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22 março 2011

A Maçonaria "restritiva e selectiva"



Li recentemente o seguinte comentário: «é por certo o grande mal da Maçonaria, ser tão restritiva e selectiva na escolha dos seus “Irmãos”». Este comentário traduz bem a ideia muito difundida de que a Maçonaria é só para alguns muito poucos, que está cheia de "personalidades" que não se misturam com o comum dos mortais, e que os critérios de admissão passam, essencialmente, pelo posicionamento económico, social ou político do candidato. Não é verdade; a Maçonaria não é isso.

Por outro lado, não poderia dizer que a Maçonaria não seleciona os candidatos, não exerce qualquer controlo sobre as admissões, nem coloca às mesmas qualquer obstáculo. Claro que exerce controlo, claro que seleciona, claro que coloca obstáculos. Os critérios de admissão, porém, são públicos e ao alcance de todos quantos pretendam, eventualmente, juntar-se à nossa Ordem.

O principal critério advém do cumprimento dos Landmarks da Maçonaria, que ditam muitas das restrições à admissão, como sendo a exclusividade de membros masculinos, a obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto Do Universo, ou a de dever ser o candidato uma pessoa honrada e de boa reputação. Os Landmarks são, como disse, públicos, apesar de não serem universais - há Obediências que aceitam uns e rejeitam outros.

Outros critérios de seleção advêm da própria natureza e propósito da Maçonaria, que se aprende na Instrução de Aprendiz:

- O que é um Maçon?
- É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.
- Que significa nascer livre?
- O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.
- Quais são os deveres de um Maçon?
- Evitar o vício e praticar a virtude.
- Como deve um Maçon praticar a virtude?
- Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

Só alguém que se identifique com estes preceitos pode ser admitido na Maçonaria. Senão, não se iria sentir enquadrado - e não só perderia o seu tempo, como faria os demais perder o deles. Porque a adesão à Maçonaria implica um esforço e empenho não só pessoais como de toda a Loja que admite o neófito, esforço esse que se prolonga por vários anos, não é de ânimo leve que se aceita qualquer um. Os erros de casting saem caros a todos. Por isso, a imagem que se passa para fora deve ser essa mesma: a de que ser aceite maçon não é algo que possa ou deva ser feito com leviandade.

Não creio que seja bom, contudo, cair-se no extremo oposto, propalando-se uma imagem de tamanha exigência que leve a que praticamente ninguém sinta - pelo menos até que alguém lho pergunte - que poderá, querendo, pertencer a esta grande Fraternidade. Receio que seja este o maior obstáculo a que a Maçonaria seja e se torne mais numerosa.

Deveras, quantos não sentirão que não encontram quem partilhe dos princípios por que regem a sua vida - que, por acaso, até podem ser os princípios de tolerância, diversidade, paz e fraternidade que a Maçonaria defende e acarinha? Quantos não descobriram já, até, que se identificam com os ideais da Maçonaria, mas acreditam que a Maçonaria é só para "VIPs", e que nunca lhes abriria a porta?

A esses só posso dizer que ainda hoje se aplica um princípio simples e antigo: quem quer entrar tem que começar por bater à porta. Pode ser que tenha uma surpresa e - certamente ao fim de algum tempo - em vez de um polegar para baixo, receba um caloroso abraço de boas vindas...

Paulo M.

P.S.: Obrigado, M.A., por me dar tema para mais um texto; e sim, sei bem que o excerto que reproduzi acima não traduz a ideia do texto em que se insere...

06 março 2011

O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - Epílogo


Depois de tudo o que foi dito, e de se entender como o conceito de Grande Arquiteto do Universo se foi progressivamente alargando, resta a questão final: porque é que a Maçonaria Regular insiste em exigir dos seus membros esta crença, quando não a define cabalmente? Porque é que não deixa, de uma vez por todas, de estabelecer essa restrição? Qual a razão, enfim, por detrás da obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto do Universo?

Revisitemos rapidamente a evolução do conceito: do Deus de várias denominações cristãs, passou a significar o Deus das religiões "do Livro" (cristianismo, islão e judaísmo); daí alargou-se a qualquer conceito equivalente, fosse de que religião fosse - ou mesmo de uma crença sem religião nenhuma. Continua, todavia, a insistir-se que o maçon tem que ter fé - seja lá no que for. Porquê?

Por mais diferentes que sejam as suas religiões, duas pessoas que creiam que a existência não é "só isto", só este deambular por um mundo condenado a esvair-se de novo no pó das estrelas, conseguirão encontrar pontos comuns que não terão nunca com um ateu. Sob formas distintas, partilharão do conceito de que a existência tem algum propósito, que não é indiferente a forma como levamos a nossa vida, e que o Bem é um valor e o Mal deve ser evitado.

Não é o ser ou não ateu que determina se uma pessoa é "boa" ou "má". Muitos ateus são excelentes pessoas, e muitos crentes são execráveis simulacros de ser humano. Contudo, há uma certa visão do mundo, a valorização - ou não - de certos pormenores, a prevalência ou prioridade que se dá a certos princípios sobre outros, que separa incomensuravelmente um crente de um ateu, de uma forma que não separa um judeu de um muçulmano, um evangélico de um animista, ou um budista de um sikh. De uma forma ou de outra, todos - com exceção do ateu - crêem na continuidade da vida depois da morte, e que o Bem que se faça será recompensado.

As prioridades são, por isso, forçosamente diferentes, bem como os princípios prevalecentes. Alguém que não acredite num futuro para além desta existência dificilmente se poderá conformar com a privação, o sofrimento ou o despojamento - mesmo que voluntários - em nome de que se estará a "fazer o Bem", e que este será, mais tarde, adequadamente recompensado. "E de que te serve isso?" - perguntarão. De facto, a partir de certo ponto, o fosso é inultrapassável - as diferenças são profundas demais. Ciente desse fosso, a Maçonaria Regular mantém como Landmark a crença no Grande Arquiteto de Universo, e fá-lo a meu ver por três razões distintas. 

Em primeiro lugar, por uma questão formal: os Landmarks são considerados algo de inamovível que ninguém tem a legitimidade de alterar. Alterar a interpretação de um Landmark - como foi feito ao alargar-se o conceito de Grande Arquiteto de Universo de modo a torná-lo mais inclusivo - é uma coisa; outra completamente distinta seria eliminar de todo o Landmark. Os Landmarks são, literalmente, o que marca as extremas dos terrenos; por analogia, são o que marca os limites da Maçonaria Regular. Fora destes, ou não é regular, ou não é, de todo, Maçonaria.

Em segundo lugar, porque não há necessidade: esse foi, precisamente, o caminho tomado pela Maçonaria Liberal. Esta constitui em si mesma um diferente entendimento do que é a Maçonaria - com claras diferenças face à Maçonaria Regular - como inevitável reflexo de princípios distintos, prioridades distintas e, como consequência, um ethos e uma praxis algo diferentes. A existência destas várias correntes na Maçonaria tem a virtude de permitir que uma maior diversidade de pessoas possa encontrar o seu lugar na Maçonaria se assim o desejar.

Em terceiro e último lugar, aprende-se na Maçonaria que a vida é um caminho solitário que se faz acompanhado. Solitário porque estabelecido por cada um no exercício da sua liberdade, e forçosamente diferente dos demais porque todos somos diferentes; mas acompanhado porque os Irmãos estão sempre a curta distância, disponíveis para dividir connosco as alegrias e as tristezas que o caminho nos traz, e para partilhar os ensinamentos advindos de tais situações. É, por isso, mais proveitoso, mais frutuoso, que cada um, ao aconselhar-se junto dos seus Irmãos, receba os seus conselhos na certeza de que os princípios que lhes estão subjacentes são tão próximos quanto possível daqueles que regem a sua própria existência.

Paulo M.

28 fevereiro 2011

O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - III



São conhecidas as raízes cristãs da Maçonaria, e como a partir destas a Maçonaria foi, progressivamente, acomodando outras crenças, até se chegar à situação atual, em que a Maçonaria se manifesta e se vive, neste aspeto, de formas muito diversas. Podemos encontrar, assim, desde Obediências estritamente cristãs - como é o caso da Maçonaria Regular na Suécia - até Obediências que prescindem de todo do conceito de "Grande Arquiteto do Universo" - como acontece com a Maçonaria Liberal.

As linguagens da lógica e da matemática permitem-nos estabelecer conceitos inequívocos com fronteiras precisas, de que decorrem conclusões claras e incontroversas; contudo, o conceito de "Grande Arquiteto do Universo" não é um desses conceitos passíveis de ser espartilhado dessa forma. É, antes, com contínuo difuso e vápido como o nevoeiro, que de longe parece sólido e opaco mas se nos vai furtando por detrás de uma progressiva transparência e incorporeidade à medida que dele nos tentamos abeirar.

Não creio que possamos, por isso, dizer sem medo de errar que o conceito de GADU vá daqui até ali, e que esta interpretação do mesmo esteja "de dentro" e aquela "de fora". Onde houver a afirmação de que "sim, creio", mesmo quando se siga de um "mas", devemos admitir que o conceito se alargue um pouco, mesmo correndo-se o risco de que, qual diluição homeopática, pouco ou nada reste no fim daquilo que se pretendia garantir. Afinal, quem somos nós para dizer "a fronteira é aqui"?

E para terminar este tema, trago-vos as palavras de Christopher Haffner, no seu livro "Workman Unashamed: The Testimony of a Christian Freemason":

"Agora imagina-me em Loja com a minha cabeça curvada em oração entre o Irmão Mohammed Bokhary e o Irmão Arjun Melwani. Nenhum deles entende o Grande Arquiteto do Universo como sendo a Santíssima Trindade. Para o Irmão Bokhary Ele revelou-se como Allah; para o Irmão Melwani Ele é provavelmente entendido como Vishnu. Uma vez que eu creio que há apenas um Deus, vejo-me confrontado com três possibilidades:
- Eles estão a rezar ao demónio enquanto eu estou a rezar a Deus.
- Eles estão a rezar a nada, pois os seus deuses não existem.
- Eles estão a rezar ao mesmo Deus que eu; todavia, o seu entendimento da Sua natureza é parcialmente incompleto (como de resto é o meu: 1 Cor. 13:12)
É sem hesitação que aceito a terceira possibilidade."

Atrevo-me a ir mais longe: mesmo se, chegado o fim do caminho, nada haja afinal no alto da Montanha, não poderia ter feito melhor viagem do que a que tenho feito na companhia dos Meus Queridos Irmãos.

Paulo M.

20 fevereiro 2011

O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - II



Todo-poderoso, Senhor, Altíssimo, Santo de Israel, Criador, Eterno; Deus sempre foi referido por muitos nomes, não só nas tradição judaico-cristã como noutras. "Grande Arquiteto do Universo" é só mais um nome, para além dos muitos que já existiam, dirigido à mesma Entidade. A designação escolhida liga o Divino ao simbolismo adotado pela Maçonaria, tornando-O mais próximo ao atribuir-lhe um nome partilhado por poucos - assim como aqueles nomes por que somos conhecidos apenas no mais restrito círculo familiar, mas não mais além.

Não creio - mas é questão de mera convicção pessoal, que vale o que vale e só até que encontre verdade mais sustentada - que estivesse na génese da criação desta expressão a preocupação em encontrar-se uma designação que fosse neutra de modo que nenhuma religião ou fé pudesse reclamá-la para si, e que igualmente nenhuma pudesse ver como absolutamente estranha. Todavia, à medida que a Maçonaria foi abarcando no seu seio mais do que apenas cristãos - como sucedia de início - e alargou o seu âmbito às outras religiões "do Livro", e depois a muitas outras, a neutralidade dessa designação acabou por revelar essa enorme utilidade.

No entanto, só depois de ser iniciado e de assistir a várias sessões é que me apercebi do quanto ainda existe na maçonaria que trai as suas origens judaico-cristãs: a expressão "Deus" ainda é referida, bem como algumas passagens da Bíblia / Torah. Nada surge que seja inequivocamente do acervo de outras religiões. No entanto, a designação "Grande Arquiteto Do Universo" é recorrente, especialmente numa circunstância: na expressão "À Glória Do Grande Arquiteto Do Universo". Esta expressão, no meu entender, é que é a chave para a exigência da fé no "Grande Arquiteto do Universo".

De facto, o facto de a Maçonaria Regular trabalhar "À Glória Do Grande Arquiteto Do Universo" constitui uma afirmação mais estrita do que a mera manifestação de fé no "Grande Arquiteto Do Universo". Não basta então crer em Deus; é preciso estar disposto a trabalhar à Sua glória, e isso limita, de imediato, as diversas conceções possíveis de Divindade. Uma divindade apenas criadora - qual pai ausente tendo abandonado o lar, apenas gerador mas não educador - não cairá, possivelmente, dentro deste conceito. Uma difusa "força impulsionadora para o bem", como é entendida por alguns budistas, não o será também.

A crença em que dos nossos bons atos decorre a Glória daquele a quem chamamos "Grande Arquiteto Do Universo" constitui um poderoso elemento de coesão e de identificação - e, na perspetiva oposta, pode constituir forte fator de desconforto e alienação para quem não partilhe dessa convicção. E a exigência desta crença serve, precisamente, para manter os maçons regulares coesos pela partilha dessa identidade.

Por esta razão, e no meu entender, a pergunta feita a um neófito não deveria ser apenas "Acredita no Grande Arquiteto do Universo?", mas mais na linha de "Identifica-se com a ideia de que o Homem deve trabalhar À Glória do Grande Arquiteto do Universo?"  Mais do que estéreis (porque inconclusivas) discussões filosóficas entre teísmos e deísmos, parece-me ser esta convicção de que não só há um Deus, mas de que Ele é glorificado pelos que fazemos de bom, o que estabelece a resposta a que crenças cabem - ou não cabem - no seio da Maçonaria Regular tal como esta é entendida nos dias de hoje.

Paulo M.

14 fevereiro 2011

O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - I



Fui desafiado a escrever sobre a minha metamorfose - o que mudou em mim desde que fui iniciado até agora. Mais do que escrever um texto sobre isso, decidi escrever vários, cada um sobre uma faceta distinta. Tenho relido textos antigos do blogue, emails antigos trocados antes da minha entrada para a Maçonaria, e é curioso constatar que já sei responder a algumas das questões que colocava na altura. Uma delas prende-se com o conceito de "Grande Arquiteto do Universo", que deu direito um texto do José Ruah, seguido de outro texto do Rui Bandeira.

O José Ruah respondeu pela via semântica do conceito: GADU é o nome que a Maçonaria dá ao que normalmente se chama "Deus". Por cada religião, crença ou fé ter, em muitos casos, nomenclaturas diferentes para o mesmo conceito ou para conceitos semelhantes, e pretendendo a Maçonaria ser equidistante de todas as crenças, opta por um termo que não seja próprio de nenhuma religião ou fé, mas que não choque, em princípio, nenhuma delas, podendo ser usado no lugar do nome da Divindade de cada uma.

Já o Rui Bandeira procurou uma resposta focada no significado estrito da expressão: por ser o GADU o Criador do Universo, este mesmo Universo seria a chave do conhecimento do seu Criador. Assim, através da contemplação das estrelas numa noite límpida poder-se-ia ter um vislumbre do Divino, e que era esse mesmo conceito - o de Criador - que a Maçonaria designava por "Grande Arquiteto Do Universo".

Ambos insistiam, porém, que nada disto era importante, pois a única pergunta que a Maçonaria fazia a tal respeito a quem a ela pretendia aderir era simples: "Acredita no Grande Arquiteto do Universo?" e a resposta era igualmente simples: sim, ou não. Mas custava-me entender a utilidade de se aceitar como resposta a confirmação da crença num conceito que não se explicava nem se explicitava.

Durante bastante tempo - e já depois de ter dito "que sim, que acreditava", e de ter sido iniciado - debati-me com esta académica questão: afinal, porque é que a Maçonaria exige que se acredite numa coisa cuja natureza não especifica? E, de tanto pensar, um dia fez-se luz - e os dois Marretas tinham razão, a questão colocada era a chave de tudo. O problema era que eu me tinha debruçado sobre o lado errado da equação.

"Acredita no Grande Arquiteto do Universo?"

E logo fui eu, cientificamente, tentar dissecar, escrutinar, meter sob o microscópio, o tal "GADU". Quando o importante não era o GADU ou a sua natureza. A esse respeito - e quanto ao entendimento que cada um tem de GADU - a Maçonaria Regular não só não exige saber, como quase que exige não saber. O que a Maçonaria Regular quer saber é outra coisa muito mais simples:

"Acredita?"

Pois é; afinal era mesmo simples. "Acredita?", ou seja: "Tem fé?" O acreditar-se é que é o importante, e não aquilo em que se acredita. Mas porquê? Ah, isso fica para o próximo texto...

Paulo M.

30 janeiro 2011

A maçonaria vista de fora - vista de dentro



Hoje comecei por pensar escrever simplesmente sobre "A maçonaria vista de fora", mas nesse caso versaria sobre o que quem está de fora vê da Maçonaria. Vi então que não era o que pretendia. Pretendo antes mostrar um pouco do que, quem está dentro, vê quem, de fora, tenta espreitar para dentro.

Há muita coisa disponível na Internet, em Livrarias, alfarrabistas, bibliotecas, enfim... um pouco por todo o lado. Quando me comecei a interessar pela maçonaria não me coibi de perguntar a quem tinha paciência para me responder. Ao mesmo tempo, comecei a comprar livros, a procurar filmes e videos, e a ler outros sites. Muito do que sobre Maçonaria se lê na Internet é de duvidosa qualidade, mas eu lá ia - ou assim acreditava - conseguindo separar o trigo do joio. A certa altura, quando contei, muito orgulhoso - creio que ao José Ruah - que estava a ler "The Meaning of Masonry", de Walter Leslie Wilmshurst, ele respondeu-me com certa secura algo como "Eu não perderia tempo a ler coisas que não entendesse, ou que eventualmente só estaria capacitado a compreender depois de ter uma década ou mais de maçonaria - mas força, mal não há-de fazer. Mas é um bocado árido.".

Na altura achei que ele era parvo, e que a leitura me abriria os horizontes, já que tudo pareciam apostado em "fazer caixinha". De facto, li muita coisa, mas aquela miscelânea de referências esotéricas trocava-me as voltas como naqueles livros que, de tantas personagens terem, nos obrigam a escrever uma lista de "Quem-é-quem", para não nos perdermos na história... Ia lendo coisas, ia memorizando significados e, por vezes, ia tendo aqui e ali alguns vislumbres das razões por detrás de tudo aquilo...

Foi um bom entretém, mas pouco mais que isso. Afinal, tive que esperar largos meses até que "se dignassem" iniciar-me... Curiosamente, depois de ser iniciado, os livros começaram a ganhar pó, os que se encontravam a meio foram fechados e arrumados, para só, muito esporadicamente, os vir a abrir com fins precisos, para logo os fechar de novo. Idem para os videos, filmes, blogues e afins - com exceção do "A-Partir-Pedra", que continuei a frequentar, mais discretamente, mas sem nunca deixar de ser leitor assíduo.

Agora, já de dentro, vejo o quanto é curiosa a vista de dentro de quem quer ver para dentro, o esforço que faz quem quer perceber o que lá se passa, e usa livros e videos como forma de iluminação. Em primeiro lugar, são poucos os que ultrapassam a análise dos símbolos, ou do fito pela benemerência. Para não falar nos paparazzi - em português: cuscovilheiros - que apenas querem saber quem está, de que modo nos ocultam coisas, e que maquinações engendram.

Acabei por dar alguma razão ao Zé Ruah: o que eu estava a fazer era algo como estudar muito bem as regras do futebol, as várias táticas, toda a teoria sobre o Desporto-Rei, no sentido de me tornar um novo Cristiano Ronaldo - mas sem nunca tocar uma bola, quanto mais treinar em equipa. Por isso, quando vejo alguém assim, entusiasmado com a Maçonaria, a ler muito, a pesquisar mais, não posso deixar de pensar que é tempo, em certa medida, perdido. Que se queira, depois de se ser aceite numa equipa, e de se aprender as passagens de bola básicas, e de fazer exercícios que até nem tenham - aparentemente - nada que ver com futebol, e de se apurar a técnica até onde esta pode ser apurada só com o instinto - então aí sim, pegar nuns livros e ler umas coisas pode fazer a diferença. Agora começar por aí...

Mas para quem o fez, deixo algumas palavras de encorajamento de Henry David Thoreau: "If you have built castles in the air ...that is where they should be. now put the foundations under them." (Se construiste castelos no ar... estão onde devem estar. Agora põe as fundações sob eles.)

Paulo M.

15 janeiro 2011

Os que ficam pelo caminho


"Nem todos os Aprendizes chegam a Companheiros. Nem todos os Companheiros ascendem a Mestres. E seguramente que nem todos os Mestres virão a exercer o ofício de Venerável Mestre. É assim a realidade!" Assim escreveu o Rui Bandeira num texto publicado em 2008, ainda não tinha eu recebido o meu avental branco. Na altura, quando o li, achei estranho o tom, a naturalidade, e o que tomei por critérios de seleção apertadíssimos. Recordo-me de ter pensado algo como "Estes tipos não brincam em serviço... Devem ser bestialmente exigentes, e só escolhem os melhores para progredir... Isto devem ser chumbos de três em pipa..."

Estava tão enganado!

Com o tempo vim a perceber que dificilmente a Loja "chumbava" fosse quem fosse, a não ser nas circunstâncias mais excecionais, mas que, não obstante, o Rui tinha razão: havia muitos que ficavam pelo caminho. Mas se a Loja não chumbava ou impedia a progressão, quem o fazia então? Ora... o próprio, quem mais?! Comecei a perceber que por detrás de cada nome que era chamado no início da sessão pelo Secretário e a que se seguia um silêncio em vez de ser anunciada a presença se encontrava um Irmão que não viera. E que os nomes que eu ouvia repetidamente e a que não associava uma cara eram de Irmãos que, de todo, não apareciam.

Uns - já Mestres - haviam-se desencantado, suponho, com a rotina da vida da Loja, e tinham agora outros entreténs - razão por que não punham os pés numa Sessão fazia tempo. Outros tinham, simplesmente, prioridades - frequentemente profissionais ou familiares - que se impunham sobre a presença em Loja, ou não tinham de todo disponibilidade para integrar a Linha de Sucessão assumindo um Ofício. Uns e outros lá iam aparecendo, uns mais e outros menos frequentemente, mas alguns desapareciam completamente de circulação.

A outros - ainda Companheiros - sucedia perderem o estímulo, ou não aguentarem tanto tempo sem poder falar e sem ser exaltados a Mestre. Ao fim de um tempo, também alguns destes começavam a faltar, a envolver-se pouco, e a certa altura eram, também eles, um desses nomes que se ouve e se associa a uma cara, mas que se tem uma certa nostalgia de não ver há meses...

Por fim, alguns Aprendizes eram iniciados, achavam graça à coisa, mas não tinham vida nem disponibilidade para pertencer a uma Loja que se reúne duas vezes por mês em dias e horas certos. Outros, quiçá mal conduzidos ou defeituosamente escrutinados, acabavam por se aperceber que a Maçonaria não lhes fazia vibrar corda nenhuma, e desapareciam.

Alguns interiorizavam que não queriam mais pertencer à Maçonaria, e pediam para sair. Outros, divididos entre o querer e o não poder, não assumiam a impossibilidade de permanecer, e iam ficando sem ficar. A certa altura, já nem as quotas pagavam, nem asseguravam os "mínimos olímpicos" da assiduidade - nós nem somos esquisitos: uma presença por ano basta-nos - e tinha que se lhes chamar a atenção para que cumprissem com os seus deveres.

E de facto confirmei ser precisamente assim, como o Rui tinha dito: há os que ficam pelo caminho, e os que vão progredindo de degrau em degrau, uns mais depressa e outros mais lentamente. Por vezes, alguns metem-se por becos sem saída e, ou adormecem, ou corrigem o percurso. Mas se é sempre triste vermos um irmão sentar-se na beira do caminho, descalçar as botas e adormecer encostado a uma árvore - pois sabemos que a maioria ficará ali para sempre - já nos enche de orgulho ver um irmão subir mais um degrau, assumir mais uma responsabilidade, receber mais um reconhecimento.

Os caminhos são muitos, e o destino é cada um que o escolhe. Não é, portanto, a Loja que é exigente e o "chumba" - pois para isso teria que ser a Loja a determinar os objetivos, e estes pertencem a cada um. É antes o Maçon que é muito ocupado, desiludido, ou simplesmente complacente, e se retira pelo seu pé. E assim deve ser. É que a Maçonaria não é para todos: é só para aqueles que de facto queiram - e façam por isso.

Paulo M.

10 janeiro 2011

Porquê "meu irmão", e não "meu amigo"?


Os maçons tratam-se, entre si, por "irmão", tratamento que é explicitamente indicado a cada novo maçon após a sua iniciação. Imediatamente após terminada a sessão de Iniciação é normal que todos os presentes cumprimentem o novo Aprendiz com efusivos abraços, rasgados sorrisos e, entre repetidos "meu irmão", "meu querido irmão" e "bem vindo, meu irmão", recebe-se, frequentemente, mais afeto do que aquele que se recebeu na semana anterior.

O que seria um primeiro momento de descontração torna-se, frequentemente, num verdadeiro "tratamento de choque", num momento de alguma estranheza e, quiçá, algum desconforto para o novo Aprendiz. Afinal, não é comum receber-se uns calorosos e sinceros abraços de uns quantos desconhecidos, para mais quando estes nos tratam - e esperam que os tratemos - por irmão... e por tu! Sim, que outro tratamento não há entre maçons, pelo menos em privado - que as conveniências sociais podem ditar, em público, distinto tratamento.

O primeiro momento de estranheza depressa se esvai - e os encontros seguintes encarregam-se de tornar naturalíssimo tal tratamento, a ponto de se estranhar qualquer "escorregadela" que possa suceder, como tratar-se um Irmão na terceira pessoa... Aí, logo o Aprendiz é pronta e fraternalmente corrigido, e logo passa a achar naturalíssimo tratar por tu um médico octogenário, um político no ativo, ou um professor universitário. E de facto assim é: entre irmãos não há distinção de trato.

Não se pense, todavia, que todos se relacionam do mesmo modo. Afinal, não somos abelhas obreiras, e mesmo entre essas há as que alimentam a rainha ou as larvas, as que limpam a colmeia, e as que recolhem o néctar. Do mesmo modo, todos os maçons são diferentes, têm distintos interesses, e não há dois que vivam a maçonaria de forma igual. É natural que um se aproxime mais de outro, mas tenha com um terceiro um relacionamento menos intenso. Não é senão normal que, para determinados assuntos, recorra mais a um irmão, e para outros a outro - e podemos estar a falar de algo tão simples quanto pedir um esclarecimento sobre um ponto mais obscuro da simbologia, ou querer companhia ao almoço num dia em que se precise, apenas, de quem se sente ali à nossa frente, sem que se fale sequer da dor que nos moi a alma.

Mas não serão isto "amigos"? Porquê "irmãos"? Durante bastante tempo essa questão colocou-se-me sem que a soubesse responder. Sim, havia as razões históricas, das irmandades do passado, mas mesmo nessas teria que haver uma razão para tal tratamento. O que leva um punhado de homens a tratarem-se por "irmão" em vez de se assumirem como amigos? Como em tanta outra coisa, só o tempo me permitiu encontrar uma resposta que me satisfizesse. Não é, certamente, a única possível - mas é a que consegui encontrar. 

Quando nascemos, fazêmo-lo no seio de uma família que não temos a prerrogativa de escolher. Ninguém escolhe os seus pais ou irmãos de sangue; ficamos com aqueles que nos calham. O mais natural é que, em cada núcleo familiar, haja regras conducentes à sua própria preservação e à de todos os seus elementos, regras que passam, forçosamente, pela cooperação entre estes. É, igualmente, natural que esse fim utilitário, de pura sobrevivência, seja reforçado por laços afetivos que o suplantam a ponto de que o propósito inicial seja relegado para um plano inferior. É, assim, frequente que, especialmente depois de atingida a idade adulta, criemos laços de verdadeira e genuína amizade com os nossos irmãos de sangue, que complementa e de certo modo ultrapassa, em certa medida, os meros laços de parentesco.

Do mesmo modo, quando se é iniciado numa Loja - e a Iniciação é um "renascimento" simbólico - ganha-se de imediato uma série de Irmãos, como se se tivesse nascido numa família numerosa. Neste registo, os maçons têm, uns para com os outros, deveres de respeito, solidariedade e lealdade, que podem ser equiparados aos deveres que unem os membros de uma célula famíliar. Porém, do mesmo modo que nem todos os irmãos de sangue são os melhores amigos, também na Maçonaria o mesmo sucede. Não é nenhum drama; o contrário é que seria de estranhar. Diria, mesmo, que é desejável e sadio que assim suceda, pois a amizade quer-se espontânea, livre e recíproca. E, tal como sucede entre alguns irmãos de sangue, respeitam-se e cumprem com os deveres que decorrem dos laços que os unem, mas não estabelecem outros laços para além destes. Pode acontecer - e acontece. Mas a verdade é que o mais frequente é que, especialmente dentro de cada Loja, cada maçon encontre, de entre os seus irmãos, grandes amigos - e como são sólidos os laços de amizade que se estabelecem entre irmãos maçons!

Paulo M.

31 dezembro 2010

A (im)perfeição e as Old Charges (III)



Para além da questão da deficiência física coloca-se a da deficiência mental. Poderá um deficiente mental ser iniciado maçon? Neste caso, a porta já não se abre tanto quanto face à deficiência física, mas também não se fecha de todo. É tudo uma questão da natureza e das consequências da deficiência. Um profano, para ser iniciado maçon, tem que ser "livre e de bons costumes". A pedra de toque da questão da deficiência mental coloca-se, precisamente, na liberdade. Há três vertentes em que se exige que uma pessoa seja livre se quer ser admitido:

- Liberdade da luta pela auto-suficiência. Para ser admitida na maçonaria, uma pessoa tem que dispor dos meios económicos para se bastar a si mesma de modo que o sustento diário não seja uma preocupação tal que se sobreponha a todo o resto. Não está em causa a quantidade dos rendimentos, mas que este sejam suficientes e adequados ao garante do sustento do próprio e daqueles que tenha a cargo - descendentes ou ascendentes. Deve, ainda, permitir que os custos decorrentes da pertença à maçonaria (quotas, material, etc.) não causem transtorno. Uma pessoa que viva constantemente assoberbada com o que vai amanhã colocar na mesa para os filhos, ou falte mesmo aos seus deveres familiares, não tem disponibilidade mental para ser maçon - decorra essa carência económica ou não de deficiência mental.

- Liberdade de pensamento. Uma pessoa que não seja livre de poder, voluntariamente, alterar a sua forma de pensar não tem lugar na maçonaria, pois a maçonaria tem como objetivo o aperfeiçoamento do Homem, e aperfeiçoar-se é, forçosamente, mudar. Ora, procurar aperfeiçoar-se é sinal de que se admitiu já a própria imperfeição, e isto só pode ter decorrido de uma auto-análise - que, por sua vez, só pode ter tido lugar numa mente suficientemente ordenada para a ter efetuado. Por esta razão, quem não tenha a capacidade de ver e aceitar como válido um ponto de vista distinto do seu - o que sucede, por exemplo, com alguns fundamentalistas, cujas crenças podem ser rígidas a ponto de que o impeçam de pensar por si mesmo - também não está apto, independentemente da sua sanidade mental, a ser iniciado.

- Liberdade de agir em consciência. Uma pessoa incapaz de pôr em prática os seus próprios desígnios e de agir de acordo com os ditames da sua consciência dificilmente poderia tirar algum proveito da maçonaria. Se a maçonaria não tiver repercussões na forma de agir do maçon, então estamos perante um caso de insucesso. É essencial que o maçon não só tenha uma consciência bem formada - uma boa noção do bem e do mal - como paute o seu modo de agir por esses mesmos princípios. Uma pessoa que, em virtude de uma dependência (do jogo, de uma droga...) que condicione a sua vontade, não possa agir em consciência - não porque esta não exista, mas porque a sua concretização esteja fortemente condicionada - não deverá ser iniciada.

Não esqueçamos, por fim, que o conceito de normalidade é puramente arbitrário e estritamente decorrente das características da população em que o indivíduo se insira: um indivíduo "normal" numa população pode ser "anormal" se inserido noutra. A fronteira tem que ser traçada algures, mas isso quer dizer o quê? Que, se a pessoa estiver num dia bom, pode ser iniciada, e depois, num dia mau, é excluída? Mas não temos todos momentos melhores e piores, de maior ou menor lucidez, uns mais felizes do que outros?

Uma pessoa dependente do álcool a ponto de que isso perturbe a sua vida quotidiana está tão privada de liberdade de ação como uma pessoa que tenha o espírito igualmente embotado mas sem que tal decorra da bebida. Ou um fanático religioso pode ser tão inabalável e impermeável à mudança quanto um obsessivo-compulsivo. Não é a deficiência mental, em si mesma, o obstáculo, mas as limitações - que podem ter variadas origens para além da deficiência mental - a que a liberdade do indivíduo esteja sujeita.

Pretender que apenas seres perfeitos e perfeitamente livres se tornem maçons seria um contrassenso. Por não existirem homens perfeitos, seria esta uma excelente receita para se acabar com a maçonaria. Mas, acima de tudo, a maçonaria é um método de aperfeiçoamento - e só se aperfeiçoa quem não é perfeito. Pedras polidas não precisam de desbaste - e liberdade absoluta não existe. Como em tantas outras coisas, aqui só podemos socorrer-nos das linhas gerais e, para cada caso particular, aplicar uma das mais importantes regras: a do bom senso.

Paulo M.

P.S.: Este é o meu último texto deste ano. Para todos, um feliz ano novo de 2011!

25 dezembro 2010

A (im)perfeição e as Old Charges (II)


Em pleno século XIX houve diversas tentativas de se tornar menos estrita a regra que impedia a admissão de deficientes físicos na Maçonaria, alegando-se ser esta um legado dos tempos da maçonaria operativa. Algumas Grandes Lojas deixaram, mesmo, cair este requisito, exigindo apenas que o candidato tivesse a capacidade física estritamente necessária a que pudesse ser iniciado e receber os ensinamentos da Ordem. Mas logo vozes se elevaram, recordando que o que estava em causa era um dos landmarks da Maçonaria, que são por definição imutáveis, e por isso a questão não careceria sequer de mais discussão. Independentemente da origem do preceito residir na maçonaria operativa e ter, entretanto, deixado de fazer sentido, este deveria ser cumprido, sob pena da retirada do reconhecimento às Obediências que não o cumprissem e fizessem cumprir. Mas não se pense que, sem mais debate, a questão se ficava por aqui, ou que os argumentos alegados eram desprovidos de substância; pelo contrário.

Alegava-se, por exemplo, que a Bíblia descreve, repetidamente, como só um animal perfeito e sem mancha podia ser oferecido em sacrifício. Se o bicho tivesse a mínima imperfeição deixava de ser passível de ser oferecido em holocausto: ao Divino não se oferecia senão o que se tinha de melhor. Ainda nesta perspetiva, uma vez que, em Maçonaria Regular, se trabalha "À Glória do Grande Arquiteto do Universo" - donde decorre que o trabalho que se faz é feito em Sua intenção, sendo cada maçon a sua própria oferenda - a aplicar-se à letra o antigo princípio da perfeição da vítima sacrificial, poder-se-ia discorrer que um deficiente físico não seria "suficientemente bom" para ser oferecido ao Grande Arquiteto do Universo.

Outro dos argumentos teria que ver com a capacidade de trabalhar. A Maçonaria - mesmo a Especulativa - socorre-se do trabalho como forma e método de aprendizagem, pelo que a incapacidade para desempenhar tarefas úteis poria em causa todo o método maçónico. Por outro lado, é essencial que um maçon se baste a si mesmo, pois de outro modo não teria a disponibilidade mental para se aperfeiçoar enquanto pessoa. É uma questão de prioridades: primeiro o sustento do corpo, depois o apuramento do espírito.

A própria simbologia maçónica era usada como argumento. Discutia-se, com a maior seriedade, se, uma vez que a maçonaria tinha por objetivo a "construção do Templo" a partir das pedras que cada um ia tratando de polir, não seria contrário à mesma maçonaria aceitar pedras "tortas"? Que Templo Perfeito poderia a Maçonaria almejar construir à Glória do Grande Arquiteto se as pedras não fossem todas perfeitas?

Espantosamente, este debate ainda persiste; ainda há Obediências - Grandes Lojas - cujos regulamentos proíbem a admissão de deficientes físicos. Contudo, mesmo a maioria dessas admite que, se um Irmão ficar limitado (amputado, paralisado...) após a sua admissão, terá todo o apoio da loja.

Na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP a questão, tanto quanto sei, não se coloca. As condicionantes à admissão são, de acordo com a Constituição e Regulamento Geral da GLLP, apenas que os candidatos sejam "homens livres e de bons costumes que se comprometem a pôr em prática um ideal de paz" , que tenham "o respeito pelas opiniões e crenças de cada um", e sejam "homens de honra, maiores de idade, de boa reputação, leais e discretos, dignos de serem bons irmãos e aptos a reconhecer os limites do domínio do homem, e o infinito poder do Eterno".

Pode argumentar-se que um deficiente físico não é inteiramente livre. Fosse esse um requisito - ser inteiramente livre - e não haveria quem pudesse ser admitido na maçonaria. Todos nós só o somos até certo ponto. Quanto à iniciação, será que se perde alguma coisa se for feita de cadeira de rodas? Claro que sim. Mas não se perde mais numa iniciação do que num passeio na cidade; quem está limitado sabe que o está, e em que medida.

E um surdo? Ou um cego? Poderão ser iniciados maçons? Não vejo porque não. Desde que aptos a comunicar, estou certo de que se providenciaria o que fosse razoável para os acomodar. Um surdo pode, por exemplo, ler nos lábios; e poderia "falar" por escrito, à falta de melhor. Um cego pode ouvir e falar - apesar de poder ser curioso ouvir da sua boca algumas fórmulas rituais que se referem à Luz e às Trevas, por exemplo, mas basta que interiorizemos que a Luz e as Trevas, em Maçonaria, são simbólicas, não precisando nós dos olhos para as poder entender, para que logo as suas palavras deixassem de soar estranhas.

Pode um amputado praticar natação? Ou um paraplégico jogar basquete? Sabemos que podem. E podem competir de igual para igual com uma pessoa não deficiente? Tenho as minhas dúvidas. Mas poderá a prática desportiva tornar a sua vida mais completa, incrementar a sua saúde, torná-los pessoas mais felizes? Disso já tenho a certeza. Do mesmo modo, poderá um deficiente físico tirar partido da maçonaria tanto quanto alguém que o não seja? Bom... em muitos casos até pode, mas admitamos que não podia. Seria essa lacuna, esse inultrapassável obstáculo, razão para que fosse impedido de atingir todo o resto?

Paulo M.

20 dezembro 2010

A (im)perfeição e as Old Charges (I)


No Livro das Constituições de Andersen, de 1723, aprovado por maçons ilustres como Desaguliers, Cowper e Payne - reputados e reconhecidos pela sua sabedoria maçónica - podem encontrar-se estas palavras: "The men made masons must be free-born, no bastard, and of mature age, and of good report, hale and sound, not deformed, or dismembered at the time of their making" (Os homens feitos maçons devem ter nascido livres, não bastardos, de idade madura, boa fama, saudáveis e sãos, não deformados ou amputados na altura da sua admissão). Isto levanta a questão: manter-se-á esta exigência nos dias de hoje? Não há melhor forma de entender uma lei do que descobrir e entender o propósito do legislador quando se deu ao trabalho de a elaborar.

Em Junho de 1718 - fazia a Grande Loja de Inglaterra um ano - o Grão-Mestre manifestou o desejo de que os Irmãos que tivessem acesso a registos e escritos antigos sobre Maçons e Maçonaria os trouxessem à Grande Loja, para que pudessem ser constatados os antigos usos e costumes da Maçonaria Operativa. Era importante, no contexto da altura, conferir à Ordem recém criada uma certa patine, alguma daquela aura de autoridade que só a idade proporciona. Foi assim que, nesse ano, apareceram diversas cópias de documentos referente à Maçonaria Operativa - as "Gothic Constitutions". Face a estas, e não as achando adequadas, o Grão-Mestre e a Grande Loja ordenaram ao Irmão James Andersen que as coligisse e elaborasse um novo e melhor Método.

James Anderson, em 1723, com a aprovação da sua Grande Loja, publicou o resultado do seu laborioso trabalho, no que se tornou uma das obras que mais influenciou a Maçonaria até aos nossos dias: o primeiro livro de "The Constitutions of the Free-Masons". Nele incluiu uma secção chamada "the Charges of a Free-Mason" - os chamados "Antigos Deveres" - extraída de registos de lojas "para além do mar", bem como de Inglaterra, Escócia e Irlanda, para uso pelas Lojas de Londres. Foi assim que James Anderson fez uso dos antigos manuscritos a que chamou "The Old Gothic Constitutions", e que citou e parafraseou extensivamente na sua obra. É por esta razão que, num livro destinado a Maçons Especulativos, encontramos regras que só fazem sentido quando aplicadas a Maçons Operativos.

Os "Antigos Deveres" são os documentos históricos que constituem as tais "Gothic Constitutions". De um total de 119 documentos, cerca de dois terços são anteriores à primeira Grande Loja de 1717 - talvez uns 75 - e uns 55 são anteriores a 1700. Quatro foram escritos por volta de 1600, um é datado de 1583, outro de cerca de 1400 ou 1410, e outro será de cerca de 1390.

Quase todos começam com uma invocação: "Que a vontade do Pai do Céu, com a sabedoria do seu Glorioso Filho, através da graça e bondade do Espírito Santo, que são três Pessoas num só Deus, estejam connosco no nosso início, e nos dêem a graça de que governemos a nossa vida aqui de modo que possamos chegar à Sua felicidade que não tem fim. Amen."

Pode ler-se então o anúncio do propósito e do conteúdo, seguido de uma breve descrição das Sete Artes Liberais ou Ciências, uma das quais é a Geometria. Seguia-se uma extensa História Tradicional da Geometria, Maçonaria e Arquitetura, que tomava mais de metade do texto, e que se iniciava nos tempos bíblicos de Noé, terminando no ano de 930, em que o Príncipe Edwin reuniu uma assembleia de maçons na cidade de York, e estabeleceu os regulamentos usados "desde esse dia até aos dias de hoje".

A seguir vinha a forma de se fazer um juramento: "Um dos anciãos segurava o Livro, de modo que ele ou eles pudessem colocar as mãos sobre o Livro, e então as regras eram lidas." a que se seguia o aviso: "Que cada maçon tome nota destes juramentos, pois se alguma vez se vir culpado de ter violado um, que possa reconciliar-se com Deus. E especialmente tu que vais prestar juramento, toma atenção ao cumprimento destes juramentos, pois é um grande perigo para um homem quebrar um juramento feito sobre um Livro".

Seguia-se a lista das regras a cumprir, algumas de cariz comercial, outras de índole comportamental. Sem dúvida que eram essenciais a uma comunidade de artesãos que trabalhavam em grande proximidade vinte e quatro horas por dia. Por fim, vinha o juramento: "Estas ordens que ensaiámos, e outras que pertençam à Maçonaria, iremos guardar, assim Deus nos ajude, e por este Livro e para o seu poder. Amen."

Paulo M.

12 dezembro 2010

Meus irmãos em todos os vossos graus e qualidades... ... ... disse!

Era a primeira vez que este irmão tomava a palavra em Loja. Enquanto companheiro ou aprendiz fora-lhe vedado fazê-lo. Por isso, agora, ao fim dessa longa caminhada, tendo acabado de ser exaltado ao grau de Mestre, podia, finalmente, falar!!! Eu, aprendiz recentemente iniciado, esbugalhava os olhos e tudo absorvia com sofreguidão, e talvez por isso este episódio tenha ficado indelevelmente marcado na minha memória. Assim, chegado o momento em que, numa sessão maçónica, o Venerável Mestre põe a palavra nas colunas - que é como quem diz: autoriza que os mestres peçam a palavra - o novo Mestre pediu-a da forma regulamentar, e esta foi-lhe dada. Colocando-se de pé e à ordem - como é suposto - começa a sua intervenção como quase todas começam:

"Venerável Mestre, meus Irmãos em todos os vossos graus e qualidades..."

Fez-se silêncio absoluto na Loja - como, de resto, é suposto acontecer. Todos aguardavam com curiosidade e expetativa as primeiras palavras que este irmão proferiria em sessão. Contudo, estas teimavam em não surgir. O silêncio, já denso, adensava-se a cada segundo que passava sem que fosse quebrado. Visivelmente, o Irmão debatia-se com as palavras que queria dizer. O esforço mental transparecia-lhe na face, e começava, decorridos alguns silenciosos segundos, a ficar visivelmente horrorizado com a circunstância em que ele mesmo se havia colocado. É que as palavras não saíam.

"... ... ..."

Nem um sopro se ouviu. Todos partilhavam do esforço, da atrapalhação, do embaraço do Irmão. Mas ninguém podia socorrê-lo. Uma vez dada a palavra a um Irmão, só o Venerável Mestre ou o Orador podem tomá-la antes que esse irmão indique ter terminado a sua alocução. Não fez, porém, nenhum destes qualquer diligência nesse sentido, pois todos sentiam que só ele podia - e só ele devia - quebrar o silêncio que iniciara. E assim foi. Com grande esforço, recorreu à fórmula com que, em Loja - e por vezes, fora dela - os maçons indicam ter terminado a sua intervenção:

"... Disse!"

E sentou-se.

Toda a Loja sorriu de alívio e, prazenteiramente, vários, no fim da sessão, entre abraços de cumprimentos, lhe disseram ter sido uma intervenção memorável. E foi-o de verdade - o certo é que nunca mais a esqueci. Recentemente outro episódio semelhante sucedeu - de novo com um Mestre recém-exaltado - que me fez, de novo, recordar o primeiro. Para além do evidente humor da situação, que ensinamentos se pode retirar destes episódios?

Em primeiro lugar, constatou-se que qualquer dos Mestres em questão aprendera de que forma a sua intervenção teria que ocorrer: como e quando pedir a palavra, como se colocar para falar, as fórmulas a utilizar para marcar o início e o fim da sua intervenção, e o que fazer após ter terminado; nisso ambos foram irrepreensíveis. Foi, por isso, uma lição de forma, mais do que de conteúdo, como se alguém experimentasse uma peça de roupa e se mirasse ao espelho, fazendo-a sua, imaginando-se a usá-la na rua ou numa circunstância especial, para que, chegada esta, a roupa nova o não atrapalhasse.

Em segundo lugar, a Loja comportou-se com enorme dignidade. Apesar de ser uma situação confrangedora - todos partilharam do evidente desconforto do Irmão que, engasgado, não sabia como prosseguir - todos se mantiveram impávidos, sem um sinal de impaciência, sem esboçar um sorriso. A disciplina da Loja revelou que todos tinham interiorizado o valor do silêncio, que sabiam praticá-lo, e que não era só coisa de aprendizes e companheiros; não, o silêncio e a contenção eram para todos.

Em terceiro lugar, veio-se a constatar que esse Irmão - que, da primeira vez, "entupiu" e quase nada conseguiu dizer - até tinha o que partilhar, até possuía ideias válidas, até acabou por ter algumas intervenções muito pertinentes, que se foram tornando mais sólidas e seguras de cada vez que lhe era concedida a palavra. E quem não podia, ainda, falar, teve a oportunidade de ver um outro percorrer o seu caminho, e com isso aprender que apesar de falar não ser, de início, tarefa fácil, é algo que a experiência vai ensinando.

Falar é, mais do que um direito, um dever dos Mestres. Faz parte da formação de um homem - e, consequentemente, de um maçon - saber dirigir-se a uma assembleia e transmitir por palavras o que lhe vai na alma. Poder ir aprendendo a fazê-lo face a uma assistência disciplinada, paciente e cooperante é só mais um dos pequenos privilégios que advêm do facto de se estar integrado numa Loja Maçónica.

Paulo M.

08 dezembro 2010

Quite


Um maçom deve estar sempre quite para com a sua Loja, isto é, ter cumpridas as suas obrigações para com esta. As obrigações mínimas do maçom perante a Loja respeitam ao dever de assiduidade, isto é, à comparência em todas as sessões de loja para que for convocado, e o pontual pagamento da quota mensal.

Estar quite é cumprir estes deveres SEMPRE. Sempre que um obreiro injustificadamente falte a uma sessão, viola o dever de assiduidade e, portanto, não está quite. Sempre que se inicia um mês do calendário civil sem ter pago a sua quota do mês anterior, não está quite.

Não está quite perante si próprio, perante a sua consciência. Porque, incumprindo o seu dever de assiduidade, sem justificação para tal, incumprindo, podendo fazê-lo, o seu dever de pagar a sua quota mensal, o obreiro está, antes de mais, a faltar aos compromissos que assumiu, respetivamente, de assiduidade e de comparticipação para o Tesouro da Loja. E o cumprimento dos compromissos livremente assumidos é uma questão de honra! Logo, o maçom que injustificadamente falte a uma sessão de Loja para que foi convocado, que se deixa, sem razão que o justifique, entrar em mora no cumprimento do seu dever de contribuição para as despesas da Loja, antes de tudo e cima de tudo sente-se ele próprio desonrado.

O atraso no pagamento das quotas pode ser remediado: basta pagar o que está em dívida e ficar-se-á quite. Já o incumprimento do dever de assiduidade causa sempre prejuízo. À Loja porque fica privada do contributo do maçom. E todos os contributos de todos os maçons da Loja são inestimáveis e imprescindíveis. Do Mestre mais antigo ao Aprendiz mais recente, todos e cada um são essenciais para o aperfeiçoamento de cada um e global da Loja. Mas o incumprimento do dever de assiduidade prejudica sobretudo o próprio incumpridor. E, de alguma forma, é incompreensível: pois não tomou o maçom a decisão de pedir a Iniciação para beneficiar da ajuda da Loja no seu crescimento pessoal, na sua jornada própria? E vai prejudicar a sua demanda, prescindir do contributo do grupo não comparecendo? O tempo não para, não se pode rebobinar o filme. A única forma de remediar a falta sem motivo é diligenciar pelo estrito cumprimento do dever de assiduidade. Assim se diluirá o atraso, assim se recuperará o trabalho que ficou um dia por fazer. Assim se fica, de novo, quite. Quite para com a Loja. Mas sobretudo – e principalmente! – quite perante si próprio!

O maçom tem, a todo o tempo, direito a que a sua Loja certifique que se encontra quite. Se o fizer na constância e na permanência da ligação à sua Loja, é-lhe emitida uma declaração de good standing, com a qual poderá provar, perante qualquer outra Loja que visite, ser um maçom quite, em boa posição, de pé e à ordem, perante a Loja, a Maçonaria e ele próprio. Se o fizer no âmbito do processo de desvinculação da sua Loja – que é um direito que todo o maçom a todo o tempo pode exercer -, seja por entender dever adormecer, isto é, suspender a sua atividade maçónica ou por decidir mudar de Loja, é-lhe então emitido um atestado de quite. Com esse documento, fica ultimada a sua desvinculação da Loja. O maçom pode assim pedir a sua admissão a outra Loja, comprovando perante a mesma estar quite de todas as suas obrigações perante a Loja de que se desvinculou. Ou, se simplesmente pretender suspender a sua atividade maçónica, pode, se e quando o entender, retomá-la reintegrando-se na mesma ou em outra Loja, comprovando que cumpriu os seus deveres enquanto esteve em atividade maçónica, pelo que saberá voltar a cumpri-los ao retomá-la.

Mas, no fundo, o atestado de quite é apenas uma declaração num papel. O que verdadeiramente interessa é que o maçom se sinta, ele próprio, pessoalmente, perante si mesmo, sempre quite. E é para que assim seja que a Loja existe e se disponibiliza e auxilia e coopera. Porque a razão de ser da Loja, da Obediência, da Maçonaria é, afinal, simplesmente, o maçom. Cada um deles. Cada um de nós. Livre, especial, insubstituível e... quite!

Rui Bandeira

07 novembro 2010

Os símbolos em Maçonaria: o ensinar e o aprender


É conhecido que a maçonaria recorre extensivamente a símbolos como forma de transmissão do conhecimento. É evidente que esses símbolos terão algum significado. O que, todavia, é menos evidente, é que não há significados universalmente aceites ou impostos para os símbolos maçónicos. O que um interpreta de um modo, outro pode interpretar de modo diverso. Assim sendo, de que serve a simbologia na maçonaria? A que aproveita essa "plasticidade" nos significados dos símbolos? E como é que se pode usar os símbolos como meios de comunicação do seu significado subjacente, se esse significado pode variar de pessoa para pessoa?

Para o entendermos, temos que recuar no tempo. Bem antes da maçonaria especulativa ter surgido - o que sucedeu, oficialmente, em 1717 - já os maçons operativos se socorriam de símbolos para se recordarem dos ensinamentos que os seus mestres lhes haviam transmitido. De facto, muitos dos trabalhadores da pedra não sabiam ler nem escrever, pelo que se socorriam de pictogramas e representações de objetos para o efeito. Os símbolos não eram propriamente secretos; o seu significado - as técnicas a que os mesmos se referiam - é que era apenas revelado a alguns. A maçonaria especulativa veio a adotar esse método de transmissão de conhecimento. Assim, hoje como outrora, os símbolos são auxiliares de memória, instrumentos de suporte ao conhecimento, verdadeiras mnemónicas- diriamos hoje: são cábulas - que nos permitem recordar, evocar e especular.

Mas se o seu significado pode ser individualizado, como é que o conhecimento passa sem se perder, sem se desvanecer, sem se espraiar numa mar de semânticas? De forma muito simples: para tudo há um início, e o método consiste, precisamente, em dar a cada um os pontos de partida, sem estabelecer qualquer ponto de chegada... Assim, a um aprendiz é, desde logo, ensinado o significado comum de vários símbolos: o esquadro, o prumo, o nível, o mosaico bicolor do chão dos templos, a pedra bruta, a pedra polida, entre outros. É das poucas ocasiões que, em maçonaria, alguma coisa é verdadeiramente ensinada, e mesmo aí os significados gerais são dados com parcimónia de explicações e de forma sucinta e concisa. A cada um é dito, então, que deverá procurar interpretar cada símbolo de forma pessoal, podendo quer aplicar o significado original, quer levá-lo até onde o deseje. E é esse o trabalho do aprendiz: estudar os símbolos, construir um significado em torno dos mesmos, e aplicá-lo a si mesmo.

E como se mantém um denominador comum? Quando um maçon se refere ao prumo, os demais sabem que se refere à retidão moral, à integridade, à verticalidade de caráter - aquilo que ouviu quando, ainda aprendiz, lhe "apresentaram" os símbolos. Contudo, mais tarde cada um irá interiorizar a seu jeito o que estas palavras significam. O que será sinal de caráter para um poderá ser duvidoso para outro; a nenhum, porém, é imposto qualquer significado universal. E porquê? Porque, se a maçonaria se destina a tornar cada homem num homem melhor, deve fazê-lo dentro do absoluto respeito pela sua liberdade. Por isso se diz que em maçonaria tudo se aprende e nada se ensina, no sentido de que cada um deve procurar os seus próprios ensinamentos sem esperar que lhos facultem. Cada um deverá poder procurar, no mais íntimo de si, o que quer fazer dos princípios que lhe são transmitidos: se quer segui-los ou ignorá-los, quais aqueles a que vai dar maior preponderância, e até onde vai levar esse ânimo de se superar. E é por tudo isto que, sendo essa luta de cada homem consigo mesmo algo de mais único do que uma impressão digital, a liberdade individual de interpretação se impõe sobre qualquer eventual tentativa de normalização do significado dos símbolos.

Paulo M.

01 novembro 2010

A liberdade na interpretação da simbologia maçónica


Magritte pintou, entre 1928 e 1929, um célebre quadro em que representa um cachimbo sob o qual escreveu "Ceci n'est pas une pipe." ou, em português,  "Isto não é um cachimbo". De facto, a pintura não é um cachimbo, mas a imagem de um cachimbo - e transmitir essa ideia era o intuito de Magritte. "O famoso cachimbo", viria ele a confessar, "Quanto me censuraram por causa dele! E porém, alguém poderia encher o meu cachimbo? Não, pois é só uma representação, não é verdade? Por isso, tivesse eu escrito no meu quadro «Isto é um cachimbo», estaria a mentir."

Um símbolo - do grego σύμβολον (sýmbolon) - pode ser um objeto, uma imagem, uma palavra, um som ou uma marca particular que represente algo diferente por associação, semelhança ou conceção. Deste modo, pode substituir-se um conceito complexo por um símbolo simples. O significante é evidente - constitui o símbolo em si mesmo; contudo, o seu significado pode ser obtuso, ou mesmo variável com o tempo, pois reside naquele que o descodifica, e cada um acaba por fazê-lo de forma pelo menos ligeiramente diferente dos demais. Por isto, é quase certo que, uma vez estabelecidos, os símbolos "adquiram vida própria", alterando-se o seu significado com o passar do tempo. Por exemplo, a Estrela de David é um símbolo que começando por constituir - de acordo com a tradição judaica - uma marca aposta nos escudos com que os guerreiros do rei David se protegiam, adquiriu, a partir de certa altura, um caráter místico, passando a ser gravado como amuleto ou proteção, e acabando por ser adotada como símbolo do Estado de Israel.

Não pode falar-se de simbolismo maçónico sem citar a velha definição de maçonaria: "É um sistema de moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos". De facto, a maioria dos símbolos usados em maçonaria é evocativa dos princípios morais com que a maçonaria se identifica. O importante são os princípios; os símbolos são apenas os meios usados para que não os esqueçamos. E, uma vez que cada um recorda de forma diferente, e interioriza o princípio de forma única e pessoal - pois que único, individual e irrepetível é cada indivíduo e a sua experiência de vida - seria um exercício de futilidade tentar-se exigir que o significado dos símbolos fosse sempre o mesmo para todos. De facto, nem tal seria proveitoso.

Uma das frequentes utilizações dos símbolos é como oportunidade e meio de auto-análise - e também por isso se diz da maçonaria ser especulativa - que permita a cada um determinar as suas próprias "asperezas" no sentido de as "polir". Sendo as "rugosidades do espírito" diferentes de pessoa para pessoa - apesar da universalidade dos princípios, que podem aplicar-se a todos - cada um vê, sente e aplica o princípio a si mesmo de forma distinta da de todos os demais. Cada um pode, então, especulando, dar ao símbolo os significados que entenda, pois o símbolo é meramente instrumental - não tem nada de sagrado ou de "conspurcável" com este processo - para além de que atribuir novos significados a um símbolo não implica a perda dos significados mais convencionais, pelo que o diálogo sobre os mesmos continua a ser possível.

Dou-vos um exemplo que se passou comigo. Diz-se das lojas maçónicas serem "Lojas de S. João". Mas de qual? A resposta convencional é dizer-se que de dois: de João Batista - conhecido pela sua retidão e verticalidade, implacável consigo mesmo e com os outros, a ponto de fazer com que lhe cortassem a cabeça - e de João Evangelista - apóstolo do amor, cultor da fraternidade, e promotor da tolerância. Ambos se celebram por volta dos solstícios - João Evangelista no de Verão, João Batista no de Inverno. Isto são as premissas. Os princípios a transmitir são os que foram expostos: o da retidão e verticalidade de espírito por um lado, e o do amor fraterno pelo outro. Estes significados são mais ou menos universais na maçonaria. Há quem refira, ainda, que os raios de sol no solstício de Verão estão no seu ponto mais próximo da vertical, e no solstício de Inverno no seu ponto mais próximo da horizontal. Partindo desta pista, ávido de explorar estes símbolos e de fazer boa figura ao apresentar a respetiva prancha, o aprendiz que eu era então não se ficou por aqui; procurou especular mais ainda. Notou que João Batista - o da Verticalidade - era celebrado por entre uma Luz predominantemente horizontal, e que João Evangelista - o do amor fraterno entre pares - o era quando a Luz Solar era mais vertical. Conclusão? "Devemos ser equilibrados e equilibrantes: retos e justos quando à nossa volta todos falem de fraternidade e tolerância, e tolerantes e fraternos quando insistam na aplicação dos princípios de forma implacável."

São um significado e uma conclusão com alguma lógica? São - pelo menos, do meu ponto de vista. É um significado universalmente reconhecido? Não. E está certo? Ou está errado? Bom... para mim, parece-me certo, na medida em que foi instrumental para que aplicasse a mim mesmo os princípios referidos de forma mais eficaz. Para outros não resultará. Os símbolos são isso mesmo: instrumentos, meios, meras ferramentas coadjuvantes na prossecução de um objetivo maior. Aqui posso dizer: se da "adulteração" do significado "puro" e "convencional" do símbolo resultou  a melhor aplicação do princípio à minha vida tornando-me numa pessoa melhor, então - porque a ninguém prejudica o meu entendimento peculiar deste símbolo - o exercício foi profícuo. Se, para além disso, a alguém aproveitou para além de mim, então dou-me por muito satisfeito...

Paulo M.

24 outubro 2010

A interpretação e significado dos símbolos maçónicos


Hermann Rorschach foi um psiquiatra suiço que viveu entre 1884 e 1922, e que ficou conhecido pelo seu trabalho sobre o significado psicológico de interpretações dadas a manchas de tinta, tendo desenvolvido para isso uma técnica que tomou seu nome: o teste de Rorschach. Este teste baseia-se na chamada "hipótese projetiva", de acordo com a qual a pessoa a ser testada, ao procurar organizar uma informação ambígua (ou seja, sem um significado claro, como as pranchas do teste de Rorschach), projeta aspectos da sua própria personalidade. O intérprete (ou seja, o psicólogo que aplica o teste) teria assim a possibilidade de reconstruir os aspectos da personalidade que teriam levado às respostas dadas. Dito de outro modo: confrontado com um objeto sem um significado previamente estabelecido, o sujeito atribui-lhe uma conotação, uma semântica, um sentido que decorre, essencialmente, de si mesmo, não tendo que ser - e frequentemente não sendo - uniformes e invariáveis os significados atribuídos de um sujeito para outro.

Algo de semelhante sucede na maçonaria com os símbolos. Há símbolos a que se atribui significados convencionados - como o esquadro que, servindo para traçar ângulos retos, evoca a retidão de caráter - o que não impede que lhes sejam atribuídos outros significados. Outros símbolos traduzem uma maior diversidade de sentidos - como o G que a maçonaria regular coloca entre o esquadro e o compasso. Símbolos mais obscuros, menos frequentes e de menor universalidade são por vezes encontrados num contexto maçónico, mas poderão ser  apenas percetíveis e utilizados num determinado contexto cultural, no âmbito de certo rito, ou confinados a um perímetro geográfico específico. Contrariamente ao teste de Rorschach, todavia, o recurso à simbologia pela maçonaria não tem o fim de constituir qualquer análise psicológica ou psiquiátrica por um terceiro, mas apenas de cada um por si mesmo.

A simbologia maçónica - que tem como tema dominante a maçonaria operativa medieval, a que hoje chamaríamos arquitetura ou engenharia civil - tem o triplo propósito de estabelecer uma estrutura e um  contexto cultural para os arquétipos universais que identificam a maçonaria, uma forma sintética de comunicação de conceitos, e uma cultura de heterogeneidade e tolerância. Cada símbolo maçónico - normalmente coisas tão banais como uma pedra ou uma colher de pedreiro - evoca um ou mais significados que, no seu conjunto, constituem uma matriz semântica que dota a Ordem de um contexto cultural que, por sua vez, enquadra e dá corpo aos conceitos e princípios que a maçonaria pretende transmitir, propagar e perpetuar. Fica assim estabelecida, em torno dos símbolos, uma linguagem que, de forma sintética, permite a rápida e eficaz evocação, relacionamento e comunicação de conceitos, bastando por vezes uma simples palavra para transmitir um conceito complexo no seu contexto adequado. Por fim, ao não fazer corresponder de forma imposta, rígida e imutável os símbolos aos conceitos, a simbologia maçónica permite que cada maçon atinja as sua próprias respostas às importantes questões filosóficas que a vida coloca.

Contudo - e isto é a minha interpretação pessoal, que vale o que vale - a maior virtude do recurso à simbologia e à alegoria consiste no distanciamento que estabelece entre os princípios e a sua aplicação. Este distanciamento possibilita que a interiorização dos conceitos decorra da sua aplicação a um sujeito abstrato (e, mesmo, claramente do foro do mítico e do imaginário), e que só uma vez absorvida a sua essência e apercebidas as consequências da sua incorporação no edifício ético e moral individual - o que pode levar mais ou menos tempo, ou nunca suceder de todo - cada um aplique então a si mesmo o significado pessoal e personalizado que atribuiu ao símbolo, interiorizando-o e consolidando-o da forma que entende ser a que mais se adequa à sua própria realidade e, por fim - porque, em maçonaria, nada se ensina mas tudo se aprende - tire partido da lição que deu a si mesmo.


Paulo M.

18 outubro 2010

Como se pode - ou não - falar de religião em loja


A proibição de discussão religiosa em loja é assunto reiteradamente debatido. Não há, todavia, como o exemplo para ilustrar o princípio. Quando procurava uma ocorrência - real ou fictícia - que não soasse forçada, recebo um simpático cumprimento feito por um leitor aqui num dos comentários: "Que o Senhor lhe conceda discernimento para encontrar a verdade que liberta e está em Cristo Jesus!". Nem de propósito. Este cumprimento, feito sem qualquer dúvida com a melhor das intenções, consubstancia, precisamente, o tipo de discurso que, apesar de socialmente admissível fora de loja, não o é numa loja maçónica.

Mas porque é que um simples cumprimento como este - que até é auspicioso, traduzindo os desejos de que suceda ao seu destinatário uma coisa que o emissor tem por positiva - não é admissível em loja? Vejamos com mais atenção o que se diz. "Que o Senhor"... Até este início insuspeito pode gerar controvérsia; se, por exemplo, se pertencer a uma religião que denomine a Divindade de uma outra forma, é quanto basta para que se sinta a expressão como estranha. Nesse sentido, não é difícil imaginar uma situação em que alguém interprete isto como sinónimo de "que o meu Deus - que não é o teu - te conceda isto e aquilo". "... a verdade que liberta ...", esta sim, é uma  quase certa fonte de discórdia, por causa da sua mais pequena palavra: "a". Referir-se "a" verdade que liberta, especialmente junto de um nome comummente associado a certa religião, implica ser esta verdade algo de único, que não há outra, e que muito menos há várias. Referirmos a existência de um único caminho certo implica que quem não o percorra estará a ir... por caminhos errados - o que é contrário à ideia de que cada um deva sentir ser respeitadas as suas crenças de forma que não haja preponderância de quaisquer outras sobre estas - ou destas sobre quaisquer outras. Isto faz-nos chegar à última parte: "... e está em Cristo Jesus". Se a todas as outras fórmulas se poderia, eventualmente, fazer "vista grossa" quando utilizadas em loja, esta última não é, de todo, passível de ser aceite, por ser indiscutivelmente própria de uma religião, e por isso sentida como estranha por quem professe uma fé diversa.

Cada religião tem uma terminologia própria para referir a(s) divindade(s) a quem presta culto. Forçar seguidores de várias crenças a utilizar a terminologia de uma delas seria algo de muito pouco paritário. Para ultrapassar esta dificuldade, a maçonaria decidiu adotar uma nomenclatura própria, alheia a qualquer crença ou religião - e por isso equidistante de todas estas - para designar a Divindade. Assim, em vez de um dizer Elohim, outro Deus e outro Jesus Cristo; em vez de invocar Allah ou Jeová, Krishna ou Zoroastro, Thor, Zeus - ou a Divindade por qualquer outro nome - os maçons dizem "Grande Arquiteto do Universo". Essa expressão designa não um qualquer "deus maçónico" - pois tal não existe - mas constitui apenas um mesmo nome através do qual  todos os maçons se referem cada um ao seu próprio Deus.

De fora fica também, evidentemente, tudo o que é próprio desta ou daquela religião. Não faria sentido dizer-se "invoquemos Maria, mãe do Grande Arquiteto do Universo", ou "O Grande Arquitecto do Universo é grande, e Mohammed é o seu profeta". Assim, em loja, apenas nos referimos ao "Grande Arquiteto do Universo". As pranchas maçónicas - na maçonaria regular - começam sempre: "À G.·.D.·.G.·.A.·.D.·.U.·. ", uma vez que todo o trabalho é feito "À Glória Do Grande Arquiteto Do Universo". Cada um dedica o trabalho que fez ao Deus da sua predileção, mas todos sob uma "alcunha" comum. Um pouco como cada adepto se refere ao respetivo clube como "o Glorioso"...

Um dos momentos altos de cada sessão é a Cadeia de União. Uma vez formada, um dos irmãos profere uma curta oração, que não deve ser própria de nenhuma religião, e é, as mais das vezes, espontânea. Pode ser algo como: "Agradeçamos ao Grande Arquiteto do Universo a graça de estarmos todos aqui, juntos uma vez mais, e recordemos todos quantos já partiram para o Oriente Eterno". Dificilmente alguém poderá sentir-se posto de parte perante tal fórmula, e é precisamente o que se pretende: fomentar a união, a identificação apesar da diversidade, e o foco naquilo que, de facto, é comum a todos. Não faria sentido, apesar de a esmagadora maioria dos maçons da nossa loja ser cristã, rezar-se um "pai-nosso" na cadeia de união - até porque um dos nossos irmãos é judeu, e sentir-se-ia certamente desconfortável. E mesmo que todos fôssemos cristãos, o princípio é para manter - basta recordar que recebemos frequentemente visitas de irmãos de outras lojas, e nunca sabemos que fé professam...

Esta limitação de expressão pode tornar-se problemática para os seguidores de certas religiões que tenham por princípio o testemunho permanente perante os outros dos valores, princípios e verdades da sua religião - e, no limite, tentar converter os demais para a sua fé, expondo as fraquezas de uma crença e exaltando a outra. Quem sinta essa obrigação não poderá sentir-se bem na maçonaria, pois esta não lho permite.

Apesar de tudo o que disse ser regra apenas vigente em loja e em sessão ritual, o que acaba frequentemente por suceder é - por força do hábito por um lado, pela interiorização dos princípios pelo outro, e por último pela generalização da sua aplicação - desenvolver-se um certo comedimento nas palavras, e acabar por se evitar a utilização de expressões manifestamente próprias de uma ou outra religião, substituindo-as por outras menos passíveis de fazer o nosso interlocutor sentir-se desconfortável. Assim, não posso senão agradecer o cumprimento, e retribuir: "Que o Grande Arquiteto do Universo lhe conceda o discernimento para encontrar - e saber manter - a Luz!"

Paulo M.

P.S.: Tenho, desde que comecei a escrever aqui no blogue, vindo a escrever dois textos por semana. Afazeres diversos impedem-me de manter este ritmo, pelo que irei passar a escrever, no futuro mais próximo, apenas um texto por semana, ao fim de semana. Assim que possa passarei, de novo, a escrever mais.

08 outubro 2010

Ainda os Altos Graus


Mesmo depois de tudo quanto foi já explicado quanto à natureza dos Altos Graus e à sua vacuidade de poder, poderão restar ainda algumas dúvidas facilmente sanáveis. Desmontemos então, uma por uma, as bases em que tal argumentação se sustenta.

Em primeiro lugar, os Altos Graus estão, muito democraticamente, ao alcance de qualquer mestre maçon que seja suficientemente empenhado para investir o seu tempo e o seu dinheiro (sim, que os aventais, luvas e demais adereços não são de graça, e a maçonaria não recebe subsídios...). Pensemos neles como graus académicos, mas sem a "pequena questão" da avaliação: quem frequenta obtém o grau. Ora, tal sistema não permite distinguir quem sabe de quem não sabe, já para não falar de outras qualidades. Um sistema que permita chegar-se ao topo apenas com tempo e dinheiro só pode ser interessante para o próprio, o que é justamente o caso.

Em segundo lugar, não sendo objeto de eleição ou escrutínio, os Altos Graus não conferem qualquer legitimidade representativa. Um mestre maçon que tenha atingido o grau 32 ou mesmo o 33 não fala por ninguém senão por si mesmo. Por isto é que é frequente, sempre que alguém nota que fulano de tal, "que até é grau 33", disse isto ou aquilo, de imediato se recordar que cada um apenas fala por si, e é livre de manifestar a sua opinião como quiser, sem que os demais se sintam obrigados pela sua palavra.

Em terceiro e último lugar, foquemo-nos onde se encontra o verdadeiro poder: nos Grandes Oficiais. Destes, apenas o Grão-Mestre é eleito, indigitando depois o seu quadro de Grandes Oficiais. Todavia, se recordarmos que a Maçonaria é como que um "pequeno mundo em miniatura", em que pode desempenhar-se papéis a que, doutro modo, dificilmente se acederia - sendo assim uma espécie de "Kidzania para crescidos" onde se aprende com a experiência - então vemos que, quais notas de Monopólio, qual jogo a feijões, o "poder" da Maçonaria se confina aos limites da própria Ordem, e mesmo dentro desta os "poderes" são, essencialmente, administrativos e/ou rituais. Ser-se Grande Oficial, longe de conferir qualquer poder real, é antes uma carga de trabalhos, e visto, acima de tudo, como um serviço que se presta.

Para terminar, para quando virem um texto assinado por um "grau 33", deixo uma pista para se aferir a legitimidade do discurso e da sua representatividade: um "grau 33" não fala, normalmente, senão por si mesmo; no entanto, um Grão Mestre pode falar por toda uma Obediência...

Paulo M.