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14 outubro 2014

O trabalho da Coluna da Harmonia...

(imagem proveniente de Google Images)
Durante o decorrer de uma sessão ritual maçónica existe o hábito generalizado de existir música ambiente. Música essa que deverá criar certos estados de espírito aos seus ouvintes para possibilitar uma certa harmonia entre todos os presentes na sessão.
A responsabilidade da condução musical numa loja maçónica é do Mestre da Harmonia, o qual também é designado por Coluna da Harmonia.
A seleção musical a ser utilizada deverá ser preferencialmente escrita e/ou musicada por autores maçónicos, nomeadamente Ludwig van Beethoven, Frédéric Chopin, Wolfgang Amadeus Mozart entre outros,  mas também pode ser utilizada música de qualquer tipo de autor sem prejuízo para os anteriormente citados. O género musical a ser utilizado também dependerá daquilo a que se proponha fazer o Mestre da Harmonia em consonância direta com o programa da respetiva sessão maçónica; sendo que ao conjunto de músicas que integram o seu trabalho se designar por Prancha Musical.
E para a elaboração desta prancha geralmente são utilizadas sonoridades mais clássicas na maioria das lojas, mas na Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5, os gostos são muito ecléticos pelo que é habitual, dependendo de quem ocupe a Coluna da Harmonia, se ouvir desde música clássica, passando pelo Rock ao Ambient Lounge ou ChillOut e também às sonoridades new age. Daqui se poderá depreender que tal como ao nível da utilização das novas tecnologias, também ao nível da seleção musical, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 é também uma loja que se poderá assumir como p’rá frentex
No entanto, e apesar da liberdade de escolha musical propiciada pela loja ao Mestre da Harmonia, a este apenas lhe é pedido ( aliás, exigido por assim dizer…) que com a sua música proporcione o ambiente ideal ao desenrolar dos trabalhos maçónicos a serem efetuados.
Mas apesar da vasta e ampla seleção musical que pode ser utilizada numa sessão maçónica, não pode a mesma ser usada de qualquer forma nem em qualquer tempo. Existe uma temporização adequada e um tipo de  sonoridade específica que se espera escutar  em determinados momentos da sessão maçónica, sejam eles a Abertura ou o Encerramento dos Trabalhos, seja no momento da execução da Cadeia de União ou na circulação do Tronco da Viúva; a música deverá criar uma sensação própria a cada um que a ouvir em relação ao momento maçónico em concreto. Não devendo o estado de espírito dos maçons se encontrar contrário ao disposto, senão resultaria numa possível quebra da egrégora criada pela harmonia experimentada pelo conjunto dos irmãos presentes na respetiva sessão.
E se no decorrer de uma sessão maçónica existir um momento ritual relevante para a vida de um maçom, tal como uma Iniciação ou um aumento de salário, a música a ser utilizada deverá ser alvo de uma especial atenção pelo Mestre da Harmonia para que esses momentos fiquem marcados na memória de quem por eles passa, pois mesmo aqueles que apenas assistem e não têm uma intervenção direta no cumprimento do ritual, também estes acabam por rever esta mesma situação que anteriormente vivenciaram. E isto também faz parte da formação maçónica, o rever e meditar sobre o que se já viveu e retirar de aí a devida reflexão.
Pelo que aqui expus, já deu para perceber que o trabalho efetuado pela Coluna da Harmonia não é de somenos importância, porque apesar de não ter um papel ritual importante durante a sessão, este é um dos cargos mais ativos da loja; é ele que tem o dever de criar os ambientes específicos e respetivos estados de alma e isso não é tão fácil como se poderia imaginar à primeira vista. E é mesmo um trabalho demorado que ocupa algum do tempo disponível que o Mestre da Harmonia tem na sua vida pessoal, pois ele terá de ouvir bastantes músicas para poder selecionar aquelas que considere como as mais apropriadas para serem utilizadas no decorrer de uma sessão maçónica. Se este mestre for um apaixonado pela música ou inclusivé um melómano até, a sua loja só terá a ganhar dada a riqueza dos conhecimentos que ele terá e que poderá propiciar aos seus irmãos.
Nem todos poderão gostar dos temas musicais que ouviram no decorrer da sessão, fruto das mais variadas preferências musicais de cada um, mas se a energia que brotou da sessão for a ideal, a melhor crítica que o Mestre da Harmonia poderá ouvir dos seus irmãos é que eles sairam contentes e satisfeitos da sessão e que o trabalho que ele desempenhou contribuiu para esse facto.
A Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 sempre teve excelentes responsáveis por "darem música" aos seus irmãos, pelo que se espera que assim o continue a ser...


11 setembro 2014

O Maçom, Homem Fraternal...


                                          (imagem retirada de Google Images)                                          
Este é o primeiro texto de muitos, assim o espero, que irei publicar neste honorável espaço de escrita para uns, leitura para os demais.  
Espero que com o que eu irei partilhar convosco, Vos ajude a compreender qual a “missão” da Maçonaria no mundo que nos rodeia e um pouco mais sobre a vasta simbólica maçónica que existe, sendo que os meus textos demonstrarão a minha visão pessoal sobre qualquer tema que seja versado por mim.
Sendo assim, este meu primeiro texto teria de ser naturalmente, um texto muito pessoal.
Assim, hoje venho falar-Vos de como o maçom é alguém com um elevado sentido fraterno, logo irei falar de Fraternidade, algo que para mim não é apenas sentimento, mas antes sentido.
Não no sentido dos outros cinco sentidos que dispomos, nos quais eu qualificaria a Fraternidade como um sexto sentido, um “sentido espiritual”; mas trato deste sentido/sentimento como o “sentido” do verbo “sentir”, de sensação…
A Fraternidade é algo que se sente e se partilha, uma vez que a mesma tende a vivificar no nosso interior, algo que se reflete posteriormente nas nossas ações.
Por isso é tão habitual entre os maçons se afirmar que a “Maçonaria também se vivencia,  praticando a fraternidade!”.
E como Fraternidade que é, na Ordem Maçónica, o amor ao próximo, ao nosso Irmão, encontra-se presente e em permanência. Concordemos ou não com as suas opiniões, aceitemos ou não a sua forma de estar na vida, mas amamo-lo!!!
E  amar está muito além de apenas se tolerar
A Tolerância implica Respeito, um respeito pelo “outro” em toda a aceção da palavra, senão seria apenas mais uma palavra vã nos nossos dicionários, tal como outras que pela sua quantidade, mais me parecem ser tantas como as espigas que existem nos campos…
No entanto,  Fraternidade também é muito diferente de Benevolência ou Caridade, pois se tanto uma como outra podem suscitar sentimentos ditos “menores”, uma forma de auxílio em que se age assim apenas porque é moralmente aceitável ou simplesmente porque socialmente fica bem ou parece bem a quem o assim faz.
Tanto que por isso, a Fraternidade também é sinónimo de Solidariedade, algo que se encontra mais além que a Caridade ou a Benevolência; a Solidariedade é para mim um sentimento ainda mais nobre, uma vez que é suposto advir diretamente do coração. 
E ser solidário nivela-nos como Homens, pois quem o pratica e quem recebe a nossa solidariedade, encontrar-se-á num mesmo patamar moral, apesar de que socialmente seja muito diferente. E essa humildade que é necessária para quem é solidário e fraterno, deverá fazer parte integrante da nossa natureza humana como maçons. Isto sim, é o “core”, o cerne  dos tais “bons costumes” com que habitualmente nos reconhecem ou nos quais nos revemos…
Não deveriam os valores que defendemos, tais como a Igualdade, a Liberdade e principalmente a Fraternidade, serem a base da Sociedade humana?!
Todavia, tenho para mim que a Fraternidade também é uma alavanca, um apoio que está subaproveitado na sociedade em que vivemos e que a ser usada como “ferramenta social”, muito contribuiria para o progresso humano.
Cada vez mais o Homem olha apenas para si próprio, não retribuindo o mesmo valor ao seu igual. E nesse contexto, nós como maçons que somos reconhecidos, poderíamos fazer mais… e melhor.
O maçom é um livre-pensador; logo de que nos valerá sermos intelectualmente ou moralmente mais instruídos ou como tal considerados, sermos formados nas ditas “artes liberais”, as mesmas artes que libertaram os homens do obscurantismo e do jugo da Ignorância, se depois de adquirirmos estas valências, não agirmos no mundo à nossa volta também para o melhorar e o fazer evoluir no comportamento e relacionamento entre os seres?!
Não fosse a minha Iniciação na Augusta Ordem Maçónica e eu não privaria com muitos dos meus Irmãos. E digo isto porque na sua maioria temos percursos profissionais distintos, não pertencemos às mesmas agremiações profanas e o nosso percurso de vida é muito díspar. Mas por partilharmos os mesmos desígnios, em Loja nos encontramos. E afirmo, se a Loja me acolheu, eu também acolhi a (nossa) Loja na minha vida.
A Loja passou a fazer parte integrante da minha Família.
E esta fraternidade e esta sensação de amor fraterno que nos une vale muito mais do que aquilo que à primeira vista possa aparentar…
De facto, esta sensação não é imediata, e ainda bem que tal assim acontece. Pois se assim o fosse, seria uma sensação falsa e carente de sentido. Ninguém ama ninguém de um momento para o outro ou somente apenas pelo trocar de um olhar ou um sorriso.
Os amores platónicos ficam para a nossa vida profana.
E refletindo, questiono-me:
  • Como poderei eu amar alguém que não me conhece e que também eu não conheço?!
  • Como poderei eu amar alguém quando apenas o tolero?
  • Como poderei eu respeitar alguém com quem eu frequentemente esteja em desacordo?
Na Maçonaria encontro a resposta a estas questões.
A Maçonaria é fraternidade e, como tal, o seu espírito fraterno depende unicamente da união de todos os que a integram.
A nossa fraternidade só o é e somente o pode ser, se for construída dia após dia e cimentada sessão após sessão. E é aí que reside a nossa força!
Os maçons, tal como os “irmãos de sangue” não podem nem devem estar sempre em sintonia, pois as diferenças também propiciam à formação/evolução pessoal, de modo que na Maçonaria é-nos permitido discordar, concordando; e concordar, discordando; isto é, o respeito salutar que deve existir entre todos, permite aos maçons não se travarem de razões tal como quiçá o fariam no mundo profano, mas antes, ouvindo e interiorizando as opiniões contrárias à sua forma de pensar, permite-lhes que possam aprender e conviver com as diferenças e divergências que naturalmente possam existir. Somos Homens e como tal não podemos ser todos iguais.
O que seria do azul ou do amarelo, se todos fossemos vermelhos…
E tal como bagos de uvas que com a sua própria identidade estão ligados entre si, ou como as sementes de romã que se agregam no interior deste fruto, que podemos encontrar sobre os capitéis das colunas de entrada no nosso Templo, também a união e ligação dos nossos pensamentos em prol de algo melhor, a energia e sentimentos que aplicamos na Cadeia de União aumentam a coesão do nosso grupo e potenciam o nosso espírito de corpo.
Assim, na formação da Cadeia de União, um dos momentos “altos” da ritualística maçónica em sessão de Loja, o encadeamento dos Irmãos que é formado e a oração que é proferida, permite-me também sentir que aquilo que nos une é mais do que aquilo que nos poderá afastar e que os laços não-sanguíneos que nos unem, ligam-nos por um cordão umbilical ainda maior e que nos juntam numa caminhada  através da Virtude e em prol de todos Nós.
Pois se a egrégora acontece, é porque todos o assim desejamos e fazemos para que assim tal aconteça!
Para mim,  no estrito cumprimento do ritual em Loja, se demonstra  que aí reside o espírito fraternal que devemos vivenciar e transmitir também  para o mundo profano.
 Eu vivo e sinto assim a nossa fraternidade. Outros o farão à sua maneira pessoal. Podemos não ser todos iguais, mas posso afirmar que somos todos muito semelhantes

11 junho 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: Entrevista ao candidato José Manuel Pereira da Silva

Conforme anunciado, e no cumprimento do nosso propósito de estrito cumprimento da igualdade na divulgação das duas candidaturas, publicam-se hoje as respostas que o candidato José Manuel Pereira da Silva deu às dez questões colocadas pelos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues aos dois candidatos ao ofício de Grão-Mestre da GLLP/GLRP:


Qual o papel e significado da Maçonaria Regular no século XXI?

Sem querer parecer demasiado “rigorista”, defendo que a Maçonaria tem na, sua essência e génese, uma finalidade que não carece de atualização fundamental, embora se não deva furtar à sua adequação à especificidade de cada tempo. Somos uma sociedade que se define como iniciática, ponto. Isso significa que assumimos a adesão a uma via, que costumo caracterizar como de ascese civilista, que é, por sua natureza, transformante do indivíduo. Recordando que essa transformação se anuncia como a da permanente busca da perfeição centrada no alcance das virtudes simbolizadas pelas colunetas da sabedoria (sophia), da coragem (andreia), da temperança (sophrosyne) e da justiça (dikaiosyne – a coluna ausente já que Platão a considerava que esta virtude se concretizava pelo alcance das outras). Este programa iniciático que, pelo menos desde Platão, se definiu como o verdadeiro objetivo da iniciação filosófica constitui-se, em meu entender, como uma tradição contínua na história da civilização ocidental e da qual somos herdeiros. A Maçonaria tem, no horizonte dessa sua ação transformante, o Homem, na mais radical circunstância da sua própria humanidade, como objetivo e télos. Furtando-se à oferta duma perspetiva escatológica e duma redenção, limitando-se ao campo exclusivamente reflexivo e filosófico, permite que esse caminho do Bem e da Virtude que se ilumina a partir de Deus, possa ser trilhado pelo Homem comum em desígnio coletivo que se sela num compromisso jurado.
A Maçonaria moderna é, nesse sentido, uma das mais notáveis criações dos homens livres e de bons costumes e constitui uma singularidade aberta no campo da alta espiritualidade. Ver nela outras finalidades, por muito nobres que possam ser ou parecer, é empobrecer-lhe o sentido e o alcance e privar a humanidade de um instrumento que, em tempo de profunda erosão ética, nunca assumiu uma tão grande importância e urgência. Confundi-la como uma organização que se centra na intervenção social é um erro e uma tentação que não só nos afasta da essência duma via enunciada, ab initio, como iniciática, como nos priva dum instrumento e património espiritual único do ponto de vista civilizacional.
Recuso, por isso, todas as formas de aproximação, sejam teóricas ou práticas, contidas da consideração de que existem “várias maçonarias” que entre si até podem cooperar. Não negando o interesse que possam ter todo o tipo de organizações sociais que visem o bem comum, nem o direito a que possam escolher as designações com que se queiram afirmar, apenas reconheço como Maçonaria aquela que se define como via iniciática e que, declarando trabalhar à glória do GADU, apenas pretende agir sobre o indivíduo. E, assim, entendo que mesmo as iniciativas que entre nós possam assumir uma natureza filantrópica (na assistência social, no âmbito cultural ou qualquer outro) se justificam como reflexo e consequência desse caminho mais radical duma transformação espiritual e não como objetivo principal.
Numa prancha recente, que elaborei para o aniversário da RL Camões, desenvolvi o meu pensamento sobre este tema e, por isso e para que fique claro o meu pensamento sobre o tema, anexo o seu texto ao desta entrevista. (Nota: Texto publicado no final da entrevista, conforme solicitação expressa do candidato)
Mas tenho consciência de que existem outras visões no interior da Obediência. Por isso, considero como prioridade a organização dum espaço de reflexão coletiva, seja congresso ou convenção, em que este tema seja ampla e profundamente debatido. Nada pode minar mais eficazmente o nosso sentido de Tradição, a necessidade do rigor e o verdadeiro sentido dos nossos rituais e património simbólico, do que a ignorância ou a confusão em torno da definição do que somos e devemos ser.

Assinalas no teu manifesto a prioridade ao relacionamento com as Obediências dos espaços iberoamericano e lusófono. Como vês o papel da GLLP/GLRP nesses espaços e que políticas de atuação concreta preconizas?

Sou um crente nessa ideia que, do Pe. António Vieira a Pessoa, pelo menos, se enuncia em torno dum destino português que passa por um relevante papel espiritual no Mundo. O espaço da lusofonia e da ibero américa, são o espaço em que melhor respiramos e onde melhor nos revemos. Justifica-se que nele participemos construindo, em primeira prioridade, um espaço de identidade, de comunidade e de uma verdadeira egrégora espiritual. Reforçar os laços de reconhecimento, cooperação e ação conjunta parecem-me objetivos importantes. Mas privilegio, nesta fase que nos impõe uma prudente contenção orçamental, que todas estas iniciativas se sustentem em ações de comunicação assíduas mas sem custos. Os aspetos presenciais deste contato devem ser resolvidos aproveitando a disponibilidade e oportunidade de deslocação, a seu encargo, daqueles II que oferecendo condições de seriedade, empenho maçónico e confiabilidade possam dar garantias de desenvolvimento das relações no estrito plano maçónico e não no mero interesse pessoal. Nestas, apenas nestas, condições deve o GM delegar competências de representação sempre que a oportunidade se justifique. A mesma perspetiva estratégica se deve aplicar à nomeação dos garantes de amizade, cuja ação deve ser coordenada e orientada pelo grão mestrado.
Há, no entanto, um aspeto que quero deixar bem claro e que se prende com a irradiação da M:. nos países lusófonos e com a elevada sensibilidade e prudência que se requer para todas as ações a tomar nesse sentido. Não nos podemos esquecer que a maçonaria regular só pode crescer em sociedades democráticas, nem dos perigos a que se podem expor todos os que queiram trabalhar em ambientes não democráticos, reativos ou mesmo hostis ao desenvolvimento da M:.. Nesse sentido, todas as ações a desenvolver em favor e apoio a esse desenvolvimento devem ser cuidadosamente pensadas e preparadas com envolvimento dos II que pela sua experiência anterior, como é o caso dos past-GM e GO, experiência profissional, conhecimento diplomático ou outro, possam contribuir para decisões bem aconselhadas. Penso que a instância própria para a formação deste conselho do GM é a L:. Fraternidade para que se possa garantir a máxima discrição em torno das matérias aí tratadas.
A recém criada GL de Moçambique, deve continuar a ser alvo da nossa maior atenção e carinho, forte cooperação e contributo, sobretudo no âmbito da formação maçónica e no apoio ao seu reconhecimento. Esta dedicação é tanto mais importante quanto ela serve, como exemplo, para facilitar a aproximação a outros países da lusofonia.
Mas, repito, é uma área que pela sua alta sensibilidade exige o nosso maior cuidado e bom aviso para que não caiamos em precipitações voluntaristas que comprometam não só as pessoas que se venham a envolver, como o próprio sucesso pretendido. Nestas coisas é sempre difícil recuperar, com uma segunda oportunidade, dum ato falhado.
Mas, também aqui, podemos encontrar um espaço para a cooperação internacional.

Que papel e que intervenção (se é que alguma) preconizas que a GLLP/GLRP exerça na sociedade portuguesa, como e com que instrumentos?

Sei que existem no interior da O:. Muitos II que acham que devíamos ter na sociedade um papel mais ativo, como o fazem ou pretendem os membros das maçonarias ditas liberais. Contrario esse entendimento. Somos uma organização que se define como via iniciática, volto a sublinhar, ponto! O horizonte da ação maçónica, como via transformante, circunscreve-se pela melhoria de cada um nesse caminho que se enuncia pela busca da virtude e do aperfeiçoamento. Não somos um grupo de pressão, de representação ou de outra qualquer qualidade que nos talhe para a intervenção ou parceria social. A sociedade democrática está suficientemente dotada de instituições que o fazem (religiosas, humanitárias, partidos políticos, organizações de solidariedade social, de representação do patronato e dos trabalhadores, etc…) e que podemos integrar, nelas aplicando e concluindo, como ritualmente se prescreve, o trabalho que na L:. é iniciado. É, aliás, um ótimo campo para que, pela sua exemplaridade, os maçons se mostrem e demonstrem como indivíduos úteis e distintos na sociedade em que vivem podendo, assim, contribuir para o irradiar da O:.
É claro que não incluo, nesta restrição de princípio, aquelas ações beneficentes e filantrópicas que os II ou as LL entendam desenvolver e/ou promover e que entendam poder fazer parte do “seu caminho”. Temos tantos e tão bons exemplos de envolvimento, de II e de LL, neste tipo de ações, que só podemos defender a sua continuidade e expansão bem como salientar o papel que a GL deve ter em apoiá-las: incentivando-as, divulgando-as da forma que as LL melhor entendam e promovendo-as ou coordenando-as no caso de se tratarem de iniciativas que resultem da voluntária cooperação entre LL.
Mas sendo uma via iniciática a que assumimos como fundamento de ação, deverá ser, sobretudo, no campo da espiritualidade que nos devemos afirmar como agentes ativos e empenhados. Promover ações que privilegiem este domínio no âmbito do seu aprofundamento ecuménico, parece-me ser do maior interesse e contributo para o prestígio e irradiação da O:. Nesse sentido, proporei a realização dum conjunto de encontros em que sobre o tema “que sentido para uma espiritualidade contemporânea”, possamos ouvir perspetivas diferentes de destacados pensadores do nosso tempo.
Também no plano cultural devemos construir uma visibilidade que nos distinga promovendo o trabalho dos nossos II, que são tantos e se essa for a sua vontade, no campo da literatura, das artes plásticas, da música e do próprio trabalho científico em diferentes áreas.
Estas agendas devem constituir-se não só como um contributo para a nossa reflexão e enriquecimento pessoal mas, também, para a criação duma imagem positiva da M:. na sociedade portuguesa. Mas defendo que a sua organização deve partir do envolvimentos das LL para que se reforce, não só o envolvimento dos II, essa ideia que para mim é central e decisiva de que o nosso trabalho só faz sentido como manifestação coletiva.

Como preconizas se efetue a capitalização, gestão e administração do Fundo de Solidariedade Maçónico?

Saúdo a criação do FSM embora não conheça muito bem os seus objetivos e funcionamento. Mas tenho sobre ele ideias concretas; designadamente que deve ter o perfil dum “Tronco Comum” para aplicação solidária e beneficente quer no plano interno (acorrer às dificuldades dos II), quer externo (apoiar entidades singulares ou coletivas no âmbito da solidariedade social nas áreas da assistência, da saúde ou mesmo da educação). Entendo, por isso, que o FSM deve ter uma administração sob controlo, mas independente da GL (evitando que em qualquer circunstância se possa transformar num “saco azul”). Assim, deve constituir-se como uma importante instituição da Obediência que será dotada duma assembleia geral constituída por todos os II Hospitaleiros, uma direção presidida pelo GH e um conselho fiscal presidido pelo GT; o FSM terá integrado nos seus órgãos (direção ou AG), em representação da GL e garantindo a colaboração desta, um dos VGM. O FSM seria gerido de acordo com um plano anual de aplicações e atividades aprovado pela sua AG.
Penso que o FSM deve ser financiado por uma quotização obrigatória para os obreiros (pequena 12-20 € ano) e ter em donativos (em numerário ou espécie), doações e outras comparticipações voluntárias a base da sua sustentabilidade. Pode, ainda, gerar recursos através da promoção de atividades - a atual sede tem por exemplo condições para a realização de festas e outras atividades que gerem receitas; por exemplo, aniversários, santos populares, etc., se a direção o entender e para isso puder contar com a colaboração dos II ou das LL. Penso que este tipo de atividades não só contribuiriam, pelo objetivo, para o reforço da Fraternidade como constituiriam um excelente contexto para que nos possamos conhecer melhor em sã convivialidade entre nós e as nossas famílias. Em meu entender e com esta configuração o FSM poderia, com relativa facilidade, atingir os 50 000€/ano numa primeira fase.

Como preconizas o lançamento e funcionamento da Academia Maçónica (“Academia de Formação” é pleonasmo...) e qual o prazo que prevês para efetivo início do seu funcionamento?

Numa altura em que temos que reconhecer algum “enfraquecimento” em aspetos centrais da nossa cultura maçónica como a instrução, o rigor ritual e mesmo a vivência duma Fraternidade permanentemente anunciada mas, por vezes, esquecida e desvirtuada, a Academia (o que por si é uma designação feliz que saúdo) pode constituir um importante instrumento para o reforço da GL, da formação dos maçons e para o desenvolvimento do conhecimento maçónico.
Em meu entender a Academia deve desenvolver dois “ramos” principais no seu trabalho:
1- Num plano que designo como exotérico, a Academia deve centrar o seu trabalho na formação técnica de investigadores que se queiram orientar no aprofundamento e esclarecimento dos temas que defino como da teoria e história da filosofia, uma maçonologia, e na divulgação aberta desse trabalho; esta formação técnica, garantindo ao trabalho investigativo o maior rigor científico, deve incluir as áreas da heurística, da hermenêutica e das técnicas da investigação em ciências sociais adequadas ao âmbito das diferentes linhas de trabalho que se venham a definir como prioritárias ou a partir dos interesses individuais. Temos, entre nós, pessoas suficientemente competentes para este contributo, mas não deixa de ser uma área em que podemos construir uma relação séria e produtiva com as universidades e a comunidade científica nos domínios da História, da Filosofia, da Antropologia, etc. Defendo que o resultado do trabalho deste ramo da Academia deve ser orientado para a sua divulgação aberta com a criação duma revista própria de grande qualidade quer científica, quer gráfica, pelo que deve ser gerida por um grupo de avaliadores.

2- Noutro plano, que designo como esotérico, a Academia deve proporcionar a formação e o aprofundamento nas áreas do simbolismo e do ritualismo; é um plano mais interno e que, desenvolvido a coberto, se deve orientar para o aprofundamento da cultura maçónica e da prática ritualística e iniciática abrangendo quer os aspetos mais gerais quer as especificidades dos diferentes ritos: o interesse e a urgência deste trabalho devem ser assistidos pelo desenvolvimento dum plano de atividades da responsabilidade do conjunto dos GI, mobilizando para as ações a desenvolver os II melhor preparados e estendendo, essas ações, a todo o território proporcionando a maior adesão dos II.

 Apesar de distintos, não quero deixar de sublinhar a complementaridade destes dois “ramos” considerados, bem como o papel que a Academia pode ter no desenvolvimento de relações culturais com o mundo maçónico e para o prestígio externo da GL.

Penso, ainda, que possa desenvolver-se sobre tutela da Academia, que deve integrar por isso o Grande Bibliotecário e Arquivista, a recolha, tratamento e manutenção do espólio documental da GL, a criação, gestão e manutenção duma futura Biblioteca bem como a criação, gestão e manutenção dum futuro Museu.

Na dinâmica de funcionamento Lojas/Grande Loja privilegias a prevalência da liberdade de atuação das Lojas ou da coordenação da Grande Loja? Na primeira hipótese, como prevines fenómenos de basismo e descoordenação? Na segunda, como prevines excessiva coordenação e autoritarismo?

Vejo aí uma dicotomia que pode iludir a natureza duma Sociedade como a nossa e a afirmação duma dialética que penso não existir. E isso apenas tem a ver com a própria interpretação que faço e proponho do ponto de vista institucional. Aliás, isso é um ponto que penso estar claro no Manifesto eleitoral que reflete, sem qualquer dúvida, o pensamento duma larga maioria dos II.
As LL:. são livres, na medida em que são constituídas por homens livres. Mas a sua liberdade está definida pelo seu objetivo fundador: promover pela via iniciática - de acordo com princípios constitucionais, regras usos e costumes fundados numa Tradição e que se juram cumprir e obedecer – o aperfeiçoamento individual com o qual se contribui para o próprio aperfeiçoamento da Humanidade. Como emanação das LL:. A GL é o garante de que essa liberdade das LL:. se inscreve no escrupuloso e estrito cumprimento e observância dessas condições livremente aceites por todos e cada um na especificidade de cada rito; é esta a essência da regularidade maçónica e a sua magnífica riqueza institucional, cultural e, diria mesmo, civilizacional.
O princípio inerente à legitimidade do GM:. não reside, portanto, na sua “autoridade” formal mas no seu poder de todos representar, como garantia para cada um, como vontade coletiva duma adesão aos mesmos princípios, regras, deveres e direitos. Podemos, dessa maneira, falar duma “auctoritas” que é garantia da unidade e da identidade que se concretiza no conceito da Fraternidade. É, por isso, que me afasto das conceções que veem no GM ou no grão mestrado uma instância de poder, de liderança ou de chefia. E, afasto-me, na exata medida em que as considero como conceções anti-maçónicas, injustificadas e desnecessárias. O GM é um ouvidor que se abre à ressonância da vontade dos II e cuja primeira missão é zelar pela União e pela construção do fraterno entendimento. Implicando o conceito de líder, o conceito de seguidor, desajusta-se do conceito básico do amor fraterno em que todos se encontram numa vontade comum. Isto não significa que o GM se exima à decisão solitária. Mas fá-lo-á sempre a coberto dessa “auctoritas” que se interpreta como a vontade coletiva. Para os que menos me conhecem e possam ver nesta minha conceção alguma “demagogia” apenas posso dizer que tenho, em defesa da minha convicção, o meu passado ao serviço da O:.
O papel coordenador da GL é da maior relevância; do meu ponto de vista é, mesmo, o seu principal papel. É, por isso, que defendo que o plano de atividades da GL se deve, sobretudo, confinar à integração das atividades propostas pelas LL:. Não que o próprio grão mestrado não possa ter ideias para iniciativas; claro que pode e deve, mas deve devolvê-las às LL:. para que as possam assumir, individualmente ou associando-se para esse fim.
Recuso a ideia de que o grão mestrado, ou a GL se quisermos, ainda que erradamente simplificar, se possa assumir como uma superestrutura, individualizada e dirigente dotada de autonomia decisória e de ação. Defendo, antes, a soberania das LL:. concretizada na concertação da vontade coletiva que se expressa no único órgão dotado de soberania maçónica: a Assembleia.
E para que essa minha conceção ainda seja mais clara diria também que é preciso resgatar, enquanto órgão, o Conselho de Veneráveis à sua simples existência formal atual. Nem a Assembleia, nem o Conselho podem ser, simplesmente, instrumentalizados como circunstâncias de “briefing” administrativo. Penso, quero que isto fique muito claro, que as principais propostas a apresentar à Assembleia pelo GM deviam ser objeto de parecer prévio e positivo do Conselho. Só assim podemos garantir a participação e envolvimento das LL:. nas decisões que dizem respeito e constroem o nosso interesse comum. E só assim respeitamos esse princípio básico, que defendo, duma soberania residente nas LL:. E é o que farei se, por vontade dos II e do GADU, for eleito GM.

Quais as principais obras/contribuições que fizeste para o desenvolvimento da nossa Augusta Ordem nos últimos 10 anos?

O trabalho que considero mais importante é o que tenho desenvolvido com assiduidade na minha RL Amor e Justiça. Costumo afirmar que, nos mais de 30 anos que levo de maçonaria, talvez se contem apenas pelos dedos das mãos as vezes que faltei às sessões de Loja. Eu sinto a falta desse trabalho e da proximidade fraterna, na construção do sentido que vou fazendo para a minha vida e, é por isso, que o considero tão importante e até tenho dito, neste contacto que vou mantendo com os II, que se for eleito GM me podem pedir tudo, menos que eu deixe de frequentar as sessões da minha própria RL onde me apresentarei como simples MM.
Mas, para além desse trabalho que me alimenta, tenho sido solicitado para contribuir com a minha modesta participação em ações em que se abordam temas em torno da Maçonaria: quer a convite das RLL, dos AG quer de organizações profanas: Rotary, escolas e até um museu. É um trabalho que tenho feito com gosto e do qual sempre recebi, como retorno, a ideia que é possível falar da Maçonaria esclarecendo o mundo profano e combatendo a imagem negativa que a ignorância da nossa verdadeira identidade e finalidade proporciona. Tem sido muito gratificante verificar como as pessoas acabam por nos receber bem e compreender melhor. E não deixo de registar, como exemplo de como estas ações contribuem para a irradiação da O:., o facto de algumas adesões se terem verificado em consequência desta divulgação e esclarecimento.

Quantos irmãos foram por ti propostos e quantos deles continuam ainda na nossa Augusta Ordem?

O período inicial da GLRP, desde a sua fundação até à cisão, foi o período em que tive maior atividade relativamente à proposta de II:. A necessidade de crescimento, nesse período, obrigou a que todos os obreiros fossem particularmente ativos nesse domínio. Propus quase uma dezena de II que, praticamente, “esgotaram” no meu círculo de relação aqueles que eu considerava com as necessárias características pessoais. Seguindo o muito avisado preceito, utilizado pelo RER, da responsabilidade perante o VM e a RL do proponente pelo candidato, nunca convidei nenhum profano para pertencer a outra RL que não a minha. Mas sinalizei alguns candidatos, nessa circunstância, que vieram a ser convidados e a ser iniciados.
Quando integrei, há 10 anos, a minha atual RL, ajudando à sua implantação em Rio Maior e com uma área de influência até Santarém, passei a trabalhar num contexto fora da minha residência e onde, na prática, não conheço ninguém. Tenho, por isso, continuado a sinalizar alguns potenciais candidatos meus conhecidos doutras cidades, às respetivas LL:., mas não procedido à sua abordagem e convite.
Dos II por mim propostos, apenas um abandonou a O:., por ocasião da cisão, por ter ficado desagradado com os factos então ocorridos.

Se fores eleito Grão-Mestre, qual a principal mudança em relação ao que existe preconizas e qual o principal aspeto que achas deve ser mantido inalterado na GLLP/GLRP?

Relativamente ao essencial, quanto aos aspetos da governança da GL, acho que nas respostas anteriores ficou claro um sentido de mudança que se radica numa conceção que recusa a liderança em favor da representatividade e expressão da vontade coletiva cumprindo um princípio de respeito pela soberania das LL:. Como se diz no Manifesto, para que se não tome o vértice pela pirâmide.
Mas quero distinguir os dois aspetos essenciais do funcionamento da GL, quanto a mudanças e permanências relativamente às quais defino um princípio básico: manter o que funciona bem; mudar o que pode ser melhorado. Esse princípio será aplicado quanto: ao aspeto da gestão financeira da GL, em que o trabalho desenvolvido pelo GT tem sido relevante, competente e necessário ou justificador de continuidade; e, também, no aspeto ritual há II que se têm afirmado como muito competentes nas tarefas que desempenham e contribuído quer para o bom desenrolar das cerimónias, conferindo-lhes rigor e dignidade, quer no apoio e assistência que têm prestado aos II ao longo do tempo. São situações para as quais considero que, sendo essa a vontade dos próprios, se justifica a permanência de funções.
Mas há algumas mudanças que posso anunciar que farei e sobre as quais quero que a minha posição fique muito clara e que possam servir como ilustração das duas conceções em jogo, nesta eleição, quanto ao governo da GL:
1 – Esta inovação dos círculos eleitorais, cuja finalidade ninguém percebe qual seja, comigo, não se repetirá; por um lado, porque não se justifica e cria, na prática, dificuldades maiores aos II que se tenham que se deslocar (no meu caso terei que ir de Rio Maior a Tomar) o que pode ser um fator que leve à abstenção; por outro, deixa a ideia de que a votação em Loja pode ser “diferente” da que for realizada no círculo: ora este é um princípio contra o qual me oponho já que é para mim inadmissível que entre II se levantem suspeições do género.

2 – Ouvido o Conselho de Veneráveis, proporei que a atual investidura dos VM se passe a fazer em moldes diferentes atendendo ao já elevado número de LL; assim, proporei que a instalação dos novos VM se faça em cerimónia coletiva dando ao ato a máxima solenidade ritual e até simbólica na medida em que todos se possam ser recebidos do seio da GL enquanto coletivo e egrégora; a transmissão dos malhetes far-se-á de forma simples em cerimónia de cada RL, entre VM instalado e o VM cessante; se as LL o entenderem podem solicitar a presença de GO como convidados a testemunharem o ato.

3 – O problema dos II que por, infelicidade, deixem de ter condições para cumprirem com as suas obrigações (situação que deve ser verificada e confirmada pelos Hospitaleiros de cada RL) deixam de ser um “problema” da Loja para ser da GL; assim, confirmada pelo IH a situação de cada obreiro este comunicará ao respetivo IT que comunicará ao GT o quadro das capitações reais; comigo, nenhum obreiro será excluído da O:. por não poder, de facto, cumprir com as suas obrigações. Até porque, se do ponto de vista financeiro para a GL é exatamente a mesma coisa, já do ponto de vista maçónico o não é. Nós juramos a fraternidade, o auxílio mútuo, o socorro dos II e se estes têm a infelicidade de cair em situação de dificuldade a resposta que temos é a sua exclusão? Sinto um grande constrangimento, uma mágoa e até alguma vergonha que isto se passe, que possamos incorrer em atitudes que levem II a sentirem-se humilhados e abandonados na sua infelicidade. Nós não somos nem temos que ser uma elite económica. Somos uma elite cultural, ético/moral e espiritual destinada a homens livres e de bons costumes independentemente do seu estatuto social e económico. Quem aspira a pertencer a um clube de cavalheiros deve procurar em outra instância que não esta.
O problema dos aumentos de salário terá uma solução próxima, com recurso a pagamentos faseados, por exemplo, evitando que muitos II se afastem e deixem de comparecer às sessões por sentirem que não podem cumprir com o respetivo encargo.

4 – Considero exagerados, atendendo à situação económica do País, das famílias e de muitos II, os custos associados aos jantares promovidos pela GL. Qualquer iniciativa que se pretenda de convívio entre nós, deve a todos ser acessível e isenta de sacrifício financeiro acrescido. Por isso, essas iniciativas terão um custo máximo de 20€ por pessoa, embora sobre isso venha a solicitar o parecer do Conselho de Veneráveis; é que se lhe acrescentarmos os custos das deslocações teremos situações diferentes para os II que devem ser acauteladas. E esta questão é tanto mais relevante quanto o podermos estar juntos e em convívio em que se integrem as próprias famílias, é um dos mais eficazes instrumentos para a coesão interna e para o conhecimento interpessoal e familiar. Todas as iniciativas conviviais, no âmbito estritamente maçónico, devem ser integradoras e não segregadoras. Mas não me oporei a iniciativas abertas ao mundo profano e que possam ter como objetivo a recolha de fundos em que os custos não sejam uma preocupação.

5 – Pretendo também dar maior relevo ao Grande Inspetorado permitindo que os GI’s tenham efetivas condições para realizar a sua tarefa de atestar e apoiar as RRLL no desenvolvimento das suas tarefas rituais, não só cerimoniais mas também de instrução. Para isso, o número de GI será adequado ao número de RRLL em cada rito e à dispersão territorial, permitindo que a visitação se faça, pelo menos, duas vezes em cada ano.

6 – Interromperei de imediato este movimento de criação de novas LL que está a pôr em risco o funcionamento daquelas que, por esse motivo, perdem obreiros essenciais ao seu funcionamento; é demasiado elevado o número de LL que para funcionar têm que, sistematicamente, recorrer a obreiros auxiliares. Em meu entender, uma Loja nunca deverá libertar obreiros para a criação de outra se o seu quórum ficar inferior a 25-30 MM. Também tentarei resolver a situação das LL que atualmente só funcionam com uma sessão mensal, porque considero que, não se tratando duma Loja temática, nessas condições se torna quase impossível o desenvolvimento de um bom trabalho maçónico.

É evidente que estamos em presença de duas propostas e de dois candidatos que têm sobre a GL e o seu governo, conceções muito diferentes. Estas questões sobre as quais anuncio mudanças não esgotam as que estão implícitas no meu manifesto que dirigi com “Carta” aos II e que, espero, deve ser objeto de leitura e reflexão por todos. Estamos, de facto e em meu entender, perante uma escolha que deve ser levada a sério e que vai para além das ligações mais estreitas que possa existir entre cada um de nós e os candidatos a GM.

Se não fores eleito Grão-Mestre, que papel, atividade e colaboração, nos próximos cinco anos,  antevês para ti na GLLP/GLRP?

Desde o grão mestrado do MRI José Anes que assumi, para com todos os Grão Mestres, a mesma postura que consignei numa fórmula que a todos transmiti no dia da sua investidura e aquando da minha manifestação da mais fraterna lealdade: “ MRGM eu sei onde tu estás para que te possa manifestar as minhas preocupações, dúvidas e dificuldades, se as tiver…..tu sabes onde eu estou, sempre à Ordem para te servir e à GL se, quando e como o entenderes.” Farei exatamente o mesmo com todos os GM que venha a servir no futuro.
Mas, não escondo que me entusiasma a ideia de poder dar o meu modesto contributo no âmbito da Academia. Sobretudo, no aprofundamento e desenvolvimento duma área de investigação que, tendo iniciado há alguns anos, tive que quase suspender para cumprir um programa de doutoramento: refiro-me a uma área que defino como de “teoria e história da maçonaria” ou, como também lhe chamo, duma maçonologia, incidindo principalmente sobre o período anterior a 1717.
De resto, sendo minha obrigação assumida estar permanentemente à Ordem, do GM e dos II, continuarei a responder às solicitações que me forem feitas para tudo em que for reconhecido como útil.
No essencial, continuarei com a minha atividade maçónica assídua e empenhada no desbaste da pedra bruta no sítio onde tal se opera e concretiza: no aconchego da minha Querida e RL Amor e Justiça, em Rio Maior.

Texto mencionado na primeira resposta do candidato:

VM da RL Camões
VM da RL Carlos Penalva
RI GT da GLLP/GLRP
RI GI do REAA
VVMM
MQI em vossos graus e qualidades

Breve nota sobre o papel da Maçonaria na sociedade contemporânea

Os que me conhecem sabem que raramente apresento, em L:., pranchas escritas. Mas hoje, MQ VM, e porque comemoramos o XV aniversário da tua RL decidi surpreender-te e escrever o que gostava de, aqui, partilhar com todos. Aceita o meu gesto como uma prenda e um sinal de gratidão pela forma fraterna como sempre me senti acolhido entre vós.
O que quero partilhar com todos vós, MQI, é uma pequena reflexão sobre o sentido atual que pode e deve ter para todos e cada um de nós, a Maçonaria. E faço-o por duas razões: porque penso que se trata de uma reflexão necessária mas, também, porque dado o momento concreto que vivemos é justo que, chamados a escolher, possam os meus II conhecer, sobre uma tão importante questão, o que pensa um dos que de entre vós pode vir a ser objeto da vossa preferência.
Se é certo que existe hoje uma consciência a que podemos chamar global, que nos aproxima como indivíduos da ideia mais geral duma humanidade, não é menos certo que essa consciência se confronta todos os dias com rumos e factos que nos interpelam no sentido dum devir que, cada vez mais, nos parece empurrar para um beco sem saída em que os interesses económicos, melhor dizendo financeiros, erodem dramaticamente os mais elementares princípios dessa mesma humanidade e o próprio contexto em que ela se afirma como ápice da divina criação: a Natureza.
É, por isso, esta uma época de sobressalto e de fundados receios. Sobressalto e receios que mobilizam milhões de seres humanos em defesa de valores e princípios que se erguem como bandeiras de desespero, gritos de revolta mas, também, exasperantes abandonos face às forças que corroem a nossa alma e o nosso planeta.
Mas suspendo aqui esta crítica.
Muitos são os II:. que sabem que defendo e argumento em favor duma teoria que reclama para a Maçonaria uma continuação da longa tradição da iniciação filosófica e que esse continuum é identificável num longo percurso histórico que pode traçar-se desde Pitágoras até à atualidade.
Os nossos rituais são, do meu ponto de vista e numa abordagem hermenêutica séria e consistente, uma prova dessa permanência de um ideal de ascese civilista que tem em vista o aperfeiçoamento individual num horizonte em que a felicidade se concretiza no alcance das virtudes enunciadas por Platão, numa formulação que se tem revelado atemporal na própria medida em que se fundam na própria radicalidade da condição humana. Feitos à imagem de Deus, partícipes superiores de toda a criação, constituímos a alteridade que torna possível a própria revelação da natureza divina dessa mesma criação. E é esta circunstância que nos abre a possibilidade de um caminho ascendente, duma ascese, pelo qual nos podemos aproximar, ainda que num remoto vislumbre, dessa perfeição ideal em que o Uno se concretiza, idealmente, como supremo Bem e como supremo Belo.
Os nossos rituais não são, por isso, um mero protocolo cerimonial que concretizem o gesto pelo qual criamos um ambiente determinado. São, mais do que isso, um poderoso repositório do material teórico, concetual, metafórico e simbólico que nos proporciona o acesso a um dos muitos caminhos que podem conduzir os seres humanos a essa via em que cada um se dá, na liberdade de aproximação, pelo contínuo aperfeiçoamento espiritual, ao supremo Bem, a Deus, ao GADU.
Nesse sentido, a Fraternidade jurada que integramos e partilhamos, consubstancia uma tradição que ecoa no tempo, suspendendo-o na negação da contingência, e que apenas se atualiza na circunstância de cada um, como ser determinado na sua individualidade mas, também, na necessidade sentida dum olhar do outro que nos define numa fragilidade que reclama a união que encoraja na dificuldade do caminho. Caminho de reflexão purgativa que nos atua de modo transformante e nos liberta de todos os fins a que a materialidade, apesar de tudo, da nossa circunstância humana nos conduz se não estivermos atentos.
Dou-vos um exemplo que, talvez, possa iluminar esta ideia. Ao chegarmos aqui hoje e nos momentos de convívio que hão de seguir-se, havemos de experimentar aquela alegria natural que igualmente vivemos aquando nos reunimos com os nossos amigos de infância, de escola, da tropa ou mesmo no casamento da prima, quando encontramos amigos e familiares a quem há muito tempo já não víamos. Pessoas que ocupam um lugar importante da nossa vida, dos seus momentos mais impressivos, marcantes ao ponto de os revivermos nesses encontros em que se atualizam alegrias passadas. Mas o paradoxo é que, neste caso que se passa entre nós, esse sentimento brota entre pessoas que, na maioria dos casos, nem se conhecem ou que, verdadeiramente no que a factos de vida respeita, até podemos afirmar que se desconhecem completamente. Então como explicar este sentimento verdadeiro que entre nós se gera, senão pela circunstância de sermos caminhantes do mesmo caminho, cúmplices ativos da mesma determinação de viver uma amizade incondicional, uma verdadeira fraternidade, que se furta ao tempo e ao modo duma justificação que a sustente? De certo modo poderíamos afirmar que se trata de um sentimento que, isento de qualquer interesse, se manifesta em estado puro.
Mas a vivência de estados de pureza, que podemos encarar como objetivo do nosso percurso, exige essa suspensão, ou mesmo negação, dos interesses que os podem dificultar ou mesmo impedir. Nesse sentido é a Loja, enquanto espaço sagrado porque segregado do mundo em tempo suspensivo, e a vivência ou prática refletida do ritual, que nos dá acesso a essa experiência que positivamente nos afeta e cujo prolongamento no mundo profano nos pode servir de medida e teste da nossa progressão. É, assim, que a prática da Maçonaria se oferece a cada um de nós e a toda a Humanidade, como uma circunstância maravilhosa e única e como um poderoso instrumento de transformação do mundo a partir da transformação de cada um. E não perceber esta singularidade e o poder desta via como contributo para o Bem do mundo é um erro que não podemos cometer.
Fazer dos nossos rituais simples protocolos conviviais equivale, para mim, em embrulhar em pechisbeque, de forma tão completa, o diamante que herdámos, que nenhuma luz dele irradie porque nenhuma luz lhe pode chegar.
Mas deixem que vos apresente um texto de Séneca, que penso ser de grande aplicação nesta circunstância e que resume bem o meu pensamento sobre a Obra a que, por juramento, nos comprometemos:
“ Tenho a certeza, Lucílio, que é para ti uma verdade evidente que ninguém pode alcançar uma vida, já não digo feliz, mas nem sequer aceitável sem praticar o estudo da filosofia; além disso, uma vida feliz é produto de uma sabedoria totalmente realizada, ao passo que para ter uma vida aceitável basta a iniciação filosófica. Uma verdade evidente, todavia, deve ser confirmada e interiorizada bem no íntimo através da meditação quotidiana: é mais trabalhoso, de facto, manter firmes os nossos propósitos do que fazer propósitos honestos. É imprescindível persistir, é preciso robustecer num esforço permanente as nossas ideias, se queremos que se transforme em sabedoria o que apenas era boa vontade.
Por esta razão não precisas de gastar comigo tantas palavras nem de fazer tão longas profissões de fé: eu sei que tu já progrediste bastante. Sei bem de que fonte nascem as tuas palavras, que nem são fingidas nem exageradas. Dir-te-ei, contudo, o que penso: espero muito de ti, mas não confio ainda totalmente. Aliás espero que tu faças o mesmo comigo, ou seja, que não acredites no que te digo com excessiva prontidão. Observa-te a ti mesmo, analisa-te de vários ângulos, estuda-te. Acima de tudo verifica se progrediste no estudo da filosofia ou no teu próprio modo de vida. A filosofia não é uma habilidade para exibir em público, não se destina a servir de espetáculo; a filosofia não consiste em palavras, mas em ações. O seu fim não consiste em fazer-nos passar o tempo com alguma distração, nem em libertar o ócio do tédio. O objetivo da filosofia consiste em dar forma e estrutura à nossa alma, em ensinar-nos um rumo na vida, em orientar os nossos atos, em apontar-nos o que devemos fazer ou pôr de lado, em sentar-se ao leme e fixar a rota de quem flutua à deriva entre escolhos” (Epist. 16,1-3)
E, ainda, o início da Carta 17:
“Se és sábio, melhor, se quiseres ser sábio, deixa-te de fantasias e aplica as tuas forças a fim de atingires quanto antes a perfeição espiritual.” (Epist. 17-1)

A Maçonaria, como espaço de reflexão e meditação, pode neste sentido estóico duma praxis transformante do indivíduo, ser considerada uma filosofia. E é nesta conceção, que defendo, que ela se afasta das orientações que a marginam como um coletivo de intervenção social, como instrumento de transformação do mundo a partir de elites interventivas que têm na retórica social e moral a definição dum campo de atuação axiológico, ou mesmo ideológico, que ignora ou minimiza, secundarizando, a natureza transformante duma via que, por essa mesma natureza, se anuncia como iniciática.
Esta conceção da Maçonaria como filosofia e via iniciática, que emerge, mesmo, da mais superficial abordagem hermenêutica dos materiais rituais e simbólicos, não contraria a possibilidade ou mesmo a desejabilidade das iniciativas com que os Maçons possam, no mundo profano, concretizar os seus ideais de amor ao próximo e ao mundo nas suas diferentes dimensões. Mas, acima de tudo, essas iniciativas terão que ser mais uma consequência dum trabalho de aprofundamento espiritual do que constituírem-se como objetivos próprios ou finalistas do trabalho maçónico.
É uma conceção que nos afasta, radicalmente, dos protocolos sociais da convivialidade ou da própria cooperação mesmo que numa finalidade benfeitora. É claro que entre nós se desenvolve a mais sã convivialidade, a mais empolgante cooperação benfeitora. Como um reflexo, porém, dessa elevação do espírito obtida em cada degrau subido nesse caminho que, iniciado com o anúncio do poder da humildade, se deve transformar com evidente transparência numa humildade do poder. Porque esse é o desígnio máximo da aprendizagem da virtude, a filosofia, que nos é proporcionada pela Sociedade em que nos irmanamos: como a definiu Platão, uma aprendizagem que permita aos filósofos serem reis ou os reis filósofos, para que a Justiça se faça realidade.
Detenhamo-nos pois perante as colunetas que alumiam o nosso trabalho para nos interrogarmos: o que é hoje no mundo ser temperante? De que coragem precisamos para o caminho? De que sabedoria falamos quando a ela dizemos aspirar? Como nos podemos reconhecer, em ascensão virtuosa, como homens que, na busca da temperança, da coragem e da sabedoria, se pretendem a cada dia mais justos e perfeitos?
 É altura de voltar à crítica, acima suspensa, dos tempos de desvario que vivemos. Tempos de perdição e abandono. Tempos da loucura, em que nos tornamos tão cegos ao drama alheio. Loucura em que se dissolve, sem que o pensemos ou suspeitemos, a própria condição da nossa humanidade.
O que podemos então fazer, como coletivo, para melhorar este mundo adoentado e sofredor? Eis o que penso e digo: simplesmente, continuar esse trabalho árduo e penoso que, sempre renovado como compromisso e juramento, tantas gerações de maçons se empenharam em desenvolver no aprofundamento contínuo da nossa condição de homens livres e de bons costumes.
Esse trabalho profícuo que nos devolve ao mundo como homens melhor preparados, mais justos e perfeitos, para nas instituições profanas darmos testemunho duma diferença, isenta e lavada de qualquer pretensão de superioridade moral ou outra.
Esse trabalho que, na constante afirmação do poder do espírito, nos sustenta com essa humildade adquirida por esse mesmo poder do espírito e que, por isso e a propósito, nos deve prevenir do espírito do poder, essa tentação que de vez em quando nos visita e que, como uma chaga, nos tolhe as mãos enfraquecendo o aperto com o qual, em serena e fraterna comunhão que é já dádiva sincera de cada um e de todos, vamos construindo essa bela instituição que entre nós se quer permanente e se traduz na Cadeia da União.
Nas trevas continuamos o trabalho que na Luz iniciámos. Não o contrário.
MQI e VM Jaime Martins que aqui nos acolhes em comemoração. MQII aqui presentes.
Porque não somos mais do que “anões aos ombros de gigantes”, no sábio dizer de Bernardo de Chartres, deixa-me que mais uma vez evoque Séneca para te pedir, apesar de tudo, “que não acredites no que te digo com excessiva prontidão”. Antes te peço que, sobre este meu pensar e sentir, medites e reflitas e, como VM, proponhas meditação e reflexão. Se nos encontrarmos no mesmo olhar, tanto melhor. Se não, abro-me à tua ajuda e à dos II:. para que me ajudem a mim a melhor ver o que deve ser visto. Entre nós, só não deve caber a cegueira, porque é na Luz que o nosso caminho se faz.
Agradeço o teu fraterno convite e esta tão sentida oportunidade de estarmos juntos no exercício duma fraternidade verdadeira. E recebe, como testemunho desse agradecimento, esta humilde prancha que para a ocasião me dei a traçar.

Gândara dos Olivais, 17 de maio de 6014

(José Manuel Pereira da Silva)


Entrevista publicada por
Rui Bandeira

22 janeiro 2014

Saber parar


Um dos desafios mais difíceis para um homem ativo é saber parar. Uma das coisas mais descuradas por quem está habituado a assumir responsabilidades é a preparação para a cessação da assunção dessas mesmas responsabilidades. Quem está habituado a fazer tem tendência para alimentar a ilusão de que o seu contributo é imprescindível. Pessoalmente, procuro combater essa tendência lembrando-me frequentemente que o cemitério está cheio de insubstituíveis - e, no entanto, o mundo continua a girar, o Sol continua a nascer todas as manhãs no Oriente e a pôr-se todas as tardes no Ocidente, o mundo e as sociedades prosseguem imperturbavelmente os seus destinos, apesar de os insubstituíveis terem sido substituídos...

Este alerta mental é válido também para uma Loja maçónica. Uma das piores coisas que pode acontecer a uma Loja maçónica é haver elementos que, qualquer que seja ou tenha sido a sua valia ou importância, se considerem insubstituíveis, necessários, procurando exaustivamente influenciar ou determinar o que na Loja se decide, se projeta, se faz - como se nada se possa de jeito fazer sem que o trigo seja cultivado na sua terra, a farinha moída em seu moinho e o pão cozido no seu forno - embora gostem que haja semeadores para lançar o trigo à sua terra, moleiros para fazer funcionar o seu moinho e padeiros para colocar o seu pão dentro do seu forno e de lá o retirar... Uma Loja subordinada a quem não consegue deixar de nela impor a sua vontade perde inevitavelmente qualidade, capacidade de evolução, criatividade e capacidade de execução.

É por estarmos alerta em relação a isso que o José Ruah e eu, já em conversa de há cerca de três anos, assentámos em que teríamos de estar atentos ao momento em que fosse asado irmo-nos discretamente afastando da influência nos destinos da Loja, de modo a não sufocarmos esta na sua evolução, deixando que a nossa contribuição passada seja isso mesmo, Passado, e favorecendo a evolução futura nas mãos de gente tão ou mais bem preparada do que nós.

As circunstâncias têm feito com que, nos últimos três anos, a nossa intenção ainda não pudesse passar disso: num ano fui chamado a desempenhar funções no Quadro de Oficiais, no seguinte foi o Ruah, agora sou novamente eu. A contribuição de quadros da Mestre Affonso Domingues para outras Lojas obrigou a que não nos pudéssemos afastar sem auxiliar na reconstituição de uma massa crítica de Mestres, em número e qualidade suficientes para que a Loja não precise de nós coisíssima nenhuma. Mas estamos ambos atentos à chegada desse inevitável momento em que devemos iniciar o nosso processo de reforma - para não corrermos o risco de passarmos a ser peso onde antes procurámos ser motor.

Essa foi uma das razões pelas quais no final da última sessão, o Zé e eu olhámos um para o outro com um ar de enorme satisfação - quais dois gatos gordos deitados em frente à lareira, lambendo os beiços após lauta refeição. Claro que um dos motivos foi a satisfação de termos colaborado numa sessão da Loja particularmente bem sucedida, como referi no meu texto anterior. Mas também porque sentimos que o momento em que nos vamos tornar desnecessários está iniludivelmente mais próximo. Não será porventura já para amanhã (pelo menos até ao fim do ano eu tenho ofício a executar), mas a Loja está a atingir um nível comparável aos seus melhores tempos, reconstituiu (e ainda não terminou o processo) o seu Quadro de Mestres e dispõe agora de um confortável número de jovens e qualificados Mestres, tem as colunas de Aprendizes e Companheiros preenchidas por gente capaz e tem candidatos que bateram à porta e aguardam a sua vez de ser atendidos (alguns já há bastante tempo - não estão esquecidos...). Se nada suceder em contrário, se o quadro de obreiros agora se mantiver estabilizado por, pelo menos, dois ou três anos, não tenho dúvidas de que não só o Zé e eu já não faremos falta nenhuma, como deveremos afastar-nos dos centros de decisão da Loja, de forma a não pearmos a normal evolução dela com as nossas recordações de tempos passados. A experiência é benéfica, mas para enquadrar a força e o empenho da juventude e a capacidade da maturidade, não para as subjugar ou limitar...  

Parece-me assim que se aproxima a passos largos o momento em que o Zé e eu deveremos de vez deixar o exercício de Ofícios no Quadro (enfim, uma vez por outra, para substituir alguém, se não houver mais ninguém disponível, pode ser - mas sem abusar...) e, sobretudo, guardarmos para nós as nossas apreciações, para que mais fluidamente se expressem as opiniões e mais livremente se tomem as decisões pela nova geração da Loja. É esta a lei da vida. É assim que os grupos e as sociedades evoluem, cada geração assumindo as rédeas no momento asado.

Então e finalmente o Zé e eu poderemos assumir total e completamente o nosso papel de  Marretas, assistindo ao que se passa do nosso camarote, caturrando sobre o que vemos ser feito e resistindo a reconhecer que o que então estiver a ser feito é tão ou mais bem feito do que nós alguma vez fizemos...

Rui Bandeira

Subscrito por mim  José Ruah

12 dezembro 2013

Do problema que não foi, à solução pelo desafio




Por uma particularidade que não foi cogitada, viu-se a Loja Mestre Affonso Domingues numa situação inusitada. O seu Venerável Mestre por razões pessoais, vê-se compelido a ausentar-se por um período de pelo menos 5 sessões consecutivas.

Esta ausência, embora não deixando a Loja sem Venerável de direito, deixou-a sem Venerável de facto.

Se esta fosse uma associação qualquer a decisão seria de ir adiando o que fosse adiável, tornar adiável tudo que o não sendo pudesse sem grande prejuízo ser adiado e consequentemente fazer apenas aquilo que fosse mesmo premente e urgente.

Mas uma Loja maçónica não é uma associação qualquer. Numa Loja não se adia, faz-se, não se protela decide-se, e por isso desengane-se o leitor se pensou que no impedimento do Venerável os maçons da Loja Mestre Affonso Domingues iriam desanimar e pausar o seu trabalho.

Um Maçon pousa as suas ferramentas apenas e quando é chamado a fazer a derradeira viagem, mas sobre isso foi já escrito nos múltiplos textos colocados  In Memoriam, logo uma adversidade como a que ocorre actualmente apenas pode ser resolvida à maneira dos Maçons ou seja com trabalho.

Uma das belezas da Maçonaria, e estou certo que isto já foi por aqui abordado num ou noutro ou mesmo mais textos, é que não é preciso inventar nada. Tudo está previsto, quer pelos regulamentos, quer pelos landmarks, quer pela jurisprudência, quer pelo saber acumulado dos mais antigos. Aliás numa das muitas cerimónias que realizamos, o Grão Mestre ao entregar o regulamento geral ao recipendiário do mesmo afirma com a natural convicção de quem sabe que naquele regulamento se encontrá solução para todo e qualquer problema que possa surgir num Loja.

Ao anuncio de possível impossibilidade feito pelo ainda então Venerável Mestre eleito, respondeu a Loja com " isso não é um problema pois se ainda não é mais que uma possibilidade não pode ser um problema, e mais se porventura se vier a concretizar também ai não será um problema porque existem soluções, será quanto muito um desafio".

O cenário de ausência, como disse acima, concretizou-se. Acto continuo a solução preconizada no regulamento geral foi aplicada ipsis verbis, gerando-se aqui uma oportunidade de ver se de facto o que o regulamento estipula é passível de ser aplicado sem problemas ou se seria uma solução apenas teórica e logo sem aplicação prática. Nada melhor que aplicar teorias na pratica para ver se o "teorizador" era homem de tino ou não !

E não é que funciona mesmo ! Sem tirar nem por. Tal qual lá está no artigo correspondente que regula a ausência de Venerável Mestre.

Tiramos daqui uma lição. Os regulamentos quando bem feitos servem de facto para resolver as coisas.

Mas uma Loja não é só regulamentos. A adversidade fez tocar a reunir ! 

E de repente Irmãos que andavam um pouco afastados chegaram-se mais para perto. Vieram para ajudar, com a sua presença mas não só, com as suas ideias, com as suas formas de ver e de fazer.

E tiramos mais uma lição, a da disponibilidade.

Mas não foi só. 

Quando estudante os meus pais bastas vezes me acusavam de ter as matérias "coladas com cuspo", ou seja estavam na memória efémera e como tal desapareciam rapidamente.

Na Loja Mestre Affonso Domingues, e como em muitos textos foi tratado, sempre se privilegiou o ensino, a formação, a proficiência e como tal houve sempre empenho na transmissão de conhecimentos. 

Esta transmissão sempre foi feita de maneira a que a acusação acima não pudesse ser feita, muitas vezes sem que os próprios destinatários percebessem bem a insistência e a repetição.

E hoje na adversidade naturalmente quem é chamado a fazer aparece e faz, como se fosse na ultima sessão que tivesse feito ou desempenhado o cargo pela ultima vez. Na verdade para alguns já fazia mais de uma década que não desempenhavam similares funções.

A terceira lição aparece aqui. O ensino estruturado, a proficiência, a insistência na aprendizagem, a transmissão geraram que quem aprendeu interiorizou os conceitos, tornou-os seus.

Aqui permito-me incluir também quem foi chamado este ano pela primeira vez a desempenhar funções, porque tem sido um prazer ver a geração importante, não porque o sejam enquanto indivíduos, mas porque são a geração que tomará os destinos da Loja dentro de muito pouco tempo, a assumir-se e a exceder-se sessão a sessão na excelência dos seus desempenhos

Uma Loja, que tenha trabalhado ao longo dos anos na construção dos seus alicerces, das suas bases tem melhores possibilidades de atravessar uma dificuldade, e isso constata-se. Este tipo de trabalho não é na maior parte das vezes atractivo. Não trás visibilidade externa, não faz os obreiros sobressaírem no meio dos outros como sendo mais performantes, ou mais presentes ou mais desejados para outros projectos. Mas deixa-nos mais preparados.

E como a Maçonaria não se faz, não se mostra, não se exibe, porque apenas se vive então uma melhor preparação dos Irmãos faz com cada um possa vive-la de forma mais plena e gratificante e assim todos beneficiamos.

Hoje quando saí da sessão e retornei a casa, apesar de cansado e de estar em estado de "matutanço" ( um estado que o Rui Bandeira já me atribuiu várias vezes) senti que tinha valido a pena. Tinha valido a pena porfiar ao longo destes anos todos,  não sozinho como é evidente. Este porfiar permite que cada vez mais me veja como dispensável ( porque de indispensáveis está o cemitério cheio) e isso para um " marreta" é bom. Muito bom. Significa duas coisas, que o caminho tem estado certo, mas mais importante é que um novo desafio se começa a formar. Se o que sei já está passado, então tenho que ir aprender mais coisas, pensar em novas formas, e sobretudo em novos conteúdos para poder continuar a ir passando conhecimento.

José Ruah

02 julho 2012

Faça-se luz



No início da maçonaria podia haver - e havia! - diferentes correntes de cristianismo na maçonaria, mas todos os maçons eram cristãos. Ao longo do tempo, com a abertura das mentalidades, foi sendo possível admitir membros de outras religiões. Nos nossos dias, a maçonaria regular apenas exige a crença no "Grande Arquiteto do Universo", explicando que este nome não é o de uma "divindade maçónica", mas um novo nome a dar a essa mesma Entidade em que cada um crê; é Aquele a quem os cristãos chamam Deus, os muçulmanos chamam  الله [Allah], os judeus  יהוה [YHWH], os Hindus chamam  ब्रह्मा [Brahmā], e por aí adiante. Deste modo, quando os maçons se pretendem referir a essa Entidade, fazem-no todos através do mesmo nome, ficando assim atenuadas as diferenças decorrentes das diferenças de crença que possam verificar-se, e reforçado o sentido de identidade entre eles, pois, afinal, até todos creem no mesmo Ser Supremo - mesmo que cada um à sua maneira.

Uma vez que a maçonaria é assumidamente uma invenção humana, tem a liberdade de se reinventar e renovar sempre que tal se revele necessário e oportuno. É assim que, se bem que alguns dos símbolos a que a maçonaria recorre sejam da sua própria criação, a simbologia maçónica é, na sua maioria, "tomada de empréstimo" - umas vezes de forma mais dicreta e outras nem por isso - de outras simbologias já existentes. Ao longo da história da maçonaria tem-se assistido a um cuidado cada vez maior com a procura de uma certa neutralidade, do não favorecimento de uma fé em detrimento das demais, e isso consegue-se, frequentemente, através do recurso a símbolos de religiões já desaparecidas mas cuja carga simbólica permanece entre nós por via literária, filosófica ou mitológica.

A referência aos planetas, ao Sol, às estações do ano e a antigas figuras mitológicas pretende apenas constituir ilustração dos princípios morais que se pretende transmitir. Os solstícios, por exemplo, ao serem os momentos em que os raios solares estão mais próximos da perpendicular (no solstício do verão) ou da horizontal (no solstício do inverno) em relação à superfície da Terra, simbolizam respetivamente a retidão moral (verticalidade) e a fraternidade (estar ao mesmo nível). Alertar uma adolescente para os perigos dos predadores sexuais pode ser complicado de fazer; no entanto, recordar-lhe a "história do lobo mau" e, subtilmente, estabelecer um paralelo, pode ser muito mais eficaz do que uma longa e desajeitada conversa. A maioria dos chamados "contos infantis" pretende, precisamente, estabelecer uma base simbólica a revisitar mais tarde, uma vez já absorvidos os princípios, mas sob uma nova realidade: a das circunstâncias da vida real de cada um.

Uma das primeiras estranhezas que se sente quando se ouve, pela primeira vez, uma ata numa sessão, é a da data: "aos vinte dias do mês de janeiro do ano maçónico de seis mil e doze(...)". Porquê "seis mil e doze" se estamos no ano de dois mil e doze? Recordemos o que é que constitui o primeiro ano nossa era: o ano em que terá ocorrido o nascimento de Cristo; por isso se dizia "AC" (Antes de Cristo) e DC (Depois de Cristo), que também se escrevia "AD" (Anno Domini, "Ano do Senhor"). Hoje em dia dizemos estar no ano 2012 EC ("Era Cristã" ou, ainda mais politicamente correto, "Era Comum"). Outros calendários há, cujo início se deu há mais ou há menos tempo. Mede-se o tempo decorrido desde a fundação de Roma (753 AEC) ou do Japão (660 AEC), desde a viagem de Maomé de Meca a Medina (622 EC) ou, de acordo com o calendário judaico, desde a criação do mundo (3761 AEC).

Não era desejável que um calendário - e respetiva bagagem cultural - se impusesse sobre os demais no seio de uma fraternidade em que se pretendia que todos se sentissem iguais. A solução encontrada foi estabelecer-se o "Anno Lucis" - o Ano da Luz - como aquele em que, aproximadamente, o Criador terá, pela primeira vez, feito surgir a Luz. Se recordarmos que a maçonaria é filha do Iluminismo, não faz senão sentido medir-se o tempo desde esse instante. É por isso que, simbolicamente, se soma 4000 anos (número distinto de qualquer calendário existente) ao ano atual e se lhe chama "ano da era maçónica". E, de cada vez que isso se faz, os maçons são recordados de que a fé e a crença de cada um devem ser respeitadas, e que a busca da Luz (ou seja, do conhecimento) deve ser levada a cabo por todos os maçons, independentemente da sua crença, fé ou convicção religiosa.

Paulo M.

18 junho 2012

O que se faz numa sessão maçónica - II




Na sequência do meu texto da semana passada o Streetwarrior comentou:

"As sessões colocadas desta maneira, parecem ser uma coisa muito chata ! Gostaria de perceber estes 3 aspectos que sempre me deram muita curiosidade.
Visto que desde os primordios das nossas civilizações, tudo o que nos rodeia, é ligado á religião tudo é politica, o que sobra para se discutir numa sessão?
Se não se pode discutir religião, qual o interesse então de uma maçonaria ser Crente ou não numa entidade religiosa?
Por fim...qual a razão do Mestre andar em angulos rectos, terá isto a ver com (Anjos = Angulos ) bom e maus, visto que a nivel Astro-teológico existem bons angulos e maus angulos?"

Comecemos pelo fim. "Ângulos" vem do latim angulus, “canto, área remota". "Anjos" vem do latim eclesiástico angelus, derivado do grego antigo άγγελος ("ángelos"), e significa "mensageiro". Em comum têm apenas alguma similaridade fonética. Já no que diz respeito à maçonaria e aos ângulos retos, é questão que nada tem que ver com anjos. Aqui, uma referência ao ângulo reto constitui, quase sempre, uma referência ao conceito de "retidão moral", simbolizada pelo esquadro que serve para traçar e aferir os ditos ângulos. A própria linguagem do dia-a-dia consagra, já, esse simbolismo, ao chamar "enviesado" (de "viés": oblíquo, torto) a algo que tenha contornos pouco direitos, e chamando "pessoa reta" a quem cumpra os princípios morais. Assim, as deslocações em loja são feitas em linhas e ângulos retos, recordando-nos que um maçon deve, no seu deambular pelo mundo, agir de forma reta e evitar percursos (moralmente) oblíquos e enviesados.

Quanto ao interesse de uma maçonaria crente numa Entidade Superior, e o facto de essa mesma Entidade não poder ser discutida, é fácil de explicar e de entender. Não é difícil de imaginar que um judeu, um hindu, um cristão, um animista e um muçulmano tenham em comum entre si coisas que não têm em comum com um ateu ou com um agnóstico: todos eles creem no sobrenatural, e na existência de uma Entidade Superior a quem devem a existência e cuja vontade procuram satisfazer. Agora, não tentemos ser mais específicos do que isto, ou estaremos condenados a intermináveis discussões sobre o número de anjos que cabem na cabeça de um alfinete... A diversidade de crenças deve ser enriquecedora, e permitir que cada um tenha a oportunidade de se aperceber de posições diversas da sua, sem ter sequer que defender a sua posição de uma posição diferente; pretende-se, isso sim, que constitua uma circunstância pedagógica da alargamento dos horizontes e de aumento da tolerância em face das diferenças.

Por tudo isto é que creio que a proibição de discussão política e religiosa em loja é frequentemente mal entendida. Em maçonaria aprende-se a favorecer a paz em detrimento do conflito; a preferir a fraternidade à facciosidade; e a privilegiar o estabelecimento de consensos e evitar a dissenção. Por outro lado, a maçonaria constitui um espaço de respeito pela liberdade de cada um como dificilmente se encontra nos nossos dias, nomeadamente no que concerne a liberdade de expressão. Precisamente como garante dessa liberdade de poder dizer-se o que se pensa, por vezes como exercício de exploração interior, sem que tal se repercuta fora da loja, é que em cada sessão se jura guardar silêncio do que na mesma se passou. Ora, dificilmente se encontra uma posição com que todos se identifiquem, pois a procura do bem comum raramente passa pela satisfação dos desejos individuais, o que é tão mais verdadeiro quanto mais fraturante for a questão em causa. Como conciliar estes dois princípios estabelecendo um equilíbrio é algo que se vai aprendendo todos os dias.

É por isto que - no meu entender, note-se - a proibição de discussão política e religiosa em loja não se esgota nos seus termos, que são essencialmente exemplificativos e ilustrativos de um princípio maior: o de que a concórdia entre os homens deve prevalecer sobre a liberdade de expressão. Esta posição nada tem ou pretende ter de totalitário. "Discutir" não é a única forma de abordar um tema ou falar sobre o mesmo. Na loja Mestre Affonso Domingues, por exemplo, pode falar-se de praticamente tudo, desde que em absoluto respeito pela posição dos demais, no sentido de que deve procurar-se que estes não se sintam de modo algum  agredidos com aquilo que se diz.

Certamente à luz desta interpretação foi, há um par de anos, apresentada uma prancha sobre a condenação da maçonaria pela igreja católica ao longo da história, e recentemente, dias antes da lei sobre o "testamento vital" ser unanimemente aprovada pelo nosso parlamento, uma prancha sobre esse mesmo tema apresentada por um mestre da nossa loja que conhece o assunto a fundo. Seria impossível falar da primeira sem falar de religião, e da segunda sem falar de política. O que foi feito, num e noutro caso, foi apresentar-se factos inquestionáveis por qualquer pessoa de boa fé, e eventualmente um ou outro comentário pessoal - devidamente identificado como tal - no meio ou no fim do texto, sempre com o devido cuidado de se evitar o conflito entre diversas posições. Não foram "artigos de opinião", e muito menos de propaganda. Num e noutro caso os obreiros presentes manifestaram a sua satisfação pela qualidade e forma como as pranchas foram apresentadas, e ninguém manifestou qualquer desconforto.

Termino respondendo à primeira observação, de que as sessões maçónicas deverão ser uma coisa muito chata. Depois do que acabei de expor, será inesperado que eu responda que... não são?!

Paulo M.