26 fevereiro 2009

Ritos e rituais

José Restolho, um profano atento a este blogue e que tomou a iniciativa de se corresponder comigo, interessa-se, manifestamente, pelo tema do ritual. Já anteriormente me questionara a propósito deste tema, dando origem ao texto Pergunta de profano. Agora, enviou-me um novo e curto texto, no qual regista a sua visão de profano sobre ritos e rituais, algo que os maçons assumidamente praticam. Ao enviar-me este texto, o meu correspondente pretendia um comentário meu sobre o seu teor. Mais do que me limitar a corresponder a esse pedido, entendi por bem fazê-lo aqui no blogue, para tanto tendo solicitado e obtido autorização para publicar o pequeno texto que segue.

Bom mais uma vez, aproveito para deixar aqui o meu profano testemunho, desta vez sobre os ritos maçónicos.


Um dos aspectos da maçonaria que mais confusão provoca aos profanos é sem sombra de dúvida a existência de ritos “esotéricos”. Muito se tem especulado sobre a sua natureza, desde conspirações políticas, ritos de carácter satânico, etc. Gostaria então de começar com uma pergunta simples:


-O que é afinal um ritual?


Fazendo uma busca simples na auto-estrada da informação, conclui que um ritual é nada mais, nada menos do que “um conjunto de gestos, palavras e formalidades, várias vezes atribuídas de um valor simbólico, cuja performance das quais é usualmente prescrita por uma religião ou pelas tradições da comunidade.” Proponho agora ao leitor que pare para reflectir sobre aquilo que o rodeia. Eu propus-me a fazer o mesmo e apercebi-me que no final de contas estamos rodeados por rituais e não me refiro apenas aos ritos religiosos (baptismo, matrimónio, missa, etc). Por exemplo no meio académico, as tão polémicas praxes, que no fundo figuram um rito iniciático da vida académica (muito se pode escrever sobre a praxe, mas prefiro deixar esse tema para outro texto), ou ainda a queima das fitas, um rito de passagem tão carregado de simbolismo (o fim de uma grande caminhada e o início de uma outra ainda maior). Nas artes marciais, todo o cerimonial de entrada no dojo, de início e de fim de aula.


Muitos mais exemplos poderiam aqui ser descritos mas, com o produto desta minha modesta reflexão, pretendo apenas fazer uma ponte entre o profano e o maçónico e de alguma maneira contribuir para o derrubar dos vastos preconceitos existentes em relação à Maçonaria.


O texto de José Restolho explana, com acuidade, um ponto de vista possível de um profano, designadamente de um profano que procura conhecer e analisar, sem preconceitos, o fenómeno da Maçonaria. Muito acertadamente, regista que ritos e rituais não são realidades exclusivas da maçonaria, Existem em muitas atividades sociais, de diferente natureza. Por regra, tudo o que assume alguma importância para um conjunto de pessoas é ritualizado.
A espécie humana sente-se confortável com rituais. Transmitem-lhe segurança, identificação.

Os rituais maçónicos partilham desses desideratos e acrescentam mais outro: forma de preparação para aquisição de conhecimentos, forma de despertar a atenção para aspetos da vida interior, do Homem, da Sociedade e do Universo que, sem eles, seriam mais dificilmente identificáveis.

O ritual influencia o humano através de algo a que só muito recentemente a Ciência começou a dar atenção: a inteligência emocional, aquele espaço que está entre a Razão e a Emoção, ou, se quisermos, o ponto por onde os sentimentos e emoções influenciam a Razão. E, inversamente, o território onde, através da Razão,se influenciam as emoções. Um ritual, bem elaborado, bem executado, bem dirigido, pode, à pessoa certa e apta, preparada, para tal, influenciar, desenvolver, abrir horizontes mais largos do que todo um curso com longas e trabalhosas horas de estudo. Um ritual bem feito, relevante, é normalmente complexo e pormenorizado. E há aspetos que só se revelam após se ter apreendido noções que previamente se impunham fossem apreendidas.

Executo e assisto a rituais maçónicos há cerca de vinte anos. Alguns rituais já foram por mim presenciados dezenas, centenas de vezes. Não me é incomum, subitamente, uma qualquer passagem, um qualquer gesto ou ato, uma qualquer chamada de atenção, despertar em mim o acesso a um novo significado, uma distinta relação, um inesperado caminho de análise ou especulação. Não porque nas dezenas ou centenas de vezes anteriores tenha estado desatento. Mas porque é então, e só então, que estou preparado para descortinar esse aspeto. Razão e emoção. A sua interligação, a sua mútua influência, a forma como cada uma pode potenciar a outra, só muito recentemente começaram a ser estudadas em conjunto. Os maçons, através dos seus rituais, há muito que, empiricamente, exploram essa relação. Todos os rituais com significado para as pessoas existem e afirmaram-se e são praticados, porque correspondem a uma necessidade humana de os praticar. Porventura sem se saber porquê, quiçá quem os pratica inconsciente do plano de relação entre a Razão e a Emoção que os torna importantes.

Rui Bandeira

25 fevereiro 2009

Curso para Aprendizes e Companheiros (2)

No dia 10, publiquei aqui o texto Curso para Aprendizes e Companheiros. Verifiquei depois que este texto serviu de fonte para um texto informativo idêntico publicado no blogue italiano Arco Reale Rito de York. A Internet é assim, possibilita que uma notícia corra mundo com grande celeridade.

Nas informações incluídas no mencionado texto, constaram apenas os temas dos primeiros módulos de Aprendiz e Companheiro - porque só relativamente a esses obtive informação. Entretanto, posso agora completá-la.

O segundo módulo de Aprendiz será dedicado ao tema Arcabouço legal da Maçonaria, Regulamento Geral Federal, Constituição e Landmarks. O segundo módulo de Companheiro tratará o tema Simbolismo do grau e compreensão do ritual. Estes módulos serão ministrados no dia 7 de março.

No dia 4 de abril, lecionar-se-ão os terceiros módulos de Aprendiz e de Companheiro, com os temas, respetivamente, Comentários e estudo do ritual e As sete ciências e as sete artes liberais.

Finalmente, no dia 9 de maio, os quartos e últimos módulos serão disponibilizados. O tema para os Aprendizes será Simbolismo e esoterismo do grau. Os Companheiros dedicar-se-ão também ao Esoterismo do grau.

Para mais informações, reler o texto acima mencionado ou consultar o blogue da Grande Secretaria de Cultura e Educação do Grande Oriente de São Paulo.

Rui Bandeira

23 fevereiro 2009

Encontros no Pará

Organizados pela Grande Loja Maçônica do Estado do Pará, terão lugar, entre 5 e 7 de março de 2009, no município de Santarém (Pará, Brasil), o IV Encontro de Grão-Mestres da Região Norte (do Brasil) e o I Encontro das Damas da Fraternidade do Oeste do Pará (ou seja, o I Encontro das Cunhadas do Oeste do Pará).

São objetivos do evento promover a união e o engrandecimento das Grandes Lojas Maçónicas da Região Norte do Brasil e incentivar o encontro de Irmãos e Cunhadas, para troca de experiências, promovendo a união e a fraternidade.

Entre as 9 e as 17 horas de quinta-feira, 5 de março, decorrerá, no Hotel Amazônia Boulevard, a credenciação dos e das participantes. Pelas 18 horas, no Palladium, iniciar-se-á a sessão de abertura. Pelas 18,30 horas, decorrerá uma palestra conjunta, para os maçons e cunhadas, dedicada ao tema Fraternidade e família: Como isso pode mudar o mundo? Pelas 19,30 horas, será a altura de ocorrer um evento regional, a apresentação do boto cor de rosa. Às 21,30, o dia encerrar-se-á com um Cocktail.

Na sexta-feira, dia 6, os trabalhos decorrerão em separado, os dos maçons no Salão Alter do Chão e os das senhoras no Salão Tucunaré. Pelas 9 horas, os maçons assistirão à palestra dedicada ao tema Unificação da Ritualística Maçónica, que será proferida pelo Past Grão-Mestre da Grande Loja do Estado do Pará, Irmão Washington Lucena Rodrigues. À mesma hora, as cunhadas assistirão à palestra intitulada As damas da Fraternidade e o trabalho filantrópico, proferida pela Dra. Lenimar de Oliveira Vaz, médica pediatra e vice-presidente da Associação Comunitária Damas da Fraternidade. Às 10 horas, as senhoras assistirão à palestra sobre o tema Quarenta anos de filantropia, sendo palestrante Sheilla de Castro Abdud Vieira, professora de arte, enquanto os maçons dedicarão a sua atenção à palestra intitulada A ética maçónica nos tempos modernos, proferida pelo Juiz Federal do Trabalho Irmão Océlio de Jesus Moraes. Após um intervalo para café, entre as 11 e as 11,20horas, os trabalhos recomeçarão, quanto aos maçons, com uma palestra sobre Fraternidade Maçónica, que será proferida pelo Grão-Mestre do Estado do Acre, Irmão Luiz Saraiva Correia, enquanto as senhoras efetuarão uma mesa-redonda, coordenada por Goretti Miranda e por Patrícia Lima, esta última Presidente da Associação Damas da Fraternidade da Grande Loja Maçônica do Estado do Pará. Da parte da tarde, pelas 15 horas, no Salão Alter do Chão, terá lugar uma reunião com os delegados dos distritos maçónicos do Oeste do Pará, enquanto no Salão Tucunaré decorrerá uma mesa-redonda com os Grão-Mestres dos Estados. Pelas 19,30 horas, no Palladium, será proferida uma palestra conjunta para maçons e cunhadas intitulada A Amazónia e a Biodiversidade, proferida pelo Irmão Gilberto Pinheiro, Vice-Presidente do Tribunal de Justiça Estadual do Amapá. Pelas 20 horas, iniciar-se-á o convívio social, com a apresentação da orquestra jovem Wilson Fonseca e, pelas 21,15 horas, haverá um jantar-dançante, com Walsinho e Banda.

O sábado, dia 7, será dedicado a um passeio a Alter do Chão (Pará, Brasil) e no domingo ocorrerá a despedida das delegações e o regresso a suas casas.

Rui Bandeira

22 fevereiro 2009

O perfil e o Segredo de um Venerável justo e perfeito


Antes de mais, importa esclarecer que o cargo de V:. M:. não deve ser encarado como um passo inevitável no percurso de um maçon. Pretendo com isto dizer que, eventualmente, nem todos os maçons chegarão a ser VV:. MM:., já que o critério de escolha deve ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade.
Anualmente é eleito pelos seus pares um novo Venerável Mestre que, entusiasmado pelo cargo, cheio de enorme boa vontade e responsabilidade, prepara o seu programa de actividades, nem sempre o conseguindo cumprir com o êxito desejado. Isso pode ser visto através da forma como a Loja evolui ao longo do Veneralato:
  • pelo nível de envolvimento e adesão dos II:. às actividades da Loja,
  • pelo nível de indiferença ou ausências às Sessões;
  • pelo nível de não cumprimento de compromissos junto do Tes:.,
  • pela falta de apoio, comprometimento, incompreensão e afastamento de alguns Irmãos.
Formalmente falando, o V:.M:. deve ser um homem sensato, de conduta irrepreensível, com as qualificações para ensinar e para aprender a desempenhar muito bem a sua função. É preciso iniciar a jornada pela base, pelo estudo, de modo a não nos faltar a paz, o equilíbrio e a tolerância para discernir quem será o melhor candidato.
Um brilhante orador, professor, empresário, médico, juiz ou advogado, nem sempre pode ser qualificado para "guia dos Irmãos" de uma Loja Maçónica. Ter um nome famoso, riqueza e posição social, dispor de força ou de autoridade, não são qualificações para este fim.
Devemos ter a certeza de que ele possui conhecimentos maçónicos, compreensão e prática da fé raciocinada que deverá utilizar para facilitar a jornada evolutiva de todo o quadro de obreiros da Loja. Devemos também assegurar-nos de que tem a vontade "correcta" para desempenhar este cargo.
A vaidade pode conduzir um homem a considerar-se poderoso e infalível; porém, os mais avisados sabem que na Maçonaria não existem "poderosos e infalíveis" e, sendo uma fraternidade, não há outra Instituição onde melhor se aplique o lema: "liberdade, igualdade, fraternidade".
Um dos problemas internos das Lojas é que muitos Irmãos mais presunçosos e despreparados, depois de serem exaltados, deixam de estudar, achando que atingiram a "Plenitude Maçónica".
Estes são os primeiros a tentar encontrar vias rápidas e alternativas para serem candidatos ao cargo de V:.M:., tendo sucesso em Lojas que, sem critérios ou cuidados, promovem a sua eleição, propiciando o desrespeito pelas tradições da Ordem por pura omissão, conivência ou até cobardia. Outras vezes Irmãos, por melindres, intrigas, ou apenas pela satisfação de vaidades pessoais ou birra, indicam candidatos para o "trono de Salomão", somente em função dos seus relacionamentos.
Estes candidatos, uma vez eleitos e empossados, pouco contribuem para a Ordem Maçónica e/ou para a Loja, tendem a banalizar a ritualística, ou a achar que mudar e inventar futilidades é sinónimo de modernização e inovação.
É necessário que meditem sobre a disciplina que envolve o estudo, a reflexão em torno dos princípios maçónicos, e o empenho responsável de renovação do verdadeiro maçon.
O que devemos fazer para ajudar a impedir o sucesso desses insensatos que faltam à fé jurada?
  • Percebendo qual será o seu "programa administrativo ou de trabalho";
  • Vendo o modo como se comportaram nos cargos exercidos nos últimos anos;
  • Avaliando se aprenderam a lidar com o diferente;
  • Percebendo que grau e que tipo de envolvimento têm com a Loja e com os II:..
  • Considerando o seu carisma, ou seja, as suas qualidades de liderança.
É imprescindível ter também em consideração aspectos como, o conhecimento doutrinário; se chefia a sua família de forma ajustada; se dispõe de tempo disponível que possa dedicar à Loja e à Ordem, sem com isso prejudicar a sua actividade profissional e familiar, etc. Quanto mais claramente conseguirmos ver as qualidades do candidato, mais valioso ele se torna para nós.
Somando o conjunto destas e de outras qualidades, podemos avaliar se, no seu conjunto, o candidato reúne o necessário para assumir este desafio.
Uma escolha apressada de alguém desqualificado poderá trazer resultados muitas vezes desastrosos. Não bastam anos de frequência às reuniões ou a leitura de alguns livros maçónicos, para se dominar o conhecimento exigido.
Para desempenhar este cargo, é preciso estudar - única forma de alcançar o conhecimento necessário - porque aprender é, evidentemente, um acto de humildade. Mas para adquirir sabedoria, é preciso observar. Só assim conseguiremos, ao invés de colocar o homem no centro de tudo, descobrir o tudo que está no centro do homem.
Para desempenhar este cargo, é preciso também "estarmos envolvidos"; é preciso preocuparmo-nos com os nossos II:., com a Loja em si mesma, com a Ordem, etc. Em resumo, é preciso sentirmos que o nosso percurso está intimamente ligado a todos os que de alguma forma se relacionam, directa ou indirectamente, com a Loja. Desempenhar as funções de V:. M:. implica reconhecer quem são estes "stakeholders", e investir no reforço das suas ligações à Loja e entre eles próprios.
O candidato, quando preparado e com o perfil adequado, pode desempenhar esta missão, conduzindo-a com mãos suficientemente fortes para afagar e aplaudir; sabedoria para ensinar e modéstia para aprender, e por este conhecimento, fazer-se paciente, puro, pacífico e justo; adquirindo a aptidão para reconhecer o seu limitado poder e abundantes erros; a sua capacidade e suas falhas; os seus direitos e deveres; dispor de força para, ciente de tudo isso, libertar-se das paixões humanas e assim adquirir a antevisão e o equilíbrio necessários para se livrar dos obstáculos no seu Veneralato, levando Paz, Amor Fraternal e Progresso à sua Loja.
O V:. M:. escolhido tem que ser um líder agregador que entusiasme os seus Irmãos pela sua dedicação e abnegação à Maçonaria. Os grandes Mestres sabem ser severos e rigorosos sem renegarem a mais perfeita benevolência. Tratam os Ilr:. da forma como desejam ser tratados e ajudam-nos a serem o que são capazes de ser: filhos amados do Grande Arquitecto do Universo, portanto IRMÃOS.
O V:. M:. precisa compreender que assiste ao outro o direito de ter uma opinião divergente da sua. Deve procurar criar uma empatia com o crítico, ver o assunto do ponto de vista dele, manifestando entender o seu sentimento. Sendo todos iguais, ninguém é mais forte ou mais fraco e deixa que perceba isso. Só assim ele compreenderá que o seu direito de opinar (participar) está a ser respeitado.
Quando um Irmão necessita falar ouve-o; quando acha que vai cair, ampara-o; quando pensa em desistir, estimula-o.
A bondade e a confiança dos seus pares que o elevaram a essa posição de destaque, exige ser usada com sabedoria, aplicando-a no comprometimento da justiça, nunca na causa da opressão.
No desempenho de sua função terá sempre em consideração que ninguém vence sozinho, mas jamais permanecerá ofuscado pelas influências dos que o apoiaram ou se deixará dominar por qualquer tentativa de predominância.
Ele, como V:.M:., é responsável por tudo o que acontecer de certo ou de errado em sua Loja. Por mais que se queixe da "herança perversa recebida" do seu antecessor; de Iniciações de candidatos mal seleccionados, fardos que agora estão a seu cargo; de Irmãos que faltam ao sigilo, à disciplina; da desorganização da Secretaria e da Tesouraria da Loja, que motivam contrariedades, causam prejuízos de ordem moral e monetária de difícil reajustamento. Perante um cenário destes, deve concentrar-se antes no que tem feito para modificar, agilizar e melhorar este quadro.
A condução de uma Loja dá trabalho, requer paciência, é como se fossemos tecer uma colcha de retalhos, tratar de um jardim, cuidar de uma criança. Deve ser feita com destreza, dedicação, vontade e habilidade.
Importa também perceber que temos nos nossos Irmãos os reflexos de nós mesmos. Cabe-nos, por isso mesmo tentar compreendê-los, pela própria consciência, para poder extirpar espinhos, separar as coisas daninhas, ruins, que surgem entre as boas que semeamos no solo bendito do tempo e da vida, já que que se não forem bem cuidadas serão corrompidas.
A atitude do V:. M:. pode ser descrita como um conjunto de diversos aspectos complementares:
  • Fraternidade - quando o V:. M:. lança a semente da união.
  • Consciência - quando nos convida a analisar os nossos feitos para reconhecer erros cometidos.
  • Indulgência - quando aos defeitos alheios pede paciência.
  • Amor - quando floresce um sentimento puro de amizade aos olhos de todos.
  • Bondade - quando convive com os nossos erros, incompreensões, medos, desânimos, perdoando de boa vontade.
  • Justiça - quando deixa que cada um receba segundo os seus actos.
  • Felicidade - quando nos lábios de um Irmão aparecer um sorriso, e outro sorri também, mesmo de coisas pequenas para provar ao mundo que quer oferecer o melhor.
  • Instrutor - quando valoriza a ritualística, o simbolismo, utilizando as Sessões Ordinárias como uma forma objectiva de instruir o Irmão, incentivando o estudo e a discussão de tudo que seja relevante para a Ordem em particular e para a sociedade em geral.
  • Mestria - quando estimula os II:. a apresentarem trabalhos de conteúdo, elaborados por eles, e recusa simplesmente cópias retiradas de livros, revistas ou Internet, e o que é ainda mais inconveniente, insensato e desastroso, o recurso do plágio, ou seja, à cópia ou imitação do trabalho alheio, sem menção do legitimo autor.
Mestre sim, porque, sempre independente, nunca perde a alegria, nunca se acomoda e, como fiel condutor que representa o grupo, que ocupa a primeira posição de comando, isto é, comanda (manda com) os seus liderados em qualquer linha de ideia, se assume como o líder. Quando ao sair das reuniões cada um de nós se sentir fortalecido na prática da Arte Real, do bem e do amor ao próximo, podemos apelidar o local de Loja Maçónica Regular, Justa e Perfeita.
Acabando a tristeza e a preocupação, surge então a força, a esperança, a alegria, a confiança, a coragem, o equilíbrio, a responsabilidade, a tolerância, o bom humor, de modo que a veemência e a determinação se tornam contagiantes, mas não esquecendo o perigo que representa a falta do entusiasmo que também contagia.
E, finalmente, quando se aproximar o final do seu Veneralato, deve fazer uma reflexão sobre quais foram as atitudes reais de beneficência que tomou; referimo-nos não só ao auxílio financeiro a alguma Instituição filantrópica, mas também ao "ombro amigo" na hora necessária, ou o empréstimo do seu ouvido para que as queixas fossem depositadas.
O V:. M:. nunca deve deixar de agradecer por ter sido a ferramenta, o instrumento de trabalho criado por Deus, usado como símbolo da moralidade, para trazer luz, calor, paz, sabedoria, beleza para muitos corações e amor sem medida no caminho de tantos Irmãos.
Ao encerrar o se mandato, é importante que consiga afirmar a todos os obreiros de sua Loja: "não sinto que caminhei só. Obrigado por estarem comigo. Obrigado por me demonstrarem quanto bem me querem. Eu também vos quero bem. Gostaria de continuar, mas é tempo de "passar o malhete" e dizer: MISSÃO CUMPRIDA!"
Nas nossas reflexões, que o amor desperte nos nossos corações e juntos, com os olhos voltados para frente, consigamos tenacidade para construir o presente e audácia para arquitectar o futuro, por isso, NUNCA DEVEMOS DEIXAR O NOSSO VENERÁVEL LUTAR E CAMINHAR SÓ!
Esta não é a enumeração exaustiva de todas as qualidades que distinguem o Venerável Mestre ideal, mas todo aquele que se esforce em possuí-las, estará no caminho que conduz a todas as outras.
Caro leitor, espero tê-lo ajudado a entender "O perfil e o Segredo de um Venerável Justo e Perfeito..."
Adaptado (de forma muito livre) de texto escrito pelo I:. Valdemar Sansão
O Original deste texto pode ser encontrado aqui
A Loja Mestre Affonso Domingues encontrou uma forma bastante eficaz de assegurar a continuidade na qualidade, dos seus VV:. MM:. - estabeleceu um percurso que leva os candidatos designados a percorrerem diversas funções na Loja, até chegarem ao cargo de V:. M:.. No meu entender, esta solução permite atingir diversos fins igualmente importantes:
  1. O futuro V:. M:. desempenha diversas funções cujo conhecimento contribui e é importante para o seu trabalho como V:. M:.
  2. O futuro V:. M:. é envolvido progressivamente na actividade de gestão da Loja, chegando a V:. M:. já com algum domínio sobre os problemas que a Loja possa ter.
  3. Os mestres mais antigos (normalmente antigos VV:. MM:.), podem acompanhar a progressão do futuro V:. M:., aconselhando-o e apoiando-o na sua progressão.
  4. "Permite detectar precocemente" se o candidato vai ou não vai conseguir ser V:. M:. e, em casos extremos, tomar decisões.
Paradoxalmente, no meu caso pessoal, serei eventualmente V:. M:. dentro de algum tempo, o que significa que o sistema que temos não é perfeito - permite ainda erros de "casting". Tenho contudo esperança que, se necessário, haja a coragem de aplicar o ponto 4 (acima), sendo assim a loja consequente com o inicio deste texto - o critério de escolha tem de ser o da capacidade e competência e nunca o da antiguidade. A Loja prevalece sobre os II:. e o conjunto destes prevalece sobre cada um, mesmo que possa vir a ser V:. M:..

21 fevereiro 2009

Le seul Orchestre Symphonique de Kinshasa

(Por "razões de ordem técnica" este post sai com um dia de atraso)

Para fazer inveja ao "Zé da Música" e ao Rui, hoje 6ª feira, que por acaso até é um dia especial para mim, resolvo ser eu a deixar um convite de fim de semana.
E logo este que é de Carnaval.

Como logo se verá, inveja ao "Zé da Música"... porque se trata de música no blogue, ao Rui porque se trata de desafio para o fim de semana, implicando com as habituais estorinhas que ele aqui costuma deixar para "des-setressar" (?).

Pois um caríssimo Mano dos nossos, o AD (até podia ser Affonso Domingues, mas não é) mandou -me numa mensagem uma ligação que resolvi trazer para aqui.
Este AD tem dias, é como eu, e de vez em quando abro o correio (à noite como é habitual) e o rapaz (correio, já se vê) até se engasga com um quarteirão bem medido de mensagens dele ! Entretanto é capaz de estar semanas sem dar notícias.

Convém notar que o AD passou "pelas Áfricas" e ficou meio "cafrealizado", como quase todos os que por lá passam, razão porque em cada 3 mensagens que manda, 4 têm alguma ligação àquelas terras.

Desta vez é a música supostamente erudita (é coisa que não existe, mas para já facilita o texto), mas em África e de África vem música de espanto.
Não é o caso deste vídeo em que a música é tão africana como eu, que nasci em Lisboa, embora bem melhor do que eu, naturalmente.

O que aqui há de significativo é o contraste entre limitações de vida e alegria de vida.
Como é fácil ser feliz, quando o coração tem dimensão para isso... E é só isso que é necessário, coração grande e cabeça com vontade !

Vejam o vídeo, vale a pena.
Obrigado ao AD pelo envio

JPSetúbal

19 fevereiro 2009

Loja azul

Por vezes, esquecemo-nos que o que é simples e básico para quem já conhece e está habituado a determinado tema pode não ser assim tão facilmente entendido por quem esteja a iniciar o seu contacto com o assunto.

Veio-me este pensamento à tona há alguns dias quando li o texto do José Ruah Música no blogue - uma nova etapa, vi as alterações que efetuou e, sobretudo, assisti a um comentário brincalhão, com água no bico de "futebolês", do simple e à resposta, a sério, do Ruah à "provocação futebolesa" do simple sobre o uso da cor azul para uma das listas de músicas colocadas no blogue pelo Ruah. Este respondeu, muito a sério, repito:

As Lojas são Azuis e o REAA é Vermelho. Não pense o meu caro amigo que as cores foram escolhidas por acaso.

Os maçons entenderam perfeitamente o alcance da resposta do Ruah. Mas interroguei-me sobre se um profano que deparasse com este comentário o entenderia. E concluí que, embora porventura muitos profanos o entendessem ou pudessem perceber com uma simples busca num motor de busca, certamente haveria alguns que teriam dificuldade em perceber a alusão.

Portanto, vamos lá esclarecer, porque o facto de ser básico para uns não significa que o seja pra todos.

Em Maçonaria, designam-se por Lojas azuis as Lojas que trabalham nos três graus essenciais da Maçonaria: Aprendiz, Companheiro e Mestre. Porquê azuis? Simplesmente porque, na sua origem, essa foi a cor escolhida pelos maçons que, no século XVIII, criaram, em Inglaterra, a Grande Loja de Londres. Nesse tempo, havia apenas um rito praticado e a cor que o identificava, a cor principalmente usada nos artefatos dos maçons, era o azul.

E assim permaneceu, designadamente nos países anglo-saxónicos, que, praticamente em exclusivo, praticam apenas o Rito de York ou suas variantes. A cor deste rito é o azul.

Como nos países anglo-saxónicos a tendência é para a prática de um único rito, e sendo a cor associada a esse rito, passou a designar-se por Lojas Azuis as lojas dos três graus essenciais da Maçonaria.

Com efeito, outras cores são associadas a outras situações em Maçonaria. Por exemplo, os Grandes Oficiais das Grandes Lojas anglo-saxónicas usam, normalmente, colares e aventais orlados na cor púrpura.

Após a implantação da Maçonaria, seguiu-se um período de criação e proliferação de ritos. Cada rito era, pelos que o criavam, associado a uma cor. Das dezenas de ritos que apareceram, como é natural só uns poucos subsistiram. De entre estes, o Rito Escocês Antigo e Aceite, cuja cor é o vermelho.

Na Maçonaria anglo-saxónica, os três graus básicos são, quase exclusivamente (existe uma exceção célebre, que adiante referirei) trabalhados no rito de York ou suas variantes, cuja cor, como acima referi, é o azul. Existem, para além dos três graus básicos e essenciais da maçonaria, sistemas de Altos Graus, que prolongam o caminho iniciado nesses três graus básicos. Mas todos os maçons, nos países anglo-saxónicos, trabalham na Maçonaria Azul (os três graus básicos, no Rito de York ou suas variantes). Os que o pretendem e a tal são admitidos, podem ainda trabalhar em Altos Graus, seja do Rito de York, seja do Rito Escocês Antigo e Aceite. Nos países anglo-saxónicos (ressalvada a tal exceção...) não se trabalha no Rito Escocês Antigo e Aceite nos três primeiros graus. Só a partir do quarto grau.

Na Maçonaria Continental Europeia, em África e na América Latina, pelo contrário, as Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite utilizam-no desde o primeiro grau. Aqui, o Rito não é exclusivamente um rito de Altos Graus, antes é um sistema coerente, que vai desde a iniciação até ao último dos Graus Filosóficos. Apesar de a cor do rito ser a vermelha, continua-se a designar as Lojas dos três primeiros graus do Rito Escocês Antigo e Aceite como Lojas Azuis, em uniformidade com o estabelecido no resto do mundo maçónico.

Consequentemente, embora a designação de Loja Azul tivesse originalmente decorrido da cor do rito que no século XVIII se praticava, hoje em dia essa designação aponta as Lojas dos três primeiros graus da Maçonaria, qualquer que seja o rito praticado.

Quanto à tal exceção, que é, afinal, uma mera curiosidade. Presentemente, nos EUA, toda a Maçonaria Regular trabalha num único rito, a variante norte-americana do Rito de York, fixada por Preston e Webb (normalmente denominada por Rito Preston-Webb). À exceção de uns irredutíveis gauleses... Não propriamente a aldeia de Astérix, mas algo de parecido. A Louisiana foi originalmente colonizada por franceses e foi território colonial francês. Foi durante esse período que ali foi introduzida a Maçonaria, segundo o rito mais praticado em França, o Rito Escocês Antigo e Aceite. Ulteriormente, a Louisiana foi vendida pela França aos Estados Unidos e passou a Estado integrante dos Estados Unidos da América. Quando ali se organizou, ao estilo continental norte-americano, a Maçonaria, sob a égide da Grande Loja da Louisiana, todas as Lojas a partir daí criadas passaram a utilizar a variante local do Rito de York. Mas as Lojas pré-existentes que manifestaram o desejo de continuar a trabalhar segundo o Rito Escocês Antigo e Aceite, mesmo nos três primeiros graus, foram autorizadas a assim continuar a fazer. Até hoje! Subsiste presentemente cerca de uma dúzia dessas Lojas. Os maçons americanos chamam-lhe "Maçonaria Vermelha" e... são um polo de curiosidade...

Rui Bandeira

18 fevereiro 2009

Um Grupo de Macacos

Há algum tempo que não colocava um texto aqui, já que tenho estado envolvido no desenvolvimento do Website da Mestre Affonso Domingues (www.rlmad.net), o que não deixa muito tempo livre; contudo, não resisti a partilhar este texto no Blog:


Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, tendo no centro colocado uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jacto de água fria sobre os que estavam no chão. Depois de algum tempo, quando um macaco ia subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo, nenhum macaco se atrevia a subir a escada, apesar da tentação das bananas.

Os cientistas decidiram então substituir um dos cincos macacos. A primeira coisa que ele fez foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o agrediram. Depois de algumas agressões, o novo integrante do grupo deixou também ele de subir a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro substituto participado, com entusiasmo, na surra ao novato. Um terceiro foi trocado, e repetiu-se o facto. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que tentasse chegar às bananas.

Se fosse possível perguntar a algum deles porque motivo batiam em quem tentasse subir a escada, certamente que a resposta seria: "Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui...", ou “sempre que alguém tenta subir a escada, há que lhe bater …”, ou ainda "os que tentam subir a escada, gostam de apanhar; estamos a prestar-lhes um serviço...".

Creio que nem sempre nos questionamos sobre por que motivo "batemos" ou se faz sentido fazê-lo – limitamos a agredir ou a dizer mal, até porque nesta nossa atitude tão Portuguesa, dizer que está mal (bater), “é uma forma de competência”.