16 novembro 2006

Tolerância

Hoje é o Dia Internacional da Tolerância.

Mau sinal, quando se cria um dia internacional de qualquer coisa: quer dizer que é preciso chamar a atenção para ela, sobretudo para a sua falta...

A Tolerância não é a descuidada postura que deriva de um complexo de superioridade em relação ao outro.

Pelo contrário, a Tolerância deriva do reconhecimento das nossas próprias imperfeições, dos nossos próprios defeitos, das nossas próprias deficiências. É reconhecendo que não somos perfeitos, que muito temos a melhorar, que entendemos que temos de aceitar os defeitos, as imperfeições dos outros. Porque, afinal, eles também têm de lidar com os nossos defeitos, com as nossas imperfeições...

O maçon tem a estrita obrigação de praticar a tolerância, de não estigmatizar a diferença, de, pelo contrário, conviver com ela e com ela aprender e se enriquecer, ao mesmo tempo enriquecendo o outro.

O maçon não necessita, pois, de um Dia Internacional da Tolerância. Mas pode, e deve, aproveitar esse dia para chamar a atenção para a sua necessidade.

O Dia Internacional da Tolerância foi criado em 16 de Novembro de 1995, através da proclamação e assinatura, no âmbito da UNESCO (organização das Nações Unidas para a educação, a ciência e a cultura), da

Declaração de Princípios sobre a Tolerância

Decididos a tomar todas as medidas positivas necessárias para promover a tolerância nas nossas sociedades, pois a tolerância é não somente um princípio relevante, mas igualmente uma condição necessária para a paz e para o progresso económico e social de todos os povos,

Declaramos o seguinte:

Artigo 1º - Significado da tolerância

1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. Não só é um dever de ordem ética; é igualmente uma necessidade política e jurídica. A tolerância é uma virtude que torna a paz possível e contribui para substituir uma cultura de guerra por uma cultura de paz.

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes de tudo, uma atitude activa fundada no reconhecimento dos direitos universais da pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. Em nenhum caso a tolerância poderá ser invocada para justificar lesões a esses valores fundamentais. A tolerância deve ser praticada por indivíduos, pelos grupos e pelo Estado.

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo (inclusive o pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito. Implica a rejeição do dogmatismo e do absolutismo e fortalece as normas enunciadas nos instrumentos internacionais relativos aos direitos humanos.

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade. Significa aceitar o facto de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.

Artigo 2º - O papel do Estado

2.1 No âmbito do Estado, a tolerância exige justiça e imparcialidade na legislação, na aplicação da lei e no exercício dos poderes judiciário e administrativo. Exige também que todos possam desfrutar de oportunidades económicas e sociais sem nenhuma discriminação. A exclusão e a marginalização podem conduzir à frustração, à hostilidade a ao fanatismo.

2.2 A fim de instaurar uma sociedade mais tolerante, os Estados devem ratificar as convenções internacionais relativas aos direitos humanos e, se for necessário, elaborar uma nova legislação a fim de garantir igualdade de tratamento e de oportunidades aos diferentes grupos e indivíduos da sociedade.

2.3 Para a harmonia internacional, torna-se essencial que os indivíduos, as comunidades e as nações aceitem e respeitem o carácter multicultural da família humana. Sem tolerância não pode haver paz e sem paz não pode haver nem desenvolvimento nem democracia.

2.4 A tolerância não pode ter a forma de marginalização dos grupos vulneráveis e de sua exclusão de toda participação na vida social e política, nem a da violência e da discriminação contra os mesmos. Como afirma a Declaração sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, "Todos os indivíduos e todos os grupos têmo direito de ser diferentes" (art.1.2).

Artigo 3º - Dimensões sociais

3.1 No mundo moderno, a tolerância é mais necessária do que nunca. Vivemos uma época marcada pela mundialização da economia e pela aceleração da mobilidade, da comunicação, da integração e da interdependência, das migrações e dos deslocamentos de populações, da urbanização e da transformação das formas de organização social. Visto que inexiste uma única parte do mundo que não seja caracterizada pela diversidade, a intensificação da intolerância e dos confrontos constitui ameaça potencial para cada região. Não se trata de ameaça limitada a esse ou aquele país, mas de ameaça universal.

3.2 A tolerância é necessária entre os indivíduos e também no âmbito da da família e da comunidade. A promoção da tolerância e a aprendizagem da abertura do espírito, da audição mútua e da solidariedade devem realizar-se nas escolas e nas universidades, por meio da educação não formal, nos lares e nos locais de trabalho. Os meios de comunicação devem desempenhar um papel construtivo favorecendo o diálogo e debate livres e abertos, propagando os valores da tolerância e ressaltando os riscos da indiferença à expansão das ideologias e dos grupos intolerantes.

3.3 Como afirma a Declaração da UNESCO sobre a Raça e os Preconceitos Raciais, medidas devem ser tomadas para assegurar a igualdade na dignidade e nos direitos dos indivíduos e dos grupos humanos em todo lugar onde isso seja necessário. Para tanto, deve ser dada atenção especial aos grupos vulneráveis social ou economicamente desfavorecidos, a fim de lhes assegurar a protecção das leis e regulamentos em vigor, sobretudo em matéria de habitação, de emprego e de saúde e respeitar a autenticidade de sua cultura e de seus valores e de facilitar, em especial pela educação, sua promoção e sua integração social e profissional.

3.4 A fim de coordenar a resposta da comunidade internacional a esse desafio universal, convém realizar estudos científicos apropriados e criar redes, incluindo a análise pelos métodos das ciências sociais das causas profundas desses fenómenos e das medidas eficazes para enfrentá-las, e também a pesquisa e a observação, a fim de apoiar as decisões dos Estados membros em matéria de formulação política geral e acção normativa.

Artigo 4º - Educação

4.1 A educação é o meio mais eficaz de prevenir a intolerância. A primeira etapa da educação para a tolerância consiste em ensinar os indivíduos quais são os seus direitos e suas liberdades a fim de assegurar seu respeito e de incentivar a vontade de proteger os direitos e liberdades dos outros.

4.2 A educação para a tolerância deve ser considerada como imperativo prioritário; por isso, é necessário promover métodos sistemáticos e racionais de ensino de tolerância centrados nas fontes culturais, sociais, económicas, políticas e religiosas da intolerância que expressam as causas profundas da violência e da exclusão. As políticas e programas de educação devem contribuir para o desenvolvimento da compreensão, da solidariedade e da tolerância entre os indivíduos, entre os grupos étnicos, sociais, culturais, religiosos, linguísticos e as nações.

4.3 A educação para a tolerância deve visar contrariar as influências que levam ao medo e à exclusão do outro e deve ajudar os jovens a desenvolver a sua capacidade de exercer um juízo autónomo, de realizar uma reflexão crítica e de raciocinar em termos éticos.

4.4 Comprometemo-nos a apoiar e a executar programas de pesquisa em ciências sociais e de educação para a tolerância, para os direitos humanos e para a não violência. Por conseguinte, torna-se necessário dar atenção especial à melhoria da formação dos docentes, dos programas de ensino, do conteúdo dos manuais e cursos e de outros tipos de material pedagógico, inclusive as novas tecnologias educacionais, a fim de formar cidadãos solidários e responsáveis, abertos a outras culturas, capazes de apreciar o valor da liberdade, respeitadores da dignidade dos seres humanos e de suas diferenças e capazes de prevenir os conflitos ou de resolvê-los por meios não violentos.

Artigo 5º - Compromisso de agir

Comprometemo-nos a fomentar a tolerância e a não violência por meio de programas e de instituições no campo da educação, da ciência, da cultura e da comunicação.

Artigo 6º - Dia Internacional da Tolerância

A fim de mobilizar a opinião pública, de ressaltar os perigos e de reafirmar nosso compromisso e nossa determinação de agir em favor do fomento da tolerância e da educação para a tolerância, proclamamos solenemente o dia 16 de Novembro de cada ano como o Dia Internacional da Tolerância.

Há uns milhares de anos, alguém proclamou: "Amai-vos uns aos outros". Comecemos por um mais modesto, mas indispensável, objectivo: toleremo-nos uns aos outros!

Rui Bandeira

15 novembro 2006

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP


A nossa GLLP/GLRP atravessa uma fase de sereno e coerente crescimento.

Qualquer análise esclarecida tem de assentar em quem somos e nas circunstâncias que nos marginam e o ponto de partida só pode ser um: todo o nosso trabalho visa a construção de um Templo que as nossas humanas limitações não permitem que possamos concluir e não, como com ignorância profana poderíamos conjecturar, utilizar um Templo, por belo que seja na construção do qual não participámos, isto é, na parede do qual não colocámos nenhuma pedra por nós polida laboriosa e conscientemente. Iniciámos, formalmente, a nossa vida colectiva há década e meia; honramo-nos todavia, e, pelos motivos que apontei com toda e legitimidade, de um passado longo e que tão fundas marcas deixou na História da Humanidade.

Muitos são os que têm prosseguido o trabalho feito pelos que nos antecederam. A todos devemos reconhecer o mérito do seu labor e se alguns nomes caíram no esquecimento tal ter-se-á ficado a dever à discrição com que actuaram, o que mais realça a sua coerência maçónica e o seu desapego a ridículas vaidades.

Entre outros temas sobre os quais adiante ensaiarei algumas considerações um há que, na sua aparente linearidade esconde uma dúvida que nalgumas potências estrangeiras vem merecendo aturada reflexão: deverá a Maçonaria do futuro, e portanto a nossa Grande Loja, preocupar-se mais com o Templo ou com a Loja?

Noutras áreas do conhecimento este duelo de cumplicidades entre a Teoria e a Praxis é resolvido com a procura de simbioses. Creio que assim não deverá acontecer no que nos diz respeito. Continuo a crer, firmemente, e nesse sentido tenho actuado, que embora cuidemos do que é feito, este deve ser sempre descendente directo do porque é feito.

Se dermos importância de protagonista à nossa acção, torna-nos-emos, e muitos são os cantos das sereias que no-lo sugerem, um grupo de homens mais ou menos bons que se dedicam a causas mais ou menos boas, como tantos e tantos outros grupos. Seremos menos agredidos pelos intolerantes, é certo, mas, é bem preferível que sejamos agredidos por termos uma cultura própria que determina e margina o que fazemos a navegarmos em mares bonançosos que não são os nossos.

Justamente por isso, têm sido várias as actividades culturais que temos promovido acompanhados do convite à participação dos Obreiros.

Tem de ser este, só pode ser este, o nosso percurso. Os frutos começam a ser bem visíveis sendo estimulante verificar que várias são as RR...LL... interessadas em dar sequência aos exemplos dados, promovendo actividades diversas, inclusivamente a publicação de cadernos como em boa hora a R...L... Astrolábio começou a fazer há alguns anos – estão publicados 32!-.

É a colina dos saberes que fomos reunindo que determinará o que viermos a fazer não sendo razoável admitir que o nosso aperfeiçoamento espiritual dependa mais dos fins do que dos meios. A título de exemplo, aponta-se a beneficência: as acções, e muitas são, que promovemos neste domínio, não são um fim em si mesmas, são a natural consequência da nossa formação maçónica.

Estamos pois a crescer, tendo sempre presente que só nos interessa crescer para sermos melhores, não para, cedendo a interesses pessoais ou de grupo, sermos maiores e mais aptos para conquistarmos lantejoulas ou cifrões. A nossa meta está, só pode estar, muito para além e muito para cima de tais pobres objectivos.

O que estamos a fazer é conseguido com discrição, com prudência e, em especial, com a coerência imposta pelos princípios que seguimos, da Maçonaria Regular. Estes são princípios padronizados pela crença em Deus, Grande Arquitecto do Universo, que todos sentimos, ainda que a possamos viver de formas diferentes. Por isso é com a maior naturalidade que respeitamos as Religiões e os seu representantes, não existindo, da nossa parte, qualquer reticência que possa empanar um relacionamento que pretendemos que seja claro e assente no respeito mútuo.

Também no tocante a outras obediências maçónicas, reconhecidas ou não, recusamos qualquer forma de agressão ou de colisão. A Maçonaria, como a entendemos nós, os maçons Regulares, é trabalho de construção própria, nunca o de destruição do trabalho alheio.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o oitavo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 13/11/2006, sob o título "Os Altos Graus"; o próximo, e último, terá o título "Como prosseguir").

Rui Bandeira

14 novembro 2006

Hangar de Sonhos - Odes Brancas

É o título do livro que Mário Máximo agora publica, através da editora Sete Caminhos, e que vai ser apresentado amanhã, 15 de Novembro, pelas 18 h 30 m, na Livraria Bertrand do Vasco da Gama, em Lisboa. A apresentação será efectuada pelo escritor Ernesto de Melo e Castro.


Mário Máximo
nasceu em 19 Setembro de 1956, na cidade de Lisboa. A sua vida repartiu-se por Olival Basto (até aos sete anos), Lisboa (até aos trinta e cinco) e Odivelas, onde reside há cerca de uma década.

Desde bastante cedo ligado às questões da literatura e da criatividade literária, deram os jornais a conhecer muitos dos seus poemas, mas também o conto e a crónica. O guionismo para televisão tem sido outra das suas ocupações. Em 1986 publicou o primeiro livro: um livro de poemas. Desde então, sucederam-se mais cinco livros de poemas e um romance: Um Milhão de Anos, editado por Perspectivas & Realidades em 1986 – Poesia; Meridiano Agreste, editado por Tertúlia Editora em 1991 – Poesia; Hedonista, editado por Tertúlia Editora em 1994 – Poesia; Paisagens da Utopia, editado por Tertúlia Editora em 1996 – Poesia; A Ilha, editado por Hugin Editores – Romance; Arte Real, editado por Hugin Editores – Poesia; Oração Pagã, editado por Hugin Editores – Poesia.

Mário Máximo exerce presentemente as funções de Presidente do Conselho de Administração da Odivelcultur, empresa municipal que assegura a gestão de três equipamentos culturais no concelho de Odivelas, distrito de Lisboa, o conhecido Centro Cultural da Malaposta, o Centro de Artes e Ofícios e o Auditório Municipal da Póvoa de Santo Adrião.

Homem de cultura, mas também homem da vida prática, da gestão de equipamentos culturais, tem vindo regularmente a publicar a sua poesia.

O lançamento deste seu último volume é, assim, pretexto para conhecer e contactar com o poeta gestor. Uma boa oportunidade a aproveitar por quem se puder deslocar à Bertrand do Vasco da Gama.

Rui Bandeira

13 novembro 2006

Os Altos Graus

Os Altos Graus integrados por Obreiros da GLLP/GLRP e por estas reconhecidos, oferecem meios de aprofundamento espiritual específicos de cada Rito, no prosseguimento harmonioso do trabalho em Loja que continuará a ser a base onde assentará a vida maçónica.

O muito que lhes deve a Maçonaria Regular advém em larga medida do perfeito entendimento que tem existido, assente no respeito mútuo, entre a GLLP/GLRP e cada uma das estruturas representativas dos Altos Graus. A unanimidades de posições, nomeadamente quando do relacionamento com potências estrangeiras, muito tem contribuído para que a Maçonaria Regular Portuguesa goze da imagem de rigor e de coesão que tanto a prestigia. As diferenças pontuais com que interpretam as formas que a cultura maçónica assume não traduzem contradições mas propostas de enriquecimento, tendo plena justificação a aprendizagem levada a cabo por Obreiros que, trabalhando em diferentes Altos Graus, contrastam versões e interpretações que mais não são do que perspectivas de uma mesma obra, belamente dramatizada.

Não tem sido esquecido que os caminho percorridos oferecem maiores e mais embelezadas formas de progressão mas não podem substituir a solidez do tronco donde brotam nem as raízes implantadas na sociedade, uma e outras oferecidas pelas RR...LL... azuis.

Justifica bem uma referência o facto de que os estudos aprofundados feitos nos Altos Graus, com rigor e exigência cientifica, muito podem contribuir para que sejam desmitificados muitos livros, documentos e filmes, hoje tanto na moda, nos quais, despudoradamente, são tratados de forma oportunista temas que merecem o nosso respeito.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sétimo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 9/11/2006, sob o título "As Respeitáveis Lojas"; o próximo terá o título "A Grande Loja Legal de Portugal / GLRP").

Rui Bandeira

10 novembro 2006

Do Verão de S. Martinho à doação de sanguezinho


Ele aí está, indiferente às propaladas alterações climáticas, o Verão de S. Martinho! Hoje, em Lisboa, o céu é azul, a cidade brilha com a luminosidade que lhe é característica, a temperatura é amena. As previsões meteorológicas indicam que assim continuará a ser amanhã, 11 de Novembro, o dia de S. Martinho. As chuvas torrenciais e as inundações são já recordação de há alguns dias, daqui por uns tempos vai voltar a chover e o frio vai aparecer, mas, por agora, todo o portuga que se preza levanta o rosto em direcção ao Sol e goza, deliciado, esta pausa na invernia que o Povo de há muito crismou de Verão de S. Martinho.

É curioso como efectivamente, na maior parte dos anos, há, por volta de 11 de Novembro uma melhoria, por vezes acentuada, do tempo. Não é, realmente, só impressão decorrente de este ano o tempo estar bom agora. Há factos e datas que nos marcam e eu, pessoalmente, sempre prestei muita atenção ao S. Martinho, porque foi num dia de S. Martinho, era eu ainda criança de escola primária, que o meu pai teve um grave acidente de trabalho. Desde então, sempre tive especial atenção a esta data, ao dito Verão de S. Martinho e venho, ao longo de mais de quatro dezenas de anos , efectivamente verificando que existe, no nosso país, uma melhoria de tempo por estes dias do ano e que os anos em que tal não sucede são excepções.

Para mim, portanto, confirma-se a justeza da sabedoria popular quando fala - e não é de agora, é de gerações que se perdem na bruma do tempo... - no Verão de S. Martinho.

Reza a lenda que S. Martinho, garboso cavaleiro, certo dia tempestuoso, de grossa chuva e vento gélido, deparou com um pobre desgraçado que, meio morto de frio, apenas dispunha de rotos farrapos para se cobrir e que o Santo, com a sua espada, cortou a sua capa ao meio e deu ao desafortunado metade dela para que se pudesse aquecer, reservando para si a outra metade, para poder, ele também, arrostar com a intempérie e com o frio. Feito isto, o milagre aconteceu: em reconhecimento do acto de misericórdia e solidariedade do Santo, o Omnipotente de imediato fez cessar a tempestade, afastou o vento e as nuvens e o Sol brilhou, aquecendo aquelas paragens e, especialmente, impedindo que o Santo, agora só com metade da capa, sofresse com a fúria dos elementos.

E, em homenagem àquele acto de solidariedade, desde então, no dia que viria ser dedicado a S. Martinho, a Divina Providência se encarregaria de agraciar, não sei se a Humanidade toda, se só os que vivem neste cantinho, com uma melhoria de tempo, popularmente reconhecida como o Verão de S. Martinho.

O dia de S. Martinho é, então, uma data que alude à solidariedade humana.

Melhor dia não haverá, então, para manifestar essa solidariedade com um gesto simples e alguns minutos do nosso tempo: IR DAR SANGUE!

Não se esqueçam: amanhã, dia de S. Martinho, aproveitem o bom tempo para, durante a manhã, ir ao Instituto Português do Sangue, no Parque da Saúde, Av. do Brasil, Lisboa, dar sangue, no âmbito da acção organizada pelo Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues. Até as castanhas e o vinho novo ou a água pé vos vão saber melhor!

Todos ganham!

(O desenho que ilustra este texto é da autoria de Ana Patrícia Gonçalves Barbosa, que, em 10 de Novembro de 2004, frequentava o 3.º ano de escolaridade na EB 1 de Campo, Campo do Gerês, Terras do Bouro. Uma ternurinha, só possível de descobrir e apreciar, porque, em boa hora, e no âmbito do programa "Internet na Escola Básica Inicial", aquela Escola Básica tem um interessante sítio na Rede. Abençoado choque tecnológico...)

Rui Bandeira

09 novembro 2006

As Respeitáveis Lojas


As Respeitáveis Lojas são a célula donde brota a vida maçónica. Não há em Maçonaria estrutura mais determinante, mais padronizadora de saberes e de comportamentos. É na Loja que se aprende, é na Loja que se convive, é na Loja que nos assumimos, é na Loja que podemos, se para tanto o nosso engenho e a nossa arte o permitirem, transformar quem somos em quem queremos ser.

Respeitando os mesmos princípios que os restantes Irmãos, percebemos que lhes devemos oferecer, todos os dias, no Templo e fora do Templo, a nossa fraternidade; que o nosso pobre egoísmo ficou, com as nossa pobres vaidades, esquecido fora da Loja, numa atitude que – e há que o acentuar vivamente – não é só fruto da cultura, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem que não é desprendimento pela vida mas amor à vida e ao que ela encerra de mais nobre e mais digno.

Tudo isto pode ser percebido, sentido e interiorizado em Loja pelo estudo que vivamente se aconselha dos nossos rituais e dos muitos textos que nos podem enriquecer mas serão sempre limitados os resultados se não houver um esforço de superação consciente e persistente.

Não são as Lojas estruturas isoladas. Mau sinal seria se proporcionassem a fraternidade entre os Obreiros de cada uma e não a fomentassem entre os Obreiros que trabalham em diferentes Lojas. Esse risco nem sempre é ultrapassado por Lojas que, embora trabalhando muito bem, se esquecem de que o Movimento Maçónico, (o Mundo Maçónico, a Família Maçónica) não é um arquipélago constituído por ilhas que ignoram a vida das restantes mas é um todo cuja eficácia é resultante do somatório dos trabalhos dos seus membros.

Os Regulamentos existentes, quer o da GLLP/GLRP que os das RR...LL..., corolários daquele, não são mais de um conjunto de normas que servem de referência para o trabalho concreto mas que devem ser sempre vistos como uma emanação dos nossos princípios e dos nossos “Landmarks”.

Não há, e é importante que tal seja plenamente assumido e entendido, uma estrutura maçónica inspirada em estruturas ou códigos profanos, tenham eles origem cultural, política ou social. Como não há uma hierarquia dependente da decoração dos aventais; a decoração dos aventais, salvo no tocante à que caracteriza o grau de cada Obreiro é um indicativo de responsabilidades assumidas durante um período de tempo, e nunca um objectivo que permite a satisfação de vaidades puramente profanas. Cada nova responsabilidade assumida em Loja, inclusive no seu Quadro de Oficiais tem de ser encarada como estímulo para um maior aperfeiçoamento como acontece, ainda com maior exigência, quando da iniciação da passagem a Companheiro e da elevação a Mestre. Pela mesma ordem de razão não são toleráveis os falsos argumentos freudianos que alijam responsabilidades que são claramente das RR...LL... para outras estruturas da GLLP/GLRP.

Daqui a estupefacção que sentimos por vezes quando somos confrontados com a ideia, nascida da ignorância, de que “as RR...LL... devem cumprir o programa da Grande Loja”.

Como é de todos sabido são promovidas, em especial desde há poucos anos, diversas iniciativas de que podem participar Irmãos de todos as Lojas, nomeadamente no âmbito cultural. Mas estas participações são sugeridas, nunca impostas, e têm a intenção de enriquecer a formação dos Obreiros não se pretendendo, bem pelo contrário, desmotivar a acção das Lojas, que deverá partir sempre da sensibilidade, das circunstâncias e da capacidade de trabalho e de organização de cada R...L... na convicção que todos temos de que esta é fonte criadora do livre pensamento. E este, aberto à vida e à verdade, pesquisa, investiga, estuda, respeitando os que sabem mais mas procurando sempre caminhos próprios.

Aos Órgãos da Grande Loja compete coordenar, estimular e se necessário intervir se os nossos documentos fundamentais não estiverem a ser respeitados; para além do cumprimento das atribuições que lhe estão naturalmente cometidas. Também lhes compete colaborar na criação de melhores condições de trabalho como vem sucedendo no tocante à consagração de novos Templos; e catalizar apoios favorecendo, por exemplo, o levantamento de colunas ou reinício da actividade de várias RR...LL.... Como se percebe, é bem preferível seguir este caminho de verdade do que criar novas RR...LL... só com a intenção de nos vangloriarmos com o seu número.

Tem sido bem visível o aumento do grau de exigência das RR...LL..., nomeadamente no que diz respeito ao rigoroso cumprimento dos rituais. Por aí teremos de prosseguir, como terá de continuar a ser prestado apoio pela RR...LL... com maior número de obreiros e maior dinamismo às suas Irmãs. Também por este caminho de entreajudas se tornará mais límpida a diferença entre o fundamental e o acessório; o grau de exigência seguido em cada R...L... é testemunho da forma como sabem encarar duas virtudes que não nos cansamos de apontar: a dignidade e a verdade. São virtudes visadas no mundo profano que nós, numa Ordem Iniciática, que respeita valores espirituais, por maior força de razão deveremos, sempre respeitar.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sexto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 7/11/2006, sob o título "Obreiros"; o próximo terá o título "Os Altos Graus").

Rui Bandeira

08 novembro 2006

Salpicando Poesia

Amanhã, dia 9 de Novembro, no Grémio Literário, na Rua Ivens (ao Chiado), em Lisboa, pelas 18 h 30 m, o Dr. Miguel Roza (de pé, na fotografia, proferindo uma palestra a convite do Elos Clube de Lisboa) procede ao lançamento do seu novo livro, Salpicando Poesia.

Miguel Roza já anteriormente publicara uma bem humorada colectânea de narrativas, De médico e de louco de tudo um pouco e um livro a propósito de Fernando Pessoa, Encontro Magick: Fernando Pessoa / Aleister Crowley, com os quais partilhou com os leitores a sua experiência em dois aspectos distintos da sua vida: a sua carreira profissional de médico e o seu parentesco com Fernando Pessoa, de quem é sobrinho.

Agora lança um livro de poesia. Publicado por um sobrinho do maior expoente da Poesia portuguesa do século XX, só pode provocar interessada expectativa.

Por mim, tenciono estar amanhã no Grémio Literário! Não perderá o seu tempo quem como eu fizer.

Rui Bandeira

07 novembro 2006

Obreiros


A Grande Loja é o reflexo de que as Lojas são e tem o que as Lojas lhe dão. E as Lojas são o que os seus Obreiros forem e têm o que os seus Obreiros lhes derem, em fraternidade, em solidariedade, em trabalho, em valorização cultural, em vontade de servir e na sua permanente luta pela superação.

Os obreiros são diariamente desafiados por si próprios a serem e agirem na qualidade de maçons: de homens honrados com uma iniciação, que lhes conferiu responsabilidades novas que os impele a lutarem contra os pobres e redutores hábitos profanos, os quais, instintivamente os conduziriam sempre, rotineira e mecanicamente, por uma senda de cinzentos e responsáveis comodismos.

Os maçons sentem, com plena naturalidade, que só poderão prosseguir, ou seja, valorizar-se espiritualmente, se aprenderem a cultivar as expressões mais nobres do respeito pelos outros e por si próprios.

E, com a mesma naturalidade, aceitarão os aumentos de salário que são atestados que comprovam aumento de conhecimento e de capacidade para assumirem maiores responsabilidades, sem caírem no logro profano de se envaidecerem com avanços que são, unicamente, simbólicos, na convicção de que todos, exactamente todos, estão conscientes da sua ignorância..

Por isso, é com constrangimento e tristeza que assistem à exibição de decorações ou ao enunciado de cargos, e de graus, que patenteiam mediocridades que ferem os ideais maçónicos.

Os Obreiros sabem bem que, independentemente das circunstâncias históricas, culturais e sociais de cada tempo, a Maçonaria deve ser discreta; passou o muito longo período em que fomos forçados a ser secretos mas, de acordo com o atrás dito, importa-nos, sempre, muito, o ser e nada o parecer.

Por estes, e por muitos outros motivos conhecidos dos maçons, a criteriosa selecção dos candidatos a Obreiros da Ordem deverá sempre ter em consideração que pretendemos que os iniciados sejam homens de bem, independentemente do estrato a que pertençam no mundo profano. Ainda devo acrescentar, para maior clarificação que, se não devemos impedir a entrada no Templo de um operário também, não devemos impedir a entrada de um ministro. O critério é outro e bem outro.

A formação dos Obreiros, à qual se podem em diversos casos apontar lacunas, é como sabemos, da responsabilidade de toda a Loja, em especial do Venerável Mestre, do 1º e do 2º Vigilantes.

Tarefa bem difícil, de todas a que melhor traduz a luta pela transformação da pedra bruta em pedra polida, encerra um imenso desafio: os maçons são filhos e foram moldados pela sociedade que eles querem transformar através da sua própria transformação.

Será, a este respeito muito em breve editado pela GLLP/GLRP um livro elaborado pela R...L... Pisani Burnay onde a nossa Ordem Maçónica Regular e os seus objectivos são levados ao conhecimento dos iniciados.

Para que a valorização se torne possível, é necessário que o maçon seja persistente, seja paciente, saiba suportar a incompreensão e a intolerância dos outros. E seja capaz, o que se reveste também de grandes dificuldades, de encarar, com isenção, o significado que deve atribuir à tolerância.

Se, como disse, devemos suportar, e em muitos casos compreender, a intolerância alheia, sempre oriunda da ignorância e da insegurança, não podemos usar da mesma bitola quando olhamos para nós e para os nossos Irmãos. O grau de exigência deve ser muito maior; não ignoremos que a quase totalidade dos problemas com que nos defrontamos são criados por nós próprios. Porque somos discretos, nos associamos e interagimos local, nacional e internacionalmente, muitos nos olham como um descuidado veículo para quem tem ambições pessoais sejam de carácter profissional ou envolvam necessidades de afirmação e de nós se quer servir.

E, quando surgirem dúvidas relativamente às proporções da nossa tolerância para com os que nos antagonizem, lembremo-nos que só uma atitude devemos tomar, consentânea com a cultura que nos especifica: não insultar quem nos insulta, não guerrear com quem guerreou, muito menos no Templo, mostrando que somos capazes de travar o diálogo e que partimos para este sempre mostrando que queremos ouvir os outros e, o que muito reforça moralmente a nossa posição, que estamos disponíveis para melhorarmos os nossos conhecimentos pela aceitação dos argumentos alheios se estes se mostrarem mais sólidos.

Porque a beleza da nossa cultura nasce do facto de estarmos mais interessados em aprender do que em ensinar, com a coragem intelectual de quem quer ter opinião fundada numa opinião livre e consciente.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quinto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 6/11/2006, sob o título "Maçonaria e Maçonarias"; o próximo terá o título "As Respeitáveis Lojas").

Rui Bandeira

06 novembro 2006

Maçonaria e Maçonarias


Quer no mundo profano quer por vezes no próprio seio da Maçonaria surgem algumas perplexidades, criadas pela auto anunciada existência de grupos que se consideram maçons e que vão, num ou noutro ponto, dando origem a confusões de diversa índole.

Há que, a este propósito reflectir um pouco, no respeito pela nossa cultura, pelos nossos princípios e por quanto representamos.

De dois pontos devemos partir: por um lado, não nos considerarmos detentores da verdade única e sermos tolerantes, por outro, devemos ser rigorosos e exigentes.

Por outras palavras: devemos respeitar todos os que de boa fé, respeitam os mesmo princípios que nós e não devemos nem podemos respeitar os que, sem pudor, se aproveitam do nome da Maçonaria, erguido laboriosa e persistentemente por muitos ao longo de séculos, colocando-o ao serviço de ridículas vaidades pessoais ou de desígnios menos claros.

Em linhas gerais, há em Portugal, duas grandes Ordens Iniciáticas Maçónicas: o Grande Oriente Lusitano e a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Como é sabido, ainda que por vezes, tal seja escamoteado, o mundo maçónico, em 1877, afastou da sua convivência o Grande Oriente de França por este pretender seguir por uma via que, por ser ateia, antagonizava os próprios Landmarks da Maçonaria. O facto da principal corrente maçónica portuguesa de então ter secundado a atitude do GOF fez com que tanto um como outro fossem a partir de então – até hoje – considerados irregulares.

Só no decurso da década de oitenta, na esteira da abertura introduzida em 1974 pelo movimento de 25 de Abril, se intensificaram os esforços que levariam ao restabelecimento da Maçonaria Regular em Portugal, que culminariam com a consagração da Grande Loja Regular de Portugal em 1991.

Hoje, a Maçonaria Regular Internacional, que se estima representar bem mais de noventa por cento de toda a Maçonaria Internacional, reconhece a GLLP/GLRP como lídima, e única representante da Regularidade em Portugal.

Como em muitos outros períodos, os interesses individuais, e até, naturais diferenças de opinião e de postura, deram origem a algumas secessões; destas a que deixou cicatrizes mais fundas foi a da chamada “Casa do Sino” tendo permanecido na facção então criada diversos Obreiros iniciados entre nós, vários dos quais já regressaram ao nosso convívio.

Uma ou outra vez ouvimos algumas vozes clamar pela unidade de todos os maçons portugueses. Ainda que por detrás da proposta haja muitas intenções sãs, devemos atentar em que:

  • A fusão entre as duas grandes potências maçónicas portuguesas – e só no caso destas tal se poderia conjecturar – seria sempre um acto contra natural. Se uma das Ordens mostrasse – ou mostre – interesse na fusão, reconheceria que abdicava das suas convicções, abjurava os juramentos feitos e, implicitamente, admitia aderir aos princípios pela outra Ordem respeitados; também de forma bem implícita aceitava que se encontrava numa fase de declínio ou de confusão institucional e que desistia das formas de luta que vinha adoptando.

  • Porém, e repetindo o já muitas vezes dito, a nossa coerência e a nossa tolerância, determinam que abramos as portas do nosso Templo aos que estão convictos de que merecem o título nobre de maçons desde que, naturalmente, se apresentem um a um – nunca em grupo – se encontrem nas condições impostas pelos Regulamentos da GLLP/GLRP e sejam aceites no seio de uma R:.L:. Foi esta situação já vivida diversas vezes, devendo acentuar-se que nunca houve qualquer tipo de aliciamento ou convite nascido na nossa Ordem. Tal seria abusivo, condenável e assumiria até formas próximas do não entendimento do que são valores maçónicos.

  • Por maior força de razão, esta atitude vem sendo adoptada, e continuará a sê-lo, para com os elementos dos outros grupos que se auto intitulam maçons.

  • A nossa Ordem não pode agir de outro modo, já que tal se traduziria no não cumprimento dos nossos deveres e , eventualmente, no risco de vermos negado o reconhecimento internacional, a que vimos fazendo jus.

  • As muitas sugestões que chegam às nossas RR:. LL:. para a realização de encontros e reuniões com membros de instituições que actuam em áreas próximas da nossa, mas não são reconhecidas, deve ser encarada, como claramente os Regulamentos o determinam, com toda a prudência e, obviamente, nunca poderão assumir qualquer expressão ritual.

A imprudência suscitada pela nossa tolerância unicamente poderia trazer benefícios aos autores das sugestões, sejam ou não estas formuladas desinteresseiramente.

Numa perspectiva adjacente, devemos recordar que as Ordens Iniciáticas que se reclamam da Regularidade respeitam todas elas, inclusivamente para merecerem, o reconhecimento internacional das suas pares, as mesmas Regras que são consideradas desde há muito imutáveis.

Determinam, entre outras disposições, que “A Maçonaria é uma Ordem, à qual só podem pertencer homens livres e de bons costumes...” e, mais adiante que “Os Maçons só devem admitir nas suas Lojas homens de honra...”.

Não é assim consentida a presença feminina nos Templos nem nos Trabalhos Rituais.

Todavia não deve tal ser entendido como sinal de menor respeito pelas mulheres nem pelas instituições em que se agrupam e que tenham relação cultural com os nossos valores e objectivos, como sucede no tocante à Grande Loja Feminina.

Todas estas questões, como muitas outras relacionadas com a legitima integração dos maçons numa vastíssima família, transportam-nos, naturalmente para um outro plano: o da Maçonaria Internacional, para as suas regras e exigências.

E aqui, bem ao contrário do que por vezes se anuncia, o quadro é mais claro do que poderíamos conjecturar: toda a Maçonaria visa os mesmos objectivos, toda obedece aos mesmo princípios, toda se rege pelas mesmas normas. Não há por parte das potências maçónicas internacionais nem vontade nem legitimidade para intervirem na vida interna das suas Irmãs. Unicamente, e a sabedoria maçónica o determinou, há a possibilidade de aceitarem que se sentem à mesma mesa os que respeitam os mesmos princípios e as formas de os observarem, assim como de rejeitarem, a presença dos restantes.

A aceitação é tanto maior quanto mais se reveste de dignidade; as rasteiras subserviências não são obviamente toleradas neste cenáculo de homens livres que representam outros homens livres.

Algumas interrogações levantadas em Ordens estrangeiras, levadas a hesitações quanto ao reconhecimento da GLLP/GLRP, suscitadas pela secessão de 1996, foram respondidas com o uso da única forma que a Maçonaria reconhece nestes casos: com a verdade, a persistência e a discrição.

Os laços que têm sido estabelecidos ou reforçados com as Ordens estrangeiras que podemos e devemos reconhecer são hoje sólidos e traduzem-se em acções nas quais participam não só os seus mais altos representantes como em acções que conduzem a geminações entre RR:.LL:. de países diferentes, desde que, naturalmente, suscitem a concordância dos respectivos Grão-Mestres. Não esqueçamos também a importância de que se reveste a visita que individualmente muitos maçons fazem a RR:.LL:. estrangeiras, para o que devem ser portadores do necessário passaporte maçónico.

Para o reforço destes laços, têm contribuído, e mais contribuirão, com o seu trabalho os Irmãos que são Garantes de Amizade, ou Grandes Representantes junto de ordens estrangeiras irmãs.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quarto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 2/11/2006, sob o título "A Maçonaria hoje"; o próximo terá o título "Obreiros").

Rui Bandeira

03 novembro 2006

O MUSEU DO SILVA




Alguma vez ouviram falar no “Val Pequeno” ?
Pois é um lugar no concelho da Amadora, freguesia de S. Brás, à beira da estrada de ligação Pontinha-Caneças que separa os concelhos de Odivelas para um lado e Amadora para outro.
Val Pequeno calhou do lado da Amadora !
Ora bem... Val Pequeno vem à conversa porque quem segue estrada fora, se mantiver alguma atenção aos letreiros (mais que muitos), verá uma placa surpreendente, indicando o “Museu do Silva” !
Assim tal qual, “Museu do Silva”.

Fui até lá com a dúvida existencial que me acompanha desde que o AJJ se referiu ao Sr. Silva, na expectativa de que, finalmente havia descoberto o Silva...
Não foi assim, não acredito que seja este o tal Silva do AJJ.

O Museu do Silva é um espectacular repositório de recordações de um Casal que tendo nascido em Jales, Trás-os-Montes, trouxe para a grande cidade as recordações de infância e do tempo de trabalho no campo e nas minas, que sendo as suas recordações são simultâneamente parte da história do povo português, profundo como alguém costuma dizer de tudo o que não se refira a Lisboa ou Porto.

Albano Teixeira da Silva tem investido todo o tempo que lhe resta para além do emprego diário para alimentar a arte extraordinária de miniaturista, que “nocturnamente” desenvolve na sua mini-oficina ao canto do museu (50 m2 de arte das miniaturas), construindo as peças, os ambientes, os edifícios que marcaram a sua memória da vida em Jales.
Os moínhos, as máquinas de tratamento do centeio, do algodão, as minas de ouro, a escola onde aprenderam a ler, os animais que ajudaram ao trabalho na terra, fontanários, a igreja, a casa da tia,... os pormenores da vida da aldeia, a que existiu e a que ainda resiste.


Aconselho vivamente a visita.
Vão ver que vale a pena ser recebido pelo artista, Sr. Silva, ou pela esposa, companheira das recordações e da conservação deste museu da vida.
A visita ao museu, que é gratuita, é a única paga que o casal recebe pela disponibilização deste espaço de cultura a quem se lhes apresenta à porta.
Porque de resto tudo corre por conta dos próprios, sem subsídios, sem rendas, sem bilhetes de entrada.

Rua do Casal de Branco, 39
Casal da Mira - S. Brás
Tel. 214 939 330

Sábado e Domingo está aberto todo o dia.
Durante a semana convém marcar.

JPSetúbal

QUEREMOS MAIS SANGUE!!!

Não, não é nenhum apelo à violência, pelo contrário!


Como se pode ver pela simpática imagem aqui ao lado, a ideia é efectuar mais uma acção de doação de sangue.

Como de costume, não se esqueçam que não custa nada, não paga imposto nem taxa moderadora e contribui para salvar vidas!

Façam o favor de reservar JÁ na vossa agenda a manhã de sábado, dia 11 de Novembro. Entre as 9 e as 12,30 horas, lá vos esperamos, como habitualmente nas instalações do Instituto Português de Sangue, no Parque da Saúde, Av. do Brasil, Lisboa.

Quem já deu, já sabe que por mero e automático efeito da sua doação de sangue, fica incluído no Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues (basta ter o cuidado de mencionar pretender essa inclusão no preenchimento da sua ficha) e, assim, imediatamente beneficiário, para si e sua família dos depósitos de sangue que todos os membros do grupo vêm fazendo.

Quem ainda não deu, fica a saber e vai dar!

Quem já deu uma vez e der pela segunda vez em menos de um ano, vai receber em casa um elegante cartão de dador de sangue, emitido pelo IPS, com o respectivo grupo sanguíneo inscrito. Para além disso, fica oficialmente autorizado a usar no peito um emblema com a frase "Eu não pago taxas moderadoras!" ou, se preferir a nova versão, disponível a partir de 2007, pode optar pela frase "Ó Campos, eu não pago taxas por operações nem internamentos!". Como vêem, cá connosco é só mimos!

Em tom (um pouco) mais sério, convém lembrar que esta acção NÃO É RESTRITA a membros da Loja Mestre Affonso Domingues, nem sequer a maçons. TODOS são bem-vindos! O que importa é recolher dádivas de sangue, que muita falta faz! Assim, os caros visitantes do blogue que quiserem aparecer e contribuir estendendo os respectivos bracinhos à simpática agulhinha dos não menos simpáticos enfermeiros e enfermeiras do IPS, não se acanhem e apareçam! Como bónus, ainda têm oportunidade de conhecer uns quantos indivíduos, tidos por misteriosos, que costumam chamar-se reciprocamente por "Irmãos" - só não vão ver é os famosos aventais, que nós, nestas coisas, costumamos andar à civil...

Todas as pessoas saudáveis e sem comportamentos de risco, entre os 18 e os 60 anos, podem dar sangue, SEM QUALQUER PREJUÍZO PARA A SAÚDE. Aliás, previamente à doação, cada pessoa beneficia de uma consulta médica e faz uma análise rápida ao nível de hemoglobina e, à mínima dúvida de que a doação possa causar qualquer problema ou risco, é o próprio médico do IPS que declara não dever ocorrer a doação.

Assim, no sábado 11 de Novembro esperamos o vosso SANGUE!!!

ATENÇÃO: ao contrário do que muitos pensam, NÃO É NECESSÁRIO, NEM SEQUER ACONSELHÁVEL, ir em jejum. Deve-se apenas ter o cuidado de não consumir gorduras nem álcool nas horas anteriores à doação. Portanto, já sabem: tomem o leitinho e comam um pãozinho (sem manteiga...) ao pequeno almoço, para evitar quebras de tensão...

UMA ÚLTIMA NOTA: a fim de evitar grandes esperas, seria conveniente que se tivesse antecipadamente (até dia 8) uma noção do número de dadores que vão comparecer, para, em caso de necessidade, o IPS reforçar a sua equipa. Para o efeito, os membros da Loja devem avisar o Venerável Mestre de quantas pessoas do seu círculo familiar e social vão comparecer. Os caros visitantes deste blogue que nos quiserem dar o gosto da sua presença e solidariedade, podem fazer o favor de avisar para o endereço de correio electrónico bandeira.rui@gmail.com.

Para acabar em beleza: é importante que venham e que avisem! Este ano esmerámo-nos a negociar com o IPS e, se conseguirmos garantir, até ao dia 8, um mínimo de 100 doações naquela manhã, temos direito a TRATAMENTO VIP . Qual é ele? Não digo, mas só para terem uma ideia, quando o tratamento é VIP, o reforço de enfermeiras é particularmente cuidado. Ora vejam lá:
























E, para não haver injustas acusações de machismo, meninas e senhoras dadoras, o tratamento VIP, se a ele tivermos direito, também abrange especial cuidado no reforço de enfermeiros, como também podem ver...

Rui Bandeira

02 novembro 2006

A Maçonaria Hoje


Depois de ouvirmos e de lermos muitas opiniões sobre a Maçonaria, grande parte das quais elaboradas sobre preconceitos, em especial num País como o nosso onde durante décadas não foram consentidas instituições onde pudessem germinar ideias avessas ao poder dominante, formámos também as nossas opiniões. Estas eram, naturalmente as resultantes das informações tendenciosas transmitidas pelos meios que nos estavam mais próximos e eram, novamente, de esperança ou de suspeição, Se alguns imaginavam que a Maçonaria era uma escola de cidadãos perfeitos, outros garantiam que, quem nela entrasse tinha garantida a entrada no inferno com as mais vivas brasas.

Se os segundos se mantiveram, para tranquilidade dos seus votos, afastados da Ordem, alguns dos outros ousaram franquear as portas do Templo.

Aqui chegados, mantiveram as posturas que na vida profana vinham já adaptando: os que procuravam o aperfeiçoamento, estudaram, valorizaram-se, tornaram-se mais exigentes consigo próprios e tolerantes com os outros; perceberam que os textos rituais são inesgotáveis fontes de ensinamentos ainda que não entendessem facilmente todas as lições neles contidas. Os que, na vida profana se acomodavam e usavam a crítica como escudo, prosseguiram, apesar dos exemplos dos seus Irmãos, na mesma senda; e, porque lhes escasseia a capacidade para polirem a própria pedra olham com azedume a forma como os seus irmãos cuidam das suas. Nada dão de si próprios já que colocam à frente de quaisquer conceitos a defesa dos seus próprios interesses. E, o que não pode deixar de ser motivo de reflexão, estes que entraram, sem respeito, no Templo, viram as portas franqueadas pelos que já se encontravam no seu interior; buscavam favores profanos e, o que nos entristecia, em muitos casos, o reconhecimento obtido com a mais rica decoração de um avental que compensava uma vida profana apagada e triste.

Uns e outros, como que esquecidos de que são todos filhos da mesma sociedade levados por um imaginário que a História ajudou a construir e que não podemos desprezar, vieram para o nosso convívio, na expectativa de, num mundo diferente, encontrarem modelos culturais e sociais diferentes.

E novamente aqui a dicotomia se manifestou: os que sabem, e sentem, o que é a Maçonaria, encontraram muitas das respostas que procuravam; para tal estudaram, para tal trabalharam, para tal confiaram nos seus Irmãos, a tal se deram na percepção plena de que, efectivamente a Maçonaria é muito mais do que parece e de que, tudo o que nos pode oferecer é o resultado do trabalho de muitos que já não estão connosco e do trabalho solidário, fraterno e consciente de cada um de nós.

Naturalmente, e poderei dizer felizmente, para os que entram com a intenção de muito receberem sem quase nada darem, a Maçonaria não é a instituição que gostariam de encontrar. Uma instituição que, pela sua forma discreta de viver pelas relações nacionais e internacionais que possui, poderia constituir um veículo útil. De entre estes muitos afastam-se, enquanto outros permanecem, apaticamente, lendo mecanicamente rituais sem os entenderem, participando de iniciativas sem entusiasmo, no desejo de que algum Irmão os possa apoiar na vida profana ou de que as aparências o satisfaçam com aventais, colares, medalhas, diplomas, etc. etc. Ficarão sempre na convicção de que a Maçonaria é pouco, sem perceberem que eles são muito pouco.

Porque, quando falamos em aperfeiçoamento espiritual, e fazemo-lo sem reticências, sabemos que a pedra não é polida por outros: é polida, laboriosamente por cada um de nós, com a fraterna ajuda dos outros.

Na certeza de que cada Maçon está a trabalhar num momento em que a humanidade, cercada por angústias e incertezas, espera que ele cumpra a sua missão. Porque hoje, e verificamo-lo todos os dias, o homem deixou de confiar em muitos dos apoios a que se agarrou durante séculos e, numa deriva de confusões, em que se vê obrigado a correr no meio de uma turba sem saber para onde nem porquê, tenta evitar situações de desregulação psicossocial onde a esperança nele e nos outros já não existirá.

As agências de controlo social, a quem vinha entregando a responsabilidade de definir o que se deve fazer e o que não se deve fazer, no que devemos acreditar e no que não devemos acreditar, e às quais não eram feitas perguntas que não contivessem já as respostas acopladas, foram perdendo a função de bússola, impotentes que se foram mostrando face às novas avalanches de dúvidas e de contestações.

A Família já não representa o que representava, o Estado já não tem o poder que tinha, não se sabendo onde começa e onde acaba, desempenhando um papel crescentemente difuso, a Escola não logra emparelhar-se com a sociedade, a Religião, ainda que cada dia mais plurifacetada não é já respeitada nem temida como já foi, a Justiça perdeu credibilidade...

Mas o Homem, com as suas fragilidades carece, como sempre careceu, de se segurar em esperanças, pelo que é tentado a deitar a mão ao primeiro bote que passar desde que pareça sólido. Cedo se está a dar conta de que estes botes nenhuma confiança merecem e de que, afinal, é bem mais seguro procurar a segurança dos princípios, com outros homens, em lugares onde seja ouvido e respeitado.

E a Maçonaria oferece, de forma que continua a ser ímpar, a possibilidade de progredirmos espiritualmente sem perdemos o direito de pensarmos livremente. É um caminho bem difícil mas é, para nós, o que nos permite sermos melhores sem que seja menosprezada a nossa responsabilidade.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o terceiro de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 31/10/2006, sob o título "Tópicos históricos"; o próximo terá o título "Maçonaria e Maçonarias").

Rui Bandeira

31 outubro 2006

Tópicos Históricos


Após terem sido apontados os seus objectivos, após terem sido laboriosa e persistentemente apurados os conceitos e os padrões que deveriam ser respeitados e após terem sido coligidos, burilados e aperfeiçoados os textos rituais que serviriam de referência e apoio, a Maçonaria foi estruturando, com a prudência que as evoluções da História sugeriam, formas de organização próprias.

Como se esperaria, os diversos poderes olharam-na com preocupação e desde há muito optaram por uma de duas atitudes: a hostilidade, que foi traduzida em perseguições, prisões, suplícios e até penas de morte, e a complacência desconfiada que levou, em especial no norte da Europa, a que várias cabeças coroadas se tivessem intitulado protectoras da Maçonaria e tenham, directamente ou através de familiares, desempenhado as funções de Grão-Mestres, de modo a melhor acompanharem e controlarem uma instituição que olhavam mais com desconfiança do que com apreço.

Se os poderes políticos bolinavam entre estas duas margens, os poderes religiosos ficavam sempre amarrados à margem donde a Maçonaria era vista com absoluta intolerância e inquietação.

A atitude dos poderes religiosos era de um necessário distanciamento, aliás a única que se poderia aguardar, e que se deveu a um alargado conjunto de circunstâncias: a Maçonaria falava em aperfeiçoamento espiritual, tema e prática que eram exclusivos dos que definiam o caminho a seguir pelas religiões; a Maçonaria apregoava livres formas de pensar, o que muito contrariava quem respeitava monólitos de certezas; a Maçonaria usava como usa, muitos conhecimentos, criteriosamente seleccionados e simbolicamente entrosados, contidos em livros sagrados, o que, para além de ser visto como um abuso sacrílego, poderia induzir interpretações e versões afastadas dos cânones; a Maçonaria, ainda que tal não estivesse de acordo com os seus princípios, poderia ser, e não poucas vezes o foi, ponte entre as forças dominantes da sociedade, competência que as instituições religiosas, também ao arrepio dos seus objectivos, muitas vezes utilizaram; a maçonaria cultivava formas de secretismo, para melhor se proteger, proteger os seus membros e as suas práticas, o que muito incomodava as forças da intolerância que assim tinham maior dificuldade em situar os seus elementos e calar as suas actividades, em particular quando estas se relacionavam com a luta contra injustiças sociais que eram ignoradas, quando não estimuladas, pelas estruturas que usavam as religiões como máscara, a exemplo do que sucede hoje ainda em muitas paragens.

Do trajecto feito, das lutas travadas e dos resultados obtidos outros textos poderão falar com mais a propósito.

São no geral bem conhecidos e sobre eles se debruçaram estudiosos de diversas áreas do conhecimento como historiadores, sociólogos, políticos, filósofos e religiosos.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o segundo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 30/10/2006, sob o título "A Maçonaria da Esperança"; o próximo terá o título "A Maçonaria hoje").

Rui Bandeira

30 outubro 2006

A Maçonaria da Esperança


Desde sempre que o Homem, por razões que a Genética poderá explicar, é impelido a valorizar-se, a aperfeiçoar-se, a procurar o mais e a tentar o melhor.

Depois de procurar a valorização no mundo material, e de ter concluído que por essa via só daria pequenos passos, olhou mais longe, para além dos limites que sentia e imaginou como poderia libertar-se e ganhar novos horizontes. Estruturou religiões, burilou filosofias, amparou-se em crenças. Todas datadas, todas caracterizando melhor as angústias e os desejos dos homens do que apontando soluções e tranquilidades.

Há milhares de anos que assim sucede.

Consciente de que sozinho não poderia ir muito longe, o homem juntou-se a outros homens e procurou, racionalmente, encontrar vias seguras por si escolhidas que o conduzissem para os mundos onde vivem as transcendências.

Uma via foi escolhida por homens que foram somando saberes oriundos de muitas áreas e de muitas paragens. Dos seus primeiros passos nenhuma História reza; podemos só imaginar como foram colocadas as primeiras pedras do Templo que queriam construir. E isto ocorreu, seguramente há muitas centenas – ousam alguns apontar milhares - de anos.

Grande é o espólio ao qual podemos ir buscar datas, factos, conceitos. Mais difícil é separar as pedras que, de facto, foram utilizadas na construção do Templo das que nós imaginamos ou gostaríamos que tivessem sido utilizadas.

Tendo esta via, a que chamamos desde há muito Maçonaria, transitado, como afirmamos hoje, de uma fase operativa para uma fase especulativa, é natural que, no afã de tudo justificarmos, inclusivamente pela via simbólica, entrelacemos as muitas achegas que nos chegam para que o edifício seja cada vez mais sólido e coerente.

Assim, podemos ir buscar raízes - para além das que são procuradas em textos incluídos ou não em livros sagrados – em corporações romanas, em ordens religiosas militares (e aqui julgo que é atribuído um protagonismo excessivo, de quase exclusividade, aos Templários), em associações de classe, como em documentos que vão de um Manuscrito Régio, que terá tido origem no final do século XIV, no Manuscrito Cook, do século seguinte, na “Old Charges” (Antigos Deveres), não falando já noutras, bem mais antigas que podem ser chamadas à colação como éditos de Numa Pompílio ou Sérvio Túlio, etc. etc. Este acervo de conhecimentos foi sendo progressivamente harmonizado e vazado em formas simbolicamente dramatizadas.

Importa porém salientar que esta transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa não define uma ruptura entre situações distintas; bem longe disso, já que no primeiro período muito do que se fazia tinha carácter e fundamento especulativo e no segundo também o inverso se verificou e verifica.

Porque só é entendivel o percurso feito se associarmos o gesto laborioso do pedreiro que colocava uma pedra na parede da catedral aos conceitos defendidos pelo catolicismo medieval maçónico e só se justifica a nossa acção actual se os estudos ritualísticos que promovemos se traduzirem em acções que, para além do aperfeiçoamento espiritual, se traduzam em formas concretas de beneficiar cultural e socialmente a humanidade de que fazemos parte.

A especificidade da cultura assim, criada, e permanentemente burilada, com a rigorosa apreciação e introdução de conhecimentos oriundos de paragens diversas e de saberes distintos, originou uma nova forma de intervenção na sociedade, com características que a tornaram uma figura ímpar que não andava com o passo rotineiro e inquestionado das figuras pares.

E é justamente o facto da Maçonaria impelir os seus Obreiros a buscarem o aperfeiçoamento sem terem a ousadia insensata de julgarem que um dia alcançarão a perfeição que os diferencia dos seguidores de certezas monolíticas.

Olhada por uns com grande esperança e por outros com negras suspeições, consoante queriam avançar com destemor na busca da justiça social, do livre conhecimento e da tolerância ou queriam parar, fechando as portas e as janelas com o receio de que novos tempos e novas ideias ameaçassem estatutos, privilégios e velhas construções feitas de toscas ideias.

Essa esperança e essas suspeições, permanecem vivas, ainda que assumam dimensões e expressões diferentes de país para país e até de região para região.

E de outro modo não podia ser, tão específicos são os passados históricos, as culturas, as economias e as formas de olhar o mundo.

E é daqui que temos de partir: somos uma Ordem Iniciática, criada pelos méritos e pelos defeitos dos homens que, independentemente do local onde vivermos e dos meios de que dispusermos, continua a lutar, coerente e persistentemente, pelos princípios que sempre respeitou.

A Maçonaria da esperança cresceu porque trouxe consigo formas de justiça social, independências de jugos ancestrais, e uma forte e pura articulação espiritual com formas culturais que até então estiveram muito dependentes de outras sedes.

É gritante, por exemplo, a profunda transformação sofrida na música onde os grandes temas todos de índole religiosa foram substituídos por grandes temas profanos por influência de compositores maçons. E aqui não resisto a evocar e a sugerir uma ponderada reflexão sobre um texto lapidar que ilustra este contraste e que foi escrito pelo actual Santo Padre, então Cardeal Ratzinger, na sua “Introdução ao Espírito da Liturgia”: “Ouvindo Bach ou Mozart na igreja – ambos nos fazem sentir de um modo magnífico o significado de gloria Dei – glória de Deus: nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza, deixando-nos, mais do que em muitas homilias, experimentar a presença de Deus de forma mais viva e genuína – todavia, aqui já se anunciam, perigos, embora o subjectivo e a sua paixão ainda disponham de docilidade (...). Mas as ameaças da virtuosidade e da vaidade do talento já se manifestam; elas já não expõem as suas faculdades ao serviço do todo, querendo elas próprias avançar para o primeiro plano”.

Creio que se todo este texto merece muito atenta leitura, é o final, com uma clara condenação do abrir das asas que suscita maior interesse nesta abordagem que fazemos.

Também durante séculos e em especial na taça que primeiro modelou o Império Romano e depois acolheu o Cristianismo que daí irradiaria para o Mundo, os textos escritos obedeciam aos ditames da religião dominante; só pouco a pouco e com larga influência de maçons – não tão evidente como na música – se alastraram para temas profanos.

Se de mais provas e exemplos precisássemos, iriam buscá-los a paragens como a pintura ou a escultura onde as aberturas verificadas seguiram passos semelhantes.

Isto é: só por teimosia poderíamos insistir em interpretações parcelares, quando todas estas transformações foram de facto só uma. E, se nem sempre foi determinante a intervenção dos maçons, ela esteve sempre presente e, na larga maioria das circunstâncias, com inegável coerência. 

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o primeiro de nove excertos que serão aqui publicados; o próximo terá o título "Tópicos históricos")

Rui Bandeira

27 outubro 2006

Livro sobre Municipalismo


José Oliveira Dias, um estudioso da política autárquica que faz o favor de ser nosso amigo, vai efectuar o lançamento nacional de um livro de que é autor, intitulado "O Municipalismo, em Portugal, Brasil e Cabo Verde", na próxima terça-feira, dia 31 de Outubro.

O lançamento terá lugar no Centro de Saúde de São Vicente, na Ilha da Madeira. E que melhor lugar para lançar um livro sobre este tema? É a descentralização levada à prática!

Impossibilitado de comparecer, por compromissos profissionais noutro ponto do País, não quero deixar de aqui divulgar esta iniciativa.

Para quem ainda tem uns restos de férias para gozar e as queira aproveitar em semana de feriado, é um bom pretexto para ir até à Madeira!

Para quem não puder ir, mas se interesse pelo tema, pode encomendar o livro (custo: 15 euros) directamente ao seu autor, através do seguinte endereço de correio electrónico: rajanioliveiradias@iol.pt .

E pronto! Numa semana em que decidi colocar no blogue vários textos sobre símbolos maçónicos, hoje achei por bem acabar com um texto que não tem nada a ver com maçonaria!

É que na maçonaria também se aprende que, como em tudo na vida, o equilíbrio é muito saudável e os excessos acabam por fartar. E, afinal, se é certo que em Maçonaria Regular não se discute política, isso não quer dizer que um maçon não se interesse pela Coisa Pública! E ler estudos sérios é uma boa maneira de manter sempre atento o nosso espírito cívico.

Rui Bandeira

26 outubro 2006

Beleza

O maçon procura revestir-se da característica da beleza. Não é, obviamente, a física que importa. Até porque essa não depende de si, antes da carga genética que lhe foi transmitida por seus ascendentes. A beleza de que o maçon se procura revestir é a interior, resultante da pureza de princípios, da firmeza de carácter, do aprumo moral e da tolerância para com os os outros que deve ser seu apanágio.

Pureza de princípios que constitui o pano de fundo de toda a actuação do Homem. Quem tiver adquirido e os viver como integrantes do seu ser os princípios básicos do respeito para com o Outro, que constituem os fundamentos da Civilização não cometerá agressões contra o seu semelhante. O respeito pela Vida, pela Integridade, pela Liberdade, pela Democracia, pela Igualdade são meros e naturais corolários desses princípios básicos, tão naturais como a faculdade de respirar!

Firmeza de carácter para moldar sua personalidade, combatendo suas fraquezas, mas também para arrostar com as inevitáveis dificuldades que a vida sempre coloca, sem nunca pôr em causa nem incumprir os princípios básicos que devem nortear sua conduta.

Aprumo moral como ferramenta para distinção entre o Bem e o Mal, em todas as suas manifestações e circunstâncias, em especial quando umas ou outras os tornam de difícil destrinça.

Tolerância para com os outros como contrapartida da necessidade de dos outros vermos toleradas nossas próprias imperfeições.

Quem interiorizar estas simples, mas tão exigentes, regras, poderá ser fisicamente horrível, mas acabará por ser reconhecido como Belo por todos aqueles que sabem ver para além das meras e efémeras aparências.

Mas o maçon não procura apenas ter a Beleza em si, procura que as suas obras sejam dotadas dessa característica. Isto é, suas acções, suas criações, suas obras, não basta que sejam sábias e fortes, devem também ser belas. É a beleza que aproxima da perfeição o que se construiu com Sabedoria e Força. Entre dois edifícios, ambos igualmente perfeitamente projectados e edificados, com o recurso a todos os conhecimentos da arte de construir, ambos firmes, fortes e duráveis, qualquer de nós preferirá o que é esteticamente bonito, agradável ao que não possua essa característica.

Buscar dotar as nossas obras de Beleza não é uma futilidade. É uma procura da perfeição possível na actividade humana.

O Belo é divino!

O Templo do maçon é assim sustentado também por esta terceira coluna, a da Beleza.

E assim, buscando nós próprios dotar-nos e dotar nossas acções de Sabedoria, de Força e de Beleza nos aproximamos tanto quanto ao Homem é possível, da Divina Perfeição.

Rui Bandeira

25 outubro 2006

MIA COUTO e o mendigo Sexta-Feira

O mendigo Sexta-Feira jogando no Mundial"(...)
O que me inveja não são esses jovens, esses fintabolistas, todos cheios de vigor. O que eu invejo, doutor, é quando o jogador cai no chão e se enrola e rebola a exibir bem alto as suas queixas. A dor dele faz parar o mundo. Um mundo cheio de dores verdadeiras pára perante a dor falsa de um futebolista. As minhas mágoas que são tantas e tão verdadeiras e nenhum árbitro manda parar a vida para me atender, reboladinho que estou por dentro, rasteirado que fui pelos outros. Se a vida fosse um relvado, quantos penalties eu já tinha marcado contra o destino? (...)"
(Mia Couto, in O fio das Missangas)


Mia Couto é um dos nomes enormes da escrita de língua portuguesa e este texto que me chegou via mão amiga, é mais um terrível soco no estômago, só possível por quem tenha experiência deste pugilato da vida.
Diàriamente chegam-nos notícias assustadoras sobre a sensibilidade que os agentes políticos (que têm a responsabilidade de encontrar as soluções) mostram na abordagem aos vários temas reflectidos no texto.

O que vemos como propostas de solução para as inquietações que Mia Couto nos propõe ?

Na parte que toca aos futebolistas vemos o estatuto de excepção, absolutamente imoral, de que gozam e cujos dirigentes defendem com unhas e dentes, mostrando todo o desprezo com que olham para o mundo à volta e todo o embevecimento com que olham para o umbigo próprio.
Podemos pôr em equação a questão do tempo de vida profissional, o facto das situações mais chocantes serem uma minoria no “universo” do número de jogadores em actividade, e mais as razões extraordinárias que um político, dos actuais, apontou esta semana dizendo que “coitados dos jogadores a quem não são ensinados hábitos de poupança e que têm de deixar a escola muito cedo”, considerando a partir daí muito bem que os impostos que eu pago todos os anos com o fruto de muitas, muitas, muitas horas de trabalho sirva para compensar os “coitadinhos dos jogadores de futebol”.
Todas estas razões podem ser equacionadas porque o resultado final da incógnita será sempre a imoralidade total com que são gastos a maior parte dos muitos milhões que se gastam naquela actividade.
E quanto a estes aspectos é preciso que se afirme que a maior parte dos beneficiados são gente mal formada, péssimos desportistas, sem qualquer espécie de respeito pelos companheiros de profissão, que encaram calmamente e impunemente como inimigos a abater.
E não vale a pena contar a estória da “saída da escola” e mais uma centena de razões muito válidas para os defensores desse “status quo”, porque isso não pode justificar a forma como se tratam uns aos outros.
Ao menos isso.
Há uma ou duas semanas cantaram-se umas loas em homenagem a Jorge Costa que abandonou a actividade profissional de futebolista.
Reafirmo a minha opinião de há muitos anos.
Jorge Costa, como vários outros (João Pinto, Petit, Sá Pinto,...) são personagens que nunca deveriam ter pisado um campo desportivo (qualquer que fosse) porque nunca souberam merecer a condição de desportistas.

Outras notícias que nos chegam dão-nos conta do agravamento generalizado das condições de vida para os mais desprotegidos da sociedade.
Sob a capa do aperto financeiro em que o país se encontra estamos a assistir a um verdadeiro assalto aos mais fracos.
As últimas notícias falam dos aumentos dos lucros dos bancos (38%, 46% ...), enquanto o ministro das finanças anuncia que até ao fim do ano os bancos continuarão, legalmente, a não ter de pagar uns tantos milhões de imposto que seriam devidos se a Administração Fiscal tivesse actuado em tempo util.
Por outro lado deixa uma vaga promessa (esta classificação de “vaga” é muito subjectiva, mas é a minha interpretação !) de que a partir do próximo ano começará a aproximação da forma de tributação das “empresas bancos”, ao tipo de tributação das outras empresas (aquelas que não desviam lucros para as Ilhas Cayman ou outras parecidas).
Continua a ser interpretação pessoal mas a minha expectativa é a de que essa aproximação, se alguma vez existir, será feita muito lentamente, muito lentamente, tão lentamente que ao fim de um ano ou dois já ninguém se lembrará nem falará do assunto que de tão lento que evolui ficará definitivamente parado sem ninguém dar por nada, a não ser claro os beneficiados directos.
Dentro do mesmo princípio irão aumentar os descontos sobre os recibos verdes, tal como já aumentaram os descontos para os funcionários do Estado e para os reformados.
Na saúde os utentes passam a comparticipar mais nas despesas em que já comparticipavam e passam a comparticipar em outras onde isso ainda não acontecia.

Usando a pena de Mia Couto, “o que me dói doutor, é não poder haver uma ilha Cayman para cada português receber aí o seu salário, a sua pensão, e assim deixar, legalmente, de pagar impostos cuja utilização tem sido feita em favor dos que não pagam, dos que se consideram merecedores de todas as benesses, legalmente e sempre, sempre com boa-fé já se vê”.

O mendigo Sexta-Feira assinala os penalties contra o destino.
Mas o responsável pela batota do jogo não é o destino.
São homens, e são homens com nome, com identidade, com residência, com localização possível e fácil.
Então porque se não marcam esses penalties ?
Na vida, como no futebol, a maior parte dos árbitros está comprada.
JPSetúbal

24 outubro 2006

Força


A obra humana, para ter valia, deve estar dotada de Força. A acção do maçon deve beneficiar da Força.

Não é de força física que aqui se trata. Ao mencionar esta característica de que devem estar dotados os maçons e o comportamento e as obras destes, quer-se, em primeiro lugar, fazer referência à Força de Carácter que deve ser apanágio do maçon. Força de carácter para seguir o, por vezes estreito e acidentado, caminho da virtude.

Em segundo lugar, Força de Vontade. Força de vontade para combater o vício, isto é, para combater e anular, se possível, os defeitos que, infelizmente, todos nós temos.

Mas a Força não respeita apenas às características intrínsecas do Homem, refere-se igualmente às das suas obras.

E, neste plano, a Força de que aqui se fala respeita à Eficácia das acções humanas. Pode agir-se com muita boa vontade, mas se a nossa actuação for estéril, se a nada conduzir, se do nosso acto nada nascer, nada frutificar, nada mudar, nenhum efeito se obtiver, então mais valia ter estado quieto e poupado o esforço absolutamente inútil... Quando nada de útil se pode fazer, então manda o bom senso (a Sabedoria de que ontem falava...) que nada se faça. O Homem deve agir, deve actuar, mas deve fazê-lo com eficácia, de forma a que dos seus actos resultem efeitos, especialmente os efeitos pretendidos, que devem melhorar o que existia antes de se actuar.

Também no plano das características de que devem estar dotadas as obras humanas, a Força é sinónimo de Durabilidade. Pouca utilidade tem a construção que se desmorona ao mais leve sopro de vento ou que, ao jeito de construção na areia, é destruída logo que a maré sobe... Neste sentido, o Homem prudente procura que aquilo que constrói seja durável, que seja utilizável com proveito enquanto seja útil. E com isto, tanto nos podemos estar a referir à construção de um edifício ou de uma ponte, como à edificação da relação que partilhamos com a nossa companheira de vida ou àquela que temos com os nossos filhos, ou ainda aos laços de amizade que tecemos ao longo de nossas vidas.

A obra humana, seja física, seja relacional, deve, à imagem do seu autor, estar dotada de Força, isto é, deve corresponder ao que se pretende dela (eficácia) por todo o tempo que se destinar a durar (durabilidade), no limite para toda a nossa vida e, se possível, para além dela.

Para os maçons, é importante, mas não basta, que os seus actos estejam dotados de Sabedoria; é imperioso que tenham também a Força que os faça valer a pena.

É assim que a Força é outra coluna de suporte do Templo que interiormente cada um de nós deve edificar.

Rui Bandeira

23 outubro 2006

Sabedoria


Não é Conhecimento. Há, por esse mundo fora, muito analfabeto mais sabedor que muito doutor.

Não é também Cultura. Há por aí muito intelectual superculto que, apesar da pose, destila muita erudição, mas demonstra muito pouca sabedoria.

Não é ainda Inteligência. Há à nossa volta muito bem dotado de células cinzentas que esbanja as suas capacidades com uma ingenuidade arrepiante.

Sabedoria é um pouco de tudo isso, com um nada de aquilo e um pó de aqueloutro, para ser muito mais do que tudo isso.

Sabedoria é a capacidade de fazer o que se deve, quando se deve. A virtude de tomar a decisão certa, na hora adequada, para a situação asada.

Sabedoria é intuir quando é hora de aguardar e quando é o momento de agir.

Sabedoria é sentir quando se deve elogiar e quando se impõe criticar.

Sabedoria é concordar com naturalidade e discordar com elegância.

Sabedoria é prudência corajosa temperada com arrojo medido, misturada com acerto racional envolvido em intuição educada.

O objectivo do maçon é pautar todos os seus actos, dotar todas as suas obras, da virtude da Sabedoria. É um equilíbrio difícil de atingir, para o timorato e para o arrojado, para o novo e para o velho, para o intelectual e para o prático.

Para conseguirmos dotar as nossas decisões de Sabedoria, temos de estar constantemente alerta e no uso de todas as nossas capacidades. Em cada momento é mister temperarmos o nosso impulso com a razão, mas não abafando a nossa intuição, antes completando-a com o resultado de nossa análise.

Agir com Sabedoria não é ganhar sempre; é, por vezes, saber perder, porque a nossa derrota é menos prejudicial do que a vitória sobre outrem; é entender que é preciso conceder a vitória a outrem hoje para vencer amanhã.

Actuar de modo sabedor é lograr atingir, em cada situação, o maior Bem possível, causando o menor Mal que se puder.

Procurar praticar a Sabedoria é uma tarefa de hoje, sempre e durante toda a vida.

Não se é sabedor. Procura-se conseguir agir sabiamente em cada instante.

É uma tarefa de vida. Mas quando se consegue executá-la com êxito, vislumbra-se uma poalha do brilho da Divina Perfeição.

Só procurando utilizar todas as nossas capacidades e todo o nosso esforço no sentido de agir com Sabedoria somos dignos da nossa Humanidade.

Eis porque a Sabedoria é uma das colunas de suporte do nosso Templo Interior!

Rui Bandeira

20 outubro 2006

Do Zénite ao Nadir


O local onde os maçons se reúnem é por estes designado de Templo.

Embora tal não seja absolutamente necessário, por regra esse local está profusamente recheado (decorado, dizem os maçons) de objectos e referências que constituem símbolos. A observação desses símbolos, a atribuição do seu significado e a elaboração sobre o mesmo é uma permanente tarefa do maçon.
O Templo físico, o local de reunião é, no entanto, muito mais do que apenas isso.
Como em quase tudo em Maçonaria, o que é aparente esconde um outro significado, que por sua vez pode revelar um terceiro.
Assim, o Templo físico é simultaneamente o local de reunião, apenas entre maçons, mas também simboliza todo o Universo. Por isso dizem os maçons que as suas dimensões vão do Ocidente ao Oriente e do Zénite (o ponto mais alto das alturas) ao Nadir (o ponto mais profundo das profundezas). Simboliza assim todo o Espaço, afinal o local onde existe e vive e trabalha e produz e evolui toda a Humanidade em geral e o maçon em particular. Tal como o maçon deve ter uma impoluta conduta dentro do Templo / local de reunião , deve mantê-la em qualquer local onde se encontre, pois, onde quer que esteja, está em local que é produto da Criação, ou seja, onde quer que o maçon se encontre, está dentro do Templo Universal criado pelo Grande Arquitecto do Universo.
Mas ainda um terceiro significado simbólico existe no Templo: este é o local físico de reunião dos maçons, simboliza todo o Universo, mas também - e principalmente - simboliza o que o maçon permanentemente deve construir: o seu próprio Templo Interior, local apto a condignamente albergar a partícula de Divindade que, se lograr descobrir a Luz, verá brilhar dentro de si.
Esse templo interior deve ser construido com base nas três colunas da maçonaria: a Sabedoria, a Força e a Beleza, pilares de sustentação do mesmo.
Por isso, nos Templos maçónicos estão, além do mais, presentes três colunas, a cada uma se atribuindo um desses significados (ver imagem).
Rui Bandeira