09 abril 2008

Tronco da Viúva

No texto Pela Inês!, mencionei que várias Lojas maçónicas da GLLP/GLRP vão recorrer aos seus Troncos da Viúva para auxiliar nas despesas com a viagem e transplante da menina.

Pelo menos na Europa Continental, todas as Lojas maçónicas têm um Tronco da Viúva. O Tronco da Viúva não é mais do que um fundo de reserva de meios monetários destinado a acorrer a situações de necessidade de maçons, de viúvas e filhos menores de maçons já falecidos e, de forma geral, a acções de beneficência.

Os fundos do Tronco da Viúva são exclusivamente obtidos mediante donativos dos obreiros da Loja e seus visitantes ou mediante acções de angariação de fundos a ele destinados - leilões, iniciativas sociais, etc..

Os fundos do Tronco da Viúva, tal como os demais valores da Loja, ficam à guarda do Tesoureiro desta. Mas são separadamente contabilizados dos demais recursos da Loja e só podem ser usados para os referidos fins de auxílio ou beneficência. Os fundos do Tronco da Viúva só podem ser utilizados por decisão do Venerável Mestre ou do Hospitaleiro, Oficiais da Loja em que esta delega o encargo de bem analisar as situações que justifiquem a mobilização desses fundos. Pelo menos anualmente, o Hospitaleiro deve apresentar um sucinto relatório sobre a situação do Tronco da Viúva e a aplicação dos seus fundos.

Em algumas Lojas, pode também existir uma Comissão de Beneficência, encarregada de estudar as acções da Loja neste campo. No Regulamento Interno da Loja Mestre Affonso Domingues está prevista a existência de uma Comissão de Beneficência, constituída pelo Venerável Mestre, pelo 2.º Vigilante e pelo Hospitaleiro. Na prática, porém, a sua activação não tem sido necessária, pois a tradição da Loja de discutir abertamente em sessão de Loja todos os assuntos que a esta dizem respeito possibilita que todas as decisões importantes, neste como noutros campos, seja colectivamente apreciada perante o Venerável Mestre, em ordem a permitir-lhe a mais consensual decisão (ver o texto Decidir em Loja). No entanto, se entre sessões, o Venerável Mestre necessitar de tomar uma decisão urgente sobre assuntos de solidariedade, sabe quem deve, em primeira instância, consultar: o 2.º Vigilante e o Hospitaleiro, que consigo formam a Comissão de Beneficência. A estrutura existe, está prevista, só é accionada se e quando necessário. Felizmente não tem havido situações de urgência que impusessem uma decisão antes de debate em Loja, mas, se e quando houver, já se sabe como proceder.

A designação de Tronco da Viúva tem a ver com a lenda da construção do Templo de Salomão, que foi dirigida por um arquitecto, de nome Hiram Abiff, que, na Bíblia, é referenciado como filho de uma viúva de Tiro. Hiram Abiff é, desde tempos imemoriais, o protagonista de uma alegoria que constitui o cerne da moralidade maçónica, a tal ponto que os maçons, nele se revendo, designam-se a si próprios por Filhos da Viúva. Alegoricamente, nos tempos modernos, a Viúva será a Maçonaria, em especial na sua vertente de solidariedade e beneficência. O Tronco da Viúva é, pois, um dos alicerces da Maçonaria, o reservatório dos bens que lhe possibilitam despender fundos em acções de solidariedade e beneficência. É alimentado pelos seus filhos, os Filhos da Viúva, os maçons.

Externamente, e em cumprimento do comando da moral maçónica de que as acções de beneficência devem ser praticadas discretamente, um maçon ou uma Loja Maçónica nunca revelam ou comentam ou divulgam quanto foi dado para esta ou aquela acção, com quanto se contribuiu para aliviar a necessidade desta ou daquela pessoa. Isso é matéria que só interessa a quem disponibiliza a ajuda e a quem a recebe. A regra é simples e não tem de ser mais específica: em cada momento, deve dar-se o que se pode e seja preciso. Nem menos, nem mais.

A Loja Mestre Affonso Domingues procura manter, se possível, uma reserva mínima para poder acorrer a uma urgente necessidade de um Irmão, de uma viúva ou de um filho menor de um maçon falecido. Mas também nunca tem grande entesouramento no seu Tronco da Viúva. Não faz sentido guardar de mais, deixando necessidades que se podem aliviar sem alívio... Enfim, o Tronco da Viúva da Loja Mestre Affonso Domingues está sempre em equilíbrio instável... Nem demasiado leve (excepto quando tal for necessário), nem demasiado pesado. E é assim que o queremos!

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1. Já chegaram os primeiros donativos para a Inês! Amigo leitor, não se esqueça, colabore também no auxílio à Inês. Contribua com o que puder e quiser. No texto Pela Inês pode ver como o fazer.

2. E é favor anotar na agenda, a letras BEM GRANDES: SÁBADO DE MANHÃ: IR DAR SANGUE NA ESCOLA MELLO FALCÃO DA PONTINHA (quem está longe, pode ir dar sangue ao centro de recolha do Instituto do Sangue mais próximo; lá também aceitam...)

Rui Bandeira

08 abril 2008

Pela Inês!

A Inês sofre de uma doença genética rara, doença de Wilson, que afecta o fígado, resultando em que este órgão não elimine o excesso de cobre introduzido no organismo através dos alimentos. O cobre não eliminado acumula-se e espalha-se no organismo, originando um lento envenenamento.

A Inês suporta este calvário há doze anos. Neste momento, o cobre acumulado afecta já o cérebro desta criança, provocando-lhe várias paralisias. Após muitas consultas em hospitais de Lisboa, Coimbra e Porto, após muitas sessões de fisioterapia, terapia ocupacional e terapia da fala, tudo buscando minimizar, na medida do possível, os terríveis efeitos deste implacável envenenamento, surgiu a hipótese de um transplante de fígado.

A família da Inês conseguiu a marcação deste transplante, mas em Cuba, país onde se deslocará a Inês, em princípios de Junho, para se submeter à intervenção. Como é óbvio, as despesas envolvidas têm sido e vão ser muitas e pesadas. A família da Inês tem despendido tudo o que pode no seu tratamento. Mas agora precisa de auxílio financeiro urgente. Junho é já daqui a menos de dois meses, o dinheiro não chega, mas a oportunidade não pode, nem deve, ser desperdiçada.
A RL:. Luís de Camões, sediada na localidade onde mora a Inês, entendeu associar-se a esta campanha de solidariedade. Claro que os maçons, conhecendo este caso e a situação de necessidade em que se encontra a Inês, vão cumprir o seu dever de solidariedade e auxiliar, na medida das suas possibilidades. A Respeitável Loja Luís de Camões vai recorrer ao seu Tronco da Viúva para contribuir com o que pode para as despesas do tratamento da Inês. A Loja Mestre Affonso Domingues vai recorrer ao seu Tronco da Viúva para juntar a sua disponibilidade. Outras Lojas vão recorrer aos seus respectivos Troncos da Viúva e juntar também meios para o mesmo fim. Mas, infelizmente, ainda não chega! As despesas são grandes e nem mesmo os fundos guardados para acorrer a situações de necessidade, mesmo postos em conjunto, chegam para as assegurar.

Mas a Inês não vai ficar sem o seu indispensável tratamento, sem efectuar o imprescindível transplante! Decidi, pois, procurar alargar a cadeia de solidariedade. Nós, maçons, procuramos ajudar, discretamente, quem precisa. Mas também não temos receio nem vergonha de gritar por ajuda, quando tal é necessário. Pela Inês, agora é!

Deixo, pois, aqui um apelo ao donativo de fundos para ajudar a financiar as despesas com o transplante da Inês. Nenhuma quantia é demasiado pequena. Nenhuma boa-vontade é supérflua. Muitos poucos fazem muito e hão-de fazer o necessário.

Quem quiser e puder efectuar um donativo, por favor efectue uma transferência ou um depósito na conta do Banco Best com o NIB 0065 0921 00043890008 19, com a indicação INÊS e envie uma mensagem de correio electrónico para mestreaffonsodomingues@gmail.com confirmando esse facto. Para quem, estando fora de Portugal, quiser efectuar um donativo, pode fazê-lo mediante transferência para essa conta , indicando o IBAN (International Bank Account Number) PT50006509210004389000819. O código SWIFT / BIC do Banco Best é BESZPTPL.

Os fundos recebidos serão na totalidade entregues aos pais da Inês. Mediante o envio da mensagem de correio electrónico confirmativa do donativo, os doadores possibilitarão meio de contacto através do qual receberão confirmação da boa recepção das respectivas transferências, da entrega dos donativos aos pais da Inês e, oportunamente, informação sobre a efectivação do transplante e dos resultados (todos esperamos que positivos) para a Inês.

Caro leitor: normalmente o mais difícil não é ser solidário; é vencer a inércia. Por favor, vença-a. Ajude na medida em que puder e quiser. Pela Inês!

Os nossos amigos leitores que mantêm também blogues, se quiserem também aí divulgar este apelo, também ajudarão. Todas as ajudas são bem-vindas. Pela Inês!

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Entretanto, se puder, não se esqueça também de ir dar sangue no próximo sábado!

Rui Bandeira

07 abril 2008

DAR SANGUE, DAR VIDA ! Homenagear o Gr.19 dos Escoteiros da Pontinha e o casal Sousa Mendes.


É verdadeiramente o "muitos em um".

A Vossa presença homenageia, em simultâneo o nome do casal heroico, Angelina e Aristides de Sousa Mendes, o Gr.19 dos Escoteiros da Pontinha que estão em comemoração dos seus 40 anos, o nome de Mestre Affonso Domingues através da nossa respeitável Loja e dão uma ajuda preciosíssima a quem precisa de sangue.

Vejam bem quantos coelhos com uma cacetada apenas.

No Sábado, dia 12, muita gente espera por Si !

Meus Irmãos, meus Amigos, Companheiros destas e outras lides, ou apenas visitantes do A-PARTIR-PEDRA, apareçam no próximo Sábado na Pontinha, bem no centro da Freguesia.

A Escola Melo Falcão está a 50 metros da estação do Metro e colada a um parque de estacionamento com lugar para todos.

A Fraternidade faz-se, sentindo-a.
A Solidariedade faz-se, fazendo-a.

O exemplo extraordinário de Aristides de Sousa Mendes e sua Mulher merecem ser recordados da melhor maneira que é possível. E essa é seguir o seu exemplo de Solidariedade sem limites, de Fraternidade sem fronteiras.
Dia 12 a Vossa presença é indispensável, SIM !
Mesmo com chuva, vento e frio... há Gente a precisar de ajuda. Como podemos nós recusar ?



JPSetúbal



04 abril 2008

Estranha mulher

Recebi este texto por correio electrónico, enviado pelo PauloFR, já há alguns meses. É da autoria de Maria Ivone Corrêa Dias, membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás (Brasil) e a sua publicação aqui é uma homenagem que presto a quem teve tanta sensibilidade ao escrevê-lo:

Eu sei que ela existe (embora eu nunca a veja...), mulher estranha, de mãos imensas, semeando esmolas, misteriosamente, cercada de respeito, de lendas e de temor. As mãos dessa mulher têm forma de amor, mãos que ninam os berços da orfandade, mãos que põem luz na noite da viuvez, mãos que cortam o erro como espadas, mãos que abençoam, que denunciam crime e que trazem, no gesto que redime, toda a unção das próprias mãos de Deus.

Essa mulher tem a graça das Acácias, a ternura que consola a dor alheia, o bem que ela faz gravando só na areia, vem a onda e o leva ao seio do grande Artista que vela sobre o triste, o fraco e o oprimido.

Essa mulher, se escuta algum gemido, se pressente a dor, a injustiça, a queda, como o vento desloca-se, flecha ousada e firme na pressa de salvar, servir e se esconder.

Ela está de pé às portas da miséria...

Junto ao incapaz, ela é o braço potente, amparo ela o é ao lado do indigente, arrimo da velhice, luz da juventude, e ante a própria morte, aos pés do ataúde, essa mulher é esteio, é força e segurança.

Seus braços, quais colunas talhadas na rocha, já sacudiram tronos, muralhas e cidadelas, já libertaram escravos e enriqueceram os pobres, já ergueram nações sobre cinzas de impérios...

Ela já viu morrer os filhos em prol da liberdade, e, embora chorando sobre os seus tristes restos, seu braço ergueu, em sagrado protesto, a bandeira santa do amor universal.

De sua mesa farta, tal como em família, reparte ela o pão da graça feminina, sem humilhar aquele a quem sobrou pobreza, e sua mão direita, segundo o evangelho, jamais presenciou o que a esquerda fez.

A ordem do Senhor: "Amai-vos uns aos outros" à frente do seu Templo essa mulher gravou, e como irmãos se tratam milhões de filhos seus, homens predestinados, cidadãos benditos que não se envergonham - oh não - de crer em Deus.

Essa mulher estranha, sem jóias e sem fraqueza, essa mulher estranha, temida e venerada, mil vezes perseguida, vencendo com galhardia, é cidadã do Mundo, é a MAÇONARIA.

Quando eu for grande, gostava de conseguir escrever assim...

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Segunda-feira vou estar ausente e sem contacto com computadores, pelo que nada publico aqui. A partir de terça-feira, se nada vier a ocorrer em contrário, voltarei. Bom fim de semana!

Rui Bandeira

03 abril 2008

Um outro olhar - A Face Esotérica da Cultura Portuguesa

Terá lugar no próximo dia 8 de Abril, terça-feira, pelas 18,30 h, na Sala do Arquivo dos Paços do Conselho da Câmara Municipal de Lisboa (Praça do Município), a sessão de lançamento do novo livro de José Manuel Anes, Um outro olhar - A Face Esotérica da Cultura Portuguesa.

A apresentação da obra estará a cargo da Professora Doutora Helena Barbas, docente da Universidade Nova de Lisboa e crítica literária do semanário Expresso, e do Professor Doutor Paulo Pereira de Almeida, docente do ISCTE.

José Manuel Anes foi Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP entre 2001 e 2004 e é titular de um valoroso currículo profano, maçónico e bibliográfico, sendo um criminalista reconhecido, antropólogo das novas religiões e estudioso das antigas espiritualidades.

José Manuel Anes é um dos defensores do urgente resgate do imaginário adormecido em Portugal para reencontrar novos desígnios para este terceiro milénio. Na primeira pessoa, apresenta-nos esse seu «outro olhar», ao mesmo tempo que faz a ponte e aborda sem tabus temas actuais e polémicos. Um dos mais importantes é o papel de Portugal no contexto internacional, que deve ser, sobretudo, de mediação entre países, fomentando o diálogo e o entendimento. Talvez esteja aí algo da ideia do Quinto Império. Completa esta obra uma série de artigos do autor que, pela sua importância história para o tema, ali são compilados. (texto retirado da referência ao livro no sítio da sua editora, Ésquilo)

Para atiçar a curiosidade dos leitores do blogue, aqui fica um pequeníssimo excerto do livro:

«Imaginariamente, sou [um mago]. Todos somos, mesmo o humilde pastor da Serra da Estrela ou o analfabeto, todos somos magos. Acho que este imaginário é absolutamente indispensável. Nunca conseguiria ser apenas um químico


«[O objectivo da criação da alquimia] é o Homem sentir-se o criador do universo, ou pelo menos co-criador - e também criador de si próprio, como escreveu Pessoa.»


José Manuel Anes


Na mesma sessão, será também apresentada a 3.ª edição, revista e aumentada, de uma outra obra de José Manuel Anes, Fernando Pessoa e os Mundos Esotéricos. Sobre esta obra, escreveu, no seu prefácio, Paula Cristina Costa:

«José Manuel Anes oferece-nos um estudo detalhado e rigoroso, com toda a credibilidade científica que já lhe é conhecida, aliada à sua hábil – e rara! – neutralidade na exposição destas matérias. (...)

Através da leitura deste estudo de José Manuel Anes, sentimos reforçada a ideia de que a apetência por parte de Pessoa para as questões esotéricas – hermetismo, alquimia, cabala, misticismo, magia, gnosticismo, mediunismo, astrologia, maçonaria, templarismo, rosa-crucianismo, teosofia, etc. – não se desenvolve de todo como um mero pré-texto para a sua criação literária, i.e., uma mera apropriação de temas esotéricos para ilustrarem tematicamente a sua obra poética, mas muito pelo contrário, o recurso ao esoterismo parece ser o verdadeiro modo de ser, a verdadeira vivência da sua vida e da sua obra poética.»

No final da sessão será servido um Porto de Honra. E, ao longo de toda ela, José Manuel Anes, como é seu hábito, espalhará a sua contagiante simpatia. O que é mais uma excelente razão para ir à sessão de lançamento do novo livro e da nova edição.

Rui Bandeira

02 abril 2008

As pequenas iniciativas

Li na edição electrónica do jornal Diário da Serra, de Tangará da Serra, Mato Grosso, Brasil o seguinte apontamento, escrito pela jornalista Lucélia Andrade e publicado ontem:

A Loja Maçônica Estrela de Tangará em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar-MT), iniciou ontem um curso de processamento de carne de frango. O curso que está sendo realizado gratuitamente, na sede da maçonaria, terá a duração de cinco dias. Ele é voltado para diferentes profissionais que tem como propósito repassar o que aprenderem para demais pessoas. Segundo uma das responsáveis pela organização do curso, Lourdes Garcia Carvalho, a solicitação foi feita pela Maçonaria ao Senar, que aceitou o pedido e está ministrando todos os cuidados necessários para o preparo da ave. Durante o curso, as alunas irão aprender todo o processo de manuseio da ave, incluindo abate, cuidados com a higiene, cortes, desossagem, descongelamento, além de receitas. Hoje no período da manhã e tarde as alunas estarão iniciando o processo prático.

Este é um bom exemplo de integração da maçonaria com a comunidade. Mais: de prestação de serviço à comunidade, de serviço que esta precisa e que lhe é útil.

Este é um bom exemplo de que não é necessário - porventura, em muitos casos, nem sequer será conveniente... - imaginar grandes projectos, fabulosas organizações, paradigmáticas iniciativas, para uma Loja maçónica ser útil ao meio em que se insere. Os grandes projectos, as fabulosas organizações, as paradigmáticas iniciativas porventura captarão benevolentes aplausos e educados encómios. Mas quantas vezes não são apenas montras de vãs vaidades? Quantas vezes não servem mais o enchimento dos egos dos seus autores do que as comunidades a que supostamente se dirigem? E quantos grandiosos projectos, brilhantes organizações, fantásticas iniciativas não passam da imaginação dos seus autores, de conversas sem real significado, precisamente por serem demasiado grandes, demasiado caros, demasiado complexos, para as possibilidades de quem com eles sonha? E potencialmente preparam-se extraordinárias iniciativas, mas realmente faz-se... nada!

Ao contrário do que, por vezes, alguns parecem pensar, a verdadeira História não se faz de gestos heróicos e extraordinários. Faz-se com o labor diário, o esforço aplicado, de muitos desconhecidos, que efectivamente constroem, fabricam, criam. A História dos notáveis é apenas uma montra que distrai os que se limitam a olhar para as aparências da moda do momento e não vão verificar a efectiva qualidade dos artigos. Mas a Humanidade evolui, cresce, desenvolve-se, mediante milhares e milhões de pequenos gestos, milhares e milhões de anónimas contribuições, milhares e milhões de vivências e esforços diariamente assegurados.

A Maçonaria tem significado verdadeiro, não nos
confortáveis salões dos abastados deste mundo, mas no que pode acrescentar - a todos e a cada um, do mais rico ao mais pobre, do mais ilustrado ao analfabeto, do celebrado ao pária. A Maçonaria é um processo de aperfeiçoamento individual, mediante a integração num grupo, destinado a contribuir para o aperfeiçoamento da sociedade. E este ocorre, muitas vezes - talvez quase sempre... -, não por celebrados e alegadamente importantes actos, sob os holofotes das televisões e os elogios dos fazedores de opinião, mas em pequenos actos, singelos gestos, minúsculas contribuições que, pelos seus propósitos, pela repetição, pela adequação às pequenas necessidades (que, por serem pequenas e discretas, não devem deixar de ser satisfeitas) efectivamente existentes na sociedade, acabam por significar e valer muito mais do que os tais grandiosos, mediáticos, mas esporádicos, empreendimentos.

Não há grandes nem pequenas causas. Os esforços, as organizações, os projectos valem pela efectiva utilidade, pelas reais ajudas que proporcionam, não pelos brilhos das lantejoulas ou a perfeição dos fatos de cerimónia usados pelas ditas famosas e ditos famosos que "abrilhantam" com a sua presença langorosas iniciativas "sociais" de grande visibilidade, duvidosas intenções e reduzida utilidade.

Maçonaria é a Loja Estrela de Tangará co-organizar um curso de processamento de carne de frango, que será bem mais útil ao meio em que se insere e às pessoas que o frequentam do que mil brilhantes discursos em opulentas cerimónias. As minhas homenagens aos Irmãos da Respeitável Loja Estrela de Tangará pela iniciativa. Que a repitam. Que organizem outras, não importa quão simples, não interessa se modestas, desde que efectivamente úteis para o meio social em que se inserem. E que o exemplo destes Irmãos frutifique. Muitos poucos fazem muito. Se cada Loja maçónica efectuar uma - apenas uma! - iniciativa, modesta, mas útil para o meio em que se insere, por ano, teremos centenas de milhares de pequenos passos dados pela Humanidade em cada ano. E assim é que se avança. Um passo de cada vez. E assim é que se faz a diferença. Assim se é maçon!

Rui Bandeira

01 abril 2008

Registo

No passado sábado, dia 30 de Março, teve lugar a Assembleia de Grande Loja da GLLP/GLRP do equinócio da Primavera. Como habitualmente, esta Assembleia de Grande Loja foi dedicada essencialmente a trabalhos administrativos. Estando prevista uma revisão do Regulamento Geral e do Estatuto da Associação GLLP, a Assembleia foi precedida, na manhã desse dia, por uma reunião entre a Comissão encarregada da elaboração das respectivas propostas e os representantes das Lojas, destinada a debater as propostas apresentadas e a analisar as posições transmitidas pelas Lojas. Essa reunião foi bastante profícua, tendo permitido limar algumas arestas, aperfeiçoar as propostas de alteração e expurgá-las de soluções menos adequadas, tendo-se atingido soluções consensuais que permitiram, em Assembleia, a rápida aprovação das praticamente consensuais emendas.

Ao princípio da tarde, teve lugar o também habitual Conselho de Veneráveis Mestres, reunião de todos os Veneráveis Mestres de todas as Lojas da GLLP/GLRP com a equipa do Grão-Mestrado, destinada à análise da actuação das Lojas, informação, coordenação e planificação dos trabalhos para os próximos meses. Esta reunião, que ocorre, normalmente, com uma periodicidade trimestral, é sempre um excelente meio de contacto entre os responsáveis máximos em exercício nas Lojas e de estabelecimento de plataformas e projectos de colaboração.

Ainda antes da Assembleia de Grande Loja, reuniu a Assembleia da Associação GLLP, a associação de direito civil que corporiza a personalidade jurídica da Obediência, que tratou dos indispensáveis assuntos inerentes à vida de uma associação de direito privado: debate e votação das contas do ano transacto, debate e votação do orçamento e eleições dos titulares dos órgãos sociais. Enfim, profanidades, mas profanidades necessárias...

A Assembleia de Grande Loja procedeu então à formal aprovação das alterações ao Regulamento Geral, contas e Orçamento. Burocracias, mas não só, já que estes instrumentos são essenciais à normal vida da Obediência e neles se espelham escolhas importantes sobre os caminhos que a mesma trilhará no futuro próximo.

Mas tudo isto não é o verdadeiro objectivo deste texto. Esse apresenta-se em quatro parágrafos, já de seguida.

É normal que em todas as Assembleias de Grande Loja exista um período de intervenções "a bem da Ordem", isto é, um período destinado a intervenções sem sujeição a ordem de trabalhos definida. Tradicionalmente, esse período era aproveitado pelas Lojas para a apresentação de cumprimentos ao Grão-Mestre, aos Grandes Oficiais e às demais Lojas, em intervenções protocolares espelhando o sentimento de fraternidade que a todos une. No princípio e durante algum tempo, era um intervalo agradável nos trabalhos. Mas o número de Lojas foi crescendo. O que inicialmente era uma dúzia de breves apresentações de cumprimentos, que não consumiam mais de um quarto de hora, passou a ser um penoso e longo exercício de repetitivas intervenções de dezenas de Lojas. Havia que atalhar. A Maçonaria preza as suas tradições - e a afirmação e reafirmação dos sentimentos fraternais é indubitavelmente uma delas -, mas deve evoluir e promover mudanças sempre que necessário. E, em regra, as melhores soluções acabam por ser simples, ovos de Colombo à vista de toda a gente, mas ignorados até que alguém se lembra de para elas chamar a atenção.

Desde o início do mandato do actual Grão-Mestre que se optou por uma solução que, mantendo a afirmação da fraternidade, obviou à perda de tempo e à penosidade de sucessivas intervenções parecidas de dezenas de Lojas: em cada Assembleia de Grande Loja intervém, para a tradicional apresentação de cumprimentos e manifestação de regozijo pela presença e convívio de todos, apenas UMA loja, que assegura a dita intervenção em nomes de todas as Lojas presentes. A escolha da Loja que intervém é simples e feita de forma transparente: por ordem do respectivo número no cadastro da Grande Loja.

O ano passado houve quatro sessões da Assembleia de Grande Loja. A deste fim de semana foi a quinta sessão, desde que se inaugurou, com proveito, este sistema. A Loja Mestre Affonso Domingues é a Loja n.º 5 no cadastro da GLLP/GLRP. Logo, nesta Assembleia de Grande Loja, a intervenção para a protocolar apresentação de cumprimentos foi da responsabilidade da Loja Mestre Affonso Domingues e assegurada pelo seu actual Venerável Mestre, JPSetúbal.

Não se trata de nada particularmente especial. Mas não quis deixar de aqui registar este acto. Até porque, se a GLLP/GLRP mantiver, como todos esperamos, a sua saudável evolução e o seu paulatino crescimento, em número de obreiros e de Lojas, o mais certo é que idêntica situação não volte a ser assegurada pela Loja Mestre Affonso Domingues (basta que a média de criação anual de novas Lojas não seja inferior ao número de Assembleias de Grande Loja) ou, pelo menos, só volte a ser assegurada por ela daqui a muitos e muitos anos. E isso merece registo!

Rui Bandeira