10 julho 2008

Maçons e controvérsia sobre religião

Os princípios existem para serem seguidos sem desvios. Por isso são princípios. Os princípios enformadores da Maçonaria Regular, os Landmarks, que por vezes também designamos pela Regra dos Doze Pontos, existem e são observados desde há centenas de anos. Um desses princípios é o sexto Landmark, a que já dediquei um texto e cujo teor aqui agora reproduzo:

A Maçonaria impõe a todos os seus membros o respeito das opiniões e crenças de cada um. Ela proíbe-lhes no seu seio toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Ela é ainda um centro permanente de união fraterna, onde reinam a tolerante e frutuosa harmonia entre os homens, que sem ela seriam estranhos uns aos outros.

Recordei que este basilar princípio existe para ser aplicado em todas as circunstâncias há poucos dias. No último parágrafo do texto Escada em caracol escrevi, erradamente, que "(...) a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, (...)". Atento, o José Ruah, corrigiu, alertando para o facto de que também na Religião Judaica se referencia e estuda o significado da Escada de Jacob. Reconheci-lhe de imediato razão: esquecera-me que o Livro do Génesis (onde consta a referência à Escada de Jacob) também integra a Torah e é, portanto, parte dos Livros Sagrados, quer do Cristianismo, quer do Judaísmo. Deveria ter utilizado o adjectivo "religioso" em vez do "cristão".

Mas o José Ruah concluiu a sua chamada de atenção com uma frase que eu, sempre atento a estas coisas, logo me apercebi que dava pano para mangas e daria para o "picar" para uma das controvérsias em que nós gostamos de nos envolver. Concluiu ele, como de costume poupando nos acentos:

"A Escada de Jacob não é um simbolo Cristão e representa segundo a interpretaçao judaica valores muito proximos dos defendidos pela Maçonaria."

Pensei em lançar-lhe o isco de que com esta declaração ele estaria a enfeudar a Maçonaria e os seus valores à Religião Judaica, manifestando-lhe a minha discordância e proclamando que a Maçonaria é independente de todas as religiões e aos crentes de todas admite no seu seio. Conhecendo como conheço o Ruah, calculei que, se ele decidisse engolir o anzol, retorquiria que era assim, mas não deixaria de enumerar e exemplificar princípios comuns à Maçonaria e ao Judaísmo. Eu responderia assinalando a similaridade dos princípios maçónicos com os de várias outras religiões, cada um seguidamente pegaria nas frases do outro que lhe desse mais jeito para argumentar em torno de sua tese, buscaria e apresentaria citações de filósofos, professores e estudiosos renomados e assim poderíamos manter uma saudável controvérsia, no decurso da qual estudaríamos e aprenderíamos um com o outro algo sobre o tema. No final, como é também costume, concluiríamos que, a bem dizer, nem sequer havia discordâncias de monta ente nós, que afinal pensávamos praticamente o mesmo, consistindo a diferença apenas em que cada um formulava idêntico pensamento de maneira diferente. Se decidíssemos entabular uma controvérsia deste tipo, ambos saberíamos, desde o início, que esta evolução era "trigo limpo, farinha Amparo", até porque ambos sabemos ler e interpretar o que está escrito e ambos sabíamos que a frase do Ruah que acima transcrevi e que me serviria de pretexto para lançar a controvérsia não enfeudava realmente os princípios da Maçonaria à Religião Judaica, pois o que nela se diz é que a interpretação judaica das escada de Jacob representa valores muito próximos dos defendidos pela Maçonaria, não se excluindo que interpretações de outras religiões igualmente não representassem valores igualmente próximos dos valores maçónicos. É claro que, para bem da controvérsia, ambos "fingiríamos" que só no fim nos apercebíamos disso e nisso concordávamos...

Estive tentado a começar o texto de "picanço". Porventura daria um debate engraçado e a propósito do qual ambos aprenderíamos alguma coisa e, connosco, quem nos lesse.

Depois pensei melhor. O sexto Landmark alertou-me. Por alguma razão a sabedoria ancestral da Maçonaria proíbe, no seio dos maçons, toda a discussão ou controvérsia, política ou religiosa. Mesmo amigável, mesmo com a melhor das intenções, a controvérsia sobre questões religiosas é sempre terreno minado e areia movediça. A convicção religiosa é de tal forma culturalmente imanente à identidade de cada um, que basta uma palavra mal percebida para acirrar ânimos e gerar mal entendidos. Temos e teremos imensas oportunidades, o Ruah e eu, de nos "picarmos" mutuamente para controvérsias, polémicas, debates, de onde resulte algo esclarecedor, para nós e para quem nos ouve ou lê. Não devemos esquecer ou torcer ou deixar de lado um dos basilares princípios da Maçonaria Regular só para satisfazer o nosso gosto de polemizar. Além do mais, seria irónico que se violasse um dos princípios basilares da Maçonaria Regular para estabelecer um debate sobre... a confluência dos princípios da Maçonaria e das religiões...

É mesmo assim, como comecei: os princípios existem para serem seguidos sem desvios!

Rui Bandeira

09 julho 2008

Com que então a fazer caixinha!

O Companheiro Maçon do Estado de São Paulo a que aludi no último texto, também escreveu na sua mensagem de correio electrónico:

Sou leitor assíduo de seu blog. Como Companheiro Maçom, às vezes sou criticado pelos Mestres de minha Loja por sugerir alguns temas que, diante de suas visões, fogem ao meu grau. Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas: o blog do Ir.´. Rui Bandeira, de Portugal.

Vamos lá por partes: ser leitor assíduo deste blogue é algo que me agrada. Recomendo. Acho que faz bem ao espírito. E, porque diminui o stresse, também acaba por fazer bem ao corpo e à saúde. É só vantagens! Por aqui estamos de acordo!

Um pequeno desacordo existe quando o Irmão Companheiro escreve que a fonte de suas pesquisas é "o blog do Ir.'. Rui Bandeira, de Portugal. Aqui, como sou cordato, acho que o meu correspondente acerta em 50 %: o blogue é de Portugal e escrito por maçons de Portugal. Mas no mais tenho que corrigir o Irmão: o blogue não é do Irmão Rui Bandeira. É dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Rui Bandeira é apenas um deles. Faça o Irmão Companheiro o favor de dirigir seus olhos para a frase que está logo abaixo do título do blogue: Blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. É isso que ele é. Não do Rui Bandeira.

O Rui Bandeira tem sido o elemento que mais textos tem escrito, é verdade. Mas não é o único a escrever e não é, não quer ser, o dono do blogue. Pelo contrário, espera que o blogue continue quando ele já não estiver em condições de nele escrever. Se tiver continuidade, se passar de geração em geração de maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, como os princípios maçónicos passam de geração em geração de maçons desde há muitos e muitos anos, terá sido uma boa ideia iniciá-lo. E, se assim for, altura chegará em que os textos escritos por Rui Bandeira serão uma minoria esquecida no arquivo do blogue, eventualmente um ou outro lido aqui e ali, pelo acaso de aleatória busca num motor de busca, quiçá com a mesma curiosidade e bonomia com que acolhemos uma velharia testemunho de época passada...

Um blogue escrito pelo Rui Bandeira seria algo de efémero. Um blogue escrito pelos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues tem as sementes da perenidade, que é grandiosa.

É certo que nestes dois anos o mais frequente autor de textos do blogue é Rui Bandeira. Mas isso não quer dizer que o blogue seja do Rui Bandeira. Isso apenas prova que é verdade o que aqui no blogue apregoamos: a Maçonaria é um meio e um método de aperfeiçoamento. Só procura aperfeiçoar-se quem tem defeitos. E muitos dos maçons da Loja Mestre Affonso Domingues estão ainda bravamente lutando contra o defeito da Preguiça! Mas eu não desespero: os meus Irmãos certamente obterão êxito na sua tarefa de aperfeiçoamento e acabarão por vencer esse defeito. E então teremos muitos mais textos de muito mais gente aqui no blogue. E então ver-se-á como é redutor considerar este blogue como o blogue do Rui Bandeira. Porque então se verá como há na Loja Mestre Affonso Domingues gente com muito melhor qualidade do que o Rui Bandeira. Até lá, portanto, o Rui Bandeira vai praticando o seu defeito de estimação: a obstinação!

Há um prazo de validade para uma pessoa manter um projecto com qualidade. Espero que, antes de eu esgotar o meu prazo de validade, este blogue já esteja a ser pensado e administrado por outrem, que tomará o testemunho e o levará mais além, até o passar a outros, que o passarão a outros. e assim porventura se fará deste blogue algo com alguma valia. Se há algo que os maçons demonstraram ter entendido, é que a continuidade e a persistência ao longo do tempo geram a qualidade. Dois anos? Não é nada! Será alguma coisa se, daqui a vinte anos, eu ainda por aqui estiver e puder ler textos no A Partir Pedra. Terá realmente algum significado porventura com um interesse relevante, se, daqui a duzentos anos, os meus trinetos e tetranetos continuarem a ler - e, quem sabe, a escrever... - textos no A Partir Pedra.

Portanto, caro Irmão Companheiro do Estado de São Paulo, não diminua involuntariamente o significado deste blogue, crendo que ele é o blogue do Irmão Rui Bandeira. Espero que seja muito mais do que isso. Assim os maçons, actuais e futuros, da Loja Mestre Affonso Domingues o queiram!

Mas agradeço-lhe a gentileza!

Agora, caríssimo Irmão Companheiro, onde eu tenho de virar para um arremedo de português do Brasil e lhe dar uma baita bronca é quanto àquela parte de sua mensagem em que - lembro para você não esquecer - você escreveu que os Mestres de sua Loja
"Entretanto, desconhecem a fonte de minhas pesquisas"!!!!

Que é lá isso, meu Irmão? Valha-nos Nossa Senhora de Aparecida, que eu parece que não tou lendo bem! Então o Irmão tá fazendo caixinha? Tá guardando segredo? Tá aproveitando no bem bom o que vai lendo por aqui e guarda tudo pra você? Que é então do sentimento fraternal de partilha com seus Irmãos? O meu Irmão, se leu e gostou, se acha que é bom, tem a obrigação de partilhar com seus Irmãos! Tá guardando tudo pra você, é?

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo: sua tarefa de aperfeiçoamento é aprender e praticar a partilha do que acha bom com seus Irmãos. Prove-me que está melhorando, se aperfeiçoando. Mostre a todos seus Irmãos, Mestres, Companheiros e Aprendizes a fonte de suas pesquisas! Dê a eles o endereço do A Partir Pedra! Olha que eu vou saber, viu? Tou esperando um aumento súbito de visitas ao blog... Quando é mesmo a próxima reunião de sua Loja? Na semana seguinte eu vou tar de olho, viu?

Fazer caixinha? Onde já se viu? VirgeMaria! Vá correndo emendar seu erro. Além do mais, fica com a vantagem de os Mestres da Loja deixarem de dar bronca em você. Passam a dar em mim!!!

(Pausa para respirar, reassumir um ar formal e voltar a escrever português à moda de Portugal)

Meu Irmão Companheiro do Estado de São Paulo. Espero que não se tenha ofendido. Esta imitação de "bronca" foi brincadeira mesmo! Gostei muito e fiquei muito satisfeito quando recebi a sua mensagem e apeteceu-me brincar um pouco com ela. É assim! Só com os Irmãos é que se está à vontade para brincar, sabendo que eles se não vão zangar... Mas, agora a sério: se gosta do A Partir Pedra, não acha mesmo que deverá informar seus Irmãos da sua existência, para eles poderem também usufruir?

Entretanto, espero que o texto sobre a Escada em caracol lhe seja útil. Mande-me depois o seu trabalho. Vou gostar de ler! Um abraço e disponha sempre do

Rui Bandeira

08 julho 2008

Escada em caracol

Um Companheiro Maçon do Estado de São Paulo enviou-me uma simpática mensagem de correio electrónico, na qual vinha incluído o seguinte pedido:

Gostaria de ler algum comentário do prezado Irmão, sobre a Escada em Caracol. Pretendo apresentar um trabalho sobre a mesma em Loja, e suas idéias poderiam me auxiliar na sua execução.

A escada em caracol não é propriamente um dos símbolos que tenha chamado a minha atenção. Normalmente é referido como tendo um significado simbólico muito directo, que acaba por ser ofuscado pela primazia do estudo do Homem, das Artes e das Ciências, estádio especialmente recomendado para ser objecto dos esforços do Companheiro maçon.

Este pedido deixou-me, assim, a modos que descalço... Que escrever sobre o tema? Fiz uma busca electrónica e encontrei quatro referências que, sendo parcas, provavelmente abarcam os principais aspectos deste símbolo. Como não gosto de me enfeitar com penas alheias, não vou elaborar um texto com base no que recolhi nesta busca. Em vez disso, é porventura mais útil e seguramente mais transparente publicar aqui citações do que encontrei, obviamente referenciando a origem.

ESCADA CARACOL

Mostra a difícil trajetória do Companheiro. Com seus degraus em espiral ela representa a dificuldade em subir, aprender e auto aperfeiçoar-se, mostrando que a evolução não se desenvolve de uma forma constante e retilínea. Ela tem seus altos e baixos. Sua persistência em busca da luz, será a recompensa, pois atingirá o topo da escada.

(retirado de http://jaburucab.vilabol.uol.com.br/simbolismo.html)

A Escada que vem a continuação é uma Escada de caracol para simbolizar que a ascensão do Maçom não é nada fácil. Lembrando o Salmista, só subirá a Montanha do Senhor quem tiver as mãos limpas e o coração puro. Na página seguinte do Ritual do Comp\ vemos um detalhe da escada que mostra que a subida da escada recurvada é de três lances, respectivamente de três, cinco e sete degraus. Os três primeiros degraus correspondem ao Prumo, Nível e Esquadro e que o Comp\ já conheceu no 1er Gr\

Depois temos os degraus que lembram os cinco sentidos: ouvir, ver, apalpar, cheirar e provar. Ragon fala que as cinco viagens lembram filosoficamente os cinco sentidos, que são fiéis companheiros do homem e seus melhores conselheiros nos julgamentos que ele deve fazer; um sentido pode se enganar; os cinco sentidos, jamais; toda sensação é uma percepção que supõe a existência de uma retidão. Para Luis Umbert Santos é a primeira viagem que está consagrada aos cinco sentidos. Oscar Ortega (Chile) também coincide que a primeira viagem tem relação com o objetivo e o substancial e, por tanto, lhe é assinalado a interpretação dos 5 órgãos dos sentidos. O desenhista colocou nestes 5 degraus um corrimão sustentado por 5 colunas cada uma delas correspondente a uma ordem grega diferente, e assim temos uma coluna toscana, dórica, jónica, corinthia e uma compósita; elas representam as cinco ordens nobres da arquitetura antiga. No primeiro grau foram estudadas em detalhe o referente às colunas jónica, dórica e corínthia. A ordem compósita ou composta, como indica seu nome usa elementos dos capitéis das colunas jónica e corínthia, a coluna compósita lembra o Or\ que reúne as proposições das discussões em L\ conciliando-as e “fechando o triângulo”; a toscana, a diferença das outras quatro, é italiana, originaria da antiga Etruria, que formou na História um grande ducado anexado em 1860 ao reino da Itália; a ordem toscana é reconhecida como a mais simples e sólida das cinco ordens de Arquitetura; o dossel do trono do Ven\ M\ é sustentado por duas colunas toscanas.

O terceiro lance da escada é de sete degraus e cada um deles representa uma das sete artes e ciências do mundo antigo: Gramática, Retórica, Lógica, Aritmética, Geometria, Música e Astronomia; após completar os três lances de 3, 5 e 7 degraus é que o Comp\ chega à C\ do M\

(retirado de http://www.freemasons-freemasonry.com/segundo_grau.html)

Deste modo cada um de nós tenta também, fazer uma “reconstituição” material do Templo de Salomão, pois na Maçonaria, esse Templo é tão apenas e acima de tudo, um símbolo, apesar de ser um símbolo de um alcance magnífico, designadamente “o Templo ideal jamais terminado”, o templo em que cada maçon é uma das sua pedras, preparada sem machado, nem martelo, no silêncio da meditação.
Nele sobe-se aos seus andares por escadas em caracol, por “espirais”, que indicam ao Iniciado que é nele mesmo, é voltando-se sobre si mesmo, que ele poderá atingir o ponto mais alto, que constitui o seu objectivo de evolução.

(retirado de http://gremioestreladalva.blogspot.com/2006/09/o-templo-de-salomo.html)

Contudo rejeitará o mito da existência da Maçonaria ao tempo de Salomão. É lição de Jules Boucher contido na célebre A Simbólica Maçônica – segunda as regras da simbólica esotérica e tradicional (trad. de Frederico O. Pessoa de Barros, Ed. Pensamento, S. Paulo, 9ª. Ed., 1993, p.152): os maçons não tentamos reconstruir materialmente o Templo de Salomão; é um símbolo, nada mais – é o ideal jamais terminado, onde cada maçom é uma pedra, preparada sem machado nem martelo nos silêncio da meditação. Para elevar-se, é necessário que o obreiro suba por uma escada em caracol, símbolo inequívoco da reflexão. Tem por materiais construtivos a pedra (estabilidade), a madeira do cedro (vitalidade) e o ouro (espiritualidade). Para o maçom, ensina Boucher, “o Templo de Salomão não é considerado nem em sua acepção religiosa judaica, mas apenas em sua significação esotérica, tão profunda e tão bela”.

(retirado de http://www.estrela.rudah.com.br/modules/news/print.php?storyid=15)

Destes textos, ressaltam, pois, as noções da dificuldade do trabalho do maçon, das etapas em que este é dividido e desenvolvido, que o que o maçon deve buscar se encontra dentro de si mesmo, da reflexão e da sua indispensabilidade no trabalho de aperfeiçoamento do maçon.

Duas breves notas: a primeira, para frisar que os diferentes lanços das escadas, com 3, 5 e 7 degraus podem ser interpretados conforme a segunda citação supra, mas também pode deles retirar-se outras interpretações, designadamente referentes ao grau de desenvolvimento do maçon em função do seu grau, do seu tempo de estudo, enfim da sua idade na Maçonaria. Como é frequente, os símbolos não são unívocos na sua interpretação. Mais do que receber e apropriar-se das interpretações feitas por outrem, por muito estudioso que seja, deve cada maçon meditar ele próprio no significado de cada símbolo e adoptar o que, segundo a sua mentalidade, o seu desenvolvimento, o seu entendimento, tiver por mais adequado. Os Mestres guiam-nos, não nos impõem caminhos!

A segunda para alertar que a escada em caracol não deve ser confundida com a escada de Jacob, símbolo eminentemente cristão, que pretende figurar a Revelação, a ligação entre os Homens e Deus, através da qual a Terra e o Céu se uniriam e por onde desceriam os dogmas divinos revelados aos homens e ascenderia o espírito humano, no seu anseio de se unir a Deus. Este é um símbolo claramente religioso. Aquele respeita ao trabalho e à acção do homem, na sua busca de aperfeiçoamento.

Rui Bandeira

07 julho 2008

Marcadores

O simple, num comentário ao texto ... e do resultado. , escreveu o seguinte:

Por falar em referência, os marcadores que aparecem no blogue, do lado direito, talvez pudessem ser mais agregados. É que são muitos, e a maioria refere-se a um reduzido número de textos.

Há 336 marcadores (!!!) dos quais 57% (192) se referem apenas a um artigo, 15% (51) a dois artigos, e 7% (24) a três artigos. Juntos representam 79% dos marcadores. No outro extremo, os marcadores com mais textos associados são "Blogue" (48) e "Maçonaria" (37), o que, convenhamos, é pouco explícito...

Ter marcadores como "Efemérides", "Simbologia", "Curiosidades", "Personalidades", "Textos de Referência", ou outros semelhantes, facilitaria imensamente quem cai aqui "de paraquedas"...


Antes do mais, caro simple, gabo-lhe a paciência de contar o número de marcadores que a nossa desleixada verborreia foi criando...

Mas tenho de aqui declarar que, embora compreendendo a sua sugestão, não estou de acordo com ela, essencialmente por duas razões:

A primeira, de índole muito prática, deriva da característica pouco comum deste blogue: um blogue colectivo. Esta opção, que é intrínseca ao que o blogue é, condiciona uma série de variáveis. Desde logo que cada autor de textos tem os seus critérios individuais, que os demais, obviamente, respeitam. Portanto, se um ou mais dos autores dos textos usa um critério de atribuição de marcadores tão pormenorizado que faz com que estes ultrapassem as três centenas, não há nada a fazer. Um dos princípios subjacentes a este blogue é que não há censura e respeita-se absolutamente o que cada um escreve e a forma como organiza o produto da sua escrita. Se um de nós discordar daquilo que outro escreva, só tem que, querendo, escrever um texto manifestando essa discordância. Nem sequer os autores de textos que têm privilégios de administrador os usam em relação aos textos dos demais. O texto de um autor só por ele ou a pedido dele é editado. Se eu vir o mais horroroso erro ortográfico num texto do blogue e se esse texto tiver sido escrito por mim, o que faço é emendar o disparate. Mas se o texto tiver sido escrito por outrem, o mais que faço é avisá-lo do erro . Emendá-lo, só se ele o pedir... Portanto, meu caro, não há nada a fazer em relação ao número de marcadores. É o que é em resultado de critérios individuais desencontrados e por todos respeitados. A Liberdade tem destas coisas...

Mas, meu caro, nem sequer me parece que haja demasiados marcadores: são 336, mas os textos, até este, são 669. Ou seja, quase em pleno uma relação de 1 para 2. Se há marcadores relativos a poucos textos, um ou dois, é porque os respectivos temas (ainda) só foram pouco pouco tratados. Não quer dizer que alguns deles não possam ter um acréscimo de textos a eles referenciado, a qualquer momento. E também acho normal que haja marcadores com muitas referências. O mais natural do Mundo é que um blogue temático dedicado à maçonaria tenha muitas referências neste marcador. E, num blogue em que os seus autores constantemente o analisam, procuram melhorar, questionam o seu conteúdo e orientação e se interrogam o que devem, a cada momento, fazer, para o melhorar, é só natural que o marcador Blogue tenha também muitas referências...

Quanto às sugestões do simple sobre o tipo de marcadores, direi que o marcador curiosidades, até agora, referencia 19 textos. E que o marcador efemérides referencia 3 textos. Não marcámos (ainda?) simbologia mas, em contrapartida, marcámos 3 textos com o marcador simbolismo. Quanto a destacar Personalidades, não é, garantidamente, o nosso estilo... E também não somos assim tão vaidosos para destacar Textos de referência...

Falta ainda a segunda razão para haver tantos marcadores. É que, caro simple, não é orientação dos escrevinhadores deste blogue facilitar a vida a quem cai aqui de pára-quedas. Das duas, uma, ou quem cai aqui de pára-quedas, gosta e busca, analisa, lê, procura e escarafuncha - e então não só não precisa de menos marcadores como, se calhar, até lhe dá jeito ter tantas e tão pormenorizadas referências - ou caiu mesmo de pára-quedas e depressa se levanta para ir para outro sítio, desinteressado deste, que não se enquadra no seu esquema mental - e então não vale a pena preocuparmo-nos com esses...

Um último ponto: também não somos inocentes... Sabemos muito bem como funcionam os apontadores na Net e que a existência de muitos marcadores, autonomamente classificáveis num apontador, aumentam a visibilidade do blogue. E que alguns marcadores muito consultados obtêm acesso ao topo das listas de referência do Google... Somos maçons, estamos atentos às coisas do espírito, mas isso não quer dizer que estejamos desatentos ao Mundo em que nos inserimos... E - já muito recentemente aqui o assinalei - nós escrevemos para ser lidos. Gostamos que leiam o que escrevemos. Não escrevemos apenas para o nosso baú e secreto gozo pessoal... É obviamente melhor ter visibilidade e ser lido do que a não ter...

Percebo a sua preocupação. Certamente ficou a perceber também o meu ponto de vista. É assim que, em maçonaria, nós gostamos de tratar todos os assuntos e debater todas as divergências, todos os distintos pontos de vista: com argumentos, com calma e no respeito da opinião alheia. E tendo sempre presente que o objectivo de qualquer discussão não é convencer o outro que está errado e que nós é que estamos certos. É dar a conhecer o nosso ponto de vista e as razões porque o temos, encontrar semelhanças, analisar divergências, construir pontes. E assim raramente acabamos uma discussão à mesma distância em que os contendores a iniciaram: por regra, estamos sempre mais próximos no fim do que estávamos no início. E sempre respeitando e compreendendo as razões do Outro e as origens e condicionalismos das divergências. Entre nós, pratica-se o que o ditado popular diz e efectivamente da discussão nasce a luz. O que nos agrada muito, já que o maçon busca precisamente isso: a Luz!

Rui Bandeira

04 julho 2008

Os três conselhos

Como venho fazendo à sexta-feira, deixo aqui mais uma historieta, de autor que desconheço, que circula no correio electrónico. Já a recebi várias vezes, pelo que presumo que seja conhecida da maior parte dos leitores. O que não é razão para deixar de a publicar aqui. Estas historietas de entrada de fim de semana destinam-se a ser pontos de partida para reflexão. O que importa é que a reflexão aconteça e cada um tire alguma lição dela e proveito da mesma, para sua melhoria pessoal, conhecesse ou não a história.

Um casal de jovens recém-casados era muito pobre e vivia de favores numa quinta do interior. Um dia, cansado de tanta pobreza e falta de perspectivas, o marido disse para a sua amada esposa:


- Querida, vou emigrar, vou viajar para bem longe, encontrar um emprego e trabalhar até ter condições para voltar e dar-te uma vida mais digna e confortável. Não sei quanto tempo vou ficar longe, só peço uma coisa, que me esperes e enquanto eu estiver fora, sejas FIEL a mim, pois eu serei fiel a ti.


Assim sendo, o jovem saiu. Andou muitos dias a pé, até que encontrou um lavrador que precisava de alguém que o ajudasse na sua propriedade.


O jovem chegou e ofereceu-se para trabalhar, tendo sido aceite. Pediu para fazer um pacto com o patrão, o que também foi aceite. O pacto foi o seguinte:


- Deixe-me trabalhar pelo tempo que eu quiser e quando eu achar que devo ir, o senhor dispensa-me das minhas obrigações
. EU NÃO QUERO RECEBER O MEU SALÁRIO. Peço que o senhor o aplique em depósitos que rendam alguma coisa até ao dia em que eu for embora. No dia em que eu sair, o senhor dá-me o dinheiro e eu sigo o meu caminho.

Tudo ficou combinado. Aquele jovem trabalhou DURANTE VINTE ANOS, sem férias e sem descanso. Depois de vinte anos chegou para o patrão e disse:


- Patrão, quero o meu dinheiro, pois vou voltar para a minha casa.
O patrão então respondeu-lhe:

- Tudo bem, afinal fizemos um pacto e vou cumpri-lo, só que antes quero fazer-te uma proposta. Eu dou-te o teu dinheiro e vais-te embora, ou DOU-TE TRÊS CONSELHOS e não te dou o dinheiro e vais-te embora. Se eu te der o dinheiro , não te dou os conselhos, se eu te der os conselhos, não te dou o dinheiro. Vai para o seu quarto, pensa e depois dá-me a resposta".

Ele pensou durante dois dias. Trabalhara duramente pelo dinheiro. Mas, ao longo daquele tempo, aprendera que o patrão era um homem prudente e, justo e sábio, que não lhe iria propor nada que o prejudicasse. Decidiu-se, procurou o patrão e disse-lhe:

- QUERO OS TRÊS CONSELHOS.


O patrão novamente frisou:


- Se te der os conselhos, não te dou o dinheiro.


E o empregado respondeu:


- Quero os conselhos.


O patrão então deu-lhe os conselhos:


1. NUNCA TOMES ATALHOS NA TUA VIDA. Caminhos mais curtos e desconhecidos podem custar a tua vida.


2. NUNCA SEJAS CURIOSO PARA AQUILO QUE É MAU, pois a curiosidade para o mal pode ser mortal.


3. NUNCA TOMES DECISÕES EM MOMENTOS DE ÓDIO OU DE DOR, pois podes arrepender-te e ser tarde demais.

Depois de dar os conselhos, o patrão disse ao seu já ex-empregado:

- AQUI TENS TRÊS PÃES. Estes dois são para comeres durante a viagem e este terceiro é para comeres com a tua esposa quando chegares a casa.


O homem então, seguiu seu caminho de volta, depois de vinte anos longe de casa e da esposa que ele tanto amava.


Depois do primeiro dia de viagem, encontrou um outro viajante, que o cumprimentou e lhe perguntou:


- Para onde vai?


Ele respondeu:


- Vou para um lugar muito distante que fica a mais de vinte dias de caminhada por essa estrada.


E disse-lhe o nome da sua terra. O viajante disse-lhe então:


- Homem, este caminho é muito longo, eu conheço um atalho e você chega em poucos dias.


E indicou-lho.

O homem, contente, começou a seguir pelo atalho, quando se lembrou do primeiro conselho. Então voltou e seguiu o caminho normal.

Dias depois, soube que o atalho levava a uma emboscada. Quem o seguisse, em determinado ponto era assaltado, roubado e morto.


Depois de alguns dias de viagem, cansado ao extremo, achou pensão à beira da estrada, onde podia hospedar-se.


Pagou a diária e, depois de tomar um banho, deitou-se para dormir.

De madrugada, acordou assustado com um grito estarrecedor. Levantou-se de um salto só e dirigiu-se à porta para ir até o local do grito.Quando ia abrir a porta, lembrou-se do segundo conselho. Voltou, deitou- se e dormiu.

Ao amanhecer, depois de tomar o pequeno almoço, o dono da hospedaria perguntou-lhe se ele não tinha ouvido um grito e ele disse que tinha ouvido.

- E não ficou curioso?

Ele disse que não.

Então o dono da hospedaria respondeu-lhe:

- VOCÊ É O PRIMEIRO HÓSPEDE A SAIR DAQUI VIVO, pois meu filho tem crises de loucura, grita durante a noite e quando o hóspede sai, mata-o e enterra-o no quintal.

O homem prosseguiu na sua longa jornada, ansioso por chegar a casa. Depois de muitos dias e noites de caminhada,

Já ao entardecer, viu entre as árvores o fumo que saía da chaminé da sua casinha, andou e logo viu entre os arbustos a silhueta de sua esposa. Estava anoitecendo, mas ele pôde ver que ela não estava só. Andou mais um pouco e viu que ela tinha JUNTO A SI um homem a quem carinhosamente acariciava os cabelos. Quando viu aquela cena, o seu coração encheu-se de ódio e amargura e decidiu-se a correr de encontro aos dois e a matá-los sem dó nem piedade.

Respirou fundo e preparou-se para seguir o seu impulso, quando se lembrou do terceiro conselho.

Então parou, reflectiu e decidiu dormir aquela noite ali mesmo e no dia seguinte tomar uma decisão. Ao amanhecer, já com a cabeça fria, disse para si mesmo:

- NÃO VOU MATAR A MINHA MULHER NEM O SEU AMANTE. Vou voltar para o meu patrão e pedir que ele me aceite de volta. Só que antes, quero dizer à minha mulher que eu cumpri a minha palavra e sempre LHE FUI FIEL.

Dirigiu-se à porta da casa e bateu. Quando a mulher abriu a porta e o reconheceu, atirou-se-lhe ao pescoço e abraçou-o afectuosamente. Ele tentou afastá-la, mas não conseguiu. Então, com as lágrimas nos olhos, disse-lhe:

- Eu fui-te fiel e tu traíste-me...

Ela, espantada, respondeu-lhe:

- Como? Eu nunca te trai, esperei durante estes vinte anos.

Ele então perguntou-lhe:

- E aquele homem que estavas acariciando ontem ao entardecer?

Ela disse-lhe então:

- AQUELE HOMEM É NOSSO FILHO. Quando te foste embora, descobri que estava grávida. Hoje ele está com vinte anos de idade.

Então o marido entrou, conheceu, abraçou o filho e contou-lhes toda a sua história, enquanto a esposa preparava o pequeno almoço.

Sentaram-se para comer juntos o último pão que o patrão do homem lhe tinha dado. O regressado partiu o pão e, ao abri-lo, encontrou todo o seu dinheiro, o pagamento por seus vinte anos de dedicação.

A historieta é longa, rebuscada e nem sempre totalmente lógica. De que viveu a mulher e o filho que lhe nasceu, ao longo daqueles vinte anos, se já com o seu marido a vida era tão difícil? Porque o viajante ensina um atalho que é tão perigoso (a não ser que fizesse parte do bando de assaltantes)? Porque o dono da hospedaria não procurou tratamento para o seu louco e perigoso filho e continuava aceitando hóspedes, sabendo que iriam ser mortos? E afinal o justo e sábio patrão mentiu... Deu ao seu empregado os três conselhos e o dinheiro... Mas o que importa é que os três conselhos, esses, são válidos e devem ser por nós lembrados. Porventura nos serão úteis também a nós.

Diz o povo que quem vai por atalhos mete-se em trabalhos. Pode-se pensar que o atalho "queima etapas" e faz-nos chegar mais rápido. Nem sempre isso é verdade. E, por outro lado, alguma razão haverá para o caminho seguir a via que segue e não a do atalho...

Muitas vezes somos curiosos, queremos saber de coisas que não nos dizem respeito e que nada de bom nos acrescentará...

Outras vezes, agimos por impulso, dominados pela ira, e fatalmente nos arrependemos depois...

Lembremo-nos, pois, sempre destes três conselhos. Talvez um dia nos felicitemos por o ter feito...

Rui Bandeira

03 julho 2008

Dialéctica

Às vezes perguntam-me como consigo arranjar tantas coisas para escrever no blogue. Normalmente, sorrio e respondo que lá se vai conseguindo qualquer coisa - o que é uma maneira de não responder... Pensando nisso, decidi que o melhor sítio para esclarecer coisas acerca deste blogue é... este blogue! Vou então procurar dar resposta a essa questão.

Em boa verdade, a pergunta não está correcta. Se pensarmos bem, eu escrevo sempre sobre a mesma meia dúzia de coisas, o mesmo punhado de ideias (aquelas poucas que consigo alinhavar...). O que consigo é escrever sobre a mesma meia dúzia de ideias... de uma imensidão de maneiras diferentes! Isto é, bem espremidinho este blogue, aqui diz-se sempre as mesmas coisas - e nem sequer são muitas. O que se vai fazendo é enroupar a mesma ideia com colecções de formas diferentes. Em resumo: não me considero um criador de ideias; apenas, e quando muito, um costureirinho de roupagens para as poucas que consegui alinhar. Presentemente, estou apresentando a colecção de Primavera - Verão de 2008...

É claro que tenho um plano geral sobre a evolução e apresentação dos textos que espero publicar. No fundo, é como se estivesse escrevendo o que eu penso que seja a Maçonaria... em fascículos, em pílulas, em bocadinhos. Porém, talvez por ser retorcido ou simplesmente por apreciar a variedade e abominar a monotonia, cada textozinho é um bocadinho do puzzle total, que apresento fora de ordem. O aspecto global está na minha cabeça. Mas não o quero, pelo menos por agora, nem pelos tempos mais próximos, mostrar a quem me lê, pela simples razão de que espero que este espaço seja apreciado como espaço de informação e de consulta por quem se interessa pelo tema da Maçonaria e que os interessados aqui voltem com alguma regularidade. Afinal de contas, não escrevo para meu deleite pessoal. Gosto que leiam aquilo que escrevo e, se possível, o apreciem. Este espaço é um blogue, não um livro. Num livro, é suposto apresentar-se a tese que se propõe ao leitor segundo uma certa ordem. Um blogue, pelo contrário, é um espaço dedicado a textos não demasiadamente grandes, tanto quanto possível apontando claramente a ideia que se tem sobre o que se está escrevendo, frequentemente actualizado com novos textos, acrescentos, comentários, respostas, etc.. É um espaço em que a dialéctica deve imperar, se for bem trabalhado por quem o edita e bem correspondido por quem o lê. E assim, nessa dialéctica, se constrói um blogue, se junta um acervo de textos e de ideias e de diferentes apresentações de ideias, que se deixa à disposição de quem o quiser ler e explorar. Aqui, já vamos em mais de dois anos de acumulação...

Pode não parecer, mas o arrevesado parágrafo anterior explica de onde vem a inspiração para os textos. Verifico que hoje estou virado para a complicação. Vou então simplificar. A inspiração para os textos que escrevo vem-me por duas vias. A primeira, como que o pano de fundo, é o projecto global que, às pinguinhas, vou escrevendo e que se resume num princípio muito simples: ao contrário do que para aí se proclama, a Maçonaria não tem nada de secreto e tem muito pouco de reservado; não existe, pelo contrário, nenhum inconveniente em divulgar, em colocar à disposição de quem nisso estiver interessado, o que é a Maçonaria, seus princípios, suas práticas, seus métodos, seus hábitos. A segunda surge através da dialéctica com quem me lê e com os demais autores de textos do blogue.

Quanto à primeira fonte de inspiração, estamos conversados. Pouco mais haverá a dizer. Ou, porventura, não me apetece agora nada mais acrescentar.

Quanto à segunda, é, na minha opinião, o que confere brilho, vivacidade, cor, ao blogue. É por aqui que chega o inesperado. É por esta via que surgem as voltas imprevistas, os temas inesperados, as discussões interessantes, os desenvolvimentos propiciados. Se quem escreve um blogue se limitasse a seguir um plano pré-traçado, mais valia, na minha opinião, estar quieto: no mínimo, estar-se-ia perante um blogue monótono e cansativo, por muito interessante ou importante que fosse a mensagem. Há que ter em conta a diferença de suportes: um blogue não é um livro e não se destina a ser lido como um livro. Num livro busca-se o desenvolvimento coerente de uma ou várias ideias; num blogue, se bem vejo, procura-se o texto curto, a informação rápida, a consulta, a sequência. Um livro pode ler-se de seguida; um blogue destina-se a ser visto um bocadinho de cada vez e, quando apetece e se pode, por vezes, alguns bocados por mais algum tempo.

É por isso que dou muita importância, quer aos textos dos outros autores do blogue (que frequentemente me sugerem ideias para outros textos), quer aos comentários e perguntas de quem me lê e se dá ao trabalho de aqui deixar a sua opinião. Muito frequentemente, também, um comentário sugere-me um ou mais textos. Por vezes, não imediatamente publicados. Mas tenho o cuidado de iniciar um novo documento, ou novos documentos, com a ou as ideias propiciadas pelos comentários, para oportunamente serem desenvolvidas, ou simplesmente referidas, seja num texto mais sério, seja num tom mais ligeiro.

Para que tenham a noção, neste momento, tenho em carteira as seguintes ideias, fora do plano de fundo do blogue: um texto que terá talvez o título de Malhetes, em desenvolvimento do tema do exercício do poder na Loja (já não me recordo se em resultado de texto do José Ruah, se de algum comentário surgido sobre outras pinceladas sobre este tema); um texto que se intitulará Deixar os metais à porta do Templo, que resulta de um comentário deixado no blogue, salvo erro do nuno_r, em cuja resposta anunciei que haveria de desenvolver este tema (posso ser atrasado, mas não sou esquecido...); um texto que terá o título Simbolismo: da Loja à vida, que é o texto que resta fazer de um conjunto que anunciei em resposta a um comentário do simple (está muito, muito atrasado, eu sei; mas não me apeteceu ainda fazê-lo; e a experiência há muito que me ensinou que, quando não me apetece escrever algo, é porque esse algo ainda não está maduro e convém deixar o subconsciente acabar de o trabalhar; mas acho que está quase...); um texto sobre Tipos de ritualistas, inspirado em conversas com o José Ruah e num fabuloso texto que ele publicou aqui no blogue (seguramente um dos melhores textos alguma vez aqui publicados); um texto de resposta a um comentário muito recente do simple sobre os marcadores do blogue; e dois textos (um curto, mais ligeirinho e brincalhão; o outro, mais sério) em resultado de uma mensagem privada que recebi de um Companheiro Maçon de São Paulo: o ligeirinho comentará, brincando, uma passagem da sua mensagem que me caiu no goto; o outro tratará o tema Escada em Caracol.

Portanto, caros leitores, este blogue não é só feito pelos autores dos textos aqui publicados; também é feito por quem comenta, seja em aberto, seja em mensagens pessoais. É desta dialéctica que se faz um blogue que se deseja com um mínimo de qualidade. Espero que se vá conseguindo este objectivo.

Rui Bandeira

02 julho 2008

... e do resultado.

Respeitando o tempo, o modo e o lugar necessários para que o objectivo pretendido seja atingido, o maçon logrará atingir o resultado que busca. Que resultado é esse? Que busca o maçon? A que se destina a Maçonaria? Ao mais egoísta e, simultaneamente, altruísta, dos objectivos: o aperfeiçoamento pessoal!

A Maçonaria não respeita a melhorar o Mundo ou o outro. Respeita a melhorar a si mesmo. Cada um, para o fazer, precisa de tempo, precisa de achar o modo a si adequado para tal, precisa de trabalhar no lugar que lhe possibilite atingir seu objectivo.

Ser melhor enquanto pessoa, ser melhor em termos éticos. Mas não só. A interacção com seus Irmãos permite que o maçon seja melhor em aspectos muito práticos, na medida em que burila as suas deficiências.

O maçon deve estudar as artes e ciências - e assim melhora a sua cultura geral e a sua capacidade de agir social e profissionalmente. O maçon aprende, por exemplo, a falar em público - terror de muita gente! - e isso vai constituir porventura importante vantagem no seu desempenho profissional.

O maçon aprende a dar valor à perfeição, a esforçar-se por dela se aproximar tanto quanto possível. E habitua-se a assim agir no seu dia a dia. Consequentemente, faz melhor, é mais cuidadoso, mais pormenorizado, mais atento. Naturalmente que melhorará o seu desempenho.

O maçon aprende a ouvir e a respeitar quem fala. A argumentar segundo a valia dos argumentos e não segundo a pessoa com quem porventura se defronte. Melhora o seu sentido de lógica. E, portanto, está mais bem armado para obter vencimento sempre que necessita de argumentar.

O maçon habitua-se a trabalhar quando é para trabalhar e a confraternizar, quando é hora de confraternizar. Sabe, assim, frutuosamente integrar-se no seu meio social.

O maçon desperta para a Emoção e integra-a com a Razão. É, assim, um homem mais completo.

O maçon habitua-se a interpretar e a lidar com o sentido da Vida e da Morte, da Criação e do Criador, do Universo e do Detalhe. Elabora assim a sua concepção do Universo, da Vida e do seu sentido e do seu próprio lugar na Vida e no Mundo. E, com isso, fica em Paz!

O maçon, com tempo, trabalho a seu modo e no lugar adequado, logra atingir algo que é muito básico e de importância conhecida desde a Antiguidade. No entanto, pelos vistos tão difícil de atingir. Logra atingir um enorme tesouro. CONHECER-SE A SI MESMO. E, ao consegui-lo, tem - então e só então! - as portas do infinito conhecimento abertas de par em par diante de si. Se, como e em que direcção as franqueia, é consigo e só consigo.

O maçon julga sê-lo quando foi iniciado. Depois de muito tempo e trabalho a seu modo, executado no lugar correcto, conclui que só muito depois começa a sê-lo. E que só continua a sê-lo se persistir no trabalho, até à hora em que que for hora de pousar suas ferramentas.

O prémio do maçon é não ter prémio. E entender que dele não precisa. Porque está - estava! - dentro de si desde o início. Ele é que não sabia!

O resultado é - finalmente! - tão só ser verdadeiramente maçon.

Tão simples como isto! E não deve ser mau, já que tantos em tantos lugares persistem fazendo o mesmo por tanto tempo...

Rui Bandeira

01 julho 2008

... do lugar ...

Já falei do tempo e do modo como se faz um maçon. É agora altura de falar do lugar.

Parecerá óbvio dizer que, para um maçon se fazer e crescer, o lugar próprio e indispensável é a Loja. Só comparecendo em Loja, só participando nas reuniões desta, o maçon reúne o acervo de informações de que necessita. Note-se que - já muitas vezes aqui o referi - o processo de construção do maçon, do seu templo interior, não é passível de ser ensinado. Tem que ser apreendido pelo próprio e assim por ele aprendido. Através do contacto com seus Irmãos; mediante a execução e progressiva familiarização com o ritual e consequente aquisição, compreensão e interiorização das lições e princípios morais que o mesmo encerra; pela observação dos variados símbolos em que o espaço da Loja é fértil e progressiva compreensão do significado de cada um, individualmente adquirida; com a interiorização de tudo o que o impressiona e consequente transformação pela integração no seu eu do resultado dela; porque o processo de formação de um maçon, mais do que uma aprendizagem clássica, é o resultado de um acumular perceptivo, tão direccionado à Emoção como à Razão.

Mas será porventura menos óbvia a afirmação que inicia o parágrafo anterior, se se atentar que logo a frase seguinte aplica dois sentidos diferentes de Loja: Loja enquanto espaço físico de reunião de maçons, como sinónimo de Templo ou, talvez melhor, do local onde fisicamente as reuniões maçónicas se efectuam; Loja enquanto conjunto de maçons agrupados na unidade básica e essencial da Maçonaria. Direccionada a nossa atenção para esta dicotomia, será possível atentar, então, na menos evidente noção de que o lugar de formação de um maçon é tanto o lugar de reunião dos maçons como o acto de estar entre e com os seus Irmãos. Não apenas por com eles estar; não só por com eles conviver; mas por ser no meio deles e com eles que obtém e afina as ferramentas que moldarão e aperfeiçoarão o seu carácter, permitindo que venha a efectivamente construir-se maçon.

Por outro lado, deve-se ter ainda presente que a Loja espaço físico simboliza todo o Universo (um dia destes desenvolverei este conceito) e a Loja grupo de maçons simboliza a Sociedade que se pretende ideal. Então trabalhar no espaço físico da Loja deve ser tido como símbolo de trabalhar no espaço de todo o Universo. Ou seja, o maçon constrói-se no espaço físico da Loja mas, na medida em que esse espaço físico da Loja simboliza todo o Universo, o maçon em construção deve apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, deve ocorrer em todo e qualquer local onde se encontre. E, na medida em que a Loja grupo de maçons simboliza a ideal Sociedade em construção, o maçon constrói-se no contacto e mergulhado no grupo de seus Irmãos mas deve também apreender que essa auto-construção, esse seu aperfeiçoamento, é um esforço e um acto e um desígnio que constantemente deve efectuar, realizar, prosseguir, esteja junto de quem esteja, maçon ou profano.

Concluindo: o trabalho de construção de um maçon começa e decorre necessariamente em Loja e com a Loja. Mas prossegue e afirma-se, também necessariamente, no local e junto de quem a Loja, em ambas as suas noções, simboliza, isto é, em todo e qualquer lugar onde se encontre o maçon, junto de toda e qualquer pessoa com quem o maçon interaja.

Do lugar restrito e a coberto dos profanos para todos os lugares; de entre seus Irmãos, assegurando-se que o são pelos modos de reconhecimento que são próprios dos maçons, para junto de toda e qualquer pessoa, maçon ou profano, justo ou pecador. Porque o lugar onde se faz um maçon é um ponto de partida e logo um percurso. Com um único lugar de chegada, definido por uma hora, a da sua meia-noite. Nesse lugar, do recôndito ao imenso, nesse percurso, o maçon deve prosseguir sempre e incansavelmente seu trabalho de se fazer maçon - sem direito a horas extraordinárias nem a subsídio de deslocação...

Rui Bandeira

30 junho 2008

Solsticio de Verão - Aniversário



Decorreu no passado Sábado a sessão de Grande Loja correspondente ao Solsticio de Verão e consequentemente o aniversário da constituição da Grande Loja.

E vão 17 anos desde a consagração pela Grande Loge Nationale Française, e vão dias bons e dias maus e outros assim assim.

O de sábado foi dia bom. Sala absolutamente cheia estando cerca de 250 Irmãos presentes.

A GLLP/GLRP foi honrada com a presença de várias potências estrangeiras a saber:

Moldova, Marrocos, Roménia, Itália, França, Espanha, Brasil e a mais importante de todas a Inglaterra. A Grande Loja Unida de Inglaterra fez-se representar pelo seu Pró Grão Mestre o Marquês de Northampton, 2ª figura da hierarquia da UGLE.

A sessão decorreu ligeira e rapidamente, sendo respeitados todos os procedimentos e protocolos.

Mas a melhor noticia foi que o Grão Mestre da GLLP/GLRP o Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia se apresentou de saúde e com toda a sua força e jovialidade, já recuperado das maleitas que lhe atormentaram a saúde nos primeiros meses deste ano.

O Jantar decorreu em ambiente agradável (segundo me disseram que eu não pude estar presente pois obrigações familiares mais importantes assim o determinaram) e de grande fraternidade.

Evidentemente que, e como sempre, a prestimosa colaboração da Milu e da Sandra foi de importância vital para que a logística do evento decorresse sem sobressaltos.

Mais um marco na história da GLLP/GLRP.



José Ruah

Comentario dos Editores - Mapa de Origem de visitantes

Foi retirado por se ter verificado que o site de origem foi infectado por adware e spyware.

No futuro se o site ficar operacional decidiremos se voltamos a instalar ou nao esta funcionalidade.

As nossas desculpas.


A Partir Pedra

27 junho 2008

O anúncio


O poeta brasileiro Olavo Bilac, que viveu entre 1865 e 1918, foi membro fundador da Academia Brasileira de letras. Tal como Pessoa escreveu que a minha Pátria é a língua portuguesa, Olavo Bilac, que foi proclamado no seu tempo o Príncipe dos Poetas Brasileiros, afirmou: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.

Autor anónimo atribuiu Olavo Bilac participação na situação que constitui a historieta que hoje serve de pretexto para alguma meditação:

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:


- Sr. Bilac, vou vender a minha quinta, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac pegou num papel e escreveu:

" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se já tinha vendido a quinta.

- Nem penso mais nisso -disse o homem- quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!


Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos connosco e vamos atrás de miragens e falsos tesouros. Valorizemos o que temos, as pessoas que estão ao nosso lado, os nossos amigos, o nosso emprego ou o nosso modo de ganhar a vida
, os conhecimentos que adquirimos, a saúde de que dispomos enquanto dela dispomos, o sorriso dos nossos filhos ou simplesmente das crianças com que privamos. Querer sempre mais ou sempre diferente é meio caminho andado - senão mesmo o caminho completo... - para andarmos perpetuamente insatisfeitos. Não quer isto dizer que se não deva ter objectivos, que devamos renunciar a prossegui-los e a lutar por eles. Ter objectivos, anseios, faz parte da vida e é positivo. Mas a valorização do que se tem, do que se conseguiu é algo que não devemos negligenciar. Além do mais, porque é também uma forma de darmos o devido valor ao trabalho que fizemos e ao esforço que desenvolvemos, ao longo de todo o nosso passado, para termos aquilo que temos, os amigos com que privamos, as boas coisas da vida que atingimos.

Façam o favor de ser felizes!

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Segunda-feira estarei de novo ausente, na defesa do meu brigantino inocente, pelo que não publicarei.

Rui Bandeira

26 junho 2008

Inovações


De tempos a tempos, apetece-nos fazer umas modificações no aspecto do blogue, aproveitando as possibilidades técnicas que o serviço de alojamento nos vai proporcionando e as que vamos encontrando em vários serviços que disponibilizam alguns elementos que consideramos de interesse.

Há dias, o José Ruah proporcionou um alargamento do sistema de identificação para quem quiser efectuar comentários.

Hoje, e após uma breve conferência que tivemos oportunidade de ontem ter sobre o assunto, aqui deixamos mais duas novas melhorias, através das quais os nossos leitores têm a possibilidade de melhor avaliar a difusão quantitativa e geográfica deste blogue.

Quase desde o início que temos visível o contador de visitas. Em cerca de dois anos, já ultrapassou as 83.000 visitas, o que nos enche de satisfação. Para um blogue temático, e dedicado ao tema da Maçonaria, é um êxito! O José Ruah deu-se ao trabalho de fazer a comparação e informou-me que alguns dos mais populares blogues maçónicos dos Estados Unidos, com uma antiguidade não inferior à nossa, têm um número total de visitas menor do que o A Partir Pedra! E notem que lá nos States vivem cerca de trezentos milhões de pessoas. É claro que nós, sendo só cerca de dez milhões em Portugal, contamos com os quase cento e noventa milhões de brasileiros! Com os demais falantes de português espalhados pelo Mundo equilibramos as contas! Mais ou menos... Bom, há que reconhecer que há mais falantes de inglês do que de português. Mas nós somos melhores, pronto!

O que os nossos leitores não tinham a noção é de que o número dos nossos leitores registado pelo contador de visitas peca por defeito, desde há cerca de um ano. É que desde então adicionámos ao blogue uma outras funcionalidade que altera os números: a possibilidade de quem estiver nisso interessado subscrever gratuitamente um serviço através do qual recebe por correio electrónico, entre as 21 e as 23 horas de cada dia (hora oficial de Portugal), o texto ou textos que nas últimas vinte e quatro horas tenham sido publicados no blogue. O aspecto gráfico é atractivo - inclui as imagens publicadas - e quem recebe a mensagem de correio electrónico não precisa de aceder ao blogue para ter acesso aos textos publicados. Actualmente, este serviço está subscrito por 57 pessoas. Certamente que a esmagadora maioria delas não acede, porque não precisa, ao blogue: lê directamente os textos publicados nas mensagens que vai recebendo. Isto faz com que a real difusão do blogue seja muito superior ao que o contador de visitas regista. Façam-se as contas: normalmente publicam-se textos aqui no blogue cinco dias por semana (às vezes seis). Admitindo que 50 dos que recebem esses textos por correio electrónico leiam esses textos por essa via e nunca acedam ao blogue, em cada semana, temos uma difusão de mais 300 leituras, não registadas pelo contador do blogue. Isto por si só significa mais de 15.000 leituras anuais. Se atentarmos que, no último ano, o blogue teve cerca de 50.000 visitas registadas, estas 15.000 leituras em acréscimo são importantes!

Por aqui nós prezamos a transparência! Decidimos, assim, passar a disponibilizar, na coluna da direita do blogue (só visualizada por quem acede ao blogue; quem lê os textos por correio electrónico não tem acesso aos elementos desta zona; não se pode ter tudo...) um novo elemento gráfico pelo qual, abaixo do título Assinantes via correio electrónico, publicamos o número daqueles que, em cada momento, subscrevem o serviço. No momento em que escrevo este texto são 57. Espero que vá paulatinamente aumentando este número - até porque é realmente cómodo este serviço gratuito!

Por outro lado, o José Ruah teve a ideia - e eu aplaudi; e ele logo a executou - de adicionar, também na coluna da direita do blogue, um mapa indicando a localização dos visitantes do blogue. É uma curiosidade interessante, mas é muito mais do que isso. Possibilita ao leitor o acesso a informação a que, até agora, só os editores do blogue, através do contador de visitas, dispunham. Façam o favor de clicar no mapa e verão que ele é aumentado e pode movimentar-se a sua visão, utilizando uma ferramenta no canto superior esquerdo (ao estilo do Google Maps; aliás, é essa a tecnologia que é utilizada neste serviço). Pode assim ver-se, especificamente na região do globo que nos interessa, a localização dos visitantes do blogue no último dia. Mas ainda mais: na janela na parte inferior, é indicada, para a região do globo visualizada, quais os textos do A Partir Pedra que os visitantes dessa região consultaram nesse dia e a percentagem de acessos de cada texto indicado em relação ao total. Pode-se assim comparar, por exemplo, os interesses dos leitores de Portugal com os do Brasil.. Mas, mais ainda: a indicação de cada texto na referida janela é um atalho para o mesmo. Assim, se um leitor verifica que em determinada zona do globo foi lido um determinado texto cujo título lhe suscita o interesse, basta clicar no atalho para aceder de imediato ao texto em causa!

Clicando na bandeira que indica a localização de cada visitante, surge a informação da localidade oriunda do acesso e do último texto acedido por esse visitante. De novo, esta última indicação surge sob a forma de atalho para esse texto. Quando aparece apenas a indicação A Partir Pedra, tal significa que esse visitante específico acedeu à página mais recente do blogue, que contém os textos dos últimos sete dias.

Clicando, na parte superior direita, no atalho Popular Links, abre-se uma página que apresenta, por ordem decrescente, os atalhos dos textos mais lidos no último dia. Dentro desta página, pode-se ainda seleccionar diversas variantes: todos os atalhos, os atalhos dos textos acedidos do exterior do blogue (isto é, directamente de um apontador de texto), atalhos dos textos acedidos a partir do blogue (isto é, utilizando os atalhos da coluna da direita o blogue), etc.. Utilizando-se o atalho Popular Pages, acede-se à indicação, por ordem decrescente das páginas, textos e marcadores acedidos no último dia, com indicação do local de onde proveio o último acesso.

Enfim, procuramos melhorar o blogue. Esperamos que estas inovações vos agradem!

Rui Bandeira

25 junho 2008

... do modo, ...

Se o tempo é indispensável, o modo é variável. Cada um é como é. Cada um chega com vivências próprias e diferentes dos demais. Cada um tem a sua forma particular de reagir e de evoluir.

Este é um calmo observador, que pacatamente absorve o que se passa ao seu redor, processa-o no interior de si e, sem se dar por ele, sem que se lhe veja grande actividade - às vezes parecendo mesmo desinteressado -, um belo dia desabrocha e surpreende a todos. Aquele é hiper-activo, quer participar, fazer, misturar-se, aprender ontem, para experimentar hoje e aplicar amanhã, um furacão de ânsia e acção, que desperta nos mais antigos preocupações de desastre iminente. Mas procura, investiga, experimenta, fura, bate algumas vezes com a cabeça na parede, cai e levanta-se, erra e corrige e, no fim, compõe o aspecto e, com um sorriso cândido, mostra que está pronto. O outro parece falho de iniciativa, parece nada fazer por si mesmo, necessita de ser constantemente guiado, estimulado, que se lhe aponte o caminho e que, quando nele surge uma bifurcação, que se lhe indique qual a vereda mais aconselhável. Mas, a pouco e pouco, vai ganhando confiança e, a dado passo, mostra que já sabe andar sozinho. Outro ainda olha, extasia-se, procura, volta atrás, mira, remira, sai do caminho para ver o que está além, regressa para espreitar um pouco mais adiante, e pára de novo e vê, revê, admira e espanta-se, qual visitante em exposição barroca. Parece perdido e diletante. Um dia, quando todos já desesperam com suas idas e vindas, suas digressões, paragens, experiências e admirações, pára e anuncia que já viu como é o mapa e a sua orientação, afirma que o caminho é por ali e segue-o resoluto. Há aquele que quer fazer seu percurso sozinho e com o mínimo de perturbação e o que só avançará acompanhado. O que estuda e medita e o que brinca enquanto experimenta. Um aprecia particularmente o convívio, outro a introspecção. Um é pacato, outro é espalha-brasas. Este faz, aquele observa, aqueloutro constrói, adiante um outro abre o boneco para ver como é por dentro, um precisa de ver, o outro acredita se lhe disserem.

Em resumo, cada novo elemento que está a aprender a ser maçon é único e diferenciado dos demais. Tem, portanto, de ser entendido e aceite pelos que já estão na Loja como a individualidade única que é. Não há "planos quinquenais" para fazer maçons. Cada um é ele. Cada um tem direito - e incumbe à Loja e aos mais velhos assegurá-lo e respeitá-lo - ao seu "plano individual" de evolução. Não é fácil para quem está. Mas também sabemos que quem entra também está enfrentando dificuldades... Às vezes, um novo elemento lembra-nos um outro que, anos atrás, falhou a sua integração. E, preocupados, há quem duvide, quem alerte, quem queira intervir para evitar que seja seguido o mesmo caminho que levou a mau resultado. E há quem, embora alerta, embora atento, o deixe seguir o caminho que escolheu, limitando-se a avisar para o abismo que ao lado está, esperando que o avisado o evite e passe onde, antes dele, outros caíram.

A Maçonaria é um santuário de respeito pela individualidade e pelo indivíduo. Actua como e é uma Fraternidade, que trata os seus membros em plena Igualdade, mas reconhece-lhes inteira Liberdade. Nós não só aceitamos como prezamos a diferença. Porque é enriquecedora. Porque, quanto maior diversidade tiver o grupo, a Loja, mais forte e eficaz e adaptável ele é. Aquele cujas características durante algum tempo parecem pouco valiosas é o que, perante determinado escolho, conduz o grupo à sua ultrapassagem. Ninguém é indispensável nem insubstituível. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis - esta é uma das minhas frases preferidas. Mas também nenhum de nós pode ser dispensado, esquecido, deixado para para trás. É um dos nossos e ponto final! Se for preciso, carregamo-lo agora. Dia virá e que será ele que nos carregará a nós. É disto que se faz o cimento que une um grupo.

Portanto, o modo como cada um se faz maçon, como cada um evolui, como cada um cresce, é com cada um. Cabe ao grupo reconhecê-lo, respeitá-lo e ajudá-lo, sem o querer "formatar". Porque um maçon ou é informatável ou não é, de todo, maçon! E, se vai errar, a solução não é impedi-lo de errar. É, seguramente, avisá-lo que caminha para o erro. Mas, se persistir, temos o dever de o deixar fazer o seu caminho, mesmo que o pensemos errado, mesmo julgando que a sua velocidade é demasiada. Porque o que é errado para nós pode ser certo para ele. Porque o aviso feito pode ser útil para que, no momento asado, ele evite o desastre que tememos. Ou, simplesmente, porque todos temos direito a errar! Ponto é que saibamos assumir que errámos, sofrer as consequências do nosso erro e tirar as devidas conclusões! Afinal de contas, muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com mil lições... E, se o erro ocorrer, se o Irmão cair, o que temos de fazer é ajudá-lo a levantar-se. Cabe-lhe a ele lamber as feridas e ser capaz de prosseguir, desejavelmente com mais ponderação.

Concluindo: aquele que se junta a nós deve estar preparado e aceitar que necessita de respeitar e aproveitar o tempo, indispensável para a construção do seu Templo. E o grupo que o recebe deve ser inflexível na exigência do decurso do tempo necessário. Mas aquele que se junta a nós tem, como individualidade própria que é, o seu modo particular de aprender, de reagir, de crescer, de evoluir. Tem o direito ao seu modo. E cabe ao grupo descobrir que modo é esse, respeitá-lo e auxiliar na sua execução.

Ser maçon demora tempo, mas faz-se de muitos modos. Tantos quantos os maçons.

Rui Bandeira

24 junho 2008

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A MAÇONARIA

A Maçonaria, pode-se dizer, nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros.
Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam, principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização.
Além de ler e escrever, aprendiam a dar graças, a caridade e os princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, nalguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viuva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflictos.

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registro da Associação de Pedreiros Livres.
Oficialmente registada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibido, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com simbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.
Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo de seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana.
Constitui-se como único protector e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.
Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente.
Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até á chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada.

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceite o primeiro maçom especulativo, de que se tem noticia, Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer á Associação dos Pedreiros Livres.
Em 1646 é aceite outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste facto é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosacruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosacruz.
As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos.

Em 24 de junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar essas reuniões clandestinas, pois, poderiam actuar contra o governo.

Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor.

Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei. Deu-se então uma verdadeira caçada á maçonaria e aos seus membros.

A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons.

Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte. Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau.
Pio VII só recuperou parte de suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815.

Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.
Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países.

Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821;Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isso recebia condenações mais veementes da Igreja.

Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui havia sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até esse momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 Km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central.

A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito.

O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.
Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália.

Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam A Jesu Christo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e, é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e actividades. Os carbonários matavam se fosse preciso.
Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido á revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios.

Em 1849 é proclamada por uma Assembléia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 226 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações.

Em 14 de maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália... Ideal Carbonário.

Em 27 de maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:
“ Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica.”

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte:
Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exequias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do baptismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Baptismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimónio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos.

Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adopção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento.

Em 11 de fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática,etc.
Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália.

Enfim, ficou o estigma da condenação.

Em 27 de novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânons do antigo código.

O Código mais importante, referente á Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se afilia a uma Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicado uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia:
“Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida. Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”.

A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canônico, e também da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica?

Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, essas são as palavras.

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica certamente novos horizontes surgirão.

Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes.

Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

FÉ E VAMOS VER, MEUS IRMÃOS, A PAZ TOTAL VIRÁ.
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Texto, de autor desconhecido, adaptado e complementado para publicação neste blog.

JF - 2008