já algumas semanas que andava a ser preparada, tendo-se tomado todas as cautelas e preparado tudo o que havia a preparar, no sentido de que tudo corra bem com esta mudança.

A preparação necessária para que tudo corra bem determinou mesmo que esse meu amigo tivesse tido que limitar fortemente algumas das suas actividades, designadamente uma de carácter público: a publicação de textos no A Partir Pedra!

Esse meu amigo – já perceberam – é o José Ruah. E não, não muda a sua afeição pelo Glorioso... A mudança decidida e agora formalizada é outra: hoje gloriosamente abandona o clube dos solteiros e vem reforçar o clube dos casados!

A formalização do acto vai ocorrer a partir das 18 horas e dará direito a festa até às tantas!

Neste dia, que auguro benfazejo, para além da expressão da minha alegria, aqui deixo ao José Ruah, com um significado que ele bem entenderá, apenas um voto:

Estrela feliz te acompanhe e te dê merecida felicidade!

Rui Bandeira

Reincidência abelhuda

HANDBAG € 32.- / Food for a week € 4.-

A culpa não é minha !
Obrigam-me a isto…
Quero estar sossegado a pensar em coisas simpáticas e vêm pôr-me debaixo do nariz artigos ou a expressão de opiniões que me fazem “comichão”.
Não chegava o caríssimo “Simple Aureole” quando aparece o Expresso e o seu colaborador Fernando Madrinha, a moer-me o juízo com “fotografias” da realidade mais triste, brutal e incompreensível que podemos encontrar no nosso dia a dia.
E vêm mesmo a propósito do tema que o R.B. pôs em foco no blog.

Bom, mas antes de me virar para o outro lado deixem-me terminar o meu ponto do post passado.
Não estou, nem um bocadinho, de acordo com aquela cena do pessoal deixar de ter filhos !
Meus Caros, deixem lá esse controlo dos excedentários para aqueles que se dedicam por inteiro a essas tarefas.
Ao longo do tempo muito tem sido feito pelo “controlo dos excedentes humanos”, desde o tempo dos gregos e dos romanos, dos suecos que invadiram quase toda a Europa à espadeirada, ao Hitler, Mussolini, Lenine e Estaline, japoneses e americanos, indianos e paquistaneses, árabes e israelitas, iraquianos e iranianos, Pinochet, Franco, e … e… e…

Deixem para eles esses cuidados, porque na verdade são profissionais da matança, bem ciosos das suas capacidades e que não gostam de deixar os créditos por mãos alheias.
Tratemos de dividir bem o que está mal dividido e vamos ter a surpresa do tanto que vai sobrar !

PINT OF BEER € 4,50 / 50 liters of fresh water € 1,50

E quanto a este "pormaior" estou conversado.

JPSetúbal

30 outubro 2007

Meter o bedelho

Procurava eu uma boa razão para trazer ao blog algumas imagens que tenho em reserva, e eis que o nosso bom Amigo “Simple Aureole” a proporciona com o comentário que nos deixou à última intervenção do Rui.

E aqui estou eu a meter o bedelho no post/comentário do Rui/Simple !



AFTERSHAVE € 35.- Basics for a new home € 6.50

Caro “Simple”, o seu pensamento final, deixou-me com uma certa “comichão” espiritual.
Indiscutivelmente parece haver falta de muita coisa (de tudo, diz o “Simple”) só que interessa analisar se de facto as coisas faltam ou se apenas estão mal distribuídas.
Uma coisa é haver falta de muita coisa e outra é haver falta de muita coisa (tudo ?)… a alguns !

E estou de acordo que esta questão é, absolutamente, uma questão de ambiente.

Meu Caro, ambiente é tudo, tudo o que produzimos e não produzimos, aproveitamos e não aproveitamos, usamos ou não usamos.
Tudo isso é ambiente porque é disso tudo que o ambiente é feito.
E não só da chuva, do vento ou do Sol.

Mesmo mais, a influência (boa hoje, má amanhã) da chuva, do vento e do sol até está condicionada exactamente pela maneira como utilizamos as tais coisas que “parece” faltarem.

Ora bem, acontece que não acredito que resolvamos o problema produzindo menos filhos.

Se há zonas do globo onde a população é excedentária, a verdade é que noutras zonas a população é fortemente deficitária.
E acredito que há meios mais que suficientes para alimentar e vestir toda a gente.
Teremos certamente que rever toda a distribuição da riqueza mundial, mas seguramente chega para todos.
Não há falta de tudo… o que há é uma péssima distribuição de tudo.
E pouca vontade de resolver esta questão.
O egoísmo individual impede-nos de deitar mãos à obra da distribuição.
A questão é que teríamos de dispensar também algumas das nossas próprias “coisas” e isso é uma chatice.


SUNGLASSES € 24.- Access to water € 8.-

Mas garanto-lhe meu Amigo que o que há chega para todos, e talvez sobre.

JPSetúbal

29 outubro 2007

MAÇONARIA E AMBIENTE - Intróito: desculpem lá, mas...

O Muito Respeitável Grão-Mestre da GLLP/GLRP solicitou aos Irmãos da Obediência que procurassem reflectir e elaborar trabalhos sobre a temática do ambiente. A Maçonaria Regular não discute opções políticas, mas não ignora os grandes temas da Civilização e da Sociedade e procura ajudar a reflectir sobre eles, estejam ou não na ordem do dia, sejam ou não objecto de controvérsia. O Homem que se insere no seu tempo, que procura compreender-se a si próprio, compreender os demais, o Mundo, e busca descortinar o significado da Vida, da Criação e do relacionamento do Material com o Imaterial não pode deixar de reflectir sobre os grandes temas do seu tempo. E o Ambiente e sua defesa são, indubitavelmente, nesta fase da Civilização, temas candentes, urgentes, incontornáveis. A Maçonaria, que é Tradição na Modernidade, não deve, pois, abstrair-se de neles reflectir também.

Sou, no entanto, obrigado a confessar que a temática ambiental não é uma das minhas preferidas. Até por deficiências - que a lucidez me impele a desde já reconhecer - da minha formação. A minha formação assentou naquilo a que dantes se chamava de "Humanidades", tudo o relacionado com o Homem, a Sociedade e as Civilizações: Línguas, Literatura, História, Direito, Relações Sociais, etc.. As disciplinas mais directamente tidas como "científicas" apenas foram por mim visitadas na medida em que contribuíam ou eram indispensáveis para o interesse central da minha atenção: a Humanidade!

Resultado: por vocação e por profissão (advogado) sou aquilo a que costumo designar por ESPECIALISTA EM IDEIAS GERAIS. Sei um poucochinho de tudo, sei a fundo de muito pouco, quase nada.

Nestas circunstâncias, interroguei-me brevemente que contributo válido poderia este primata de meia-idade dar com uma amadora reflexão sobre a temática do ambiente e sua defesa e, com uma velocidade digna do Obikwelo, logo concluí que nada de jeito! Portanto, o melhor que tinha a fazer era assobiar para o lado, fingir que a minha profunda concentração nos longínquos objectos de minhas usuais locubrações me impedira de dar conta da instância do Grão-Mestre e, diafanamente, sair discretamente pela esquerda baixa, de forma a que o especialista de ideias gerais deixasse o palco todo à disposição dos gerais especialistas com ideias sobre o tema.

Pois, só não contei com três pequenos detalhes: 1. Sou incomensuravelmente menos rápido que o Obikwelo; 2. Assobio muitíssimo pior que o Danny Kaye (e suspeito mesmo que o próprio Obikwelo...); 3. O meu querido Grão-Mestre é uma velha raposa da Maratona que deixa os candidatos a relapsos procurarem escapar à sua máxima velocidade e, devagarinho, devagarinho, vai calmamente ter com eles e apanha-os à mão com suave sorriso e indefectível persistência...

Andava, portanto, eu entretido a assobiar para o lado para aí já há uns três meses e lá tive que perder o pio: o Grão-Mestre não só não se esqueceu do seu propósito, como insiste com todos e - pior - o meu não menos querido Venerável Mestre resolveu aliar-se à autoridade máxima e reforçou o pedido!

É claro que ainda dava para dar um pouco de luta, ir deixando escapar que na Loja até temos um Irmão que é engenheiro do ambiente e tal, esse é que deve saber tudo sobre o assunto, prolegómenos, entretantos e finalmentes incluídos, estão a ver?, ele é que é bom para fazer uns textos sobre o assunto, ficamos todos contentinhos e de consciência tranquila e não se fala mais do assunto, e se fôssemos comer um preguinho e beber uma cervejinha, não era boa ideia?

Lá boa ideia era... e foi... Mas cá o meu Venerável Mestre parece-me que é da mesma escola que o Grão-Mestre, acho que ainda jogaram ao berlinde juntos quando eram miúdos e tudo, e estou feito ao bife. Nem vale a pena armar-me em mete-nojo e tentar chutar para canto, que estou mesmo a ver que a resposta viria direita e certeira: se temos cabecinha é para pensar, todos os ângulos são importantes, o ambiente e a sua defesa são assuntos demasiado sérios para serem deixados aos especialistas (ai, que esta é tão certeira, que até dói!) e tu é que quiseste esta coisa do blogue, agora aguenta-te à bronca, que também tens de participar, e porque torna, e porque deixa...

Já estão mesmo a ver, nem vou a jogo, cobardemente capitulo sem luta. Portanto, está decidido, é assim: correspondendo de bom grado e facies faceiro ao gentil pedido do meu Muito Respeitável e Respeitado Grão-Mestre, que a mim e a todos na Loja foi dado conhecimento pelo meu Venerável e Venerado Mestre, este modesto especialista de ideias gerais, que tem a audácia de escrevinhar umas coisas neste cantinho da blogosfera que dá pelo nome de A Partir Pedra, resolveu alinhavar algumas ideias, certamente coxas, sobre o tema Maçonaria e Ambiente. Para tornar a coisa menos dolorosa e pungente para as almas benfazejas que ainda vão tendo a paciência de passar seus olhos pelos arrazoados a que ele ousa chamar textos, as poucas luzes que seu torturado cérebro conseguir reunir (certamente apagadas...) serão servidas em doses, prestações ou pinguinhas (cada um escolhe o que lhe agradar mais), que serão depositadas neste espaço com a periodicidade habitual, isto é, quando calhar, me apetecer, estiver para aí virado, mas procurando que, no final, constituam um conjunto de textos (lá estou eu com a mania das grandezas...) com alguma coerência.

Suspeito que esta é uma decisão que vai piorar sensivelmente o ambiente deste blogue, mas - já viram, com certeza! - limito-me a respeitosamente aceder a sugestão das instâncias superiores da GLLP/GLRP, Ilustre Obediência da Augusta Ordem Maçónica, e a culpa não é minha (fartei-me de gritar: agarrem-me, senão eu escrevo - e ninguém me agarrou... ainda...). Mas vocês é que vão sofrer!

Rui Bandeira

28 outubro 2007

A Ordem do Templo em Loures

A relação entre Maçonaria e Ordem do Templo é estabelecida, estudada, detalhada até ao limite em numerosíssimas publicações e muitos… muitos livros que abordam o tema dos mais variados pontos de vista, que vão desde o mais folclórico romance policial até ao mais bem fundado livro histórico, resultado de muito trabalho de investigação, durante anos de pesquisa.
Por outro lado a história Templária tem sido também, ele própria, fruto de muita pesquisa e de muito estudo por historiadores de toda a parte do planeta, que começam a pesquisa em época muito anterior à data historicamente apontada como a da fundação da Ordem (1118) procurando reconhecer os princípios mais remotos da organização que, na altura, mudou o mundo, até 1311, data em que a ganância de Filipe IV, o Belo, de França e a cobardia de Clemente V, Papa de Roma, decretaram a chacina de todos os cavaleiros do Templo, a dissolução da Ordem e a entrega dos bens respectivos à coroa francesa.

Como estes estudos concluem, os Templários sofreram naquela data (1311) um importante revés, mas o fim da Ordem decretada pelo Papa apenas conseguiu um êxito parcial.
Os Cavaleiros que conseguiram fugir à matança, em França, vieram para Portugal, onde as intrigas papais tinham, naquela época, muito pouca audiência.
Aqui foram aceites junto dos seus irmãos que já por cá andavam desde 1125, e apoiados pela inteligência de um “Rei inteligente” (D.Diniz), que sempre reconheceu os muitos e grandes serviços prestados durante a criação da nacionalidade, decretando desde o inicio do seu reinado em 1279 que “inimigo da Ordem, seu inimigo seria”, e com o suporte do Rei puderam reformular a Ordem do Templo numa nova organização que foi então chamada de Ordem Militar de Cristo.
Para que as coisas pudessem ser assim, D.Diniz teve de desobedecer por completo à vontade papal, confirmar que em Portugal manda o Rei de Portugal e que a lei em vigor é a que os portugueses e o seu Rei entenderem como sendo a melhor para os seus interesses.
Isto é, cada macaco no seu galho, como convém e é de direito.
Como bem sabemos, 8 séculos depois destes acontecimentos muitas coisas se passam de sentido exactamente oposto a este.

Quando em 1125 D.Teresa acolhe os primeiros Templários no reino de Portucale (Portucale também sofreu uma enorme alteração no seu significado, ao longo dos séculos, e actualmente é sinónimo de vigarice) começa por lhes doar espaço para se instalarem em Soure e Penafiel, tendo a Ordem começado aí a sua instalação no território que viria a ser, com o seu auxílio, o País/Nação Portugal.

Muitas foram as zonas de Portugal onde os Templários (ou a Ordem de Cristo como ficaram depois de 1318) estiveram instalados e da sua presença ficaram muitos sinais que são “mais ou menos” conhecidos, e estão “mais ou menos” estudados e publicados.
Mais ou menos porque ainda restam muitos sinais da presença Templária por estudar ou cujo estudo ainda não chegou ao fim.
Entretanto os escritos existentes referem-se muito a alguns locais, certamente os mais importantes na sua existência portuguesa (Santarém, Tomar,…) mas quase não encontramos referências à presença destes Cavaleiros e Monges na zona de Odivelas/Loures.
E no entanto também lá estiveram, e deles há vestígios importantes.

Numa pequena excursão que realizei em companhia do historiador Vítor Adrião encontrei alguns desses vestígios que achei bem interessantes e resolvi trazer ao blog.


Estive na Igreja Matriz de Loures (de Sta. Maria de Loures) que é um belo templo do Séc. XVI, construído sobre as ruínas de uma capela templária do Séc. XIII consagrada a Sta.Maria de Loires, que por sua vez se sobrepôs a uma igreja visigótica que remonta ao Séc.V.
Pois aquilo que encontrei dando a volta ao exterior do edifício, e dentro dele, está em fotos que tirei e que junto agora.
Frente à porta principal está uma sepultura de um Cavaleiro Templário, provavelmente pessoa de importância dado que na pedra da sepultura aparece um ábacus, sinal de que pertence a um Mestre Templário.
Sta. Maria de Loures foi designada a 28ª Comenda da Ordem do Templo o que reforça a importância desta zona geográfica na história dos Templários.
A evolução da Ordem do Templo para Ordem de Cristo também é assinalada pela Cruz de Cristo que fecha a cúpula do tecto da Capela –mor.



Outro vestígio interessante está numa outra sepultura, frente à porta lateral da Igreja, pertencente a Manuel Francisco Botelho, Mestre Canteiro da Confraria do Santíssimo Sacramento de Loures que foi encarregado da obra de restauração da Igreja em 1760.
Nesta sepultura também se encontram os sinais decorativos correspondentes à função, esquadro, compasso e outros símbolos operativos da arte da cantaria e como era regra na época, as pedras da construção estão marcadas com os símbolos dos canteiros que ali trabalharam.


Junto ao edifício foram iniciadas pesquisas arqueológicas cujos resultados são ainda incipientes.
Esperemos os resultados destas pesquisas, mas entretanto (conselho meu…) sentemo-nos, porque a espera será longa !
JPSetúbal

26 outubro 2007

A perfeição de Deus

Não é preciso estar em Loja para conhecer pranchas exemplificando um bom comportamento moral, apontando uma conduta correcta, mostrando como temos ocasião de melhorar. Também no nosso dia a dia, através das nossas relações sociais, se estivermos atentos e interessados, encontramos essas lições. Recebi este texto, enviado por um amigo, em mensagem de correio electrónico. Há meses que o guardo e que, de tempos a tempos, o releio e medito. Seria egoísmo não o partilhar com os leitores do A Partir Pedra.

Em Brooklyn, Nova Iorque, Chush é uma escola que se dedica ao ensino de crianças especiais. Algumas crianças ali permanecem por toda a vida escolar, enquanto outras podem ser encaminhadas para uma escola comum.
Num jantar de beneficência de Chush, o pai de uma criança fez um discurso que nunca mais seria esquecido pelos que ali estavam presentes.
Depois de elogiar a escola e seu dedicado pessoal, perguntou:
"
Onde está a perfeição no meu filho Pedro, se tudo o que DEUS faz é feito com perfeição?
O meu filho não pode entender as coisas como outras crianças entendem.
O meu filho não se pode lembrar de factos e números como as outras crianças. Então, onde está a perfeição de Deus?"
Todos ficaram chocados com a pergunta e com o sofrimento daquele pai, mas ele continuou:
"Acredito que quando Deus traz uma criança especial ao mundo, a perfeição que Ele busca está no modo como as pessoas reagem diante desta criança."
Então ele contou a seguinte história sobre o seu filho Pedro:
"Uma tarde, Pedro e eu caminhávamos pelo parque onde alguns meninos que o conheciam, estavam a jogar beisebol. Pedro perguntou-me:
- Pai, achas que eles me deixariam jogar?
Eu sabia das limitações do meu filho e que a maioria dos meninos não o queria na equipa. Mas entendi que se Pedro pudesse jogar com eles, isso lhe daria uma confortável sensação de participação. Aproximei-me de um dos meninos no campo e perguntei-lhe se Pedro poderia jogar.
O menino deu uma olhada ao redor, buscando a aprovação de seus companheiros da equipa e mesmo não conseguindo nenhuma aprovação, ele assumiu a responsabilidade e disse:

- Nós estamos a perder por seis pontos e o jogo está na oitava partida (o beisebol joga-se em nove partidas e cada ponto é conquistado sempre que a equipa que bate completa uma volta a um quadrilátero, com quatro estações ou bases). Acho que ele pode entrar na nossa equipa e tentaremos colocá-lo para bater (o jogador que, com o bastão de beisebol, procura acertar na bola que é lançada por um adversário, o lançador, e afastá-la o mais possível, para dar tempo aos seus companheiros de equipa para conquistarem bases; se conseguir lançar a bola para fora do campo, ganha automaticamente um ou mais pontos, consoante o número de bases conquistadas) até à nona partida.
Fiquei encantado quando Pedro abriu um grande sorriso ao ouvir a resposta do menino. Pediram então que ele calçasse a luva e fosse para o campo jogar.
No final da oitava partida, a equipa de Pedro marcou alguns pontos, mas ainda estava perdendo por três. No final da nona partida, a equipa de Pedro marcou novamente e agora com dois fora e as bases com potencial para a jogada decisiva, Pedro era o batedor que se seguiria.
Uma questão, porém, veio à minha mente: a equipa deixaria Pedro, de facto, rebater nestas circunstâncias e deitar fora a possibilidade de ganhar o jogo?
Surpreendentemente, foi dado o bastão a Pedro. Todos sabiam que isso seria quase impossível, porque ele nem mesmo sabia segurar o bastão. Porém, quando Pedro tomou posição, o lançador se moveu alguns passos para lançar a bola de maneira que Pedro pudesse ao menos rebater.
Foi feito o primeiro lançamento e Pedro balançou desajeitadamente e perdeu.
Um dos companheiros da equipa de Pedro foi até ele e juntos seguraram o bastão e encararam o lançador
.
O lançador deu novamente alguns passos para lançar a bola suavemente para Pedro.
Quando veio o lançamento, Pedro e o seu companheiro da equipa balançaram o bastão e juntos rebateram a lenta bola do lançador.
O lançador apanhou a suave bola e poderia tê-la lançado facilmente ao primeiro homem da base. Pedro estaria fora e isso teria terminado o jogo.
Ao invés disso, o lançador pegou a bola e lançou-a numa curva, longa e alta, para o campo, distante do alcance do primeiro homem da base.
Então todos começaram a gritar:
- Pedro, corre para a primeira base, corre para a primeira. Nunca na sua vida ele tinha corrido... mas saiu disparado para a linha de base, com os olhos arregalados e assustado.
Antes que ele alcançasse a primeira base, o jogador da direita teve a posse da bola. Ele poderia ter lançado a bola ao segundo homem da base, o que colocaria Pedro fora de jogo, pois ele ainda estava a correr.
Mas o jogador entendeu quais eram as intenções do lançador. Assim, lançou a bola alta e distante, acima da cabeça do terceiro homem da base.
Todos gritaram:
- Corre para a segunda, corre para a segunda base.

Pedro correu para a segunda base, enquanto os jogadores à frente dele circulavam deliberadamente para a base principal.
Quando Pedro alcançou a segunda base, a curta devolução adversária colocou-o na direcção de terceira base e todos gritaram:
- Corre para a terceira.
Ambas as equipas correram atrás dele gritando:
- Pedro, corre para a base principal.
Pedro correu para a base principal, pisou nela e todos os 18 meninos o ergueram nos ombros fazendo dele o herói, como se ele tivesse vencido o campeonato e ganho o jogo para a equipa dele."
"Naquele dia," disse o pai, com lágrimas caindo sobre face, "aqueles 18 meninos alcançaram a Perfeição de Deus. Eu nunca tinha visto um sorriso tão lindo no rosto do meu filho!"


Às vezes, dou comigo a pensar que o caminho para do aperfeiçoamento não precisa de ser descoberto: basta ser lembrado. Lembrado de como éramos quando éramos crianças...

Rui Bandeira

25 outubro 2007

A indumentária do maçon em Loja

Já aqui no A Partir Pedra deixei referenciada a indispensabilidade do uso, pelo maçon, em Loja, do avental e de luvas brancas. Mas não basta o uso destes acessórios para se poder estar em Loja. Existe um código de vestuário que define como os maçons se devem apresentar em Loja, como devem ir vestidos.

Esse código de vestuário varia de Obediência para Obediência, até de Loja em Loja, pode variar consoante as estações do ano e busca, essencialmente, garantir dois objectivos: o pontuar do decoro e da dignidade da presença do maçon em Loja e a manifestação do princípio, básico da Maçonaria, da Igualdade, pela semelhança da apresentação de todos os seus elementos, qualquer que seja a sua origem, posição social ou fortuna.

A exigência do uso de determinado tipo de vestuário marca, em primeiro lugar, que a presença em Loja deve ser, para o maçon um acto digno, um evento importante, na sua vida. Não se vai à Loja como se vai à praia, ou se está descontraidamente num churrasco com os amigos. Está-se com amigos, entre Irmãos, está-se descontraído, mas não em lazer, antes em trabalho - no mais digno trabalho do Homem, o auto-aperfeiçoamento.

Por outro lado, em Maçonaria todos são Iguais. Iguais perante o Grande Arquitecto do Universo, iguais porque todos imperfeitos, iguais porque buscando o mesmo objectivo, iguais na entreajuda. O uso de vestuário similar ilustra essa igualdade de condição. Em Loja todos se apresentam de forma muito semelhante. Não será pelo que cobre cada maçon em Loja que se distinguirá o pobre do rico, o letrado do trabalhador manual, o bem-nascido do que sobe na vida a pulso.

O código de vestuário varia bastante de Obediência para Obediência, em função da cultura, do meio envolvente, dos hábitos sociais, desde a maior exigência à maior descontracção. Na Loja onde fui iniciado, a minha Loja-mãe, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, Loja trabalhando (mais ou menos) em língua castelhana, integrada na Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceites da Alemanha e reunindo ao Oriente de Bona, o código de vestuário era estrito e exigente: só se podia comparecer em Loja de smoking! Essa era a regra naquela Obediência e é a regra em outras, sobretudo nos países mais ricos (e de climas menos quentes...). Nos Estados Unidos, país grande e diversificado, o código de vestuário varia de Grande Loja para Grande Loja e até de Loja para Loja, muito em função da localização, ambiente e cultura envolventes. Aqui exige-se smoking, ali demanda-se fato escuro, acoli exige-se smoking aos Oficiais da Loja, mas os demais membros podem comparecer apenas trajando fato escuro, acolá basta uma camisa lavada e botas limpas, que o meio é rural e é tudo gente de trabalho no campo, sem tempo nem disposição para grandes aperaltos...

Nas Lojas da GLLP/GLRP, o maçon deve apresentar-se trajando de fato escuro (preto, azul ou cinzento escuro), camisa branca lisa e gravata preta ou laço da mesma cor. É, porém, permitida a utilização de "traje de Verão", constituído por calças escuras (pretas, azuis ou cinzentas escuras), camisa branca e laço preto ou gravata preta. A utilização de traje de Verão ocorre por decisão do Venerável Mestre da Loja e decorre, obviamente, da temperatura ambiente na altura da reunião. Recentemente, foi admitida também a utilização de balandrau negro, cobrindo todo o vestuário, caso em que deixa de existir qualquer especificação quanto ao vestuário coberto. Esta possibilidade foi introduzida em resposta à necessidade de ultrapassar as dificuldades que vários obreiros sentiam quando as reuniões têm lugar em horário imediatamente a seguir ao horário laboral. Efectivamente, muitos Irmãos não tinham tempo para, terminado o seu horário de trabalho, irem a casa mudar de roupa e chegar pontualmente ao local de reunião. Com o uso de balandrau negro, cobrindo a roupa que foi usada no dia de trabalho, qualquer que ela seja, assegura-se as desejadas dignidade e similitude, ultrapassando-se o problema.

Maçonaria é também isto: o respeito pela Tradição com adaptação às exigências do tempo e do lugar.

Rui Bandeira

24 outubro 2007

O décimo quarto Venerável Mestre

O décimo quarto Venerável Mestre, que exerceu o ofício entre Setembro de 2003 e igual mês de 2004, foi Alberto R. S..

Fisicamente um homem meão, de aspecto maciço, de temperamento bem disposto e prazenteiro, Alberto R. S. exerceu o mandato com um notável equilíbrio entre acção e especulação, entre formação e execução.

Fora já um excelente Orador da Loja, tendo marcado esse ofício com um estilo directo e atento que, na minha opinião, se aproxima muito do paradigma correcto do exercício da função. Aliás, se não erro, foi ele o primeiro a estender a "linha de sucessão" informal da Loja Mestre Affonso Domingues até ao ofício de Orador, ascendendo a partir daí, sucessivamente a 2.º e 1.º Vigilante e Venerável Mestre. Nesse sentido, esta normal progressão numa informal "linha de sucessão" foi já o resultado da entrada da Loja no seu período adulto, calmo e cada vez mais bem organizado, permitindo o alargar da dita "linha de sucessão a mais dois ofícios e, muito recentemente, a sua reformulação, sempre em harmonia, calma e entendimento. Alberto R. S., além do ofício de Orador exercera já, como elemento efectivo do Quadro de Oficiais diversas outras funções. Recordo-me, designadamente, que fora o Tesoureiro do Quadro de Oficiais que eu escolhi, quando foi a minha vez de dirigir a Loja e que exercera, também com indiscutíveis qualidade, segurança e brilho, o ofício de Mestre de Cerimónias.

Alberto R. S. chegou, pois, à Cadeira de Salomão com uma variada, constante e profícua experiência. Estava tão bem preparado quanto um maçon pode estar para exercer o ofício de dirigir a Loja. Confiar-lhe o ofício não constituiu qualquer risco ou aposta, antes foi, claramente, um acto de serena e normal naturalidade. E Alberto R. S. em nada iludiu as expectativas!

Tal como anteriormente fora timbre, designadamente, de Jean-Pierre G., com Alberto R. S. muito cedo ficou claro que conhaque é conhaque, trabalho é trabalho. Até ao segundo anterior ao início da sessão, tínhamos entre nós um companheiro bem disposto, bonacheirão, amigo de contar umas larachas e apreciar umas piadas, contribuindo enormemente para a boa disposição geral. No exacto momento em que iniciava a sessão, passávamos a ter perante nós um Venerável Mestre atento, sério, esforçado e rigoroso. A hora era de trabalho - trabalhava-se: discutia-se, sugeria-se, decidia-se; pedia contas de encargos anteriormente confiados, verificava o andamento de todos os projectos em curso, corrigia o que havia a corrigir, assumia o que entendia dever assumir. No segundo imediatamente a seguir à sua saída da sala onde decorrera a reunião, tínhamos de volta o companheiro bem disposto e folgazão...

Não admira, portanto, que Alberto R. S. tenha gerido a Loja com tão bons resultados como os que obteve. No seu tempo a Loja cresceu, melhorou a sua organização, assegurou o êxito de todos os projectos. Sem grandes dificuldades nem exigências, aumentou a eficácia da acção do grupo. O mandato de Alberto R. S. foi um exemplo de sã e proveitosa gestão de um grupo de gente empenhada e unida.

Em todas as reuniões ocorridas no seu Veneralato, Alberto R. S. deixava aos obreiros uma pequena prancha traçada de sua autoria ou por si recolhida. Uma pequena alegoria, uma citação oportuna, uma análise de qualquer aspecto, um conselho, uma poesia, ou um qualquer outro texto para meditação foram sempre apresentados para lição dos obreiros. Como Venerável Mestre, Alberto R. S. nunca descurou a formação, o aperfeiçoamento, dos seus obreiros, nunca deixando de lhes lançar as sementes destinadas a germinar nos seus espíritos.

Alberto R. S. deixou ainda a sua marca na modernidade da Loja, dando execução a algo de que vínhamos falando, mas que ainda não fora concretizado: a página na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues. Solicitou e obteve, para isso, a colaboração, que se revelou profícua e valiosa, do seu 1.º Vigilante, que concebeu e realizou, na parte técnica, o sítio. Mas, ainda hoje, grande parte dos textos que se encontram no sítio da Loja são da autoria material de Alberto R. S..

O décimo quarto Venerável Mestre cumpriu brilhantemente a sua função e, sem dúvida alguma, entregou ao seu sucessor uma Loja um pouco melhor do que a que recebera do seu antecessor.

Rui Bandeira

23 outubro 2007

Ausencia

Tenho de facto andado ausente deste espaço, e vou continuar ausente por mais uns tempos.

As minhas atribuiçoes profanas conjuntamente com atribuiçoes familiares, passadas, presentes e futuras, e ainda as minhas atribuiçoes maçónicas presenciais ( instalaçoes de Veneraveis Mestre e de consagraçao de templos ) conjugadas com uma avaria no meu computador afastaram-me deste espaço.

Tema e Assunto tenho, e tenho mais umas perguntas para responder.

Prometo que voltarei, em força, eventualmente com sabedoria e esperançadamente com beleza.


Agradeço aqui os votos de parabens que me foram endereçados.

José Ruah

Parabéns ao Zé (Ruah)

Parabéns ao Zé... e a nós, que somos uns sortudos e podemos contar com a Amizade e o Companheirismo dele.

Ele fez anos, ontem, e os blogueiros não o esqueceram e mandam-lhe o Xi-Coração bem grandão (ele também não é pequeno) para ele caber dentro.

Daqui a 43 anos... reproduziremos este texto, e mandaremos outro Xi-Coração igual a este .

Blogueiros
(a vermelho, para ver se 4ª feira Te sai uma prenda durante a sessão do "rito escocês... simplificado")

22 outubro 2007

Curso de Pós-Graduação em Filosofia e Fundamentação Maçónica

Li recentemente, na Gazeta Digital, de Mato Grosso, Brasil, uma notícia que dava conta estar em curso, até 26 de Outubro, no Centro Universitário Cândido Rondon (Unirondon), o prazo para as matrículas no curso de pós-graduação em Filosofia e Fundamentação Maçónica. Este curso foi idealizado pelo Grande Oriente do Estado de Mato Grosso (GOEMT), em parceria com a Universidade e com o Instituto Creatio e, segundo o seu coordenador pedagógico, tem o objectivo de proporcionar maior capacidade teórica para o bom desempenho maçónico dos alunos.

A pós-graduação terá duração de um ano e meio. Durante o curso o aluno deverá escolher entre quatro linhas de pesquisa, entre as quais a Maçonaria Simbólica, que estudará simbologia, alegorias e ritos maçónicos e a Maçonaria Filosófica, que trabalhará o ensino da maçonaria filosófica em várias aspectos, como o discurso político, pedagógico-institucional, construção das práticas educativas e análise dos livros editados, sob o olhar da maçonaria filosófica contemporânea.

As aulas terão lugar quinzenalmente, aos sábados, das 7h30 às 12h e das 13h30 às 18h, e aos domingos das 7h30 às 12h. A primeira será terá lugar no dia 27 de Outubro.

A leitura desta notícia provocou em mim três diferentes e sucessivos estados de espírito.

O primeiro foi de satisfação, por ver que a Maçonaria vai já tendo lugar na Universidade.

O segundo, porém, foi de estranheza. Um curso de pós-graduação, co-organizado por um Grande Oriente para que a Universidade proporcione maior capacidade teórica para o bom desempenho maçónico dos alunos? Uma espécie de ano zero de maçonaria? Parece-me bizarro! A formação dos maçons deve ocorrer em Loja, não nos bancos universitários. O método maçónico absorve-se, não se ensina. O método maçónico adquire-se com a repetida prática dos rituais maçónicos, não com cursos universitários. A Maçonaria aprende-se e faz-se em Loja, não na Universidade. A Maçonaria tem uma organização e uma prática ancestral, diria artesanal, que, a meu ver, não coaduna bem com a "industrialização" do ensino académico.

Mas o terceiro estado de espírito já foi de aceitação com bonomia. Afinal de contas, levar a Maçonaria à Universidade é bom ou mau? É claro que é bom! Ensinar e aprender os fundamentos da filosofia maçónica e aprender noções de simbologia é bom ou mau? É claro que é bom! Se entendo que a Maçonaria se deve abrir ao exterior, então não posso discordar das diferentes e concretas formas de abertura que se vão criando... E, afinal, o saber não ocupa lugar.

Mas que ninguém se esqueça que, com ou sem curso, uma coisa é certa: a Maçonaria apreende-se em Loja e só em Loja!

Rui Bandeira

19 outubro 2007

A areia e a pedra

Circula por aí na Rede. Na sua simplicidade, não deixa de constituir um bom e sensato conselho quanto à forma de encararmos o que nos vai acontecendo ao longo da nossa vida. Vale a pena deixar aqui registado, para ser lido e meditado.

Conta uma história que dois amigos iam pelo deserto. Em determinada altura da viagem, começaram a discutir e um deles deu uma bofetada ao outro. Este, ferido na sua dignidade, mas sem nada dizer, escreveu na areia:

O MEU MELHOR AMIGO DEU-ME HOJE UMA BOFETADA.

Continuaram a caminhada até que encontraram um oásis, onde decidiram tomar banho.

Aquele que tinha sido esbofeteado começou a afogar-se, mas o seu amigo salvou-o. Depois de se ter recuperado, o esbofeteado e resgatado escreveu numa pedra:

O MEU MELHOR AMIGO SALVOU-ME HOJE A VIDA.

O outro, que tinha esbofeteado e salvo o seu melhor amigo, perguntou-lhe:

QUANDO TE FERI A DIGNIDADE, ESCREVESTE-O NA AREIA E AGORA ESCREVESTE NA PEDRA. PORQUÊ?

O primeiro respondeu-lhe:

QUANDO ALGUÉM NOS MOLESTA, DEVEMOS ESCREVÊ-LO NA AREIA, PARA QUE OS VENTOS DO PERDÃO O POSSAM DISSIPAR.

MAS QUANDO ALGUÉM NOS FAZ ALGO DE BOM, DEVEMOS GRAVÁ-LO EM PEDRA, PARA QUE NENHUM VENTO O POSSA APAGAR.

Aprendamos a escrever as nossas feridas em areia e a gravar em pedra tudo o que nos aconteça de bom. Além do mais, isso contribui para que sejamos muito mais felizes!

Rui Bandeira

18 outubro 2007

O décimo terceiro Venerável Mestre

António P. foi o décimo terceiro Venerável Mestre da loja Mestre Affonso Domingues. Exerceu o ofício de Setembro de 2002 a Setembro de 2003.

António P., um homem corpulento e afável, não tem o dom da palavra. Como muito boa gente, não consegue transmitir devidamente o seu pensamento quando fala em público. Ainda houve quem desmerecesse dele por isso. No entanto, ninguém ligou a quem tentou formular reservas a António P. por causa disso. António P. podia não ser o melhor dos oradores, mas sempre foi e é um excelente conversador, daqueles que transmite o seu pensamento e as suas emoções tanto pela palavra como pela postura, pelo gesto, pelo sorriso. Talvez seja por isso mesmo, por o seu registo de comunicação ser mais intimista, com uma afabilidade muito própria, que António P. não é bom orador. Decididamente, não foi talhado para "falar às massas", antes para conversar com os amigos.

António P. fora já oficial do meu Quadro, quando foi a minha vez de ocupar a Cadeira de Salomão. Então, escolhera-o para Editor, um ofício até então inexistente e que não voltou a haver, até agora. A sua função era a de preparar a publicação dos trabalhos produzidos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues. Na ocasião, António P. começou pelo princípio, isto é, por começar a localizar e reunir os trabalhos, tarefa que não teve oportunidade de terminar.

Entretanto, nos anos seguintes foi chamado ao exercício de outros ofícios em Loja. Foi 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do mandato de João D. P. e 1.º Vigilante no Veneralato de José M..

Quando chegou a sua vez de ocupar a Cadeira de Salomão, a Loja vivia já o período de estabilidade confortável em que, felizmente, ainda permanece. Nenhuns problemas especiais existiam e nenhuns problemas foram criados. António P. prosseguiu tranquilamente a gestão dos destinos da Loja. Sob a sua batuta, esta prosseguiu os seus normais trabalhos.

Mas António P. não se limitou a assegurar a rotina. No exercício do seu mandato, retomou aquilo que não lhe fora possível concluir, anos antes. Prosseguiu, então, a tarefa de recolha dos trabalhos dos obreiros da loja Mestre Affonso Domingues e concluiu essa tarefa, até ao tempo do seu mandato, recolhendo tudo o que era possível recolher.

Mas entretanto as coisas evoluíram. Neste início de século XXI, três anos são uma eternidade, mil e um dias e noites mudam muita coisa. O que, em 1999/2000 se projectava editar tradicionalmente, um livro, uma brochura, em 2002/2003 já integrava um paradigma que não era já o único. A entrada acelerada nas Novas Tecnologias aconselhavam a ter tudo preparado para as diferentes hipóteses de publicação. O livro não é já a única hipótese. Publicar um conjunto de textos já não implica necessariamente o suporte em papel. Também não o exclui... Mas um conjunto de textos pode agora ser publicado e estar disponível através da Rede Mundial de Computadores, a Internet.

Portanto, António P. não se limitou a reunir os trabalhos. Passou-os a todos para suporte digital. Graças a ele, muitos trabalhos, quase todos, elaborados ao longo dos anos pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, estão disponíveis em suporte informático, aptos para serem publicados, quer digitalmente, quer em suporte de papel.

Este trabalho precioso certamente vai facilitar grandemente a tarefa do actual Arquivista e do actual responsável pelo sítio na Rede da Loja Mestre Afonso Domingues, bem como aos que lhes sucederem nas funções.

Como e quando (e se...) será publicado o que os obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues produziram é assunto que ainda está a ser ponderado. Mas uma coisa temos já certa. Os trabalhos estão preservados e digitalizados. Os muitos golpes de malhete e cinzel efectuados pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues no desbastar das suas pedras brutas estão registados e guardados. Para que quem nos siga possa, se quiser, consultá-los, lê-los, aprender com eles, criticá-los, discordar ou concordar, ou, simplesmente, satisfazer a sua curiosidade. E como é interessante rememorar trabalhos feitos anos atrás por jovens aprendizes que hoje são Mestres experientes e até já ex-Veneráveis...

Essa possibilidade temo-la hoje e tê-la-ão os que virão depois de nós, em muito graças ao trabalho do António P., um maçon que não foi nem é um bom orador, mas mostrou ser um excelente trabalhador e um Venerável Mestre que deixou obra feita.

Rui Bandeira

17 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América" - 2

Afinal consegui ver o documentário. E gostei. É um documentário sério, bem feito e, sobretudo, com rigor factual. Com efeito, tanto quanto me pude aperceber, todos os factos ali mencionados são rigorosamente verdadeiros. Quanto à sua interpretação ou aos comentários em relação a eles produzidos, posso concordar ou discordar, achar que está certa ou errada, mas impõe-se reconhecer que a postura dos autores do documentário é equilibrada e sensata.

É certo que lá vieram à baila os símbolos maçónicos da nota de dólar e o projecto urbanístico de Washington e ainda o caso Morgan. Mas tudo isso veio a propósito, foi devidamente enquadrado e inserido num relato cronológico da instauração e evolução da Maçonaria em solo americano, feito com uma louvável objectividade jornalística.

Não lograram fugir à tentação de formular questões sensacionalistas e de verbalizar suspeitas sem fundamento? Não, não lograram. Mas o documentário é feito por quem está de fora da Maçonaria e para quem está de fora da Maçonaria. É natural que, por desconhecimento, tenham sido formuladas. É natural que quem está de fora se interrogue sobre o que realmente é a Maçonaria e sobre a razão da sua fama de secretismo. Se tal não nos agrada, somos nós, maçons, que temos de fazer alguma coisa em relação a isso, não quem está de fora e se interroga a nosso respeito.

É a nós, maçons, que cabe a tarefa de desmistificar a nossa fama de secretismo, elucidando sobre os nossos princípios, os nossos objectivos e sobre o nosso método. E também esclarecendo as razões porque não gostamos de divulgar as poucas coisas que não divulgamos. Há tempos, publiquei, aqui no A Partir Pedra, um texto em que, a propósito da Cerimónia de Iniciação, julgo ter esclarecido, de forma entendível por toda a gente, porque não divulgamos como é essa cerimónia. Qualquer pessoa de boa fé entende a lógica da razão apresentada e, assim, não alimenta suspeitas infundadas. Se assim nós, maçons, procedermos, se colocarmos à disposição do conhecimento público tudo aquilo que não é matéria reservada nossa e se, em relação a esta, dissermos claramente que é reservada e apresentarmos a razão por que o é, de forma clara e compreensível, faremos mais pelo derrubar dos preconceitos contra a Maçonaria do que com mil polémicas com os histéricos das teorias a conspiração...

O documentário em causa apresentou factos objectivamente verdadeiros. Efectuou análises sensatas e especulações compreensíveis. Referenciou, mais do que uma vez, a irrazoabilidade das teorias da conspiração e das posições anti-maçónicas dos fundamentalistas religiosos. Formulou perguntas que é natural que quem está de fora formule. É, em resumo, um trabalho sério e de qualidade. Se e quando o canal Infinito o retransmitir, ou o transmitir noutros pontos do globo, recomendo que seja visto por quem tem interesse pela Maçonaria.

Rui Bandeira

16 outubro 2007

15001 blogues aderem ao Dia de Acção pelo Ambiente

O anúncio da entrega do Prémio Nobel da Paz a um americano só se explica pelas razões que acompanham essa decisão.
De facto a grande maioria das expectativas estiveram bem longe deste premiado, mas é preciso reparar atentamente no americano que foi premiado e as razões aduzidas.
Não se trata de um americano qualquer, mas de um homem que tem feito da defesa do ambiente uma cruzada (bem paga, mas cruzada !) de esclarecimento pela necessidade de protecção do ambiente, percorrendo o mundo (esteve em Portugal há poucos meses) ensinando, divulgando o que está mal e e apontando a maneira de fazer bem.
É claro que todas as questões relacionadas com o ambiente têm a ver com todos nós, com a manutenção da vida terrestre (pelo menos no formato que conhecemos e em que existimos) e com o futuro dessa mesma vida, qualquer que seja o modelo que se considere.
Também é claro que esta decisão não é completamente inocente, sabemos que os Estados Unidos estão em plena corrida eleitoral, que a administração americana actual se está nas tintas para a saúde ambiental do planeta e que a arma do ambiente, quando usada a preceito, rende votos.

Bom, mas mesmo depois de tudo isto espremido, continuo a pensar que toda a visibilidade que seja dada a esta questão é ponto a favor da humanidade.
E sendo uma questão que tem a ver com o Homem, é certamente uma questão que tem a ver com os Maçons e a Maçonaria.
São muitos, felizmente, os maçons envolvidos em causas ambientais, na criação e gestão dos parques naturais, onde muitas espécies animais encontram maneira de se salvarem da destruição do seu meio de sobrevivência natural.

No estado actual da humanidade todos somos chamados à protecção da vida e nesse aspecto esta designação para o Nobel da Paz tem um efeito de marketing que é bem vindo.
Não será o mais desinteressado, mas desta vez o fim é capaz de justificar este meio.

Repito a chamada de atenção para as declarações da jovem Severn Suzuki durante a ECO92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Repito… não percam.

http://www.youtube.com/watch?v=y80zyIuJz28

E, porque procuramos um mundo perfeito aproveito também para uma notinha um pouco à margem, e se calhar nem tão à margem assim…, e que tem a ver com o estado desgraçado da condução nas estradas portuguesas.
E aí temos outro ponto de contacto com a causa ambiental, porque a reciclagem dos restos dos automóveis não consegue ainda ser completa.

É só uma estorinha para dispor… (como vocês entenderem) :



Era uma vez um homem perfeito que conheceu uma mulher perfeita.

Namoraram e um dia casaram. Formavam um casal perfeito. Numa noite de Natal,
ía o casal perfeito por uma estrada deserta quando viram alguém na berma
pedindo ajuda. Como eram pessoas perfeitas pararam para ajudar.


Essa pessoa era nada menos do que o Pai Natal, cujo trenó estava avariado.
Não querendo deixar milhões de crianças decepcionadas, o casal perfeito
ofereceu-se para ajudá-lo a distribuir os presentes. O bom velhinho entrou
no carro e lá foram eles.
Infelizmente, o carro envolveu-se num acidente e somente um dos três ocupantes sobreviveu.

Pergunta: quem foi o sobrevivente do trágico acidente?
A mulher perfeita o homem perfeito ou o Pai Natal?

(Leia abaixo)

































A mulher perfeita sobreviveu.

Na verdade ela era a única personagem real desta história. Toda a gente sabe
que o Pai Natal e o homem perfeito não existem.


(Se você for mulher pode ficar por aqui, assim toda contente, a piada acaba aqui.
Os homens podem continuar a ler)





















Agora, se o Pai Natal não existe, nem o homem perfeito, fica claro que quem
conduzia era a mulher perfeita, o que explica o acidente.


Se você é mulher e leu até aqui, fica provada mais uma teoria: as mulheres
são muito curiosas e nunca ouvem o que se lhes diz.




A curiosidade é inimiga do ambiente !


JPSetúbal

15 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América"

O canal Infinito, incluído no conjunto de canais da grelha básica da TV Cabo, em Portugal, emite amanhã, terça-feira, 16 de Outubro, entre as 20 e as 21 horas, com repetição na madrugada seguinte, entre as 0,30 h e a 1,30 horas, um documentário que anuncia com o curioso título de "Estados Maçónicos da América". Este documentário faz parte de um conjunto de quatro, de produção anunciada como própria do canal, com o título genérico de "Sociedades Secretas".

No texto da promoção do documentário, referencia-se que mais de metade dos fundadores dos Estados Unidos eram maçons - o que é rigorosamente verdade. Aliás, parece indubitável que esses ilustres Irmãos de então em muito influenciaram a consagração dos grandes princípios democráticos que é feita na Constituição dos Estados Unidos, tal como a que já tinha tido lugar de destaque na Declaração de Independência daquele País.

Nesse sentido, o texto de promoção do programa é rigorosamente verdadeiro.

Não ficarei, no entanto, até pelo título escolhido, nada admirado se este documentário mais não for do que a acéfala repetição das teorias da conspiração do costume, de que os maçons dominam o Poder, nos Estados Unidos, e executam um paciente trabalho conducente à instauração de uma Nova Ordem Mundial, obviamente sob o seu domínio... E, provavelmente, lá virá a costumada referência aos símbolos maçónicos na nota de dólar americano ou a mil vezes apresentada "prova" da absoluta e secreta influência dos maçons que é constituída pela organização urbanística de Washington... Enfim, o trivial, que se poderá ler, além de milhentos outros locais, aqui.

Se assim for, será pena mas, enfim... os doidinhos das teorias da conspiração também têm direito ao seu tempo de antena... e sempre nos podemos rir um pouco...

Se o documentário, ainda que porventura também apresentando os pontos de vista dos "teóricos da conspiração", também efectuar a crítica desses delírios ou, pelo menos, apresentar também os pontos de vista contrários, então, sim, será um trabalho com algum equilíbrio e merecedor de aplauso.

Em qualquer caso, acho que vale a pena visionar o programa. Eu duvido que possa fazê-lo, mas isso não é razão para aqui não lhe fazer referência. Quem vir o documentário e quiser deixar no A Partir Pedra as suas impressões, o seu juízo, a sua opinião, é bem-vindo para o fazer. A caixa de comentários não existe para outra coisa...

Uma última nota para todos aqueles (e são, com grande alegria nossa, muitos) que acompanham o A Partir Pedra a partir de outros pontos do globo, que não Portugal - mais de metade dos nossos visitantes são do Brasil -: só posso, como é óbvio, divulgar aqui este tipo de informações em relação ao País onde me encontro, pois é em relação a ele que as obtenho. Porém, a prática das cadeias de comunicação internacionais (e, até julgando pela origem de grande parte da sua programação, o Infinito está implantado e emite na América Latina) é a de "rodar" estes documentários pelas várias regiões para onde emitem. É natural, pois, que, se não foi já, este documentário venha, brevemente, a ser emitido em outros pontos do globo. Se assim suceder e se alguém quiser ter o trabalho de me avisar, terei todo o gosto em aqui referenciar a apresentação do programa noutras localizações.

Rui Bandeira

12 outubro 2007

Profanidades


Uma das mais interessantes características de um blogue é a possibilidade que existe de uma profícua interacção entre quem escreve e quem lê, resultante da utilização da caixa de comentários. Essa interacção, se cultivada, permite a quem escreve ter uma melhor noção dos interesses de quem lê, permite a quem comenta, para além de exprimir a sua opinião, inquirir, sugerir, afinal influenciar o que se escreve no blogue. No limite, uma profícua interacção entre autores de textos e comentadores faz de um blogue um espaço comum de interesse intelectual, evoluindo, não apenas ao sabor da vontade do(s) seu(s) autor(es), mas no percurso dos caminhos desbravados, em conjunção, por quem escreve e por quem lê e comenta.

Pessoalmente, sempre que um comentário me estimula o interesse pela referência a qualquer assunto, prefiro, em vez de responder, sucintamente, na própria caixa de comentários, elaborar e publicar um ou mais textos sobre o tema. O que tem a consequência de, por vezes, alterar o rumo da publicação de textos.

Vem isto a propósito de um comentário que nuno_r (que anteriormente se identificava como o profano) produziu relativamente ao texto O maçon e as luvas. Nele, nuno_r escreveu, designadamente:

Já foi abordado em post anterior o Avental e agora as Luvas.
Como estamos a falar de "peças de vestuário", gostava, se possível, saber como faz um Maçon para adquirir estas peças.
É fácil comprá-las no mundo profano ou é a Loja (ou Grande-Loja) que fornece ou as vende aos Maçons?

Antes do mais, é justo referir que o "culpado" (no sentido de ter sido ele o catalisador de tal facto) de ultimamente eu ter escrito dois textos sobre "peças de vestuário" (O maçon e as luvas e O avental do Aprendiz) foi precisamente o nuno_r que, então ainda como o profano, perguntou, num comentário ao texto A integração do Aprendiz (II), a razão porque o Aprendiz usa a aba do seu avental levantada. Essa questão despertou a minha tendência para a associação livre e, da resposta à pergunta, saltei para o avental e deste para as luvas. Hoje, tencionava escrever mais um texto sobre vestuário, mas a nova questão do nuno_r leva-me a mais uma deriva. Assim, o projectado texto sobre vestuário fica para um dia destes e... vamos então às profanidades (em jeito de homenagem ao interesse do nuno_r e, já agora, aproveitando para um titulozito jeitoso...) de onde e como se adquirem luvas e aventais de maçons.

Adquirir luvas brancas é fácil: qualquer boa luvaria ou estabelecimento de peças de vestuário com secção de luvaria as tem disponíveis.

Já para adquirir luvas enfeitadas com o esquadro e o compasso, bem como para adquirir aventais de maçon, a coisa fia mais fino: o mercado de interessados é muito pequeno em Portugal e não se compram luvas e aventais todos os dias, nem sequer todos os anos, e portanto o interesse comercial nesses artefactos tem a mesma dimensão.

Não sei o que se passa noutras estruturas mas, quanto à GLLP/GLRP, esta dispõe de um fornecedor importador de artefactos maçónicos que lhe garante o fornecimento do que é necessário. Qualquer maçon da GLLP/GLRP pode, consequentemente, através da sua Loja ou dirigindo-se directamente aos serviços da GLLP/GLRP, adquirir o que precisa.

Quando alguém é iniciado, a sua Loja fornece-lhe o avental de Aprendiz e as luvas. O custo destes objectos está já integrado na jóia de iniciação que o candidato pagou. Também quando o maçon é passado ao grau de Companheiro e elevado ao grau de Mestre a Loja lhe fornece os respectivos aventais. E também os respectivos custos estão incluídos no pagamento a que o maçon procede aquando desses actos.

Nenhum maçon é, porém, obrigado a adquirir os seus artefactos através da sua Loja ou Grande Loja. Pode adquiri-los onde lhe der jeito ou onde pretenda. E qualquer Loja pode obter os artefactos para disponibilizar aos seus obreiros onde pretender. Não tem qualquer obrigação de os adquirir na Grande Loja ou ao fornecedor desta. Por exemplo, a Loja Mestre Affonso Domingues adquiriu parte dos artefactos que a ela, Loja, pertencem, a um fornecedor no estrangeiro, mediante encomenda efectuada por Internet e os seus obreiros estão também a habituar-se a fazer o mesmo, pois consegue-se artefactos de boa qualidade a preços favoráveis. Normalmente, quando alguém projecta efectuar uma encomenda, inquire se mais alguém quer aproveitar para encomendar e vem tudo ao mesmo tempo. Sempre se poupa nos custos de transporte...

Sítios na Internet dedicados à comercialização de objectos e artefactos maçónicos, há vários. Basta efectuar uma pesquisa num motor de busca. Mas atenção à língua em que se faz a pesquisa... Se for em português, provavelmente aparecem páginas de fornecedores no Brasil (por exemplo, o Triângulo Atelier Maçónico); se pesquisar em francês, muito provavelmente vai deparar com páginas de fornecedores franceses (por exemplo, Arts et Symboles), em inglês, obtém páginas de fornecedores ingleses ou americanos (por exemplo, Central Regalia ou The Freemason Masonic Supplies), etc..

O mercado é grande...

Rui Bandeira

11 outubro 2007

O maçon e as luvas

Em reunião de Loja ou de Grande Loja, os maçons usam sempre luvas brancas. Pode-se dizer que o uso de avental e de luvas brancas é a marca distintiva dos maçons.

Para além da cor, não existem requisitos especiais quanto ao tipo e qualidade de luvas a serem usadas. Podem ser de pele, algodão ou outro tecido. Podem ser completamente brancas ou ter estampado ou bordado algum enfeite. É muito utilizado um modelo de luvas com o desenho do compasso e do esquadro.

Tal como o avental, a origem do uso das luvas deve buscar-se na Maçonaria Operativa. O trabalhador em pedra, em muitas das suas tarefas, necessitava de proteger as mãos dos acidentes ou, mesmo, das normais consequências do manuseamento de materiais duros, rugosos, pesados, com arestas vivas, etc.. O uso de luvas previne pequenos ferimentos, arranhões, abrasões, decorrentes desse manuseamento. Com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, manteve-se a tradição do uso de luvas.

Mas se a tradição se manteve, ironicamente o propósito inverteu-se. É que, na Maçonaria Especulativa, o uso de luvas não se destina a proteger as mãos do ambiente, mas, pelo contrário, a proteger o ambiente das mãos. Explicando:

Uma das regras que é frequentemente lembrada aos maçons é a de que estes "devem deixar os metais à porta do Templo", isto é, não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar.

O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

No entanto, o maçon, se busca aperfeiçoar-se, é porque se reconhece imperfeito. E imperfeito em si mesmo. Por muito que cuide, por muito que faça, embora procure deixar os metais à porta do Templo, alguns inevitavelmente ele transporta para o seu interior, porque ínsitos (ainda, espera-se...) nele mesmo. Então, assim se reconhecendo imperfeito, logo poluidor do ambiente do Templo, logo susceptível de dificultar o aperfeiçoamento de seus Irmãos - quando o objectivo comum é precisamente o inverso... - o maçon simbolicamente protege o ambiente e seus Irmãos de suas imperfeições, usando as luvas. Assim, a sujidade que ainda permanece em suas mãos não conspurca o Templo, os objectos nele existentes, os seus Irmãos.

Ou seja, o maçon em Loja usa luvas brancas, não para se proteger do que, exterior a si, o possa afectar, mas para proteger o ambiente e os demais daquilo que, existente em si, os possa prejudicar.

Este, no meu entendimento, a lição que se pode extrair do simbolismo do uso das luvas pelos maçons em Loja.

Daqui decorre, por exemplo, que, ao contrário da prática social, em que o enluvado se desluva para cumprimentar outrem, os maçons, no interior do Templo saúdam-se sempre com as respectivas luvas postas.

Há, no entanto, três situações correntes em que o maçon em Loja deve retirar uma ou ambas as luvas. Uma, quando manuseia dinheiro, pois, por natureza, o vil metal conspurca - e o seu manuseio em Loja, designadamente quando se reúnem fundos para acções de solidariedade, é um mal necessário - e não deve assim sujar a luva, que deve permanecer limpa; outra, quando o maçon assume compromissos sobre as três Grandes Luzes da Maçonaria - o Volume da Lei Sagrada, o Compasso e o Esquadro -, caso em que apõe a mão nua sobre esses três artefactos, em sinal de que o compromisso é assumido pelo Homem inteiro, com suas qualidades e defeitos, com suas forças e suas imperfeições, confiando em que o contacto entre essas três Grandes Luzes e si próprio redundará no seu aperfeiçoamento, não na perda de qualidades daquelas; a terceira, na Cadeia de União, em que os maçons se dão as mãos, despojadas de luvas, em sinal de união e de comunhão de esforços, juntando-se numa Cadeia em que cada um se reconhece como o elo mais fraco, mas em que todos buscam fortalecer-se, transmitindo-se e unindo todos suas forças e fraquezas, cientes de que as forças de todos combinadas gerarão um poder mais forte do que a mera soma delas e de que as fraquezas de cada um mais eficazmente são combatidas com a ajuda de todos.

Eis porque o maçon usa luvas brancas e eis por que razão pontualmente as não usa.

Rui Bandeira

10 outubro 2007

O duodécimo Venerável Mestre

Eleito, como habitualmente, em Julho, José M. foi o duodécimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, tendo exercido o ofício entre Setembro de 2001 e Setembro de 2002.

José M., oriundo da primeira geração de iniciados, logo no princípio do funcionamento da então GLRP, hoje GLLP/GLRP, era já, na altura em que assumiu o exercício da função, um maçon muito experiente. Desde há vários anos que colaborava activamente com o Grão-Mestrado, particularmente no apoio aos maçons e Lojas no Norte e Nordeste do País. Algumas dessas Lojas tinham contado com a sua activa colaboração nos primeiros tempos da sua existência. Já fora Venerável Mestre de uma Loja no Nordeste Transmontano, pelo menos, antes de assumir idêntica função na Loja Mestre Affonso Domingues.

José M. há vários anos que dispersava o seu esforço por várias Lojas e na estrutura da Grande Loja. Nunca deixou, porém, de integrar o Quadro de Obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues e de comparecer às suas reuniões com a assiduidade que a necessidade de atender a várias solicitações lhe permitia.

Mal comparado, José M. era, desde há vários anos, como que o "Ministro dos Assuntos Exteriores" da Loja. Devido ao seu intenso contacto com as demais estruturas da Obediência, conhecia e era, já então, praticamente conhecido de toda a gente na organização. Veiculava para a Loja o que se passava nas demais estruturas da Obediência; certamente que transmitia a essas outras estruturas o sentir da Loja Mestre Affonso Domingues.

Internamente, para além de ter exercido, mais formal ou mais esporadicamente, praticamente todos, senão mesmo todos, os outros ofícios em Loja, fora, dois anos antes, o 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do meu Veneralato e fora o 1.º Vigilante do João D. P.. Cumprira, pois, o normal percurso (então apenas restrito aos Vigilantes; agora incluindo mais ofícios) que desembocava na Cadeira de Salomão.

José M. dava, pois, todas as garantias de um sereno e profícuo exercício da função, tanto mais que a sua ascensão ao ofício decorrera com toda a normalidade e seguindo todos os passos certos e aconselháveis. Digamos que as suas "habilitações curriculares" eram perfeitas para a função.

Com todas estas boas fundações, como foi então o edifício do seu Veneralato? Foi... sólido... pacato... eficiente... pacato... suave... pacato... calmo... pacato..., etc.... pacato...

É curioso como, quando as coisas correm bem, quando se processam com normalidade, sem sobressaltos, nos deixam apenas uma difusa lembrança na memória!

O mandato do José M. correu bem, correu normalmente, sem sobressaltos, fazendo-se o trabalho que se tinha de fazer, inquirindo-se quem havia que inquirir, iniciando-se quem havia para iniciar, passando-se a Companheiro quem estava na altura de ser passado a Companheiro, elevando-se a Mestre quem justificava a elevação a Mestre, apresentando-se e assistindo-se à apresentação de pranchas, assegurando-se as iniciativas de solidariedade e de convívio social que a Loja já se habituara a assegurar. Em resumo, normalidade absoluta!

Costuma-se dizer que gente feliz não tem história. Será talvez caso para dizer que Loja feliz não sobressai na nossa memória...

O mandato de José M. integra-se numa sucessão de mandatos em que a Loja, atingida já a sua maturidade, apreciava algo que até então, raramente tivera: a possibilidade de trabalhar numa reparadora rotina!

Este período de aparente ausência de acontecimentos durou alguns anos - e constitui um problema para quem procura registar a memória da Loja... - e, porventura, durará ainda. Mas engana-se quem porventura pense que é um período de calmo repouso, se nada feito. O que se inaugurou com o mandato do José M. foi um período de trabalho calmo, porque organizado, de evolução sem sobressaltos, de construção de subtis laços ligando a Loja aos seus membros e estes entre si, que, paulatinamente, foram criando, o ambiente acolhedor, responsável e agradável que se continua a viver na Loja e que todos esperamos que se continue, indefinidamente, a verificar. A Loja deixou de necessitar de reagir com força, união e determinação aos ventos que por vezes a abanaram; passou a navegar airosamente aproveitando as quase imperceptíveis correntes que a transportam do passado para o futuro.

José M., com toda a sua experiência, foi o Venerável Mestre ideal para iniciar este período de tranquila bonança. Também para se guiar a nau com rumo certo em mar bonançoso é preciso ser hábil e seguro. José M. foi-o: não inventou o que não havia necessidade de ser inventado, mostrou que é possível e desejável e profícuo trabalhar na rotina da Maçonaria e assim também estreitar os laços entre os maçons. Ao assegurar a normalidade com... normalidade, José M. mostrou à Loja que dirigi -la não é ser voluntarista, é assegurar que seja feito o que deve ser feito, quando deve ser feito. O facto de o seu exemplo ter frutificado e de a Loja, desde então, se ter habituado a vogar serenamente no mar calmo do seu trabalho de rotina, constitui o legado que o seu Veneralato deixou à Loja. Em boa hora teve a Loja à sua frente um elemento experiente que não buscou brilhar, mas apenas assegurar serenamente o exercício da sua função, pela forma como, naqueles tempo e lugar, a função devia ser exercida!

Os tempos de calmaria e bonança da idade adulta da Loja, que visivelmente foram sentidos a partir do Veneralato do José M. podem causar dificuldades a quem procura registar a memória da Loja. Mas em tudo o resto são favoráveis e agradáveis!

Rui Bandeira

09 outubro 2007

O avental do Aprendiz

Em Loja, o Aprendiz Maçon usa um avental rectangular completamente branco, com uma aba superior, de forma triangular, igualmente integralmente branca, que é usada levantada.

Ensina o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite – aquele que é praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues – que a cor branca do avental simboliza a pureza do seu coração, recomendando ainda ao Aprendiz que evite conspurcar o seu avental.

Em determinada passagem do mesmo Ritual, o Aprendiz é informado de que deve usar o avental com a aba levantada, sem que sejam dadas quaisquer explicações ou justificações para essa determinação.

Pese embora o facto de o Ritual apresentar a cor branca do avental de Aprendiz como símbolo de pureza, é minha convicção de que a escolha dessa cor tem uma origem muito mais prosaica.

Retenhamos, antes do mais, que a Maçonaria Especulativa, tal como foi fixada no século XVIII, em Inglaterra, deriva de uma Maçonaria Operativa, existente desde, pelo menos, há alguns séculos atrás, que regia o ofício dos construtores em pedra e que agrupava os respectivos profissionais, nas suas diversas vertentes (Mestres de Obras ou Arquitectos, Pedreiros, Canteiros, Escultores, etc.).

O uso de avental por profissionais de diversas profissões tem origens antigas e permanece actual. Os ferreiros e ferradores usavam avental e, pelo menos aqueles, ainda hoje usam; os cozinheiros usavam e usam avental; os trabalhadores em pedra usavam avental, etc.. O propósito do uso desta peça é evidente: a protecção da roupa envergada pelos respectivos portadores, evitando que esta seja suja ou danificada pelos materiais trabalhados pelo profissional.

Naquelas épocas, o nível de vida dos artesãos não era propriamente desafogado. A protecção da sua roupa era-lhes indispensável, o avental de protecção utilizado era confeccionado no material que, exercendo essa protecção, fosse mais abundante e barato.

Os aventais eram, assim, confeccionados na matéria-prima que então abundava na Europa e era barata: a pele de ovelha, com a respectiva lã.

A razão porque o avental era branco decorre assim do prosaico facto de a lã ser dessa cor! E obviamente que não se ia encarecer o artefacto tingindo-o, porquanto se tratava de uma peça de trabalho, destinada a ficar suja no decorrer do trabalho, não de uma peça de adorno.

Não era apenas o Aprendiz de trabalhador em pedra que usava avental de pele e lã branca. Eram todos os trabalhadores em pedra.

Evidentemente que, com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, a razão do uso dessa peça alterou-se, passando tal uso a ter valor simbólico, primeiro, de distinção de grau, seguidamente, e de adorno finalmente (particularmente nos Altos Graus e em Grande Loja, em que, por vezes, são utilizados vistosos, belos - e caros! - aventais). E, com essa transição, o avental perdeu o seu valor de protecção de vestuário. Daí que, enquanto que, nos tempos da Maçonaria Operativa o avental se destinava a ser sujo em vez da roupa que ele protegia, com o advento da Maçonaria Especulativa essa necessidade desapareceu e, portanto, passou a desejar-se que permaneça sempre limpo, quer material, quer simbolicamente, neste plano representando a pureza de carácter que o seu portador deve ter e que deve procurar sempre, mais e mais, aperfeiçoar.

O avental branco, em bom rigor, não é o avental do grau de Aprendiz: é o avental do maçon! Aliás, ainda hoje, em muitas Lojas dos Estados Unidos é comum entregar-se àquele que é iniciado um avental de pele de ovelha, com lã, branco, o qual é religiosamente guardado e nunca utilizado pelo maçon seu proprietário, a não ser em ocasiões festivas ou cerimoniais. Qualquer que seja o grau de quem o usa, o avental de pele e lã branco é ali utilizado como peça de adorno cerimonial!

Ainda hoje, em todas as Obediências, o avental branco pode ser usado por qualquer maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade. As únicas diferenças são que, por um lado, o Aprendiz só pode usar avental branco, enquanto que os maçons de outros graus podem usar o avental branco ou o do seu grau; e, por outro, que o Aprendiz deve usar o avental branco com a respectiva aba levantada, enquanto que os demais maçons, quando usam avental branco, o fazem com a respectiva aba baixada.

O actual Grão-Mestre da GLLP/GLRP, Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia utiliza habitualmente um singelo, mas belíssimo, avental todo branco, adornado apenas por um discreto bordado, também branco, assim simbolizando que até mesmo o Grão-Mestre se deve sempre considerar um eterno Aprendiz.

Quanto à razão do uso do avental com a aba levantada pelo Aprendiz (e aqui, efectivamente, só por este), não explicada ou justificada no ritual, deve buscar-se também nas raízes operativas da Maçonaria e na função de protecção do avental, importadas e adaptadas para a Maçonaria Especulativa. Porque o Aprendiz ainda não é versado nem experiente na Maçonaria, porque é natural que cometa erros, porque ainda está aprendendo a trabalhar a pedra bruta do seu carácter, a sua necessidade de protecção é simbolicamente maior. Daí que deva aumentar a área de protecção proporcionada por essa peça, para tal usando a respectiva aba levantada.

Quando as mais agudas arestas do seu carácter estiverem já trabalhadas, quando esse carácter se tiver já aperfeiçoado e o maçon não o trabalhe já como uma pedra bruta, antes o cinzele como se faz a uma pedra cúbica, então a necessidade de protecção terá diminuído e o maçon poderá então passar a usar o seu avental com a aba baixada. Mas, quando assim for, já, em reconhecimento do esforço que efectuou, os Mestres da Loja providenciaram o seu aumento de salário – e já não será Aprendiz!

Rui Bandeira