Reflexão
A cabeça fervilha de ideias boas e originais. Infelizmente, as originais não são boas e as boas não são originais...
Entre a qualidade e a novidade, opto pela qualidade. É melhor publicar uma ideia boa de outro do que uma má ideia minha...
Li no blogue The Burning Taper uma citação de Jean-Baptiste Poquelin, mais conhecido por Voltaire, que me parece a afirmação de uma boa ideia: Conhecemos melhor uma pessoa através das suas perguntas do que através das suas respostas.
Pensando bem, é verdade. A resposta que alguém me dá pode ser trabalhada, dirigida para causar uma determinada impressão. Mas, normalmente, se se conseguir saber aquilo sobre que alguém se interroga, logra-se ter uma mais precisa noção das suas preocupações, dos seus interesses, dos seus receios, das suas prioridades. Enfim, do que a pessoa é.
Nesse sentido, aparentemente não deixo entrever nada do que eu sou neste blogue. O que escrevo - é a noção que tenho - é afirmativo, opinativo, descritivo. Tenho o objectivo, a pretensão e a prosápia de divulgar um pouco do que é a Maçonaria, o seu objectivo, o seu método, os seus meios, os seus símbolos. Afirmo, descrevo, interpreto. Não (me) questiono.
Logo, não importa o que escrevo. Não interessam os dados que divulgo no meu perfil, nem sequer a imagem da minha fotografia. Nem pelo meu perfil, nem pelo que escrevo permito que me conheçam. Porque não faço perguntas que não sejam meramente retóricas.
Reflicto. É bom, isso! O objectivo deste blogue não é que me conheçam. Quem me conhece, conhece-me! Quem não me conhece, se me quer conhecer, conheça-me! O objectivo deste blogue é mostrar um pouco do que é a maçonaria, do que são, como pensam, os maçons. Eu incluído. Tão só!
Duvido! Releio alguns textos que escrevi. Distraio-me. Mais do que confirmar ou infirmar a minha impressão, verifico que a minha escrita, na busca da beleza, afinal é simplesmente rebuscada, complicada, rococó. Mais do que apresentar as ideias, de as ilustrar, de as sublinhar, embrulho-as (e, logo, escondo-as) em frases grandes, complexas, cheias de vírgulas, parêntesis e travessões - como esta! Mas esta não conta. Foi escrita assim de propósito para ilustrar o que quero dizer!
Reflicto. A beleza não está no enfeite. Nem no complexo. Ou no acrescento. Muito menos no rococó. A verdadeira beleza está na simplicidade. E essa é que é difícil de atingir. Portanto, essa é que tem valor. Tenho a mania que escrevo bem. Leio-me e verifico que não. Venho escrevendo rebuscado. Não bem. A forma deve servir para realçar a ideia. Não para a esconder em folhos e voltas de frases arrebicadas . Vou procurar corrigir-me. Usar menos vírgulas, parêntesis e travessões e mais pontos finais. Este texto já procura ser assim. Menos rebuscado. Menos pretensamente elegante. Mais claro. Mais sóbrio. Mais perceptível.
Releio o que escrevi neste texto até agora. Parece-me que o objectivo está a ser cumprido. Suspeito que bem de mais! Agora vejo pontos finais em abundância e dificilmente lobrigo vírgulas, parêntesis e travessões. Do oito para o oitenta! Ou talvez do oitenta para o oito. A profusão de adjectivos também se mostra ausente. Hesito. Agora esta escrita lembra-me a de António Lobo Antunes ou a de José Cardoso Pires. Rio-me. Censuro-me da ideia. Não há padeiro que consiga fabricar a quantidade de pão que eu preciso de comer para eu poder chegar perto dos calcanhares de Lobo Antunes ou de Cardoso Pires... É melhor mudar de assunto e ir reflectir para outras paragens.
O que importa são as ideias que se transmitem. Não como se transmitem, a seco ou embrulhadas em enfeites. Será! Mas se o enfeite for demasiado, o leitor desiste de procurar a ideia e, sobretudo, de reflectir nela! Se a ideia for apresentada demasiado secamente, o leitor faz uma careta e vai procurar algo mais agradável. Nem sequer presta atenção à ideia e, portanto, não reflecte nela! O segredo está no equilíbrio. Escrever "bonito" sem substância é estéril. Debitar ideias como gráficos do Orçamento Geral do Estado é inútil: ninguém que não seja já especialista do assunto lê!
Equilíbrio, pois. Apresentar ideias realçando as ideias, não os arrebiques. Mas apresentando-as bonitas! Um pouco de perfume realça-as; um frasco de perfume despejado sobre elas afasta-nos, de mão no nariz! Um pouco de maquilhagem dá-lhes graça e atrai-nos. Aplicar a drogaria toda no seu frontispício fá-las parecer damas da noite, disponíveis para aluguer...
E as minhas ideias podem ser boas ou más, bonitas ou feias, mas são honestas! Que ninguém disso duvide, que a ninguém isso admito!
Pensa quem lê que este texto não tem nada a ver com Maçonaria. Errado! O maçon busca aperfeiçoar-se. Para o fazer, tem de se questionar e questionar o que faz. Ser crítico de si próprio. Não renegar o que é nem o que fez, mas analisar o que foi e o que agiu, para que possa procurar ser melhor e fazer melhor.
Insiste quem lê que então este texto não tem nada a ver com a citação de Voltaire. Faça o leitor o favor de ir lá atrás relê-la. Nem sequer tem uma pergunta. Errado outra vez. Este texto está cheio de perguntas. Faça o favor de as procurar. De ler o texto em todos os seus sentidos e nos seus vários níveis. Em Maçonaria, o conhecimento nunca está à vista. Está sempre encoberto. É preciso procurá-lo. Raspar a superfície da aparência. Espreitar para dentro do seu conteúdo. As perguntas é aí que estão. E, atrás delas, estou eu!
São seis e meia da tarde de sexta-feira e estou a acabar de escrever este texto. Errado novamente! Este texto foi todo pensado, foi todo feito, de manhã. Entre as seis e as seis e meia da tarde, só lhe meti as palavras dentro!
Rui Bandeira