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24 novembro 2014

A importância que um Padrinho tem na formação de um maçom…

(imagem proveniente de Google Images)

O  texto que hoje publico, vai abordar algo que no meu entendimento será bastante relevante para a Maçonaria e que é o papel que um padrinho deverá ter na formação do seu afilhado maçom.
Um padrinho deve ter a sensibilidade para poder analisar quem deve ou não fazer parte da Augusta Ordem Maçónica. E padrinho pode ser qualquer maçom exaltado à condição de Mestre. O Mestre é o maçom de pleno direito. Logo tem a responsabilidade de fazer respeitar os princípios da Ordem, auxiliar na formação dos seus Irmãos, detenham eles o grau que tiverem, e de apesar de não fazer proselitismo, deve procurar no mundo profano quem tenha qualidades para ingressar na Maçonaria e que com essa admissão possa desenvolver um trabalho correto tanto pela Ordem Maçónica bem como pela sociedade civil na sua generalidade.
O padrinho não tem de ser um guru nem ser um visionário (pois ele será também um eterno aprendiz), o papel que ele deverá representar  para o seu afilhado é o de um guia, de uma pessoa que o auxílie na sua integração na Loja bem como o de sendo alguém que o ajude na sua formação maçónica, principalmente nos primeiros tempos, em complemento com a formação que é efetuada na loja, auxiliando também o Segundo Vigilante (cargo oficial desempenhado pelo terceiro elemento da  hierárquia de uma loja maçónica) no cumprimento das suas funções, nomeadamente como formador dos Aprendizes Maçons.
Compete ao padrinho após identificar no mundo profano alguém com as capacidades intelectuais e morais que são necessárias para alguém ser reconhecido maçom, abordar o mesmo da forma como achar que será melhor recebida pelo seu interlocutor. Na maioria das situações, a abordagem é feita pelo reverso, alguém que é profano e que se identifica com a Maçonaria intercede junto de um maçom para que lhe seja concedida a entrada na Ordem. Independente da maneira de como é feita a proposição, cabe ao maçom que irá ser o padrinho efetuar algumas diligências, ou seja, conhecer os gostos e preferências do seu futuro afilhado bem como dos hábitos e rotinas que ele possa ter  (se não os conhecer anteriormente), isto é, tudo aquilo que é habitual num ser humano. Conhece-lo!
E  numa fase posterior, se concluir que o profano detém  as qualidades necessárias para entrar na Maçonaria, deve abordar alguns temas de âmbito maçónico, retirando algumas das dúvidas que possam persisitir na mente do seu futuro apadrinhado sobre o que a Ordem Maçónica é e qual o seu papel no mundo. Mas mais que isso, na minha opinião, o futuro padrinho deve fazer-se acompanhar pelo profano em eventos maçónicos de cariz aberto (eventos brancos) onde este poderá ter um contato mais alargado com o que é a Ordem, ou seja, frequentar tertúlias e palestras onde a Maçonaria seja o tema principal a ser abordado.
Neste caso, admito que começará aqui, para mim, a formação maçónica do futuro iniciado. Pois se o mesmo afinal decidir que não se identifica com o que encontra, observa e escuta, então o processo de candidatura não terá início e o profano aproveitará apenas para aumentar a sua cultura geral sobre o que à Maçonaria concerne e ter uma opinião mais concreta sobre esta Augusta Ordem. No entanto, e caso o profano se identifique claramente com o que lhe é mostrado, deverá então ser iniciado o processo de candidatura à admissão numa loja maçónica. E de preferência que seja na loja que é integrada pelo seu padrinho. Isso é de extrema importância. E porquê?!
Porque durante o desenrolar do processo de candidatura, os membros da loja confiarão no zelo que o padrinho se propõe a cumprir ao apadrinhar a candidatura em avaliação porque o conhecem, e  também estes por sua vez, respeitarão quem vier a ser escolhido para ser acolhido pela loja.
E depois, porque o padrinho deverá acompanhar o seu afilhado na assistência das sessões da loja a que estes pertencem, para que este não se sinta desapoiado e nem desintegrado num grupo de gente que à partida não o conhece bem nem o qual deverá conhecer devidamente.
Acontece também o contrário, por vezes quem chega a uma loja maçónica já é popular no mundo profano ou puderá ter relações profanas com alguns membros da loja e assim a sua integração é mais facilmente consumada.
Mas e apesar de todo o fraternalismo que existe na Maçonaria em geral, os “primeiros tempos de vida” de um maçom podem-lhe parecer estranhos porque terá de ser relacionar inclusivé com gente que talvez, no mundo profano, preferiria evitar. É verdade, tal pode acontecer e ainda bem que tal assim acontece. Desta forma, é possível um entendimento que de outra maneira não seria possível acontecer. Porque os irmãos são “obrigados” a confraternizar, logo, encontrar "pontos de comunhão” e de “convergência”. Também, pelo facto de se terem de relacionar, isso obrigará a que as pessoas se conheçam melhor, e com isso, desfazer alguns preconceitos que poderiam ter anteriormente e que se assumirão posteriormente, como errados e descabidos. Outros quiçá, manterão a mesma opinião que anteriormente. Tal poderá acontecer, somos humanos e em relação a isso pouco se pode fazer… A não ser, tolerar e respeitar o próximo tal como outra pessoa qualquer o deve merecer.
 - Os maçons são pessoas como as outras, não são perfeitos; a  forma de como combatem as suas paixões e evitam os seus vícios é que os difere dos restantes membros da sociedade -.

E ter um padrinho que os guie corretamente nessas situações,  que lhes dê a mão para os apoiar quando necessitarem disso e que acima de tudo os critique quando o deve fazer para os manter num bom caminho, marcará de todo a diferença. Isso é “meio caminho andado” para um crescimento maçónico correto e que não seja funesto para a Ordem no futuro.
Os casos que normalmente vêm a público no mundo profano devem-se a erros de casting ou a gente que foi mal formada ou que não se identificou depois com os princípios morais que encontrou no interior da Maçonaria. Por isto, é que não basta a um padrinho convidar ou apadrinhar alguém apenas por ser seu amigo, por ser seu colega ou por essa pessoa ter alguma influência ou notoriedade no mundo profano. Esse “alguém” terá mesmo de se identificar com a Maçonaria e saber um pouco ao que vai, porque caso contrário, criará uma perca de tempo ao próprio e à loja maçónica que o acolher com as consequências que sabemos que poderão suceder e que algumas vezes ocorrem mesmo!
E nos casos em que os maçons “derrapam” ou se desviam do seu caminho na virtude, os padrinhos deveriam ser também responsabilizados, isto é, serem chamados à atenção por terem trazido para dentro da Instituição Maçónica quem agiu de forma errada e que levou a que a imagem desta Augusta Ordem fosse questionada profanamente. Obviamente que não digo que fossem sancionados, mas que exista uma conversa para os alertar do perigo que é de apadrinhar gente com este tipo de conduta para que no futuro sejam mais zelosos nos seus apadrinhamentos e que também tivessem acompanhado a conduta do seu apadrinhado. Naturalmente que um padrinho não pode ser culpado, a não ser que seja cúmplice, da atuação do seu afilhado, mas se puder prever que o mesmo possa se desviar e errar, deve alertar o mesmo dos riscos que este corre, seja de suspensão ou até mesmo de expulsão da Ordem, com tudo o que isso acarretará moralmente para ambos. Porque mesmo em surdina, as “orelhas” do padrinho sofrem sempre as consequências dos atos do seu afilhado. É habitual o ser humano criticar algo, todos somos “treinadores de bancada”, logo criticar-se algo que não correu bem é a consequência lógica de tal. Por isso até mesmo quem entra na Maçonaria deve refletir na sua conduta para que não ponha a imagem dos outros irmãos em questão.
Porém, e ainda no âmbito da instrução maçónica do seu afilhado, o padrinho deverá  complementar a formação que será concedida pela loja ao seu apadrinhado; porque ao lhe demonstrar também que a Maçonaria vive de símbolos, metáforas e alegorias, mas fundamentalmente, da prática de rituais próprios, também ele (padrinho) ao instruir o seu afilhado, poderá refletir e por em prática os conhecimentos que já adquiriu até então - o que é sempre uma mais valia pessoal - e que lhe permitirá vivenciar o que também ele aprendeu durante a sua formação até atingir o mestrado.
- Conhecer e ensinar outrém é do melhor que o ser humano poderá fazer pelo seu semelhante. Tanto que acredito que o Conhecimento somente é  Sabedoria quando compartilhado-.
Mais tarde, quando o seu afilhado já se encontrar na condição de mestre, já não será tão essencial ter aquela “especial” atenção que considero como importante na caminhada de um maçom, porque este já atingiu uma parte importante da sua formação maçónica e concluiu o seu percurso até à mestria. Mas no entanto,  nunca o deverá abandonar, pois apesar de este ser um irmão seu, será sempre o seu afilhado, logo alguém que um dia reconheceu como tendo capacidades e qualidades maçónicas. E essa responsabilidade nunca desaparecerá.
E isto é algo que por vezes acontece e que eu considero como sendo nefasto para a vida interna de uma Obediência. Não basta convidar alguém, se iniciar alguém, (mal) formar alguém e depois deixá-lo à  mercê dos tempos e vontades… Virar as costas a um irmão, mesmo que seja inconscientemente, nunca trará resultados frutuosos para ninguém e principalmente para a Ordem. É na nossa união que reside a nossa força, é com nosso apoio que conseguimos enfrentar o dia-a-dia. E se isto poderá parecer como demasiado simplista e inocente, não nos devemos esquecer que é no nosso espírito de corpo que se encontra a fonte da egrégora que é criada em loja e que é a impulsionadora da nossa fraternidade.
Assim, alguém que queira apadrinhar a candidatura de um profano, terá de assumir que adquire uma responsabilidade tal, que nunca será irrelevante e que nos seus “ombros” suportará o “peso” de uma Ordem iniciática e de cariz fraternal  como o é a Maçonaria. E que terá como seus deveres  principais: reconhecer, informar, transmitir/formar e acompanhar  quem ele considerar como sendo um válido (futuro) membro da  Maçonaria.
Não será uma tarefa fácil, esta de se apadrinhar alguém, mas este é um compromisso que os maçons assumem para com a Ordem e a bem da Ordem...

14 outubro 2014

O trabalho da Coluna da Harmonia...

(imagem proveniente de Google Images)
Durante o decorrer de uma sessão ritual maçónica existe o hábito generalizado de existir música ambiente. Música essa que deverá criar certos estados de espírito aos seus ouvintes para possibilitar uma certa harmonia entre todos os presentes na sessão.
A responsabilidade da condução musical numa loja maçónica é do Mestre da Harmonia, o qual também é designado por Coluna da Harmonia.
A seleção musical a ser utilizada deverá ser preferencialmente escrita e/ou musicada por autores maçónicos, nomeadamente Ludwig van Beethoven, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart entre outros,  mas também pode ser utilizada música de qualquer tipo de autor sem prejuízo para os anteriormente citados. O género musical a ser utilizado também dependerá daquilo a que se proponha fazer o Mestre da Harmonia em consonância direta com o programa da respetiva sessão maçónica; sendo que ao conjunto de músicas que integram o seu trabalho se designar por Prancha Musical.
E para a elaboração desta prancha geralmente são utilizadas sonoridades mais clássicas na maioria das lojas, mas na Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, os gostos são muito ecléticos pelo que é habitual, dependendo de quem ocupe a Coluna da Harmonia, se ouvir desde música clássica, passando pelo Rock ao Ambient Lounge ou ChillOut e também às sonoridades new age. Daqui se poderá depreender que tal como ao nível da utilização das novas tecnologias, também ao nível da seleção musical, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 é também uma loja que se poderá assumir como p’rá frentex
No entanto, e apesar da liberdade de escolha musical propiciada pela loja ao Mestre da Harmonia, a este apenas lhe é pedido ( aliás, exigido por assim dizer…) que com a sua música proporcione o ambiente ideal ao desenrolar dos trabalhos maçónicos a serem efetuados.
Mas apesar da vasta e ampla seleção musical que pode ser utilizada numa sessão maçónica, não pode a mesma ser usada de qualquer forma nem em qualquer tempo. Existe uma temporização adequada e um tipo de  sonoridade específica que se espera escutar  em determinados momentos da sessão maçónica, sejam eles a Abertura ou o Encerramento dos Trabalhos, seja no momento da execução da Cadeia de União ou na circulação do Tronco da Viúva; a música deverá criar uma sensação própria a cada um que a ouvir em relação ao momento maçónico em concreto. Não devendo o estado de espírito dos maçons se encontrar contrário ao disposto, senão resultaria numa possível quebra da egrégora criada pela harmonia experimentada pelo conjunto dos irmãos presentes na respetiva sessão.
E se no decorrer de uma sessão maçónica existir um momento ritual relevante para a vida de um maçom, tal como uma Iniciação ou um aumento de salário, a música a ser utilizada deverá ser alvo de uma especial atenção pelo Mestre da Harmonia para que esses momentos fiquem marcados na memória de quem por eles passa, pois mesmo aqueles que apenas assistem e não têm uma intervenção direta no cumprimento do ritual, também estes acabam por rever esta mesma situação que anteriormente vivenciaram. E isto também faz parte da formação maçónica, o rever e meditar sobre o que se já viveu e retirar de aí a devida reflexão.
Pelo que aqui expus, já deu para perceber que o trabalho efetuado pela Coluna da Harmonia não é de somenos importância, porque apesar de não ter um papel ritual importante durante a sessão, este é um dos cargos mais ativos da loja; é ele que tem o dever de criar os ambientes específicos e respetivos estados de alma e isso não é tão fácil como se poderia imaginar à primeira vista. E é mesmo um trabalho demorado que ocupa algum do tempo disponível que o Mestre da Harmonia tem na sua vida pessoal, pois ele terá de ouvir bastantes músicas para poder selecionar aquelas que considere como as mais apropriadas para serem utilizadas no decorrer de uma sessão maçónica. Se este mestre for um apaixonado pela música ou inclusivé um melómano até, a sua loja só terá a ganhar dada a riqueza dos conhecimentos que ele terá e que poderá propiciar aos seus irmãos.
Nem todos poderão gostar dos temas musicais que ouviram no decorrer da sessão, fruto das mais variadas preferências musicais de cada um, mas se a energia que brotou da sessão for a ideal, a melhor crítica que o Mestre da Harmonia poderá ouvir dos seus irmãos é que eles sairam contentes e satisfeitos da sessão e que o trabalho que ele desempenhou contribuiu para esse facto.
A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 sempre teve excelentes responsáveis por "darem música" aos seus irmãos, pelo que se espera que assim o continue a ser...


22 setembro 2014

A importância da Família na Maçonaria...

 (imagem proveniente de Google Images)
 
 
Para um maçom é muito importante o apoio que lhe é prestado pela sua família face à quantidade de ausências do seu ambiente familiar  que vão sucedendo ao longo dos anos para cumprimento dos seus deveres maçónicos. Deveres estes que, na maioria dos casos, serão a frequência das sessões da Respeitável Loja a que pertença, as assembleias gerais da sua Obediência, atividades que sejam promovidas pela sua Respeitável Loja tanto no mundo profano como internamente; bem como para a assistência de cursos, debates, tertúlias e palestras que lhe interessem tanto nas várias áreas do Esoterismo como no âmbito da Maçonaria em geral.
 
Digo que é necessário este apoio,  porque com o passar do tempo é normal existir sempre algum desgaste natural nas relações familiares e por vezes as sistemáticas ausências que levam o maçom a sair do seu lar, poderão criar brechas no seu relacionamento marital se estas saídas não forem entendidas ou bem compreendidas pela sua esposa e família. Por isso é necessário também existir uma certa maturidade e confiança entre ambos para que continue acesa a tal “chama” que nos aquece o coração e que nos alimenta a alma.
Se a vida familiar de um maçom não se encontrar com a estabilidade necessária a este tipo de relacionamento, o elevado absentismo que vai existir no seu quotidiano será sempre uma fonte de crítica por parte de uma esposa ou família que se sentirão colocadas à margem da vida do casal em detrimento da vida e família maçónica.
Mas porventura o que nunca deverá acontecer (!!!) será o maçom se desculpar com as suas atividades maçónicas para justificar as suas constantes ausências para ter um comportamente menos lícito e incorreto com a sua cara-metade. - Quando um maçom disser à sua família que “vai à Loja”, é para ir mesmo! - Pois a mentira não faz parte da conduta que se espera de um maçom; o qual deverá nunca esquecer que é um homem de “bons costumes” e que deverá ser naturalmente um bom “chefe de família”.
Todavia, durante o processo de candidatura de um profano a maçom, é usual existir um contato entre os inquiridores instruídos desse processo com a família do candidato para se aferir qual o nível de aceitação que a família terá em relação à proposição do seu familiar. Pois se a família discordar, a candidatura estará “ferida de morte” logo no seu início. Pois possivelmente se for deferida esta proposição, as presenças deste novo membro em loja serão fortuitamente escassas para o que se esperaria dele. E a frequência das sessões da sua Respeitável Loja é obrigatória a todos os seus membros salvo motivo que seja atendível e aceite pelo seu Venerável Mestre (o responsável da Loja).
No âmbito desse contato, também é informada a família de algumas das obrigações do candidato nomeadamente na questão da sua presença nas sessões de loja bem como das obrigações pecuniárias que terá de cumprir, ou seja, a joia e quota mensal/anual de loja.
O que demonstra que a opinião da família é sempre deveras importante, ou não fosse a família a base estrutural da nossa sociedade. E este contato possibilita ainda à família saber o quanto é relevante também, para a futura loja que cooptará o seu familiar.
Algumas das mais valias que a família dos maçons terão/têm à sua disposição, são a possibilidade de conhecer gente que doutra forma não conheceria e que estaria fora do seu círculo habitual de amizades ou o estreitamento dos laços de amizades com outras pessoas com quem já se relacionaria num âmbito mais superficial para além de puder  confraternizar nos vários eventos que vão sendo organizados tanto pela Loja como noutros organizados a “descoberto”… Cimentando  assim, os laços que unem os maçons entre si e que se estendem às suas respetivas famílias. Sendo que na generalidade da sociedade civil mas principalmente em “meios pequenos”, as amizades e famílias maçónicas/profanas  quase se confundem, pois é sempre mais fácil o relacionamento entre Irmãos e/ou com gente que comungue dos mesmos príncipios de vida.
Existem vários tipos de família, umas grandes, outras pequenas, mas a família maçónica será sempre singular e bastante eclética…
Seja em Portugal ou no mundo inteiro, um Irmão será sempre um irmão… e isto para mim será sempre o mais importante. Ou não fosse esta  a família que escolhi, a nossa Família!


15 setembro 2014

Ser reconhecido Maçom...


(imagem retirada de Google Images)

Para alguém ser considerado maçom, primeiramente terá de ser reconhecido por outro como tal. Depois terá de passar por uma conjunto de processos após os quais será aceite ( ou não) por uma Respeitável Loja e a sua consequente Iniciação.

Mas não é tão fácil como o parágrafo anterior se apresenta, mas também não será tão difícil como se poderá supor.
Nas Maçonarias tipicamente anglo-saxónicas é usual a célebre afirmação “2B1ASK1” ou seja “ To Be One, ask One” ( Para ser Um, Pergunte a Um; numa tradução literal), o que permitirá mais facilmente atrair mais gente a esta Augusta Ordem.
Mas por norma, qualquer Obediência (Potência Maçónica) tem um domicílio físico, isto é, uma porta onde se poderá bater no caso de que algum potencial candidato que se interesse ou identifique com os princípios e causas maçónicas se puderá dirigir caso não tenha nenhum conhecido que seja maçom na sua lista de contatos ou esfera de influência. Ou também, o que sucede bastantes vezes, não tenha sido reconhecido ainda por algum outro maçom.

Mas que “reconhecimento” é esse que acabei de falar?!
Nada mais nada menos que tal como os maçons afirmam, que se reconheça em alguém que seja uma pessoa “livre e de bons costumes”, com um comportamento probo e honesto; que seja alguém considerado com bom “pai de família” e um bom colega de trabalho pelos seus pares; que esteja inserido na sociedade onde viva e que tenha vontade em aprender e partilhar o que sabe com outrem; bem como ter também a vontade em auxiliar o seu semelhante.

Todavia, e aqui algo que poderá criar confusão na mente de algumas pessoas, o candidato terá de ser alguém com defeitos, ou seja, alguém que identifique e reconheça os seus defeitos pessoais e tenha a vontade e ambição de mudar o seu comportamento para melhor - “vencer os seus vícios e paixões”… - evoluindo como pessoa e ser humano que é, através de uma via espiritual e iniciática que neste caso preciso é a Maçonaria.

Em geral, na minha opinião, não é a simples pertença na Maçonaria que tornará “homens bons” em “homens melhores”, antes pelo contrário, serão os homens que poderão tornar a instituição maçónica em algo melhor; pois as suas atitudes estarão sob o escrutíno da Sociedade. Os maçons são os seus próprios “juízes e carrascos”, o resto é conversa…

A Maçonaria através das suas “ferramentas filosóficas e espirituais” é que pode auxiliar na evolução pessoal de cada um em direção a um aperfeiçoamento moral e comportamental. Por isso é que é hábito em maçonaria se afirmar que “ a Ordem não procura homens perfeitos”, pois esses já trilharam o seu caminho… 
À Maçonaria interessa sim, quem deseja mudar, mas mudar para melhor…
Somente atuando assim, é que alguém pode um dia esperar ser reconhecido como maçom. Mas não lhe bastará apenas ter sido reconhecido, há que continuar nesta senda de perfeição, caso contrário, as palavras, as atitudes, os comportamentos serão vãos e apenas tudo culminará numa perda de tempo para ambas as partes, tanto para a Respeitável Loja e Obediência que o acolha, quanto para o próprio, que será passível de perder um reconhecimento que por regra não é atribuído a qualquer um!
Tanto que por isso, sempre após uma possível “identificação maçónica” num profano ou após a submissão de um pedido de candidatura de adesão a uma Respeitável Loja, é desencadeado um conjunto de diligências, nomeadamente um processo de inquirição, para que se possa averiguar qual a conduta do suposto candidato a iniciar. Seja através de conversas com o próprio ou com seus familiares e/ou amigos, para que se possa aferir quais as reais intenções de quem deseja que “a porta lhe seja aberta”… 

É que fortuitamente e como em qualquer instituição ou associação onde entre o bicho-homem, também por vezes a Maçonaria tem alguns erros de casting que acabam por manchar a reputação dos demais maçons e influenciar negativamente a opinião profana sobre a Maçonaria e os seus membros. E geralmente são estes casos que vêm a público, pois o bem que a Maçonaria faz, apenas fica resguardado para ela…
E, mesmo depois de ter terminado o processo de inquirição respeitante a um candidato, o mesmo ainda terá de ser sufragado pela Respeitável Loja que o irá cooptar no futuro. E somente após essa decisão da loja, será ou não iniciado.

Por isto tudo, é que afirmei no início que não seria difícil entrar na Maçonaria, mas que por sua vez também, não será tão fácil assim como se poderia supor.


Finalizando e em jeito de conclusão, tenho para mim que antes de se entrar na Maçonaria e se obter qualquer tipo de reconhecimento, já a Maçonaria “entrou dentro de nós”…

06 agosto 2014

33.º = 3.º (republicação)


Este texto foi originalmente publicado no blogue A Partir Pedra em 8 de setembro de 2010

Uma das razões pelas quais quem está de fora da Maçonaria tem dificuldade em compreender, na sua plenitude, o que esta é resulta - bem vistas as coisas, naturalmente - de aquele que vê do exterior julgar, apreciar, avaliar, a instituição segundo o paradigma da sociedade em que se insere e não através do paradigma próprio criado pela Maçonaria.

Quem vê de fora tem tendência a conceber a Maçonaria segundo o cânone da hierarquia, que é comum à maior parte das instituições humanas. O Governo é dirigido por um Primeiro-Ministro, que manda nos, ou coordena os, Ministros, que, por sua vez, mandam no seu Ministério, dando ordens aos seus Secretários de Estado, e estes aos Diretores-Gerais, que ordenam aos Diretores de Serviço, que mandam nos Chefes de Repartição, que exercem autoridade sobre os Chefes de Secção, que dão instruções aos Administrativos, que... E todo o titular de um cargo superior hierarquicamente exerce autoridade não só sobre o seu inferior hierárquico imediato, mas todos os que hierarquicamente estão abaixo deste e de si.

Se pensarmos nas Forças Armadas, idem, aspas, apenas com a diferença de o superior ter o título de General, aquele que está na base da pirâmide, o praça, ser o soldado e, entre um e outro, haver toda uma cadeia hierárquica de Oficiais, Sargentos e Cabos.

Se nos lembrarmos de um clube desportivo, lá está: facilmente visualizaremos a cadeia hierárquica que vai do Presidente da Direção ao roupeiro, passando pelos Diretores, Treinadores, Adjuntos, Capitão de Equipa e seus substitutos, jogadores e demais pessoal.

Se nos detivermos na Igreja do credo religioso maioritário em Portugal, lá temos a omnipresente hierarquia de Papa, Cardeais, Arcebispos, Bispos, Cónegos, Padres e, na aparente base da pirâmide, afinal a sua única razão de ser e de existir, a massa dos crentes.

Em suma, e para não me alongar em exemplos, a maneira comum de ver as instituições da sociedade é de forma hierárquica, em que alguém manda, alguém é mandado e manda, em sucessivos patamares até se chegar a quem só obedece.

A tendência de quem olha de fora para a Maçonaria é vê-la segundo este paradigma e, portanto, considerar que, se no Rito Escocês Antigo e Aceite há 33 graus, os detentores do grau 33.º são os que estão no topo da hierarquia e "mandam" em todos os que se integram nos graus inferiores e o mesmo sucede ao longo da "cadeia hierárquica".

Esta forma de ver a instituição maçónica é profundamente errada e conduz a graves vícios de análise. Persiste quer pelo contágio das demais instituições sociais, quer porque os próprios maçons têm negligenciado o esclarecimento do erro. É por isso que não me escandalizo quando um dos nossos interlocutores afirma - como por vezes sucede - que Fulano era do grau 33 e portanto pertencia ao topo da hierarquia e o que disse ou escreveu há de ter um especial significado, pois integrava o escol dos que mandam. Se este erro persiste, a culpa não é só dos meus interlocutores - é também minha! É, pois, tempo de alijar o fardo da minha culpa e esclarecer!

A Maçonaria não se organiza segundo o princípio da hierarquia. A Maçonaria funciona estritamente segundo o princípio da Igualdade!

A única - e temporária - derrogação destes princípio respeita aos Aprendizes e Companheiros (graus 1.º e 2.º), os quais, por estarem em processo de formação e integração, têm uma diminuição de faculdades, não tendo (ainda) o direito de voto nem o direito de palavra (em reunião formal). Mas esta derrogação da plena Igualdade é temporária e estritamente decorrente da natureza do processo de formação e de integração de Aprendizes e Companheiros. O seu percurso far-se-á com naturalidade até que - sem demasiada demora, mas também sem grandes pressas - aquele que um dia se apresentou à Iniciação se submete ao Ritual de Elevação ao 3.º grau e assume a condição de Mestre Maçom.

A partir desse exato momento, é um Mestre com exatamente os mesmos direitos e deveres e a mesma e igual posição hierárquica que todos os outros Mestres. Nem a antiguidade importa. Nem esta é um posto. O maçom acabado de ser elevado a Mestre pode, no minuto seguinte, ver ser-lhe confiado o exercício de um ofício em loja. E, logo que tenha exercido o ofício de 2.º ou de 1.º Vigilante, pode ser eleito Venerável Mestre, em estrito pé de igualdade com todos aqueles que estão na mesma situação há 1, há 10 ou há 30 anos. E todo aquele que tenha exercido o ofício de Venerável Mestre de uma Loja pode ser eleito Grão-Mestre.

É indiferente, em Loja, se A tem "apenas" o 3.º grau, B o 9.º, C o 15.º, D o 33.º. Todos são estritamente iguais e aquele que tem "apenas" o 3.º grau pode ser eleito Venerável Mestre e dirigir os outros, os que têm o 9.º, o 15.º ou o 33.º grau. Todos os Mestres maçons são estritamente iguais, independentemente do grau dos Altos Graus a que cada um tenha acedido. Um maçom do 3.º grau não é menos, nem mais, do que um maçom do 33.º grau. São ambos Mestres maçons - e com um estatuto rigorosamente igual em Loja. Um dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante um ano, exercer o ofíci0 de Venerável Mestre. Outro dos Mestres maçons da Loja é eleito para, durante o mesmo período, exercer o ofício de Tesoureiro da Loja. O Venerável Mestre eleito designa, segundo os costumes e os critérios próprios da Loja, estabelecidos ao longo do tempo, os Mestres maçons que exercem os demais ofícios necessários para o bom funcionamento da Loja. Independentemente do grau que tenha ou deixe de ter cada um dos designados. Durante um ano, os Oficiais da Loja exercem os poderes e cumprem os deveres inerentes aos respetivos ofícios e os demais elementos da Loja respeitam esse exercício e, se assim o quiserem, colaboram. Em qualquer assunto que se debata, todos - mas rigorosamente todos! - os Mestres maçons, independentemente do grau que porventura adicionalmente detenham ou do ofício que no momento cada um exerça ou não, têm exatamente o mesmo direito à palavra e o mesmo direito ao voto, com exatamente o mesmo valor.

Igualdade absoluta, pois.

Também as Lojas são estritamente iguais. Nenhuma tem mais direitos ou deveres do que as outras.

Sendo assim, perguntará, e bem, quem está de fora, porque há 33 graus, que relação existe entre eles, se não é hierárquica, em que consiste esse paradigma de graus "iguais"?

Essa é matéria que procurarei esclarecer no próximo texto, dedicado aos Altos Graus.

Rui Bandeira

16 julho 2012

O "Grande Arquiteto Do Universo" é uma divindade maçónica?


É conhecido o facto de os maçons se referirem ao Criador como o "Grande Arquiteto Do Universo". Todavia, muitos equiparam essa expressão a outras, próprias de cada culto ou religião, no sentido de considerar o "Grande Arquiteto Do Universo" uma "divindade maçónica", assim como se pode dizer que Krishna é o nome de uma divindade Hindu, Allah o nome da divindade muçulmana, ou YHVH o nome da divindade judaica.

A expressão "falsos deuses" é paradigmática de uma postura de intolerância perante uma fé distinta da de cada um, segundo a qual "se o meu Deus é o verdadeiro, os dos outros só podem ser falsos". A postura da maçonaria a este respeito é a de que a Divindade é única, não obstante cada um Lhe chamar nomes diferentes. Assim, para um maçon não há "falsos deuses", mas antes distintas interpretações do divino; se são falsas ou não, é matéria não de discussão, mas de respeito e tolerância pela diferença e diversidade.

É natural, porém, que quando pensamos em "Allah" evoquemos as características que Lhe são atribuídas pelos seguidores do Islão, e um fiel de uma religião estranhe que se chame ao "seu" Deus uma coisa diferente daquela a que está habituado. No entanto, como fazer se cada um se refere ao Criador de um modo diferente?

Ao adotar a expressão "Grande Arquiteto Do Universo", a maçonaria não pretendeu "criar uma nova divindade", ou substituir o Deus de cada um. Pelo contrário, cada maçon é instado a cumprir com os preceitos da sua fé.

Procurei um paralelismo para explicar o conceito, e creio que o encontrei: o "Grande Arquiteto Do Universo" é um pouco como o "Dia da Mãe". No Dia da Mãe não se comemora alguém que todos reconheçam como "mãe universal"; pelo contrário, cada um comemora, sob a égide do termo universal "Mãe", ninguém menos do que a sua própria mãe - cada um a sua!

O mesmo se passa com o Grande Arquiteto do Universo. Não é um novo Deus; é o mesmo Deus que cada um já conhece, sob um nome que a todos sirva.


Paulo M.

02 julho 2012

Faça-se luz



No início da maçonaria podia haver - e havia! - diferentes correntes de cristianismo na maçonaria, mas todos os maçons eram cristãos. Ao longo do tempo, com a abertura das mentalidades, foi sendo possível admitir membros de outras religiões. Nos nossos dias, a maçonaria regular apenas exige a crença no "Grande Arquiteto do Universo", explicando que este nome não é o de uma "divindade maçónica", mas um novo nome a dar a essa mesma Entidade em que cada um crê; é Aquele a quem os cristãos chamam Deus, os muçulmanos chamam  الله [Allah], os judeus  יהוה [YHWH], os Hindus chamam  ब्रह्मा [Brahmā], e por aí adiante. Deste modo, quando os maçons se pretendem referir a essa Entidade, fazem-no todos através do mesmo nome, ficando assim atenuadas as diferenças decorrentes das diferenças de crença que possam verificar-se, e reforçado o sentido de identidade entre eles, pois, afinal, até todos creem no mesmo Ser Supremo - mesmo que cada um à sua maneira.

Uma vez que a maçonaria é assumidamente uma invenção humana, tem a liberdade de se reinventar e renovar sempre que tal se revele necessário e oportuno. É assim que, se bem que alguns dos símbolos a que a maçonaria recorre sejam da sua própria criação, a simbologia maçónica é, na sua maioria, "tomada de empréstimo" - umas vezes de forma mais dicreta e outras nem por isso - de outras simbologias já existentes. Ao longo da história da maçonaria tem-se assistido a um cuidado cada vez maior com a procura de uma certa neutralidade, do não favorecimento de uma fé em detrimento das demais, e isso consegue-se, frequentemente, através do recurso a símbolos de religiões já desaparecidas mas cuja carga simbólica permanece entre nós por via literária, filosófica ou mitológica.

A referência aos planetas, ao Sol, às estações do ano e a antigas figuras mitológicas pretende apenas constituir ilustração dos princípios morais que se pretende transmitir. Os solstícios, por exemplo, ao serem os momentos em que os raios solares estão mais próximos da perpendicular (no solstício do verão) ou da horizontal (no solstício do inverno) em relação à superfície da Terra, simbolizam respetivamente a retidão moral (verticalidade) e a fraternidade (estar ao mesmo nível). Alertar uma adolescente para os perigos dos predadores sexuais pode ser complicado de fazer; no entanto, recordar-lhe a "história do lobo mau" e, subtilmente, estabelecer um paralelo, pode ser muito mais eficaz do que uma longa e desajeitada conversa. A maioria dos chamados "contos infantis" pretende, precisamente, estabelecer uma base simbólica a revisitar mais tarde, uma vez já absorvidos os princípios, mas sob uma nova realidade: a das circunstâncias da vida real de cada um.

Uma das primeiras estranhezas que se sente quando se ouve, pela primeira vez, uma ata numa sessão, é a da data: "aos vinte dias do mês de janeiro do ano maçónico de seis mil e doze(...)". Porquê "seis mil e doze" se estamos no ano de dois mil e doze? Recordemos o que é que constitui o primeiro ano nossa era: o ano em que terá ocorrido o nascimento de Cristo; por isso se dizia "AC" (Antes de Cristo) e DC (Depois de Cristo), que também se escrevia "AD" (Anno Domini, "Ano do Senhor"). Hoje em dia dizemos estar no ano 2012 EC ("Era Cristã" ou, ainda mais politicamente correto, "Era Comum"). Outros calendários há, cujo início se deu há mais ou há menos tempo. Mede-se o tempo decorrido desde a fundação de Roma (753 AEC) ou do Japão (660 AEC), desde a viagem de Maomé de Meca a Medina (622 EC) ou, de acordo com o calendário judaico, desde a criação do mundo (3761 AEC).

Não era desejável que um calendário - e respetiva bagagem cultural - se impusesse sobre os demais no seio de uma fraternidade em que se pretendia que todos se sentissem iguais. A solução encontrada foi estabelecer-se o "Anno Lucis" - o Ano da Luz - como aquele em que, aproximadamente, o Criador terá, pela primeira vez, feito surgir a Luz. Se recordarmos que a maçonaria é filha do Iluminismo, não faz senão sentido medir-se o tempo desde esse instante. É por isso que, simbolicamente, se soma 4000 anos (número distinto de qualquer calendário existente) ao ano atual e se lhe chama "ano da era maçónica". E, de cada vez que isso se faz, os maçons são recordados de que a fé e a crença de cada um devem ser respeitadas, e que a busca da Luz (ou seja, do conhecimento) deve ser levada a cabo por todos os maçons, independentemente da sua crença, fé ou convicção religiosa.

Paulo M.

25 junho 2012

A Maçonaria e o Culto Solar




"Todas as grandes religiões professam uma filosofia que (...) continua a tratar e a ensinar o Culto Solar e a forma como o Sistema Solar se Comporta.. (...) Hoje sabemos também que a posição do Sol em relação aos outros Eloíns ou planetas também nos afecta e conforme os Anjos, ou ângulos relativamente entre eles, produzem efeitos no comportamento quer ao nível do nosso planeta, quer ao nível do nosso corpo. É claro que em Maçonaria, essas representações Alegóricas tem essas metáforas baseadas em «questões Morais». (...) Eu aceito que o Paulo e outros maçons, não possam falar abertamente sobre estas coisas em público... (...) agora custa-me a aceitar e a perdoar que este conhecimento se mantenha Oculto, tudo fazendo para programar as massas não as educando ou reservando só para si, a chave de muitos problemas que afectam a nossa civilização."
(de um comentário recente do Streetwarrior, que tomei a liberdade de abreviar)

O nosso leitor Streetwarrior apresenta uma série de hipóteses - das quais extrai variadas conclusões - que me pareceram merecer mais do que um mero "comentário ao comentário". Vou tentar contribuir - sucintamente! - com a minha visão do assunto. Comecemos então pelo princípio.

A primeira hipótese é a de que todas as grandes religiões terão a sua origem no Culto Solar, tendo progressivamente divergido umas das outras na forma, mas mantendo a essência e a ancestralidade. Terá havido um "conhecimento ancestral" que se foi degradando com o tempo, e que apenas alguns terão sabido manter na sua integridade. A este respeito pouco haverá a dizer de categórico: não creio que haja documentos que o demonstrem, e tudo o que existe constitui apenas uma série de conjeturas, especulações e extrapolações, forçosamente pessoais e mais do campo da crença do que do da ciência. Assim sendo, é questão que não vou, sequer, tentar discutir: sou absolutamente concordante com a posição da maçonaria a este respeito, de que matéria de crença, fé ou convicção pessoal  são matérias que não devem ser discutidas, mas apenas respeitadas enquanto manifestação da liberdade individual.

A hipótese seguinte - apresentada como facto incontestado - é a de que a posição do Sol  em relação aos outros planetas afete o comportamento quer do nosso planeta quer do nosso corpo. Se virmos esta afirmação numa perspetiva estritamente astronómica e científica - do campo, portanto, dos factos  demonstráveis - dificilmente podemos deixar de a subscrever. Todavia, ao estabelecer um paralelo entre "planetas" e "Eloíns", e entre "ângulos" e "anjos", afastamo-nos do factual, e regressamos ao domínio da crença.

As duas hipóteses anteriores conduziram a uma terceira: de que "em Maçonaria, essas representações Alegóricas tem essas metáforas baseadas em «questões Morais»". Não é novidade que em maçonaria se faça recurso intensivo de símbolos, metáforas e alegorias para se transmitir ideias e princípios. A este respeito, nada de novo. É igualmente conhecido que a maçonaria terá ido "beber" a maior parte da sua simbologia de outras fontes, não criando coisas novas senão esporadicamente. Afinal, torna-se mais simples e eficaz transmitir uma ideia alicerçada sobre conhecimentos já consolidados do que tentar fazê-lo sobre terreno virgem. É verdade que muitos - a maior parte, diria - dos ensinamentos morais que a maçonaria transmite o são de forma alegórica, simbólica ou figurada. Não é por acaso que diz ser a maçonaria "um sistema de moral velado por alegorias e ilustrado por símbolos".

No entanto, não é correto identificar-se a maçonaria com o qualquer "conhecimento ancestral" que terá estado na origem das religiões, a não ser que tal seja feito, eventualmente, numa perspetiva antropológica e sociológica da História das Religiões - que não me parece ser o caso. A maçonaria, a este respeito, pretende apenas promover "a religião com que todos os homens concordam", conceito próximo do da "religião natural", ideia muito em voga no Iluminismo, segundo a qual haveria algumas características da crença religiosa que emanariam da essência da própria natureza humana. Não pretende, de modo algum, constituir ela mesma uma religião, ou reclamar-se detentora de qualquer conhecimento ancestral secreto, mas tão-somente promover a harmonia entre homens de crenças diferentes, na certeza de que o simples facto de terem crenças - mesmo que diferentes - é e deve ser um fator de união e identidade, e não de contenda.

A maçonaria não é detentora de nenhum "segredo oculto" sobre nenhum culto solar, nem detém nenhum conhecimento ancestral sobre o Sol, a Lua, as estrelas, os Astros ou o Zodíaco. Há, sim, símbolos da maçonaria que evocam esses corpos celestes, a começar logo pela questão de se chamar "luz" ao conhecimento. Todavia, são apenas isso mesmo: símbolos, alegorias, auxiliares de memória. Não há conhecimentos ocultos, fórmulas mágicas ou poderes escondidos. Só há trabalho, esforço e vontade de ser uma pessoa melhor - cada um à sua maneira.

É só isto, e não há nada que impeça um maçon de falar disto.

Paulo M.

18 junho 2012

O que se faz numa sessão maçónica - II




Na sequência do meu texto da semana passada o Streetwarrior comentou:

"As sessões colocadas desta maneira, parecem ser uma coisa muito chata ! Gostaria de perceber estes 3 aspectos que sempre me deram muita curiosidade.
Visto que desde os primordios das nossas civilizações, tudo o que nos rodeia, é ligado á religião tudo é politica, o que sobra para se discutir numa sessão?
Se não se pode discutir religião, qual o interesse então de uma maçonaria ser Crente ou não numa entidade religiosa?
Por fim...qual a razão do Mestre andar em angulos rectos, terá isto a ver com (Anjos = Angulos ) bom e maus, visto que a nivel Astro-teológico existem bons angulos e maus angulos?"

Comecemos pelo fim. "Ângulos" vem do latim angulus, “canto, área remota". "Anjos" vem do latim eclesiástico angelus, derivado do grego antigo άγγελος ("ángelos"), e significa "mensageiro". Em comum têm apenas alguma similaridade fonética. Já no que diz respeito à maçonaria e aos ângulos retos, é questão que nada tem que ver com anjos. Aqui, uma referência ao ângulo reto constitui, quase sempre, uma referência ao conceito de "retidão moral", simbolizada pelo esquadro que serve para traçar e aferir os ditos ângulos. A própria linguagem do dia-a-dia consagra, já, esse simbolismo, ao chamar "enviesado" (de "viés": oblíquo, torto) a algo que tenha contornos pouco direitos, e chamando "pessoa reta" a quem cumpra os princípios morais. Assim, as deslocações em loja são feitas em linhas e ângulos retos, recordando-nos que um maçon deve, no seu deambular pelo mundo, agir de forma reta e evitar percursos (moralmente) oblíquos e enviesados.

Quanto ao interesse de uma maçonaria crente numa Entidade Superior, e o facto de essa mesma Entidade não poder ser discutida, é fácil de explicar e de entender. Não é difícil de imaginar que um judeu, um hindu, um cristão, um animista e um muçulmano tenham em comum entre si coisas que não têm em comum com um ateu ou com um agnóstico: todos eles creem no sobrenatural, e na existência de uma Entidade Superior a quem devem a existência e cuja vontade procuram satisfazer. Agora, não tentemos ser mais específicos do que isto, ou estaremos condenados a intermináveis discussões sobre o número de anjos que cabem na cabeça de um alfinete... A diversidade de crenças deve ser enriquecedora, e permitir que cada um tenha a oportunidade de se aperceber de posições diversas da sua, sem ter sequer que defender a sua posição de uma posição diferente; pretende-se, isso sim, que constitua uma circunstância pedagógica da alargamento dos horizontes e de aumento da tolerância em face das diferenças.

Por tudo isto é que creio que a proibição de discussão política e religiosa em loja é frequentemente mal entendida. Em maçonaria aprende-se a favorecer a paz em detrimento do conflito; a preferir a fraternidade à facciosidade; e a privilegiar o estabelecimento de consensos e evitar a dissenção. Por outro lado, a maçonaria constitui um espaço de respeito pela liberdade de cada um como dificilmente se encontra nos nossos dias, nomeadamente no que concerne a liberdade de expressão. Precisamente como garante dessa liberdade de poder dizer-se o que se pensa, por vezes como exercício de exploração interior, sem que tal se repercuta fora da loja, é que em cada sessão se jura guardar silêncio do que na mesma se passou. Ora, dificilmente se encontra uma posição com que todos se identifiquem, pois a procura do bem comum raramente passa pela satisfação dos desejos individuais, o que é tão mais verdadeiro quanto mais fraturante for a questão em causa. Como conciliar estes dois princípios estabelecendo um equilíbrio é algo que se vai aprendendo todos os dias.

É por isto que - no meu entender, note-se - a proibição de discussão política e religiosa em loja não se esgota nos seus termos, que são essencialmente exemplificativos e ilustrativos de um princípio maior: o de que a concórdia entre os homens deve prevalecer sobre a liberdade de expressão. Esta posição nada tem ou pretende ter de totalitário. "Discutir" não é a única forma de abordar um tema ou falar sobre o mesmo. Na loja Mestre Affonso Domingues, por exemplo, pode falar-se de praticamente tudo, desde que em absoluto respeito pela posição dos demais, no sentido de que deve procurar-se que estes não se sintam de modo algum  agredidos com aquilo que se diz.

Certamente à luz desta interpretação foi, há um par de anos, apresentada uma prancha sobre a condenação da maçonaria pela igreja católica ao longo da história, e recentemente, dias antes da lei sobre o "testamento vital" ser unanimemente aprovada pelo nosso parlamento, uma prancha sobre esse mesmo tema apresentada por um mestre da nossa loja que conhece o assunto a fundo. Seria impossível falar da primeira sem falar de religião, e da segunda sem falar de política. O que foi feito, num e noutro caso, foi apresentar-se factos inquestionáveis por qualquer pessoa de boa fé, e eventualmente um ou outro comentário pessoal - devidamente identificado como tal - no meio ou no fim do texto, sempre com o devido cuidado de se evitar o conflito entre diversas posições. Não foram "artigos de opinião", e muito menos de propaganda. Num e noutro caso os obreiros presentes manifestaram a sua satisfação pela qualidade e forma como as pranchas foram apresentadas, e ninguém manifestou qualquer desconforto.

Termino respondendo à primeira observação, de que as sessões maçónicas deverão ser uma coisa muito chata. Depois do que acabei de expor, será inesperado que eu responda que... não são?!

Paulo M.

10 junho 2012

O que se faz numa sessão maçónica



Para se entender o que se faz numa sessão maçónica é necessário entender-se, antes do mais, que muito do que aí se faz é ensaiado, teatralizado ou, como nós dizemos, ritualizado. Há vários rituais diferentes, correspondentes a cada um dos ritos, com muitos pontos comuns entre si mas cada um com a sua especificidade. Quando se diz que uma loja "trabalha num determinado rito", isso significa, essencialmente, que segue um determinado "guião" nas suas sessões, que executa sempre um determinado ritual. Este pouco mais determina que, de forma algo mais solene, se faça o que se faz numa simples reunião de condóminos:

- saber-se quem dirigirá a reunião e quem desempenhará outros papéis, como o de secretariar;
- confirmar se o local reune as condições para se efetuar a reunião: se há luz, cadeiras, documentação (livros de atas, de tesouraria, etc.) entre outros;
- verificar se os presentes são condóminos ou mandatados por algum condómino (ou seja: se têm lugar na reunião ou se lá estão por engano);
- verificar se há quorum, cruzando-se a  lista dos condóminos com a dos presentes;
- ler e votar a aprovação da ata da reunião anterior;
- executar a ordem de trabalhos de forma ordeira e respeitando o regulamento;
- dar a palavra a quem deseje prestar alguma informação, apresentar alguma questão ou suscitar tema de  reunião futura;
- fazer as despedidas dos demais condóminos;
- arrumar a sala, apagar a luz e sair.


Atos equiparáveis sucedem numa sessão maçónica, em que podem considerar-se três partes: a abertura dos trabalhos, o desenvolvimento dos trabalhos, e o encerramento dos trabalhos. Destes três momentos, a abertura e o encerramento são ritualizados. Também parte do que se passa na ordem de trabalhos o é, o que torna as sessões maçónicas mais uniformes e homogéneas na sua forma, e ajuda a que cada um saiba o que pode esperar e como deve agir.

De acordo com cada rito, há lugares pré-determinados para cada um dos oficiais, bem como para os aprendizes, companheiros e demais mestres. Há regras que são transversais a todos os ritos, como a do silêncio dos aprendizes e companheiros (a quem está vedado intervir em loja) ou a necessidade de se pedir a palavra e de que esta seja concedida antes de se poder falar (o que não sucede em qualquer momento). Há momentos específicos para se pedir a palavra, falando cada um apenas uma vez sobre cada assunto (ou seja: não há direito de resposta e muito menos de interrupção), e há uma ordem para se falar; se é passada a vez, perde-se a possibilidade de intervir. Há momentos para se estar de pé e momentos para se estar sentado, e apenas se circula em loja precedido ou acompanhado do mestre de cerimónias, que é o único que se pode movimentar livremente - e mesmo assim sempre acompanhado do seu bastão, e movimentando-se à roda da sala sempre em linhas e ângulos retos, e sempre no mesmo sentido. O cumprimento do ritual não só confere solenidade às sessões como as torna previsíveis e harmoniosas.

Os rituais maçónicos são secretos, mas apenas na medida em que cada maçon jurou não os revelar. O segredo sobre os rituais é, na verdade, um mero símbolo do segredo que cada maçon deve saber guardar em circunstâncias que, de facto, o exijam, e da confiança de que deve ser merecedor. Nada nos rituais é verdadeiramente "secreto", no sentido de que nada trazem de novo a quem os leia procurando descobrir um qualquer "segredo maçónico".

O que se faz nos trabalhos pode ser, simplesmente, a leitura e comentário de uma prancha, uma iniciação ou um "aumento de salário" (passar-se um aprendiz a companheiro ou um companheiro a mestre), ler-se um decreto do grão-mestre, combinar uma atividade da loja (que pode ser, por exemplo, uma refeição, uma palestra ou uma dação de sangue), ou mesmo não se fazer mais nada, passando-se da abertura para o encerramento!

Dos assuntos discutidos em lojas da Maçonaria Regular estão, como se sabe, proibidos quer a discussão religiosa quer a discussão política, pelo que estas questões têm de potencialmente fraturante e contrário ao ideal maçónico de tolerância, fraternidade e harmonia. Quem quiser saber, concretamente, de que tipo de coisas se fala, pode consultar o site da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues, onde se encontra publicado um considerável acervo de  pranchas apresentadas e discutidas em loja.

Paulo M.

11 dezembro 2011

Especular - o trabalho maçónico


Nascemos rodeados de atenções, crescemos no centro da nossa família nuclear, e muitos de nós passam pela vida sem nunca quebrar essa ilusão de importância, sem nunca se aperceber da nossa pequenez, da nossa insignificância, do nada que somos em face do que nos rodeia. A este respeito, chamo a vossa atenção para este vídeo sobre o universo conhecido.

E agora (e porque, em maçonaria, tudo se aprende e nada se ensina), apesar de hoje poder, a este respeito, escrever muito, nada mais escreverei sobre o assunto. Poderia fazê-lo, mas não o farei. Vou, em vez disso, ficar-me pelo que já fiz: indicar um tema, fornecer alguma substância e um ponto de partida, e deixar que cada um congemine as suas próprias suposições, teça as suas próprias ideias, e chegue às suas próprias conclusões - esperando que isso o enriqueça, o melhore e o aperfeiçoe.

Poderemos, depois, quem sabe, partilhar algo daquilo que atingimos. Ou não. Podemos eventualmente interiorizar algo de importante para a nossa vida. Ou podemos relegar o tema para a categoria dos fait divers a que recorrer num momento de falta de conversa. Cada um é livre de estabelecer a sua própria interpretação. Umas oportunidades surgem; outras fazem-se; mas ninguém é obrigado a delas tirar partido. Por isso se diz que tudo se aprende - e nada se ensina. Assim se faz, e se aprende a fazer, numa loja maçónica.

Paulo M.

22 março 2011

A Maçonaria "restritiva e selectiva"



Li recentemente o seguinte comentário: «é por certo o grande mal da Maçonaria, ser tão restritiva e selectiva na escolha dos seus “Irmãos”». Este comentário traduz bem a ideia muito difundida de que a Maçonaria é só para alguns muito poucos, que está cheia de "personalidades" que não se misturam com o comum dos mortais, e que os critérios de admissão passam, essencialmente, pelo posicionamento económico, social ou político do candidato. Não é verdade; a Maçonaria não é isso.

Por outro lado, não poderia dizer que a Maçonaria não seleciona os candidatos, não exerce qualquer controlo sobre as admissões, nem coloca às mesmas qualquer obstáculo. Claro que exerce controlo, claro que seleciona, claro que coloca obstáculos. Os critérios de admissão, porém, são públicos e ao alcance de todos quantos pretendam, eventualmente, juntar-se à nossa Ordem.

O principal critério advém do cumprimento dos Landmarks da Maçonaria, que ditam muitas das restrições à admissão, como sendo a exclusividade de membros masculinos, a obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto Do Universo, ou a de dever ser o candidato uma pessoa honrada e de boa reputação. Os Landmarks são, como disse, públicos, apesar de não serem universais - há Obediências que aceitam uns e rejeitam outros.

Outros critérios de seleção advêm da própria natureza e propósito da Maçonaria, que se aprende na Instrução de Aprendiz:

- O que é um Maçon?
- É um homem nascido livre e de bons costumes, igualmente amigo do rico e do pobre, desde que sejam pessoas de bem.
- Que significa nascer livre?
- O homem que nasceu livre é aquele que, tendo morrido para os preconceitos comuns, renasceu para a nova vida que a iniciação confere.
- Quais são os deveres de um Maçon?
- Evitar o vício e praticar a virtude.
- Como deve um Maçon praticar a virtude?
- Colocando acima de tudo a justiça e a verdade.

Só alguém que se identifique com estes preceitos pode ser admitido na Maçonaria. Senão, não se iria sentir enquadrado - e não só perderia o seu tempo, como faria os demais perder o deles. Porque a adesão à Maçonaria implica um esforço e empenho não só pessoais como de toda a Loja que admite o neófito, esforço esse que se prolonga por vários anos, não é de ânimo leve que se aceita qualquer um. Os erros de casting saem caros a todos. Por isso, a imagem que se passa para fora deve ser essa mesma: a de que ser aceite maçon não é algo que possa ou deva ser feito com leviandade.

Não creio que seja bom, contudo, cair-se no extremo oposto, propalando-se uma imagem de tamanha exigência que leve a que praticamente ninguém sinta - pelo menos até que alguém lho pergunte - que poderá, querendo, pertencer a esta grande Fraternidade. Receio que seja este o maior obstáculo a que a Maçonaria seja e se torne mais numerosa.

Deveras, quantos não sentirão que não encontram quem partilhe dos princípios por que regem a sua vida - que, por acaso, até podem ser os princípios de tolerância, diversidade, paz e fraternidade que a Maçonaria defende e acarinha? Quantos não descobriram já, até, que se identificam com os ideais da Maçonaria, mas acreditam que a Maçonaria é só para "VIPs", e que nunca lhes abriria a porta?

A esses só posso dizer que ainda hoje se aplica um princípio simples e antigo: quem quer entrar tem que começar por bater à porta. Pode ser que tenha uma surpresa e - certamente ao fim de algum tempo - em vez de um polegar para baixo, receba um caloroso abraço de boas vindas...

Paulo M.

P.S.: Obrigado, M.A., por me dar tema para mais um texto; e sim, sei bem que o excerto que reproduzi acima não traduz a ideia do texto em que se insere...

06 março 2011

O conceito maçónico de "Grande Arquiteto Do Universo" - Epílogo


Depois de tudo o que foi dito, e de se entender como o conceito de Grande Arquiteto do Universo se foi progressivamente alargando, resta a questão final: porque é que a Maçonaria Regular insiste em exigir dos seus membros esta crença, quando não a define cabalmente? Porque é que não deixa, de uma vez por todas, de estabelecer essa restrição? Qual a razão, enfim, por detrás da obrigatoriedade da crença no Grande Arquiteto do Universo?

Revisitemos rapidamente a evolução do conceito: do Deus de várias denominações cristãs, passou a significar o Deus das religiões "do Livro" (cristianismo, islão e judaísmo); daí alargou-se a qualquer conceito equivalente, fosse de que religião fosse - ou mesmo de uma crença sem religião nenhuma. Continua, todavia, a insistir-se que o maçon tem que ter fé - seja lá no que for. Porquê?

Por mais diferentes que sejam as suas religiões, duas pessoas que creiam que a existência não é "só isto", só este deambular por um mundo condenado a esvair-se de novo no pó das estrelas, conseguirão encontrar pontos comuns que não terão nunca com um ateu. Sob formas distintas, partilharão do conceito de que a existência tem algum propósito, que não é indiferente a forma como levamos a nossa vida, e que o Bem é um valor e o Mal deve ser evitado.

Não é o ser ou não ateu que determina se uma pessoa é "boa" ou "má". Muitos ateus são excelentes pessoas, e muitos crentes são execráveis simulacros de ser humano. Contudo, há uma certa visão do mundo, a valorização - ou não - de certos pormenores, a prevalência ou prioridade que se dá a certos princípios sobre outros, que separa incomensuravelmente um crente de um ateu, de uma forma que não separa um judeu de um muçulmano, um evangélico de um animista, ou um budista de um sikh. De uma forma ou de outra, todos - com exceção do ateu - crêem na continuidade da vida depois da morte, e que o Bem que se faça será recompensado.

As prioridades são, por isso, forçosamente diferentes, bem como os princípios prevalecentes. Alguém que não acredite num futuro para além desta existência dificilmente se poderá conformar com a privação, o sofrimento ou o despojamento - mesmo que voluntários - em nome de que se estará a "fazer o Bem", e que este será, mais tarde, adequadamente recompensado. "E de que te serve isso?" - perguntarão. De facto, a partir de certo ponto, o fosso é inultrapassável - as diferenças são profundas demais. Ciente desse fosso, a Maçonaria Regular mantém como Landmark a crença no Grande Arquiteto de Universo, e fá-lo a meu ver por três razões distintas. 

Em primeiro lugar, por uma questão formal: os Landmarks são considerados algo de inamovível que ninguém tem a legitimidade de alterar. Alterar a interpretação de um Landmark - como foi feito ao alargar-se o conceito de Grande Arquiteto de Universo de modo a torná-lo mais inclusivo - é uma coisa; outra completamente distinta seria eliminar de todo o Landmark. Os Landmarks são, literalmente, o que marca as extremas dos terrenos; por analogia, são o que marca os limites da Maçonaria Regular. Fora destes, ou não é regular, ou não é, de todo, Maçonaria.

Em segundo lugar, porque não há necessidade: esse foi, precisamente, o caminho tomado pela Maçonaria Liberal. Esta constitui em si mesma um diferente entendimento do que é a Maçonaria - com claras diferenças face à Maçonaria Regular - como inevitável reflexo de princípios distintos, prioridades distintas e, como consequência, um ethos e uma praxis algo diferentes. A existência destas várias correntes na Maçonaria tem a virtude de permitir que uma maior diversidade de pessoas possa encontrar o seu lugar na Maçonaria se assim o desejar.

Em terceiro e último lugar, aprende-se na Maçonaria que a vida é um caminho solitário que se faz acompanhado. Solitário porque estabelecido por cada um no exercício da sua liberdade, e forçosamente diferente dos demais porque todos somos diferentes; mas acompanhado porque os Irmãos estão sempre a curta distância, disponíveis para dividir connosco as alegrias e as tristezas que o caminho nos traz, e para partilhar os ensinamentos advindos de tais situações. É, por isso, mais proveitoso, mais frutuoso, que cada um, ao aconselhar-se junto dos seus Irmãos, receba os seus conselhos na certeza de que os princípios que lhes estão subjacentes são tão próximos quanto possível daqueles que regem a sua própria existência.

Paulo M.