24 junho 2008

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A MAÇONARIA

A Maçonaria, pode-se dizer, nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros.
Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam, principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização.
Além de ler e escrever, aprendiam a dar graças, a caridade e os princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, nalguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viuva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflictos.

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registro da Associação de Pedreiros Livres.
Oficialmente registada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibido, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com simbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.
Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo de seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana.
Constitui-se como único protector e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.
Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente.
Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até á chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada.

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceite o primeiro maçom especulativo, de que se tem noticia, Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer á Associação dos Pedreiros Livres.
Em 1646 é aceite outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste facto é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosacruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosacruz.
As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos.

Em 24 de junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar essas reuniões clandestinas, pois, poderiam actuar contra o governo.

Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor.

Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei. Deu-se então uma verdadeira caçada á maçonaria e aos seus membros.

A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons.

Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte. Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau.
Pio VII só recuperou parte de suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815.

Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.
Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países.

Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821;Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isso recebia condenações mais veementes da Igreja.

Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui havia sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até esse momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 Km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central.

A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito.

O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.
Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália.

Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam A Jesu Christo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e, é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e actividades. Os carbonários matavam se fosse preciso.
Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido á revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios.

Em 1849 é proclamada por uma Assembléia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 226 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações.

Em 14 de maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália... Ideal Carbonário.

Em 27 de maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:
“ Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica.”

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte:
Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exequias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do baptismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Baptismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimónio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos.

Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adopção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento.

Em 11 de fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática,etc.
Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália.

Enfim, ficou o estigma da condenação.

Em 27 de novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânons do antigo código.

O Código mais importante, referente á Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se afilia a uma Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicado uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia:
“Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida. Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”.

A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canônico, e também da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica?

Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, essas são as palavras.

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica certamente novos horizontes surgirão.

Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes.

Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

FÉ E VAMOS VER, MEUS IRMÃOS, A PAZ TOTAL VIRÁ.
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Texto, de autor desconhecido, adaptado e complementado para publicação neste blog.

JF - 2008

Do tempo, ...

Já aqui o mencionei. Fui iniciado na Alemanha, no último ano da década de oitenta do século passado. Não residia na Alemanha. À míngua de existência, na época, de Maçonaria Regular em Portugal, e aguardando a sua institucionalização aqui, optei por seguir o conselho do meu padrinho, um alemão que, na altura se encontrava em Portugal, e buscar a Luz numa Loja de língua espanhola de Bona, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, minha Loja-mãe. Aí fui iniciado. Aí, cerca de um ano depois, fui passado a Companheiro. E foi como Companheiro que ingressei na Loja Mestre Affonso Domingues, pouco tempo depois da sua Consagração, em pleno período de reconhecimento internacional da emergente Maçonaria Regular em Portugal. Assim o decidi, assim o fiz. Mas paguei um preço. É esse preço que constitui o ponto de partida deste texto. Para que se entenda que todas as escolhas têm um preço. Também em Maçonaria. Talvez particularmente em Maçonaria.

O preço que eu paguei foi que não aprendi a ser maçon, o que era a Maçonaria, o que deveria ser e fazer e procurar, no tempo em que o deveria ter aprendido. O facto de ter sido iniciado na Alemanha e residir e trabalhar em Portugal e não poder deslocar-me regularmente à Alemanha, levou a que viesse a ser passado a Companheiro na terceira reunião da Loja em que participei. Leram bem: participei na sessão em que fui iniciado, participei numa outra, meses depois e, cerca de um ano depois da minha iniciação... interstício decorrido e ultrapassado, compareci a uma terceira sessão... para ser passado a Companheiro. Só em Portugal, e na Loja Mestre Affonso Domingues, vim a participar regular e assiduamente nos trabalhos da Loja.

O tempo de Aprendiz serve para isso mesmo: para aprender. Para aprender o que é ser maçon, o que é estar e integrar-se numa Loja, o simbolismo subjacente a tudo o que nos rodeia, o que se deve fazer, como se deve fazer, porque se deve fazer de uma maneira e não de outra. É um tempo de preparação e de início de mudança pessoal. Será complementado com o tempo e a actividade enquanto Companheiro. Para que, chegado a Mestre, se esteja habilitado a usar as ferramentas de beneficiação do nosso carácter que só devemos pousar quando a nossa meia-noite chegar.

Esse tempo não é apenas tempo. É trabalho. É presença em Loja. É observação. É meditação. É tentativa, erro e correcção. É um processo, quantas vezes não conscientemente notado, de mudança, de aperfeiçoamento.

Desse tempo, desse trabalho, não beneficiei. Não o utilizei um nem executei o outro. As circunstâncias foram o que foram. E eu aceitei-as. Mas paguei o preço. O preço que paguei foi que só considero que aprendi a ser maçon, a entender o que é e deve ser um maçon, a fazer o que deve ser feito, já era Mestre e bastante tempo depois de a tal grau ter sido elevado.

Isso teve uma única vantagem: aprendi naturalmente que o Mestre deve sempre continuar a ser e considerar-se um eterno Aprendiz, sem qualquer dificuldade, porque efectivamente fui um Aprendiz em avental de Mestre.

Mas esta opção que então fiz envolveu - compreendo-o hoje! - um enorme risco. O risco de nunca encontrar o caminho. De me perder e porventura levar a que outros se perdessem. O risco de não saber fazer, porque o fazer e, portanto, de nada de jeito aprender. Porque não estava preparado. Porque fazia coisas antes de tempo. Antes de realmente saber o seu significado. Não só com a cabeça. Também, e principalmente, com o coração e com o espírito.

A minha sorte terá porventura sido que, naquela época de organização e institucionalização da Maçonaria Regular em Portugal, tirando muito poucos, pouquíssimos, todos estavam a aprender. Em conjunto. Errando e tirando lições do erro. Não fui apenas eu. Outros foram - porque era imperioso que fossem! - Mestres antes do tempo. Temos hoje a consciência disso. Alguns - como eu - aprenderam e cresceram e evoluíram. Outros - mais do que nós gostaríamos que tivessem sido - ficaram pelo caminho. Nunca chegaram verdadeiramente a entender o que é ser maçon, por muitos aventais bonitos e graus e títulos que porventura tivessem ostentado. Esse foi um preço que teve que ser pago.

Mas esse é um preço que nós, os que tivemos a honra de ser pioneiros, não queremos que aqueles que agora se juntam a nós paguem. Porque não precisam. Porque eles têm tempo. O tempo que nós não tivemos e que, felizmente, os que conseguiram passar o cabo da "aprendizagem em movimento", trabalharam e trabalham para que os que agora se nos juntam tenham.

Por isso, a minha mais insistente recomendação aos Aprendizes da minha Loja é que não tenham pressa. Que dêem tempo ao tempo. Que trabalhem, que se integrem, que meditem, sempre sem pressa. A Maçonaria não é uma ciência. Nem uma filosofia. É um estilo de vida. Que, mais do que se aprender ou se seguir, se entranha no maçon. Quase que por osmose. O importante é estar, estar atento, estar disponível. Um dia, quase que sem darmos por isso, tudo começa a encaixar, tudo faz sentido. Então, entende-se que a Ética do maçon só poderia ser a que é. Que o nosso comportamento é o que deve ser. E não se faz esforço nenhum para se ser melhor. Naturalmente, tornamo-nos melhores. Como uma criança cresce, assim crescem os maçons. Porque ética e espiritualmente crescem. Como uma criança precisa de tempo para crescer, assim dele também os maçons necessitam.

Tempo. Talvez, bem vistas as coisas, o bem mais precioso de que dispomos. Não tenhamos pressa de o gastar. Não o vejamos como um empecilho. Que todos e cada um dos Aprendizes saibam aproveitar e usar o seu tempo enquanto tais. Demorará talvez muito até o compreender, mas um dia será possível entender que não foi um tempo desperdiçado.

Rui Bandeira

23 junho 2008

Como entrar na Maçonaria - II

Lancei aqui há uns tempos o tema “Como entrar na Maçonaria”. Iniciei com um post simples pedindo opiniões, que obtive.

Comecei então a passar “a papel – electrónico entenda-se” o texto a apresentar. De repente ainda não tinha escrito quase nada e já ia em 3 ou 4 páginas.

Decidi então dividir o Post em pelo menos 2 partes, primeira das quais publico hoje e a(s) seguinte(s) em dias futuros mas não distantes.



É a minha convicção, baseada em tudo o que li, que não existe um método absoluto, nem existe uma fórmula certa e outra errada, para se entrar na Maçonaria.

Existem tradições, usos e costumes, mais ou menos locais, mais ou menos universais, mais ou menos usados, mais ou menos torneados.

Usando o que as Obediências dizem, e um pouco do que penso vou tentar deixar ao leitor informação que lhe permita tirar as respectivas conclusões, porque na Maçonaria uma das coisas que se aprende é a que cada um deve saber tirar conclusões.

Assim passo a citar, qualificando-as com critério meu, as informações que se obtêm nos sites das obediências e nas respectivas linguas:


Os Opostos:

TO BE ONE YOU MUST ASK ONE!
In order to become a member of the Grand Lodge of Virginia you must have two Master Masons vouch for your character and recommend you into our Craft. You also have to be a man, 18 years old or older, of good character, and believe in a God that promotes peace, love, and harmony towards all mankind. These are some of the basic requirements for membership into our Fraternity.

Grand Lodge of Virginia - USA


"COMO SE FAZ PARA SER MAÇOM?
É preciso que o candidato seja indicado por um Mestre Maçom e tenha a sua iniciação aprovada pela Loja.
Ninguém se inscreve para ser maçom.
Por suas qualidades, ele é notado por um maçom que o indica para a sua Loja.”

Grande Loja do Estado do Rio de Janeiro


Os Omissos

"Typiquement quelqu’un devient Franc-maçon parce qu’il éprouve le besoin d’évoluer dans un esprit d’ouverture et qu’il a rencontré cet esprit d’ouverture auprès de personnes qui se sont fait connaître comme Francs-maçons.”
Grande Loje Suisse Alpina


Os Universais

“J'aimerais devenir Franc-Maçon. Que dois-je faire?
L'entrée en Franc-Maçonnerie procède selon deux voies très différentes.
Le plus souvent, le processus fonctionne de proche en proche : un ami, un voisin, un collègue vous demande un jour un entretien entre quatre yeux, il se dévoile et vous explique qu'il aurait grand bonheur à partager avec vous sa démarche. Alors commence un dialogue qui va construire une relation entre vous deux, bientôt partagée avec ses autres Frères en Franc-Maçonnerie.

Plus rarement, mais régulièrement, cette rencontre est attendue par l'impétrant, mais ne se matérialise pas. Dans ce cas, rien de plus simple : il suffit d'envoyer à l'attention du secrétariat de la Grande Loge Régulière de Belgique une lettre de candidature reprenant les éléments suivants :
votre curriculum vitae vos motivations personnelles profondes à vouloir être reçu en Franc-Maçonnerie

Grande Loje Reguliere de Belgique


Os Tradicionais

“Suggested Steps After reading the various booklets on this site, see 'All About Masonry' in the menu bar, and if you are still interested in becoming a Freemason, we advise that you first talk to a family member, friend or colleague whom you already know to be a member. They will be able to explain to you what they can about the fraternity and help you find a suitable Lodge. If you don't know anyone at all who is a member, then get in touch with a Masonic Office in your area. Write to that office, telling them a little bit about yourself and your reasons for wishing to join.”
United Grand Lodge of England


Os Torneados

We would welcome your involvement - but we won't be pushy”
Grande Loja do Sul da Austrália e Territórios do Norte


Temos aqui exemplos dos Estados Unidos, Brasil, Europa, Austrália e muitos mais podem ser encontrados, que nos demonstram inequivocamente que não há um padrão comum.

Comecemos pelo sistema Americano.

A premissa não se convida espera-se que o candidato apareça de livre e espontânea vontade não é também universal, em minha opinião, a todas as Grandes Lojas Americanas.

Algumas, embora dizendo que o candidato deve subscrever a petição de livre e espontânea vontade, juntam que tem também que ser apadrinhado por 2 Mestres Maçons que o avalizem, e logo o conheçam. Indicam também que será útil abordar algum Maçon que se conheça e perguntar-lhe como é que se faz, o que é a Maçonaria, etc.

O exemplo que ilustra esta situação é o seguinte:


"Qualifications for Membership

Application for membership is open to men who:
Have been an Ohio resident for at least one year
Are at least 19 years old
Have a belief in a Supreme Being
Live a good moral and social life
Do not advocate the overthrow of the government
Can read and write English
Are recommended by two members of the Lodge they wish to join. (If you do not know two members of a Lodge, the secretary of the Lodge to which you are applying can arrange a meeting with two members of the Lodge for you.)
"
Grand Lodge of Ohio - USA

Como se pode ver é necessária a recomendação de 2 Mestres da Loja onde se pretende entrar. E se não conhecer ninguém então a Loja organiza um encontro para conhecer o candidato.

O que se pode depreender daqui é que embora formalmente se mantenha o tradicional “2b1ask1” na verdade o sistema de apadrinhamento funciona.

Aliás, em minha opinião, as Obediências Americanas abandonaram há muito o conceito de não convidar, ao substitui-lo por agressiva presença na Internet e nos “média”. Desta maneira conseguem com que muita gente venha bater à porta, e isto é de tal maneira verdade que em muitas lojas a idade média dos membros tem vindo a baixar substancialmente pois os novos maçons vindos da Internet são pessoas mais jovens.

... Continua num próximo Post.

José Ruah

20 junho 2008

A ajuda


Hoje, deixo aqui mais uma historieta simples. Inspira-se num texto, de autor anónimo, que circula pela Rede. Mas o texto é totalmente escrito por mim.

O homem, chamemos-lhe Adão, quase não viu a senhora, já idosa, dentro do carro parado junto ao passeio. Chovia fortemente. Adão reparou que o carro tinha um pneu furado. Percebeu que a senhora não conseguia resolver o simples problema de mudar o pneu. A idade avançada da senhora, o seu aspecto frágil, impediam que a senhora dispusesse da força e agilidade necessárias para efectuar as acções necessárias para tal. E a chuva forte e fria não ajudava...

Adão aproximou-se e disse à senhora:

- Não se preocupe, senhora, eu vou ajudá-la. Deixe-se ficar dentro do carro, que eu mudo a roda num instante.

E assim fez. A senhora, agradecida, quis pagar-lhe o serviço. Mas Adão não tinha prestado ajuda pelo dinheiro. Disse então à senhora:

- Se quer realmente pagar este pequeno serviço, na próxima vez que encontrar alguém que precise de ajuda, ajude-a, na medida em que possa fazê-lo, e lembre-se de mim.

A senhora, aliviada, pôde seguir viagem. Parou não muito longe dali, num café, para se recompor da aflição que sentira, por se ver incapaz de resolver um problema tão corriqueiro.

Foi atendida por uma empregada simpática e atenciosa, mas que se via que fazia o seu serviço com alguma dificuldade, pois estava em avançado estado de gravidez, quase em tempo de dar à luz.

A senhora idosa comentou à jovem empregada que, naquela fase já tão avançada de gravidez, ela já não deveria estar a trabalhar. Era-lhe certamente muito penoso e, além disso, era tempo de se preparar para a ocasião, sempre difícil, em que traria ao mundo uma nova vida.

Mas a jovem empregada respondeu-lhe que, embora efectivamente lhe fosse muito difícil estar a trabalhar no seu estado, não podia deixar de o fazer. O seu marido estava desempregado e, embora procurasse todos os dias emprego, não conseguia obtê-lo, e só ela conseguia ganhar algum dinheiro para o sustento de ambos. Aliás, se o marido não conseguisse muito brevemente emprego, não sabia como iria ser, com mais uma boca a sustentar... Mas alguma coisa havia de se arranjar. A vida não era fácil, mas não era lamentando-se que a tornava melhor. E prosseguiu na sua labuta, atendendo outros clientes.

Após alguns minutos de repouso, a senhora idosa pediu a conta. A jovem e muito grávida empregada deixou-lhe na mesa um pratinho com um papel onde constava o montante da despesa da senhora e logo, pesada mas ao mesmo tempo de uma forma estranhamente leve, se afastou, na sua atarefada lida.

A senhora idosa lembrou-se então do homem que há pouco a ajudara e do que lhe dissera. Aquela jovem precisava de ajuda e, manifestamente, merecia ser ajudada. Deixou então no pratinho o par de euros em que importara a sua despesa, acompanhados de uma muito generosa gorjeta: a nota de maior valor que tinha consigo, cem euros. A gorjeta era cinquenta vezes superior ao pagamento. Mas assim correspondia ao pedido do homem que a ajudara, sem nada querer em troca. Deixou ainda um bilhete, para que não houvesse dúvidas:

"Minha jovem, desejo que tenha uma boa hora. Vejo que está necessitada. Este dinheiro certamente será uma ajuda. Hoje fui ajudada por alguém e é a minha vez de ajudar. Se quiser corresponder, da próxima vez que vir alguém que precise de ajuda, dê-a, dentro daquilo que possa.

Naquela noite, quando a jovem chegou a casa, findo mais um duplo turno de trabalho, o seu marido já dormia. Deitou-se, fatigada, mas satisfeita. Pensou no seu dia, cansativo, mas em que recebera uma inesperada gratificação. Pensou no que a senhora tinha deixado escrito no bilhete. Agradecida e aliviada, pensou que aquele dinheiro lhe permitia resolver o problema que mais a preocupava. Podia enfim comprar roupas para o bebé que estava quase a chegar, sem precisar de retirar dinheiro do seu salário para isso! Aquela gratificação fora uma bênção!

Prestes a cair no sono, chegou-se para junto de seu adormecido marido e sussurrou-lhe:

- Tudo se vai arranjando. Amo-te... Adão!

Nem sempre as coisas correm como nesta singela história. Nem sempre o bem que fazemos nos é retribuído. Mas, afinal, não é a expectativa de retribuição que deve nortear os nossos actos altruístas. Senão, não seria, altruístas. Seriam... egoístas! Mas se cumprirmos o nosso dever de procurar tornar o Mundo um pouco melhor e incentivarmos os demais a agirem de forma semelhante, o Mundo torna-se efectivamente um pouco melhor. E nós, mais cedo ou mais tarde, também disso beneficiamos! E, além do mais, postura e a disposição de ajuda desinteressada, dá-nos satisfação e ajuda-nos a ser mais felizes. E é isso que todos queremos!

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Segunda-feira próxima estou de novo ausente, por motivos profissionais. Consequentemente, não publicarei nada nesse dia.

Rui Bandeira

19 junho 2008

Guarda Externo / Guarda Interno

Nos Ritos de York e de Emulação, a privacidade da sessão de uma Loja Maçónica é assegurada por um Guarda Externo, isto é, um Oficial da Loja que, armado de uma espada, guarda, pelo lado de fora, a porta do local onde se processa a reunião. Em inglês, este Oficial é denominado Tyler. Daí a designação de Telhador que também em português foi atribuída a este ofício, em evidente corruptela da designação inglesa.

O Guarda Externo é o Oficial que deve aguardar a chegada do Venerável Mestre ao local onde vai decorrer a reunião da Loja e imediatamente iniciar as suas funções, só franqueando a entrada no local a quem se faça por ele reconhecer como maçon, e como maçon do grau (ou superior) em que a Loja vai nesse dia trabalhar. Esse reconhecimento é feito através dos sinais, toques e palavras passes adequados à circunstância. Designa-se esta actividade de efectuar o reconhecimento de um maçon, em ordem a franquear-lhe (ou recusar-lhe) a entrada no local onde vai reunir ou está reunida a Loja como o acto de telhar.

Esta designação, como disse, advém da corruptela da palavra inglesa tyler, mas acabou por, através de associação se confundir com outro termo maçónico. Telhar e telhador facilmente se associam a telha, material utilizado para cobertura de edifícios. Se uma reunião maçónica está telhada, então está coberta. Daí que facilmente se concluísse que, se uma reunião maçónica está coberta, isso equivale a dizer que está a coberto (da indiscrição dos profanos).

Esta associação, por sua vez, originou uma outra designação do Guarda Externo, ou Telhador: a de Cobridor, o Oficial que mantém a Loja a coberto. Esta designação, até pela susceptibilidade de confusão com um mais vernáculo significado da palavra cobridor (basta recordar que, nas pecuárias de criação de gado vacum costuma existir um touro cobridor...), determinou que esta última designação caísse em desuso. A Maçonaria preserva a Tradição. mas não exageremos...

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a função de guardar a privacidade da Loja é assegurada por um Guarda Interno, ou seja, o Oficial que assegura esse ofício, não se mantém, como nos Ritos de York e Emulação, do lado de fora da porta do local onde decorre a reunião, mas do lado de dentro, possibilitando-se-lhe, assim, que participe plenamente na reunião.

É errado (embora um erro a que tenho assistido com alguma frequência) denominar o Guarda Interno por Telhador, porque, ao contrário do Guarda Externo nos Ritos de York e de Emulação, não compete ao Guarda Interno, no Rito Escocês Antigo e Aceite, telhar, isto é, testar a condição e o grau de quem se apresenta como maçon, quem chega. No REAA, essa função é assegurada pelo Experto e também, no início da sessão, pelos Vigilantes, através de uma acção ritualmente prevista.

A razão porque a função de assegurar a privacidade da Loja é exercida, nos ritos de York e de Emulação, por um Guarda Externo, enquanto no REAA tal é efectuado por um Guarda Interno, radica em que, naqueles ritos, ao contrário deste, não são admitidas armas no interior do local onde decorre a reunião da Loja. É levado, naqueles ritos, ao limite da observância literal o princípio de que os maçons devem deixar os seus metais à porta do Templo. Este princípio (que tem simbolicamente um mais amplo significado - um dia escreverei sobre isso), literalmente observado, impede que o metal da espada seja admitido no interior da sala onde decorre a reunião da Loja. No REAA, um rito que foi, desde o seu início, adoptado por Lojas militares e Lojas, que o não sendo, acolhiam militares, este princípio não é tão literalmente observado e, não só são admitidas espadas em Loja, como o uso de espada faz parte do equipamento de alguns Oficiais de Loja e é requerido, em algumas circunstâncias, a todos os Obreiros presentes.

Não se faça, porém, qualquer confusão: o Rito Escocês Antigo e Aceite é um rito de Paz. E a admissão de armas no local onde decorre a reunião da Loja não o contradiz, antes o acentua: tem-se arma, mas nunca se usa contra um Irmão, e muito menos como reforço de qualquer argumento. A verdadeira Paz não resulta de não dispor de armas; advém de as ter, mas não as usar. No Rito Escocês Antigo e Aceite o uso de espadas é meramente cerimonial. E, para que não haja acidentes, que, nos dias de hoje já não se fazem espadachins como antigamente, por via das dúvidas as espadas utilizadas são rombas, isto é, não possuem lâminas afiadas...

Nos Ritos de York e de Emulação, o ofício de Guarda Externo é considerado de alguma importância e muita responsabilidade, como facilmente se deduz da tarefa de verificação das credenciais de quem se apresenta para entrar em Loja.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, a sua responsabilidade é manifestamente menor, quase se resumindo, na prática, ao exercício de funções de "Oficial Porteiro". É, na ordem hierárquica dos Ofícios, colocado em último lugar. Por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Leram bem. E eu não me enganei na formulação da frase. Para não haver dúvidas, repito: por isso mesmo, o seu titular é sempre um maçon experiente. Passo a explicar.

Porque é o ofício considerado com menos dificuldade, com menor execução ritual, colocado em último lugar na hierarquia dos ofícios de Loja, no Rito Escocês Antigo e Aceite, o exercício do ofício de Guarda Interno é considerado uma prova de humildade. é, assim, prioritariamente, reservado, ao maçon que, dois anos antes, exerceu o ofício máximo na Loja, o de Venerável Mestre, e que no ano anterior, exerceu a função de Ex-Venerável, principal conselheiro do Venerável Mestre seu sucessor. Após ter exercido o principal ofício na Loja, ter manuseado os símbolos do Poder de uma Loja, o malhete de Venerável e a Espada Flamejante, após seguidamente ter aconselhado quem lhe sucede nesse mais importante ofício (e ser, assim, simbolicamente, o Poder por detrás do Poder...), o maçon vai exercer o mais humilde ofício na Loja, o de Guarda Interno. Demonstra assim, e aprende dessa forma, que o maçon deve exercer todas as funções, da mais importante à mais humilde, com igual interesse e empenhamento. Mostra assim que mereceu exercer o mais importante ofício em Loja e com ele aprendeu que tão necessário é o mais humilde dos ofícios como o mais importante deles e que, portanto, exerce este com a mesma naturalidade com que exerceu o outro. E, assim, com o exercício do mais humilde ofício, o maçon passa à honrosa categoria de Antigo Venerável. Findo ele, retomará, em princípio, o seu lugar nas Colunas da Loja, onde se manterá à disposição de seus Irmãos.

Rui Bandeira

18 junho 2008

Nota dos Editores - Comentários

Este Blog, por critério editorial, apenas permite comentarios de leitores registados. Até há uns tempos atrás o unico registo que era aceite pelo servidor que alberga o nosso Blog era o feita na Google/Blogger, situação que se modificou recentemente passando também a ser aceite o registo OpenID.

Assim e por decisão editorial foi aberta a possibilidade de leitores registados no Open ID poderem usar o seu "nome de utilizador" para comentarem neste Blog.

Agradecemos todos os comentários de incentivo, todas as questões, todas as opiniões, ajudas. Da nossa parte faremos por ir correspondendo.

A Partir Pedra

17 junho 2008

A um Irmão em dificuldade

Um Irmão da minha Loja está muito preocupado. Eu e todos os demais obreiros da Loja partilhamos a sua preocupação.

Sua mulher, companheira de muitos anos, teve um súbito e agudo problema de saúde, que originou a necessidade de uma rápida intervenção cirúrgica. Quando, há pouco mais de uma semana, guiámos os nossos Irmãos da Fraternidade Atlântica no passeio pela Lisboa Pombalina que para eles organizámos, tínhamos a nuvem de preocupação sobre o estado de saúde da nossa cunhada pairando sobre nossas cabeças. Tal nuvem desvaneceu-se, estávamos nós em frente à casa onde nasceu Fernando Pessoa, quando recebemos mensagem de que a intervenção cirúrgica correra bem.

Ontem, soube que a convalescença não decorreu como o previsto e que nova intervenção cirúrgica foi necessária. Já sei que também correu bem e que se espera que, agora, tudo entre finalmente nos eixos e seja apenas questão de tempo e de algum desconforte até que a recuperação total advenha.

Assim o espero, assim o desejo, assim todos o desejamos.

À natural preocupação da afecção de saúde, junta-se o facto de a doença ter ocorrido estando a doente longe de casa. Ela e seu marido, nosso Irmão, suportam ainda o incómodo de estarem distantes de casa e do resto de sua família.

Meu Irmão: sabes que partilhamos a tua preocupação e a tua esperança no breve resolver da situação. Sabes que eu e qualquer de nós estamos à simples distância de um toque de telefone para fazermos tudo o que pudermos e que tu nos informes que necessitas. Sabes que esperamos poder ter-te connosco na nossa próxima reunião. Mas, se tal não for possível, estarás connosco em espírito e a ti e à tua mulher será dedicada a Cadeia de União.

Aqui, neste espaço que também é teu, te deixo uma palavra de conforto e encorajamento. Tudo há-de correr bem. E brevemente tudo estará passado e resolvido a contento.

Um abraço de todos os teus Irmãos. E, porque sou egoísta e aproveitador, um outro especialmente meu. E um beijo da tua cunhada, minha mulher, que junta os seus votos de rápida recuperação aos meus. Ela não me perdoaria se aqui não o referisse expressamente! Aliás, para ser justo, ela disse: "já que gostas tanto de escrever no teu blogue, vê lá se escreves uma mensagem de apoio ao teu amigo..." E eu, que até tinha pensado respeitar a tua privacidade e aqui nada dizer, vi que ela tinha razão: eu seria capaz de, sem beliscar a tua privacidade, aqui te mandar uma mensagem de incentivo. Em nome dela, em meu nome, em nome de todos os demais da Loja e respectivas famílias. Todos gostam de ti. Todos estão contigo!|

Sabemos que só desejarás regressar a tua casa acompanhado da tua mulher, já restabelecida. Portanto, do nosso brinde ritual, relembro e aqui te desejo: "que tenhas um rápido regresso a tua casa, se for esse o teu desejo".

Rui Bandeira

16 junho 2008

Instituto Português do Sangue

É sobejamente sabido, e tem sido largamente difundido aqui no blog, que a Loja Mestre Affonso Domingues tem um grupo de dadores de sangue e que regularmente reune voluntarios e patrocina essas dadivas.

Hoje recebi o seguinte SMS do IPS:

"Visite www.ipsangue.org No espaço do dador pode visualizar as suas doações, imprimir declaraçao de presença e marcar a próxima doação."

Curioso como sou, fui la ver o site. E sem problemas de maior consegui aceder à minha ficha.

Verifiquei que há uma area onde estão listadas as associaçoes de dadores, mas a Affonso Domingues nao estava, mas também me parece que pelo pequeno numero aí mencionado que ainda está em construção.

Quanto ao resto do site pareceu-me muito bem feito.

Caro leitor, se também recebeu o mesmo SMS vá ao site e inspire-se a ir fazer mais uma dádiva, se ainda não recebeu o SMS faça o favor de ir ao IPS inscrever-se como dador e esticar o seu braço.

A Causa é nobre e quem precisa agradece.

Torne-se Dador nao custa nada.

Como fazer FACIL FACIL

www.ipsangue.org tudo explicadinho.


José Ruah

12 junho 2008

Futebol, Maçonaria e mais...

Não, não venho deixar nenhum texto sobre o Euro-2008 nem sobre a vitória da Selecção Portuguesa sobre a da República Checa. Isso já foi glosado em vários tons pela imprensa, pela rádio, pela televisão e pelas conversas de emprego, amigos e de café. Hoje, o tema de partida para o texto é o futebol, mas é outro e de outras paragens.

Li no jornal electrónico Midiamax - o Jornal Eletrônico do Mato Grosso do Sul uma notícia na secção de Esportes, da autoria do jornalista Jorge Franco, com um título que logo me chamou a atenção: Capital terá Copa Maçônica de Futebol Society.
Os detalhes primeiro. Que é isso de "Futebol Society"? A Wikipedia elucida-nos, nesta entrada: Futebol Society é uma variação do futebol. Jogado em campos menores, e usualmente com grama sintética (ou outros materiais artificiais). Disputado por 7 atletas de cada lado, tem regras próprias, criadas por um brasileiro, Milton Mattani. Difundido em todo o mundo, principalmente na América do Sul. Hoje, no Brasil, é a modalidade mais praticada com cerca de 12 milhões de praticantes.

Resolvido o pormenor, vamos então à notícia:

Promovido pela Prefeitura de Campo Grande, numa realização da Funesp (Fundação Municipal de Esporte), começa no dia 5 de julho, a primeira edição da Copa Maçônica de Futebol Society, competição que conta com a parceria das potências maçônicas GOMS, GOB-MS e Grande Loja Maçônica, além da Federação de Futebol Society de Mato Grosso do Sul.

A competição reunirá maçons ativos das três potências de Mato Grosso do Sul, que poderão inscrever quantas equipes pretenderem. Cada equipe será composta por 15 atletas com idade superior a 40 anos, podendo cada uma inscrever ainda até dois atletas com idade inferior a 40 anos. Um destes jogadores será, obrigatoriamente, o goleiro.

Também será permitida a fusão de duas ou mais lojas de uma mesma potência para a composição das equipes.

As inscrições poderão ser feitas na Funesp, até o dia 1º de julho, sendo que cada equipe pagará a quantia de 15 cobertores, que serão doados para a campanha do agasalho promovida pela primeira dama de Campo Grande, Maria Antonieta Trad.

O congresso técnico, que definirá a tabela de jogos e a composição dos grupos ocorrerá às 16 horas do dia 5 de julho, na praça esportiva do Belmar Fidalgo, com a presença do prefeito Nelsinho Trad (PMDB) e dos Grão-Mestres Herbet Xavier (Grande Oriente de Mato Grosso do Sul), Juares Vasconcelos (Grande Loja) e Gercírio Domingos Mendes (Grande Oriente do Brasil).

Para o presidente da Funesp, Carlos Alberto de Assis, esta competição visa promover a integração e a confraternização entre os maçons. "É uma forma de prestigiarmos e ao mesmo tempo agradecer a estas pessoas, que tanto fazem pelo bem estar de nossa sociedade, bem como prestamos a colaboração com a campanha do agasalho".

Brasileiro é mesmo assim: futebol, mesmo de sete, tem lugar de destaque. Mas o que me chamou a atenção na notícia foi algo diverso: a naturalidade da confraternização entre maçons de Obediências distintas. Aqui não há querelas sobre regularidade ou reconhecimento. Cada um joga no seu time e, golo daqui, defesa dacolá, todos confraternizam.

É um bom exemplo a seguir deste lado do Atlântico. É bom que todos vamos entendendo e praticando que, estando cada um integrado na sua Obediência, que tem características, aqui mais, ali menos, diferentes das outras, não tem que, não deve, ignorar ou verberar quem escolheu integrar-se noutra. Se esta é Regular, aquela Liberal, uma reconhecida internacionalmente por uns, outra por outros, e uma terceira por nenhuns, são outras questões, que nada têm a ver com o desejável amistoso trato que deve existir entre quem busca o aperfeiçoamento e a Luz - onde quer que o faça. Se um maçon vir um certo sinal pedindo ajuda, o que faz é prestar socorro, dar auxilio, providenciar alívio; não vai perguntar a quem necessita de auxílio em que Obediência está inserido. Quando é hora de prestar homenagem fúnebre a um maçon que passou ao Oriente Eterno, não importa nem em que Obediência ele se encontrava, nem se quem está ao meu lado na Cadeia de União é Regular, Liberal, Reconhecido ou não. Homens livres e de bons costumes prestam homenagem a um outro, que pousou já as suas ferramentas. É tudo! E é assim que deve ser!

Obviamente que as determinações de cada Obediência devem ser respeitadas. No meu caso, como Maçon Regular, não visito Loja que não seja Regular e não admito visitantes que não sejam maçons Regulares na minha Loja. São essas as regras que vigoram e que me comprometi a cumprir, ponto final. Mas essas regras não me impedem de, fora de Loja, confraternizar, colaborar, debater, organizar, enfim, relacionar-me com outros homens livres e de bons costumes que optaram por se inserir e trabalhar em outras Obediências. Nem, já agora, embora a minha Obediência seja exclusivamente masculina - e eu concordo com isso, e já expliquei aqui porquê -, tenho qualquer impedimento em estabelecer idêntico relacionamento com senhoras que, integradas em sua organização própria, comungam também dos ideais e objectivos maçónicos. Em resumo, homens e mulheres de boa vontade, comungando dos ideais maçónicos, têm um vasto campo de cooperação, que podem e devem aproveitar e utilizar, independentemente de cada um se inserir na sua específica Obediência e cumprir as regras que nelas vigoram.

Por isso, não se praticando por estas bandas o Futebol Society, mas praticando-se o Futsal, bem gostaria de ver organizado um campeonato de Futsal, com equipas formadas por obreiros da GLLP/GLRP, do GOL, da GLRP, da GLTP e do que mais por aí houver! Pontapé na canela aqui, golo acolá, defesa mais adiante, também assim se aprende a distinguir entre o essencial e o acessório...

Mas, atenção!, não pode ser já! É que o craque da Loja Mestre Affonso Domingues, o José Ruah, lesionou-se recentemente num renhido jogo e está fora de combate por uns tempos - e nós precisamos do nosso craque!

Rui Bandeira

11 junho 2008

Os dois marretas


A entrada de ambos na Loja Mestre Affonso Domingues ocorreu no mesmo dia, ainda a última década do século passado estava no princípio. Um foi iniciado. O outro foi recebido, já como Companheiro, pois tinha sido iniciado e passado a Companheiro na Alemanha, na Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bona, enquanto aguardava a instituição em Portugal de uma Obediência Maçónica Regular.

O que foi iniciado naquele dia veio a recuperar o atraso em relação ao outro e veio a ser Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues antes deste. Aliás, é presentemente o ex-Venerável mais antigo da Loja em actividade. O outro só anos depois teve a responsabilidade de dirigir os destinos da Loja.

Assim, em matéria de antiguidades, consideram-se empatados.

Têm diferentes convicções religiosas. Mas isso é-lhes completamente indiferente, já que ambos sabem que crêem no mesmo Criador, só diferem na forma de o fazer, nos ritos que praticam, nas culturas que herdaram de seus antepassados.

Um é orgulhoso dono de um cão. O outro tem um felino como animal de companhia.

Um é franco e directo até, por vezes, ao limite da rudeza, que o outro faz questão de, à guisa de prevenção de excessos, sistemática e muitas vezes injustamente, o acusar de ultrapassar. O outro cultiva a arte do compromisso, do arredondar de arestas, da florentina subtileza, até ao limite do insustentável, que o primeiro, muitas vezes de sorriso matreiro, assinala ter sido deixado para trás, obrigando a piruetas de equilíbrio, dignas de circense artista. E, apelida-o, ironicamente, de diplomata...

Um gosta de exercer a sua actividade na Grande Loja. De há muito que exerce ofícios de Grande Oficial, colaborando com vários Grão-Mestres. Cada vez as suas responsabilidades vão sendo maiores, quiçá até, algum dia, poder, quem sabe, vir a assumir a responsabilidade máxima da Obediência. O outro sempre declarou que o centro do seu interesse é a Loja, unidade que considera ser a essência da maçonaria, e só a contragosto, muito raramente e por pudor de recusar colaboração que lhe seja pedida, aceitou, em duas, bem separadas no tempo, ocasiões, assumir ligeiros e pontuais encargos de assistir maiores responsáveis no que a estes aprouvesse determinar-lhe.

Um presta particular atenção ao preto e ao branco, ao contraste, ao sim ou sopas, pão é pão, queijo é queijo. O outro reponta-lhe a tendência e assinala a miríade de variantes de cinzentos, mostra como se esbatem e sobrepõem os tons, pontua as virtualidades do talvez e do vamos ver e as virtudes das medianas e declara-se adepto do pão com queijo.

Um e outro parecem tirar inaudito prazer em, periodicamente, duelarem argumentos sobre minudências de ritual, ou de organização, ou de escolha de caminhos, ou do que quer que seja. Quando para aí estão virados, um escolhe o branco, o outro declara-se indefectível adepto do negro. E volta e revolta debatem, insistem, atiram-se um ao outro argumentos como projécteis, viram-se e reviram-se, acabando, as mais das vezes por assentar em que o melhor é optarem ambos pelo xadrez a preto e branco. Ou então, cada um de tal forma mostra o erro do outro, cada um se esquiva dos petardos argumentativos do opositor que, quando dão por ela, já nem um defende o branco, nem o outro batalha pelo preto e dão-se ambos conta que já sinceramente apoiam as virtudes do vermelho. E então, por pudor ou teimosia, insiste um que, sendo o vermelho o melhor, há-de ser claro, e contrapõe o outro que não há dúvida na superioridade do vermelho, mas que o mesmo deve ser escuro. E, de soslaio, cada um espreita a cor do outro, concluindo no seu íntimo serem os dois tons precisamente iguais, apesar de um o dizer claro e o outro o apodar de escuro...

Quando se metem nestes preparos, o resto da Loja assiste, meio interessada, meio divertida, à batalha, sabendo que, no fim, ambos se porão de acordo, cada um jurando que o outro é que finalmente viu a razão... Mas, quando esse acordo, chega, ou quando nunca chegou a haver desacordo, todos sabem que é melhor sair da frente, que estes dois, quando decidem puxar para o mesmo lado, são ossos duros de roer...

O que também todos sabem, e os dois em particular, é que cada um precisa do outro para afinar as suas ideias, testar os seus conceitos, aperfeiçoar o seu entendimento. Cada um é a pedra de amolar do outro, o indispensável instrumento para que o espírito do outro permaneça afiado e capaz de cortar a direito sobre qualquer problema. E os aparentes confrontos mais não são do que mil vezes executados exercícios de análise, em que ambos sabem que o que importa não é de onde cada um parte, mas onde ambos chegam.

São água e azeite e simultaneamente são unha com carne. Podem estar meses sem se ver ou sem se falar e, quando se reencontram, retomam a conversa no exacto ponto em que a interromperam. Cada um segue a sua vida ao seu jeito, mas qualquer deles, quando precisa, pede ajuda ao outro, sem rebuço nem hesitação, sabendo que, dentro das suas possibilidades, o apoio pedido não faltará.

Antes daquele dia, já longínquo, do início da última década do século passado, não se conheciam nem nunca tinham ouvido falar um do outro. Hoje, tão insanavelmente diferentes, mas afinal tão inesperadamente iguais, consideram-se, além de Irmãos, amigos. Tão simples como isto! E isto é também Maçonaria. Isto é também ser maçon.

Um é o José Ruah. O outro sou eu.

Rui Bandeira

09 junho 2008

Encontro das Lojas (tri)gémeas

A Loja Mestre Affonso Domingues está geminada com duas outras Lojas: A Fraternidade Atlântica, Loja da Grande Loge Nationale Française que reúne em Neuilly-Bineau e em que se integram imigrantes portugueses em França, lusodescendentes e franceses com interesse e carinho pela Língua Portuguesa, e a Rigor, Loja da GLLP/GLRP que reúne ao Oriente de Bragança.

Os nossos Irmãos gémeos da Loja Fraternidade Atlântica programaram uma visita a Portugal nos primeiros dias de Junho e tinham-nos informado que tencionavam visitar um pouco do Norte do País. Pois bem, juntou-se o útil ao agradável e a fome com a vontade de comer e preparou-se uma sessão em Bragança da Loja Rigor, com a visita dos Irmãos viajantes da Loja Fraternidade Atlântica e uma delegação da Loja Mestre Affonso Domingues. Em suma, uma reunião com a presença dos obreiros das três Lojas, unidas por duas geminações. Assim a modos que um esquadro, em que o vértice do ângulo recto é ocupado pela Loja Mestre Affonso Domingues, um dos braços pela Loja Fraternidade Atlântica e o outro pela Loja Rigor.

Antes dessa sessão, que teve lugar na passada sexta-feira, os Irmãos da Fraternidade Atlântica tinham já efectuado um passeio fluvial pelo rio Douro, do Porto até ao Pocinho. E, no dia seguinte, os nossos Irmãos da Loja Rigor organizaram e proporcionaram-lhes, como já anteriormente tinham feito aos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, um outro passeio fluvial, agora num belo, agreste e felizmente preservado trecho do Douro Internacional, na zona fronteiriça.

A sessão foi, obviamente, dirigida pelo Venerável Mestre da Loja anfitriã, a Rigor, Irmão Jorge C., que recebeu no Oriente os Veneráveis Mestres das Lojas Fraternidade Atlântica, Irmão François B., e Mestre Affonso Domingues, Irmão JPSetúbal.

Após o passeio no Douro Internacional e agradável almoço numa quinta da região, os Irmãos da Fraternidade Atlântica viajaram para Lisboa, onde pernoitaram e eram aguardados pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues.

Foi já sob organização da Loja Mestre Affonso Domingues que os obreiros da Fraternidade Atlântica e suas famílias participaram num passeio pela Baixa Pombalina, guiado pelo antigo Venerável da Loja Mestre Affonso Domingues, Victor E. C., o qual esclareceu as circunstâncias e a forma como decorreu a reconstrução da cidade de Lisboa após o tríplice cataclismo de 1 de Novembro de 1755 (terramoto, maremoto e incêndio), que arrasou quase por completo a Lisboa medieval. Durante o passeio, Victor E. C., para além de ter partilhado a sua profunda erudição com todos os presentes, chamou a atenção para alguns detalhes existentes naquela zona da cidade, com interesse para os maçons.

Seguidamente, efectuou-se uma visita a uma exposição de objectos e artefactos maçónicos, pertencentes à Loja Mestre Affonso Domingues e a alguns dos seus obreiros, após o que foi tempo de ir reconfortar o estômago, num almoço de convívio em que tivemos o gosto da presença do nosso Muito amigo e Respeitável Grão-Mestre, Mário Martin Guia.

Maçonaria é ritual, mas não é só ritual. Maçonaria é estudo de símbolos, mas é mais do que isso. Maçonaria é também, e indissociavelmente, fraternidade e convívio fraternal. Que possibilita o convívio de gente, não fora a Maçonaria, desconhecida entre si, que vive e labuta em regiões tão díspares e distantes como a região de Paris, Bragança e Lisboa.

Um fim de semana alargado de convívio, boa disposição, fraternidade, cultura.

Os nossos Irmãos da Fraternidade Atlântica regressaram hoje a França. Esperamos que, parafraseando antigo e significativo brinde que os maçons costumam efectuar, tenham um bom regresso a suas casas, se for esse o seu desejo.

Rui Bandeira

06 junho 2008

SER e TER

O episódio de Diógenes e Alexandre é conhecido. Relembremo-lo.

Diógenes, filósofo grego que chegou a ser professor de Alexandre da Macedónia, questionando os costumes do seu tempo e a necessidade da posse de bens materiais, a certa altura começou a levar uma vida totalmente desprendida, ao ponto de morar dentro de um barril e ter como seu único bem pessoal uma vasilha com água. Mesmo essa, acabou por a deitar fora, depois de se aperceber que lhe bastava juntar as duas mãos e recolher a água de qualquer nascente ou curso de água, para a beber ou se lavar.

Quando Alexandre invadiu a Grécia, fez questão de visitar o seu antigo professor. Encontrou-o sentado ao sol, entregue aos seus pensamentos. Disse-lhe:


- Diógenes, como sabe conquistei a Grécia, que agora faz parte do meu Império. Como foi meu professor e sempre o admirei, quero recompensá-lo. Que deseja?

Diógenes manteve o silêncio, meditando. Alexandre e todos os que o acompanhavam aguardavam, expectantes e curiosos, a resposta que o filósofo daria, o pedido que faria.

Então Diógenes respondeu ao poderoso Alexandre:

A única coisa que neste momento me faz falta, aquilo que te peço, Alexandre, é que saias da frente do Sol, pois a tua sombra impede que os seus raios me aqueçam!


Alexandre, magnífico Imperador, grande conquistador, líder de numeroso e forte exército era, na época, o homem que praticamente tudo tinha, quase tudo podia. Era o homem mais rico, mais poderoso, mais temido, que de mais podia pôr e dispor naquele tempo e naquelas paragens. Tinha.

Diógenes nada tinha de seu, excepto o barril onde se acolhia e o que a Natureza lhe proporcionava. Mas era sabedor e respeitado e vivia sereno e feliz. Não pelo que tinha. Pelo que era.

A frugalidade de Diógenes era exagerada. Mas correspondia às suas necessidades. E ele nada mais queria do que isso.
Para ele, o importante era o que ele era, não o que ele tinha. Para ele, os outros - todos, até o rico e poderoso Alexandre - valiam pelo que efectivamente eram, não pelo que tinham. No momento em que respondeu a Alexandre, para ele, Diógenes, o Imperador era apenas alguém que lhe tapava o Sol. Nada mais, pese embora toda a sua riqueza e todo o seu poder.

Nos dias de hoje, quantas vezes nós, embrenhados no afã de nossas vidas ocupadas, não discernimos, nem sequer nisso pensamos, se o que já temos não será suficiente para a nossa vida. E continuamos preocupados em TER. Ter isto, comprar aquilo, obter aqueloutro bem.

E, se não tivermos cuidado, o tempo passa e, um dia, damo-nos conta de que nos esfalfámos a trabalhar, nos esgotámos de esforço, para ter uma coisa e logo outra e seguidamente uma outra, numa infindável sucessão, e, entretanto, nos esquecemos do essencial, do que realmente é importante: de viver e de sermos felizes!

E, se bem virmos, para sermos felizes, não precisamos de tanto TER. Podemos e devemos dar-nos conta que o mais importante na vida é SER. Ser, simplesmente ser, objectivo tão simples e, se calhar por isso, tão esquecido, mas que tantas vezes nem sequer é difícil de atingir, de realizar.

Deixemos de buscar TER. Preocupemo-nos em SER. Ser feliz. Ser amado. Ser... gente!

Quem o fizer, não demorará muito a perceber que, afinal, quando se É é-se muito mais feliz do que quando apenas se TEM.

E, no entanto, muitas vezes o TER, tem-se logo, enquanto porventura se leva uma vida inteira para se conseguir SER. Mas, enquanto que o que temos pode ser perdido súbita e inesperadamente - um acidente, uma catástrofe, um azar, uma má decisão, tudo isso e muito mais pode levar-nos o que temos -, o que somos nunca se acaba nem se perde!

O SER, uma vez conseguido, é perene. O TER é passageiro - e, mesmo que dure muito, não nos traz necessariamente felicidade.

Tentemos, pois, SER e preocupar-nos menos com o TER. Se calhar, assim descobrimos que o caminho para se ser feliz é muito mais curto e acessível do que julgávamos!

Rui Bandeira

05 junho 2008

Exposições de Maria de Freitas

A artista plástica Maria de Freitas, cuja boa disposição alguns dos elementos da Loja Mestre Affonso Domingues conhecem, anda atarefadíssima. Inaugura duas exposições este mês!

Inaugurada hoje, permanece em exibição até 5 de Julho uma instalação / exposição de retratos a carvão da sua autoria, na Livraria Ler Devagar, a qual está integrada no espaço cultural denominado Fábrica de Braço de Prata, sito na Rua da Fábrica do Material de Guerra, nº1, (em frente aos Correios do Poço do Bispo), em Lisboa.

No dia 21 de Junho, pelas 17 horas, Maria de Freitas inaugura uma exposição de pintura e desenho no Centro de Arte Contemporânea da Amadora, sito na rua Beatriz Costa, n.º 18, r/c, na Amadora, que estará patente ao público até 15 de Julho, de segunda a sexta-feira das 10 às 12,30 e das 14 às 18 horas e ainda no sábado, dia 5 de Julho, das 14 às 18 horas.

Maria de Freitas é uma pintora, desenhadora, criadora de azulejos, etc., com uma obra variada em que é possível reconhecer um interesse pelo feminino e pelo felino. Prova-o, designadamente, o conteúdo do blogue Arte & Maria Freitas, um dos dois blogues que a artista mantém para divulgação dos seus trabalhos - o outro é o blogue Desenhos de Maria de Freitas, com o sugestivo subtítulo Mulheres de papel em carvão e pastel.

Vale a pena ir visitar estas duas exposições!

Rui Bandeira

04 junho 2008

Ano 2 - balanço

Este é o primeiro texto do terceiro ano deste blogue. Parece-me adequado que, a exemplo do que fiz no primeiro aniversário, seja um texto de balanço do segundo ano do blogue, desde o dia 4 de Junho de 2007 a 3 de Junho de 2008.

365 dias passados, publicámos 270 textos. Desses, 171 (63 %; o ano anterior tinham sido 51 %) foram publicados por Rui Bandeira, 46 (17 %; o ano anterior tinham sido 25 %) por José Ruah, 53 (20 %, contra 22 % do ano anterior) por JPSetúbal, 1 por A. M. L: e 1 por Templuum Petrus.

O mês em que Rui Bandeira publicou mais textos foi o de Abril de 2008 (19) e aquele em que menos publicou foi em Agosto de 2006 (0). Quanto a José Ruah, teve o seu pico de produção em Agosto de 2007 (20 textos) e esteve falho de inspiração em Dezembro de 2007 e Fevereiro, Março e Abril de 2008 (nenhum texto em cada um desses meses). Finalmente, JPSetúbal teve a pena mais ocupada em Outubro e em Dezembro de 2007 (7 textos em cada um desses meses) e deu-lhe mais descanso em Junho, Agosto e Setembro de 2007 e Abril de 2008 (3 textos em cada um desses meses).

O mês em que foram publicados mais textos foi o de Julho de 2007 (27); aqueles em que menos textos foram publicados foram Dezembro de 2007 e Março de 2008 (19 em cada).

155 dos textos publicados receberam comentários (55 % do total - mais do que os 45 % do ano anterior). Até ao momento em que escrevo este texto, o texto que mais comentários mereceu foi o de 12 de Fevereiro intitulado "Do um" (12 comentários).

Até ao final do dia de ontem, recebemos 79.519 visitas, pelo que, descontando as 26.773 visitas recebidas no primeiro ano, registámos neste segundo ano de publicação do blogue, o interessante número de 52.746 visitas - quase o dobro do número referente ao ano anterior! -, com a particularidade de, tal como já sucedera nesse primeiro ano, o seu número ter aumentado a partir do mês de Março, no qual ultrapassámos, pela primeira vez, o marco das 5.000 visitas mensais, atingindo-se, até agora, o pico no mês de Maio (5.482).

No segundo ano do blogue, 67 % das visitas chegaram do Brasil. De Portugal registámos 26 % do total. 4 % das visitas foram oriundas dos Estados Unidos. Os restantes 3 % distribuíram-se pelos restantes países de onde recebemos visitas. O top -25 completa-se, por ordem descendente do número destas, com França, Suíça, Itália, Áustria (entrada directa para o 7.º lugar!), México, Bélgica, Argentina, Japão, Alemanha, Moçambique, Canadá, Holanda, Espanha, Polónia (outra entrada directa no top-25, certamente devido às visitas de um antigo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues que ali trabalha - um abraço sentido para ti, meu Irmão!), Uruguai, Chile, Austrália, Grécia (outra entrada no top-25), Luxemburgo, Grã-Bretanha, Chipre (quarta e última entrada no top-25) e Hungria. Saíram do grupo dos 25 países de onde recebemos mais visitas Angola, Colômbia, Peru e Roménia.

Os três textos directamente mais vezes acedidos continuam a ser O sítio das tatuagens maçónicas , Cinco motivos para NÃO SER maçon e Simon Bolívar, Revolucionário e Maçon .

Os três marcadores mais consultados foram maçonaria, Acácia e curiosidades.

As três palavras-chave que mais visitantes trouxeram ao blogue foram "partir pedra", "imagens de tatuagens" e "gomes freire de andrade".

Estes dados continuam a ser muito agradáveis. A todos os que nos lêem o nosso Bem Hajam. Procuraremos, no terceiro ano do blogue, continuar a merecer o vosso interesse.

Rui Bandeira

03 junho 2008

Como entrar na Maçonaria

Este é um tema recorrente nas mais variadas discussões internas.

as hipoteses são essencialmente duas:

Por autoproposta

Por escolha e proposta de Irmãos.

Antes de continuar ( aliás estou hoje com pouco tempo) gostaria de ter comentários com opiniões. Uma especie de sondagem.

Com base nos comentários ( assim os haja) e nas minhas pesquisas, continuarei o tema em post futuro

José Ruah

30 maio 2008

Galileu e o tempo

Do muito material que me vai chegando, seleccionei para hoje uma pequeníssima historieta, de autor desconhecido, que atribui a Galileu uma sábia resposta, que nos ajuda a perspectivar o sentido da vida e da nossa forma de por ela passar.

Em certa ocasião alguém perguntou a Galileu:

- Quantos anos tens?


- Oito ou dez. - respondeu Galileu, em evidente contradição com as suas barbas brancas.


E logo explicou:

- Tenho, na verdade, os anos que me restam de vida
, porque os já vividos já os não tenho, como já não temos as moedas que já gastámos.

Crescemos em sabedoria se valorizarmos o tempo como nesta historieta alegadamente faz Galileu. Quantas vezes exclamamos, espantados: - Como o tempo passa! Mas, na realidade, não é o tempo que passa por nós, somos nós que por ele passamos!

Somos peregrinos e é bom pensar na meta que nos espera... A certeza de que o nosso caminhar terreno tem um final é o melhor meio para valorizarmos mais cada minuto que percorremos.

Mas essa certeza também nos deve motivar para aproveitarmos bem o que realmente temos: o presente!

Aprendamos a viver cada dia como se fosse o último: o ontem já se foi e o amanhã ainda não chegou.

Portanto, não nos deixemos tolher pelos fracassos, desgostos ou insuficiências do passado. Tal como é estulto repousar sobre os êxitos, as alegrias ou os louros de que porventura alguma vez desfrutámos. O que devemos fazer é dar o melhor de nós AGORA.

Também de muito pouco nos vale sonhar com grandezas ou desafogos futuros, como forma de ultrapassar as nossas limitações de hoje. É HOJE, AQUI E AGORA que vivemos. Preparemos o nosso futuro, mas vivamos o presente. É do nosso trabalho de agora, da nossa relação de agora com aqueles que nos são queridos, do aproveitamento que hoje soubermos fazer dos momentos de lazer que também merecemos e que certamente hoje também teremos, do tempo para aprender, para reflectir, em suma do que VIVERMOS hoje que resultará o nosso futuro.

Mas lembremo-nos sempre que há algo que (felizmente!) todos ignoramos: a duração do futuro de que ainda dispomos. Algum dia será o nosso último. E não sabemos qual. Não percamos o nosso presente a troco de um possível futuro que não sabemos se e em que medida teremos. Mas também não hipotequemos o futuro que tivermos por esbanjarmos sem préstimo o presente de que dispomos...

Como em tudo na vida, o segredo é o equilíbrio: aprender com o passado, mas não deixar que o passado nos tolha, para melhor vivermos o presente; não deixar de preparar o futuro de que ainda dispusermos, porque não sabemos de quanto vamos dispor, mas sem sacrificar ao hipotético futuro o presente, porque não sabemos se o vamos ter e em que medida o vamos ter.

A vida é para ser vivida e aproveitada, não desperdiçada. Momento a momento. Recordando, aprendendo e aproveitando os momentos já passados e preparando os que ainda não vivemos. Mas sempre vivendo e aproveitando e desfrutando e tornando úteis todos e cada um dos momentos que para nós são o presente.

Bom fim de semana!

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Segunda-feira vou a Bragança defender um inocente (aqueles que eu defendo são sempre inocentes! E quando algum é condenado, trata-se de um monstruoso erro judiciário!). Não sei se regresso a Lisboa ainda a tempo de publicar aqui um texto. Logo se verá!

Rui Bandeira

29 maio 2008

Inês: balanço (actualização)

Recebi ontem a informação, dada pelo Tesoureiro da Loja Mestre Affonso Domingues, que ocorreram na conta indicada para receber os donativos destinados à Inês, mais dois depósitos, um efectuado por uma senhora e outro por um cavalheiro.

As boas almas que efectuaram estes donativos optaram pela máxima discrição, nem sequer informando a efectivação do seu acto de solidariedade para o endereço de correio electrónico disponibilizado para o efeito. Isso impede-me de lhes agradecer directa e pessoalmente.

Deixo aqui, pois, o meu muito emocionado agradecimento. Bem-hajam!

Através do apelo efectuado neste blogue, recolheu-se 370,00 euros, quantia que, conjuntamente com a decorrente dos donativos expressamente recolhidos para o efeito no seio da Loja Mestre Affonso Domingues, vai agora ser entregue à família da Inês.

Hoje, acho que o tempo está menos chuvoso e que o Sol brilha um pouco mais! Porventura será impressão minha...

Rui Bandeira

28 maio 2008

Orador


Nos Ritos de York e de Emulação existe um ofício, designado por Capelão, cuja função é dirigir a Loja na invocação do Grande Arquitecto do Universo, em oração colectiva que realça a espiritualidade da Maçonaria e reforça os laços entre os seus membros.

No Rito Escocês Antigo e Aceite, o ofício de Orador é aquele cujo titular pode exercer a mesma função, mas que vai muito mais para além dela. O Orador não se limita à invocação do Grande Arquitecto do Universo. Aliás, em bom rigor, nem sequer é esse o principal escopo deste ofício. O Orador é o oficial da Loja encarregue de tirar as conclusões de qualquer debate. A discussão de qualquer assunto é levada a cabo segundo regras destinadas a permitir um debate sério, sereno e esclarecedor, em que cada um expõe a sua ideia e os motivos dela, mais do que rebater as ideias expressas pelos demais. Em reunião de Loja, procura-se que todos os membros se expressem pela positiva, isto é, afirmem as suas ideias, não pela negativa, limitando-se a criticar as opções dos demais. A forma como decorre o debate numa Loja maçónica já a mencionei no texto Decidir em Loja. E já aí referi que "No final, um oficial da Loja, o Orador, extrai as conclusões do debate, isto é, resume as posições expostas, os argumentos apresentados, podendo ou não opinar sobre se existiu consenso ou sobre a decisão que aconselha seja tomada.

A função do Orador, porém, vai muito mais longe do que a sua intervenção para tirar as conclusões do debate. O Orador é, no clássico esquema da separação de poderes que Montesquieu nos legou, o representante do Poder Judicial na Loja. É ele que deve especialmente zelar e velar pelo estrito cumprimento dos Landmarks, usos e costumes maçónicos e pelo cumprimento das normas regulamentares, seja emanadas da Grande Loja, seja da Loja. É a ele que cabe advertir os demais quando se lhe afigure que quaisquer destas normas está a ser incumprida ou em vias disso, em ordem a prevenir a indesejada violação. É a ele que, havendo infracção suficientemente grave para justificar punição, cabe instruir o respectivo processo. É o Orador o único Oficial da Loja que tem a prerrogativa de poder interromper o Venerável Mestre, que à sua opinião se deve submeter, quando emitida em relação à aplicação ou interpretação de normas maçónicas.

O Orador da Loja zela e vela, em resumo, pela Regularidade da prática maçónica da Loja e de todos os seus obreiros. É, por isso, um ofício particularmente importante, que deve ser exercido por um maçon experiente, se possível um antigo Venerável Mestre. Mas, reconhecendo-se embora a importância deste ofício, deve-se ter presente que o seu titular não deve interferir na gestão da Loja. Tal compete especificamente às Luzes da Loja e, em particular, ao seu Venerável Mestre. Daí o paralelo que acima efectuei com a doutrina da separação de poderes. Daí a conveniência de o ofício ser exercido por mão e mente experientes. Ao Orador cabe prevenir infracções e excessos de poder. Deve, por isso,saber reconhecer perfeitamente os limites da sua própria função, sem, no entanto, deixar de exercê-la. Como em tudo o mais em Maçonaria, equilíbrio é a palavra chave...

Rui Bandeira

27 maio 2008

A sementeira deste ano


Na Loja Mestre Affonso Domingues, temos por hábito, sempre que os trabalhos decorrem nos segundo ou terceiro grau e, portanto, os Irmãos de grau inferior têm de se ausentar da sala onde decorre a reunião, aproveitar esse tempo para providenciar a esses Irmãos uma sessão de instrução. A instrução dos Aprendizes é da responsabilidade do 2.º Vigilante e a dos Companheiros da do 1.º Vigilante. Mas obviamente que, nestas circunstâncias, estando em simultâneo uma reunião da Loja a decorrer, quer um, quer outro, têm de assegurar o exercício das respectivas funções, pelo que o Venerável Mestre designa um Mestre da Loja para sair da sala juntamente com os Aprendizes e assegurar essa sessão de instrução e, se for caso disso, um outro para acompanhar e instruir os Companheiros.

Numa das últimas sessões, estava agendada a passagem dos trabalhos ao grau de Companheiro, para que um Irmão dessa Oficina apresentasse a sua prancha de proficiência.

Eu já conhecia essa prancha, pois o Venerável Mestre tinha-me facultado antes da sessão a sua leitura, para que eu pudesse dar-lhe um parecer sobre determinada questão que a mesma levantava. Voluntariei-me, assim, para assegurar a sessão de instrução aos Aprendizes presentes.

Estavam presentes três Aprendizes, dois dos quais tinham sido iniciados na sessão anterior e o outro não muito mais antigo. De um dos recém-iniciados fui um dos padrinhos, isto é, um dos que avalizaram a sua candidatura e, assim, deve considerar-se directamente responsável pela sua boa integração no grupo.

A meia hora, quarenta minutos durante a qual a Loja trabalhou no grau de Companheiro e, noutra sala, nos dedicámos, eu e os três Aprendizes, à instrução do grau, passou sem darmos por isso! Rapidamente o diálogo se estabeleceu, as ideias fluíram, as análises surgiram, o trabalho rendeu! Deu para ver que estava perante um grupo de Aprendizes de alta qualidade e capacidade.

Penso que não me engano e a Loja tem este ano uma sementeira que vai dar uma colheita vintage”...

E eu, todo babado, apetece-me logo vir aqui anunciá-lo!

Rui Bandeira

26 maio 2008

Oficios da Loja

O Rui é como já o disse frequentemente um excelente causidico, e como tal apresenta sempre uma colecção de argumentos vasta e que sirvam os interesses da tese que está a defender.

Não temos, no que respeita a algumas particularidades , a mesma opinião. Não era sequer saudavel que tivessemos.

Temos sim os mesmos propósitos finais. Propósitos estes que estão, em linhas gerais, ligados à gestão sem sobressaltos da Loja e da sua continuidade. Continuidade numa linha de trabalho que vem a ser criada desde há muitos anos e que pensamos ser a correcta.

Gestão sem sobressaltos, porque mesmo se todos os assuntos devem ser debatidos, devem também ser burilados, ver mesmo bem lapidados, antes de aparecerem a debate. Não com a intençao de manipular ou de esconder, mas com o propósito de consolidar a Loja.

No caso vertente dos cargos de Loja, temos as nossas divergencias e elas assentam neste momento sobre os cargos do Experto e do Hospitaleiro.

Vejamos o Experto.

No seu ultimo texto Rui Bandeira cita o meu trabalho mas só nas partes que lhe convém. Nesse mesmo "escrito" está o seguinte paragrafo:

"Quanto ao Experto e ao Orador cargos fundamentais, deveriam ser a sequência lógica após o Guarda Interno, num novo percurso de Ocidente a Oriente, para finalmente terminar nas colunas.
E se este percurso não for seguido porque pode haver indisponibilidade falta de tempo, ou compromisso, pelo menos que o Orador seja um antigo Venerável pois os anos de trabalho permitirão que seja o repositório da experiência acumulada."

Ora com este paragrafo e com a referencia a " pelo menos o Orador" fica aberta a alternativa a que um Mestre mais jovem seja chamado a desempenhar este Oficio.
Ou seja, se no caso do Orador, e aqui o Rui também concorda comigo, o desempenho por um Antigo Veneravel é fundamental, já o Experto sendo aconselhavel não é taxativo.

Já quanto ao Hospitaleiro a coisa diverge. O facto de este ano o actual Veneravel Mestre ter escolhido um Antigo Veneravel para este Oficio, fê-lo em meu entender nao pela antiguidade da pessoa, mas pela pessoa em si.

Admito que a qualificaçao ritual obtida pelo desempenho de Hospitaleiro não é elevada e consequentemente admito que para este caso se pode considerar outras alternativas, mas elas não têm a ver com o facto de ser Antigo Veneravel ou não como o Rui nos seu texto ( aqui ). A minha evoluçao quanto a este cargo passa para outro nivel.

O do caracter, mentalidade, predisposiçao, capacidade e outros atributos intrinsecos ao Mestre como Pessoa. O Hospitaleiro precisa de ter isto tudo para poder desempenhar correctamente o seu cargo.

Ora como podemos ver no que respeita ao Experto a minha tese, mais abrangente que a do Rui engloba por consequencia a dele.

Já quanto ao Hospitaleiro a minha opinião mudou mas não no sentido que o Rui pensa, mas também para um nivel de abstraçao superior fazendo assim entrar mais factores na equação.

Fora isso na generalidade estamos de acordo.

Quanto ao Mestre da Harmonia de facto a experiencia tem dito que se trata de cargos tendencialmente vitalicios. Alexis B. o actual titular, e que o seja por muitos mais anos, tomou posse em 1996 no meu Veneralato e nestes 12 anos tem-nos deliciado com a sua Mestria.

Se no futuro, e chegada a hora de o substituir, a Loja ou melhor o Veneravel da altura quiserem que assuma o cargo, fá-lo-ei como sempre fiz.

José Ruah