26 julho 2006

Momentos da Vida Portuguesa II

Pois não me espanta nada o sucedido com o Sindicalista da PSP.

Hoje de manhã ouvindo a TSF, o reporter fazia um alarido monstruoso sobre um bloqueio que os pescadores estavam a fazer na lota de Matosinhos.

Os ditos pescadores acusavam a marinha de guerra portuguesa de perseguição. Eu sei que a Marinha de Guerra Portuguesa com os meios que tem à disposição apenas consegue perseguir traineiras, mas não é por aí.

O reporter entrevista então um dos circunstantes ( que se identificou como pescador) que acusou a MArinha de perseguição e de os estar sempre a multar. Juntou então que de facto usam Artes Ilegais na malhagem e no comprimento e mais nao sei o quê, mas que isso ( o uso de artes ilegais) não era razão para serem multados.

Que querem que vos diga....

Roube-se, delapide-se, porque segundo o dito pescador podemos sempre acusar a autoridade de perseguição.

E mais nada !!

JoseSR

MOMENTOS DA VIDA PORTUGUESA


Verdade, verdadinha, como diz um bom Amigo meu, estamos num mundo louco, ou como num belo filme, já com uns anitos, “Os deuses devem estar loucos”.
No filme acontece uma 1ª confrontação com a civilização (será ?) e a partir daí desenrola-se uma estória mordaz mas com um humor apurado, que leva ao riso aberto de princípio a fim.


Os elementos da PSP, no acto de admissão oficial, juram servir as populações que neles
devem ver a personificação da Lei.
Não vale a pena sermos ingénuos e acreditar que só há gente bem formada numa organização
que integra milhares de pessoas, com origens nos mesmos meios de todos os outros
portugueses, bons, maus e assim-assim.
Portanto na PSP há também polícias bons, maus e assim-assim, como todos nós, sendo
desejável que a percentagem de bons seja bem maior que a dos outros.
Ora acontece que é suposto a PSP servir para defender os cidadãos e as suas organizações,
quando legítimas, isto é, quando em consonância com a lei do País.
E não pode haver organização mais legítima do que o próprio governo da Nação, eleito
livremente pelos cidadãos.
Poder-se-á não gostar dele, não lhe demos o nosso voto, mas Democracia é isso mesmo, as
maiorias existem para decidir, gostemos ou não!
A espiral de asneira dos “sindicalistas da PSP” era fartamente previsivel quando foi
autorizada legalmente a sua existência.
E esta opinião não tem nada, rigorosamente nada, a ver com o direito da existência de
Sindicatos e nada contra a actuação reinvidicativa respectiva se orientada pelo direito e pela
inteligência.
Mas nós ouvimos e vimos uma entrevista com um dos responsaveis da organização sindical da
PSP a anunciar ao mundo que “já corremos com um 1º Ministro para Bruxelas e vamos
correr com este também” !
Parece mentira não é ? Não é, não, é mesmo verdade.
Então qual é a surpresa de ser compulsivamente passado à reforma ? Mas o que é que esse
“artista” estava à espera ? Que o Governo ficasse à espera que esse polícia repetisse o acto
de terrorismo anterior ? É que isso de derrubar Governos eleitos legal e livremente é um
acto de terrorismo !
Como dizia o outro, é a Democracia estúpido... é a Democracia.

Esta outra estória seria também risível se fosse em filme, passado nos “confins” africanos, com polícias que nunca tivessem visto uma garrafa de Coca-Cola...
Mas não é, infelizmente não é !
JPSetúbal

Urgências 2006



Na passada semana, fui, com um outro dos habituais colaboradores deste blogue e as respectivas caras metades, assistir, no Teatro Maria Matos, ao espectáculo "Urgências 2006", constituído por onze pequenas peças, todas relacionadas com o tema que dá o título ao espectáculo, que os seus promotores impressivamente afirmam serem "como um festival de curtas metragens em teatro".

Gostei! Ou melhor, gostámos! Como me disse, no final, o outro blogueiro, nenhum dos textos é mau e pelo menos metade são francamente bons.

É um espectáculo que recomendo seja visto com...urgência, pois as últimas representações decorrem de hoje até sábado, às 21 h 30 m.

Das onze pequenas peças, apreciei particularmente três: CORO DOS AMANTES A CAMINHO DO HOSPITAL - soberba interpretação de Cláudia Gaiolas e Tónan Quito -, ÚLTIMA CHAMADA - um interessante diálogo interpretado por Margarida Cardeal e (de novo) Tónan Quito - e BOLAS DE NEVE - um perturbador texto sobre as possíveis e nem sequer sonhadas consequências das nossas acções, mesmo as mais simples, interpretado por Iolanda Laranjeiro e Luís Mestre.

Interpretam este espectáculo, além dos já citados, também Joaquim Horta, Sofia Grilo e Tiago Rodrigues, sendo que este último assina também a encenação e é autor de um dos textos, precisamente o primeiro que acima destaquei.

Este espectáculo é uma co-produção Mundo Perfeito / Produções Fictícias / Teatro Maria Matos e é , sem dúvida, um dos bons espectáculos teatrais em cena, interpretado por actores da jovem geração, que mostram muita qualidade e de quem seguramente muito vamos ouvir falar.

Atenção: não é um espectáculo maçador ou para intelectuais! São textos que possibilitam soberbas interpretações, admiráveis monólogos e interessantes diálogos, oscilando entre o sério e o humor inteligente. Proporciona duas horas de um espectáculo divertido, mas não bacoco ou boçal.

Na minha opinião, é a prova de que um Teatro Municipal pode, se bem dirigido por um programador competente (e o director artístico do Maria Matos é Diogo Infante) proporcionar espectáculos de qualidade, com interesse para o grande público e não apenas para meia dúzia de intelectuais.

Mais informações aqui .

Ah! E este espectáculo tem também um blogue! Não é tão bom como este (modéstia à parte...; presunção e água benta cada qual toma a que quer...), mas vale bem a pena espreitá-lo, também com alguma... urgência, não vá o blogue ser apagado após o fim da apresentação do Urgências 2006. Dêem uma olhada neste endereço .

Rui Bandeira

25 julho 2006

Energia - a factura II

Nota previa
Fico sempre satisfeito quando um tema gera respostas contraditorias ou movimentos de continuação. E fico-o porque acho que esse é um dos objectivos deste blog.
Fico muito satisfeito por ter sempre as opinioes do Rui e do JPSetubal.
Ficaria muito mais se outros se juntassem à discussão.



Não sou um fundamentalista da energia Nuclear. Chamem-me mais um copista.

Na Europa industrializada mais de metade da energia electrica ( em alguns casos cerca de 80 % ) é de origem nuclear.

Eu sei bem que o Nuclear não resolve o caso dos automoveis e de outras meiso de locomoção.
Mas a energia electrica é uma alternativa a geradores Diesel, maquinas a Gás natural, consumo domestico de aquecimento, etc.

A produção Nuclear obvia à necessidade de centrais termoelectricas a carvão, petroleo ou gás ou mesmo as mais modernas de ciclo combinado.

Por uma Central Nuclear a trabalhar demora. Demora uns anos largos e é preciso começar logo a pensar no seu fecho e na abertura de uma nova.

O que acontece neste mundo é que os hidrocarbonetos estão com os dias contados. O Desenvolvimento da India e da China aumentando o respectivo consumo de petroleo, vieram por uma pressão suplementar em cima do preço. ( Basta pensarmos que estes dois paises juntos somam mais de 2,5 bilioes de pessoas ou seja 1/3 da populaçao do mundo e só agora começam a desenvolver-se economicamente)

As alternativas ao Petroleo passaram de alternativas a interesse estratégico. Quando o Petroleo acabar .....

E quer queiramos quer não, as eolicas têm uma produção muito pouco rentavel, as ondas do mar é uma ideia que ainda nao produziu resultados que sejam sequer mensuraveis, a biomassa é um conceito interessante para produção energética local ( auto-suficiencia de exploraçoes agricolas).

Mas dizia eu que sou um copista.

Sou porque não vale a pena re-inventar a roda. Uma data de países cujas economias são bem mais fortes que a nossa produzem energia Nuclear, e nós andamos atrás de Moinhos de Vento.

Nem os espanhois, patricios do D. Quixote, andam atras dos moinhos de vento.

O Nuclear é 100 % seguro ? É claro que não.

Nada é 100% seguro.

Há acidentes nucleares ? Claro que há.

Como há acidentes com refinarias convencionais, e centrais de ciclo combinado , etc.

Mas tudo isto é irrelevante face à necessidade estratégica de ter alternativas de produção energetica dentro de 10 anos.

Se me convencerem que uma plantaçao de Moinhos de vento de Norte a Sul , De Ocidente a Oriente e do Zenite ao Nadir das Montanhas , resolve o nosso problema energetico sem criar outros de maior dimensão, garanto que pego numa pá e planto um moinho la na minha rua.

Enquanto isso, sou copista.

JoseSR

24 julho 2006

Energia nuclear - sim ou não?


Decididamente, este blogue está numa fase de debate de "questões fracturantes".

Já por aqu passou a questão do Médio Oriente, agora foi introduzida a questão da produção de energia nuclear em Portugal.

O JoséSR deu o pontapé de saída no debate, manifestando-se a favor. Em comentário ao texto do JoséSR, o JPSetúbal manifesta a sua opinião em sentido contrário.

No texto "Energia - a factura" e nos respectivos comentários podem ler-se os respectivos argumentos - que não vale, portanto, a pena aqui repetir -, os quais não fogem da argumentação tradicional de cada uma das posições.

Este é um daqueles temas em que, a curto prazo, não vislumbro possibilidades de se atingirem grandes consensos: quem é pro-energia nuclear em Portugal esgrime com a necessidade económica da produção de energia por esta via, com o desenvolvimento da tecnologia de segurança das centrais nucleares de última geração, com o facto de Portugal ter centrais nucleares espanholas próximo das suas fronteiras e, portanto, já ter os riscos sem ter os benefícios; quem é anti-energia nuclear em Portugal argumenta com os custos de construção e manutenção de uma central nuclear, com os riscos e com o ainda mal resolvido problema dos resíduos, atenta a meia-vida de centenas de milhares de anos da matéria radioactiva que os compõe.

De um lado e do outro, tenho para mim que, embora sob acapa da argumentação racional, o que cada um dos campos esgrime é com a sua convicção. Acima de tudo é esta que influi nas posições de um e de outro lado. A colocação de um ou do outro lado da barricada é ainda, portanto, uma questão de convicção, ou seja, de FÉ. E nós bem sabemos que a fé não de discute, nem vale a pena discuti-la...

Logo, enquanto a discussão se mantiver no plano - ainda que subliminar, ainda que não aceite como tal - da convicção, não podemos esperar que as posições de princípio extremadas evoluam para um maior ou menor consenso, através da discussão racional. As coisas são como são!

Obviamente que respeito a Fé, a Convicção de cada um mas, neste assunto assumo-me como "agnóstico", isto é, não tenho ainda uma opinião completamente formada, não tenho uma convicção sólida, procuro ainda analisar tão racionalmente quanto possível os argumentos de um e outro lado para, pela razão, procurar chegar a uma posição.

Sem poder, portanto, postular qualquer certeza, sinto-me suficientemente equidistante para analisar os argumentos de cada campo e emitir o meu juízo sobre a respectiva valia. É claro que, nestas questões de convicção, quem se declara equidistante, "em cima do muro", corre o risco de não ver as suas posições críticas bem aceites, nem por um, nem por outro dos lados. Mas. no caso concreto da discussão neste blogue, aventuro-me confiantemente na empresa de ousar opinar sobre as argumentações opostas, sem temer reacções adversas, quer porque nenhum dos "contendores", sendo embora ambos firmes nas suas convicções, é fundamentalista, quer porque qualquer deles tem a inteligência suficiente para entender que é errado atirar pedras a quem está em cima do muro, porque o impacto delas poderia fazer tombar o atingido... para o outro lado!

Assim auto-confortado, começo por dizer que me parece que a argumentação de um e de outro campo (não especialmente a argumentaçãodo JoséSR e a do JPSetúbal, mas, mais genericamente, a argumentação dos campos, respectivamente, pro e anti energia nuclear em Portugal) se me afigura não totalmente isenta de demagogia.

É algo demagógico esgrimir-se com o preço do petróleo e, sobretudo, com o previsivelmente não muito longínquo fim das resrvas do mesmo para sustentar a inevitabilidade da produção de energia através do nuclear. O petróleo é, nos tempos actuais, essencialmente imprescindível para o sector dos transportes. São os automóveis, os camiões, os navios, os aviões, enfim, quase tudo o que mexe que depende dos hidrocarbonetos. Mas a energia nuclear não responde a esse problema! Parece-me (ao menos no futuro previsível) impensável que os meios de transporte sejam movidoa a fissão nuclear, cada viatura, navio ou avião dotado do respectivo reactor nuclear (existem, é certo, os submarinos nucleares, mas essa é outra guerra, e uso o termo sem ser sequer em sentido figurado...).

Para os transportes, a solução alternativa, tanto quanto se descortina, só poderá advir do desenvolvimento das pilhas de hidrogénio (o que implica a resolução de questões técniicas, de segurança e de custo que, por enquanto, são complicadas), enfim, e em linguagem muito simplificada, o sonho dos veículos movidos a água (mas, já agora, de preferência, salgada, que há muita nos oceanos, e a água doce já vai faltando...).

Não é a escassez dos hidrocarbonetos que, no meu entender, implica a produção de energia através do nuclear. Esta destina-se essencialmente à produção de electricidade e a mesma, salvo quanto ao caminho de ferro e seus sucedâneos, pouca ou nenhuma utilidade traz, por ora, ao sector dos transportes.

Objectar-se-á, porém, que a produção de energia eléctrica em larga escala faz-se com o recurso à energia hídrica, à energia nuclear ou à energia termoeléctrica e que esta consome hidrocarbonetos; portanto, a produção de energia eléctrica através do nuclear permitirá poupar no consumo de hidrocarbonetos (ainda com o bónus de diminuir a produção de dióxido de carbono e ajudar a não agravar o problema do aquecimento global). O argumento é pertinente, mas, a meu ver, não decisivo. Em primeiro lugar, é certo que a produção de energia eléctrica em larga escala faz-se essencialmente por estas três vias, mas não só por elas: pode-se produzir energia eléctrica também com recurso às energias solar, eólica e das ondas, além das mais limitadas possibilidades de aproveitamento da energia de origem vulcânica (já se faz, nos Açores) e de biocombustível.

Para produção de electricidade, assim, a alternativa não é petróleo ou nuclear. É petróleo ou energia hídrica, eólica, solar, das ondas, vulcânica, de biocombustível e também, se necessário, nuclear. É claro que se o lóbi ecologista fizer uma gritaria sempre que se quiser construir uma barragem, porque "se vai destruir o último rio selvagem da Europa" ou porque se destrói o habitat natural de uma espécie obscura de peixinho, ou se armar um espalhafato porque os moinhos de produção de energia eléctrica através do vento destroem a paisagem, não se vai a lado nenhum a não ser, efectivamente ao nuclear...

Objecta ainda quem defende o nuclear que a produção de energia eléctrica através da energia solar, ou do vento, ou das ondas, ou vulcânica, ou de biocombustível, sai mais cara do que através dos hidrocarbonetos ou da energia nuclear. O argumento só parcialmente é procedente quanto à comparação dos custos com os hidrocarbonetos e é duvidoso quanto à comparação com o nuclear.

Que a produção de energia através das tecnologias limpas é mais caro do que através dos hidrocarbonetos é um facto... AINDA. Mas, por um lado, é de esperar que o investimento na evolução dessas tecnologias faça baixar o seu preço de produção; e, por outro, é inútil comparar preços quando não houver hidrocarbonetos... E, mesmo antes disso, se o preço do petróleo continuar a aumentar, a sua vantagem competitiva diminui e, tendencialmente, desaparece. E não vale a pena esperar que os produtores de petróleo limitem o preço, como estratégia para que tal não suceda: por um lado, está à vista que o que vai havendo é um constante movimento de aumento de preços, com base em todos os pretextos (qualquer dia, ainda vamos ouvir a justificação do aumento do preço do "brent"do Mar do Norte, como consequência de uma derrota do Chelsea, ou do Manchester United, ou doutro qualquer...); por outro, quando acabar...acabou, e ponto final!

Quanto à comparação com os custos de produção de energia nuclear, também não é certo que, todas as contas feitas, o nuclear seja efectivamente mais barato: há que incluir nas contas a amortização do colossal custo de construção de uma central nuclear, do enriquecimento de urâneo (obrigatoriamente feito no estrangeiro e, portanto, sem que nacionalmente possamos controlar o preço), das obrigatórias e caras medidas de segurança... e do custo de tratamento, transporte, armazenagem e segurança dos resíduos. Tudo somado, vai dar uma conta calada e... uma central nuclear tem uma vida útil de 30 ou 40 anos e tudo tem de ser amortizado nesse período.

Assim, meus caros defensores da produção de energia nuclear em Portugal, as vantagens dessa opção não são tão evidentes e indiscutíveis assim!

Mas também a argumentação dos anti-nuclear em Portugal padece de alguma demagogia.

Quanto aos riscos, realmente estamos conversados, indo dar um passeio a Almaraz! Não vale realmente a pena continuar a bater nesta tecla. É incontornável que a situação presente é que temos os riscos e não temos as vantagens e impõe-se reconhecê-lo. Por aí não me convencem!

Aliás, a questão do risco do nuclear é uma discussão claramente inquinada pela emoção. Quer queiramos, quer não, a nossa memória colectiva permanece presa aos pecados originais do nuclear: Hiroshima e Nagasaki! O cogumelo nuclear! A guerra fria e a capacidade das potências nucleares para destruir sete vezes a Terra (como se fosse possível destrui-la mais do que uma vez...)!

Tudo isso permanece num cantinho dos nossos cérebros... e tudo isso é irrelevante para a discussão! Primeiro, porque o que se discute é a utilização pacífica da energia nuclear, não a bélica. Segundo, porque os mísseis nucleares, as bombas, os submarinos nucleares continuam aí - e, infelizmente, parece que continuarão, com ou sem centrais nucleares de produção de energia eléctrica.

E não vale a pena acenar com o papão de Chernobyl. O acidente de Chernobyl ocorreu em consequência de anos e anos de criminoso abandono das mais elementares regras de segurança e da manutenção em funcionamento de um reactor que tinha há muito ultrapassado o termo da sua vida útil em segurança. Chernobyl não é nem nunca foi um problema de segurança. Devia, pura e simplesmente, ser um (exemplar) caso de polícia!

Quanto à questão dos resíduos, é também de uma pertinência apenas parcial. É verdade que os resíduos são um problema. Mas, por um lado, SÃO UM PROBLEMA, COM CENTRAL NUCLEAR EM PORTUGAL OU SEM CENTRAL NUCLEAR EM PORTUGAL! Repare-se: existem centenas de centrais nucleares em todo o Mundo. Que criam resíduos! Nenhuma alteração QUALITATIVA uma central nuclear em Portugal traz ao problema. Nem sequer quantitativamente significativa...

Também não julgo válido o argumento de que os países desenvolvidos mudaram a sua política quanto à produção de energia nuclear e estão a encerrar centrais, não a abri-las. Este argumento, por um lado, é inexacto: estão a fechar centrais centrais QUE ATINGIRAM O FIM DA SUA VIDA ÚTIL COM SEGURANÇA, de primeira e segunda geração (que , ao menos, Chernobyl tenha servido de lição), mas estão, porque continuam a precisar da produção nuclear de energia, a substitui-las por centrais de terceira e quarta geração, espera-se que com vantagem no capítulo da segurança. Uma última nota, quanto aos anti-nuclear em Portugal: sabiam que JÁ EXISTE UM REACTOR NUCLEAR EM PORTUGAL? E em funcionamento? É o reactor do LNETI, que, é certo, é pequenino, mas tem tantos riscos como os grandes e que até suspeito que esteja já no limite da sua vida útil e a precisar de urgente substituição (já existia há mais de 30 anos...). E sabem onde é que ele está? Em Sacavém, às portas de Lisboa (e do outro lado da colina fica Odivelas)... Nada mal para quem teme pela segurança do nuclear!

Portanto, meus caros, a argumentação de um e do outro lado não me convence!

E o que penso eu? Deve ou não haver uma central de produção eléctrica em Portugal?

Por enquanto, a minha resposta - e penso que, por ora, a única racionalmente possível - é... NIM!

Depende da análise SÉRIA e COMPETENTE das necessidades e custos. Ou seja, não sou emocionalmente contra uma central de produção de energia eléctrica através do nuclear em Portugal. Mas também não sou acefalamente a favor!

Depende da avaliação das necessidades, da capacidade de obtenção da independência energética, no que toca à electricidade, do País através de outras fontes de energia. Depende da comparação de custos. Necessidade e custos! Tudo se resume a isso! O resto é... paixão, não razão.

Portanto, repito, por ora a minha resposta é nim. Se e quando, porventura, mediante estudos sérios e credíveis (e não arrazoados pseudo-modernistas), me convencerem da necessidade e/ou conveniência e efectiva superação dos inconvenientes pelas vantagens da existência de uma central nuclear em Portugal, evoluirei para um sim; se e quando, porventura, me convencerem, mediante estudos sérios e credíveis (e não arrazoados pseudo-ecologistas) da desnecessidade e/ou inconveniência e efectiva superação das vantagens pelos inconvenientes da existência de uma central nuclear em Portugal, evoluirei, sem qualquer problema, para um não.

Há assuntos que só se resolvem bem com a cabeça, não com o coração...

Rui Bandeira

Energia - a factura

O nosso país é totalmente dependente de fontes externas para produzir a energia que consumimos.

Bem não totalmente porque algumas das nossas barragens produzem electricidade, mas não chega.

Importamos petroleo, gás,electricidade,carvão, enfim quase tudo.

Temos uma factura de energia enorme, e isso reflecte-se na produtividade de algumas industrias, e no custo geral de tudo o que produzimos ( serviços incluidos).

Hoje no suplemento economia do DN, um investigador portugues defende que a produção de energia Nuclear em Portugal seria uma forma de reduzir os custos de produção energeticos e consequentemente termos energia mais barata.

Acho que ele tem toda a razão.

Os criticos do Nuclear que me perdoem, mas não têm grandes razões para se oporem, mas para o fazerem teriam que ser consequentes, senão vejamos:

De acordo com o mesmo artigo 16% da energia consumida é de origem Nuclear, isto quer dizer que os Anti Nucleares teriam que viver às escuras durante 58 dias por ano, para nao usarem energia nuclear.

Por outro lado, as centrais nucleares espanholas estão junto de cursos de agua que vêm dar a POrtugal, nomeadamente a de Almaraz junto ao Tejo. Se aquilo explodir garanto que a radioactividade chega a Lisboa, e os peixinhos que andam ali nas docas ficam fluorescentes. Ora os amigos na liga antinuclear tambem nao deveriam viver em Lisboa. E como as zonas do Douro e do Guadiana também nao são seguras o melhor é irem para a Madeira ( opps não pode ser que o Alberto João não quer lá os indios do Continente).

Ora se já usamos 16% de energia Nuclear, se sem nenhuma possibilidade de controlo estamos à mercê das centrais espanholas, se e Graças a Deus e aos Engenheiros, no mundo Ocidental os acidentes nucleares são quase inexistentes , e ainda por cima o mesmo artigo diz que a nossa factura ainda pode baixar 50 % se abrirmos uma Central Nuclear.

Além do mais somos exportadores de Uranio, bem sei que o este uranio tem que ir para fabricas para ser enriquecido etc, mas mesmo assim.

A passagem ao Nuclear traria ainda a vantagem de ficarmos menos dependentes do Petroleo e do Gás Natural, coisas que como sabemos têm os preços inflacionados e ao sabor de N factores que nao controlamos, como sejam o aumento do numero de carros em circulãção na China e na India.

Creio que este país teria todas as vantagens em ter energia Nuclear.

JoséSR

Foi na 6ª feira !


E só perderam os que não foram.
Festa linda, bem animada, muita música, sardinhas, bifanas e caldo verde conforme foi prometido.
Esta Gente não promete fiado... quando prometem cumprem (e isto não é só publicidade !!!)
Parabéns a Ana Braz e à fantástica equipa que trabalhou, trabalhou, trabalhou... para pôr em pé aquela realização.

Aqui fica uma sugestão para os Empresários, Directores e Gestores que têm festas ou quaisquer eventos para realizar.
Não há melhor equipa para a decoração de espaços do que a da Cerciama (e isto também não é só publicidade !!!).
Recorram a eles, peçam orçamentos e terão oportunidade para terem um excelente produto, garantidamente sem os preços exorbitantes que se pedem para aí.

O contacto é o mesmo: Cerciama - R. Mestre Roque Gameiro, 12 Amadora
Mandem ao cuidado da Directora, Dra. Ana Braz.
JPSetúbal

22 julho 2006

Todas as óperas de Mozart no Festival de Salzburgo

Um dos nossos blogueiros "oficiais", o Rui, postou, e bem, sobre Mozart e a sua extrordinária Flauta Mágica.
Como já estamos de fim de semana resolvi postar uma notícia que me saltou, por acaso, frente aos olhos.
Cá vai ela:

Cerca de 150 cantores líricos e grandes maestros vão estar a partir de domingo no festival de Salzuburgo, que este ano apresentará toda a obra cénica de Wolfgang Amadeus Mozart, nascido há 250 anos.
Até 31 de Agosto, na cidade de Mozart, onde decorre o mais célebre festival de música clássica, serão apresentadas as 22 óperas do autor de «A Flauta Mágica».
A 26 de Julho, a ópera «As bodas de Fígaro», com direcção de Nikolaus Harnoncourt, será representada na inauguração do remodelado auditório «Haus fur Mozart» (A casa de Mozart), um espaço que antes era conhecido como o pequeno teatro do festival.
A soprano russa Anna Netrebko fará o papel de Susana.
A «Flauta Mágica», com direcção de Riccardo Muti e a soprano Diana Damrau no papel de Rainha da Noite, terá uma récita no próximo dia 29.
O desafio de encenar as 22 óperas de Mozart partiu do director do festival, Peter Ruzicka.
«Vão ser estudadas diferentes formas musicais, com obras conhecidas apresentadas com inovações e outras desconhecidas que se pretende tornar mais familiares», indicou, na apresentação do programa do festival, que este ano tem como lema «Mozart 22».
A 28 de Julho, uma obra composta por Mozart quando era ainda muito jovem, «Bastien e Bastienne», será representada com marionetas.
O programa do festival tem suscitado grande expectativa, mas também há vozes críticas que o acusam de ser demasiado pretensioso.
«Sem dúvida que é um desafio maior para um gestor cultural estar em Salzburgo em 2006 e tornar este plano realidade», reconheceu Ruzicka, o maestro alemão que em Outubro de 2001 substituiu o belga Gerard Mortier na direcção do festival.
Esta edição do festival de Salzburgo inclui, além do tributo a Mozart, um programa de teatro e de concertos, com a estreia de obras de música contemporânea.
Diário Digital / Lusa


Desculpem o meu mau feitio... mas:
Depois das excursões às várias cidades alemãs onde se deram pontapés na bola e cabeçadas nos homens, seria bom saber das excursões que as várias classes portuguesas farão a Salzburg...

O Homem era Maçon... que chatice, mas também não é razão para lhe ligarem menos do que ligaram ao Pauleta, que de notas também percebe (ou será, recebe ?).
Estou com dúvidas, deve ser da hora tardia ! Boa noite.

JPSetúbal

21 julho 2006

Vida de Cão !!!!

E ao entrar no Yahoo era uma das noticias do dia , leiam primeiro o link e depois o texto.

Por favor ( e por razoes tecnicas que se prendem com restriçoes que este blog tem em termos de comprimento de campos) copiem para a linha de endereço tudo que está aqui pondo a segunda linha imediatamente ao lado da primeira

http://news.yahoo.com/s/afp/20060718/ts_alt_afp/
afplifestyleusanimalshotelpetsoffbeat_060718071109

Eu tenho um cão e confesso que quando preciso recorro a um hotel de cães, ali para os lados de Albarraque. Instalações limpas, grandes quanto baste, passeio para o cão 2 x ao dia ( o cão é posto em liberdade num recinto apropriado no meio de um pinhal ), comida e agua. Isto Custa-me porque sou cliente assiduo e o meu cão é proveniente daquele canil 15 euros por dia.

E recorro porque o compromisso com um animal é até ao fim, e evidentemente se me ausento para férias ou trabalho não vou abandonar o dito bicho.

Ao ver tamanho luxo para os caezinhos americanos, fiquei banzado salas em mogno, suites com TV e filmes ( extra no preço) e sei lá mais o quê.

Mas o que mais me chocou foi o preço, 23 USd = 20 Euros por noite

Se eu aqui pago 15 ( preço especial) e eles 20 ou os Americanos pagam pouco ou eu pago muito.

Decididamente o melhor é ser cão !!!! seja cá ou lá o tratamento é melhor que para as pessoas.


JoséSR

VIVER !

Bem, cá estou eu para estrilhar a seriedade desta coisa !
Meus queridos, preparemos o fim de semana, com a preocupação natural de quem tem que viver neste "mundo de loucos" (onde é que eu já ouvi isto ?), sem perder de vista a alegria que a vida nos merece e sem a qual este mundo passa a ser, definitivamente, quadrado !

Preparemos o fim de semana com um momento ralaxante.

Recebi um "textinho" que quero partilhar convosco, sob o título "Viver", da autoria de Luis Fernando Veríssimo, mandado por um bom Amigo de vários anos de luta diária.
Então passo a transcrever:

Acho a maior graça.
Tomate previne isso,
cebola previne aquilo,
chocolate faz bem,
chocolate faz mal,
um cálice diário de vinho não tem problema ,
qualquer gole de álcool é nocivo,
tome água em abundância, mas não exagere...

Diante desta profusão de descobertas,
acho mais seguro não mudar de hábitos.
Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.

Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.

Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de idéias.

Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago.

Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.

E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem,
Dançar faz bem,
Ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem;
Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.

Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde,
e ainda mais passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda.

Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.

Ir ao cinema , conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!

Cinema é melhor pra saúde do que pipoca.
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada.

Luís Fernando Veríssimo

Agora acrescento eu...

Seu Luis, me desculpa, mas...
Sonhar é melhor do que tudo !

JPSetúbal

“Amar a Pátria ...” e o Futebol (mais uma sobre ...)

Para aqueles para quem a frase em título faz algum sentido, e a reconhecem desde os primeiros passos iniciáticos na nossa augusta ordem, o que significa que TODOS já com ela conviveram, ocorreu-me, neste texto profano, mas não esquecendo a responsabilidade que impende sobre todo e qualquer Maçon, ao qual se lhe exige, não ser bom como os demais profanos, mas sim ser melhor que eles, dissertar sobre um tema que a tantos diz, porém a uns coisas boas a outros nem por isso.
Mas afinal o que é que o futebol tem a ver com o “Amar a Pátria” ?
Futebol já todos sabemos o que é. Mas e a Pátria, todos saberão ?
E onde é que isto encaixa com a maçonaria, ou com os maçons ?
Muitas perguntas. Algumas pistas de resposta pretendo aqui deixar, alertando humildemente para o facto de serem meras opiniões pessoais, que naturalmente deverão soçobrar perante avalizadas opiniões.
Antes porém uma pequena historia introdutória gostaria de aqui deixar. Tem a ver com uma comitiva de Eleitos Locais Portugueses, fundamentalmente, constituída por Presidentes de Câmara e Assembleia Municipal portugueses, que se deslocaram ao Brasil, concretamente ao estado do Ceará.
A deslocação desta comitiva pretendia partilhar com os congéneres daquele Estado Brasileiro formas de intervenção municipal, comparar sinergias, promover Portugal e o Brasil como destinos turísticos.
Numa dada fase dos trabalhos, em sala, a comitiva Portuguesa foi dividida por regiões de forma a formar grupos e assim preparar uma apresentação das respectivas regiões onde se inseriam os municípios de cada um.
O autor destas linhas tendo estado presente (embora não como eleito) teve oportunidade de registar que a generalidade dos eleitos portugueses, a quem incumbiu a apresentação dos seus grupos de trabalho, perante uma plateia composta por decisores políticos locais brasileiros, desfiaram um chorrilho de lamentações, exigências e protestos, tal como se ali estivesse quem lhes pudesse resolver todos os seus problemas. Isto para além de utilizarem siglas e palavras incompreensíveis para os nossos “irmãos” brasileiros.
Ora para promoção do País, estando nós no estrangeiro, foi do pior que já tive oportunidade de presenciar.
Coube-me porém a sorte de fazer a apresentação do meu grupo de trabalho, e tendo ficado para penúltimo, considerei uma oportunidade de desfazer a imagem negativa construída pelos meus antecessores.
E porque “amo a minha Pátria” falei apenas dos aspectos positivos que o meu País oferece, hoje e no futuro. Não deixei de falar no passado, pois Portugal pode orgulhar-se de ter um longo e rico passado, já outros países ... .
Se nós próprios não valorizarmos perante os outros aquilo que nos é próximo então quem o fará ?
Agora o futebol onde muito se falou e de como o campeonato do mundo mudou a vida das pessoas e dos países. A “coisa” vinha já do europeu em 2004.
Claro que as injecções diárias de noticias futebolísticas roçaram o exagero, claro que os considerandos dos “treinadores de bancada” oscilavam nos índices dos limites da paciência, perante as mais desfocadas posições sobre aquilo que era a eficácia da selecção nacional.
Mas alcandorar o futebol como uma maleita de um povo inculto ou sem objectivos, ou pelo menos sem qualquer outro motivo de interesse, assim demonstrando a pobreza de espirito nacional, essa é manifestamente incompreensível.
Um povo que “ame a sua pátria” deve orgulhar-se por se distinguir num qualquer domínio, seja ele na cultura (orgulhemo-nos de dois prémios Nobel – medecina e literatura), seja no desporto, e aqui muito á com que nos orgulhar, seja na ciência (orgulhemo-nos dos vários cientistas portugueses, embora aqui apenas refira por economia de espaço o António Damásio), seja na Política (orgulhemo-nos pelo Cutileiro na UEO, do Freitas do Amaral na Assembleia Geral da ONU, pelo Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, orgulhemo-nos pelo António Guterres Alto Comissário para os refugiados, e atenção segui a ordem cronológica pela qual foram eleitos ou nomeados para os respectivos cargos), enfim orgulhemo-nos sempre e quando Portugal ou portugueses se destingam à escala planetária.
Se o futebol marca a agenda de tanta gente em todo o mundo é porque é um fenómeno global e globalizante, ao qual até os americanos, habituados a impor os seus padrões, tiveram de aderir.
Se o futebol é uma fenomenal manifestação de catarse colectiva de uma Nação, então força com isso exorcizem-se os males e maleitas do dia a dia. Afinal qual é o espanto se a própria economia é afectada, e muito, por fenómenos psicológicos, daí ser tão volátil ?
Se o futebol desenterrou os nossos mais profundos sentimentos de amor pátrio então merece o nosso sentido aplauso, e por isso não nos envergonhemos pelas lágrimas que nos correm pela cara abaixo, pela pele de galinha, pelos altos níveis de ansiedade que certos jogos nos proporcionam, e finalmente, pelo grito(s) lançados a plenos pulmões por vitórias alcançadas, mesmo sem brilhar.
Futebol é desporto. Não eram os jogos olímpicos da antiguidade uma manifestação desportiva que glorificava o País dos atletas de eleição, dos campeões ?
Bandeiras nas janelas das casas, nos automóveis, aos pescoços, o patriotismo desfraldado, vivido e sentido por tantos.
Recordo um comentário quando passava na televisão, uma peça sobre os imigrantes portugueses na Alemanha que se deslocavam centenas de quilómetros só para ver a selecção e de lágrimas nos olhos diziam-se felizes, e alguém dizia ao meu lado “ não compreendo como podem eles – os imigrantes – gostar tanto da bandeira portuguesa quando tiveram de procurar melhor sorte no estrangeiro”. Dei comigo a pensar “como é que se pode pensar não amar a pátria só porque se está longe dela”.
Então Amar a Pátria é cada Português dar o melhor de si, a título de exemplo para os outros, em qualquer circunstância, tanto cá como no estrangeiro (diria mesmo em especial no estrangeiro), apesar de muitas vezes termos razões de queixa, apesar de nem sempre as coisas correrem de feição, apesar de tudo Amar a pátria é de resto uma atitude bem maçónica.

Viva Portugal

Templuum Petrus

É HOJE ... É HOJE... !!!!!!


Não esqueçam nem se distraiam, é hoje que a CERCIAMA conta receber a V. visita. Não faltem:
- Porque é uma Obra valiosíssima !
- Porque toda uma extraordinária equipa Vos convida e merece a V. ajuda;
- Porque as Crianças da Cerciama anseiam pela V. visita.

Vão até lá e verão como ficam felizes com os Amigos que as visitam.

R. Mestre Roque Gameiro, 12 na Amadora.
JPSetúbal

Encerrando a polémica.

Honestamente, não pensava ter que voltar a escrever sobre este tema.

Na minha intervenção, quis apenas sublinhar que o texto do JoséSR era partidário, que a acção de Tsahal no Líbano estava errada e que não é massacrando as populações civis que se resolverá a questão do terrorismo em geral e do Hezbollah, em particular. Pelo menos, do meu ponto de vista. Ponto final.

Mas como o JoséSR está a qualificar o meu texto de “foram apenas atiradas para a discussão algumas ideias na generalidade generalistas e imprecisas numa tentativa de criar uma polémica” vou acrescentar o seguinte:

Já que não tenho entendido que a posição do JoséSR não é a favor da guerra, antes a de condenação da "hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo" (JoséSR dixit), vou citar duas frases ditas nos últimos dias e que me parecem elucidativas:

1 - “Estamos a nos defender depois ter sido atacados. É importante sublinhar que se trata de legítima defesa »
Palavras do Vice Primeiro Ministro Shimon Peres ao micro da rádio militar Israelita.

Relembro que a acção de Israel foi justificada pelo rapto de dois soldados. “Atacados”?

2 - “A operação estava preparada de longa data, baseada em informações recolhidas ao longo dos últimos anos”. “O objectivo é de enfraquecer o Irão que utiliza o Hezbollah por procuração na sua confrontação com o Estado de Israel”
Citando o Olivier Rafowicz, porta palavra do exército Israelita.

A ouvir o Shimon Peres, tratava-se de legítima defesa no seguimento daquele rapto. “Legitima defesa”?

Hipocrisia, sim, mas essa hipocrisia não tem fronteiras!

Considero, por minha parte, este assunto como encerrado.

Erato

20 julho 2006

Da Polémica

Este post será breve porque estou com pouco tempo para o escrever, o que quer dizer que talvez volte ao assunto.

Caro Rui

Não sei o fazes mas fico cá pensando deves ser advogado, ou qualquer coisa dessas.

Na verdade caracterizar esta pequena troca de posts como uma polémica é generosidade tua, pois na verdade nada do que eu disse foi efectivamente contestado, foram apenas atiradas para a discussão algumas ideias na generalidade generalistas e imprecisas numa tentativa de criar uma polémica.

Aceitar o desafio para a polémica foi coisa que fiz, mas para ser derimido em privado. Nunca entraria em confronto directo neste blog.

Quando acima digo imprecisas refiro-me entre outras ao Hezbollah.

Erato diz que a UE reconhece como terrorista o Hezbollah. É uma pequena verdade, pois apenas implicitamente como se pode ler no boletim de 10 março cujo link aqui fica
http://europa.eu/bulletin/en/200503/p106031.htm

Esta pequena verdade é consubstanciada numa outra declararção da UE feita sobre o mesmo tema ( o Assassinato do 1º Min Rafiq Hariri), na qual se fala de ala terrorista do Hezbollah, e cujo link aqui vai
http://europa.eu/bulletin/en/200501/p106053.htm

Ao falar-se de ala terrorista pressupõe-se que exista a ala não terrorista. Ora o Movimento Hezbollah é todo dirigido pela mesma pessoa. ( deve ser o Nasrallah sopeira, O Nasrallah Dona de casa, O Nasrallah mordomo, etc.....)

Todavia no documento de fundo sobre organizaçoes terroristas, actualizado em 29/6/2006 o Hezbollah não é explicitamente mencionado.
http://europa.eu/scadplus/leg/en/lvb/l33208.htm

Ou seja a Uniao Europeia navega em meias tintas, para asssim poder ter um grau de liberdade maior.

Como vez, e acho que já sabias, os factos que levam a escrever são fundamentados, não são fantasiados.

E neste blog terei ( como tenho tido ) o cuidado de verificar as minhas fontes, que posso ou não por logo de inicio.

Podes tambem ter certeza que a expressão das minhas opinões não foi, nem será feita de forma ligeira.

E Pronto, se quiseres continuar com o Epiteto de Polémica pois que seja.

Um Abraço

JoseSR

Até que enfim uma polémica!


Desde o princípio do blogue que aguardava por um desacordo claro e inequívoco entre autores. Juro!

E aguardava, porque, como eu esperava, o desacordo de opiniões entre o JoséSR e o Erato é uma boa oportunidade de desmontar, ao vivo e a cores, um dos mitos sobre os maçons e de mostrar como funciona o debate entre maçons.

Relembro palavras que já foram escritas, no texto de apresentação do blogue: "este espaço não é, não quer ser e não vai ser, um "blogue maçónico". É, quer ser e vai ser, simplesmente, um blogue feito por maçons." E também: "Este espaço não se destina a ser lido por maçons (...) Este espaço destina-se a ser lido por quem quiser fazê-lo" - maçon ou não maçon.

Neste espaço cabe a apresentação e discussão de quaisquer temas que qualquer colaborador do blogue entenda útil apresentar ou discutir, sem tabus, sem censuras, sem limitações que não as inerentes ao correcto comportamento social que todos nós, maçons, procuramos ter: o respeito pelas ideias dos outros, mesmo - e sobretudo! - quando diferentes e opostas das nossas; a discussão aberta, leal, dura, mesma, sobre as ideias, sobre os argumentos, não sobre as pessoas ou aqueles de quem pontualmente discordamos.

Visto isto, vamos à desmontagem do mito: os maçons não têm um pensamento único, não estão sempre de acordo; pelo contrário, só pode ser maçon quem, por acreditar na Liberdade, por praticar a Tolerância, por exercer a Responsabilidade, tiver as suas próprias ideias e as defenda, não importa se em concordância ou discordância de outro maçon!

Esta mini-polémica permite ainda mostrar como os maçons, pela sua vivência comum, pela sua prática, sabem discutir, sabem polemizar, sabem discordar, sabem, enfim, debater ideias sem utilizar a ofensa ou argumentos ad hominem e, pelo contrário, procuram defender as suas ideias assumindo as discordâncias com as ideias expressas pelo seu parceiro, mas não as diabolizando, antes procurando ressalvar os pontos positivos delas e as convergências que é possível encontrar.

Não quero proclamar que nós, maçons, somos perfeitos e sempre impolutos no debate. Longe disso! Só se pode proclamar maçon quem assume a sua imperfeição e, humildemente, procura aperfeiçoar-se, com o auxílio dos seus Irmãos! Portanto, as regras de boa convivência, de boa discussão, de são debate, são, por vezes quebradas. Claro que sim! Mas a diferença é que tal quebra sucede muito menos que no comum da Sociedade e, sobretudo, que a quebra destes princípios, quantas vezes no calor do debate, é assinalada e não raro assumida pelo próprio que os quebrou.

Aproveitemos então a mini-polémica para verificar o cumprimento dos princípios enunciados. O resumo e a interpretação das posições de cada um é, obviamente, pessoal meu e, embora procurando espelhar o pensamento de cada um dos polemistas, trata-se de um resumo muito no "osso", apenas tocando o necessário para demonstrar o cumprimento dos princípios atrás enunciados.

O JoséSR expressou a sua posição sobre os actuais desenvolvimentos no Médio Oriente, deixando bem clara a sua posição favorável aos israelitas e verberando o duplo padrão que, no seu entender, os governos ocidentais praticam em relação ao terrorismo que atinge o Ocidente e aquele que "apenas" vitimiza Israel. Nesse sentido, deixou bem clara a sua concordância com a recente e actual actuação de Israel e a sua óbvia discordância relativamente à actuação dos militantes e dirigentes do Hezbolah, do Hamas, etc..

O Erato manifestou o entendimento de que o pensamento do JoséSR é parcial e não objectivo - mas afirmou o seu respeito pelo texto que critica e expôs os seus argumentos, que considera dever serem também atendidos: a declaração europeia que considera o Hezbolah uma organização terrorista, a sua preocupação com as vítimas civis e com o sacrifício que é sucessivamente imposto ao Líbano com as permanentes acções militares no seu território e termina proclamando que tudo isto se passa "porque, talvez, façam falta os homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos".

A resposta do JoséSr lamenta que Erato não tenha entendido que a sua posição não é a favor da guerra, antes a de condenação da "hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo".

Repare-se: cada um expõe os seus argumentos, critica, porventura acerbamente, o que discorda nos argumentos do outro, mas nenhum põe em causa a boa fé do outro; pelo contrário, facilmente se pode verificar que, partindo de posições divergentes, ambos buscam os pontos de convergência nos seus entendimentos: Erato, embora manifestando preocupação pelas consequências da actuação de Israel, ressalva: "Claro que o Estado de Israel tem o direito, e o dever legítimo, de preservar a sua integridade nacional"; JoséSR assume ser a sua posição "facciosa", assim também considerando a do seu opositor, mas respeitando-a e concedendo-lhe o óbvio direito de a ter; manifesta a sua pena de que o Líbano seja de há muito instrumentalizado por muitos e esclarece não defender a guerra.

Conclusões? Que Homens livres e de Bons Costumes não têm medo de assumir divergências; que respeitam as posições contrárias e procuram contra-argumentar racionalmente; que buscam as convergências.

E, no caso concreto, ninguém fica, creio, com dúvidas que ambos entendem que Israel tem direito à existência, à segurança e à integridade territorial, que o Líbano também, que a guerra é sempre a pior maneira de resolver os conflitos e que é preocupante e de censurar que vidas de civis inocentes sejam ceifadas por qualquer conflito. E que, afinal, ambos concordam que, realmente, fazem falta mais homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos...

É assim uma boa e saudável discussão entre maçons!

Que todos discutam tão firme, mas tão serenamente assim...

Rui Bandeira


19 julho 2006

Lamento

Quando escrevo nao pretendo ser consensual. Tenho as minhas opiniões e expressa-las-ei, tantas vezes quanto me apetecer.

Lamento que ERATO tenha confundido um Blog com uma Loja. Mas é o direito dele de confundir.

Lamento tambem o facto de ERATO nao ter percebido nada do que escrevi, mas cada um percebe o que quer e esse é um direito de cada um.

Por isso vou tentar explicar que :

Um Blog não é Loja não se rege pelos mesmos padrões, consequentemente tem uma latitude bem mais vasta.
Para além do mais, os promotores do Blog tiveram o cuidado de escrever :
"Blogue escrito por Maçons .... " o que é totalmente diferente de Blog Maçonico que por definição nao teria muito cabimento pois estaria limitado quer nos temas quer nas latitudes de abordagem.

Quanto ao meu escrito e para que fique mais claro se é que tal é necessário , em lado nenhum do que escrevo defendo a guerra, condeno sim a hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo.

O que alias é consubstanciado em POST posterior.

JoseSR

LIBANO, A MINHA PÁTRIA TEM SEMPRE RAZÃO

Não sei se o texto intitulado “Hipocrisia ou Falta de Coragem” tem o seu lugar num blog Maçónico.

Principalmente quando o nosso Querido Irmão JP Setúbal escreve, e passo a citar: “Temos a intenção de falar/brincar/dissertar, mas principalmente tirar as teias de aranha que povoam as cabeças de muitas pessoas sobre os M:. e a M:. dando a conhecer o que queremos, o que fazemos, quem somos.”

Mas como sou tolerante por natureza, e odeio todas as formas de censura, vou respeitar este texto partidário, embora lamentando um ponto de visto verdadeiramente “orientado”.

Vou tentar, então, desfazer um pouco este maniqueísmo e vestir a pele do advogado do diabo.

Primeiro, e para restabelecer a verdade, está errado escrever que os países ocidentais, a não ser os USA, não qualifiquem o Hezbollah de terrorista. O Parlamento Europeu adoptou no dia 10 de Março de 2005 uma resolução qualificando o Hezbollah justamente de terrorista.

Isto dito, justificar o injustificável, quero dizer a sobrevivência de Israel num conflito com o Hezbollah e, consequentemente, dissertar sobre os estragos colaterais na população Libanesa, é pelo menos redutor.

Como se pode escrever tão ligeiramente acerca da morte de crianças e mulheres ? Seres inocentes que cometeram o erro dramático de nascer no país errado, numa época errada.

Será preciso relembrar que são civis que são mortos e não combatentes de uma ou outra frente ?

Não quero polemicar porque trata-se de um assunto grave demais para brincar aos analistas políticos de segunda.

Digo simplesmente que, desde a criação do Estado de Israel até ao dia de hoje, houve 5 conflitos generalizados nos quais o Estado Hebraico esteve implicado (1948, 1956, 1967, 1973 et 1982), sem tomar em conta a guerra civil no Líbano.

E qual foi o resultado dessas guerras ? Pergunto, a nível político?
- Nada! Zero!

Por uma razão muito simples: porque nunca será encontrado um compromisso aceitável pelas partes em presença.
Pelo menos, enquanto os actuais dirigentes Sírios e Iranianos se mantenham no seu lugar. Porque são os verdadeiros responsáveis da situação actualmente vivida no Médio Oriente, fornecendo armas, dinheiro, logística e ideologia aos combatentes do Hezbollah e outras facções armadas.

A razão de esperar uma solução que se chame “Jordânia” ou “Egipto”, que passaram a ser exemplos de uma mudança política correcta.
Correcta para nós, Ocidentais. Obviamente.

Claro que o Estado de Israel tem o direito, e o dever legítimo, de preservar a sua integridade nacional mas quero dizer o seguinte acerca do Líbano:

- Não é bombardeando as estradas conduzindo à Síria que Israel vai dar cabo dos terroristas. Apenas irá matar refugiados que tentam fugir das zonas de combate.
- Como não é bombardeando o porto de Beirute e o seu aeroporto internacional que Tsahal acabará com o Hezbollah. Porque o Líbano não é o Hezbollah, longe disto.
- Os Chiitas representam 24% da população Libanesa, menos que os muçulmanos Sunitas e Druzes ou mesmo até que os Cristãos. Sem contar com a população que vive fora do Líbano, essencialmente Cristã, estimada em 12 ou 13 milhões.
- E seria errado pensar que todos os Chiitas aprovam as acções do Hezbollah.

Então ?

Será que o rapto de dois soldados é a verdadeira razão de tal empenhamento do exército Israelita ?

Será que Israel vai continuar a destruir um Estado de Direito que já sofreu uma guerra civil entre 1975 e 1990 que fez 150.000 mortos ?

Afinal, será uma guerra aberta contra um País vizinho ou retaliações contra uma organização armada que, desde 1982, lança ataques mortíferas contra a população de Israel ?

Ou, então, será para acabar de vez com a memória do massacre ocorrido em Sabra e Chatila quando a Milícia Libanesa e soldados de Tsahal, de mãos dadas, mataram centenas de civis Libaneses ?

Porquê Israel não quer implicar a Síria no conflito com o Hezbollah ?

Porquê Israel recusa o presença de uma força internacional, sob a égide das Nações Unidas, na fronteira com o Líbano?

Porquê ? Porquê ?

Porque, talvez, façam falta os homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos.

Erato

Entrámos no top 100 do Blogcounter!



Vale o que vale, mas é grato saber: ontem, com os nossos 37 visitantes e 80 vistas de páginas, entrámos no Top 100 do Blogcounter, no 45.º lugar.

Para se ter uma noção, o 40.º da lista teve no dia de ontem 39 visitantes, o 30.º teve 59, o 20.º teve 75, o 10.º teve 179 e o 1.º (http://Simply-Speechless.Blogspot.com) teve... 1144 visitantes!

Só volto a tocar no assunto se e quando este blogue algum dia estiver nos trinta primeiros. Prometo!

Rui Bandeira

A Flauta Mágica


Vai ter lugar no próximo dia 4 de Agosto (sexta-feira) uma récita da famosa ópera de Wolfgang Amadeus Mozart "A Flauta Mágica". Este espectáculo, integrado no Festival de Ópera de Óbidos - 2006, ocorrerá na Cerca do Castelo de Óbidos, pelas 22 horas, e o preço do bilhete de entrada são apenas € 10,00 (isso mesmo: dez euros!).

O belíssimo cenário em que a obra será apresentada contribuirá, certamente, para uma inesquecível noite para quem for assistir.

A ópera foi escrita escrita em apenas 3 meses. Possui dois actos e o libreto é de Emmanuel Schikaneder. A sua estréia ocorreu em Viena em 30 de setembro de 1791. O libreto é uma alusão à maçonaria, e mostra os dois grandes poderes que regem as relações humanas (bem e mal) - elementos retirados daqui .

Eis um resumo do libreto, tal como Lázaro Curvêlo Chaves publicou neste sítio (ortografia adaptada para o português europeu):

“Hilfe!”, “Hilfe!”, “Hilfe!” – A ópera começa com a entrada de Pamino, esbaforido, gritando por socorro num bosque desconhecido. Antes de entendermos do que foge, esta maneira de começar a peça musical denota o estabelecimento de uma marca: vamos entrar num terreno iniciático, diferente do quotidiano regular.

Fugia de uma serpente de uma enorme serpente, pronta para devorá-lo. Acaba desfalecendo e é salvo por três Damas da Rainha o observam em segredo e correm a dar a notícia de sua chegada ao reino da Rainha da Noite. Entretanto, um caçador de pássaros, Papageno, entra em cena e, vendo a carcaça da serpente acaba assumindo a autoria da salvação diante de um atónito Tamino. Quando aquele se encontra no auge de sua fanfarronada, chegam as três Damas novamente, bem a tempo de o surpreender a mentir. Papageno é castigado e elas, na condição de porta-vozes da Rainha da Noite, dão as boas vindas a Pamino e contam a história de Pamina. A jovem e bela princesa, filha da Rainha da Noite, seqüestrada pelo perverso Sarastro, um poderoso feiticeiro, em cujo castelo a mantém cativa. Elas entregam um retrato de Pamina enviado pela própria Rainha da Noite a Tamino, que imediatamente se apaixona pela beleza da princesa.


Tamino canta uma ária em louvor à beleza de Pamina. Nisso, a Rainha da Noite, um ser sobrenatural que usa um véu negro, surge diante dele. Ela confirma a história contada por suas três Damas, fala da perda de sua filha para Sarastro e roga a Tamino que liberte sua filha das garras de Sarastro. Apaixonado, Tamino decide empreender a tarefa imediatamente. A Rainha, usando seus poderes mágicos oferece ao príncipe uma arma: uma flauta dotada também de poderes sobrenaturais. Sempre que enfrentar quaisquer perigos bastará tocar esta flauta mágica que todos os obstáculos serão vencidos. A Rainha recruta ainda Papageno para auxiliar Tamino nesta tarefa e lhe dá como arma um “glockenspiel”, um pequenino carrilhão que imita sons de sinos. Como auxiliares em sua longa jornada, ambos contarão ainda com três Génios da Floresta que os ajudarão a encontrar Sarastro e Pamina, assim como a superar dificuldades que surjam.

Saem os heróis principais, armados com seus instrumentos, guiados pelos três Génios da Floresta.


Pamina é mantida prisioneira sob a guarda de três escravos liderados pelo mouro Monostatos, serviçal de Sarastro. Monostatos deseja-a e, dominado por intensa sensualidade tenta por todos os meios seduzir Pamina. No interior do palácio, Monostatos avança mais uma vez sobre Pamina quando Papageno entra em cena. Ambos se assustam. O mouro foge da presença da estranha figura do caçador de pássaros. Pamina, aliviada do assédio de Monostatos, conversa com Papageno, que se apresenta como embaixador da Rainha da Noite – fazendo a princesa feliz – e conta os planos de sua mãe para libertá-la. Pamina fortalece suas esperanças na libertação ao saber que um jovem e belo príncipe se encontra a caminho para tirá-la das garras do poderoso Sarastro. Ignorando a real história de seu cativeiro, a real personalidade de Sarastro, seguem as orientações da Rainha da Noite, cujas intenções também ignoram. Quando pela primeira vez se encontram, por sinal, Pamina e Tamino cantam em dueto uma belíssima ode ao amor sublime entre um homem e uma mulher.


Entretanto, Tamino, guiado pela magia dos três Génios da Floresta, chega aos domínios de Sarastro. Antes de prosseguir na sua missão, recebe a recomendação de observar três virtudes essenciais: firmeza, paciência e sigilo. “Empenhe-se como verdadeiro homem e conseguirá seu objetivo”. Pamino chega a um bosque no qual se erguem três templos muito belos. Colocados lado a lado, no da esquerda está escrito “Natur” – Templo da Natureza, “Weisheit” – Templo da Sabedoria – “Vernunft” – Templo da Razão. Em dúvida sobre qual dos templos detém o ideal que busca e já partindo para o processo de tentativas, Tamino está prestes a bater à porta do Templo da Natureza quando escuta um coral que lhe barra a entrada dizendo: “Zurük” – para trás! A seguir prestes a bater à porta do Templo da Razão escuta novamente: “Zurük” - para trás! Finalmente, ao bater à porta do Templo da Sabedoria a porta abre-se e um velho sacerdote, ricamente trajado em vestes brancas e com voz suave dirige-se a Tamino: “Que o traz aqui, jovem audacioso? Que procuras neste local sagrado?” Tamino revela-
lhe as suas intenções: quer libertar a princesa Pamina das mãos do cruel feiticeiro Sarastro. O Sacerdote percebe que Tamino é movido pelo Amor mas que está mal informado acerca de Sarastro. Passa a buscar desfazer a imagem errónea que dele faz Tamino. Este insiste em saber onde a princesa se encontra, tendo por toda a resposta o silêncio. Fica aliviado ao saber, contudo, por vozes estranhas ao templo, que ela ainda vive. O sacerdote afasta-se e Tamino agora resolve tocar a Flauta Mágica, sua arma salvadora. Papageno, ao longe, ouve o som e responde-lhe com a sua flauta de caçador de pássaros. Fica imaginando se Papageno teria encontrado Pamina. Em instantes Papageno entra em cena com Pamina – livre de suas correntes –, orientado que fora pelo som da Flauta Mágica. Monostatos segue ambos, com auxílio dos escravos, e alcança-os já próximos de Tamino. Estão prestes a aprisioná-los quando Papageno se recorda de sua arma mágica, o “glockenspiel”, e toca-o. Ao som de uma dança alegre e saltitante os bandidos saem dançando, como que enfeitiçados.

Pamina, Tamino e Papageno ficam aliviados, quando um som de trombetas anuncia a chegada de Sarastro. Papageno teme por sua sorte e Pamina julga-se perdida. Afinal, acabara de fugir de Monostatos, que a mantinha cativa por ordem de Sarastro.


O séquito de Sarastro chega ao local em que se encontram. Sarastro, saudado pelo coral, entra em cena. O coral diz: “O homem sábio o aclama, o falso aprende a temê-lo. Com paciência ele nos guia para a Sabedoria e para a Luz. Pois ele é nosso líder, proclamando a rectidão.”


Monostatos conta a Sarastro a sua versão dos eventos recentes. De como aquela “estranha ave” – Papageno – o havia surpreendido e retirado Pamina de seus olhos. Sarastro compreende tudo e ordena que dêem “77 chibatadas” nos pés de Monostatos, que sai carregado por outros escravos para a sua punição.


Pamina aproxima-se do Grão Sacerdote Sarastro e confessa a sua transgressão, o seu desejo de escapar para voltar ao convívio de sua mãe. Revela ainda o assédio que vinha sofrendo por parte do mouro Monostatos. Sarastro informa compreender as suas intenções e que não poderia se interpor entre ela e seu anseio de amar. Ressalta, contudo, que não poderá, ainda, libertá-la. Revela quem de facto é sua mãe e os seus planos para destruir a fraternidade de Ísis e Osíris – propõe-se manter Pamina sob seus cuidados e os dos membros daquela fraternidade.


Papageno e Tamino percebem que tinham uma impressão equivocada sobre Sarastro, impressão neles inculcada pela Rainha da Noite, e agora, admirados com Sarastro e a irmandade de Ísis e Osíris manifestam sua vontade de também serem membros. Sarastro informa-os que, nesse caso, deverão passar por um julgamento e uma série de provas a fim de que sejam aceites. Têm início os preparativos para a Iniciação de Tamino e de Papageno que, com a cabeça recoberta por espessa venda, saem de cena.


Chegamos ao final do I Acto.


O II Acto começa num bosque com desenhos estranhos e uma pirâmide truncada ao fundo. Dezoito sacerdotes posicionam-se em três pontos da cena, à esquerda, à direita e ao fundo. Sarastro, de pé ao centro, abre a reunião anunciando: “Iniciaremos neste Templo da Sabedoria, servos de Ísis e Osíris. Com alma pura, declaro a todos vós que esta assembléia é uma das mais importantes do nosso Templo. Tamino, filho de um rei, vinte anos de idade, está à porta de nosso Templo.” Três dos sacerdotes se levantam, um de cada vez. O primeiro questiona: “Ele é virtuoso?” pergunta o primeiro. “Ele é discreto?” pergunta o segundo. “É um homem caridoso?” pergunta o terceiro. Sarastro responde afirmativamente a todas as questões e pergunta se todos concordam com a iniciação, devendo manifestar-se erguendo uma das mãos. O grupo de sacerdotes que se encontra à esquerda fá-lo e mantém-se assim enquanto a orquestra entoa uma nota constante. A seguir, o mesmo para o grupo que está à direita e, finalmente, o grupo que está ao fundo, pontuados por uma mesma nota cada, totalizando três toques. Sarastro encerra a reunião cantando uma ária em que invoca a proteção de Ísis e Osíris.


Os dois iniciandos estão prontos para o cerimonial. Este tem início com Tamino e Papageno conduzidos por um sacerdote cada um, no átrio do Templo. Desvendado, Tamino reafirma sua intenção de galgar a sabedoria e ter como recompensa o amor de Pamina. Quando questionado pelo Orador, emite respostas simples, firmes e diretas. Papageno contudo, questionado pelo sacerdote, manifesta-se apenas ansioso pelos prazeres da vida: “comer, dormir e beber. Isto é bastante para mim. Se possível, ter uma bela esposa.” O Orador dá a palavra final: aconteça o que acontecer daqui para frente ambos terão de manter silêncio absoluto. Se violarem esta ordem estarão perdidos. Orador e Sacerdote previnem ambos quanto às malévolas tentações femininas. Logo que estes saem, deixando os dois sozinhos com suas meditações, entram as três Damas da Rainha da Noite que advertem os dois sobre o perigo que correm se permanecerem naquele lugar. “Tamino, certamente a morte aguarda-o. Papageno, você está perdido para sempre.” Apavorado, Papageno começa a tagarelar e é por várias vezes repreendido por Tamino que lhe faz recordar o que ambos prometeram aos sacerdotes. Diante das três Damas, Tamino mantém silêncio e elas saem. A prova termina com os sacerdotes entrando em cena e informando que Tamino vencera aquela etapa.


Na cena seguinte, vemos Pamina a ser preparada para a sua Iniciação. Pamina está adormecida no jardim do palácio de Sarastro. Monostatos surge para mais uma vez tentar seduzir a jovem. Canta a sua paixão pela beleza da princesa. A Rainha da Noite surge no meio de trovões, fazendo Monostatos esconder-se, amedrontado. Ao perguntar a Pamina sobre o destino do jovem que ela lhe havia enviado, a filha retruca que este será iniciado na fraternidade de Ísis e Osíris. Percebendo a gravidade da situação a Rainha, sabedora de que Pamina também está enredada pela fraternidade dos iniciados, entoa a magnífica “Ária da Vingança”, um desafio para a soprano que o interpreta. Extravasa toda a sua cólera contra Sarastro e seus seguidores. Entrega um punhal à filha com a recomendação de que assassine o seu inimigo mortal. A Rainha da Noite desaparece tão misteriosamente como havia surgido. Monostatos, que se ocultara diante da aparição da Rainha, reaparece e toma o punhal das mãos da princesa, ameaçando-a caso não se entregasse a seu apetite sensual. Exactamente no momento em que ele tenta possuir a jovem, Sarastro entra em cena, compreende o que se passa e repreende Monostatos. Este sai, ficando Sarastro e Pamina a sós. Este revela a Pamina que já conhecia os planos de vingança da Rainha da Noite contra ele e a fraternidade de Ísis e Osíris. De sua parte, numa bela ária, Sarastro mostra quais são as armas de que dispõe para derrotar a Rainha:


“Em nosso sagrado templo,

A vingança é desconhecida,

E aqueles que se desviam do dever

O caminho é-lhes mostrado com amor

Com ternura são levados pela mão fraterna

Até encontrarem, com alegria, um lugar melhor

Dentro de nossa sagrada maçonaria,

Por laços de amor estamos unidos

Cada um perdoa o seu próximo

Aqui não há traição

E aqueles que desprezam este nobre plano

Não merecem ser chamados de homem.”

Com esta ária, de forma serena e firme, Sarastro ressalta a diferença entre o que a Rainha da Noite diz e o que a fraternidade de Ísis e Osíris realmente representa. Pamina conhece agora a face da verdade: a crueldade e os propósitos de vingança da Rainha da Noite estão em vivo contraste com a serenidade e o equilíbrio, temperados com o mais sincero amor fraternal revelados por Sarastro. Aqui se encontra o clímax da ópera, a universal confrontação da Luz contra as Trevas.

Na próxima cena, Tamino e Papageno prosseguem em suas provas. Ambos devem continuar guardando o mais absoluto silêncio, conforme recomendação do Orador e do Sacerdote. Para Papageno um teste estranho: surge a seu lado uma mulher muito velha coberta por um capuz e uma longa capa, ocultando sua face e suas formas. Puxando conversa com ele, revela que tem dezoito anos e que seu namorado se chama Papageno. Vai revelar o seu nome quando desaparece num alçapão. Espantado, este puxa conversa com Tamino, que sucessivas vezes o repreende. Tamino será submetido à prova ainda mais difícil: Pamina entra em cena e dirige-lhe palavras de amor, mas ele está impedido, por seu juramento de silêncio, de dirigir-lhe a palavra. Ambos sofrem muito com esta situação. Tamino desejaria falar-lhe, mas está impedido. Pamina julga, desconcertada, que Tamino lhe renega seu amor. Chorando convulsivamente, deixa a cena com Tamino sofrendo muito pela dor que, involuntariamente, impôs à princesa.

Seguem as provas. Agora, no interior do Templo, Sarastro e outros sacerdotes entoam um coral em louvor a Ísis e Osíris. Tamino e Pamina são trazidos à sua presença. Faz-se silêncio em toda a assembléia. Sarastro previne a ambos que ainda deverão se submeter a outras provas. O casal deve despedir-se com um adeus pois agora o príncipe deve submeter-se à prova final – e seu futuro é incerto. Papageno também entra em cena e o sacerdote que o acompanha diz-lhe que, embora não tenha sido bem sucedido na prova anterior, os deuses estavam dispostos a satisfazer-lhe um desejo. Ele pede um copo de vinho. A seguir recorda-se e, numa alegre ária, Papageno canta seu maior anseio: que lhe seja concedida uma bem-amada, tão ansiosamente aguardada. A mesma velha de antes surge e informa que ele tem duas alternativas: casar-se com ela ou morrer. Ele decide-se a aceitá-la e, como por encanto, ela transforma-se numa jovem linda, a Papagena. Papageno corre a abraçá-la e é contido pelo sacerdote que o adverte: “Afaste-se, jovem! Ainda não tem este direito!” E sai com a bela jovem, deixando Papageno só e desolado.

Pamina, por sua vez, encontra-se num aprazível jardim envolvida por pensamentos melancólicos. Não tem certeza do amor de Tamino e, sentindo-se abandonada, pensa em suicidar-se utilizando o punhal que a mãe lhe dera. Surgem os três Génios da Floresta, que buscam dissuadi-la daqueles maus pensamentos com a revelação de que Tamino está a submeter-se a provas, a fim de se unir a ela. Recomendam que Pamina os siga e verá Tamino em sua prova final.

Tamino está próximo do Templo, onde se vêem duas cavernas – uma de cada lado do palco – com um portão gradeado. No centro, uma escada conduz a uma porta onde estão postados dois guardas armados. Os guardas cantam em dueto:

“Aquele que andar

Por estes caminhos

Cheios de dificuldades,

Terá de passar pelas provas

Do fogo, da água, do ar e da terra

E, se vencer

O temor da morte

Como que deixará a terra

Em direção ao brilho do céu.

Iluminados, coração e mente,

Empenhar-se-ão pelo direito

E no sagrado rito de Ísis

Encontrarão a verdadeira luz.”

Os dois guardas, avisando-o dos perigos, exortam à coragem de Tamino e Pamina no início destas provas. Tamino segue firme em seu propósito e informa que nenhuma ameaça pode amedrontá-lo.

Tamino prepara-se para enfrentar a primeira prova, a prova do fogo. Pamina aproxima -se dele para participar também desta prova. Ambos entram na caverna por onde saem labaredas de fogo. Tamino, tocando a Flauta Mágica, passeia com desenvoltura em companhia de Pamina, pelas chamas que vão desaparecendo. A seguir atravessam por uma torrente de águas, como de uma grande catarata, sem que nada lhes aconteça, graças ao mágico som da Flauta. Ao retornarem vitoriosos são saudados por um coral de sacerdotes, Sarastro à frente, que se rejubilam com os iniciandos.

Próximo dali, Papageno ainda está atormentado, desconsolado sem a sua sonhada bem-amada. Canta com saudade e diz, diante de uma forca, que contará só até três para que Papagena reapareça. Papageno está prestes a suicidar-se quando surgem os três Génios da Floresta que o exortam a tocar o seu “glockenspiel” e assim fazer com que Papagena volte. Ele recorda-se do seu instrumento mágico, toca-o e Papagena surge magicamente, tendo início o delicioso dueto “Papagena-Papageno.”

Na cena final vemos a chegada da Rainha da Noite, das três Damas e de Monostatos, que havia passado para o lado da Rainha a fim de, usufruindo de seus poderes mágicos, chegar a seu intento: seduzir Pamina. A Rainha, ensandecida ao ver Pamina e Tamino agora iniciados e membros da fraternidade que odiava, tenta invadir os domínios dos iniciados para derrotá-los definitivamente. Chegam no meio de densa treva, trazendo tochas. Nesse instante, tem lugar uma grande tempestade, com raios e trovões, que obriga os invasores a dispersarem. A noite vai aos poucos dando lugar à aurora. O sol surge e o ambiente ganha cada vez mais luz. Sarastro, o Grande Sacerdote, surge cercado pelos irmãos e sacerdotes e canta:

“A glória do dourado Sol,

Conquistou a noite.

O falso mundo das trevas

Conhece agora o poder da luz.”

Um majestoso coral encerra a ópera com louvores a Ísis e Osíris e aos iniciados:

“Salve, novos iluminados!

Passastes pela noite

Louvamos a ti, Osíris.

Louvamos a ti, Ísis.

Pela força são vitoriosos

São dignos da coroa

A beleza e a sabedoria

Haverão de iluminá-los como o Sol.”

Rui Bandeira




18 julho 2006

“O cancro é um produto da nossa capacidade evolutiva.”


Editor António Coxito
Produção Ricardo Melo
Publicado em "De Frente"

MANUEL TEIXEIRA
Nasceu no Porto em 1967. Licenciou-se em Medicina em 1992 pela Universidade do Porto e doutorou-se em Medicina (Genética Médica) pela Universidade de Oslo em 1997. Depois de vários anos de actividade científica na Escandinávia (no Odense University Hospital na Dinamarca e no Institute for Cancer Research do Norwegian Radium Hospital na Noruega), ingressa como investigador no Instituto Português de Oncologia do Porto em 2001. É Director do Serviço de Genética e do Centro de Investigação do IPO-Porto e Professor Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. É autor de mais de 70 publicações internacionais sujeitas a peritagem científica na área da genética do cancro.Coordenou a equipa de investigadores do IPO do Porto que descobriu o gene responsável pela leucemia mielóide.



A causa do cancro é essencialmente genética ou comportamental/ ambiental?
A nível celular todos os cancros têm provavelmente origem genética, uma vez que resultam de alterações do material genético, ou seja, de mutações. A causa dessas mutações é que pode variar, podendo resultar de um aumento de exposição a agentes mutagéneos ou de um defeito da reparação das lesões do DNA que ocorrem constantemente. Os agentes ambientais causais podem ser físicos (por exemplo, radiação ultra-violeta), químicos (por exemplo, fumo do tabaco) ou biológicos (por exemplo, o vírus HPV). Por outro lado, mutações germinativas em genes envolvidos na reparação de lesões do DNA causam várias síndromes caracterizadas por predisposição hereditária para cancro. Por exemplo, mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 (que participam na reparação de quebras de cadeia dupla do DNA) causam cancro hereditário da mama, enquanto que mutações nos genes MLH1 ou MLH2 (que participam na reparação de erros de emparelhamento do DNA) causam cancro colo-rectal hereditário. Em geral, só cerca de 5% dos cancros mais comuns têm uma origem genética, enquanto que a maioria das neoplasias são esporádicas. É importante realçar que o cancro é um produto da nossa capacidade evolutiva, já que esta depende da existência de uma instabilidade genética basal. O nosso metabolismo normal produz radicais de oxigénio causadores de lesões do DNA que, se atingirem genes importantes e não forem reparadas, podem dar origem a uma neoplasia.

Para quando a erradicação precoce da leucemia?
Houve grandes avanços no tratamento da leucemia nos últimos anos. No entanto, é importante salientar que leucemia não é uma única doença mas sim dezenas de doenças diferentes, cada uma com uma base biológica distinta. Várias leucemias agudas têm taxas de cura de 80-90%, especialmente em crianças, enquanto outras apresentam pior prognóstico. Uma boa parte dos avanços no tratamento deve-se ao tratamento diferenciado conforme os grupos de prognóstico em parte definidos pelas alterações genéticas das células leucémicas. Por outro lado, há já tipos de leucemias que são tratadas com as novas drogas dirigidas a alvos moleculares específicos (as chamadas drogas inteligentes). Por exemplo, a leucemia mielóide crónica é agora tratada com uma taxa de sucesso de 95% com uma molécula que inibe selectivamente a proteína de fusão BCR-ABL que causa a doença e que resulta de uma translocação cromossómica entre os cromossomas 9 e 22. No futuro, cada vez mais haverá tratamentos específicos dirigidos à alteração molecular que está subjacente à neoplasia em causa, em vez de uma quimioterapia inespecífica que causa mais efeitos laterais por afectar também as células normais.

O que leva à fusão do Septina 2 do cromossoma 2 com o MLL do cromossoma 11?
O que origina a fusão dos genes SEPT2 e MLL é uma translocação cromossómica, que mais não é do que uma troca de fragmentos entre dois cromossomas após a ocorrência de quebras das cadeias de DNA. Neste caso, as quebras das moléculas de DNA ocorrem nestes dois genes, dando origem a um novo gene de fusão chamado SEPT2-MLL. Este gene de fusão passa a codificar uma proteína híbrida que vai causar a leucemia por ter propriedades alteradas que afectam a proliferação celular, a morte celular programada e/ou a diferenciação celular.

Qual o processo utilizado para encontrar o "par" do MLL?
Foi necessária a combinação de várias metodologias. Tudo começou pela detecção da translocação entre os cromossomas 2 e 11 por análise citogenética clássica. Como o ponto de quebra no cromossoma 11 sugeria que o gene MLL estivesse envolvido, fomos confirmá-lo por hibridação fluorescente in situ com uma sonda específica para aquele gene. Confirmado o envolvimento do gene MLL e sabendo que este gene habitualmente se funde com um outro para criar um gene de fusão, faltava encontrar o gene parceiro localizado no cromossoma 2. Esta foi a tarefa mais árdua pois havia dezenas de genes localizados na zona afectada do cromossoma 2. Depois de avaliar a função dos genes candidatos, foram seleccionados para estudo aqueles que, em termos teóricos, se poderiam fundir com o gene MLL para causar uma leucemia aguda. Usando a técnica da reacção em cadeia da polimerase para estudar o RNA, foi finalmente detectado um gene de fusão entre o MLL e o SEPT2. Que este gene híbrido é constituído por sequências nucleotídicas do MLL e do SEPT2 foi posteriormente confirmado por sequenciação automática.
No caso de detecção desta alteração cromossómica, em que consiste o seu tratamento?
O tratamento deste tipo de leucemia consiste em quimioterapia de alta dose e eventualmente transplante de medula óssea. A leucemia mielóide aguda com envolvimento do gene MLL está associada a uma probabilidade de sobrevivência aos 5 anos de cerca de 20%, enquanto que há outro tipo de leucemia mielóide aguda com alterações genéticas de bom prognóstico que apresenta uma sobrevivência de 85%. O grande desafio é descobrir novas modalidades terapêuticas que permitam tratar melhor o tipo de leucemia para o qual a terapia actual é menos eficaz.

JPSetúbal