(imagem proveniente de Google Images)
O
próprio título desta publicação poderá parecer por si só uma possível contradição.
Uma
analogia direta entre política e Maçonaria Regular nunca poderá ser feita em
concreto porque em Maçonaria Regular não se discute política. E muito simplesmente
porque tal não é permitido pelas suas próprias regras, os seus Landmarks, que
no seu sexto artigo impede que este tipo de discussão possa ter lugar numa loja
maçónica.
O próprio Rui Bandeira, autor deste blogue, já teve
oportunidade de expressar a sua opinião, tanto neste texto bem como na sua respetiva “caixa de comentários” foram
debatidas outras perspetivas sobre o assunto…
Mas
no que ao tema deste post concerne, a proibição existente em relação à
abordagem de temas políticos numa sessão maçónica é apenas em relação à
discussão e debate de ideias relativas à política partidária. Porque abordando
a política como conceito em si, conceito este como sendo algo que é assumidamente
necessário para quem vive na sociedade, a postura da Maçonaria Regular é
diferente.
O
conceito político, quando abordado no seu sentido lato, é permitido seja em
debates meramente filosóficos ou que tratem de temas sociológicos ou
antropológicos. Nestes casos, as
ideologias são facilmente postas de parte. Pelo que efetivamente nunca se discute
se o pensamento político de “direita” ou de “esquerda”, ou se uma monarquia
ou república serão os melhores sistemas
políticos a serem vivenciados pela sociedade.
Salientando
também que, devido ao cumprimento do referido
Landmark, não se discute se uma religião é melhor ou pior que outra. Política e
Religião em Maçonaria Regular encontram-se no mesmo patamar.
-
Alíás atrevo-me a dizer que para a Maçonaria Regular, ambos estes conceitos
estão colocados naquelas prateleiras muito altas que é usual se ter em casa, em
que sabemos que as coisas lá estão, mas que não as conseguimos alcançar…-
Estas
concepções de vida, políticas ou
religiosas, a serem discutidas, apenas o
serão em em sentidos latos e meramente filosóficos. Até porque geralmente
estes temas, a par da clubite desportiva,
são os temas que mais dividem o Homem e fraturam a sociedade, e a Maçonaria
quer-se como sendo um centro agregador de pessoas e nunca como sendo o seu foco
de divisão.
Assim,
relativamente à política partidária, cada maçom seguirá as políticas ou
sentir-se-á representado pelo partido político que considerar que será o que
melhor o representa ou que aplica e/ou defende as ideias que para si são
consideradas como sendo as que maior valência deverão ser seguidas pela
sociedade civil. E apenas isso.
Não
obstante, é do conhecimento público em geral, que vários maçons são membros
ativos de vários partidos políticos, muitos deles mesmo pertencentes a alas
muito distantes politicamente e com um ideário político muito diferente e
bastante divergente até.
E isso é lhes possível porque são livres para o fazer.
Em
nada a Maçonaria os impede de tal. Nem como instituição, nem os próprios maçons
entre si, como membros desta Augusta Ordem. Cada um fará o que lhe aprouver
quanto ao caminho que preferir percorrer, seja partidário ou não, e respeitará do
mesmo modo, o caminho que o seu irmão decidir prosseguir…
Estes últimos parágrafos serão talvez alguns dos quais que mais confusão farão aos profanos e que podem suscitar
certas teorias conspiratórias, uma vez que, pode-se sempre supor que, como poderá alguém que não se revê
politicamente noutra pessoa, e que por vezes em debates mais acalorados, sejam eles no hemiciclo, sejam eles em qualquer tipo de campanha, em que algumas vezes podem inclusive roçar
a falta de respeito, para depois dentro
de portas ou na sua intimidade, serem amigos e considerarem-se como Irmãos?!
A
própria questão encerra a sua própria resposta.
Não
temos nós irmãos, familiares e amigos que têm opiniões contrárias às nossas?
Não
levam eles, em alguns casos, vidas muito diferentes da que levamos?
Não
têm eles concepções de vida muito distantes daquelas que consideramos como
sendo as mais válidas?
Quantas
vezes em debates de ideias mais acesos, não nos chateámos e depois tudo ficou
resolvido como nada se passasse?
Sim,
todos nós na nossa vida, passamos ou alguma vez passámos por esta situação.
E fraternidade
é isso mesmo, é ter bastante respeito pelo próximo, consagrar o direito à
diferença de opinião, ser tolerante em relação a diferentes pontos de vista, e ter
uma postura coerente no âmbito do debate.
Por isso é que a Maçonaria sobreviverá
per si, independentemente do
posicionamento político dos seus membros.
Tudo devido ao sentimento fraternal
que estes têm entre si e que os fará colocar de parte qualquer antagonismo que possa
ser motivado, neste caso, por questões
político-partidárias.
E
depois no que toca à questão partidária, esta não se coloca à Maçonaria mas sim
ao Povo, que como integrante fundamental da sociedade tem o dever de participar
nela e contribuir para o seu progresso.
Assim, cabe ao maçom, sendo ele mais um
elemento que faz parte do povo, participar como cidadão e como parte interessada nesta questão.
O compromisso que o maçom assume com a Ordem é um compromisso de ordem moral e ética, e que não envolve sequer, qualquer forma de política neste comprometimento.
Pelo que nada melhor que o seu exemplo e conduta para servir de paradigma aos outros.
Logo,
pelos seus valores, o maçom nunca poderá agir impulsivamente nem de forma
irrefletida, porque para além de não ser a forma de correta para alguém agir, e
depois porque está em permanência debaixo do jugo da sociedade; assim o maçom que
seja ativo políticamente na sociedade em que está inserido, deve observar sempre
o cumprimento dos valores maçónicos.
Porque estes valores em nada colidem com a
liberdade de ninguém e muito menos com os direitos de todos.
E se hoje em dia
vivemos como vivemos, uma boa parte resultou de um trabalho imenso e intenso
por vezes, que alguns maçons de outrora
tiveram e que propiciaram para que hoje em dia possamos usufruir das condições que temos e que nos permitem ambicionar por mais e melhor...