17 agosto 2011

Maçonaria e Poder (V)



Desde o seu início, a Maçonaria especulativa foi, em Inglaterra, interclassista, reunindo no seu seio nobres, burgueses, artesãos e intelectuais.

No século XVIII, muito por influência dos espíritos progressistas do Iluminismo inglês, as Lojas eram polos de divulgação do espírito científico, do Conhecimento. A reunião dos melhores espíritos da época, a sua influência nos círculos populares e urbanos, não escaparam à atenção da nobreza, da classe que detinha e continuava a deter o essencial das rédeas do Poder. E a nobreza inglesa teve a lucidez suficiente para embarcar no mesmo barco e, mesmo, rapidamente, capitanear o navio.

A Maçonaria inglesa, como instituição nascida nesse país, compartilhava da idiossincracia muito particular do povo inglês. Assim, as Lojas assumiam também as características conviviais dos clubs ingleses - e a tradição da sua exclusiva masculinidade, que permanece ainda hoje na Maçonaria Regular... -, particularmente na importância atribuída aos ágapes (refeições) partilhados entre obreiros. Mas, ao contrário, dos distintos e exclusivos clubs, a integração numa Loja não implicava exagerado dispêndio financeiro, sendo os custos inerentes comportáveis para o comum cidadão com uma situação económica que estivesse acima do nível da luta pela sobrevivência. Daí o seu caráter interclassista, sentando-se lado a lado o rico e o meramente remediado, o nobre e o burguês, o intelectual e o artesão.

Mas, como é natural - talvez inevitável - em grupos heterogéneos, os mais cultos, mais bem preparados, os mais bem colocados socialmente, gradualmente acabaram por sobressair. Não admira, assim, que a breve trecho, a direção formal da Grande Loja passasse a ser assegurada por membros da nobreza, depois da alta nobreza e finalmente da Família Real, embora a gestão diária fosse assegurada por elementos socialmente mais discretos, mas porventura mais entrosados na organização e seguramente com maior disponibilidade pessoal para as tarefas do dia-a-dia. Daí a particular importância que, na Maçonaria anglo-saxónica - mas não só - tem o ofício de Grande Secretário, verdadeiro Diretor Administrativo da instituição.

Seja como seja, desde o início da sua implantação que a Maçonaria inglesa foi protegida pelo Poder, integrada como instituição social de relevo. Para além da sua função básica, de polo de melhoria, de crescimento e aperfeiçoamento pessoal dos seus membros, passou a exercer lateralmente tarefas na área social e beneficente, integrande a rede de instituições de suporte social num país em que - não o esqueçamos - a mentalidade socialmente dominante é individualista. E este aspeto beneficente, de suporte social, como é óbvio, na medida em que contribuía para a diminuição e controlo das tensões sociais, sempre agradou ao e favoreceu o Poder.

Mas não só a este nível a maçonaria foi utilizada pelo Poder britânico. A expansão imperial britânica teve como uma das suas pontas-de-lança a Maçonaria, rapidamente "exportada" para todos os confins do globo onde existia um espaço integrante do Império Britânico. A Maçonaria era parte do "british way of life", era uma instituição característica da sociedade inglesa e, como tal, estava presente, tal como a "Union Jack" e os regimentos britânicos, onde quer que existisse o Império Britânico.

Este caráter institucional que rapidamente a Maçonaria inglesa logrou atingir possibilitou e favoreceu o seu crescimento e implantação por todo o Mundo.

Em Inglaterra, indubitavelmente que a Maçonaria beneficiou do beneplácito do Poder. Mas não nos enganemos: mais do que ser a Maçonaria a influenciar o Poder, foi o Poder quem dirigiu e utilizou a Maçonaria, como um dos instrumentos da sua política.

Ainda hoje gentleman que é gentleman é maçom...

Esta caraterística de integração social da Maçonaria inglesa foi partilhada, de uma forma muito similar, em muitos países do Norte da Europa - Escandinávia, reinos alemães, Países Baixos, entre outros - em que, na sua fase de implantação, a Maçonaria foi protegida e integrada pela nobreza, nalguns locais mesmo dirigida pelo monarca ou por um membro da Família Real.

Por sua vez, esta integração social da Maçonaria inglesa influenciou - sobretudo ao nível dos princípios, da organização e da prática quotidiana - a Maçonaria Regular em todo o Mundo.

Em todo o Mundo, a Maçonaria Regular contém-se nos limites da Lei vigente, como instituição integrada na sociedade, existindo e funcionado em plena legalidade, à luz do dia, sem secretismos, tal como qualquer outra instituição social. E, tal como qualquer outra instituição social, influenciando e sendo influenciada pelo Poder. É assim a realidade da vida em sociedade...

Rui Bandeira

10 agosto 2011

Maçonaria e Poder (IV)


Príncipe Edward, Duque de Kent




A transição entre a Maçonaria Operativa e a Maçonaria Especulativa decorreu num período de instabilidade e conflito em Inglaterra: Stuarts contra Hanovers, Protestantes contra Católicos, Parlamento contra Rei. Foi um período de conflitos, de guerras civis, de tumultos e vinganças.

As Lojas maçónicas eram pontos de encontro de todos, independentemente dos lados dos conflitos em que se situassem, fossem católicos ou anglicanos, leais aos Stuarts ou aos Hanovers, adeptos do Parlamento ou fieis ao Rei. Por isso se instituiu na Maçonaria inglesa a regra de que em Loja não se discute política nem religião.

Esta regra, a admissão, permanência e convívio mútuo de pessoas que defendiam ideias diferentes, que, mesmo, batalhavam por conceções diversas, teve uma consequência benéfica para a Maçonaria inglesa: os detentores do Poder, em cada momento, estavam nela inseridos - tal como os derrotados desse momento... Mas, se os ventos sopravam diferentemente e os derrotados de ontem eram os vencedores de hoje, e vice-versa, a situação, em relação à Maçonaria, mantinha-se.

Quando, em 1717, foi criada a Premier Grand Lodge, em Londres, por quatro Lojas desta cidade, o primeiro Grão-Mestre designado foi um burguês, Anthony Sayer, gentleman não particularmente abonado de meios materiais (existem registos de que solicitou e obteve auxílio financeiro da Grande Loja em 1724, 1730 e 1741, ano do seu falecimento). Anthony Sayer era membro da Loja da Apple Tree Tavern, que não era aristocrática. Na época, os aristocratas reuniam-se na Loja Rummer & Grapes.

Em 1718, o Grão-Mestre foi George Payne, também burguês, que mais tarde veio a ser Secretário da Repartição de Impostos. Em 1719, o Grão-Mestre foi o filósofo huguenote francês John Theophilus Desaguliers, também membro da Royal Society, a sociedade inglesa onde se juntaram os melhores cérebros e cientistas da época, verdadeiro alfobre do Iluminismo em Inglaterra. Sucedeu-lhe de novo George Payne, em 1720.

Em 1721, foi eleito Grão-Mestre o primeiro membro da alta nobreza britânica a assumir o cargo: John Montagu, 2.º Duque de Montagu, anteriormente Visconde e depois Marquês Monthermer, que, em 1745, veio a ser nomeado Par do Reino. Foi o primeiro de uma longa lista de nobres, incluindo o Príncipe de Gales entre 1792 e 1812, que dirigiram a Premier Grand Lodge até à sua fusão com a Grande Loja dos Antigos e criação da Grande Loja Unida de Inglaterra, em 1813, realizada sob a égide do seu último Grão-Mestre, o Príncipe Augustus Frederick, Duque de Sussex, que viria a ser o primeiro Grão-Mestre da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE).

A Grande Loja Unida de Inglaterra só teve como Grão-Mestres membros da alta nobreza - e mesmo da família real - desde a sua fundação até à atualidade. Repare-se na lista dos seus Grão-Mestres:
Como se vê, a Maçonaria inglesa muito cedo foi, não só integrada por membros da nobreza britânica, como por ela diretamente dirigida.

A Maçonaria inglesa insere-se, desde o seu início, na esfera do Poder, é uma organização claramente integrante da estrutura social britânica - ao contrário do que sucedeu, como iremos ver, noutras paragens, mas também a exemplo do que sucederia noutros tantos lugares.

Qual o seu papel na sociedade, a sua autonomia em relação ao Poder político e económico - já que, quanto ao Poder social britânico é inequívoca a sua pertença - é matéria que será objeto do próximo texto.

Fontes:

http://en.wikipedia.org/wiki/Premier_Grand_Lodge_of_England
http://en.wikipedia.org/wiki/Anthony_Sayer
http://en.wikipedia.org/wiki/George_Payne_%28Freemason%29
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Montagu,_2nd_Duke_of_Montagu
http://en.wikipedia.org/wiki/United_Grand_Lodge_of_England
http://en.wikipedia.org/wiki/Prince_Edward,_Duke_of_Kent

Rui Bandeira

06 agosto 2011

Niny Sequeira - Maçon de corpo inteiro

Niny Sequeira – assim de repente o nome não diz nada a ninguém, ou a apenas poucas pessoas, a mim diz-me. Diz-me que já passaram muitos anos desde o dia em que o conheci, uns 20 talvez, ou quase.

Diz-me que nos idos tempos da “expansão pela província” da Maçonaria, privei muito de perto com ele.

Pela aurora se marcava a hora de encontro, ali para um posto de abastecimento de combustível na Encarnação.

Niny era inconfundível, magro, enérgico e sempre com um cigarro, mas não era por isso que era inconfundível, era pelo smoking. Homem prático não queria saber de levar muita coisa com ele e por isso o fatito de cerimónia ia logo vestido pela manhã, aliás de uma das vezes quis ser tão prático, e ao mesmo tempo tão irreal, que o smoking acabou por ser o seu pijama.
As idas eram para Bragança, e evidentemente não voltávamos no mesmo dia !!

Sim porque isto de ir realizar sessões maçónicas a sério, para ele só podia ser de smoking.

Foram algumas as viagens, foram muitas as peripécias.

Foram muitos os episódios que se passaram. O Maçon e o Amigo. De vez em quando telefonava-me e lá falávamos um pouco. Acompanhei por terceiros os seus últimos anos de combate a maleitas que o afligiram.

Ontem Niny Sequeira avançou passando ao Oriente Eterno, dele ficam muitas coisas nas nossas memórias.

Nós, que ainda estamos no nosso caminho de aperfeiçoamento, aqui ficamos no nosso percurso até o podermos encontrar novamente, daqui a muitos anos ( porque ele não se aborrece se nós o fizermos esperar um pouco!!!!)

Que o Grande Arquitecto do Universo o tenha  !

José Ruah

03 agosto 2011

Maçonaria e Poder (III)



No tempo das Lojas Operativas, a relação entre os construtores em pedra e o Poder era de simbiótica subordinação. Os construtores em pedra detinham o exclusivo conhecimento - ou quase - de técnicas de construção baseadas em princípios geométricos há muito descobertos, mas perdidos, na sua aplicação, no obscurantismo da Idade Média. A sua associação em núcleos profissionais, Lojas, que asseguravam a formação e treino de novos elementos e a transmissão dos conhecimentos e técnicas herdados de gerações e gerações de profissionais, buscava também garantir a manutenção do conhecimento dessas técnicas e conhecimentos no restrito círculo de profissionais.

Esse desiderato, porém, só era possível de atingir e manter, com o beneplácito dos senhores detentores do Poder - a nobreza -, que assegurava as condições e práticas legais que garantissem o quase monopólio das Lojas operativas nas grandes construções. Em troca, os construtores tinham de bem servir os senhores que lhes encomendavam os trabalhos, executando-os segundo a sua vontade, utilizando as suas técnicas e conhecimento em benefício de quem os contratava.

Também os detentores do Poder religioso, particularmente os bispos - católicos ou Reformistas - influenciavam claramente os maçons operativos. A construção de uma catedral durava e, mesmo, ultrapassava o tempo de vida útil de um oficial construtor. Mas só bons cristãos eram admitidos a trabalhar na construção desses templos. E não só. Também os construtores tinham de se conformar e adotar as normas morais e estilos de vida impostos pelos detentores do Poder religioso. Ou não trabalhavam ali...

Durante séculos, subsistiu esta relação simbiótica, mas subordinada, entre as Lojas operativas e os detentores do Poder - político, económico e religioso.

Mas os tempos iam, primeiro lentamente, depois cada vez mais aceleradamente, mudando. O obscurantismo da Idade Média começou a ser rompido pelo Renascimento, regressando o interesse pelos conhecimentos que a Humanidade obtivera já na Antiguidade. A cultura da Antiguidade Clássica voltou a ser estudada. E muito se descobriu que, mesmo já se sabendo, afinal não se sabia durante séculos e séculos. Os postulados e teoremas da Geometria foram uns dos aspetos redescobertos. E, da redescoberta, em termos públicos e não apenas reservado a uns quantos, poucos, cultores de conhecimentos oralmente transmitidos, necessariamente que resultou a divulgação geral das técnicas de construção que anteriormente só os maçons operativos detinham e guardavam para si.

A Imprensa foi descoberta. Os morosos e caros livros copiados à mão foram, a pouco e pouco, dando lugar a livros impressos, mais baratos, abundantes e dedicados às mais variadas matérias. Conhecimentos e técnicas incluídos...

O que dantes era reservado e monopólio, ou quase, das Lojas passou, num espaço de tempo relativamente curto, a ser habilidade acessível a muitos mais. Era já possível aprender-se as técnicas da construção sem ser no seio de uma Loja operativa. Era já possível trabalhar-se na construção fora da tutela de uma Loja operativa. Surgiam e espalhavam-se os que, nas Ilhas Britânicas, eram depreciativamente denominados pelos maçons operativos de "cowans".

As Lojas operativas lentamente declinavam. A concorrência de profissionais a elas alheios diminuía-lhes o trabalho e os rendimentos. Os construtores em pedra integrados em Lojas operativas deixavam de ser os únicos operadores no mercado. Para procurar manter a sua supremacia, ou simplesmente a sua presença no mercado, dependiam cada vez mais dos senhores terratenentes e das suas encomendas. A relação entre os construtores agrupados em Lojas operativas e os detentores do Poder deixou de ser simbiótica, passou, claramente, a ser subordinada e, com o prosseguir do declínio - os ventos da História não se mudam pela mera vontade de grupos ou indivíduos... - , chegou mesmo a ultrapassar o umbral da subserviência.

As Lojas operativas declinaram economicamente, feridas pela perda da sua exclusividade no mercado. Mas, centenárias, mantendo tradições próprias e um espírito de união resultante de gerações de transmissão de conhecimentos e de vivência em comum, não deixavam de ser atrativamente misteriosas para quem estava de fora (há coisas que, pelos vistos, não mudam...). Os senhores podiam escolher dar os seus trabalhos de construção a Mestres de Lojas operativas ou a "cowans". Mas continuavam a interrogar-se que conhecimentos exclusivos seriam esses que os operativos reservavam para si mesmos. Se outros sabiam também construir, que fazia os operativos manterem-se em Lojas? Que algo mais, ou algo de diferente, havia?

Durante séculos,o que havia no interior das Lojas operativas era só para quem nelas estava. Mas os tempos foram mudando e eram cada vez mais difíceis. Primeiro um senhor, depois outro, logo mais uns quantos, começaram a pôr condições para dar trabalho aos maçons das Lojas e para os continuar a proteger: queriam ter acesso aos conhecimentos próprios deles. Ou então, acabar-se-ia a proteção e havia agora mais quem quisesse trabalhar na construção...

Pouco mais havia a salvar do que a dignidade. Se os senhores exigiam saber o que eles sabiam, não havia já meios de o impedir. Mas podiam e deviam manter os seus compromissos de gerações e não revelar fora de Loja o que à Loja era reservado. A solução foi evidente: admitiram-se os senhores nas Lojas!

Entrou-se assim na transição - mais rápida do que seria de supor - entre a estrita Maçonaria Operativa e o que viria a ser a Maçonaria Especulativa.

Os senhores estavam já nas Lojas. Mais cultos, mais sofisticados, rapidamente se terão apercebido de que os segredos das técnicas de construção não eram já nada de especial nem de domínio exclusivo. Mas toda uma Tradição, toda uma Ética, todo um particular espírito de convivência estratificara ao longo de gerações e de séculos nas Lojas operativas. Esse era o verdadeiro acervo, próprio e único, que, insuspeitadamente, guardavam as Lojas operativas. Afinal, não eram já os segredos das técnicas de construção que interessavam - era tudo o resto!

Os senhores atraíram outros senhores, intelectuais, burgueses, para esse até aí oculto mundo, de antigas tradições, embalsamadas ideias prontas para serem desenvolvidas, notáveis formas de relacionamento a serem prosseguidos. Porventura em menos de um século, os operativos, engolidos pelo progresso, viram as suas Lojas tomadas por dentro e a Maçonaria operativa transformar-se na Maçonaria Especulativa.

O primeiro embate entre a Maçonaria e o Poder começou por ser simbiótico, passou a dependente e subordinado, raiou mesmo a subserviência, transpôs os limites da capitulação... para levar a um inesperado rumo: o Poder conquistou, pacificamente, a Maçonaria por dentro, mas, a partir desse momento, como tantas vezes na História sucedeu com fortes conquistadores, conquistado o Poder interno, podendo-se pôr e dispor... foi seduzido (afinal conquistado) pelas ideias que encontrou.

No primeiro embate entre a Maçonaria e o Poder, os homens do Poder ganharam... mas foram as ideias da Maçonaria que convenceram os vencedores!

Assim mudou a Maçonaria e mais um elemento de mudança se juntou à evolução dos poderosos e do Poder.

Era tempo do Iluminismo alumiar o caminho!

Rui Bandeira

27 julho 2011

Maçonaria e Poder (II)



Antes de se avançar, importa estabelecer bem o significado das palavras, para que não se estabeleçam confusões.

Maçonaria e Poder - que significado neste conjunto de textos se atribui a Maçonaria? E qual o alcance do termo Poder?

Neste conjunto de textos, sempre que utilizar simplesmente a palavra Maçonaria, estarei a utilizá-la no sentido mais amplo possível, tanto quanto possível procurando abarcar o conceito tal como o entende o comum cidadão, de fora, sem grandes precisões ou distinções.

Precisamente porque o objetivo deste conjunto de textos é proporcionar ao cidadão comum, sem grandes conhecimentos ou noções precisas sobre a Maçonaria informação que lhe possibilite assentar as suas ideias sobre o tema com algum fundamento, não faria sentido utilizar a palavra senão no sentido amplo que o cidadão comum lhe atribui.

Assim, neste conjunto de textos, a palavra Maçonaria respeita tanto à Maçonaria Regular como à Liberal, masculina como feminina ou mista, de corrente mais esotérica ou de índole mais social. Quando houver necessidade de precisar, precisar-se-á o conceito. Basicamente, utiliza-se a palavra segundo o significado que ela tem para quem está de fora.

Também será útil deixar uma advertência: procurar-se-á elaborar uma exposição e fazer uma análise tão objetiva quanto a subjetividade de quem escreve for capaz - e sobretudo limitando os juízos de valor ao mínimo possível. Quem frequenta este blogue sabe que os que aqui escrevem se integram na Maçonaria Regular, que é distinta da Maçonaria Liberal. Mas o propósito não é - nem neste espaço nunca foi, pois aqui procura-se respeitar sempre as opções individuais de cada um! - argumentar com uma qualquer superioridade de uma orientação em relação à outra. Tenho a minha opinião sobre o diferente efeito potencial que as diferenças entre a Maçonaria Regular e a Maçonaria Liberal pode ter no relacionamento de uma e de outra com o Poder. Mas restam-me muito poucas dúvidas de que as diferenças efetivas nesses relacionamento decorrem muito mais de razões e percursos históricos e de pontuais tendências subjetivas do que de eventuais inevitabilidades sistémicas.

Não se procura, assim, direta ou indiretamente, afirmar que uma corrente é melhor do que a outra, mais "pura", com ideias "que lavam mais branco". Sempre aqui afirmei - e mantenho e insisto - que considero que, na comparação entre Maçonaria Regular e Liberal, o juízo correto não é declarar ou pretender que uma seja melhor ou pior do que a outra, antes reconhecer que são diferentes - nem muito, nem pouco, diferentes em dois ou três pontos que bastam para que as vejamos como instituições diferentes, sem perder de vista o muito em que são semelhantes. Tão só. E o facto de me integrar na Maçonaria Regular e não na Liberal não tem nada a ver com um eventual juízo meu de pretensa superioridade daquela em relação a esta, apenas e tão só do facto de eu ter procurado integrar-me na tendência que considerei mais afim ao meu pensamento e à minha crença, sem juízos de valor em relação ao pensamento e crença, ou falta dela, alheios.

Também em relação ao segundo termo da equação em análise - o Poder - se justifica uma breve advertência. Neste conjunto de textos, o termo será utilizado igualmente na sua aceção mais ampla, abrangendo não só o Poder Político - que é a noção natural e correntemente utilizada -, mas também o Poder Económico, a Influência Social, o Poder Religioso, a Influência do Saber , enfim tudo o que, sempre na perspetiva do homem comum permite equacionar que alguém se superiorize a outrem, que lhe imponha regras ou comportamentos, que obtenha ou possibilite vantagens. Mais uma vez, sempre que por necessário ou conveniente precisar, precisar-se-á.

Uma última nota: gosto muito de enquadrar o meu pensamento com a perspetiva histórica. entendo que as coisas são o que são, não por acaso, não por voluntarismos, mas porque foram de determinada maneira e tiveram uma específica evolução, que necessariamente condicionam o que são hoje. Não me faz, consequentemente, sentido, procurar dissertar sobre as relações, ou falta delas, entre a Maçonaria e Poder aqui e agora, sem previamente procurar entender como foram, ao longo do tempo e em diversos lugares e circunstâncias, essas relações, buscando entrever sequências, influências, causas e efeitos, que, tanto quanto possível, ajudem a compreender não só as coisas como elas são, mas o como e o porquê de serem como são..

Esclarecido isto, posso então começar a análise do tema no próximo texto.

Rui Bandeira

26 julho 2011

Marreteando



É curioso como, quando sentimos que temos de lidar com algo de maior peso do que a normal rotina, acabamos por retomar hábitos antigos e com que nos demos bem.

Brevemente, vai ser tempo para tomar uma decisão importante. E, cientes de que assim iria ser, os dois Marretas, sem que cada um previamente tivesse consultado o outro, naturalmente retomaram o antigo hábito e ultimamente têm dado uso ao telefone e ao teclado do correio eletrónico.

Desta vez, nem sequer existe, à exceção porventura de um ou outro pormenor, mais adjetivo do que substantivo, desacordo entre ambos. Ambos estão de acordo quanto ao sentido da decisão, ambos se mostram favoráveis à decisão a tomar. Mas, como a decisão é mesmo importante e não basta estar de acordo com ela, há que prevenir perigos, preparar coisas, estar preparado para alguns possíveis imprevistos, prever, gerir e efetuar algumas adaptações, para que, chegada a hora de a decisão ser tomada e, sobretudo, tendo em vista o tempo depois de a mesma ser tomada, se esteja pronto e tudo corra bem. Assim, ambos analisam, preveem e constroem cenários, estudam alterantivas, situações, posturas, ações e reações.

E aqui de novo os velhos hábitos confortavelmente surgem: quase que instintivamente, eles, que estão de acordo no essencial, arranjam maneira de se porem em desacordo nos pormenores e estudam e argumentam e rebatem e, detalhe a detalhe, lá se vão pondo de acordo quanto à melhor forma de atuar e - o que não é de somenos - quanto à melhor forma de cada um deles agir, pois normalmente são mais eficazes cada um sendo ele, diverso do outro, cada um dando atenção a questões diferentes, cada um guarnecendo diferentes aspetos, enfim, cada um fazendo diferente do outro, ambos em prol do mesmo objetivo.

Portanto, minha gente, informo que os dois Marretas estão marreteando a bom ritmo e que esperam - mais: sabem! - que, também com a ajuda do seu marreteanço, na altura própria a Loja estará em perfeitas condições de bem contribuir para a decisão importante que brevemente será tomada e - sobretudo - completa e absolutamente preparada para o que implica essa decisão. Assim, esperam - não só: têm a certeza! - que a decisão importante que brevemente será tomada não perturbará a Loja, não a prejudicará. Pelo contrário, vai torná-la mais sólida, mais forte, mais eficaz, mais... Mestre Affonso Domingues, permanecendo como sempre foi e, como sempre também, reinventando-se e adaptando-se.

A liderança da Loja é boa. Boa será também a próxima liderança. Nesse particular estamos tranquilos. O resto da Loja vai rapidamente preparar-se para o que aí vem. Nós estamos marreteando. Outros vão conversando e preparando-se também. E, quando chegar a altura da decisão importante, não se duvide: a Loja Mestre Affonso Domingues e a sua liderança, a atual e a próxima, estarão preparadas.

Que não sejam as únicas, antes apenas mais uma de todas na mesma situação, é o que eu espero. Mas, para isso, mister é que, em todas as Lojas da GLLP/GLRP, líderes e liderados conversem e se preparem. Com férias ou sem férias, com substituição de lideranças ou sem elas, todas as Lojas, daqui a não muito tempo, têm de tomar uma decisão importante. E não vale a pena, chegada a hora, seja quem for ter a pretensão de se refugiar na dificuldade das férias, no constrangimento da mudança de liderança. Nem invocar desconhecimentos ou incertezas. Quem desconhecer e tiver a obrigação de conhecer, sabe muito bem como e junto de quem se informar! A circulação da informação e o esclarecimento são vias de dois sentidos, não apenas de um...

Qual é a decisão importante que brevemente será tomada? Por agora, não a digo aqui e espero que mais ninguém o faça. Quem sabe, sabe; quem não sabe, em devido tempo virá a saber. Por agora, é para ser discutida nos locais próprios, isto é, em privado, com sossego, calma e concentração. Porque - ninguém o duvide - o problema não estará certamente na tomada de decisão, que, espero, mais detalhe, menos pormenor burocrático, não será difícil de tomar e não suscitará divergências de monta. O problema para que todos e todas as Lojas se devem preparar é o que há que fazer depois de tomada a decisão. Porque se pretende que tudo corra bem e que todos fiquem melhor!

Agora, para os dois Marretas é tempo de marretearem. E por aqui hoje me fico, que estou com pressa: vou almoçar com o José Ruah...

Rui Bandeira

23 julho 2011

Mais um Ano ou será mesmo um dos Anos?

A Loja Mestre Affonso Domingues fecha mais um ano de actividade, o 21º e consequentemente pelos cânones antigos atinge a maioridade.

O inicio do 22º ano é assim simbolicamente o inicio da Idade adulta da Loja. Os caminhos seguidos ao longo destes anos todos, a cultura e a forma de estar serão os pilares para os anos vindouros. As bases e fundamentos estão criadas e a moldagem - entenda-se ensino - dos irmãos está estruturada.

Estou certo, convencido e seguro, que este ano que ora se inicia será um ano MARCO na história da Loja, que o Venerável agora eleito será preponderante (talvez muito mais que o ele pensa) para que daqui a uns anos alguém (eventualmente eu próprio) venha aqui contar do meio século da Loja.

A Maçonaria passa por muitas fases e por muitas transformações, com algumas pequenas derivas à esquerda ou à direita (ou à direita e à esquerda – que não quero que ninguém associe conotações onde elas não existem), mas segue sempre o seu caminho rumo ao futuro na fidelidade aos princípios que a regem.

Todavia para seguir esse caminho é preciso que exista a vontade dos maçons, porque estes são a maçonaria. Se não o fossem então a maçonaria seria apenas um conceito teórico vazio de efeito e conteúdo.

A fase adulta é um bom tempo para com maturidade ir adaptando modificações, suportar alterações mais importantes, digerir novas realidades.

Uma das facetas de uma Loja Maçónica é a capacidade de poder escolher entre várias opções, mas mais que isso propor outras diferentes daquelas que lhe foram apresentadas. Deve poder fazê-lo de forma sustentada, informada e segura.

O seu Venerável, é aqui peça charneira porque é ele o representante de direito da Loja nas várias instâncias. É-lhe exigido que apresente as propostas e posições da Loja, que as defenda, que as “venda”, mas também lhe é exigido que entenda rapidamente outras propostas e posições que lhe sejam presentes.

Não lhe pode ser exigido por quem quer que seja, que decida sozinho sobre matérias de relevância – excepto em situações de grande emergência ou cataclismo – sem pelo menos lhe ser concedida a prerrogativa de ao receber a informação decidir se decide sozinho ou se tem que consultar a sua Loja.

Mas mesmo que essa prerrogativa não aconteça, deve a Loja antecipar cenários, e com isso pensar em soluções que põe à disposição do seu Venerável para que este possa em caso de “aperto” decidir sozinho confortado no debate, ainda que teórico, que teve antes com os seus.

Ora com a entrada na idade adulta, como acima disse, fico muito mais descansado porque sei que tudo o que acabo de escrever está assegurado e que a RL Mestre Affonso Domingues está preparada, faltarão uns ajustes mas poucos, para o futuro e para tudo o que este na sua vertente próxima ou longínqua reserva.

O novo Venerável Mestre, o Irmão Nuno, está suficientemente instruído sobre o funcionamento de uma Loja, e em especial desta, sabe bem como gerir o que lhe aparecer, e sabe sobretudo que conta com a lealdade de todos os membros da sua Loja.

Cabe aqui dizer que só chegámos aqui, porque o 21º Venerável, Irmão A Jorge, teve um papel de relevo na condução dos trabalhos, e terá agora que está prestes a passar à condição de Antigo Venerável uma função de aconselhamento de primordial importância.

Quanto a mim, pois como bem sabem, ando sempre por aí atento ao que se passa, e se me parecer apareço por aqui.


José Ruah