04 abril 2009

Atividade Maçónica II


Então que temos nós para este fim de semana ?
Bom, aparentemente, pelo menos, bom tempo. Já não é mau !
Hoje prefiro retomar o tema “Atividade Maçónica” para moer o juízo aos leitores que não nos deixam sem uma visitinha diária.
Um Amigo e Irmão que ainda não escreve no A-Partir-Pedra mas que é responsável involuntário por vários textos que aqui trouxe, mandou-me mais uma mensagem cujo conteúdo eu aproveito para hoje.
Devo dizer que o aspeto focado é um dos que mais realce merece, diretamente e profundamente relacionado connosco e com a nossa atitude perante a vida e os que nela nos acompanham. A situação aqui ensaiada deverá ser uma das preocupações permanentes do Maçon. Como escrevi no post temático anterior, ao Maçon cabe “fazer” (um “fazer” substantivo, não o fazer, verbo). No que se refere à sociedade e ao relacionamento com essa mesma sociedade, ao Maçon compete “fazer”, “fazer” pura e simplesmente, “fazer” sem retribuição, sem alardes, sem holofotes. “Fazer” o melhor esperando o pior, e não se contentando quando aquele “fazer” não resulta. Nessa altura terá de “refazer” !
O relacionamento social humano é complicado, apenas porque os humanos são complicados. mas não há grande esperança numa sociedade que vive de costas voltadas para os seus integrantes. A floresta de costas voltadas para a árvore vai a caminho do fim. Vai levar tempo mas o caminho será esse, árvore a árvore, cada uma se isola, murcha e morre. E quando a última árvore tiver caído, não haverá mais floresta e, o que é pior, não haverá possibilidade de recuperação.
O que aqui se conta ter-se-á passado durante uma tese de mestrado de um curso de Psicologia, no Brasil. E choca que hajam tantos “transparentes” à nossa volta.
Saltou-me de imediato à ideia os “intocáveis” na Índia… Na verdade também os temos por cá !
Certamente o termo é conhecido de todos mas, pelo sim, pelo não, sempre esclareço que “gari”, no português do outro lado do rio Atlântico, significa “Varredor de rua”, “Almeida” como se diz em Lisboa.
“A palavra gari vem do nome de Pedro Aleixo Gari que, durante o Império, assinou com a Corte brasileira o primeiro contrato de limpeza urbana no Brasil. Aleixo costumava reunir no Rio de Janeiro, cidade onde morava, funcionários para limpar as ruas após a passagem de cavalos, o que nessa época era muito comum.” (Yahoo-Brasil)

'O HOMEM TORNA-SE TUDO OU NADA, CONFORME A EDUCAÇÃO QUE RECEBE'
-'Fingi ser gari por 8 anos e vivi como um ser invisível.'
Psicólogo varreu as ruas da USP para concluir sua tese de mestrado da 'invisibilidade pública'.
Ele comprovou que, em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social.
O psicólogo social Fernando Braga da Costa vestiu uniforme e trabalhou oito anos como gari, varrendo ruas da Universidade de São Paulo. Ali, constatou que, ao olhar da maioria, os trabalhadores braçais são 'seres invisíveis, sem nome'. Em sua tese de mestrado, pela USP, conseguiu comprovar a existência da 'invisibilidade pública', ou seja, uma percepção humana totalmente prejudicada e condicionada à divisão social do trabalho, onde se enxerga somente a função e não a pessoa.
Braga trabalhava apenas meio período como gari, não recebia o salário de R$ 400 como os colegas de vassoura, mas garante que teve a maior lição de sua vida:
-'Descobri que um simples bom dia, que nunca recebi como gari, pode significar um sopro de vida, um sinal da própria existência', explica o pesquisador (Psicólogo).
O psicólogo sentiu na pele o que é ser tratado como um objeto e não como um ser humano.
-'Professores que me abraçavam nos corredores da USP passavam por mim, não me reconheciam por causa do uniforme. Às vezes, esbarravam no meu ombro e, sem ao menos pedir desculpas, seguiam me ignorando, como se tivessem encostado em um poste, ou em um orelhão', diz.

- No primeiro dia de trabalho paramos pro café. Eles colocaram uma garrafa térmica sobre uma plataforma de concreto. Só que não tinha caneca. Havia um clima estranho no ar, eu era um sujeito vindo de outra classe, varrendo rua com eles. Os garis mal conversavam comigo, alguns se aproximavam para ensinar o serviço. Um deles foi até o latão de lixo pegou duas latinhas de refrigerante cortou as latinhas pela metade e serviu o café ali, na latinha suja e grudenta. E como a gente estava num grupo grande, esperei que eles se servissem primeiro. Eu nunca apreciei o sabor do café. Mas, intuitivamente, senti que deveria tomá-lo, e claro, não livre de sensações ruins. Afinal, o cara tirou as latinhas de refrigerante de dentro de uma lixeira, que tem sujeira, tem formiga, tem barata, tem de tudo. No momento em que empunhei a caneca improvisada, parece que todo mundo parou para assistir à cena como se perguntasse: 'E aí, o jovem rico vai se sujeitar a beber nessa caneca?' E eu bebi. Imediatamente a ansiedade parece que evaporou. Eles passaram a conversar comigo, a contar piada, brincar.
1. O que você sentiu na pele, trabalhando como gari?
-Uma vez, um dos garis me convidou para almoçar no bandejão central. Aí eu entrei no Instituto de Psicologia para pegar dinheiro, passei pelo andar térreo, subi escada, passei pelo segundo andar, passei na biblioteca, desci a escada, passei em frente ao centro académico, passei em frente a lanchonete, tinha muita gente conhecida. Eu fiz todo esse trajeto e ninguém em absoluto me viu. Eu tive uma sensação muito ruim. O meu corpo tremia como se eu não o dominasse, uma angustia, e a tampa da cabeça era como se ardesse, como se eu tivesse sido sugado. Fui almoçar, não senti o gosto da comida e voltei para o trabalho atordoado.

2. E depois de oito anos trabalhando como gari? Isso mudou?
-Fui me habituando a isso, assim como eles vão se habituando também a situações pouco saudáveis. Então, quando eu via um professor se aproximando - professor meu - até parava de varrer, porque ele ia passar por mim, podia trocar uma ideia, mas o pessoal passava como se tivesse passando por um poste, uma árvore, um orelhão.
3. E quando você volta para casa, para seu mundo real?
-Eu choro. É muito triste, porque, a partir do instante em que você está inserido nessa condição psicossocial, não se esquece jamais. Acredito que essa experiência me deixou curado da minha doença Burguesa. Esses homens hoje são meus amigos, Conheço a família deles, frequento a casa deles nas periferias. Mudei, nunca deixo de cumprimentar um trabalhador. Faço questão de o trabalhador saber que eu sei que ele existe. Eles são tratados pior do que um animal doméstico, que sempre é chamado pelo nome. São tratados como se fossem uma 'COISA'. Ser IGNORADO é uma das piores sensações que existem na vida! HOJE MUDEI E AGRADEÇO AO MEU MESTRADO.
Fernando Braga da Costa

Ser “ignorado”, “ ser “esquecido”, ser “deixado para trás”… Meus Irmãos e então para que serve a nossa Cadeia de União ? Cadê os nossos invisíveis, as nossas sombras sociais… ? Que fazemos com eles ?
Deixo a pergunta para se entreterem durante o fim de semana. Aproveitem e digam pelo menos “bom dia” à sombra que ali vai…


JPSetúbal

03 abril 2009

A língua – 1


O primeiro texto “A língua” foi o pontapé de saída para Vos trazer uma experiência pessoal que considero muito curiosa e que quero partilhar convosco.
Claro que o facto de Portugal ter entrado em campanha eleitoral ajudou a recordar aquela anedota do português “vernáculo”, mas não só !

De Espanha nem bom vento, nem bom casamento… e muito menos boas laranjas !
Parece um começo esquisito para um texto escrito por um Maçon… e, como de costume, o que parece é !

Como é devido segue-se a explicação.

Há poucas semanas (meia dúzia, se tanto) tomei contacto com um estudioso da língua portuguesa (Roberto Moreno), homem possuidor de um curriculum e tanto, Professor universitário em Universidades várias em Portugal e no Brasil, Palestrante pelo mundo fora, Licenciado e Doutorando em Comunicação Social, Mestre em Ciências da Comunicação, Marketing e Economia...
Digo-vos que o RM circula com um "camião" para poder transportar os títulos todos (para desespero do ZéRuah só não inclui o tal de “par de botas”…).
Foi um contacto giríssimo e eu, pobre analfabeto e gago quando chega a hora, fico sempre de beiço quando me aparece alguém que fala durante uma hora, como se fosse um minuto. Fico mais ou menos anestesiado !
Esta declaração de interesses serve principalmente para os leitores tomarem a cautela necessária aos descontos de entusiasmo.

Pois bem, ouvi em auditório uma dissertação sobre o tema “linguística portuguesa, lusófona e (aqui o grande achado) iberófona” !!!
Linguística Iberófona… Nunca me tinha passado pela cabeça, e se isso não constitui nenhuma surpresa tratando-se da minha, já é de tomar alguma atenção quando a esta se juntam mais umas dezenas que também estavam no tal auditório.
Após a sessão entendi que devia perceber melhor a coisa e fui falar com o “desafiador”.
E aqui estabeleço o contacto com a Fundação Geolíngua !

Maravilhoso o conceito, e tão irritantemente simples que até eu, há anos que ando a dizer o mesmo (bem, quase o mesmo…), mas sem o saber.
A base é um axioma: - Os espanhóis são broncos a falar seja o que for diferente do castelhano.
Há uma dificuldade natural resultante da estrutura mental/falante dos “hermanos” que lhes retira todo e qualquer ginástica mental/falante capaz da adoção de estruturas linguístico/gramaticais diferentes das deles.
Isto é bastante claro no dia a dia prático, mas acontece que nesta teoria da Geolíngua, este facto é teorizado constituindo a base de todo o pensamento daí decorrente.
Uma 2ª parte completa aquele axioma: - Os portugueses tem uma capacidade natural para adoção de soluções mental/falantes diferentes das suas originais.
Como bem se percebe uma teoria completa a outra. É a base de uma língua de cultura aberta, bilingue como diz o autor (o português) e uma língua de cultura fechada (o castelhano).

Agora há que acrescentar as quantidades, isto é, para a “caldeirada” os ingredientes já estão ! Agora é só uma questão de quantidades e de mais algum temperozito para animar o sabor.
Na 1ª parte do axioma podemos juntar naturalmente todos os países de língua oficial espanhola (a América Central e do Sul quase toda, o que significa cerca de 480 milhões de pessoas) e na 2ª parte desse axioma os países de língua oficial portuguesa (África, América do Sul, Ásia,… o que significa mais cerca de 220 milhões pessoas).
Ora vejamos, se fizermos as contas encontramos cerca de 700 milhões de seres falando estas duas línguas base (castelhano e português).

Bom, mas o autor dá mais um passo e acrescenta que na verdade falar português não se fica por falar TAMBÉM 90% do castelhano. A esta operação pode-se juntar como verdadeira (a prática o confirma) TAMBÉM 50% do francês e TAMBÉM 25% do italiano.
Somem tudo e ficamos com meio mundo a entender-se em português, pelo menos do ponto de vista geográfico.
Ora isto é particularmente interessante, tanto mais que a tentativa de construir uma língua universal (o Esperanto) fracassou por completo e está arrumada na gaveta de baixo das ciências que tratam estas coisas.

Outras achegas para esta teorização.

A China tem 2 500 milhões de humanos, habitando um território útil razoavelmente reduzido, com dezenas de etnias (56 reconhecidas oficialmente) e dezenas de dialetos incompreensíveis entre si (o mandarim está muito longe da generalização).
A Índia tem 1 100 milhões de pessoas espalhadas por 28 estados, 6 territórios e 23 línguas oficiais (vinte e três) faladas por dezenas de raças, castas e religiões.

Estas são as duas maiores estruturas nacionais a nível mundial, que em termos do que interessa ao nosso assunto reforçam o peso da relação bilingue daquele.
“Apenas” mais de… 700 milhões de falantes que se entendem, só com o português...
Já alguma vez tinham feito esta conta ?

Bom, talvez se perceba agora que esta coisa da “Língua e Cultura Iberófona” tem pernas para andar, por contraposição da “Língua e Cultura Lusófona”. Mas há mais qualquer coisa a dizer sobre isto.

JPSetúbal

02 abril 2009

L’égalité est la base de toute liberté






Ou serait-ce le contraire?
Ou bien alors, est-ce que l’un de ces mots a-t-il un sens sans le second?
Ou bien encore, est-ce que ces mots, égalité et liberté, ne sont-ils pas dénués de sens? Du moins dans l’absolu.

Serait-ce une hérésie que de dire que Egalité et Liberté sont en soi deux mots abstraits? Voyons.

La définition de l’égalité est relativement simple, c’est l’absence complète de distinction entre les hommes sous le rapport des droits: égalité civile, sociale, politique, ... Or nous savons que cet état d’égalité n’existe pas. Qu’elle soit naturelle, acceptée ou imposée, la différence entre les hommes a toujours existée.

La liberté, par définition, est l’absence de contrainte; mais il n’existe pas de liberté absolue. Que se soit la liberté de conscience, la liberté morale, la liberté du culte, la liberté de la presse, la liberté syndicale, ... elle sera toujours limitée, ou conditionnée, par des règles établies par la communauté à laquelle on appartient.

En définitive, la liberté, telle qu’on l’entend, est de pouvoir faire tout ce qui n’est pas interdit. Et si ce n’était pas le cas, ce serait l’anarchie, la démocratie directe, comme l’exposait Platon. Cette doctrine qui libère l’individu de toute forme de contrainte. Nous revenons à l’abstraction. Alors?


Alors remontons dans le temps, plus précisément les 20, 21, 23, 24 et 26 août 1789. Que se passa-t-il alors?

Les représentants du peuple Français, constitués en Assemblée Nationale, ont résolu d’exposer, dans une déclaration solennelle, les droits naturels, inaliénables et sacrés de l’homme.

Ce fut la “Déclaration des Droits de l’Homme et du Citoyen” dont la première phrase de l’Article premier est:

Les hommes naissent et demeurent libres et égaux en droits.
En théorie, cette simple phrase constituée de dix mots résolvait un problème aussi vieux que l’homme est homme. En réalité, et justement parce que l’homme est homme, il n’a pu réaliser les idéaux contenus dans cette phrase, tout au moins jusqu’en cette veille du XXIème siècle.

Et cela malgré cette autre grande affirmation que fut la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, adoptée et proclamée le 10 décembre 1948 par l’Assemblée Générale des Nations Unies, et dont l’article premier est:

Tous les êtres humains naissent libres et égaux en dignité et en droits. Ils sont doués de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraternité.

Remarquons au passage que, dans ce premier article, apparaît le mot “Fraternité” qui, lié à “Liberté” et “Egalité”, constitue non seulement la devise de la France mais aussi, depuis le milieu du dix-neuvième siècle, le ternaire sacré de la Maçonnerie.

Traditionnellement en France, on a toujours opposé la Liberté de 1789 et l’Egalité de 1793. L’égalité de droit a sans cesse progressé. Ce progrès continue, mais semble presque au bout, à son terme, en tout cas dans nombreux pays.

Dans le même temps où l’on est arrivé presque à la perfection de l’égalité de droit, on a vu s’aggraver les inégalités de fait.

Il y a d’abord les handicaps naturels, ils sont normaux et il ne faut pas chercher à les nier en essayant de cloner les gents intelligents! Il existe et il existera toujours des différences.

D’ailleurs, quand Plantagenêt disait que “l’égalité n’implique pas le nivellement des valeurs”, il sentait bien ce qu’il y avait d’absurde dans cette notion trop absolue d’«égalité».

Ces inégalités sont de sources diverses; l’intelligence de l’individu, son hérédité, ses conditions familiales, son aptitude à la scolarisation, sa citoyenneté, la localisation géographique de son habitat et, principalement, ses revenus!

Les inégalités sociales sont dramatiques, l’écart entre les revenus les plus élevés et les plus modestes se creuse chaque jour plus, et les inégalités deviennent de moins en moins supportables car le fatalisme n’est plus de mise, les écarts sociaux sont consciemment perçus.

Sans compter que d’autres inégalités se sont sans doute aussi aggravées, ce sont les inégalités entre peuples. Jusqu’à présent, on a largement raisonné en termes d’égalité au sein d’une nation, c’est oublier les inégalités entre les pays riches et les pays pauvres, en Europe et dans le Monde, et celles là sont gigantesques.

Il suffit de se pencher sur le phénomène européen qui prône la liberté de circulation à l’intérieur de ses frontières mais qui interdit, en même temps, son accès aux gens du Sud. Ce n’est ni l’égalité des droits, ni l’égalité des conditions.

C’est également oublier le préambule de la Déclaration universelle des droits de l’homme qui rappelle que les peuples ont proclamé leur foi dans les droits fondamentaux de l’homme, dans la dignité des valeurs de la personne humaine, dans l’égalité des droits des hommes et des femmes, et qu’ils se sont déclarés résolus à favoriser le progrès social et à instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberté plus grande.

Cette vision, lorsqu’elle est appliquée, a normalement un caractère fonda- mentalement nationaliste, même si notre Europe joue un rôle positif par sa redistribution et ses fonds de péréquation. Dans ce cas précis, l’Europe est l’image d’une nation globale, limitée à l’espace géographique de ses états membres.

Des étudiants portugais écrivaient dans une thèse sur la Révolution Française:
“Au long des 200 dernières années, l’égalité, par le biais du développement social, n’a fait que augmenter les inégalités, et la fraternité a été abandonnée en un monde qui a placé l’affirmation des Etats Nationaux au dessus de la solidarité entre les peuples.”

L’égalité est-elle la base de toute liberté? Qu’est-ce que l’on entend par «liberté»?

Ce qui consiste à faire tout ce qui ne nuit pas à autrui? L’exercice des droits naturels de chaque homme qui n’a de bornes que celles qui assurent aux autres membres de la société la jouissance de ces mêmes droits?

L’égalité des conditions est une utopie; elle n’est ni possible, ni d’ailleurs souhaitable car, paradoxalement, négatrice de la liberté.

Ce qui pourrait être même dangereux, c’est l’accent mis sur la liberté; la liberté absolue tue l’égalité de même que l’égalité absolue tue la liberté. Personne n’a encore trouvé le bon point d’équilibre sans que l’un détruise l’autre.

Les bornes de cette liberté ne peuvent être déterminées que par la loi. Et la loi, par définition, est égale pour tous.

Donc, une certaine égalité est la base d’une certaine liberté. Il n’existe pas d’absolu.

Ce qui est souhaitable, comme le réfère la “Déclaration universelle des droits de l’homme”, c’est que ce concept soit humanisé par un sentiment qui parait indissociable de son contenu: la fraternité.

Et afin qu’elle prenne tout son sens et qu’elle soit réellement applicable, et appliquée, la devise Maçonnique, “Liberté, Egalité, Fraternité”, devra être toujours associée à la solidarité, à la tolérance et à l’universalité.

Mais même en Maçonnerie l’égalité n’est pas la base de la liberté. Du moins, l’égalité n’est pas toujours synonyme de liberté.

Dans un Ordre qui prône la Tolérance, il existe des règles auxquelles les Maçons doivent se soumettre. Ce sont les Landmarks (ou Règles, ou Statuts, ou Limites) qui dictent quelle doit être l’attitude du Frère dans la Maçonnerie, et par extension, dans le monde profane.

Même si, comme le dit Jean Boucher, “En Maçonnerie, contrairement à ce qui a lieu dans la plupart des autres groupements humains, chaque Frère garde une liberté entière; il ne peut ni ne doit recevoir aucun mot d’ordre susceptible d’influencer ses actes”, le Maçon devra respecter néanmoins les règles édictées par les règlements de sa Loge et de sa Grande Loge. Il ne pourra évoquer “au dehors” ce à quoi il a participé “à l’intérieur”, sa conscience étant liée, dans ce cas, au jurement qu’il fait lors de la fermeture des travaux de sa Loge de Saint-Jean.

L’Initié, lorsqu’il est fait Maçon, cet homme «libre et de bonne renommée» s’entendra appeler “Frère” par ses nouveau correligionaires. Il pourrait imaginer que, de ce fait, il sera leur égal et qu’il jouira des mêmes libertés qu’eux. Il n’en est rien. Il lui faudra attendre d’être Maître pour pouvoir user de la parole en Loge, à l’instar de tous les Apprentis et Compagnons.

Pour conclure, rappelons que l’égalité absolue entre les hommes existe, une fois et une seule, au long de leurs existences. Le jour où le Grand Architecte de l’Univers nous appellera auprès de lui, à l’Orient Eternel, le jour où, effectivement, nous ne serons plus libre de notre choix. C’est l’heure du Jugement Final où l’homme n’est plus maître de son destin

Ce jour-là, cette égalité totale finalement obtenue sera synonyme d’absence totale de liberté, quelle qu’elle soit.

Jean-Pierre GRASSI

01 abril 2009

Pequena nota explicativa

Antes de proceder à publicação do próximo post, que será amanhã dia 2 de Abril, importa fazer o enquadramento do mesmo.
O seu autor, Mestre Maçon e Antigo Veneravel da Loja Mestre Affonso Domingues, é para mim um marco na minha vida maçónica e na vida da Loja.
Corria o ano de 1993 e o VM I.P.C. encarregou-me de fazer uma inquirição a um profano. Era a minha primeira inquirição.
Por questões de agenda ficou marcada para o almoço de 22 de Outubro de 1993, num restaurante em Cascais.
Deparei-me com um homem muito experimentado em conversas e reuniões e o inquirido fui eu e não ele. Convem juntar que eu ainda nao tinha 30 anos de idade e quem estava a minha frente era administrador de uma empresa muito conhecida.
A empatia foi enorme.
Em 1996 convidei-o para ser o 1º Vigilante no meu Veneralato. Foi quem me sucedeu e completou o meu mandato de Março de 1997 até ser re-eleito e instalado novamente em Setembro para aquele que seria de facto o seu mandato, como poder ser lido aqui
Por razões profissionais teve que ir desempenhar funções fora de Portugal, longe da sua loja mas e mais dificil para ele longe da sua familia.
Continua, ele que sendo francês se radicou em Portugal há muitos anos e aqui constituiu familia ( ja tem netos), a ser um emigrante e está actualmente em países do Leste Europeu, com maior incidencia na Polónia.
Maçon convicto e assumido integrou uma Loja na Polónia a Respeitavel Loja La France que trabalha em lingua francesa.
Estou para quem não o conhece a falar do, e escrevo o seu nome porque para tal ele me deu autorização, Jean-Pierre Grassi.
Contactei-o recentemente incentivando-o a participar neste blog, a relatar-nos a sua vivencia maçonica longe da SUA Loja mãe.
Respondeu-me que o iria fazer. Disse-me que era Orador na Loja La France e que me mandaria as suas pranchas.
Já começou a mandar. E nos vamos publicar. A prancha está em Francês e a maioria dos seus textos também o serão.
Os comentários poderão ser em Português ou Francês.

José Ruah

A língua


Temos por aqui alguns leitores, acompanhantes, comentaristas que mostram dificuldade, objeção, resistência às alterações trazidas pelo novo acordo, convénio, convenção estabelecida quanto à nova forma, maneira, configuração de escrever o "português de Portugal".

Pois dando satisfação, alegria, deleite a esses espíritos retrógrados, antiquados, ultrapassados trago aqui a este nosso cantinho, recanto, pedacinho um texto em estilo, feição, modo mais vernáculo, puro, genuíno desse mesmo português... portuguesíssimo.

Este texto é dos melhores registos de língua portuguesa que eu tenho lido sobre a nossa digníssima 'língua de Camões', a tal que tem fama de ser pérfida, infiel ou traiçoeira.

Um político que estava em plena campanha chegou a uma pequena cidade, subiu para o palanque e começou o discurso:
- Compatriotas, companheiros, amigos! Encontramo-nos aqui, convocados, reunidos ou juntos para debater, tratar ou discutir um tópico, tema ou assunto, o qual me parece transcendente, importante ou de vida ou morte. O tópico, tema ou assunto que hoje nos convoca, reúne ou junta é a minha postulação, aspiração ou candidatura a Presidente da Câmara deste Município...

De repente, uma pessoa do público pergunta:
- Ouça lá, porque é que o senhor utiliza sempre três palavras, para dizer a mesma coisa?

E o candidato respondeu:
- Pois veja, meu senhor: a primeira palavra é para pessoas com nível cultural muito alto, como intelectuais em geral; a segunda é para pessoas com um nível cultural médio, como o senhor e a maioria dos que estão aqui; A terceira palavra é para pessoas que têm um nível cultural muito baixo, pelo chão, digamos, como aquele alcoólico, ali deitado na esquina.

De imediato, o alcoólico levanta-se a cambalear e 'atira':
- Senhor postulante, aspirante ou candidato: (hic) o facto, circunstância ou razão pela qual me encontro num estado etílico, alcoolizado ou mamado (hic), não implica, significa, ou quer dizer que o meu nível (hic) cultural seja ínfimo, baixo ou mesmo rasca (hic). E com toda a reverência, estima ou respeito que o senhor me merece (hic) pode ir agrupando, reunindo ou juntando (hic) os seus haveres, coisas ou bagulhos (hic) e encaminhar-se, dirigir-se ou ir direitinho (hic) à leviana da sua progenitora, à mundana da sua mãe biológica ou à p... que o p.... (hic)!!

Disse, terminei, finei.
Por hoje !

JPSetúbal

31 março 2009

Atividade Maçónica

. Hospital Maçónico de Sorocaba, Brasil

Pegando na “estorinha” da chávena e em algumas outras achegas, especialmente a do nosso Irmão AG que escreveu uma prancha focando a sua preocupação pelo estado “disto”… sendo que o “isto” é, apenas, a sociedade humana, trago ao blog alguns minutos do nosso comportamento.
Podemos ser tentados, e somos com enorme frequência (por mim falo !), a considerar que vivemos com dois comportamentos, cada um em seu lugar próprio.
Assim, quando em Loja cada um de nós é Maçon, comporta-se como tal, veste, vive e relaciona-se ritualmente de acordo com os regulamentos instituídos e voluntariamente aceites.
Uma vez fora da Loja somos profanos, vulgaríssimos, iguais a todos os restantes humanos que passam por nós ou que connosco convivem socialmente. Na empresa, no transporte, no restaurante, onde quer que estejamos…
Ora esta dualidade de estados é totalmente despropositada, mais ainda se a eles fazemos corresponder uma dualidade de comportamentos.
Nada explica que dividamos o nosso comportamento como se um deles fosse um heterónimo, ou o nosso outro Eu e o outro fosse o verdadeiro, original.
Digo-vos já que se é assim, ou quando é assim, a 2ª versão é sempre prejudicada na verdade que tenta apresentar.
Sim, porque em qualquer dos estados (original ou heterónimo) cada um faz questão de querer mostrar a naturalidade da normalidade, só que não é possível enganar todos durante todo o tempo, pelo que a apresentação de duas posturas será sempre, numa delas, com o sacrifício mais ou menos nítido da naturalidade.
Quando falamos da guerra, da fome, da iliteracia dos povos, de muitos povos, de muitos milhões de seres humanos, não estamos mais do que a pôr o dedo numa ferida que nos acompanha. Sejamos atentos aos nossos comportamentos. Será que o ser Maçon é um estado de espírito definitivo para todos ?
Claro que é durante a aprendizagem permanente que, passo a passo, construímos esse estado de espírito e é passo a passo que nos aproximamos desse objetivo.
No entanto a questão primeira está na nossa própria consciência da situação. Porque se não estivermos conscientes de que esse caminho é necessário também pouco faremos para lá chegar.
Acontece que escolhemos demasiadamente a chávena, não dando importância à “qualidade do chocolate” e depois sai-nos “um Porche com motor de Fiat 600”.
Para agravar a situação ainda há alguns que mesmo assim vêm para a rua passear o popó todos vaidosos.
Quando digo o “popó”, também posso dizer o penacho !
Então qual é o desafio ?
Bom, se deixamos os metais do lado de fora é bom que não deixemos a Maçonaria do lado de dentro… apenas.
É bom que ela venha connosco ao sair, porque é nossa obrigação integrar todos os Homens na Cadeia de União que formámos enquanto em sessão. O que acontece com frequência excessiva é a Cadeia de União ser exclusivamente interna quando interessa, muito mais, que seja externa.
Igualdade, Fraternidade, Solidariedade não são para ficar fechadas. Nesse ambiente murcham e secam… Precisam do ar livre com Sol, Lua, Chuva, Luz… Se a Maçonaria (e portanto os Maçons) for ativa muito dos males da Humanidade poderão ser resolvidos.
A comunidade Maçónica tem, ao longo do tempo e por todo o mundo, criado muitas responsabilidades no apoio aos necessitados.
Seja criando e gerindo hospitais, sejam escolas e universidades, seja criando e/ou participando em organizações e serviços de apoio social a jovens e velhos, maternidades, lares, e… e…e…
Então, como dizia o outro, se está tudo assim tão bem, porque vai tudo assim tão mal ?
Pois é, há uma atuação vastíssima e importantíssima por parte dos Maçons ao longo do tempo, mas ainda não chega.
É preciso fazer muito mais, é preciso fazer, fazer, fazer…, principalmente fazer, sem anuncio nem anterior nem posterior, simplesmente… fazer !
Em bom português, “que se lixe a chávena !”

JPSetúbal

30 março 2009

28 de Março de 2009, DIA DE FESTA

Ora aí está, Dia de Festa, com maior verdade, Dia de Grande Festa.
Por uma coleção de razões, a saber:

- A GLLP/GLRP reconduziu o seu “novo” Grão-Mestre.
Contradição ?
Nem pensar, está certíssimo, em todos os aspetos. Na recondução tanto como no novo

Grão-Mestrado. Grande festa para os nossos lados, cerimónia de enorme significado
foi a reinstalação de Mário Martin-Guia como Grão-Mestre da Ordem, com o
testemunho das potências maçónicas regulares mais importantes. Cá tivemos as
representações ao mais alto grau das potências Maçónicas da Rússia, Israel,
Alemanha, Suíça, Roménia, Inglaterra, Brasil, Estados Unidos (Pensilvânia) e França.
O Past Grão-Mestre da Grande Loja Nacional Francesa tomou o malhete como potência que

avaliza o reconhecimento da regularidade da GLLP/GLRP e dirigiu pessoalmente a
instalação do nosso Grão-Mestre (sempre auxiliado pela presença bem disposta do
nosso Irmão da Pensilvânia).
Não podia ser simultaneamente mais solene e informal !

Outra contradição ? Outra vez não.
É que a solenidade não tem que ser uma chatice. Também se pode rir e bater palmas
e festejar e brindar e brincar sem perder o tino ao momento e ao significado da
sua representação. E, mais um e, foi o que aconteceu ontem ! No final de quase 4 horas
de cerimónia cerca de 400 maçons sairam “contentes e satisfeitos” de uma sessão “justa
e perfeita”.

- O Rui despediu-se (“até qualquer dia”, bem à portuguesa)

Bom, a festa não resulta propriamente da despedida do Rui mas antes da razão dessa
despedida. Ele explicou a razão melhor do que ninguém portanto não entro em detalhes.
Apenas que mais “altos vôos se alevantam” e o Rui, para alegria nossa e honra de todos,
lá está nesse voo.
E é essa a razão da nossa festa.

- A presença de Mestres da RLMAD na equipa de grandes oficiais é cada vez maior em

número e importância os cargos de Grande Oficialato para os quais os Mestres da
Affonso Domingues tem merecido ser convidados cumprindo com honra e dignidade as
obrigações inerentes.

- O Jantar que se seguiu foi um alegre e agradável convívio e serviu como corolário perfeito

de um dia de festa.

- Mas a festa não teria sido o que foi sem o trabalho aturado e dedicado da Milu e da Sandra

que mais uma vez trataram de todos os detalhes relativos à parte administrativa. Para
elas os parabéns pelo êxito e o agradecimento pela dedicação.

Aqui ficam então as razões porque o dia de anteontem foi um dia de festa.


A.Jorge
José Ruah
JPSetúbal

28 março 2009

Fim de ciclo

Este vai ser o último texto que, pelo menos durante algum tempo, publicarei no A Partir Pedra.

Foi publicado um Decreto do Muito Respeitável Grão-Mestre, pelo qual fui designado para assegurar o ofício de Grande Correio Mor da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

O Grande Correio Mor é o oficial que tem a seu cargo a execução da política de comunicação, interna e externa, quer nacional, quer internacional, da Grande Loja. É também responsável pela manutenção da página na Internet da Grande Loja (http://www.gllp.pt/).

É frequente dizer-se que apenas duas pessoas falam em nome da Grande Loja e a vinculam, através das suas declarações: o Muito Respeitável Grão-Mestre e o Grande Correio Mor. Assim é, efetivamente. Por este facto, a confiança que o Muito Respeitável Grão-Mestre em mim depositou, ao confiar-me o exercício deste ofício, fez simultaneamente recair sobre os meus ombros uma pesada responsabilidade e a necessidade de fazer uma opção. Ao passar a ser porta-voz da GLLP/GLRP, veiculo a posição institucional da Obediência. Não posso, pois, permitir-me o gesto pessoal de divulgar as minhas opiniões pessoais. E, portanto, decidi que, enquanto exercer este ofício, cessarei a publicação de textos no A Partir Pedra.

Dir-se-ia que porventura esta decisão não seria necessária, que seria possível separar a comunicação institucional da opinião pessoal. Não me parece. Desde logo, nunca tive jeito para a duplicidade, invocar que quando disse branco tinha vestido o casaco de Grande Correio Mor e que quanto disse bege, tinha esse casaco despido e estava nas confortáveis mangas de camisa da minha opinião pessoal, que só a mim me vincula. Depois, a assunção de responsabilidades implica, se se está de boa fé, a adequação de comportamentos às exigências das responsabilidades. O responsável pela comunicação institucional de uma organização tem de ter, é imperioso que tenha, a autodisciplina de só veicular as posições institucionais e deixar de debitar opiniões pessoais. Porque, das três, uma: ou a opinião pessoal é coincidente com a posição institucional e então é inútil afirmar pessoalmente o que se disse institucionalmente, ou a opinião pessoal se revela melhor do que a posição institucional e então está a fazer um mau trabalho de porta-voz, apoucando e prejudicando o que deve realçar e promover, ou a opinião pessoal é pior do que a posição institucional e então o melhor é guardá-la para si e não fazer figura de urso...

Portanto, a decisão está tomada!

Tudo tem um princípio e tudo, a certa altura, finda ou se suspende. Este blogue, de que fui um dos fundadores, é algo que me deixa satisfeito comigo próprio. Do nada, conseguimos criar obra, ser ponto de referência em matéria de informação e comentário sobre Maçonaria. Pessoalmente, escrever aqui ajudou-me, e muito, a organizar e solidificar as minhas ideias, a aprender um pouco do muito que me faltava e falta aprender. Suspender a minha intervenção nele, virar uma página, encerrar um ciclo, é, para mim, um ato de naturalidade de quem se habituou a entender que a vida é uma sucessão de permanentes, embora às vezes quase insensíveis ou não sentidas, mudanças. Em certa medida, estou grato por este ciclo terminar, não por incapacidade minha, mas devido à assunção de outras responsabilidades.

Durante quase três anos, publiquei a maior parte dos textos deste blogue. Mas sempre recusei que o mesmo fosse visto como o blogue do Rui Bandeira e outros. Escrevi aqui que espero que o blogue continue quando (...) já não estiver em condições de nele escrever. Se tiver continuidade, se passar de geração em geração de maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, como os princípios maçónicos passam de geração em geração de maçons desde há muitos e muitos anos, terá sido uma boa ideia iniciá-lo. E, se assim for, altura chegará em que os textos escritos por Rui Bandeira serão uma minoria esquecida no arquivo do blogue, eventualmente um ou outro lido aqui e ali, pelo acaso de aleatória busca num motor de busca, quiçá com a mesma curiosidade e bonomia com que acolhemos uma velharia testemunho de época passada...

Um blogue escrito pelo Rui Bandeira seria algo de efémero. Um blogue escrito pelos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues tem as sementes da perenidade, que é grandiosa.

O fim de um ciclo é também o começo de outro.. Espero, creio, estou certo que se iniciará um novo ciclo no blogue, caracterizado pela mais larga participação de Mestres maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Por ora, o blogue fica nas mãos e sob os cuidados do José Ruah, do JPSetúbal e do A. Jorge. Mas outros se lhes vão juntar, a breve prazo, espero. Uns, apenas ocasionalmente publicando textos, para tal utilizando a identidade Mestre Affonso Domingues, criada precisamente com o objetivo de servir para isso mesmo, para que o Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues que deseje colocar ocasionalmente um texto, tenha uma ferramenta simples para o fazer; outros, tomar-lhe-ão o gosto e publicarão com alguma regularidade, para tanto sendo-lhes atribuída uma identidade própria. E assim o blogue prosseguirá, assim continuará a fazer sentido.

A todos os que, ao longo destes quase três anos tiveram a paciência de me lerem e, apesar do meu estilo arrevesado, da minha escrita prolixa e da insignificância das minhas ideias, tiveram a bondade de aqui voltar, o meu agradecimento pela vossa grande, enorme, imensa paciência.

A todos aqueles que comentaram os meus textos - a todos mesmo, sem exceção alguma! - louvando ou criticando, inquirindo ou esclarecendo, concordando ou discordando, mais do que um simples agradecimento, uma pública justiça: cada comentário foi uma incomensurável ajuda. Porque cada comentário permitia concretizar a abstração para quem se escreve, o Leitor, que é ninguém e são todos e que se não sabe quem é, nem quando é, nem porque é. E porque, bastas vezes, um comentário é uma fonte de ideias para novos textos. Se algum valor tem este blogue, não o duvidem: uma parte importante dele resulta dos comentários feitos. A todos peço que prossigam com a vossa colaboração. Serão uma ajuda preciosa para os que continuam a assegurar este espaço. Mais do que imaginam!

Ao José Ruah, ao JPSetúbal e ao A. Jorge, apenas duas palavras: a primeira para manifestar a honra e o gosto que foi, para mim, partilhar este espaço convosco; a segunda, para manifestar a minha plena confiança de que não só vão assegurar a gestão e continuação deste blogue, como vão fazê-lo com mais qualidade, diversidade, espontaneidade, enfim, melhor do que eu alguma vez conseguiria fazer.

Aos Mestres maçons, atuais e futuros, da Loja Mestre Affonso Domingues, peço agora a vossa atenção: este testemunho, que aqui agora vou deixar de segurar, foi construído pedaço a pedaço, texto a texto, frase a frase, letra a letra. Aqui e agora o pouso, no solo da nossa Loja, junto ao Oriente, em frente ao lugar do Venerável Mestre e ao Altar dos Juramentos, entre a Pedra Bruta e a Pedra Cúbica. Exorto-os a nele pegarem. Não temam! Este testemunho está feito de forma que cada um que lhe pegue, fica com um pedaço, que acrescenta à medida que vai escrevendo, e sobra sempre testemunho para os demais. Trouxe-o até aqui e aqui o deixo! Levem-no adiante, longe e mais além!

A todos os que aqui me foram lendo, espero que vão visitando a página da GLLP/GLRP, em http://www.gllp.pt/. Espero torná-la melhor do que a recebo do meu antecessor - mas pior do que o meu sucessor dela faça... O seu conteúdo necessariamente que é e será diferente, e mais sóbrio, do que este blogue - é uma página institucional. Mas espero torná-la mais variada, informativa e , sobretudo, sempre atualizada. Não terá atualizações praticamente diárias, como este blogue, mas proponho-vos o seguinte: marquem na vossa agenda o dia 5 de cada mês e, nesse dia, visitem a página: se tudo correr como eu espero, haverá sempre algo de novo ou diferente.

Até um dia!

Rui Bandeira

27 março 2009

O Chocolate quente


Verdade que o tempo mais frio parece ter passado... de facto nunca se sabe, mas mesmo com a tradição a não ser o que era a Primavera anuncia-se esplendorosa renovando a vida.

Está a ser assim e ainda bem.

A Primavera está-se nas tintas para as crises !

Esta constatação vem a propósito de uma boa chávena de chocolate quente...

Quem, de entre Vós se lembra e teve a sorte de beber o "Cacau da Ribeira" ?

Em Lisboa funcionava como o "ide e que Deus vos abençoe" das missas católicas... Era o final inevitável das "noites da malta", aí pelas 5 ou 6 da matina, já abrandava o escuro do Céu quando o pessoal se juntava no Cais do Sodré para o "Cacau da Ribeira", quente, denso, com cacau a sério (não era plástico, não !) que repunha a ordem no corpo e no espírito após uma noitada... de trabalho duro e cansativo que Deus sabe... Aquilo é qu'era trabalho... haja Deus !

Ora bem, hoje é dia de "estorinha" (institucionalização do Rui) e como tal aqui vai uma, bem saborosa e doce que recupera algo daquela magia das noitadas de Lisboa nos idos de 50's e 60's do século XX (caraças, estou velho !)
Um grupo de jovens licenciados, todos bem sucedidos nas carreiras,decidiram fazer uma visita a um velho professor da faculdade, agora reformado.

Durante a visita, a conversa dos jovens alongou-se em lamentos sobre o imenso stress que tinha tomado conta das suas vidas e do seu trabalho.

O professor não fez qualquer comentário sobre isso e perguntou se gostariam de tomar uma chávena de chocolate quente. Todos se mostraram interessados e o professor dirigiu-se à cozinha, de onde regressou vários minutos depois com uma grande chaleira e uma grande quantidade de chávenas, todas diferentes - de fina porcelana e de rústico barro, de simples vidro e de cristal, umas com aspecto vulgar e outras caríssimas.

Apenas disse aos jovens para se servirem à vontade.

Quando já todos tinham uma chávena de chocolate quente na mão, lhes disse:

- Reparem como todos escolheram as chávenas mais bonitas e dispendiosas deixando ficar as mais vulgares e baratas. Embora seja normal que cada um pretenda para si o melhor, é isso a origem dos vossos problemas e stress. A chávena por onde estais a beber não acrescenta nada à qualidade do chocolate quente. Na maioria dos casos é apenas uma chávena mais requintada e algumas nem deixam ver o que estais a beber. O que vós realmente queríeis era o chocolate quente, não a chávena, mas fostes conscientemente para as chávenas melhores.

Enquanto todos confirmavam, mais ou menos embaraçados, a observação doprofessor, este continuou:

- Considerai agora o seguinte: a vida é o chocolate quente; o dinheiro e a posição social são as chávenas. Estas são apenas meios de conter e servir a vida. A chávena que cada um possui não define nem altera a qualidade da vossa vida. Por vezes, ao concentrarmo-nos apenas na chávena acabamos por nem apreciar o chocolate quente que Deus nos ofereceu. As pessoas mais felizes nem sempre têm o melhor de tudo, apenas sabem aproveitar ao máximo tudo o que têm.

Vivei com simplicidade.
Amai generosamente.
Ajudai-vos uns aos outros com empenho.
Falai com gentileza.

E apreciai o vosso chocolate quente!

(fim da estória)

Muito bem, se depois disto tiverem necessidade de pegar no guardanapo para limpar a boca... é bom sinal.

Escolheram o chocolate ! Fizeram bem !!!

Mas não abusem. Cuidado com o fígado.

Bom fim de semana.

JPSetúbal

26 março 2009

Divisas

No plano individual, no que concerne ao maçon e às suas obras, a Maçonaria exorta a que se busque a simultânea presença da Sabedoria-Força-Beleza, isto é, que toda a obra do maçon seja produto da Sabedoria, tenha Força para subsistir e atingir os propósitos pretendidos s seja dotada da qualidade da Beleza, para que melhor seja apreciada por todos.

A Maçonaria de língua inglesa utiliza com frequência a divisa Brotherly Love - Relief - Truth (Amor Fraternal - Auxílio - Verdade) para significar o desejável modo de relacionamento entre maçons.

No plano social, uma outra divisa é cara à Maçonaria: Liberdade-Igualdade-Fraternidade.

Entende-se que, em todas as sociedades humanas, incluindo a própria Maçonaria e suas Lojas, devem imperar estes princípios, como indispensável cimento de ligação entre cada um e os seus pares e, portanto, da própria estrutura social em si.

A divisa Liberdade-Igualdade-Fraternidade é usualmente associada à Revolução Francesa. Mas não foi nela que a mesma foi criada. A Revolução Francesa apropriou-se desta conjugação de três princípios essenciais à vida social que já era teorizada pela então jovem Maçonaria Especulativa.

Não quer isto dizer que a Revolução Francesa foi uma revolução maçónica. Mas que foi uma revolução em que participaram maçons, isso é facto historicamente comprovado.

Não há que nos admirarmos pela coincidência de utilização da mesma divisa pelos ideais maçónicos e os revolucionários. A Maçonaria nasceu e implantou-se socialmente na vanguarda do pensamento O Iluminismo, o Racionalismo,o Naturalismo, o Pensamento Científico, eram (e são) linhas de pensamento caras à Maçonaria, na época constituindo novidades, faróis de luz, que rompiam a escuridão dos regimes de pensamento, religiosos e políticos que viam a sua era chegar ao fim. A Maçonaria inseriu-se no movimento social que instaurou a Modernidade nas sociedades ocidentais. E para ele, naturalmente, contribuiu. A Maçonaria da época ansiava pela instauração de regimes sociais em que imperassem a Liberdade, a Igualdade, a Fraternidade. Neste caudal de anseios muitos outros se juntaram. A necessidade social de que as instituições políticas se norteassem por tais princípios eram de tal forma prementes, que, em crescente caudal, chegou o momento em que romperam o dique das instituições do Antigo Regime, com a mesma força destruidora e reconformadora da enxurrada.

Mas esta divisa, que se tornou simbólica com a Revolução Francesa e se tornou bandeira de evoluções políticas um pouco por todo o mundo, em termos maçónicos tem um significado interno próprio, não menos profundo. É entendida pelos maçons como a trilogia dos princípios essenciais que devem regular o funcionamento interno das instituições maçónicas, o relacionamento dos maçons entre si e destes com as estruturas da instituição. Já bem antes da Revolução Francesa e das demais evoluções políticas e sociais, na Maçonaria se praticavam internamente os princípios da Liberdade, da Igualdade, da Fraternidade.

Rui Bandeira

25 março 2009

Liberdade - um ponto de vista de um profano


O nosso já conhecido José Restolho enviou-me uma nova reflexão. Devidamente autorizado, aqui a publico

Caros amigos e leitores, enquanto os meus olhos deambulavam pelas páginas do livro “O Profeta” de Khalil Gibran, encontrei uma serie de passagens que gostaria de partilhar convosco e de reflectir um pouco sobre elas. Para quem não conhece, Khalil Gibran (1883 - 1931) foi um ensaísta, filósofo, prosador, poeta, conferencista e pintor de origem libanesa, cujos escritos são repletos de profunda e simples beleza e espiritualidade. Infelizmente não consegui apurar se possuiu ou não alguma ligação à Arte Real. Mas, maçon ou profano, penso que seja indiscutível a sua genialidade e o seu elevado sentido de reflexão. Transcrevo então um excerto d’ “O Profeta” sobre a liberdade (pretendo noutras ocasiões partilhar mais alguns textos deste autor):

“E um orador disse, Fala-nos da Liberdade.

E ele respondeu:

Às portas da cidade e junto à lareira já vos vi prostrados a venerarem a vossa própria liberdade. Tal como os escravos se curvam perante um tirano e o louvam enquanto ele os açoita. Ah, no bosque do templo e à sombra da cidadela já vi os mais livres de entre vós usarem a liberdade como grilhetas. E o meu coração sangrou por dentro; pois só se pode ser livre quando o desejo de encontrar a liberdade se tornar a vossa torta e quando deixardes de falar de liberdade como objectivo e plenitude. Sereis verdadeiramente livres não quando os vossos dias não tiverem uma preocupação nem as vossas noites necessidades ou mágoas. Mas quando estas coisas rodearem a vossa vida e vós vos ergais acima delas, despidos e libertos. E como vos podereis erguer para lá dos dias e das noites a menos que quebreis as cadeias que, na aurora do vosso conhecimento, apertastes à volta do entardecer? Na verdade, aquilo a que chamais liberdade é a mais forte dessas cadeias, embora os seus aros brilhem à luz do sol e vos ofusquem a vista. E o que é isso senão fragmentos do vosso próprio ser de que vos libertareis para vos tornardes livres?

Se se trata apenas de uma lei injusta que ireis abolir, essa lei foi escrita com a vossa mão apoiada na vossa frente. Não podereis apagá-la queimando os livros das leis, ou lavando as frontes dos vossos juízos, embora despejeis o mar sobre eles. E se é um déspota que ireis destronar, certificai-vos primeiro de que o trono erigido dentro de vós também é destruído. Pois como pode um tirano mandar sobre os livres e os orgulhosos, senão exercendo a tirania sobre a liberdade deles e sufocando-lhes o orgulho? E se se trata de uma preocupação que quereis fazer desaparecer, essa preocupação foi escolhida por vós e não imposta. E se é um receio que quereis afastar, a origem desse receio reside no vosso coração e não na mão daquele que receais. Na verdade, todas as coisas se movem dentro do vosso próprio ser em constante meia união, o desejado e o receado, o repugnante e o atraente, o perseguido e o de quem quereis escapar. Estas coisas movem-se dentro de vós como luzes e sombras, aos pares, agarradas. E quando a sombra se desvanece e deixa de ser, a luz que resta torna-se sombra para uma nova luz.

Por isso, a vossa liberdade quando perde as cadeias torna-se ela própria uma cadeia de maior liberdade.”

Ao olhar não só o que nos rodeia como também para dentro mim, apercebo-me que vivemos constantemente “agrilhoados” não conseguindo assim ser verdadeiramente livres. Esses “grilhões”, podem ser vários e de variadas formas. Orgulho, preconceito, preguiça, vaidade, medo (já lá diziam os sábio do país do sol nascente, “o medo tira a fluidez à mente”) … Tantos mais poderiam aqui ser enunciados. Penso que a questão que devemos de nos propor a responder a nós próprio é se seremos realmente livres. Podermos estar com quem gostamos, fazer aquilo que se gosta, etc, é um excelente começo. No entanto, e isto trata-se apenas de uma humilde opinião pessoal, o caminho para a verdadeira liberdade passa sem sombra de dúvida pela busca do conhecimento e do auto-aperfeiçoamento (sempre conscientes da perenidade da nossa condição de aprendizes nesta vida). Para terminar, gostaria apenas de deixar uma questão no ar:

- Será a verdadeira liberdade algo inatingível? Uma ilusão da vida que se materializa apenas quando atravessamos para o Oriente Eterno? Será tal como a perfeição que, embora a sua busca nos permita evoluir e construir o nosso templo interior, não passa de uma mentira da vida, um caminho eterno, sem fim, que aumenta de tamanho sempre que pensamos que avançamos um pouco? Passo a palavra à reflexão…

Não quero - até pela extensão do texto do José Restolho - fazer grandes comentários. Penso que esta visão é uma visão relativa, não cobrindo - nem porventura pretendendo cobrir - todos os aspetos do conceito. Penso, na esteira do texto, que a maior Liberdade é a liberdade interior, do pensamento. E que é importante que nos libertemos do que nos tolhe para o seu pleno exercício: preconceitos, receios, autocensuras e por aí fora.

Mas a Liberdade perante o outro e a sociedade não devem ser apenas palavras vãs. E sobretudo não esquecer, nunca, que a Liberdade é uma medalha que tem outra face: Responsabilidade. Sobretudo no respeito e garantia da Liberdade dos demais.

Não vou estragar o texto do Restolho com mais considerações.

Rui Bandeira

24 março 2009

O segundo Grão-Mestre

Coube a Luís Nandin de Carvalho a tarefa de exercer o ofício de Grão-Mestre da então GLRP, como seu segundo Grão-Mestre.

A empresa já não se afigurava fácil, uma vez que Nandin de Carvalho sucedia ao carismático Grão-Mestre fundador, Fernando Teixeira. Em circunstâncias semelhantes, assegurar a sucessão, trilhar caminhos que necessariamente serão novos ou diversos, nunca é fácil. O peso institucional do líder fundador era muito. A inevitável comparação entre os estilos de quem fundara e de quem assumia as rédeas da liderança não facilitava nada a tarefa do sucessor: se este mantivesse uma linha semelhante ao seu antecessor, seria considerado um mero executante da vontade do fundador, um discípulo sem autonomia e sem real liderança; se alterasse o rumo, arrostaria com todo o peso dos fiéis do fundador, que não aceitariam bem as mudanças. A sucessão de um líder carismático é sempre muito complicada e aceitar assegurá-la é sempre um ato de coragem.

Se Luís Nandin de Carvalho certamente sabia que sair da sombra do seu antecessor seria difícil e doloroso, não teria porventura a noção de quão grandes viriam a ser as dificuldades. Mal tinha tido tempo de aquecer o seu assento na cadeira de Grão-Mestre, menos de três escassos meses após a sua instalação, foi confrontado com uma sublevação de fiéis de Fernando Teixeira. O tempo muito curto que decorrera desde que iniciara funções demonstrava que não era a sua atuação que estava em causa, antes um propósito de retomar um vão poder perdido. No final de 1996, ocorreu o que veio a ficar conhecido pela cisão da Casa do Sino, através da qual uns quantos pretenderam derrubar o Grão-Mestre eleito e recentemente instalado e substitui-lo por um iluminado de sua confiança.

Luís Nandin de Carvalho foi - não poderia deixar de assim ser - reconhecido como o legítimo Grão-Mestre, nacional e internacionalmente. O grupo que se arrogava do iluminado poder de decidir que o Grão-Mestre eleito devia ser derrubado e substituído tentava confundir as coisas e situações, utilizando também a sigla GLRP. Luís Nandin de Carvalho tomou então uma decisão, que, tendo sido na época dolorosa e porventura mal aceite por muitos do que permaneceram fiéis ao Grão-Mestre eleito - incluindo eu próprio -, se revelou acertada: concentrou-se no essencial e nem se preocupou com o acessório. O essencial era manter intocada a prática da Maçonaria segundo os princípios da Regularidade; era recuperar do golpe sofrido, com a ocupação das instalações da Obediência e a cisão; era manter o Reconhecimento das Potências Maçónicas internacionais. O acessório era terçar armas por um nome e por um específico local. Podia recorrer-se aos Tribunais, ao Poder civil, às instituições do Estado, para reclamar para a Obediência a recuperação das instalações de que fora esbulhada e o uso exclusivo do seu nome. Com isso, ter-se-ia, porém, uma longa e desgastante batalha judicial, que em nada prestigiaria a Obediência.

Concluiu que, afinal de contas, espaços para trabalhar há muitos, seria estulto perder tempo e energia a lutar por um específico, ainda por cima nem sequer especialmente adequado para a utilização pretendida, nem tendo propriamente uma localização privilegiada, nem sequer tendo uns custos de utilização baixos. Também entrar numa luta pela designação da Obediência só possibilitaria confusões entre os menos bem informados e no estrangeiro. Decidiu assim, aceitar a solidariedade e disponibilidade do Supremo Conselho dos Altos Graus do Rito Escocês Antigo e Aceite e, provisoriamente, deslocar a sede da Obediência para instalações cedidas por este Supremo Conselho, num bairro histórico de Lisboa. Ulteriormente, e a seu tempo, a Grande Loja assegurou a utilização das suas atuais instalações, no centro de Lisboa. Quanto ao nome, decidiu frisar bem, interna e externamente, onde residia a legalidade maçónica e alterou o nome da Obediência para Grande Loja Legal de Portugal/GLRP (GLLP/GLRP). Internacionalmente, e por força do espírito prático americano, a Obediência ficou comummente conhecida por "Grande Loja Regular de Portugal (Legal)".

Se a sucessão já era, à partida, difícil, os acontecimentos tornaram a tarefa hercúlea. Havia que recolar todos os pedaços de uma jovem organização que um grupo de ambiciosos de vão e estulto poder escaqueirara. Foi preciso reorganizar, reconstruir, recomeçar. E Luís Nandin de Carvalho dirigiu a reorganização, a reconstrução, o recomeço. Apoiou-se naqueles que permaneceram fiéis ao Grão-Mestre eleito, alguns dos quais nem sequer tinham votado nele, mas reconheciam pertencer-lhe a legitimidade para o exercício do ofício. Limpou a casa. Foi avante. Persistiu. Trabalhou. Insistiu. Debateu. No final, transmitiu o malhete da Regularidade ao seu sucessor, intacto e posto a salvo da borrasca.

Só o ter conseguido fazê-lo já tornaria o seu mandato, que decorreu ente 1996 e 2001, merecedor de encómios. Não era, não foi fácil, levar a bom porto uma barca que arrostou com tão inesperada, como violenta tempestade. O seu mandato - ao contrário do que certamente ele próprio desejaria - foi, em grande medida, um trabalhoso período de limitação e reparação dos estragos provocados pela borrasca. Mas, quando chegou a altura de passar a barca a novo timoneiro, esta estava quase integralmente reparada. Todas as Lojas laboravam com normalidade. Internacionalmente, todas as Obediências da Maçonaria Regular reconheciam a GLLP/GLRP como a única e legítima representante da Maçonaria Regular em Portugal, com uma única e temporária exceção, uma das Grandes Lojas americanas, que, no entanto, logo do início do mandato do seu sucessor, retomou o reconhecimento da GLLP/GLRP. Esse é um mérito que ninguém de boa fé pode retirar ao segundo Grão-Mestre.

Mas não foi só no navegar em mar alteroso e na resistência ao infortúnio e más opções alheias que se esgotou o mandato de Luís Nandin de Carvalho. A sua marca mais perene, o essencial da sua maneira de ver a Maçonaria, foi o compromisso que defendeu entre Tradição e Modernidade, o equilíbrio entre recolhimento e abertura que promoveu. Nandin de Carvalho prezava e preza, como todos nós, o valioso espólio de Tradição que constitui um verdadeiro tesouro da Maçonaria. Tradição que se mantém, se deve manter e transmitir: princípios, ensinamentos, práticas ancestrais, hábitos de trabalho individuais e coletivos, enfim, tudo aquilo que faz a Maçonaria ter razão de ser. Mas intuiu e insistiu que, no século XXI, que no seu mandato se iniciou, a forma de a Maçonaria interagir com a Sociedade tinha de acompanhar a evolução desta e dos meios resultantes da Modernidade. Parafraseando o título de um dos seus livros, esta é a época d'A Maçonaria Entreaberta. Não se pense que esta noção teve um caminho fácil. Alterar, modificar, atualizar, arrasta sempre um coro de receios de que se vá depressa demais ou longe demais. E é, obviamente, preciso saber dar tempo ao tempo e dar passos seguros. Mas este compromisso apontado por Nandin de Carvalho fez e vai fazendo o seu caminho. Este blogue é um exemplo disso mesmo...

Rui Bandeira

23 março 2009

United Grand Lodge Of England - Quarterly Communication

Falamos muito dos eventos maçónicos ocorridos do outro lado do Atlântico Sul. Esquecemo-nos de vez em quando dos que acontecem aqui mais perto. Venho hoje falar de um evento que em si é importante mas que se revestiu de importância suplementar se tivermos em conta o discurso do Grão-Mestre (reeleito) local.

O escrito de hoje é sobre a United Grand Lodge of Engalnd e sobre o que na sua “Quarterly Communication” de 11 de Março aconteceu.

Em finais de 2008 foi a Maçonaria Universal informada que o Marquês de Northampton, Pró Grão-Mestre da UGLE iria renunciar ao seu mandato por se encontrar doente.

Convém aqui relembrar que em Inglaterra quando o Grão-Mestre é membro da família Real nunca representa formalmente a Grande Loja, por uma questão de protocolo nacional e internacional. Existe assim regulamentarmente o oficio de Pró Grão-Mestre que tem como função, entre outras, substituir o Grão-Mestre em todas deslocações e missões de representação.

Nessa qualidade o Marquês de Northampton visitou Portugal e a GLLP duas vezes em 6 anos o que para uma pequena obediência como a nossa é algo de notável e indicador do respeito que a Maçonaria Regular Portuguesa angariou na Maçonaria Internacional.

Ora como em Maçonaria as coisas são feitas com tempo e preparação para que as mudanças sejam sempre suaves, em Dezembro foi escolhido o novo Pró Grão-Mestre para que nesta reunião de Março pudesse ser instalado na sua nova função o Muito Respeitável Irmão Peter Lowndes.

Sendo que este é um evento importante pois no fundo representa um novo interlocutor na UGLE, o mais importante foi o discurso - pode ser lido aqui - do Grão-Mestre, o Duque de Kent, e a sua mensagem de abertura e do trabalho feito e que vai continuar a ser feito no sentido de tornar a Maçonaria Inglesa mais presente na sociedade civil.

Este movimento de maior presença na Sociedade Civil é uma tendência que se tem vindo a instalar nas várias Grandes Lojas e Grandes Orientes, em parte porque as sociedades têm evoluído no sentido de serem mais receptivas, em parte porque Obediências são dinâmicas e inseridas. Neste movimento tem influído muito as tecnologias de informação e sobretudo a Internet.

Este trabalho de incremento de presença da Maçonaria na sociedade civil inglesa começou há uns anos, como se pode perceber do discurso do Grão-Mestre, mas apenas agora que está consolidado é que aparece anunciado num discurso oficial.

Esta é uma das formas de agir da Maçonaria. Apenas depois de montar os projectos e de os ter a funcionar é que de forma simples os anuncia.

Creio que para a Maçonaria Universal é de fundamental importância este sinal dado pela UGLE, tradicionalmente com posturas mais conservadoras, no sentido da interacção positiva com a sociedade civil.
José Ruah

22 março 2009

Vai uma anedotinha para um bom Domingo



Altas horas da madrugada, um casal acorda ao som insistente da campainha da sua moradia. O dono da casa levanta-se e pela janela pergunta:

- O que é que você quer?
- Olá. Eu sei que é tarde. Mas preciso que alguém me empurre. A sua casa é a única nesta região. Você precisa de me empurrar!

Louco da vida, o recém-acordado replica:

- Eu não o conheço. São 4 horas da madrugada e pede-me para o ajudar? Ah!, vá-se catar! Você está é bêbado!

E volta para a cama. A mulher, que também acordou, não gostou da atitude do marido:

- Exageraste! Já ficaste sem bateria antes. Bem podias ter ajudado esse indivíduo.
- Empurrá-lo? Ele está é bêbado - desculpa-se o marido.
- Mais um motivo para o ajudar, insiste a mulher. Ele não vai conseguir andar sozinho. Logo tu, que sempre foste tão prestável...

Tomado por remorsos, o marido veste-se, sai de casa e vai para a rua:
- Hei, vou ajudá-lo! Onde é que está?

E o bêbado, gritando:
- Aqui, no baloiço!...


Divirtam-se, e cuidado com os baloiços.

JPSetúbal

20 março 2009

O lenhador e a raposa

Hoje é dia de historieta,como de costume selecionada de entre o que me chega por correio eletrónico, de autor desconhecido e com texto editado por mim.

Existiu um Lenhador que acordava as 6 da manhã e trabalhava o dia todo cortando lenha, e só parava tarde da noite.

Esse lenhador tinha um filho, lindo, de poucos meses e uma raposa, sua amiga, tratada como bicho de estimação e de sua total confiança.

Todos os dias, o lenhador ia trabalhar e deixava a raposa cuidando do seu filho.

Todas as noites ao retornar do trabalho, a raposa ficava feliz com sua chegada. Os vizinhos do Lenhador alertavam que a raposa era um bicho, um animal selvagem, e portando não era confiável. Quando ela sentisse fome comeria a criança.

O Lenhador, sempre discordando dos vizinhos, dizia que isso era um disparate: a raposa era sua amiga e nunca faria isso.

Os vizinhos insistiam:

- Lenhador abre os olhos ! A Raposa vai comer o teu filho.

- Quando sentir fome, comerá o teu filho!

Um dia, o Lenhador, muito exausto do trabalho e muito cansado desses comentários, ao chegar a casa, viu a raposa sorrindo como sempre,mas com a boca totalmente ensanguentada ... O Lenhador pensou o pior e, sem pensar duas vezes, deu com o machado na cabeça da raposa, matando-a...

Ao entrar no quarto, desesperado, encontrou o seu filho no berço dormindo tranquilamente - e, ao lado do berço, uma serpente morta ...

O Lenhador enterrou o Machado e a Raposa juntos!!!

Quando confiar em alguém, não importa o que os outros pensem a esse respeito: siga sempre o que diz o seu coração e a sua cabeça. Não se deixe influenciar ...


Desculpem a expressão, mas desde criança que ouvi o meu pai dizer que uma das piores coisas que se podia fazer era emprenhar pelos ouvidos...

Pensemos pela nossa cabeça. Ouçamos e atentemos nos conselhos que nos dão, mas reservemo-nos o direito de os ponderar e decidirmos segundo o nosso juízo e a nossa análise. Decidamos sempre o mais ponderadamente possível,sabendo sempre que não podemos evitar de todo o erro- só podemos diminuir a sua frequência e gravidade.

E, sobretudo, em momentos de indecisão ou aflição, nunca nos demitamos de pensar e de agir segundo o nosso juízo, só porque nos encheram os ouvidos de desconfianças ou medos. Um ato realizado sem pensar, influenciado pelo que "ouvimos dizer" pode anular e contrariar centenas de horas de reflexão...

Rui Bandeira

19 março 2009

Do valor da imaginação

No último texto, mencionei uma das razões porque decidi publicar aqui no A Partir Pedra o texto, dividido em duas partes de Frederic L. Milliken. Agora é tempo de referir a outra.

Quem segue com alguma assiduidade este blogue já terá certamente percebido qual a minha posição quanto à abertura da Maçonaria à Sociedade.

Não sou cultor do secretismo absoluto. Terá sido necessário aqui noutros tempos. Será porventura ainda necessário noutros lugares. Na sociedade democrática da informação do século XXI, não me faz sentido.

Também já deixei bem claro que não sou adepto das "paredes de vidro", tudo divulgando, tudo deixando devassar. A Maçonaria, como qualquer pessoa ou instituição humana necessita e tem direito a uma zona de privacidade. Reconhecê-lo é uma simples questão de bom senso.

Sou adepto da política de definir e dizer claramente quais os aspetos que reservamos para nós e porquê. Fi-lo já, claramente e sem ambiguidades, neste blogue, designadamente na série de textos A propósito do segredo maçónico, Porque se guarda o segredo maçónico, Reserva de identidade, Reserva sobre as formas de reconhecimento, Reserva sobre rituais e cerimónias, Reserva sobre trabalhos de Loja e O segredo maçónico esotérico. Entendo que as pessoas sérias e bem-intencionadas percebem a razão de ser da reserva, quando esta é claramente afirmada e explicados os seus alcance, limites e motivos. Os outros, aqueles cujos preconceitos os inibem de ser intelectualmente sérios e bem intencionados, não me interessam nem preocupam.

Não sou também nem adepto de tudo esconder, para criar ou manter o mito dos "excelsos segredos e conhecimentos", que poderia impressionar uns quantos ingénuos, mas só contribuiria para desiludir quem buscasse a Iniciação, na mira de conhecer tão inefáveis como inexistentes segredos, nem de tudo revelar, dinamitando assim o teor de surpresa, de experiência vivida, que absolutamente deve estar presente no contacto daquele que é Iniciado com a Maçonaria e daquele que nela avança com os ensinamentos postos sob a luz da sua atenção, essencial para ativar e impressionar a sua inteligência emocional, permitindo que não só se aprenda como apreenda, que não só se saiba, como se viva, que não apenas se assista ou veja, mas se experiencie.

Embora alerte todos os que me manifestam interesse na Iniciação contra o perigo de ser a mera curiosidade a fonte do seu interesse, é claro que não sou insensível e compreendo e aceito e acho natural que haja uma componente de curiosidade em quem se interessa pela Maçonaria. Que se goste de saber o que se faz, como se faz, como são os rituais, etc.. É humano, é natural, é saudável. No entanto, a reserva sobre os rituais existe e concordo totalmente em que exista (um dos textos acima indicados explica porquê) e eu, como os demais maçons, cumpro o meu compromisso de manter essa reserva. Não só por ela, embora já tenha declarado entender e concordar com a razão da sua existência. Também porque nisso empenhei a minha honra. Procuro sempre manter o delicado equilíbrio necessário para esclarecer, divulgar, explicar, sem trair o meu compromisso e sem prejudicar os motivos da reserva do que é reservado.

Penso ter logrado um bom equilíbrio, por exemplo, nos textos A Iniciação (I) e A Iniciação (II). Pensava aí ter ido tão longe quanto possível, permitindo que os interessados tivessem a noção do autêntico rito de passagem que é a Iniciação, como ritos de passagem são todas as demais cerimónias que marcam o avanço na Maçonaria.

Quando li o texto de Frederic L. Milliken, percebi que afinal podia ir um pouco mais além. Com aqueles dois textos sobre a Iniciação, os interessados ficaram com a noção INTELECTUAL do rito maçónico. Ao publicar o texto de Frederic L. Milliken, podia proporcionar-lhes um pouco mais. Porque o que ali está descrito é, no fundo, um simples ritual de passagem, com a particularidade de o seu autor ter usados o tipo de linguagem maçónica e procurado descrever alguma da ambiência envolvente que se procura garantir nos "rituais verdadeiros" (ou "graus terrenos", como se dizia no texto). O texto é - ninguém tem obviamente dúvidas disso! - ficção, o fruto da imaginação do seu autor. Mas cada leitor, ao lê-lo, se usar a sua própria imaginação e se colocar na posição do "tomador do último grau" pode ter uma pequena noção do que se procura seja vivenciado por aquele em favor de quem é executada cada cerimónia. Não é verdadeira vivência de verdadeira cerimónia, claro que não é. Não permite marcar a sua inteligência emocional, claro que não. Mas porventura, poderá dar a noção de como isso é feito...

No tal delicado equilíbrio entre o que entendo que posso mostrar e o que aceito que devo esconder, o texto de Frederic L. Milliken, permite ir um poucochinho mais além. Por isso mereceu a sua publicação neste blogue!

No texto Do valor da parábola, a razão para a publicação que ali adiantei era pessoal, o efeito que o texto de Milliken teve em mim. Terá também tocado a alguns dos leitores, porventura nem por isso a muitos outros. Neste texto, apresentei a razão "institucional" da minha decisão de publicação. Gosto de divulgar, gosto de esclarecer quem quer ser esclarecido (não de terçar armas com quem busque estéreis embates de pretensas habilidades retóricas), gosto de debater Maçonaria com quem quer estiver interessado nesse debate (não em duelos ao pôr-do-sol...). A divulgação não se faz só com textos mais ou menos profundos, mais ou menos factuais, mais ou menos argumentativos. Também se faz com a ilustração, o estímulo da imaginação. E, neste aspeto, pouco importa o que se diz no texto de Milliken, antes interessa como se diz. Não releva tanto a árvore como a estrutura da floresta. Não se busca a possível pérola (que o galo de Esopo rejeita), mas antes verificar a estrutura da ostra.

Rui Bandeira

18 março 2009

Do valor da parábola

Quem acompanha este blogue sabe que, com exceção das "alegorias" de (algumas) sextas-feiras, privilegio a publicação de textos originais meus. A recente publicação de "Tive um sonho" e de "O último grau " é a exceção que conforma a regra. Estes dois textos - que, afinal, são apenas um, apenas dividido, por razões de extensão, em duas publicações no ótimo blogue The Beehive, do excelente sítio Freemason Information - impressionaram-me quando os li e decidi pedir autorização ao seu autor, Irmão Frederic L. Milliken, para os traduzir e publicar aqui no A Partir Pedra, autorização essa aliás pronta e simpaticamente concedida e que eu agradeço.

Duas razões me motivaram ao labor de traduzir e publicar trabalho alheio. A primeira, resultante de uma identificação com a mensagem constante da "palestra" do "último grau", explico-a neste texto. A segunda ficará para um outro.

Escrevi já várias vezes, a última das quais há não muito tempo (O segredo maçónico esotérico) que o único verdadeiro segredo maçónico, o que importa, o que releva, existe, não porque os maçons o queiram preservar, mas porque não o conseguem revelar. Porque é insuscetível de plena transmissão. Referi, também no mesmo texto, que, em bom rigor, duvido mesmo que haja apenas um verdadeiro segredo maçónico, um único segredo esotérico. Nesta altura do meu entendimento, propendo a considerar que cada maçon atinge a sua própria Luz - a deste com mais brilho, a daquele mais baça, a daqueloutro, qual bruxuleante chama de longínqua vela, mal se vendo -, cada maçon encontra e resgata a sua própria e individual Palavra Perdida - a de um bela e cristalina, a de outro sonora e estentória, a de um terceiro suave e quase inaudível murmúrio. Prossegui concluindo que nessa viagem, nesse trabalho, nessa busca, cada um procura coisa diversa. Eu só posso definir o que neste momento busco. Já me reconciliei - há muito! - com a finitude da vida neste plano de existência, já abandonei, por estulta e estéril, a busca do imenso porquê, a mim nunca me interessou particularmente interrogar-me sobre o cósmico como. Por agora, desde há muito e não sei até quando, concentro-me na busca do sentido da Vida e da Criação. Tenho uma ideia rude e imprecisa desse sentido. Busco o melhor ângulo para obter mais Luz. Espero que consiga obter o Brilho suficiente para, através do sentido da Criação, entrever o Criador... E tudo isto eu - neste momento - busco, em fantástica viagem, sem outro veículo que não eu próprio, não consumindo outro combustível senão tudo aquilo de que me interiormente despojo, sem outro destino e caminho senão o fundo de mim mesmo. Porque é o conhecimento de mim mesmo, em todas as complexas vertentes que condicionam o meu Eu, que me habilitará a conhecer o Outro, o Mundo e quem o criou e porquê e para quê e como. Eu sou a pergunta, a pergunta sem resposta, a pergunta buscando a resposta e, simultaneamente, a resposta contida na própria pergunta, que me levará a nova pergunta, que gerará nova resposta, em contínuo alargar de horizontes, que espero me permita entrever o que está para além do horizonte e contém todos os horizontes...

Percebe-se então facilmente porque me impressionou o trabalho do Irmão Milliken. Nessa busca interior que vou fazendo, a algumas conclusões próprias ia chegando e guardando no meu íntimo e aí as entesourando, por convencimento da minha incapacidade de adequadamente as transmitir. O texto da "palestra do último grau" assemelha-se muito ao meu pensamento e exprime-o muito melhor do que eu seria capaz:

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Realmente, há coisas que só as parábolas permitem transmitir!

Rui Bandeira

17 março 2009

O último grau

Quando entrei na sala da Loja, privado de visão, ouvi a mais bela música que alguma vez ouvi. Não era uma música com que eu estivesse familiarizado, nem com o que a produzia, nenhum instrumento que eu pudesse identificar. Mas era, oh, tão pacífica, trespassava a minha alma e criava uma noção de harmonia e de acordo total.

Eu era energia arrastada ou conduzida em pensamento em torno da Loja por esta música, seguindo o que parecia um rumo ao acaso, mas, após oito repetições, fui capaz de discernir que havia quatro repetições de duas manobras, uma sendo um círculo e outra um triângulo . A repetição de manobras foi necessária, como mais tarde me foi explicado, para criar a imagem de um símbolo tridimensional para este grau. E este símbolo era um dos existentes na Câmara do Meio onde recebi este grau. O Esquadro e o Compasso continuavam a adornar o exterior do edifício da Loja, mas dentro deste edifício existia uma Câmara do Meio, onde Pirâmide e Globos eram os símbolos utilizados.

Pude mais tarde ver com o que se parecia este símbolo. Era uma pirâmide na qual estavam três Globos alinhados verticalmente, desde a ponta até a base. No Globo superior, havia uma pequena pirâmide apontando para baixo. O Globo do fundo tinha uma pirâmide apontando para cima e o Globo do meio tinha uma estrela de seis pontas tridimensional. O significado deste símbolo era que o espírito do Criador, Redentor e Protetor estava infundido no círculo da vida, o infindável ciclo de nascimento, morte, renascimento, a morte de novo, e novamente e de novo, até à eternidade. Também transportava o sentido da unidade, já que estamos todos juntos como um, unidos como seres que possuem todos uma partícula do Criador. O símbolo não estava preso a nada, antes surgia perante os olhos de quem estivesse em qualquer ponto da Câmara do Meio, sob a forma de um holograma.

Não houve nem apresentação de qualquer ferramenta, nem um juramento neste grau. Foi-me explicado que, na minha condição presente de ausente de tempo e de lugar, mas em todo o tempo e todo o lugar, as sanções, juramentos e promessas eram supérfluos.

Fui conduzido para o Sul, para o Oeste e, em seguida, para o Norte da Loja, onde, ainda com a minha energia diminuída e apenas capaz de ouvir, eu teria, no entanto, a visão necessária para ver um filme em holograma totalmente privado, visível apenas para mim. No Sul, recebi uma revisão de toda a minha vida. Foi-me mostrada num holograma retratando pessoas, lugares, eventos, acontecimentos e ocorrências, numa rápida e contínua sequência, terminando no momento da minha morte física.

No Ocidente, vi, como anteriormente num filme em holograma, todas as vezes que eu tinha inspirado outros e quando eu tinha sido gentil, compassivo, amoroso e humilde. Muitas vezes fiquei dominado pela emoção, pois o que me foi apresentado era tão vívido como o que eu sentira quando tinha ocorrido no passado e estava acontecendo novamente bem à minha frente. Existe um real significado para a palavra reviver.

Depois, no Norte revivi o lado negro de mim próprio, todas as vezes que eu tinha agido com um arrogante ego inchado, para afastar e ferir os outros, todas as minhas fraquezas, os meus pecados e as vezes que eu tinha desiludido os outros. Mais uma vez, foi invadido pelas lágrimas, ao pensar que eu tinha agido de tal forma. E é por isso que estes hologramas eram totalmente privados e só passíveis de serem vistos por mim, pois aqueles reunidos em torno de mim, não estavam ali para julgar, mas para apoiar. E eu sentia o calor do seu amor e carinho fraternais.

Tal como ocorrera nos meus graus terrenos, fui conduzido, sempre através do pensamento, para fora da Câmara do Meio, para a antecâmara, onde fui preparado para voltar a entrar, para a segunda parte do grau, a palestra.

O meu condutor, Hiram Abiff, restaurou-me a plena energia e, em seguida, falou-me. "Os teus graus terrenos ensinaram-te os méritos da tolerância e da ausência de preconceito", disse ele. "Mostraram-te a forma de desfrutar da paz, harmonia e convivência entre as pessoas de diferentes raças, religiões, culturas, orientações políticas e condições económicas. Agora vamos levar-te ainda mais longe nesse conceito, na palestra do último Grau. "

Fui readmitido na Câmara do Meio e conduzido para junto do Oriente. A imagem da Pirâmide e Globos estava sempre presente diante de mim, num holograma. Acolhendo-me no Oriente, estava uma mulher negra, de meia idade, talvez. O seu sentimento de amor fraterno e afeto era como um calor brilhante, que penetrava o meu espírito. Procedeu à palestra, lentamente e com significado.

"A lição do último grau é que a separação que flagela muitos na sua peregrinação terrena, aquela divisão pela qual cada um vê os outros como diferentes, menos dignos ou sem valor, e que o separa dos demais, é realmente uma separação de Deus. Sim, na realidade, existem diferenças reais na Terra. Cada homem e cada mulher na Terra é realmente feito de forma um pouco diferente e respondem de maneiras diferentes. Existem diferentes raças, culturas, credos e conceitos do Criador. Mas atribuir um valor sinistro a essas diferenças é usá-las para dividir, em vez de reunir e, em seguida, para ostracizar, assim criando uma separação. Levada ao extremo, esta separação progride da desconfiança para a suspeita, conduzindo ao desprezo e ao ódio, e, em última análise, ao extermínio ou limpeza étnica. Esta desunião é fruto do livre arbítrio da humanidade e não reflecte as intenções do Criador. Esta divisão, desunião e separação constituem a verdadeira historia de Adão e Eva e da queda do Homem. Porque é na desunião e separação humanas que reside a separação do Todo-Poderoso."

"Reviste na tua Iniciação na Loja Celestial tudo que fizeste na tua vida humana na Terra. Reviveste as alturas em que permitiste que os teus medos dos outros e das suas diferenças te separaram deles. E reviveste as alturas em que não teres ligado a essas diferenças te pôs em harmonia com os demais."

"Diz-se que a humanidade foi criada à imagem de Deus. Mas eu digo-te que cada homem é uma parte de Deus e possui uma pequena partícula do Altíssimo dentro dele. Que a partícula cresça e se torne uma parte cada vez maior de um ser humano, depende das escolhas que cada um faz na sua viagem pela vida. O objectivo dessa viagem é alimentar e nutrir a sua alma numa missão terrena, para a qual Deus lhe deu as ferramentas para a realizar. Ao fazê-lo, possibilita-se que o Todo Poderoso Criador, o Mestre do Céu e da Terra, se experimente a si próprio. Viver a "vida piedosa" é a capacidade de subir acima do que procura dividir e criar o caos."

"É agora tempo, meu irmão, de tu te empenhares na crença de que todos somos UM. Não há OUTROS. Quando alguém se afasta ou repudia quem vê como outro, apenas se separa de si mesmo e de onde veio e para quem um dia vai voltar. Quando alguém fere ou prejudica quem vê como outro, só fere ou prejudica a si próprio."

"A Pirâmide e Globos são o símbolo deste grau, meu irmão. Ensina que toda a vida, os seus altos e baixos, as suas alegrias e tristezas, os seus amores e medos, é uma experiência santa e sagrada. Possibilita que visualizes o conceito de que a vida é sem fim e continua a mover-se, começando onde terminou e terminando onde começou. Vai e volta, em redor e sobre e sempre "na unidade do Espírito Santo." SOMOS TODOS UM. Não há nenhuma parte de nós que esteja separada ou fora da Pirâmide e Globos. Somos todos pedaços do mesmo bolo. Deus está em nós e nós estamos em Deus. SOMOS TODOS UM! Agora, vai em paz e harmonia e alegra-te com este conhecimento."

Texto da autoria do Irmão Frederic L. Miliken, originalmente publicado no excelente sítio maçónico Freemason Information, colocado em BEE HIVE, e, com a devida autorização do seu autor, traduzido e aqui publicado por

Rui Bandeira