17 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América" - 2

Afinal consegui ver o documentário. E gostei. É um documentário sério, bem feito e, sobretudo, com rigor factual. Com efeito, tanto quanto me pude aperceber, todos os factos ali mencionados são rigorosamente verdadeiros. Quanto à sua interpretação ou aos comentários em relação a eles produzidos, posso concordar ou discordar, achar que está certa ou errada, mas impõe-se reconhecer que a postura dos autores do documentário é equilibrada e sensata.

É certo que lá vieram à baila os símbolos maçónicos da nota de dólar e o projecto urbanístico de Washington e ainda o caso Morgan. Mas tudo isso veio a propósito, foi devidamente enquadrado e inserido num relato cronológico da instauração e evolução da Maçonaria em solo americano, feito com uma louvável objectividade jornalística.

Não lograram fugir à tentação de formular questões sensacionalistas e de verbalizar suspeitas sem fundamento? Não, não lograram. Mas o documentário é feito por quem está de fora da Maçonaria e para quem está de fora da Maçonaria. É natural que, por desconhecimento, tenham sido formuladas. É natural que quem está de fora se interrogue sobre o que realmente é a Maçonaria e sobre a razão da sua fama de secretismo. Se tal não nos agrada, somos nós, maçons, que temos de fazer alguma coisa em relação a isso, não quem está de fora e se interroga a nosso respeito.

É a nós, maçons, que cabe a tarefa de desmistificar a nossa fama de secretismo, elucidando sobre os nossos princípios, os nossos objectivos e sobre o nosso método. E também esclarecendo as razões porque não gostamos de divulgar as poucas coisas que não divulgamos. Há tempos, publiquei, aqui no A Partir Pedra, um texto em que, a propósito da Cerimónia de Iniciação, julgo ter esclarecido, de forma entendível por toda a gente, porque não divulgamos como é essa cerimónia. Qualquer pessoa de boa fé entende a lógica da razão apresentada e, assim, não alimenta suspeitas infundadas. Se assim nós, maçons, procedermos, se colocarmos à disposição do conhecimento público tudo aquilo que não é matéria reservada nossa e se, em relação a esta, dissermos claramente que é reservada e apresentarmos a razão por que o é, de forma clara e compreensível, faremos mais pelo derrubar dos preconceitos contra a Maçonaria do que com mil polémicas com os histéricos das teorias a conspiração...

O documentário em causa apresentou factos objectivamente verdadeiros. Efectuou análises sensatas e especulações compreensíveis. Referenciou, mais do que uma vez, a irrazoabilidade das teorias da conspiração e das posições anti-maçónicas dos fundamentalistas religiosos. Formulou perguntas que é natural que quem está de fora formule. É, em resumo, um trabalho sério e de qualidade. Se e quando o canal Infinito o retransmitir, ou o transmitir noutros pontos do globo, recomendo que seja visto por quem tem interesse pela Maçonaria.

Rui Bandeira

16 outubro 2007

15001 blogues aderem ao Dia de Acção pelo Ambiente

O anúncio da entrega do Prémio Nobel da Paz a um americano só se explica pelas razões que acompanham essa decisão.
De facto a grande maioria das expectativas estiveram bem longe deste premiado, mas é preciso reparar atentamente no americano que foi premiado e as razões aduzidas.
Não se trata de um americano qualquer, mas de um homem que tem feito da defesa do ambiente uma cruzada (bem paga, mas cruzada !) de esclarecimento pela necessidade de protecção do ambiente, percorrendo o mundo (esteve em Portugal há poucos meses) ensinando, divulgando o que está mal e e apontando a maneira de fazer bem.
É claro que todas as questões relacionadas com o ambiente têm a ver com todos nós, com a manutenção da vida terrestre (pelo menos no formato que conhecemos e em que existimos) e com o futuro dessa mesma vida, qualquer que seja o modelo que se considere.
Também é claro que esta decisão não é completamente inocente, sabemos que os Estados Unidos estão em plena corrida eleitoral, que a administração americana actual se está nas tintas para a saúde ambiental do planeta e que a arma do ambiente, quando usada a preceito, rende votos.

Bom, mas mesmo depois de tudo isto espremido, continuo a pensar que toda a visibilidade que seja dada a esta questão é ponto a favor da humanidade.
E sendo uma questão que tem a ver com o Homem, é certamente uma questão que tem a ver com os Maçons e a Maçonaria.
São muitos, felizmente, os maçons envolvidos em causas ambientais, na criação e gestão dos parques naturais, onde muitas espécies animais encontram maneira de se salvarem da destruição do seu meio de sobrevivência natural.

No estado actual da humanidade todos somos chamados à protecção da vida e nesse aspecto esta designação para o Nobel da Paz tem um efeito de marketing que é bem vindo.
Não será o mais desinteressado, mas desta vez o fim é capaz de justificar este meio.

Repito a chamada de atenção para as declarações da jovem Severn Suzuki durante a ECO92, Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Repito… não percam.

http://www.youtube.com/watch?v=y80zyIuJz28

E, porque procuramos um mundo perfeito aproveito também para uma notinha um pouco à margem, e se calhar nem tão à margem assim…, e que tem a ver com o estado desgraçado da condução nas estradas portuguesas.
E aí temos outro ponto de contacto com a causa ambiental, porque a reciclagem dos restos dos automóveis não consegue ainda ser completa.

É só uma estorinha para dispor… (como vocês entenderem) :



Era uma vez um homem perfeito que conheceu uma mulher perfeita.

Namoraram e um dia casaram. Formavam um casal perfeito. Numa noite de Natal,
ía o casal perfeito por uma estrada deserta quando viram alguém na berma
pedindo ajuda. Como eram pessoas perfeitas pararam para ajudar.


Essa pessoa era nada menos do que o Pai Natal, cujo trenó estava avariado.
Não querendo deixar milhões de crianças decepcionadas, o casal perfeito
ofereceu-se para ajudá-lo a distribuir os presentes. O bom velhinho entrou
no carro e lá foram eles.
Infelizmente, o carro envolveu-se num acidente e somente um dos três ocupantes sobreviveu.

Pergunta: quem foi o sobrevivente do trágico acidente?
A mulher perfeita o homem perfeito ou o Pai Natal?

(Leia abaixo)

































A mulher perfeita sobreviveu.

Na verdade ela era a única personagem real desta história. Toda a gente sabe
que o Pai Natal e o homem perfeito não existem.


(Se você for mulher pode ficar por aqui, assim toda contente, a piada acaba aqui.
Os homens podem continuar a ler)





















Agora, se o Pai Natal não existe, nem o homem perfeito, fica claro que quem
conduzia era a mulher perfeita, o que explica o acidente.


Se você é mulher e leu até aqui, fica provada mais uma teoria: as mulheres
são muito curiosas e nunca ouvem o que se lhes diz.




A curiosidade é inimiga do ambiente !


JPSetúbal

15 outubro 2007

"Estados Maçónicos da América"

O canal Infinito, incluído no conjunto de canais da grelha básica da TV Cabo, em Portugal, emite amanhã, terça-feira, 16 de Outubro, entre as 20 e as 21 horas, com repetição na madrugada seguinte, entre as 0,30 h e a 1,30 horas, um documentário que anuncia com o curioso título de "Estados Maçónicos da América". Este documentário faz parte de um conjunto de quatro, de produção anunciada como própria do canal, com o título genérico de "Sociedades Secretas".

No texto da promoção do documentário, referencia-se que mais de metade dos fundadores dos Estados Unidos eram maçons - o que é rigorosamente verdade. Aliás, parece indubitável que esses ilustres Irmãos de então em muito influenciaram a consagração dos grandes princípios democráticos que é feita na Constituição dos Estados Unidos, tal como a que já tinha tido lugar de destaque na Declaração de Independência daquele País.

Nesse sentido, o texto de promoção do programa é rigorosamente verdadeiro.

Não ficarei, no entanto, até pelo título escolhido, nada admirado se este documentário mais não for do que a acéfala repetição das teorias da conspiração do costume, de que os maçons dominam o Poder, nos Estados Unidos, e executam um paciente trabalho conducente à instauração de uma Nova Ordem Mundial, obviamente sob o seu domínio... E, provavelmente, lá virá a costumada referência aos símbolos maçónicos na nota de dólar americano ou a mil vezes apresentada "prova" da absoluta e secreta influência dos maçons que é constituída pela organização urbanística de Washington... Enfim, o trivial, que se poderá ler, além de milhentos outros locais, aqui.

Se assim for, será pena mas, enfim... os doidinhos das teorias da conspiração também têm direito ao seu tempo de antena... e sempre nos podemos rir um pouco...

Se o documentário, ainda que porventura também apresentando os pontos de vista dos "teóricos da conspiração", também efectuar a crítica desses delírios ou, pelo menos, apresentar também os pontos de vista contrários, então, sim, será um trabalho com algum equilíbrio e merecedor de aplauso.

Em qualquer caso, acho que vale a pena visionar o programa. Eu duvido que possa fazê-lo, mas isso não é razão para aqui não lhe fazer referência. Quem vir o documentário e quiser deixar no A Partir Pedra as suas impressões, o seu juízo, a sua opinião, é bem-vindo para o fazer. A caixa de comentários não existe para outra coisa...

Uma última nota para todos aqueles (e são, com grande alegria nossa, muitos) que acompanham o A Partir Pedra a partir de outros pontos do globo, que não Portugal - mais de metade dos nossos visitantes são do Brasil -: só posso, como é óbvio, divulgar aqui este tipo de informações em relação ao País onde me encontro, pois é em relação a ele que as obtenho. Porém, a prática das cadeias de comunicação internacionais (e, até julgando pela origem de grande parte da sua programação, o Infinito está implantado e emite na América Latina) é a de "rodar" estes documentários pelas várias regiões para onde emitem. É natural, pois, que, se não foi já, este documentário venha, brevemente, a ser emitido em outros pontos do globo. Se assim suceder e se alguém quiser ter o trabalho de me avisar, terei todo o gosto em aqui referenciar a apresentação do programa noutras localizações.

Rui Bandeira

12 outubro 2007

Profanidades


Uma das mais interessantes características de um blogue é a possibilidade que existe de uma profícua interacção entre quem escreve e quem lê, resultante da utilização da caixa de comentários. Essa interacção, se cultivada, permite a quem escreve ter uma melhor noção dos interesses de quem lê, permite a quem comenta, para além de exprimir a sua opinião, inquirir, sugerir, afinal influenciar o que se escreve no blogue. No limite, uma profícua interacção entre autores de textos e comentadores faz de um blogue um espaço comum de interesse intelectual, evoluindo, não apenas ao sabor da vontade do(s) seu(s) autor(es), mas no percurso dos caminhos desbravados, em conjunção, por quem escreve e por quem lê e comenta.

Pessoalmente, sempre que um comentário me estimula o interesse pela referência a qualquer assunto, prefiro, em vez de responder, sucintamente, na própria caixa de comentários, elaborar e publicar um ou mais textos sobre o tema. O que tem a consequência de, por vezes, alterar o rumo da publicação de textos.

Vem isto a propósito de um comentário que nuno_r (que anteriormente se identificava como o profano) produziu relativamente ao texto O maçon e as luvas. Nele, nuno_r escreveu, designadamente:

Já foi abordado em post anterior o Avental e agora as Luvas.
Como estamos a falar de "peças de vestuário", gostava, se possível, saber como faz um Maçon para adquirir estas peças.
É fácil comprá-las no mundo profano ou é a Loja (ou Grande-Loja) que fornece ou as vende aos Maçons?

Antes do mais, é justo referir que o "culpado" (no sentido de ter sido ele o catalisador de tal facto) de ultimamente eu ter escrito dois textos sobre "peças de vestuário" (O maçon e as luvas e O avental do Aprendiz) foi precisamente o nuno_r que, então ainda como o profano, perguntou, num comentário ao texto A integração do Aprendiz (II), a razão porque o Aprendiz usa a aba do seu avental levantada. Essa questão despertou a minha tendência para a associação livre e, da resposta à pergunta, saltei para o avental e deste para as luvas. Hoje, tencionava escrever mais um texto sobre vestuário, mas a nova questão do nuno_r leva-me a mais uma deriva. Assim, o projectado texto sobre vestuário fica para um dia destes e... vamos então às profanidades (em jeito de homenagem ao interesse do nuno_r e, já agora, aproveitando para um titulozito jeitoso...) de onde e como se adquirem luvas e aventais de maçons.

Adquirir luvas brancas é fácil: qualquer boa luvaria ou estabelecimento de peças de vestuário com secção de luvaria as tem disponíveis.

Já para adquirir luvas enfeitadas com o esquadro e o compasso, bem como para adquirir aventais de maçon, a coisa fia mais fino: o mercado de interessados é muito pequeno em Portugal e não se compram luvas e aventais todos os dias, nem sequer todos os anos, e portanto o interesse comercial nesses artefactos tem a mesma dimensão.

Não sei o que se passa noutras estruturas mas, quanto à GLLP/GLRP, esta dispõe de um fornecedor importador de artefactos maçónicos que lhe garante o fornecimento do que é necessário. Qualquer maçon da GLLP/GLRP pode, consequentemente, através da sua Loja ou dirigindo-se directamente aos serviços da GLLP/GLRP, adquirir o que precisa.

Quando alguém é iniciado, a sua Loja fornece-lhe o avental de Aprendiz e as luvas. O custo destes objectos está já integrado na jóia de iniciação que o candidato pagou. Também quando o maçon é passado ao grau de Companheiro e elevado ao grau de Mestre a Loja lhe fornece os respectivos aventais. E também os respectivos custos estão incluídos no pagamento a que o maçon procede aquando desses actos.

Nenhum maçon é, porém, obrigado a adquirir os seus artefactos através da sua Loja ou Grande Loja. Pode adquiri-los onde lhe der jeito ou onde pretenda. E qualquer Loja pode obter os artefactos para disponibilizar aos seus obreiros onde pretender. Não tem qualquer obrigação de os adquirir na Grande Loja ou ao fornecedor desta. Por exemplo, a Loja Mestre Affonso Domingues adquiriu parte dos artefactos que a ela, Loja, pertencem, a um fornecedor no estrangeiro, mediante encomenda efectuada por Internet e os seus obreiros estão também a habituar-se a fazer o mesmo, pois consegue-se artefactos de boa qualidade a preços favoráveis. Normalmente, quando alguém projecta efectuar uma encomenda, inquire se mais alguém quer aproveitar para encomendar e vem tudo ao mesmo tempo. Sempre se poupa nos custos de transporte...

Sítios na Internet dedicados à comercialização de objectos e artefactos maçónicos, há vários. Basta efectuar uma pesquisa num motor de busca. Mas atenção à língua em que se faz a pesquisa... Se for em português, provavelmente aparecem páginas de fornecedores no Brasil (por exemplo, o Triângulo Atelier Maçónico); se pesquisar em francês, muito provavelmente vai deparar com páginas de fornecedores franceses (por exemplo, Arts et Symboles), em inglês, obtém páginas de fornecedores ingleses ou americanos (por exemplo, Central Regalia ou The Freemason Masonic Supplies), etc..

O mercado é grande...

Rui Bandeira

11 outubro 2007

O maçon e as luvas

Em reunião de Loja ou de Grande Loja, os maçons usam sempre luvas brancas. Pode-se dizer que o uso de avental e de luvas brancas é a marca distintiva dos maçons.

Para além da cor, não existem requisitos especiais quanto ao tipo e qualidade de luvas a serem usadas. Podem ser de pele, algodão ou outro tecido. Podem ser completamente brancas ou ter estampado ou bordado algum enfeite. É muito utilizado um modelo de luvas com o desenho do compasso e do esquadro.

Tal como o avental, a origem do uso das luvas deve buscar-se na Maçonaria Operativa. O trabalhador em pedra, em muitas das suas tarefas, necessitava de proteger as mãos dos acidentes ou, mesmo, das normais consequências do manuseamento de materiais duros, rugosos, pesados, com arestas vivas, etc.. O uso de luvas previne pequenos ferimentos, arranhões, abrasões, decorrentes desse manuseamento. Com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, manteve-se a tradição do uso de luvas.

Mas se a tradição se manteve, ironicamente o propósito inverteu-se. É que, na Maçonaria Especulativa, o uso de luvas não se destina a proteger as mãos do ambiente, mas, pelo contrário, a proteger o ambiente das mãos. Explicando:

Uma das regras que é frequentemente lembrada aos maçons é a de que estes "devem deixar os metais à porta do Templo", isto é, não devem transportar para o interior da Loja condutas, conflitos, interesses, competições, comportamentos, de natureza profana. Em Loja, nada disso tem lugar.

O espaço da Loja - e não me refiro apenas ao espaço físico, mas também, e essencialmente, à dimensão espiritual - não deve ser conspurcado com imperfeições de natureza profana. Para que o maçon possa tranquilamente, com a ajuda de seus Irmãos, trabalhar no seu aperfeiçoamento, deve estar inserido num ambiente livre da poluição das imperfeições do dia a dia. O interior do Templo deve, assim, estar livre de metais, por estes se entendendo tudo o que é negativo, imperfeito, inerente às fraquezas humanas.

No entanto, o maçon, se busca aperfeiçoar-se, é porque se reconhece imperfeito. E imperfeito em si mesmo. Por muito que cuide, por muito que faça, embora procure deixar os metais à porta do Templo, alguns inevitavelmente ele transporta para o seu interior, porque ínsitos (ainda, espera-se...) nele mesmo. Então, assim se reconhecendo imperfeito, logo poluidor do ambiente do Templo, logo susceptível de dificultar o aperfeiçoamento de seus Irmãos - quando o objectivo comum é precisamente o inverso... - o maçon simbolicamente protege o ambiente e seus Irmãos de suas imperfeições, usando as luvas. Assim, a sujidade que ainda permanece em suas mãos não conspurca o Templo, os objectos nele existentes, os seus Irmãos.

Ou seja, o maçon em Loja usa luvas brancas, não para se proteger do que, exterior a si, o possa afectar, mas para proteger o ambiente e os demais daquilo que, existente em si, os possa prejudicar.

Este, no meu entendimento, a lição que se pode extrair do simbolismo do uso das luvas pelos maçons em Loja.

Daqui decorre, por exemplo, que, ao contrário da prática social, em que o enluvado se desluva para cumprimentar outrem, os maçons, no interior do Templo saúdam-se sempre com as respectivas luvas postas.

Há, no entanto, três situações correntes em que o maçon em Loja deve retirar uma ou ambas as luvas. Uma, quando manuseia dinheiro, pois, por natureza, o vil metal conspurca - e o seu manuseio em Loja, designadamente quando se reúnem fundos para acções de solidariedade, é um mal necessário - e não deve assim sujar a luva, que deve permanecer limpa; outra, quando o maçon assume compromissos sobre as três Grandes Luzes da Maçonaria - o Volume da Lei Sagrada, o Compasso e o Esquadro -, caso em que apõe a mão nua sobre esses três artefactos, em sinal de que o compromisso é assumido pelo Homem inteiro, com suas qualidades e defeitos, com suas forças e suas imperfeições, confiando em que o contacto entre essas três Grandes Luzes e si próprio redundará no seu aperfeiçoamento, não na perda de qualidades daquelas; a terceira, na Cadeia de União, em que os maçons se dão as mãos, despojadas de luvas, em sinal de união e de comunhão de esforços, juntando-se numa Cadeia em que cada um se reconhece como o elo mais fraco, mas em que todos buscam fortalecer-se, transmitindo-se e unindo todos suas forças e fraquezas, cientes de que as forças de todos combinadas gerarão um poder mais forte do que a mera soma delas e de que as fraquezas de cada um mais eficazmente são combatidas com a ajuda de todos.

Eis porque o maçon usa luvas brancas e eis por que razão pontualmente as não usa.

Rui Bandeira

10 outubro 2007

O duodécimo Venerável Mestre

Eleito, como habitualmente, em Julho, José M. foi o duodécimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, tendo exercido o ofício entre Setembro de 2001 e Setembro de 2002.

José M., oriundo da primeira geração de iniciados, logo no princípio do funcionamento da então GLRP, hoje GLLP/GLRP, era já, na altura em que assumiu o exercício da função, um maçon muito experiente. Desde há vários anos que colaborava activamente com o Grão-Mestrado, particularmente no apoio aos maçons e Lojas no Norte e Nordeste do País. Algumas dessas Lojas tinham contado com a sua activa colaboração nos primeiros tempos da sua existência. Já fora Venerável Mestre de uma Loja no Nordeste Transmontano, pelo menos, antes de assumir idêntica função na Loja Mestre Affonso Domingues.

José M. há vários anos que dispersava o seu esforço por várias Lojas e na estrutura da Grande Loja. Nunca deixou, porém, de integrar o Quadro de Obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues e de comparecer às suas reuniões com a assiduidade que a necessidade de atender a várias solicitações lhe permitia.

Mal comparado, José M. era, desde há vários anos, como que o "Ministro dos Assuntos Exteriores" da Loja. Devido ao seu intenso contacto com as demais estruturas da Obediência, conhecia e era, já então, praticamente conhecido de toda a gente na organização. Veiculava para a Loja o que se passava nas demais estruturas da Obediência; certamente que transmitia a essas outras estruturas o sentir da Loja Mestre Affonso Domingues.

Internamente, para além de ter exercido, mais formal ou mais esporadicamente, praticamente todos, senão mesmo todos, os outros ofícios em Loja, fora, dois anos antes, o 2.º Vigilante do Quadro de Oficiais do meu Veneralato e fora o 1.º Vigilante do João D. P.. Cumprira, pois, o normal percurso (então apenas restrito aos Vigilantes; agora incluindo mais ofícios) que desembocava na Cadeira de Salomão.

José M. dava, pois, todas as garantias de um sereno e profícuo exercício da função, tanto mais que a sua ascensão ao ofício decorrera com toda a normalidade e seguindo todos os passos certos e aconselháveis. Digamos que as suas "habilitações curriculares" eram perfeitas para a função.

Com todas estas boas fundações, como foi então o edifício do seu Veneralato? Foi... sólido... pacato... eficiente... pacato... suave... pacato... calmo... pacato..., etc.... pacato...

É curioso como, quando as coisas correm bem, quando se processam com normalidade, sem sobressaltos, nos deixam apenas uma difusa lembrança na memória!

O mandato do José M. correu bem, correu normalmente, sem sobressaltos, fazendo-se o trabalho que se tinha de fazer, inquirindo-se quem havia que inquirir, iniciando-se quem havia para iniciar, passando-se a Companheiro quem estava na altura de ser passado a Companheiro, elevando-se a Mestre quem justificava a elevação a Mestre, apresentando-se e assistindo-se à apresentação de pranchas, assegurando-se as iniciativas de solidariedade e de convívio social que a Loja já se habituara a assegurar. Em resumo, normalidade absoluta!

Costuma-se dizer que gente feliz não tem história. Será talvez caso para dizer que Loja feliz não sobressai na nossa memória...

O mandato de José M. integra-se numa sucessão de mandatos em que a Loja, atingida já a sua maturidade, apreciava algo que até então, raramente tivera: a possibilidade de trabalhar numa reparadora rotina!

Este período de aparente ausência de acontecimentos durou alguns anos - e constitui um problema para quem procura registar a memória da Loja... - e, porventura, durará ainda. Mas engana-se quem porventura pense que é um período de calmo repouso, se nada feito. O que se inaugurou com o mandato do José M. foi um período de trabalho calmo, porque organizado, de evolução sem sobressaltos, de construção de subtis laços ligando a Loja aos seus membros e estes entre si, que, paulatinamente, foram criando, o ambiente acolhedor, responsável e agradável que se continua a viver na Loja e que todos esperamos que se continue, indefinidamente, a verificar. A Loja deixou de necessitar de reagir com força, união e determinação aos ventos que por vezes a abanaram; passou a navegar airosamente aproveitando as quase imperceptíveis correntes que a transportam do passado para o futuro.

José M., com toda a sua experiência, foi o Venerável Mestre ideal para iniciar este período de tranquila bonança. Também para se guiar a nau com rumo certo em mar bonançoso é preciso ser hábil e seguro. José M. foi-o: não inventou o que não havia necessidade de ser inventado, mostrou que é possível e desejável e profícuo trabalhar na rotina da Maçonaria e assim também estreitar os laços entre os maçons. Ao assegurar a normalidade com... normalidade, José M. mostrou à Loja que dirigi -la não é ser voluntarista, é assegurar que seja feito o que deve ser feito, quando deve ser feito. O facto de o seu exemplo ter frutificado e de a Loja, desde então, se ter habituado a vogar serenamente no mar calmo do seu trabalho de rotina, constitui o legado que o seu Veneralato deixou à Loja. Em boa hora teve a Loja à sua frente um elemento experiente que não buscou brilhar, mas apenas assegurar serenamente o exercício da sua função, pela forma como, naqueles tempo e lugar, a função devia ser exercida!

Os tempos de calmaria e bonança da idade adulta da Loja, que visivelmente foram sentidos a partir do Veneralato do José M. podem causar dificuldades a quem procura registar a memória da Loja. Mas em tudo o resto são favoráveis e agradáveis!

Rui Bandeira

09 outubro 2007

O avental do Aprendiz

Em Loja, o Aprendiz Maçon usa um avental rectangular completamente branco, com uma aba superior, de forma triangular, igualmente integralmente branca, que é usada levantada.

Ensina o Ritual do Rito Escocês Antigo e Aceite – aquele que é praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues – que a cor branca do avental simboliza a pureza do seu coração, recomendando ainda ao Aprendiz que evite conspurcar o seu avental.

Em determinada passagem do mesmo Ritual, o Aprendiz é informado de que deve usar o avental com a aba levantada, sem que sejam dadas quaisquer explicações ou justificações para essa determinação.

Pese embora o facto de o Ritual apresentar a cor branca do avental de Aprendiz como símbolo de pureza, é minha convicção de que a escolha dessa cor tem uma origem muito mais prosaica.

Retenhamos, antes do mais, que a Maçonaria Especulativa, tal como foi fixada no século XVIII, em Inglaterra, deriva de uma Maçonaria Operativa, existente desde, pelo menos, há alguns séculos atrás, que regia o ofício dos construtores em pedra e que agrupava os respectivos profissionais, nas suas diversas vertentes (Mestres de Obras ou Arquitectos, Pedreiros, Canteiros, Escultores, etc.).

O uso de avental por profissionais de diversas profissões tem origens antigas e permanece actual. Os ferreiros e ferradores usavam avental e, pelo menos aqueles, ainda hoje usam; os cozinheiros usavam e usam avental; os trabalhadores em pedra usavam avental, etc.. O propósito do uso desta peça é evidente: a protecção da roupa envergada pelos respectivos portadores, evitando que esta seja suja ou danificada pelos materiais trabalhados pelo profissional.

Naquelas épocas, o nível de vida dos artesãos não era propriamente desafogado. A protecção da sua roupa era-lhes indispensável, o avental de protecção utilizado era confeccionado no material que, exercendo essa protecção, fosse mais abundante e barato.

Os aventais eram, assim, confeccionados na matéria-prima que então abundava na Europa e era barata: a pele de ovelha, com a respectiva lã.

A razão porque o avental era branco decorre assim do prosaico facto de a lã ser dessa cor! E obviamente que não se ia encarecer o artefacto tingindo-o, porquanto se tratava de uma peça de trabalho, destinada a ficar suja no decorrer do trabalho, não de uma peça de adorno.

Não era apenas o Aprendiz de trabalhador em pedra que usava avental de pele e lã branca. Eram todos os trabalhadores em pedra.

Evidentemente que, com a transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa, a razão do uso dessa peça alterou-se, passando tal uso a ter valor simbólico, primeiro, de distinção de grau, seguidamente, e de adorno finalmente (particularmente nos Altos Graus e em Grande Loja, em que, por vezes, são utilizados vistosos, belos - e caros! - aventais). E, com essa transição, o avental perdeu o seu valor de protecção de vestuário. Daí que, enquanto que, nos tempos da Maçonaria Operativa o avental se destinava a ser sujo em vez da roupa que ele protegia, com o advento da Maçonaria Especulativa essa necessidade desapareceu e, portanto, passou a desejar-se que permaneça sempre limpo, quer material, quer simbolicamente, neste plano representando a pureza de carácter que o seu portador deve ter e que deve procurar sempre, mais e mais, aperfeiçoar.

O avental branco, em bom rigor, não é o avental do grau de Aprendiz: é o avental do maçon! Aliás, ainda hoje, em muitas Lojas dos Estados Unidos é comum entregar-se àquele que é iniciado um avental de pele de ovelha, com lã, branco, o qual é religiosamente guardado e nunca utilizado pelo maçon seu proprietário, a não ser em ocasiões festivas ou cerimoniais. Qualquer que seja o grau de quem o usa, o avental de pele e lã branco é ali utilizado como peça de adorno cerimonial!

Ainda hoje, em todas as Obediências, o avental branco pode ser usado por qualquer maçon, qualquer que seja o seu grau e qualidade. As únicas diferenças são que, por um lado, o Aprendiz só pode usar avental branco, enquanto que os maçons de outros graus podem usar o avental branco ou o do seu grau; e, por outro, que o Aprendiz deve usar o avental branco com a respectiva aba levantada, enquanto que os demais maçons, quando usam avental branco, o fazem com a respectiva aba baixada.

O actual Grão-Mestre da GLLP/GLRP, Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia utiliza habitualmente um singelo, mas belíssimo, avental todo branco, adornado apenas por um discreto bordado, também branco, assim simbolizando que até mesmo o Grão-Mestre se deve sempre considerar um eterno Aprendiz.

Quanto à razão do uso do avental com a aba levantada pelo Aprendiz (e aqui, efectivamente, só por este), não explicada ou justificada no ritual, deve buscar-se também nas raízes operativas da Maçonaria e na função de protecção do avental, importadas e adaptadas para a Maçonaria Especulativa. Porque o Aprendiz ainda não é versado nem experiente na Maçonaria, porque é natural que cometa erros, porque ainda está aprendendo a trabalhar a pedra bruta do seu carácter, a sua necessidade de protecção é simbolicamente maior. Daí que deva aumentar a área de protecção proporcionada por essa peça, para tal usando a respectiva aba levantada.

Quando as mais agudas arestas do seu carácter estiverem já trabalhadas, quando esse carácter se tiver já aperfeiçoado e o maçon não o trabalhe já como uma pedra bruta, antes o cinzele como se faz a uma pedra cúbica, então a necessidade de protecção terá diminuído e o maçon poderá então passar a usar o seu avental com a aba baixada. Mas, quando assim for, já, em reconhecimento do esforço que efectuou, os Mestres da Loja providenciaram o seu aumento de salário – e já não será Aprendiz!

Rui Bandeira

08 outubro 2007

A integração do Aprendiz (III)

Se é dever e do interesse da Loja providenciar pela correcta e bem sucedida integração do novo Maçon, o processo, no entanto, é bidireccional: também o novo Maçon deve providenciar pela sua correcta e bem sucedida integração na Loja e na Maçonaria.

Essencial, desde logo, é a sua assiduidade. A Integração do novo Maçon é, em larga medida, efectuada com recurso a factores emocionais. A Cerimónia de Iniciação terá marcado o novo Maçon. Mas essa marca, se não for protegida, desenvolvida, acarinhada, desaparecerá com o tempo, com o desvanecer da memória, com o diluir das sensações experimentadas. Todo o processo de integração na Loja é, não só racional, como afectivo. A sua interrupção, o distanciamento dele, o desinteresse na sua prossecução, ferem-no de morte. A maior parte dos abandonos de Aprendizes – isto é, de falhanços no processo de integração de Aprendizes – decorre da sua deficiente assiduidade. Os laços, não só emocionais e afectivos, mas também desta natureza, que deviam ter sido criados, ficaram irremediavelmente comprometidos. A integração do novo Maçon é como a colocação de uma planta no jardim: se não for regada com a devida assiduidade, se não for cuidada, não pegará, definhará e secará. Mas, se receber os cuidados adequados, as suas raízes firmar-se-ão, crescerá e desenvolver-se-á e, a seu tempo, florirá e frutificará.

Não quero com isto dizer que a quebra de assiduidade irremediavelmente conduza ao desinteresse do novo Maçon. Já assisti a situações em que Aprendizes, logo a seguir a terem sido iniciados, se ausentaram, designadamente por razões profissionais, para longínquas partes do globo e só regressaram passado um ou dois ou, mesmo, mais anos e que, apesar disso, reiniciaram sua vida maçónica, tão precocemente interrompida, e completaram, com êxito, o seu processo de integração. Também conheço exemplos de plantas que, sem terem recebido os devidos cuidados após a sua transplantação, apesar disso resistiram, não secaram e, vindo mais tarde a beneficiar das condições que nunca lhes deveriam ter faltado, arribaram, recuperaram e cresceram. Mas, quer num caso, quer no outro, o esforço de recuperação do que quase se perdeu foi muito maior, mais fundas foram as preocupações, mais intensos foram os cuidados necessários.

Uma das mais básicas leis da Natureza é aquela que costumamos designar por “lei do menor esforço”: o máximo de eficácia resulta da melhor relação entre o resultado obtido e o esforço despendido. Também aqui se deve procurar maximizar essa relação. E essa maximização depende grandemente da assiduidade do novo maçon.

O segundo aspecto que deve merecer o cuidado do nóvel maçon respeita à gestão das suas expectativas. A Maçonaria não é uma varinha mágica que transforma um sapo num belo príncipe através do toque da Iniciação... E também não é, nem uma corte de extasiados súbditos determinados a apreciar as excelsas qualidades do novo elemento que, triunfador na sua vida profana, irá expandir sua glória entre os maçons, nem uma soberba estrutura de prestação de cuidados individuais que, num abrir e fechar de olhos, cuidará de suas deficiências, reparará seus complexos e o doutorará em Êxito Pessoal, Social, Profissional, Esotérico e Valências Correlativas... A Maçonaria é um meio, um caldo de cultura, um ambiente, um método. O seu aproveitamento cabe ao maçon, ao seu esforço, à sua capacidade, ao seu interesse.

Finalmente, o terceiro aspecto importante na integração do novo maçon, na perspectiva deste, é a Paciência. O maçon deve cultivar muitas virtudes – todas as Virtudes! Mas uma das primeiras a que deve dedicar seus esforços é a virtude da paciência. Na Maçonaria não há micro-ondas que aqueçam instantaneamente, ou quase, o coração dos seus elementos; a Maçonaria não é um aviário que faça crescer em poucas semanas a ave do conhecimento, para consumo massificado - desse crescimento acelerado só resultaria um insípido pseudo-conhecimento, de reduzido ou nulo valor nutritivo para o espírito do maçon. Na Maçonaria, dá-se atenção à eficácia, mas reconhece-se o imenso valor do tempo. Há que dar tempo para que se assimile um conceito, para que ele seja perfeitamente integrado no maçon, em termos racionais e emocionais, para que, só então, se avance para o passo seguinte. Os princípios e o método maçónicos vêm dos tempos do trabalho artesanal, do paciente burilar da pedra até que esta atinja a forma desejada, não se dão bem com prontos-a-vestir, prontos-a-comer e muito menos com prontos-a-conhecer...

Paciência, pois! O trabalho metódico, calmo, firme, seguro, persistente, dará seus frutos! Poderá não dar os frutos que, à partida, se pensava que desse, mas alguns frutos dará. E dará quando, tempo após tempo, for tempo de os dar! A nossa vida “moderna” habituou-nos a obter tudo já, agora e imediatamente, a querer tudo para ontem, para o podermos largar hoje e avançar amanhã para novos objectivos. A Maçonaria não é assim, a Maçonaria poderá ser hoje por alguns considerada anacrónica, mas dá valor ao Tempo, à Sequência, à Evolução, à Consistência.

E, afinal de contas, o que mais admiramos? O moderno, brilhante e construído em poucos meses edifício, ou a vetusta e arcaica catedral que demorou décadas a ser finalizada?

Assiduidade, expectativas equilibradas e paciência são as ferramentas que, utilizadas adequada e diligentemente pelo novo maçon, lhe conferirão a devida integração na Maçonaria. E, quando o novo maçon der por isso... já será maçon antigo e recordará com ternura o tempo em que era um inexperiente Aprendiz buscando encontrar na Maçonaria o seu lugar, sem estar ainda ciente que esse lugar é onde ele quiser, para onde ele for, onde ele estiver!

Rui Bandeira

05 outubro 2007

Fim de semana prolongado com 5 de Outubro a ajudar



Estamos em fim de semana prolongado e o tempo estará bem melhor do que tem estado.

Aproveitemos para passear, dar uma de ar livre, nem que seja pelo Terreiro do Paço que, dizem, foi devolvido aos Lisboetas (tive um prof. de inglês, que com a mania que era atleta, em pleno Inverno e com um frio danado, entrava na aula, abria a janela de par em par e gritava para a rapaziada enregelada... "FRESH AIR... FRESH AIR...")

Para os que estiverem constipados ou com uma dose forte de "caseirice", aqui ficam meia dúzia de obras literárias, escolhidas do grupo dos maiores "best-sellers" que já foram traduzidos em todas as línguas (um deles até em latim...) e que poderão servir para Vosso entretém.

É a minha modestíssima contribuição para aperfeiçoamento da Vossa cultura, que anda pelas ruas da amargura (se fosse mentira não rimava !).

Aqui ficam então 5 (cinco) obras-primas da literatura mundial. Quem é amigo... quem é ?

Leon Tolstoi -"GUERRA E PAZ" ( 1800 páginas ) resumo:

Um rapaz não quer ir à guerra e por isso Napoleão invade Moscovo. A rapariga casa-se com outro. FIM

Luis de Camões - "LUSIADAS" ( várias edições ) resumo:

Um poeta com insónias decide chatear o Rei e contar-lhe uma história de marinheiros que, depois de alguns problemas (logo resolvidos por uma deusa porreiraça), tem o justo prémio numa ilha cheia de gajas boas. FIM

Gustave Flaubert -"MADAME BOVARY" ( 378 paginas ) resumo:

Uma dona de casa engana o marido com o padeiro, o leiteiro, o carteiro, o homem do talho, o merceeiro e um vizinho cheio de massa. Envenena-se e morre. FIM

William Shakespeare -"HAMLET" resumo:

Um principe com insónias passeia pelas muralhas do castelo, quando o fantasma do pai lhe diz que foi morto pelo tio que dorme com a mãe, cujo homem de confiança é o pai da namorada que entretanto se suicida ao saber que o principe matou o seu pai para se vingar do tio que tinha morto o pai do seu namorado e dormia com a mãe. O principe mata o tio que dorme com a mãe, depois de falar com uma caveira e morre, assassinado pelo irmão da namorada, a mesma que era doida e que se tinha suicidado. FIM

NOVO TESTAMENTO ( 4 versões ) resumo:

Uma mulher com insónias dá à luz um filho cujo pai é uma pomba, o filho cresce e abandona a carpintaria para formar uma seita de pescadores. Por causa de um bufo, é preso e morre.

Boas leituras, ... bom fim de semana, ... divirtam-se !.

JPSetúbal

04 outubro 2007

A integração do Aprendiz (II)

O primeiro nível de integração de que a Loja deve, de imediato, cuidar é o da integração social, porque, como é fácil de entender, condiciona todos os demais. Sem uma bem conseguida integração social no grupo, dificilmente se gera empatia, se criam e fortalecem afinidades, se geram amizades, enfim, se dá uma verdadeira integração do novo elemento no grupo.

A este nível, o processo de integração começa logo no ágape que se segue à sessão em que ocorreu a Cerimónia de Iniciação. Ao nóvel Aprendiz é destinado um lugar ao lado do Venerável Mestre. Como este tem assento na zona central da mesa dos ágapes, o novo Aprendiz está rodeado de vários elementos mais antigos da Loja. Procura-se que mais perto dele tomem assento Mestres experientes, se possível incluindo o 2.º Vigilante. A conversa flui descontraidamente entre todos. Não há melhor ocasião para conviver do que à volta de uma mesa, consumindo uma refeição... Nesse ambiente descontraído, o novo Aprendiz começará a conhecer os demais elementos da Loja. Comenta o que quiser comentar, pergunta o que precisar de perguntar, brinca-se e fala-se a sério, enfim, convive-se. O importante é que o novo Aprendiz se comece a sentir "mais um" daquele grupo. E assim se prossegue.

Outro aspecto importante da integração social do novo Aprendiz é a integração de sua família nos eventos em que as famílias dos maçons se reúnem, na medida em que isso seja possível. É muito mais fácil para o novo maçon prosseguir com a sua vida maçónica se tiver o apoio de sua família do que se tiver a oposição desta... Participar nas reuniões e outras iniciativas da Loja e da Grande Loja consome tempo - tempo que se subtrai ao convívio familiar. É importante que, de alguma forma, as famílias dos maçons sejam compensadas das ausências destes com algumas oportunidades de agradável convívio social, seja em jantares brancos - isto é, abertos às famílias -, seja em visitas ou viagens organizadas, seja no âmbito de qualquer realização da Loja. É importante que a integração do novo maçon envolva também a sua família. Até porque é um princípio básico da maçonaria que o cumprimento dos deveres familiares seja prioritário.

O objectivo final da integração social do novo maçon é que ele sinta a sua Loja, os seus Irmãos, como um espaço onde ele e a sua família podem estar seguros e confiantes, sem competições, sem atropelos, em fraternidade. Para uma bem sucedida integração social do novo Maçon é importante o papel do seu padrinho, mas indispensável o contributo de toda a Loja.

A outro nível, a Loja deve providenciar pela formação do Aprendiz. Deve apresentar-lhe os símbolos e providenciar-lhe as noções básicas para que ele os interprete, mas sempre tendo o cuidado de evitar dogmatismos. Mais uma vez, o objectivo não é ensinar, é que o Aprendiz aprenda. Neste aspecto é, consequentemente, muito importante que não se diga que X simboliza A. Aquilo que X simboliza deve ser apreendido, entendido, reflectido, encontrado, por cada um. X pode simbolizar A para mim, mas também pode simbolizar B para o meu interlocutor, ou C para outro qualquer maçon. Na formação do Aprendiz, proporcionam-se-lhe ferramentas, método - não dogmatismos. O objectivo é que o Maçon reflicta em si e no Mundo, no Material e no Espiritual, na Vida e na Morte, enfim, que procure encontrar o seu lugar na Vida, o significado da sua existência. É um trabalho nunca acabado. É um trabalho que se impõe que o Aprendiz maçon comece. Neste percurso de reflexão utilizando a simbologia, deve-se auxiliar o maçon que nos pede auxílio ou opinião, nunca se deve impor conceitos. Porque o conceito de meu Irmão é tão válido quanto o meu, na medida em que é aquele em que ele se sente confortável, como eu me sinto confortável com o meu. Cooperação e não competição. Aprendizagem, não ensino. Tolerância, não dogmatismo. Valorização da diferença. Discussão sã e amigável dos respectivos pontos de vista, não para impor a nossa maneira de ver ao Outro, mas para nos esclarecermos mutuamente sobre o que ambos pensamos e para aprofundarmos o nosso conhecimento sobre os conceitos em causa. Reflexão, reflexão e ainda reflexão. Estes são posicionamentos básicos que devem ser transmitidos ao Aprendiz. E com a sua apreensão e utilização por ele, todos estamos no mesmo comprimento de onda, todos estamos em sintonia, todo estamos integrados na mesma busca - mas, na realidade, cada um tem a sua busca particular, que não interfere nem se sobrepõe às dos demais...

Finalmente, o terceiro nível de integração do novo Aprendiz é a integração no Ritual. Propiciar que o novo maçon entenda que o ritual não é apenas uma repetição mecânica de palavras e actos, mas uma fonte, um guia, uma constante lembrança de conceitos, de normas morais, de chaves para interpretação de símbolos, é fundamental. O Ritual e o Catecismo de cada grau são ferramentas indispensáveis, fontes inexauríveis de alimento para o intelecto e o espírito, tesouros inesgotáveis de conhecimento especulativo que o Aprendiz tem à sua disposição. Estando a dar os seus primeiros passos na maçonaria, ainda só sabendo soletrar, terá a seu lado para o guiar, para o aconselhar, para o esclarecer (mas nunca para algo lhe impor) um experiente Oficial da Loja, o 2.º Vigilante, que tem a seu cargo, além do mais, a missão específica de acompanhar, orientar, supervisionar, os Aprendizes. E o Aprendiz tem também - sempre! - à sua disposição qualquer outro Mestre da Loja para lhe proporcionar a ajuda de que careça, o auxílio que solicite, o esclarecimento que peça.

Uma integração bem sucedida a estes três níveis será meio caminho andado para que o novo maçon sinta confirmadas as expectativas que tinha quando buscou juntar-se à Maçonaria. É dever da Loja proporcionar-lhe essa integração. É do interesse da Loja fazê-lo. É da essência da Maçonaria prossegui-lo.

Rui Bandeira

03 outubro 2007

A integração do Aprendiz (I)

Terminada a Cerimónia de Iniciação, começa de imediato o importante capítulo da integração do novo Aprendiz. Em bom rigor, essa integração tem já início no decorrer da própria Cerimónia de Iniciação. Mas disso, quase de certeza, não tem o novo Aprendiz consciência. Porventura, de tal se aperceberá (muito) mais tarde, quando, já completamente integrado, rememorar sua vida maçónica.

A Maçonaria organiza-se essencialmente em Lojas, grupos de maçons com ampla autonomia - mas estrita convergência de princípios -, que cooperam no aperfeiçoamento individual de cada um. A integração de um nóvel Aprendiz na Maçonaria corresponde, assim, à integração na Loja que o acolhe, no grupo de que passa a ser mais um participante.

Essa integração ocorre mediante um processo com dois sentidos: depende do esforço e da actuação da Loja perante o novo Aprendiz, mas também só é bem sucedida através da conduta e do posicionamento deste em relação à Loja.

Ao integrar um novo elemento, desconhecedor de muitas das idiossincrasias da realidade a que se juntou, a Loja, enquanto grupo, e cada um dos seus obreiros, individualmente, devem ter presente que essa transição é um processo de delicado equilíbrio: o novo elemento tem a categoria de Aprendiz, em sinal de que muito tem de aprender, no confronto e com o apoio dos mais antigos, mas deve ser, só pode ser, é, tratado num plano de estrita Igualdade com os demais membros da Loja; o novo Irmão é recebido com toda a afabilidade e familiaridade, mas deve ser, só pode ser, é, tratado com pleno e integral respeito da sua personalidade, da sua privacidade; o novo Aprendiz passa a dispor de um método de formação, de uma panóplia de conhecimentos, de um conjunto de ensinamentos e valores que lhe são relembrados, mas deve ser, só pode ser, é, respeitado na sua individualidade, nas suas escolhas, no seu pensamento, tudo se lhe facultando, nada se lhe impondo.

A integração de um novo elemento numa Loja não ocorre através do ensino àquele do que esta é; processa-se através da aprendizagem por ele dessa realidade. A Maçonaria não se ensina - aprende-se! Em Maçonaria, nada se impõe, tudo, desde que conforme aos seus princípios essenciais, se aceita. Em Maçonaria, não há interpretações ou pensamentos certos ou errados, e muito menos únicos. Em Maçonaria o pensamento individual, a crença de cada um, são integralmente respeitados e a diversidade é encarada como uma riqueza para o conjunto. A integração de um novo maçon na Loja, consequentemente, é um processo que deve ser, só pode ser, é, efectuado no pleno respeito da individualidade, da personalidade, das características, do novo elemento. Individualidade, personalidade e características que, juntando-se às que já existem no grupo, o enriquecem, o fortalecem, o diversificam, enfim, o melhoram.

Os maçons gostam de dizer que a Maçonaria pega em homens bons e fá-los melhores. Mas a inversa também é verdadeira: a integração bem feita, no respeito da individualidade do novo elemento, no grupo, na Loja, faz com que esse homem bom torne a Maçonaria melhor! Qualquer dessas melhorias ocorre naturalmente: não é a Loja que melhora o novo maçon - é este que se aperfeiçoa, no confronto com seus pares, com os princípios morais com que mais assiduamente se depara; a Loja, por seu turno, enriquece-se, melhora, cresce, qualifica-se, em função das melhorias, dos aperfeiçoamentos, de todos os seus elementos, recentes e mais antigos, quaisquer que sejam os seus graus e qualidades. Gera-se assim um círculo virtuoso em que o indivíduo beneficia do grupo para se aperfeiçoar e aperfeiçoa o grupo em virtude da sua própria melhoria.

A integração de um novo Aprendiz não é, assim, um mero processo de enquadramento. É uma verdadeira essencialidade da Loja. A integração do novo Aprendiz é o fermento que faz crescer a valia do grupo, é o cimento que liga a Loja, é o mastique que confere flexibilidade ao conjunto.

Uma Loja demasiado tempo sem Aprendizes é uma Loja estéril, um grupo sem perspectivas de futuro risonho. Será porventura constituída por muito Sabedores Mestres, por Fortes temperamentos, mas faltar-lhe-á a Beleza do acompanhamento dos esforços de quem ainda só sabe soletrar a Maçonaria, o estímulo dos seus progressos, a lembrança de que o esforço de aprendizagem, de aperfeiçoamento, não acaba com a ascensão à Mestria, não cessa com a experiência, não acaba com a antiguidade.

A integração bem feita de um novo Aprendiz não é, pois, apenas importante para este: é intrinsecamente uma necessidade vital da Loja. É por isso que nenhuma Loja maçónica se pode dar ao luxo de não providenciar pela correcta integração dos seus Aprendizes, não pode cometer o desperdício de os abandonar à sua sorte e aos acasos do seu desacompanhamento. E, se porventura, se der a esse luxo, se cometer esse desperdício, virá a pagar bem caro esse desmazelo!

Uma Loja maçónica não vive só para os seus Aprendizes, mas vive também, e muito, para eles. Porque o esforço de acompanhamento destes cimenta a unidade do grupo; porque a formação destes melhora a do grupo; no fundo, porque não são só os Aprendizes que aprendem com a sua Loja - esta também aprende, e muito, com aqueles.

Rui Bandeira

02 outubro 2007

O undécimo Venerável Mestre

Um ano depois do que o deveria ter sido, João D. P. foi eleito Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues. Foi o seu undécimo Venerável Mestre, exercendo a função de Setembro de 2000 a Setembro de 2001.

No ano anterior, cumprira o segundo ano consecutivo na função de 1.º Vigilante, o oficial da Loja que tem a seu cargo o acompanhamento e a formação dos Companheiros, além de, juntamente com o 2.º Vigilante, auxiliar o Venerável Mestre na administração da Loja. Exerceu essas funções com competência, destreza e grande lealdade. Foi uma ajuda sempre disponível, uma colaboração sempre de confiança. Assegurou, por delegação minha, quase todo o trabalho de ligação com a Grande Loja, inclusivamente a representação da Loja em três das quatro sessões anuais da Grande Loja. E só não assegurou essa representação na quarta, porque entendi dever eu assumi-la pessoalmente, porquanto ali se iam discutir assuntos do foro da minha especialidade profissional. A opção de delegar essa representação no João D. P. foi por mim tomada, por um lado, em resultado da minha pouca disponibilidade de tempo para actuar ao nível de Grande Loja e, por outro, pela vantagem que eu implicitamente via na existência de uma certa visibilidade da mesma pessoa a esse nível durante um período de tempo alargado.

O mandato de João D. P. como Venerável Mestre da Loja constituiu como que uma bissectriz dos dois mandatos anteriores. Prosseguiu a política de debate interno das questões de interesse para a Loja, embora talvez com menos enfoque do que aquele que eu imprimira. Também porque a necessidade de reabituar a Loja ao debate diminuíra. Deu mais atenção aos aspectos de formação e de análise simbólica do que aquela que eu lhes dera, sem, contudo, se centrar nesses aspectos com a quase exclusividade por que optara Luís P..

Ou seja, com João D. P. a Loja, recentrada no seu rumo, prosseguiu o seu caminho de forma equilibrada em todas as suas vertentes. A produção de pranchas por Aprendizes e Companheiros - essencial para que estes possam progredir até ao 3.º grau - prosseguiu nos níveis habituais, com o cuidado acompanhamento dos Vigilantes. Mas João D. P. insistiu particularmente no retomar de algo que as circunstâncias tinham feito rarear nos últimos tempos: a produção e apresentação de Pranchas Traçadas pelos Mestres da Loja. Começou por dar ele o exemplo. E foi paulatinamente insistindo na necessidade de os demais Mestres também o fazerem. Como sempre nestas coisas, demorou algum tempo e os frutos apareceram já depois do mandato de João D. P. Mas as sementes foram por ele lançadas. Hoje, em todos os anos maçónicos o Venerável Mestre tem de reservar parte de algumas reuniões para a apresentação de pranchas traçadas por Mestres. E o gosto do debate continuou a ser tão acarinhado na Loja que, apesar de toda a gente repetir que "prancha de Mestre não se comenta"... todos as comentam! Talvez com menos severidade e espírito de crítica do que se comentam as pranchas de Aprendiz (em especial) e as de Companheiro, mas há que compreender que também na Maçonaria "a antiguidade é um posto" e se respeitam os mais antigos... Além de que "praxar" os mais novos com ferozes críticas às suas pranchas, como é tradição na Loja Mestre Affonso Domingues, é uma saudável forma de incutir o gosto pela melhoria, pela competência, pela busca da melhor perfeição possível. Mas as críticas são também sempre matizadas pelos justos elogios, pois o trabalho sério deve sempre ser reconhecido...

As actividades viradas para a ajuda permaneceram e foram reforçadas. No mandato do João D. P. começou a estabelecer-se o princípio de que deveria haver mais do que uma doação de sangue por ano.

A actividade da Loja na Grande Loja foi objecto de atenção particular e a influência da Loja e dos seus obreiros no governo da Obediência, sempre em leal colaboração com o Grão-Mestre, foi reforçada pelo trabalho efectuado.

Em suma, com João D. P. a Loja atingiu a sua maturidade. A forma como trabalha não sofreu grandes alterações desde então - nem precisa! Equilibrada a Loja no seu interior, começou esta a voltar-se para o exterior, nas suas duas vertentes: na Obediência e perante a Sociedade.

Foi essa estabilidade interna, a fixação do modelo de funcionamento interno da Loja que, a meu ver, constituiu o legado do mandato do João D. P.. Daí para a frente, só foram efectuados pequenos e pontuais ajustamentos no modelo de funcionamento interno. Os Veneráveis Mestres a partir daí puderam dirigir as suas atenções para outros aspectos.

Rui Bandeira

01 outubro 2007

Maçonaria em Loja

A organização da Maçonaria Regular tem uma base de sustentação, a Loja.
E a Loja tem como base os Obreiros que a compõem.
Quero eu acentuar com este começo de texto que os Obreiros, ao nível das Lojas, são os alicerces sobre os quais toda a estrutura se levanta.

Bom…, mas sendo os Obreiros homens, seres humanos com pernas, braços e o resto, como todos os outros, interessa discorrer um pouco sobre o relacionamento entre os componentes desta estrutura que assume uma tão grande responsabilidade.
Quando alguém é proposto para iniciação na Maçonaria, necessariamente a nível de loja, é-lhe feito um inquérito e sobre isso já se escreveu aqui neste blog o suficiente para justificar que não gaste agora mais espaço com o porquê e o como do inquérito.
Mas interessa notar que sendo o inquérito, ele também, feito por homens, é evidentemente um exercício de conclusões falíveis, e pode acontecer que seja proposto para iniciação alguém que realmente não esteja em condições de admissão na Maçonaria.
Em boa verdade as exigências são absolutamente humanas, isto é, na prática apenas se exige que o candidato seja um Homem, assim com maiúscula, o que neste caso se resume no nosso dizer, “livres e de bons costumes” e queira verdadeiramente pertencer a esta estrutura.
Apenas isso.
Ainda assim pode acontecer um erro de apreciação, por parte de quem faz a inquirição ou da parte do profano que se apresenta a candidato, e quando isso acontece todos perdem.
É uma óbvia desilusão para todos, desencantamento para o candidato que só tarde percebe que afinal a Maçonaria não responde às suas interrogações e aos Irmãos que com ele contactaram porque, à alegria de receber mais um membro na Família se segue a tristeza de verificar que afinal todos estavam enganados.

O relacionamento entre obreiros da Loja constitui o betão que garante a força da estrutura, de forma a que o “prédio” resista aos temporais que de tempos a tempos acontecem, tal qual na Natureza, e do qual a história da nossa Loja Mestre Affonso Domingues, também já contada aqui, pode bem servir de exemplo.
Este relacionamento tem por base duas variáveis, a saber, os procedimentos rituais (o “Ritual” como conjunto de regras formais que regulam a vida em Loja) e a Amizade entre os Irmãos membros daquela comunidade.
É no Ritual e na Amizade entre os Irmãos que assenta tudo o resto.
Se alguma destas variáveis falha, falha a Maçonaria !

Relativamente ao Iniciado muito pouco se sabe, habitualmente.
A Loja sabe que é conhecido do padrinho que o propõe e esse, sendo necessariamente um Mestre Maçom, merece a confiança dos restantes membros da Loja.
Depois, durante o inquérito, algo mais se fica sabendo, mas são conversas curtas, 1 hora ou 2, o tempo de um almoço ou algo assim, o que é manifestamente pouco tempo para conhecer alguém com pormenor.
Quando o Profano se apresenta para iniciação raramente a generalidade da Loja conhece detalhes da sua vida profana, nomeadamente a profissão, onde trabalha, o que faz, qual o grau de formação e por aí fora.
De facto não é isto que consta por aí, mas é isto o que acontece na verdade !
O que se pede a todos os Maçons quando em Loja é que deixem “os metais à porta do Templo”, e este pedido/exigência é frequentemente mal entendido por muitos, interpretando os “metais” como sendo a bolsa com os valores que eventualmente contenham (aquilo com que se compram os melões…).
Ora os “metais” que devem de ficar à porta do Templo são muito mais subjectivos do que isso.
Esses metais devem ser entendidos como os valores aos quais a profanidade dá importância grande, mas que em vivência Maçónica não só são dispensáveis como totalmente desajustados aos valores que a Maçonaria cultiva.
São a arrogância, a vaidade e a ambição.
Esses são os metais que, de todo devem ficar à porta, para que lá dentro reine verdadeiramente, e naturalmente, a igualdade e a fraternidade objectivos finais do nosso trabalho.
Sem isso surgirão as disputas por interesses particulares, a arrogância da saliência, a ambição por lugares de destaque.

Recordo palavras do nosso companheiro de blog Templuum Petrus, “quem se humilha será exaltado, mas quem se exalta será humilhado”.

Pois saibamos verdadeiramente, convictamente, deixar à porta do Templo os nossos metais, principalmente aqueles, porque eles são o fruto da grande maioria (totalidade ?) dos desencontros entre Maçons, tal como afinal são a razão de todas as guerras.
Cultivemos e levemos connosco a capacidade de compreender as diferenças.
Porque afinal, ser amigo do que gostamos ou do que nos é igual é fácil.
O que pode ser desafio interessante é a amizade com a diferença.
E para isso a abertura de espírito e a capacidade de aceitação é uma exigência.
J.P. Setúbal

28 setembro 2007

Presença do Conde Lippe em Portugal

A - Introdução

Iniciam-se estas reflexões por um ligeiro esboço da situação político/militar em Portugal antes da Guerra dos 7 anos. Procura-se seguidamente apresentar um breve perfil do Marechal-General Conde de Lippe, quer como militar, quer como homem, fazendo referência daquilo que se julgou ser o mais importante legado ao nosso país; e conclui-se focando o Conde de Lippe como Maçon.

D. José I era o rei de Portugal e tinha como Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, a quem concedeu o título de Conde de Oeiras em 1759, e mais tarde, em 1769, o título de Marquês de Pombal.

Sem ameaças exteriores e com a necessidade interna de diminuir o poder do exército, o governo de D. José I, descurou completamente o aparelho militar. O Marquês de Pombal, por desafecto às instituições militares, ou porque de todo o absorvia o delírio de aniquilar a companhia de Jesus e a Nobreza, recordo que só os nobres tinham acesso aos postos mais elevados da hierarquia militar, tornou-se tão sensível a degradação do exército e a sua penúria, que teve dificuldade em reunir tropas que policiassem Lisboa após o terramoto de 1755. Portugal estava em paz há 48 anos, desde a guerra de sucessão de Espanha (1701-1714). Os militares desabituaram-se de suportar as armas, os generais de suportar a disciplina e o poder político de suportar o exército, na prática, não existiam Forças Armadas. Em 1756, deflagrou, para a época, uma autêntica guerra mundial – a guerra dos 7 anos – entre a França e a Inglaterra. Portugal manteve-se neutral, solução aparentemente lógica, mas a verdadeira razão desta postura, era e tem-no sido frequentemente, por não termos Forças Armadas que nos permitissem batermo-nos com as potências beligerantes, ou melhor, a ausência de Forças Armadas. Contudo, um encontro naval entre as esquadras Inglesas e Francesas em águas territoriais Portuguesas, com a subsequente derrota Francesa e a perseguição aos navios Franceses até junto dos Fortes da cidade de Lagos. Este episódio serviu de motivo para reclamações da França e uma posterior invasão do território nacional por forças espanholas, em 1762, que se tinha mantido também neutral. Mas, após a subida ao trono de Carlos III em 1759, anti-britânico, facilitou uma aliança entre a Espanha e a França, denominada na época “Pacto de família” assinado em 15 de Agosto de 1761, pois os Bourbon reinavam em França, Espanha, Nápoles e Parma. De salientar que D. José I recusou-se a aderir ao pacto, em virtude da velha aliança Luso-Britânica.

Toda a política externa de Portugal andava à volta da antiga aliança com a Inglaterra, mais por interesse de manter as suas ex-colónias, nunca se virando para a Europa, fronteira terrestre. País ribeirinho e projectado pelo mar nos outros continentes, encontrou-se sempre numa situação incómoda de ser fronteira, zona de interesse, campo de manobra, margem de discussão e apetites, das grandes potências europeias, entre os poderes marítimo e continental – a dialéctica entre o mar e a terra. Porque a geografia é tirânica e persistente, não era a 1ª vez que enfrentávamos este dilema, nem seria a última – com Napoleão de 1801 a 1814, a situação ainda foi mais dramática pela intensidade da luta. Situação que ainda hoje persiste, embora atenuada pela perda do Ultramar.

O Conde de Oeiras solicitou ajuda para a defesa do território pela invasão das tropas Espanholas à Inglaterra. O pedido era explícito na necessidade de nomear um “Mestre-de-Campo-General” que conseguisse organizar o exército, e o envio de uma vasta quantidade de equipamento e tropa. O Rei de Inglaterra, Jorge II, escolheu Guilherme Schaumburg-Lippe, conde reinante do pequeno condado Schaumburg-Lippe desde os seus 24 anos de idade. O Conde de Lippe, embora fosse Alemão de nascimento, possuía uma elevada reputação militar e gozava de grande estima, até porque era membro da família real Inglesa.

B – O conde Lippe como militar:

O conde Lippe chegou a Portugal em 02.07.1762 regressando ao seu condado em Setembro de 1764 e fazendo uma visita a Portugal no período 1767-68, fez-se acompanhar por vários oficiais alemães, entre os quais, o príncipe Carlos Luiz Frederico, Duque de Mecklamburg, marechal de campo do exército Inglês e irmão da rainha Inglesa. O Conde de Lippe verá consagrado o tratamento por Alteza Sereníssima, ocupará o lugar cimeiro da hierarquia e debate os problemas directamente com o Conde de Oeiras. A sua autoridade encontra-se plenamente consolidada após o episódio, real ou inventado, do atentado contra o Rei D. José I, e a espectacular eliminação física de um conjunto de elementos da primeira nobreza, considerados como “conspiradores”.

O Conde de Lippe assentou praça nas guardas inglesas, posteriormente passou à marinha e esteve na companhia contra os turcos em 1745. Em 1748, sucedeu ao seu pai no governo do seu condado. No começo da guerra dos 7 anos (1756) ligou o exército que organizara, segundo as regras prussianas, às tropas de Hanôver. Teve o cargo de grão mestre de artilharia, tomando parte em várias batalhas. Para um militar experiente no campo de batalha e que acompanhava a evolução dos exércitos mais modernos da época, quando chegou a Portugal, verificando o estado do nosso exército e para fazer face à invasão das tropas Espanholas, concentrou o seu primeiro esforço em disciplinar o exército. Fê-lo, quer no campo da moral, tentando acabar com uma das maiores fontes de deserção das praças e do descontentamento dos oficiais – o pagamento do pré atempadamente. No campo material, procurou fardar e equipar o pessoal o melhor que pôde.

Em 1762, inicia-se a invasão espanhola e as primeiras 5 praças, caíram sem que tivesse sido dado um tiro. O Conde de Lippe, avaliando um fraco valor militar das suas tropas, procurou apenas obstar a que o exército espanhol não entrasse muito em território nacional, mas o suficiente para ter que se dispersar e limitou-se a uma guerra de posição, concebendo a sua estratégia:

- Conseguiu mobilizar a população para o conceito do “direito de defesa” em que atacava as rectaguardas e flancos e essencialmente as colunas de reabastecimento. Tipo guerra de guerrilha.

- Constitui um exército de 15.000 homens em igual proporção de portugueses e ingleses dispersando-os em 5 destacamentos que os colocou em expectativa, de modo a poder lançá-los, com oportunidade, nos pontos ameaçados, para ofensivas rápidas, mas determinadas.

- Guarneceu as praças com as tropas menos preparadas

Madrid, apercebendo-se da estratégia montada, obrigou à suspensão da ofensiva, querendo substituir o Comandante da Forças – Marquês de Sarria - pelo Conde de Aranda, oficial mais experiente em campanha.

Esta quebra de ímpeto, permitiu ao Conde Lippe, rearticular os seus destacamentos, manobrando-os em reacção ao inimigo. Entretanto, a paz de Fontainebleau pôs termo à guerra dos sete anos e fazia suspender as operações entre Portugal e Espanha. O tratado de paz definitivo que assegurou a restituição recíproca de prisioneiros e a devolução das praças ainda ocupadas (Chaves e Almada) só foi assinado em 10 de Fevereiro de 1763, sendo publicado em Lisboa no dia 25 de Março. Desde o início da campanha e durante ela, teve contra si, a má vontade dos vedores (entidades que tinham por missão o pagamento dos salários e aquisição dos géneros e artigos militares) como também da maioria dos generais e oficiais superiores, fidalgos aparentados entre si. O Conde era militar das luzes desejoso de aprender, intelectual e militar ímpar, ao contrário da grande maioria dos oficiais portugueses de perfil tradicional.

Ao perfil do Conde de Lippe, permito-me sublinhar ou acrescentar alguns traços, que parece justo serem realçados:

  1. Grande capacidade de comando. Se comandar é o correcto exercício da autoridade sobre as forças militares e a autoridade é a capacidade de ser obedecido, ele conseguiu, com a prudência e o tacto que a difícil situação recomendava, mas com um elevado sentido de responsabilidade e perseverança, tornando-se efectivamente no Comandante do Exército Português.

  2. Sentimento de honra. Servindo um rei estrangeiro em terra alheia, desinteressado dos bens materiais e repouso que a condição lhe merecia. A transformação que exerce no espírito do soldado Português, aliás, como ele descreve nas suas memórias “Admirável perseverança do soldado português”, que suportou as maiores privações, e que, não obstante o pronto estrago do calçado, marchava alegremente por aqueles caminhos de agudos rochedos, deixando por toda a parte vestígios dos seus pés ensanguentados.

  3. Elevada capacidade de organização. Sendo já evidente na campanha de 1762, ficou sobejamente comprovada pela sua acção posterior, pelo cuidado posto na reorganização do exército.

C – O Conde Lippe como homem:

Vejamos em breves traços o seu perfil e personalidade. O conde chegou a Lisboa em 2 de Julho de 1762, com 38 anos, de nome completo Frederico Guilherme Ernesto, filho do conde Alberto Wolgang, estudou em Leida e Montpelier. Era versado em matemática, ciências militares, artilharia, história, filosofia e ainda ciências políticas a até medicina. Dominava várias línguas e foi grande amador musical, exímio executante de cravo e violino. Além da vastíssima cultura intelectual, era dotado de forte constituição física, sóbrio na alimentação e pouco dormia. Era forte na esgrima, cavalgando admiravelmente e muito ágil no salto em altura. Magro, nervoso e robusto, de testa larga, olhos rasgados e proeminentes. Inteligente e benévolo, era sóbrio na palavra, mas esta corria-lhe sempre lúcida e afável. Trajava, sempre fato azul singelo, sempre abotoado, não se distinguindo senão pela cruz da Águia Negra bordada, que usava sempre na sobrecasaca. Andava sempre de chapéu armado e de botas altas.

Não resisto a transcrever, como o seu secretário e intérprete, Manuel Arriaga Brun da Silveira, o descreve: “ O que desculpa e disfarça tudo, é o Sr. Marechal, menos o que respeita ao serviço de El-Rei, em que então não se pode conter. Não vi homem mais desprezador dos trabalhos, das fadigas, do fausto; reparte o tempo no conhecimento do país e na expedição das ordens e exposições. É inimigo da lisonja, do cortejo, do cortejo, do aplauso; o que quer é ver o soldado, o oficial no seu posto; dá com uma cega generosidade e mostra não saber o que é uma moeda de 6.400; é calado, amigo do silêncio e da ordem”.

D – Transformação do exército – Legado

Terminada a campanha de 1762, o conde de Oeiras não quis descurar o problema militar e, protelando a partida do Conde de Lippe, desejoso de regressar a casa, aproveitou a sua permanência para dotar o exército de uma nova organização e de regulamentação adequada a consolidar a disciplina das tropas e promover a sua instrução

O Conde de Lippe, pela sua experiência concluiu, que só poderia ter êxito se se verificasse:

- Total envolvimento do poder político nessa transformação. Este tem de compreender a necessidade da mudança, disponibilizar recursos e acima de tudo acompanhar o processo de mudança, já antevia a necessidade de subordinação das Forças Armadas ao poder político.

- A transformação das forças armadas tem de ser sentida e levada a cabo por toda a hierarquia da organização nomeadamente na sua estrutura superior, principalmente a capacidade de liderar a motivar toda a cadeia de comando.

- Em resumo, para se efectuar a mudança militar, são essenciais três fontes: normas culturais, a política e a estratégia, e novas tecnologias.

Elaborou os regulamentos sobre:

- Pessoal: Regionalização do recrutamento

- Justiça: A manutenção da disciplina nas fileiras constitui uma das suas principais preocupações, tendo sido introduzido pela 1ª vez o conceito de foro militar.

- Liderança: O Conde acaba definitivamente com as promoções por favor adoptando critérios de competência e mérito. Passa a ser-se nobre por ser oficial e deixa de haver oficiais só por serem nobres.

- Ensino: Cria o real colégio dos nobres, assim como bibliotecas em todas as unidades militares. Segundo afirmava – a leitura serve para se formar o espírito militar e prover-se de ideias: por ela se enriquece com as luzes e com a experiência dos outros.

- Treino: Determina a execução de manobras militares, periódicas, com o objectivo do ensino e prática das evoluções e implementação de novas tácticas. Faz com que o poder político, representado pelo rei e pelo primeiro-ministro, estejam presentes.

- Tecnologia: Restaura várias fortalezas e a construção do Forte da Graça em Elvas completou o sistema defensivo.

Posteriormente e com a partida definitiva do Conde de Lippe, o governo do Marquês de Pombal desinteressou-se pela sua obra, quase em absoluto. Segundo alguns autores, a inexistência de um exército forte, disciplinado e bem comandado deriva de uma deliberada intenção do Conde de Oeiras de não criar algo que pudesse constituir um entrave à forma como exercia o poder.

Em conclusão, o legado do Conde de Lippe, não são apenas livros e documentos que podemos ler em transcrições, ou que dormem tranquilamente na poeira dos arquivos. O seu legado é o exemplo do profissionalismo, a transcendência da missão de defesa, a actualidade de muitas das suas preocupações. É enfim, a necessidade de o reler, para quem tem, por dever conseguir a nossa defesa sem termos que chamar, outra vez, um Conde de Lippe.

E – O Conde de Lippe como maçon:

Como já referi, o Conde de Lippe residiu em Portugal de 2 de Julho de 1762 a 20 de Setembro de 1764, e, posteriormente, de 16 de Setembro de 1767 a 1 de Março de 1768. Era maçon de rito alemão da estrita observância. Através do seu perfil, já pudemos observar, que nele imperavam os valores sagrados de uma espiritualidade humanista e de uma ética radicada no respeito pelo semelhante e pela sociedade. Observava com rigor a fraternidade assente na igualdade de oportunidades e na correcção das desigualdades, no respeito por todos. Praticava a tolerância, a paz e compreensão, única forma de tornar profícua a busca da luz.

Rodeou-se de oficiais também maçons, que trouxe consigo para Portugal. O seu papel na Maçonaria foi relevante desde 1762, quando os seus oficiais, conquistaram adeptos em franjas do tecido social, principalmente no exército, mas também na nobreza, diplomacia, mercearia e cultura. Fundaram-se várias lojas: em Lisboa, Valença, Funchal, Coimbra, Almada, Elvas, Olivença, Estremoz e outras, onde quer que existissem guarnições militares importantes. E quando não houve oportunidade, ou iniciativa, para a instalação de oficinas, houve “irmãos“, dispersos por todo o país que difundiram os ideais maçónicos, contribuindo para o seu melhor conhecimento por parte dos Portugueses. A tradição da profunda influência do Conde de Lippe na Maçonaria Portuguesa mantinha-se ainda bem viva em meados do século XIX, conforme declarações de “irmãos” bem informados, como Silva Carvalho em 1846, ou Miguel António Dias em 1853.

A sua intervenção teve ainda mais relevo, até porque na época, a Maçonaria encontrava-se adormecida, pelas seguintes razões:

Em 28 de Abril de 1738, o Papa Clemente XII, a coberto da bula In Eminenti Apostolatus Speculu, formulou a primeira das muitas condenações da Igreja Católica contra a Maçonaria. Condenava e proibia os conventículos, local de reunião dos Pedreiros-livres, proibia aos católicos que neles entrassem, ou de qualquer forma, que os propagassem, ocultassem e auxiliassem, sob pena de excomunhão, e ainda ordenava aos bispos e aos inquisidores que inquirissem os transgressores e contra eles procedessem, castigando-os.

O inquisidor-mor Português, cardeal D. Nuno da Cunha, lembrando a existência de lojas maçónicas em Portugal e a consequente necessidade de fazer publicar a bula em Lisboa quanto antes.

O Edital da Inquisição, datado de Lisboa a 28 de Setembro de 1738, após sumariar a bula papal, admoestava e exortava todos os católicos portugueses e residentes em Portugal, a que lhe dessem cumprimento, e mandava, sob pena de excomunhão, que todos, quer eclesiásticos quer seculares, denunciassem ao Santo Ofício, as lojas ou assembleias maçónicas que conhecessem, dentro do prazo de 30 dias. Para que não se pudesse alegar desconhecimento, o edital era enviado aos abades, priores, reitores do reino e conquistas, para que o lessem e publicassem nas igrejas e fizessem afixar às respectivas portas.

Assim, a intervenção violenta do poder inquisitorial travou durante algum tempo a expansão da Maçonaria.

Com a morte de D. João V, a 30 de Julho de 1950 e a subida ao trono de D. José, o poder caiu gradualmente nas mãos de Sebastião José de Carvalho e Melo, futuro Conde de Oeiras e Marquês de Pombal.

Acontece que o novo ministro nunca permitiu que a inquisição perseguisse os maçons.

A razão mais plausível, é que Carvalho e Melo pode ter sido iniciado Maçon em Londres, entre 1738 e 1744, ou, com menos probabilidade em Viena, entre 1745 e 1749, tal como foi aceite sócio da prestigiada Royal Society. Em Viena, conviveu com Maçons conhecidos e ilustres, p. ex. Manuel Teles da Silva, duque e príncipe de Silva Tarouca, e dá-se como certo que tivesse visitado a loja “Aux Trois Canons”.

Verificou-se uma tolerância plena para com maçons confessos, guindando-os aos mais altos cargos e favorecendo-os com a sua protecção declarada.

O quarto de século que grosso modo, correspondem à governação de Sebastião José Carvalho e Melo – Marquês de Pombal, além de ser rico em iniciações, quer de cidadãos nacionais que residiam no território, como tivemos oportunidade de verificar, também aqueles quer que residissem no estrangeiro ou de passagem, pertencentes às mais variadas profissões, verificam-se uma riqueza de simbologia maçónica, nomeadamente em construções, fotografias e estátuas.

BIBLIOGRAFIA:

1 – História da Maçonaria em Portugal de Oliveira Marques
2 – Maçonaria Regular de José Manuel Anes
3 – General Barrento – O exército português antes e depois do Conde de Lippe
4 – Um olhar actual sobre a transformação do Conde de Lippe de Miguel Freire
5 – Nova história militar de Portugal.


A. M. L.

27 setembro 2007

O décimo Venerável Mestre

Uma das vantagens do sistema de sucessão no exercício do ofício de Venerável Mestre informalmente instituído na Loja Mestre Affonso Domingues (e também em muitas outras Lojas, das mais diversas Obediências, ritos e latitudes) é que possibilita ao 1.º Vigilante um ano completo para analisar a Loja, verificar os seus pontos fortes e fracos, meditar sobre qual a melhor forma de dar o seu contributo aquando do exercício do seu mandato como Venerável Mestre - em suma, concede ao 1.º Vigilante um ano inteiro para preparar o seu projecto para o ano seguinte.

Dadas as circunstâncias em que eu fui designado/nomeado/empurrado/nomeado voluntário para ser 1.º Vigilante, eu utilizei esse período de reflexão para meditar sobre a melhor forma de evitar que situações semelhantes ocorressem num futuro próximo.

Foi neste estado de espírito que o mandato do décimo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Rui Bandeira, eu próprio, foi iniciado.

Tinha de confiar no instinto. E o instinto acenava-me que as circunstâncias que me tinham tornado Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues um ano antes do normal reflectiam uma debilidade, um ponto fraco da Loja a que havia que começar a dar remédio: a Loja seguia disciplinada e confiantemente, mas também, de alguma forma algo acriticamente, o seu líder, o Venerável Mestre em funções. Toda a evolução que, ao longo de quase uma década a fizera crescer e trabalhar e unir-se também tinha levado a essa consequência, para mim nefasta: a Loja era disciplinada e unida (muito unida!), mas em torno do seu líder, não em torno do grupo. A sucessão de eventos ocorrida, a frequente necessidade de actuar com espírito de corpo e em uníssono, habituara a Loja a reagir à voz de comando do líder em funções e a executar as suas determinações. Isso era bom, na medida em que a Loja era disciplinada, eficaz e unida. Mas não bastava e era, sobretudo, perigoso. A quase pavloniana execução das determinações do líder do momento tornara a Loja uma Loja do Venerável, quando, ao invés, o Venerável é que é da Loja!

Havia que, sem perder o que era vantajoso - disciplina, espírito de corpo, eficácia, união - começar a criar as condições que impedissem que um qualquer Venerável, por erro ou desvario, um dia conduzisse ordenada e disciplinadamente a Loja para o abismo, se fosse esse o resultado das suas escolhas acriticamente seguidas!

A reflexão que pude efectuar, entre a minha eleição, em Julho de 1999, e a minha instalação, em Setembro seguinte, conduziu-me a esta conclusão, muito em resultado de algo que bastante me impressionou: todos sabiam que, normalmente, seria João D.P. que deveria ter sido nomeado 1.º Vigilante e vir a suceder a Luís P., não eu; no entanto, anunciado por Luís P. que o seu 1.º Vigilante afinal seria eu, ninguém questionou, ninguém, pelo menos publicamente, levantou dúvidas ou perguntou a razão da quebra do hábito, todos disciplinadamente aceitaram a indicação do Venerável Mestre e eu fui instalado com a habitual placidez! No entanto, o normal teria sido que, ao menos, tivesse sido questionada a razão da quebra da regra informal que, desde o início, era seguida na Loja! E mesmo que alguns manifestassem o seu desagrado!

Decidi, pois, aproveitar a imensa confiança que a Loja depositava no seu Venerável Mestre para a tornar mais crítica, para a habituar a decidir - e não a apenas seguir a decisão daqueles a quem ia confiando o exercício da função de Venerável Mestre. Para tal, havia que voltar a habituar a Loja a debater, a discutir, a pesar em conjunto razões e argumentos e, finalmente, a decidir, ela própria, o grupo. Só assim seria possível que, a seu tempo, o Venerável Mestre regressasse aos limites da sua função: dirigir a Loja, em consonância com o caminho escolhido por esta - não determinar à Loja o caminho que ela devia seguir.

As ordens de trabalhos de todas as reuniões do meu mandato passaram a incluir sempre, pelo menos, um tema, um assunto, para discutir e decidir. Ao princípio foi difícil! Recordo-me que, nas duas primeiras reuniões, quando eu coloquei o assunto do dia à discussão, ocorreu uma pausa de embaraçado silêncio, ninguém tomando a iniciativa... Nesse início, um pouco penoso, foram o João D. P., o meu ultrapassado 1.º Vigilante, e o José Ruah quem iam salvando a situação. A pouco e pouco, porém, a Loja foi recuperando o hábito de discutir, de pesar prós e contras, em suma, de decidir. No final do meu mandato, as reuniões já eram muito mais participadas e a Loja começava a deixar de ser uma Loja que se limitava a seguir o seu Venerável Mestre e recuperava o seu antigo dinamismo, enquanto grupo.

Recebi uma Loja de Venerável e entreguei ao meu sucessor uma Loja com Venerável. Esse foi o contributo que dei à Loja Mestre Affonso Domingues no ano em que fui seu Venerável Mestre.

Fi-lo com a colaboração de um Quadro de Oficiais que, além do ex-Venerável Luís P., era constituído pelos seguintes elementos, que foram imprescindíveis e essenciais para o normal desenrolar do mandato:

1.º Vigilante - João D. P.
2.º Vigilante - José M.
Secretário - José Ruah
Tesoureiro - Alberto R. S.
Orador - Luís R. D.
Mestre de Cerimónias - Rui D. R.
Experto - Ruy F.
Hospitaleiro - Vítor E. C.
Guarda Interno - Jean- Pierre G.
Organista - Alexis B.
Editor - António P.

A todos um muito obrigado!

Rui Bandeira