Para a publicação de hoje trago-Vos uma Prancha lida em Loja há algum tempo atrás, aliás foi a minha primeira Prancha escrita e posteriormente lida numa Sessão Maçónica, logo uma Prancha de Aprendiz.
Geralmente as Pranchas deste Grau são muito pessoais, sensoriais. Normalmente são abordadas as "primeiras impressões" de quem chega a uma Loja e não raramente são abordadas as Iniciações ou o simbolismo do que se pode observar e tocar num Templo Maçónico.
Naturalmente também pouco mais se pode pedir a um Aprendiz. Ele é uma "pessoa nova", recém-chegada a um grupo já coeso e unido e terá de se integrar - e ser integrado (!) - e uma das melhoras formas desta "integração" é a sua formação.
- Apenas bem formando poderemos ter melhores maçons, melhores Homens entre nós e na Sociedade.-
E como numa sessão o Aprendiz nada diz, apenas observa, poderá então fazer uma "viagem interna", um pouco semelhante à viagem que teve de fazer na sua Iniciação. Este facto de ter de estar obrigatoriamente em silêncio durante a sessão, vai lhe permitir fazer uma reflexão introspetiva e uma contemplação de tudo o que vê e ouve que, eventualmente, de outra forma não poderia ser feita, principalmente por alguém que pouco ou nada sabe sobre Maçonaria. No fundo, serve de uma proteção ao próprio também, porque desta forma não poderá errar e lhe são corrigidos eventuais comportamentos intempestivos que poderiam prejudicar o "normal" funcionamento da Loja.
E como Aprendiz, o que a Loja espera do seu trabalho é fundamentalmente a sua integração, a correção de comportamentos profanos errados/desviantes que possa ter e apreender o simbolismo que lhe é apresentado e a Ordem em si. O que não é tão pouco ou tão simples como o possa aparentar.
Dito isto, passo à transcrição da Prancha que Vos trago, a minha "primeira Prancha" e cujo título é "Estar Aprendiz":
"Estar Aprendiz"
Muito Respeitável
Grão-Mestre,
Venerável Mestre,
Respeitáveis Oficiais
desta Assembleia de Maçons,
Ilustres Irmãos em
todos os vossos Graus e Qualidades…
À Glória do Grande Arquiteto do Universo!
Pois é, aqui estou
eu entre colunas, de “Pé e à Ordem” defronte a Vós, aproveitando
este pequeno interstício do meu tempo de
silêncio na Coluna do Norte, para Vos oferecer esta Prancha cujo tema é “Estar Aprendiz…”.
Após
demorado período de introspeção e reflexão, eu ansiava por buscar a “Luz”. O Conhecimento!
O
que já detinha não me chegava e eu ambicionava mais…
As
leituras, as pesquisas que efetuava sobre a Arte Real, os vídeos e
documentários que visionava, apenas me aumentavam os meus conhecimentos sobre a
Maçonaria. Cada vez que pesquisava, mais me “aguçava” o espírito.
Mas,
por mais que lesse e estudasse, sentia que faltava sempre “qualquer coisa”.
A Maçonaria faz-se,
vivenciando-a!
E
como “quem procura, acaba por encontrar”,
decidi “bater à Vossa porta”. A porta
deste honrado Templo onde reinam a Tolerância, a Virtude e a Liberdade.
Entretanto prossegui o meu caminho, pessoal
mas não solitário, através do setentrião,
escutando, meditando e refletindo sobre tudo o que se tratava e discutia em
Loja como também sobre o vasto simbolismo inerente ao grau em que me
encontro. Não foi fácil e nunca o será. Trabalhar para aprender assim o implica!!!
Por
isso demorei algum tempo a escrever esta minha primeira prancha que tenho hoje a
honra de a partilhar com Vocês.
Para
alguns, talvez tenha demorado tempo demais na sua elaboração, certamente pouco
tempo para outros, mas tempo em Maçonaria é um conceito que não encontra
paralelismo na profanidade. E como tal, aqui me encontro e me apresento diante
Vós como um simples aprendiz, e cá estarei sempre para Vos ouvir e refletir no
que tendes para comigo partilhar e principalmente me ensinar. E, com o Vosso
honrado auxílio seguirei em frente neste percurso que é a Vida. Pois se a Vida
não pára, a aprendizagem também não…
Aprendiz ontém, hoje e
sempre!!!
Prosseguindo, o Aprendiz, recém neófito, ao entrar numa loja
maçónica vai encontrar gente de várias idades, vários quadrantes sociais e
politicos, pelo que lhe é exigido tolerância em relação às opiniões e posturas
dos respetivos irmãos. Ele só terá a aprender com eles no imediato, para que
lhes possa ensinar no futuro.
O
aprendiz deve aprender a executar o ritual de forma exemplar, por forma a que
interiorize a ritualística necessária ao bom funcionamento da Loja. Aprender os
timings em que as “coisas” acontecem e são feitas.
A
atenção é fundamental no seu processo de formação, tal como o era na escola,
tal como o é no seu emprego. Sem se estar concentrado no que se faz e que se
aprende, o erro sucederá; neste caso, a distração será tal como o “rápido” é
inimigo do “bom”.
No entanto, não basta ao Aprendiz querer
aprender, ele tem de ter vontade em mudar e mudar para melhor. Vendo, ouvindo e
refletindo, o Aprendiz irá por em prática o seu aprendizado e irá interiorizar
e compreender os vários conceitos e a vasta simbólica maçónica que encontrará
no seu grau. O que oportunamente lhe criarão a disciplina de estudo que o
auxiliará na sua caminhada pela Augusta Ordem a que todos temos a honra de
pertencer.
Todavia, é no grau de Aprendiz que a
consciencialização pessoal terá um potencial maior. Isto é, fruto do silêncio a
que o Aprendiz é submetido, o Aprendiz irá utilizar faculdades interiores que lhe seriam desconhecidas. E
a meditação será uma delas, pois através do seu silêncio, lhe será muito
dificil de errar, mas não impossível de o fazer. Porque para se aprender,
também por vezes é-se necessário cair no
erro.
E
uma das melhores lições que a Vida nos pode proporcionar é qual a atitude a ter
e quais os procedimentos a efetuar para se evitar esse mesmo erro numa ocasião
futura.
Não adianta querermos exaltar
as nossas virtudes se depois não quisermos evitar o erro, combatendo os nossos vícios e as nossas paixões!
E como poderemos ambicionar
sermos justos e perfeitos, se os
nossos erros persistirem?! E nada aprendermos com eles?!
Não é à toa que um dos métodos que uso na minha
aprendizagem maçónica foi adquirido através do “silêncio”.
De
modo que algumas das mais-valias desse silêncio
são aprender, ouvir e escutar de uma forma que se assim não o fosse,
influenciaria negativamente a minha aprendizagem.
Sendo
esse também um dos motivos pelos quais o Aprendiz tem o dever de permanecer
calado em sessão de Loja, que é para que aprenda e acima de tudo, discipline a
sua vontade de falar. E assim falar
somente o necessário, quando necessário, e de uma forma sucinta, apenas o que for
importante para conhecimento dos demais Irmãos.
É através do silêncio, tal como a citação
latina “Audi, Vide, Tace” o demonstra
(ver, ouvir, sentir/calar), é que a reflexão é posta em prática, fazendo-se de
forma demorada e paciente a análise do que se tem a aprender e principalmente do
que se tem para dizer. Tanto que apenas permanecendo em silêncio se é passível
de atingir um estado de clarividência, um estado de consciencialização que
trará benefícios espirituais ao
próprio Ser.
E,
reconhecendo o valor do silêncio nos dias que correm, onde toda a gente parece
mais preocupada em se fazer ouvir, do que ouvir alguém; é de elevada
importância, e por isso eu sinto-me grato pelo tempo em que tive e ainda tenho de
permanecer em silêncio.
Estar Aprendiz, também é partilhar. Seja
através da partilha de informação ou de conhecimentos adquiridos pela
experiência de uma vida, seja através de ensinamentos sobre a prática ritual e
simbólica da nossa Ordem, o que através de uma forma profícua e benéfica melhor
integrará os Irmãos no seio da nossa comunidade. E falando em comunidade e em partilha, Estar Aprendiz é também aprender com a permuta de sentimentos entre
os Irmãos, numa ampla comunhão fraternal de afetos que potenciam a egrégora e a
vivência da família maçónica. Pois todos nós pertencemos à mesma Família apesar
de não sermos Irmãos “de sangue” mas que o somos através da Virtude.
E Estar Aprendiz para além desta vivência
e caminho pela Virtude, é também por sua vez, desejarmos ir mais longe, ambicionarmos
mais e melhor, servirmos de exemplo para os outros através da nossa conduta, ajudar
os outros sem nada esperar em troca, nunca baixarmos os braços face à
adversidade, a estupidez e a ignorância, mas antes combatê-las veemente.
No
fundo, “Estar Aprendiz” é um way of life for a lifetime…
“Um modo de Vida
para uma Vida…”
Um
estado que será de uma luta constante e onde se terá de ser persistente em permanência.
E quem não tiver essa noção ficará pelo caminho…
Na Maçonaria, a preguiça e o ócio não são bem
acolhidos, de tal modo que a Luz/Conhecimento
só se alcançam fruto de muito estudo, disciplina e motivação. Tudo
qualidades que devem fazer parte de um processo formativo. E como tal, considero
a Maçonaria como uma escola de Homens de Bem que se querem tornar ainda melhores…e costumo afirmar que:
“Na Maçonaria aprende-se,
trabalhando…”.
Por isso quando me perguntam se é fácil ser
Aprendiz, eu respondo que não! Porque se assim o fosse, eu não estaria aqui…
E para terminar, gostaria de partilhar convosco
esta reflexão que me tem acompanhado ao longo da minha Vida:
“Pouco ou nada sei
e no entanto existe tanto por aprender…”
Disse, Venerável Mestre. Meus Irmãos…