25 setembro 2007

Dignidade desportiva

São 16 horas de 25/09/2007.
Refiro o momento exacto em que passo estas ideias ao papel (ao ecran…) porque é importante que se relacione com o tempo ainda anterior ao espectáculo desportivo do Portugal-Roménia em râguebi.
Temos, aqui, feito referência aos êxitos de Vanessa Fernandes e Nelson Évora nos campeonatos do mundo de Atletismo, tal como se referiu a participação da Selecção Nacional de Basquetebol, modesta mas a melhor possível face aos meios disponíveis, tal como têm que ser referidas as 7 (SETE) medalhas que os nossos judocas trouxeram de Birmingham e Tallin.
E os heróis do Desporto para Pessoas Diferentes ?
Quantas medalhas, quanta honra, quanta dignidade…
E agora no topo do podium, para nós, a Selecção Nacional de Râguebi.
Verdadeiramente amadores batendo-se de igual para igual (mesmo quando perderam por 101-13 com a Nova Zelândia) com profissionais de um desporto de força, sem dúvida, mas de enorme exigência técnica, também.
E bateram-se de igual para igual porque, quem assistiu aos jogos já disputados, constatou que em muitos momentos dos jogos os nossos foram melhores, mesmo perdendo sempre, viu-se que foram melhores.
Não se trata da apologia das vitórias morais.
Trata-se da verificação de que a Selecção Portuguesa de Râguebi é, de facto, um David a ousar desafiar um Golias, sem medo e com a força anímica dos heróis, quiçá, daqueles ao longo dos quase 900 anos de história justificaram que, como diz o nosso Templuum Petrus, ser português é “muito mais do que em solo pátrio ter nascido. Ser Português é um estado de alma, de espírito, é no fundo vestir a camisola incondicionalmente”.

É neste aspecto que estou 900 por cento de acordo com Templuum Petrus.
Infelizmente só nesse, porque os exemplos dados não têm nada a ver nem com o estado de alma, nem de espírito nem com a camisola incondicional.
Os exemplos do nosso querido Amigo Templuum Petrus confundem, a nosso ver, estado de alma com estado de conta bancária, espírito com Lamborguini, e Ser Português com “o não interessar ser brasileiro”(Deco, Liedson, …).

Adoro o Brasil e os brasileiros, cá e lá !
Quando por lá (Brasil) passei encontrei a minha casa, também.
Mas Scolari na Selecção Nacional de Futebol ainda não justificou os muitos milhares de euros (só Gilberto Madail sabe quantos) que lhe são pagos mensalmente.
Mas a imagem da Fénix é gira. Eu achei piada.
Em Futebol (exceptuando o jogo com a Inglaterra no Europeu) só ganhou o absolutamente indispensável para ir andando, sem brilho, sem classe.
E no entanto o treinador/seleccionador tem tido à disposição alguns dos melhores jogadores do mundo, não um ou dois, vários dos melhores jogadores do mundo, tal como o próprio mundo do futebol os classifica.
Figo, Rui Costa, Cristiano Ronaldo, Deco, Ricardo Quaresma, Ricardo Carvalho, … constituem quase uma equipa completa de melhores jogadores do mundo, dizem.

Em 1964 havia só um (Eusébio) e Portugal conseguiu muito melhor, foi 3º num Campeonato do Mundo.
E por acaso também com um brasileiro à frente, só que esse brasileiro (Otto Glória) antes de ser Seleccionador Nacional fez por merecer a escolha, organizando todo o futebol nacional, dando-lhe estrutura, incutindo profissionalismo a todos os niveis, ensinando o que é jogar futebol e conquistando internamente títulos atrás de títulos, mostrando que era o melhor.
Foi escolhido para Seleccionador Nacional apenas porque era o melhor na altura.

No Europeu (e era só europeu) não conseguimos mais do que o 4º lugar.
Jogadores melhores do mundo são mais que muitos.
Já só faltava mesmo uma cena de pugilato, que o próprio boxeur só reconheceu quando a televisão lhe retirou qualquer possibilidade de fuga.
Não foi uma retratação honrosa como se quer fazer passar (especialmente essa outra Fénix extraordinária que é “presidente” da Federação), foi uma confissão de pobreza de espírito quando a única atitude digna teria sido a demissão.

Honra, dignidade, “vestir a camisola incondicionalmente” sim senhor !
Estou à espera das 19h para ver “OS LOBOS”.
Qualquer que seja o resultado !!!

No futebol, não !
JPSetúbal

24 setembro 2007

A Iniciação (II)

Os ritos de passagem são frequentemente integrados por referências ou representações à vida anterior dos que se submetem ao rito (de onde vens), por uma ou mais provas que devem ser superadas (o que és) e por referências ou representações daquilo a que se acede (para onde vais), designadamente aos deveres ou obrigações inerentes à nova situação que é atingida.

O rito de passagem que é a Cerimónia de Iniciação maçónica não foge a este estereótipo. Tem, porém, a característica de, após uma fase inicial, destinada à preparação psicológica e interior do candidato, tudo isso ocorrer em simultâneo.

Durante praticamente todo o decurso da Cerimónia de Iniciação, processam-se, em simultâneo, simbólicas referências à vida passada do profano em geral (e, portanto, também do candidato), ocorre a prestação de provas pelo candidato, por cuja submissão e consequente superação, também simbolicamente, se processa a transformação da realidade anterior para a realidade futura e apresentam-se ao candidato os princípios morais que devem por este ser seguidos como elementos veramente identificadores e conformadores da sua nova condição, a de maçon.

Durante todo este processo, o candidato é o centro da Loja - e, na medida em que esta simboliza também o Mundo, o candidato é o centro do Mundo. Tudo começa e acaba nele. Tudo a ele se refere. Tudo se destina a ser percepcionado, apreendido, sentido, em suma, vivido, por ele.

Porque assim é, tudo é organizado para que o máximo de atenção do candidato esteja concentrado no que se passa. Quando é que a nossa capacidade de atenção está no seu nível máximo? Quando estamos perante o desconhecido. Daí a importância de que o candidato ignore o que se vai passar.

Mas o objectivo principal da Cerimónia de Iniciação é TRANSFORMAR um profano num maçon. Importa, então, que esta efectue essa transformação. Para que tal ocorra, há que causar uma impressão no candidato, que seja o agente dessa transformação. Isso não ocorre com a mera leitura de um texto ou a simples exposição de normas de conduta, ou sequer com a prestação de provas que, na realidade, são tão acessíveis que não há memória de terem sido falhadas. Isso ocorre com a integração de tudo isto num conjunto e numa ambiência que, vividos em directo, sem avisos prévios, sem se saber o que virá a seguir, efectivamente marquem o candidato. O que se procura é que quem se submeter a uma cerimónia de iniciação maçónica nunca a esqueça, em dias de sua vida!

Para tal, o candidato é o centro de interesse de toda a actuação de toda a Loja durante todo o tempo em que decorre a sua iniciação, em toda a sua integralidade. Procura-se atingir, tocar, todos e cada um dos cinco sentidos do candidato. É importante, assim, tudo o que o candidato vê (e o que não vê...), tudo o que ouve e entende (e tudo o que, ouvindo, não entende, no momento...), tudo o que cheira, tudo o que saboreia, tudo o que sente (e tudo o que se passa sem que ele directamente sinta...).

A Cerimónia de Iniciação maçónica é uma cerimónia complexa para quem a executa e para quem a ela é submetido. Para quem a executa, porque, para ser feita de forma a que a mesma atinja os seus objectivos, se impõe concentração, coordenação e cooperação de todos os presentes, pois todos, realmente todos, os membros de uma Loja presentes participam na Cerimónia de Iniciação e contribuem para a criação do clima que permitirá o desabrochar de um maçon no interior de quem a essa cerimónia é submetido. Para este, porque, impreparado, despojado e indefeso, enfrenta um aluvião de sensações que - sabemo-lo! - lhe será impossível devidamente processar no momento. Mas é por isso mesmo que a Cerimónia de Iniciação é marcante!

Uma Cerimónia de Iniciação bem executada, bem vivida, será fonte de ensinamento e reflexão ao longo de toda a vida. Não será imediatamente compreendida na sua integralidade. Mas isso não importa. O que importa é que marque quem a ela se submeteu. Marcará no momento em que é vivida. Marcará de novo quando, pela primeira vez, o então já maçon assistir à iniciação de outrem. Voltará a marcar sempre que assistir a uma iniciação, sempre que executar uma função numa iniciação, sempre que dirigir uma iniciação.

E, se a sua Iniciação for proveitosa, se o maçon souber dela tirar toda sua lição e a aplicar ao longo do resto de sua vida, desejavelmente quando chegar o momento da sua Suprema Iniciação, do Derradeiro Ritual de Passagem, da sua Passagem ao Oriente Eterno, recordar-se-á do dia em que esteve, impreparado, despojado e indefeso, perante o Desconhecido e passou adiante e... não temerá!

Rui Bandeira

22 setembro 2007

Scolari

“Exalta-te e serás humilhado, Humilha-te e serás exaltado”

Ora eu aqui de novo, aproveitando a inter-actividade aqui do sítio, proponho-me discorrer, profanamente, embora com certa intenção não profana, apelando a valores que se ensinam quando ainda só sabemos soletrar.
De caminho dou nota do comentário feito por uma cunhada a propósito do meu artigo “Grandes Portugueses II”, a quem agradeço as palavras que me dirigiu e me alertaram para a necessidade de esclarecer, aquilo que não soube transmitir.
Quando referia que as figuras históricas presentes na “final” do concurso televisivo eram iniciados, obviamente não me referia à Maçonaria Especulativa, aquela onde hoje somos humildes obreiros, mas também aludi à distinção que Fernando Pessoa fazia entre Ordem Maçónica e Maçonaria (especulativa). A primeira refere-se a um sistema tributário de valores esotéricos e profanos que não carecem de uma iniciação formal e ritualística, ancestral, e nessa medida, ser adequado admitir que um iniciado, numa ordem esotérica poder ser aceite como Maçon. Era o caso de todos os nomes referidos naquele artigo, porque todos iniciados.
Bom mas o tema de hoje está na berra. De uma forma vernácula nunca o ditado “passar de bestial a besta” vem tão a propósito, como o caso do momento do Scolari.
Para começo de conversa devo dizer que quando a Federação Portuguesa de Futebol contratou o Scolari eu não aceitava muito bem a necessidade de ir buscar um estrangeiro quando existiam tantos treinadores Portugueses de elevado calibri. Recordava-me de um que me fez chorar lágrimas de orgulho e alegria – o Carlos Queiroz – campeão do mundo de sub-21 duas vezes, lembrava-me do Manuel Fernandes que é só treinador com mais títulos internacionais, etc.
O Scolari vem do Estado Brasileiro do Rio Grande do Sul, onde tenho amizades pessoais com políticos de relevo, e genericamente tenho gratas recordações das duas vezes que o visitem, ali tendo aprendido muitas coisas no domínio da administração municipal e marketing politico. Portanto tenho sempre um especial carinho pelo Rio Grande do Sul. Mas nem isso aplacava a minha resistência ao facto de uma selecção nacional dever ter na sua liderança um Português.
Porém, já há muito que aprendi, a custo, porque me custa constatá-lo, que ser Português é muito mais do que aqui em solo pátrio ter nascido. Ser Português é um estado de alma, de espírito, é no fundo vestir a camisola incondicionalmente.
A nossa história está recheada de episódios com portugueses que renegando o seu sangue, optaram pela trincheira castelhana. Até o nosso Nobel parece ter optado por essa via.
Nutro um especial desprezo por todos os Portugueses que se colocam nessa posição. Assim como nutro um especial apreço por quem aqui não tendo nascido, se sentem portugueses e agem com tal. Esses têm nas veias o ser Português. Foi esse o caso do Scolari. Foi isso que me levou a mudar de ideias.
Este homem chega a Portugal, e qual Fénix, renascida das cinzas, levanta o moral dos Portugueses, inflama o espírito da portugalidade, torna-se num ser Bestial, e nós todos com ele.
Um acto irreflectido, censurável, vergonhoso, e, aparentemente, sem desculpa foi praticado por este ser Bestial. Exige-se a um ser Bestial que não se sinta ofendido de, em castelhano alguém, lhe diz “hijo de putana”, e outras do género. Reage como qualquer um com sangue a correr nas veias reagiria. Já lá dizem na terra dos meus Pais (transmontanos) que quem não se sente não é filho de boa gente.
A retratação no dia seguinte na “grande entrevista” parece-me sincera. O homem que antes se exaltara foi humilhado, pela opinião pública imediata. Mas agora humilha-se pelo que será exaltado. Ao cabo e ao resto é um exemplo de quem errando, emenda o caminho.
Afinal melhor do que quem nunca errou, é aquele que tendo errado se emendou. O primeiro provavelmente não terá sido tentado por factores desviantes. O segundo tendo sido tentado ultrapassa a tentação. Combate os seus vicíos e exalta as suas virtudes. Isto é evoluiu. Sendo bom e de bons costumes e tornou-se melhor.
Scolari sendo bestial, comete um erro, mas arrependeu-se. Aprendamos algo com isto.
O Grande artífice do Universo (como Camões Lhe chamava) pega-nos ao colo quando erramos, quando precisamos, quando fraquejamos.
Afinal é nessa altura que precisamos de ser acarinhados. Quanto ao Scolari, o homem errou, retratou-se. Façamos como qualquer centurião de uma legião romana faria perante um ataque, porque agora surgem de todos os lados, e gritemos “formação em diamante” (esta era a voz de comando para formar uma espécie de concha defensiva com os longos escudos dos soldados que os protegia das setas inimigas, e de qualquer artefacto móvel que se lhes dirigissem de qualquer direcção.
Quando se trava uma “guerra” (em sentido figurado) – qualificação para o Europeu – nunca se deve mudar o General, sob pena de, ao fazê-lo se perder todas as batalhas seguintes (e são 4). Isso seria uma estupidez.

Bem hajam

Templuum Petrus

21 setembro 2007

Sobre Esoterismos

Falei num post prévio da linha esotérica, e o nosso leitor Simple que lê todas as letrinhas que escrevemos neste blog não deixou passar essa referencia em branco e questionou sobre.

O esoterismo está em minha opinião no feitio de cada um.

Eu sou cartesiano, racionalista, e sigo linhas de pensamento lógicas sendo também um pouco Maniqueísta. É a minha formação, é a minha forma de ser na sociedade civil, sou assim em casa com a família.

De vez em quando, se a situação o exige visto a minha capa de politico e passo a admitir alguns tons de cinzento e situações menos lógicas.

Acredito que a Maçonaria tem origens definidas e que com os landmarks, os regulamentos, os rituais, a prática se pode muito bem responder a toda e qualquer questão que se levante.

Mas hoje estou aqui para falar de Esoterismo. Sendo este um tema de grande importância na Maçonaria, decidi contudo fazer uma abordagem ligeira, ou talvez não.

Creio que o esoterismo se pode dividir em categorias (cá está a minha faceta lógica) e a melhor maneira que encontrei de as explicar foi com a apresentação de exemplos. Uns são totalmente inventados para este efeito, outros são reais. Temos então as seguintes categorias (classificação é minha e inventada agora mas se estivesse em publico diria “ segundo uma antiga tradição … [juntando em voz baixa e para o lado “que acabo de inventar” ] ) de esoterismo:


Esohisterismo
Enoterismo
Esoterismo Complexo
Esoterismo Simples
Esoterismo Super Simples


EsoHisterismo

1) A Razão pela qual numa loja existe o pavimento mosaico advém do cosmos e da superposiçao da Lua em Marte, com uma incidência de Vénus as 10h34min do dia 23 de Março do ano de 1658, como é evidente para qualquer mortal.

2) Mozart foi iniciado em 14 de Dezembro de 1784.
José Ruah (eu próprio) foi Iniciado em 14 de Dezembro de 1991

Se repararmos nos anos e aplicarmos a regra dos 9 fora, temos que:
1784 = 2
1991 = 2

Mozart tinha 28 anos quando foi iniciado
José Ruah 27

Pela mesma regra

28 = 1
27 = 0
(o que é uma absoluta verdade)

Mozart demorou exactamente 1 mês a chegar a Mestre.
José Ruah demorou exactamente 9 meses a chegar a Mestre.

Novamente
1= 1
9 = 0

Mozart foi organista da sua Loja
José Ruah é organista suplente da sua Loja

Mozart compunha magistralmente e tocava ainda melhor ( tal qual indicam os 1 acima)
José Ruah também (campainhas de portas e Cds conforme querem dizer os 0 acima)

Mozart morre exactamente 200 anos e 9 dias antes da iniciação de José Ruah. Como 0 9 equivale a Zero podemos dizer que a Iniciação de José Ruah aparece na celebração dos 200 anos do falecimento de Mozart.

Logo e tendo em conta esta demosntração, José Ruah é seguramente uma nova forma de Mozart.


Enoterismo

É uma corrente intermitente, com uma correlação positiva aos Ágapes, ou mais propriamente ao fim dos mesmos.
Revela-se na verborreia e na capacidade inventiva que proporciona o ENO (ou produto similar – do grego e significa vinho) propelido pelos canhões bem carregados que são presença imprescindível nos ágapes.

De entre estes posso destacar o J e o B que têm um valor esotérico importante e um potencial enotérico de aproximadamente 40º/vol.

Poderia aqui citar umas quantas destas “ pérolas” mas os leitores poderão imaginá-las.


Esoterismo Complexo

1) Visão Crística / Messiânica transpondo rituais religiosos para cima dos rituais Maçónicos, e pensando que com isso vão conseguir definir novos arquétipos e encontrar o Santo Graal.

2) Tentativa de basear a Maçonaria na Cabala, usando para tal aquilo que se convencionou ser a Cabala Cristã, que é uma adaptação da Cabala Judaica (a original).
A estes eu costumo fazer apenas uma só pergunta: “ O meu irmão é então um entendido em Hebraico antigo e Aramaico? “, a resposta é invariavelmente não.
Temos que perceber o que é a Cabala, e saber que ela só pode ser interpretada na sua língua original pois assenta na construção frásica de uma língua e numa tradução numérica de um alfabeto específico.
Atente-se que nas línguas latinas o alfabeto contem vogais e consoantes e começa por A, B, C, …

Em hebraico o alfabeto só tem consoantes, tem várias letras com o mesmo som mas com valores gramaticais e numéricos diferentes e começa por Alef, Bet, Guimel (A, B, G) tal como o grego (alfa, beta, gama).

Traduzindo para números

Alef = A = 1
Bet = B = 2
Guimel = G = 3

Mas a letra G no alfabeto latino é a 7ª letra e A é uma vogal e Alef uma Consoante.

É fácil de depreender que quaisquer traduções e adaptações têm muito do dedo de quem traduziu, suprindo a impossibilidade de tradução de um sem número de conceitos. E estas traduções feitas por gente do Clero em épocas remotas, tinham por objectivo demonstrar determinadas verdades que careciam de demonstração.


Esoterismo Simples

1) Os que tendo lido os escritos de Jean Baptiste Willermoz, e René Guenon, partem do princípio que a Maçonaria começou e acabou nos dizeres destes, seguramente sabedores e cultos, escritores.

2) Os que por serem profundamente, e convictamente espirituais, se preparam para o ritual e quase entram numa fase de pré transe ou tentam uma espécie de elevação da alma durante as sessões.


Esoterismo Super Simples

Os que genuinamente fazem pesquisa nas mais variadas fontes e que produzem conhecimento sobre prováveis origens das coisas e que permitem aos demais poderem enriquecer-se com este conhecimento.
Não podemos esquecer que mesmo os mais racionais como eu também acreditam/aceitam algumas coisas como sejam, a origem esotérica da Maçonaria associada à construção de Templo de Jerusalém sob a égide do Rei Salomão e a “expertise” do Mestre Hiram entre outras.


Ora com estas linhas/classificações todas é fácil de perceber que numa Grande Loja temos gente para todos os gostos, e por isso temos Lojas para vários gostos.

Eu seria muito infeliz numa Loja puramente esotérica onde se discute a génese da vírgula na 3ª página do ritual linha 23. Tentando-se saber se advém de uma conjuntura cósmica, ou de uma interpretação cabalística. Para mim vem seguramente de uma necessidade gramatical ou de um erro de redacção do autor.

Outros seriam muito infelizes em lojas onde se discutam coisas práticas como o que vamos fazer para interagir com a sociedade de que forma e com que dinheiro. Porque estes assuntos têm pouco a ver com a noção transcendental de Willermoz, e seguramente não contribuem para a elevação do espírito.

Na generalidade gostamos todos da vertente enotérica, uns porque a praticam outros porque se riem até não poder mais com o que ouvem.

Tentando concluir.

Numa Grande Loja existem (coexistem) irmãos com inúmeras tendências esotéricas. Naturalmente acontece a agregação dos Irmãos da mesma tendência, normalmente as mais extremas) formando assim uma Loja com um determinado perfil.

No entanto a generalidade das Lojas têm um pouco de tudo, pois dessa forma consegue-se um contrapeso que permite um equilíbrio ideal ao desenvolvimento.

É contudo necessário perceber que estamos a falar de pessoas, e por muito que se queira (até eu que quero fazer passar-me por 100% racionalista) cada uma delas tem um pouco de cada coisa.

Diz o povo que “ De Sábios e Loucos todos temos um pouco”, e na Maçonaria isto também é verdade.

No entanto a experiência diz-me que só existe o caminho para o Esoterismo. Ou seja os racionais podem ficar um pouco esotéricos, os esotéricos super simples só evoluem para simples e daí para complexos. Não há na história nenhum que tenha feito o caminho ao contrário ou seja de Esotérico para Racional.

Devo portanto concluir que o estádio de elevação espiritual atingido pelo esoterismo deve ser muito bom, porque os que vão não voltam mais, eu cá como ainda não fui não posso dizer muito mais sobre o assunto.

Como podem já ver só esta conclusão em si tem valor esotérico, concluo portanto que já devo começar a ficar “contaminado”.

Provavelmente este não é o texto mais explicativo sobre o esoterismo, mas foi o que saiu.

Ainda me diverti a calcular a comparação com o Mozart, e posso desde já garantir que os factos são todos verdadeiros, quer a data de iniciação, quer o tempo entre graus, quer a idade, quer os 200 anos e 9 dias.

Dizem os mais esotéricos que não há coincidências. Dizem os deterministas e logo mais racionais que tudo está determinado.

Não restam então quaisquer dúvidas que os extremos se tocam e que na verdade entre os mais racionais e os mais esotéricos não há grandes diferenças.

Como diria Fernando Pessa – “ E esta hein !!!”


José Ruah

20 setembro 2007

A Iniciação (I)

Quando um profano pede para ser admitido maçon e a Loja que recebeu esse pedido acede a ele, a entrada do novo elemento para a Maçonaria e para a Loja processa-se mediante uma cerimónia, designada de Iniciação.

Um dos compromissos que os maçons assumem é o de não divulgar a profanos como se processa a cerimónia de Iniciação. Não por gosto do secretismo. Não porque algo de ilícito, ou perigoso, ou atentatório da dignidade, exista nessa cerimónia. Simplesmente porque o desconhecimento sobre como se processa e o que se passa nessa cerimónia é absolutamente essencial para que esta atinja os objectivos que com ela se procura prosseguir.

Dir-se-ia, assim sendo, que, nesse caso, não poderia ou deveria eu aqui escrever sobre a Iniciação. Tudo depende do que se escreve e como se escreve. Obviamente que não vou descrever a cerimónia, dizer o que nela se passa, como se processa. Assumi o compromisso de tal não fazer publicamente ou em privado perante profanos. E concordo e entendo as razões que subjazem a esse compromisso. Mas, sendo política e objectivo deste blogue desmistificar o pretenso secretismo da maçonaria e divulgar os princípios e objectivos desta, não seria entendível que aqui se não fizesse referência a um dos mais importantes actos e cerimónias da vida de qualquer maçon, a uma cerimónia que o terá indelevelmente marcado quando por ela passou e que continua e continuará a a influenciá-lo positivamente sempre que participa na iniciação de um novo maçon. Seria como descrever o futebol sem falar do golo, como discretear sobre Leonardo da Vinci sem mencionar a Mona Lisa!

Mesmo sem divulgar o que não deve ser divulgado, entendo que algo de interessante pode e deve ser dito sobre a Iniciação, permitindo que a generalidade dos interessados - ou até simples curiosos - entendam que objectivos se procuram prosseguir com essa Cerimónia e, mesmo, a razão da necessidade de detalhes sobre ela não serem conhecidos por quem por ela não passou.

A Cerimónia de Iniciação mais não é do que, no fundo, um rito de passagem! Desde a mais remota Antiguidade e em diversas Civilizações que a Humanidade executa ritos de passagem - o mais frequente deles porventura o que assinala a passagem da infância para a idade adulta.

A Cerimónia de Iniciação é, assim, e antes do mais, um rito de passagem da vida profana para a vida maçónica. Mas não é um mero marco dessa passagem, desse início. O traço distintivo da Cerimónia de Iniciação em relação à generalidade dos ritos de passagem é o de que aquela, mais do que assinalar, festejar, marcar a passagem da vida profana para a vida maçónica, tem um papel efectivamente constituinte dessa transição.

Não se pode ser maçon sem VIVER a cerimónia de iniciação. Pode-se tê-la estudado, lido sobre ela, até porventura lido o respectivo guião. Nada disso faz diferença: para que a nossa mente e o nosso espírito apreendam em toda a sua complexidade e riqueza o que é ser maçon, é essencial VIVER a Iniciação. Porque a transformação ética e espiritual que o método maçónico propicia depende, não apenas do Intelecto, mas da integralidade do Homem. O que vale por dizer que não basta conhecer intelectualmente os princípios, os ensinamentos, os propósitos, a moral. É necessário SENTIR esses princípios, esses ensinamentos, esses propósitos, essa moral.

E a impressão que a Cerimónia de Iniciação deixará naquele que a ela é submetido será tanto mais forte quanto menos ele souber do que se vai passar. Quanto mais souber (ou julgar que sabe...) sobre o que vai ocorrer, mais distraído estará, aguardando o que espera, ou julga, que vai acontecer, ou interrogando-se porque não aconteceu o que sabe (ou pensa que sabe...) que vai acontecer. E quanto mais concentrado no que sabe (ou imagina que sabe...) estiver, menos atenção dedica àquilo que efectivamente se passa, de menos detalhes se aperceberá, mais sensações perderá.

A todos aqueles que desejem vir a ser iniciados maçons, deixo aqui, portanto, um sincero conselho: informem-se o mais que puderem sobre a maçonaria, mas não busquem informar-se sobre a Cerimónia de Iniciação. Quanto mais dela souberem, menos esta vos marcará. Quanto mais dela conhecerem, menos a VIVERÃO. A maçonaria preza e incentiva o Conhecimento. Mas uma das coisas que se aprende na Maçonaria é que o verdadeiro Conhecimento adquire-se ordenadamente, quando se está preparado para adquirir cada pedaço dele.

Rui Bandeira

19 setembro 2007

The Burning Taper


The Burning Taper (O Círio Ardente) é um interessante blogue norte-americano de temática maçónica. Há meses que andava para aqui o divulgar, mas, por uma ou por outra razão, tal referência foi sendo adiada - até hoje!


The Burning Taper é escrito por um maçon, residente numa povoação do Estado sulista da Geórgia, que usa o pseudónimo de Widow's Son (Filho da Viúva - a expressão que os maçons utilizam para se designar a si próprios).

A leitura deste blogue permite que nos apercebamos de quão diferente é a maçonaria americana da maçonaria europeia. Diga-se desde já que este é um blogue contra a corrente, escrito por alguém que assumidamente está preocupado com o estado actual da Ordem Maçónica nos Estados Unidos, inserindo-se numa tendência de maçons que, insatisfeitos com o trabalho interno das Lojas, reduzidas quase a clubes sociais e filantrópicos, defendem que a crise por que passa a maçonaria americana (em contínua perda de efectivas, desde há várias décadas) só pode ser superada com o investimento na formação maçónica, com o estudo, debate e efectiva prática dos princípios maçónicos, com o trabalho ritual, com o retorno à prevalência das Lojas Azuis (as Lojas que constituem o essencial da Maçonaria, com os três graus de Aprendiz, Companheiro e Mestre) em detrimento dos Altos Graus (nos Estados Unidos, essencialmente o York Rite e o Scottish Rite - Rito Escocês Antigo e Aceite, dos 4.º ao 33.º graus) e de outros Corpos Adjacentes (os Shrines). Em suma, e ressalvadas as devidas distâncias, poder-se-á dizer que as posições defendidas por Widow's Son e toda uma corrente, por enquanto ainda minoritária, de maçons se aproximam da prática da maçonaria europeia.

Pelo que se pode ver em The Burnig Taper, Widow's Son é um maçon que cultiva a polémica - mas respeita as opiniões alheias -, fomenta a discussão - mas pretende-a esclarecedora - e defende com intransigência - mas com espírito democrático - as suas concepções.

O autor do blogue preocupa-se, manifestamente, com a influência do fundamentalismo religioso - em especial do fundamentalismo dito cristão - na sociedade americana, que entende pôr em perigo os valores essenciais em que esta se baseia. Não hesita em denunciar esse fundamentalismo. Entende que o modelo quase exclusivamente filantrópico e social que considera ser seguido pela corrente maioritária da maçonaria americana está esgotado. Aponta e divulga os exemplos das práticas que considera mais adequadas.

O blogue destaca um aviso, o de que tem tendências heréticas. É evidente a ironia, mas também a assunção do inconformismo do seu autor.

Muito interessante é o detalhe de Widow's Son ter criado uma base de dados de citações maçónicas e, mediante uma aplicação criada para o efeito (que se propõe disponibilizar a outros Irmãos que desejem utilizá-la nos seus sítios ou blogues), possibilitar que, em cada vez que se acede ao blogue, se leia uma diferente citação maçónica.

Este blogue teve assumidamente a sua origem num conflito em que o seu autor esteve envolvido na sua Loja. Para se compreender muito do pensamento e da postura de Widow's Son convém ler-se atentamente o conjunto de textos que descrevem a origem e o desenvolvimento desse conflito. Esses textos estão referenciados na coluna da direita do blogue, sob o título The Burning Taper backstory (Os antecedentes de O Círio Ardente).

Aqueles que o autor considera serem os melhores textos publicados no blogue (e seguramente alguns daqueles em que a polémica está presente) estão referenciados, também no lado direito do blogue, sob o título Worth reading again (Vale a pena ler outra vez). São doze textos que nos dão a panorâmica das preocupações e das posições de Widow's Son.

Este blogue é frequentemente actualizado - por vezes com vários textos por dia. Vale também a pena ler os comentários, não só porque ali intervêem alguns dos autores de outros blogues maçónicos de qualidade, mas porque não é raro que as polémicas que se estabelecem na caixa de comentários seja mais interessante e esclarecedora do que os textos que lhes serviram de pretexto - e que, por vezes, se tem a sensação que foram publicados precisamente buscando a polémica, o confronto de ideias, as posições extremadas.

Para quem domina o inglês e quer ir acompanhando o estado da maçonaria americana, suas virtudes e defeitos, pujanças e problemas, inacção e evolução, ler regularmente o The Burning Taper é francamente aconselhável.

Rui Bandeira

18 setembro 2007

Entre o Nono e o Décimo Veneravel

Sabia, mais ou menos, o que o Rui iria escrever sobre esta época da Loja. Tive tempo para pensar sobre se escreveria ou nao sobre este periodo.

Só hoje decidi. Ao ler o post do Rui A Ultrapassagem . Comecei por escrever na zona de comentários mas decidi passar para aqui.
Ao contrario do que se possa pensar , e na minha opinião estes foram os anos mais dificieis da Affonso Domingues.
O perigo vinha de dentro e como todos sabemos as guerras internas sao muito mais violentas que as externas.
Diz o povo
" Eu contra o meu Irmão, eu e o meu Irmão contra o nosso primo, Eu o meu irmao e o nosso primo contra o vizinho, eu,meu irmao, nosso primo e o vizinho contra o vizinho da rua de baixo, etc."
Anos antes a guerra nao era nossa, era imposta, nestes anos a desavença era interna.
Por isso aqui vai.
Creio que deve aqui ser dito que Luís D.P. era adepto de uma via esotérica que privilegiava a permanência pelo máximo período de tempo possível em cada lugar.

Começou por recusar ser 1º Vigilante quando convidado pelo Vítor. Recusou ser 1º Vigilante quando convidado por mim, escolhendo em ambas as alturas ser 2º Vigilante.

Não teve a possibilidade de repetir a dose em 1º Vigilante por força das circunstancias ( bem até que foi duas vezes pois o Jean P.G teve mandato e meio com duas eleições.)

Tentou ser Venerável dois anos consecutivos, mas aí a coisa foi mais difícil.

A Generalidade da Loja não foi nisso, e sobretudo ele Luís sabia bem que eu não iria nisso. Foi público e muito notório que fui um dos maiores críticos ao tipo de gestão do Luís, e as nossas discordâncias eram constantes e audíveis.

Reconheço que o meu mau feitio imperou, quem me conhece sabe que gosto das coisas feitas à minha maneira, mas que não sou Ditatorial (excepto em caso de força maior).

Esses anos da Loja vivi-os com algum distanciamento pois tinha acabado de mudar de emprego tendo na altura assumido funções num hospital, e tinha mudado de casa mas por força das obras fui obrigado a viver em Colares durante um ano, pelo que me sobrou muito pouco tempo para a Loja.

Não guardo grande saudade do Veneralato do Luís, e não fiquei admirado com a manipulação feita. Esse era o estilo. Sempre com um discurso de decisão democrática, sempre com uma decisão autocrática e muitas vezes não orientada ao que seriam os melhores interesses da Loja.

Por isso especulo aqui o seguinte:

Luís sabia que se tentasse ser reeleito teria uma oposição feroz, e que provavelmente não o seria uma vez que a reeleição obriga a um resultado de pelo menos 2/3 dos votos favoráveis.. Ficando numa situação insustentável.

Terá pensado que seria estrategicamente melhor afastar-se e não promover aquele "que ele pensava ser o seu Delfim" , criando assim um hiato de 1 ano antes de poder tentar retomar o poder.

Luís sabia que Rui Bandeira me conteria, porque somos amigos e porque eu nunca iria tornar difícil o Veneralato do Rui.

Comigo fora das contas ele tinha um ano de descanso e poderia preparar o futuro.

Só que feriu o "seu Delfim" e não contou, nem poderia contar, com as eleições para Grão Mestre que ocorreram durante o mandato do João D.P. .

Não contou com mais algumas coisas. Tomou-se “amores” por Ruy F. e por Gustavo P. , e sem querer ser muito mau, creio que incumbiu o primeiro de travar uma guerrilha comigo. A coisa correu mal.

Luís esqueceu-se de uma coisa fundamental, eu tinha sido o Venerável da Guerra e travar uma “guerrinha” com Ruy F. foi fácil, tendo acabado Ruy por sair da Loja

Gustavo P. acabou mal, praticamente expulso da Loja, e mais tarde expulso da Maçonaria.

E no que respeita à eleição para Grão Mestre, Luís encontrou-se frente a frente com João D.P., Luís era um dos 3 subscritores de uma candidatura e João um dos subscritores da candidatura oponente.

Eu era o “juiz”. Por assim dizer. Desempenhava funções de Grande Orador da Grande Loja e era o responsável pelo escrutínio.

Temos então que a estratégia de Luís fracassou.

Ao provocar a ultrapassagem perdeu aquele que ele achava ser o seu Delfim.

Ao mandar outros batalhar comigo, perdeu os seus aliados.

Acertou na premissa que Rui Bandeira me conteria. Mas o Veneralato só durou um ano e no ano seguinte, estando eu nas colunas e ele como guarda interno ficámos empatados na prioridade do uso da palavra e eu não me tinha esquecido.

Não podia prever a evolução da Grande Loja e com isso teve que defrontar João .D.P. , se é certo que ganhou a eleição o candidato de Luís e que com isso ele ficou como Grande Orador, também é certo que passado pouco tempo o Grão Mestre o destitui sem apelo nem agravo por incumprimento de funções. Ou seja aquele que poderia ter sido o seu trunfo ele também não o aproveitou.

Falhou também a sua tentativa de ser o único responsável pela instrução dos aprendizes. Essa função estava acometida aos Vigilantes e estes desempenharam-na.


Era uma estratégia que teoricamente ( leia-se esotericamente) estava bem montada, mas que esbarrou numa série de problemas reais e em tipos com mau feitio, que tendo dado tudo o que tinham para conter as agressões externas não iam nunca dar de barato a destruição interna.


Terminando a especulação, que como qualquer especulação apenas reflecte o que eu penso, retomo a realidade

Hoje Luís não aparece nas sessões há uns 4 anos. Soube que está tentar regularizar a sua situação de quotas para poder sair com alguma dignidade.

Como pessoa Luís estava sempre pronto a ajudar. Como Venerável Mestre foi na minha opinião um desastre.

Ainda hoje a Loja não tem um membro que seja da linha esotérica como o eram Luís e Ruy F.

Não sei porquê, ou se calhar até sei.
José Ruah