A apresentar mensagens correspondentes à consulta O que se faz numa sessão maçónica ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens
A apresentar mensagens correspondentes à consulta O que se faz numa sessão maçónica ordenadas por relevância. Ordenar por data Mostrar todas as mensagens

22 janeiro 2014

Saber parar


Um dos desafios mais difíceis para um homem ativo é saber parar. Uma das coisas mais descuradas por quem está habituado a assumir responsabilidades é a preparação para a cessação da assunção dessas mesmas responsabilidades. Quem está habituado a fazer tem tendência para alimentar a ilusão de que o seu contributo é imprescindível. Pessoalmente, procuro combater essa tendência lembrando-me frequentemente que o cemitério está cheio de insubstituíveis - e, no entanto, o mundo continua a girar, o Sol continua a nascer todas as manhãs no Oriente e a pôr-se todas as tardes no Ocidente, o mundo e as sociedades prosseguem imperturbavelmente os seus destinos, apesar de os insubstituíveis terem sido substituídos...

Este alerta mental é válido também para uma Loja maçónica. Uma das piores coisas que pode acontecer a uma Loja maçónica é haver elementos que, qualquer que seja ou tenha sido a sua valia ou importância, se considerem insubstituíveis, necessários, procurando exaustivamente influenciar ou determinar o que na Loja se decide, se projeta, se faz - como se nada se possa de jeito fazer sem que o trigo seja cultivado na sua terra, a farinha moída em seu moinho e o pão cozido no seu forno - embora gostem que haja semeadores para lançar o trigo à sua terra, moleiros para fazer funcionar o seu moinho e padeiros para colocar o seu pão dentro do seu forno e de lá o retirar... Uma Loja subordinada a quem não consegue deixar de nela impor a sua vontade perde inevitavelmente qualidade, capacidade de evolução, criatividade e capacidade de execução.

É por estarmos alerta em relação a isso que o José Ruah e eu, já em conversa de há cerca de três anos, assentámos em que teríamos de estar atentos ao momento em que fosse asado irmo-nos discretamente afastando da influência nos destinos da Loja, de modo a não sufocarmos esta na sua evolução, deixando que a nossa contribuição passada seja isso mesmo, Passado, e favorecendo a evolução futura nas mãos de gente tão ou mais bem preparada do que nós.

As circunstâncias têm feito com que, nos últimos três anos, a nossa intenção ainda não pudesse passar disso: num ano fui chamado a desempenhar funções no Quadro de Oficiais, no seguinte foi o Ruah, agora sou novamente eu. A contribuição de quadros da Mestre Affonso Domingues para outras Lojas obrigou a que não nos pudéssemos afastar sem auxiliar na reconstituição de uma massa crítica de Mestres, em número e qualidade suficientes para que a Loja não precise de nós coisíssima nenhuma. Mas estamos ambos atentos à chegada desse inevitável momento em que devemos iniciar o nosso processo de reforma - para não corrermos o risco de passarmos a ser peso onde antes procurámos ser motor.

Essa foi uma das razões pelas quais no final da última sessão, o Zé e eu olhámos um para o outro com um ar de enorme satisfação - quais dois gatos gordos deitados em frente à lareira, lambendo os beiços após lauta refeição. Claro que um dos motivos foi a satisfação de termos colaborado numa sessão da Loja particularmente bem sucedida, como referi no meu texto anterior. Mas também porque sentimos que o momento em que nos vamos tornar desnecessários está iniludivelmente mais próximo. Não será porventura já para amanhã (pelo menos até ao fim do ano eu tenho ofício a executar), mas a Loja está a atingir um nível comparável aos seus melhores tempos, reconstituiu (e ainda não terminou o processo) o seu Quadro de Mestres e dispõe agora de um confortável número de jovens e qualificados Mestres, tem as colunas de Aprendizes e Companheiros preenchidas por gente capaz e tem candidatos que bateram à porta e aguardam a sua vez de ser atendidos (alguns já há bastante tempo - não estão esquecidos...). Se nada suceder em contrário, se o quadro de obreiros agora se mantiver estabilizado por, pelo menos, dois ou três anos, não tenho dúvidas de que não só o Zé e eu já não faremos falta nenhuma, como deveremos afastar-nos dos centros de decisão da Loja, de forma a não pearmos a normal evolução dela com as nossas recordações de tempos passados. A experiência é benéfica, mas para enquadrar a força e o empenho da juventude e a capacidade da maturidade, não para as subjugar ou limitar...  

Parece-me assim que se aproxima a passos largos o momento em que o Zé e eu deveremos de vez deixar o exercício de Ofícios no Quadro (enfim, uma vez por outra, para substituir alguém, se não houver mais ninguém disponível, pode ser - mas sem abusar...) e, sobretudo, guardarmos para nós as nossas apreciações, para que mais fluidamente se expressem as opiniões e mais livremente se tomem as decisões pela nova geração da Loja. É esta a lei da vida. É assim que os grupos e as sociedades evoluem, cada geração assumindo as rédeas no momento asado.

Então e finalmente o Zé e eu poderemos assumir total e completamente o nosso papel de  Marretas, assistindo ao que se passa do nosso camarote, caturrando sobre o que vemos ser feito e resistindo a reconhecer que o que então estiver a ser feito é tão ou mais bem feito do que nós alguma vez fizemos...

Rui Bandeira

Subscrito por mim  José Ruah

13 junho 2012

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - VII

É uma boa prática que todo novo Irmão, aquando da sua Iniciação, presenteie a Loja, isto é, todos os Irmãos presentes, e faça uma oferenda para socorro dos indigentes e Irmãos em desgraça, de acordo com o que o novo Irmão ache apropriado, mas superior e acima do mínimo que esteja estabelecido pelo Regulamento interno da Loja; tal oferenda deve ser entregue ao Mestre, Vigilante, ou Tesoureiro, para ser entregue a uma instituição, se os membros acharem apropriado escolher alguma. O candidato deve jurar solenemente que se submeterá à Constituição, Deveres e Regulamentos e todos os costumes que lhe forem comunicados, em hora e lugar convenientes.

Conforme logo no início do texto desta sétima regra se acentua, a contribuição nela referida não é obrigatória - apenas considerada uma "boa prática".

Na Maçonaria Regular dos tempos atuais, o novel maçom não é estimulado ou aconselhado a fazer uma doação particular, muito menos em valor superior ao valor mínimo constante de Regulamento, desde logo porque inexiste fixação de qualquer valor mínimo para "oferendas" - nem tal faz sentido: o que constitui obrigação não pode logicamente ser considerado oferta; e concomitantemente, o que voluntariamente se dá não constitui obrigação...

O recém-iniciado é informado que, tal como os demais, quando circular na reunião aquilo a que os maçons chamam o Tronco da Viúva, deverá no respetivo recipiente (em regra, um saco) depositar, discretamente, aquilo que entender e de que possa dispor, sem colocar em risco o cumprimento das suas obrigações civis e familiares, nem, obviamente, a satisfação das suas necessidades e as dos seus. Aliás, se necessitar retirar, em vez de colocar, tal é-lhe lícito e essa decisão, tal como a referente ao montante que em cada dia resolva colocar, depende exclusivamente do seu critério, sem ter de prestar contas ou pedir autorização a ninguém. Felizmente, o que seria certamente uma dolorosa decisão é extremamente rara... Menos rara - embora pouco frequente - é a situação em que um dos obreiros presentes numa sessão maçónica declara reclamar o produto recolhido pelo Tronco da Viúva, normalmente indicando para que auxílio concreto destina esse produto. Quando tal sucede, embora ritualmente a reclamação se faça só após a circulação do Tronco da Viúva, é habitual que seja anunciada essa intenção antes dessa circulação, para que os presentes saibam que o produto da recolha que se vai efetuar se destina a auxiliar alguém ou algo em concreto e possam, se assim o entenderem, adequar o montante do seu donativo em conformidade.

O Tronco da Viúva é administrado pelo Hospitaleiro da Loja, segundo as orientações desta e do seu Venerável Mestre.

O candidato à Iniciação, imediatamente antes do início desta deve, por outro lado, satisfazer o pagamento de uma joia de iniciação (na Loja Mestre Affonso Domingues, montante referido aqui), para custeio das despesas administrativas e com o material que lhe será entregue. O montante da joia - tal como o da quota, mensal ou anual, varia de Loja para Loja e de Obediência para Obediência. Cada Loja é soberana.

Quanto à frase final da regra, referente ao juramento solene que o candidato deve efetuar, importa esclarecer que - e disso é informado o candidato antes da sua realização - a Constituição, os Deveres, Regulamentos e costumes cuja observância se jura cumprir em nada contendem com as leis em vigor nem com os costumes e moral sociais. Os maçons integram-se na sociedade e, pela sua melhoria e pelo seu exemplo, procuram contribuir para a melhoria desta, mas atuam sempre no respeito da Legalidade vigente, pois para um maçom regular ser livre e de bons costumes implica ser um bom cidadão, cumpridor dos seus deveres e das normas em vigor.

Fonte:
 
Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 137.

Rui Bandeira

18 outubro 2010

Como se pode - ou não - falar de religião em loja


A proibição de discussão religiosa em loja é assunto reiteradamente debatido. Não há, todavia, como o exemplo para ilustrar o princípio. Quando procurava uma ocorrência - real ou fictícia - que não soasse forçada, recebo um simpático cumprimento feito por um leitor aqui num dos comentários: "Que o Senhor lhe conceda discernimento para encontrar a verdade que liberta e está em Cristo Jesus!". Nem de propósito. Este cumprimento, feito sem qualquer dúvida com a melhor das intenções, consubstancia, precisamente, o tipo de discurso que, apesar de socialmente admissível fora de loja, não o é numa loja maçónica.

Mas porque é que um simples cumprimento como este - que até é auspicioso, traduzindo os desejos de que suceda ao seu destinatário uma coisa que o emissor tem por positiva - não é admissível em loja? Vejamos com mais atenção o que se diz. "Que o Senhor"... Até este início insuspeito pode gerar controvérsia; se, por exemplo, se pertencer a uma religião que denomine a Divindade de uma outra forma, é quanto basta para que se sinta a expressão como estranha. Nesse sentido, não é difícil imaginar uma situação em que alguém interprete isto como sinónimo de "que o meu Deus - que não é o teu - te conceda isto e aquilo". "... a verdade que liberta ...", esta sim, é uma  quase certa fonte de discórdia, por causa da sua mais pequena palavra: "a". Referir-se "a" verdade que liberta, especialmente junto de um nome comummente associado a certa religião, implica ser esta verdade algo de único, que não há outra, e que muito menos há várias. Referirmos a existência de um único caminho certo implica que quem não o percorra estará a ir... por caminhos errados - o que é contrário à ideia de que cada um deva sentir ser respeitadas as suas crenças de forma que não haja preponderância de quaisquer outras sobre estas - ou destas sobre quaisquer outras. Isto faz-nos chegar à última parte: "... e está em Cristo Jesus". Se a todas as outras fórmulas se poderia, eventualmente, fazer "vista grossa" quando utilizadas em loja, esta última não é, de todo, passível de ser aceite, por ser indiscutivelmente própria de uma religião, e por isso sentida como estranha por quem professe uma fé diversa.

Cada religião tem uma terminologia própria para referir a(s) divindade(s) a quem presta culto. Forçar seguidores de várias crenças a utilizar a terminologia de uma delas seria algo de muito pouco paritário. Para ultrapassar esta dificuldade, a maçonaria decidiu adotar uma nomenclatura própria, alheia a qualquer crença ou religião - e por isso equidistante de todas estas - para designar a Divindade. Assim, em vez de um dizer Elohim, outro Deus e outro Jesus Cristo; em vez de invocar Allah ou Jeová, Krishna ou Zoroastro, Thor, Zeus - ou a Divindade por qualquer outro nome - os maçons dizem "Grande Arquiteto do Universo". Essa expressão designa não um qualquer "deus maçónico" - pois tal não existe - mas constitui apenas um mesmo nome através do qual  todos os maçons se referem cada um ao seu próprio Deus.

De fora fica também, evidentemente, tudo o que é próprio desta ou daquela religião. Não faria sentido dizer-se "invoquemos Maria, mãe do Grande Arquiteto do Universo", ou "O Grande Arquitecto do Universo é grande, e Mohammed é o seu profeta". Assim, em loja, apenas nos referimos ao "Grande Arquiteto do Universo". As pranchas maçónicas - na maçonaria regular - começam sempre: "À G.·.D.·.G.·.A.·.D.·.U.·. ", uma vez que todo o trabalho é feito "À Glória Do Grande Arquiteto Do Universo". Cada um dedica o trabalho que fez ao Deus da sua predileção, mas todos sob uma "alcunha" comum. Um pouco como cada adepto se refere ao respetivo clube como "o Glorioso"...

Um dos momentos altos de cada sessão é a Cadeia de União. Uma vez formada, um dos irmãos profere uma curta oração, que não deve ser própria de nenhuma religião, e é, as mais das vezes, espontânea. Pode ser algo como: "Agradeçamos ao Grande Arquiteto do Universo a graça de estarmos todos aqui, juntos uma vez mais, e recordemos todos quantos já partiram para o Oriente Eterno". Dificilmente alguém poderá sentir-se posto de parte perante tal fórmula, e é precisamente o que se pretende: fomentar a união, a identificação apesar da diversidade, e o foco naquilo que, de facto, é comum a todos. Não faria sentido, apesar de a esmagadora maioria dos maçons da nossa loja ser cristã, rezar-se um "pai-nosso" na cadeia de união - até porque um dos nossos irmãos é judeu, e sentir-se-ia certamente desconfortável. E mesmo que todos fôssemos cristãos, o princípio é para manter - basta recordar que recebemos frequentemente visitas de irmãos de outras lojas, e nunca sabemos que fé professam...

Esta limitação de expressão pode tornar-se problemática para os seguidores de certas religiões que tenham por princípio o testemunho permanente perante os outros dos valores, princípios e verdades da sua religião - e, no limite, tentar converter os demais para a sua fé, expondo as fraquezas de uma crença e exaltando a outra. Quem sinta essa obrigação não poderá sentir-se bem na maçonaria, pois esta não lho permite.

Apesar de tudo o que disse ser regra apenas vigente em loja e em sessão ritual, o que acaba frequentemente por suceder é - por força do hábito por um lado, pela interiorização dos princípios pelo outro, e por último pela generalização da sua aplicação - desenvolver-se um certo comedimento nas palavras, e acabar por se evitar a utilização de expressões manifestamente próprias de uma ou outra religião, substituindo-as por outras menos passíveis de fazer o nosso interlocutor sentir-se desconfortável. Assim, não posso senão agradecer o cumprimento, e retribuir: "Que o Grande Arquiteto do Universo lhe conceda o discernimento para encontrar - e saber manter - a Luz!"

Paulo M.

P.S.: Tenho, desde que comecei a escrever aqui no blogue, vindo a escrever dois textos por semana. Afazeres diversos impedem-me de manter este ritmo, pelo que irei passar a escrever, no futuro mais próximo, apenas um texto por semana, ao fim de semana. Assim que possa passarei, de novo, a escrever mais.

17 agosto 2015

A Cadeia de União (republicação)

O texto que hoje Vos trago é uma republicação de um texto da autoria do Rui Bandeira que aborda um dos pontos altos de uma Sessão Maçónica bem como o esplendor do simbolismo da fraternidade que a Ordem evoca. Trata-se da "Cadeia de União".
O texto original pode ser lido aqui .

"Em todas as reuniões das Lojas que trabalham no Rito Escocês Antigo e Aceite (mas não só neste rito: por exemplo, também no Rito de Schröder) se reserva um momento para que todos os maçons presentes formem a Cadeia de União.

É um dos momentos marcantes da reunião: ao formarem e integrarem a Cadeia de União, os maçons relembram que cada um individualmente faz parte de um Conjunto. Conjunto que é mais forte do que a mera soma das forças individuais, porque a todas estas se agrega a força da união de todos.

A Cadeia de União simboliza e demonstra ainda o princípio fundamental da plena Igualdade dos maçons. Todos os presentes, desde aquele que dirige a Loja ao mais recente Aprendiz se unem, na mesma exata e igual postura, cada um mero elo de uma cadeia. Não há, naquele momento, distinção alguma, não se atende a graus, a funções, a antiguidades. Todos iguais em comunhão!

É um momento de reflexão, de solidariedade, de união, em que cada um sente que contribui para o grupo - mas também sente que beneficia da força comum do grupo.

A Cadeia de União forma-se perto do final dos trabalhos, já depois de finalizados os debates da ordem do dia. Por muito acesos que tenham sido esses debates, por muito díspares que tenham sido as opiniões formuladas, por muito distantes que porventura estivessem as conceções confrontadas, o debate já terminou, a decisão já foi tomada, ora uma bissetriz traçada com as contribuições de todos, ora uma opção que não será a de todos. Mas todos contribuíram, leal e esforçadamente, para a assunção da decisão, contra a qual nenhum militará. Todos se reúnem na cadeia de União, onde não há lugar a desacordos, pontos de vista ou discordâncias: cada um assume a sua função de elo de uma cadeia, igual a todos os outros elos, solidário com todos os outros elos. De muitos, e diferentes, se faz um, o grupo, o conjunto.

A Cadeia de União é a expressão da rara capacidade que os maçons adquirem e praticam: conformar e utilizar a diversidade para o bem e o objetivo comum. Todos são diferentes, todos colocam as suas diferenças em prol do grupo, todos são ali iguais.

A Cadeia de União é a prática sempre repetida, que, em iguais proporções, reforça o elemento "cadeia" (cada um é um elo, uma peça de um conjunto) e "união" (todos juntos, todos em comum, solidários).

A Cadeia de União é uma prática pela qual se forma, reforça e assinala a coesão do grupo. Nos momentos em que o grupo assim se une, desvanecem-se os individuais egos, avulta o coletivo, na busca de uma egrégora fortalecida e fortalecedora. Todos os espíritos se unem no mesmo objetivo, na mesma intenção, na mesma prece, na mesma celebração, seja o que for, mas o mesmo...

A Cadeia de União é um gesto, mas é muito mais do que um gesto. É parte integrante do nosso segredo de maçons, não porque guardemos ciosamente a notícia da sua existência (este texto prova o contrário...), mas porque é realmente impossível explicar a quem nunca participou numa Cadeia de União o efeito, a paz, a comunhão, a força, que produz nos membros de uma Loja assim unidos. É um gesto, mas é muito mais do que um gesto. E o seu significado só é plenamente apreendido por quem nele participa, uma e outra e ainda outra vez e muitas vezes. É um significado que não se ensina. Aprende-se vivendo-o!

Fora de Loja, só se forma Cadeia de União em homenagem fúnebre a maçom que passou para o Oriente Eterno. E aí, então, têm lugar como elos nessa cadeia todos aqueles que se reclamam de ser maçons. Aí não importam reconhecimentos, nem regularidades, nem nada dessas miudezas. Aí, pessoas de boa vontade e com muito em comum homenageiam uma pessoa de boa vontade que nos precedeu no caminho que todos trilharemos."

Rui Bandeira

24 janeiro 2008

Eduardo Gonçalves, maçon exemplar


Foi um Mestre discreto. Ocupava sossegadamente o seu lugar numa das colunas. Raramente intervinha. Quando o fazia, as suas palavras eram parcas, as suas ideias ponderadas, o seu tom tranquilo. Que me lembre, nunca foi designado Oficial da Loja. Mas algumas vezes exerceu ofícios, em substituição de titular impedido de comparecer. Sempre com naturalidade e acerto. Sem nunca se procurar evidenciar, mas sem nunca deixar de dar a sua colaboração, de forma correcta e eficiente.

Foi dos Maçons que mais me marcou. Pela dedicação. Pela postura. Pela serenidade.

Eduardo Gonçalves era médico. Em Moura. Aí chegara a exercer as funções de Delegado de Saúde. Raramente deixava de comparecer a uma sessão. De Moura a Lisboa eram e são mais de 200 Km. De Lisboa a Moura a distância não diminuía e não diminui. Mas o Eduardo raramente deixava de fazer esses mais de 400 Km, ida e volta, para vir participar nas reuniões da Loja Mestre Affonso Domingues. Aos sábados ainda era como o outro, a reunião era ao fim da tarde, depois havia e há o ágape e, findo este, lá o Eduardo regressava a Moura, já noite dentro. Às quartas-feiras era certamente pior. A reunião era e é à noite, depois ainda havia e há o ágape e era já madrugada quando o Eduardo iniciava o regresso à sua Moura encantada. Mas raramente faltava! Vinha e estava connosco, arrostando incómodos bem mais duros, efectuando viagens bem mais longas do que muitos outros, que justificavam ausências com bem mais reduzidas distâncias. Incluindo eu próprio...

Muitas vezes passava as reuniões inteiras sem abrir a boca, apenas ouvindo, por vezes sorrindo levemente, sempre concentrado no que se passava. E eu no segredo dos meus pensamentos admirava aquele maçon discreto que tantas vezes fazia mais de 400 Km de viagens só para estar com seus Irmãos, calado, sossegado, discreto, sereno. E, no meu íntimo, perguntava-me o que levava o Eduardo a assim proceder. Passaram-se anos até que eu entendesse. Aliás, já há algum tempo que o Eduardo deixara de estar entre nós quando o consegui entender. Foi um outro Irmão, o José A. R., um Mestre que as circunstâncias da sua vida só raramente permitem que compareça às reuniões da Loja, que um dia, repentinamente, me fez compreender. Disse-me ele, certa vez, em jeito de desabafo, que era capaz, sem qualquer esforço, de passar as reuniões inteiras da Loja sem nada dizer, sem intervir, apenas ouvindo, apenas gozando a Paz que emanava de uma reunião maçónica, apenas fruindo a ligação com o Transcendente que sentia durante as reuniões, apenas desfrutando da calma e serenidade que uma reunião da Loja lhe transmitia. Mais me disse ainda o José A. R. que, por ele, ficaria muito satisfeito com uma reunião em que apenas se executasse os rituais de abertura e de encerramento e que, entre eles, apenas houvesse um período de calmo silêncio ou, quando muito, um período sem palavras ouvindo-se apenas a música proporcionada pelo Mestre Organista. Foi então, anos depois da sua morte, que verdadeiramente compreendi o Eduardo Gonçalves. Era isto mesmo que ele buscava nas reuniões da Loja: a calma, a serenidade, o carregar da bateria emocional, que lhe proporcionavam as reuniões da Loja.

A partir de certa altura, porém, o Eduardo começou a ser menos assíduo. A sua saúde deteriorava-se. O Eduardo fumava. Muito. Apesar de ser médico. Neste aspecto, era o exemplo do dito Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz, não faças o que ele faz... Este seu vício minou-lhe a saúde e o cancro do pulmão acabou por o afastar de nós. Pergunto-me durante quanto tempo ele, médico, sabendo a doença que o consumia e que o haveria de vitimar, como vitimou, esteve placidamente sentado entre nós, calado, por vezes sorrindo levemente, apenas gozando a serenidade de uma reunião de Irmãos. Só quando a doença o começou a vergar viemos a saber o mal que o apoquentava. Nunca da sua boca saiu uma queixa, dos seus lábios se ouviu um lamento, da sua garganta saiu um som de revolta. O Eduardo viveu a sua doença com a serenidade que o caracterizou.

Nos ágapes, o Eduardo era sempre boa companhia. Não que falasse muito. Mas sabia ouvir e, quando falava, falava sempre acertado. E mostrava um sentido de humor, pontuado por uma discreta ironia, que sempre me fizeram apreciar muito a sua companhia.

Eduardo Gonçalves foi um médico ao jeito de João Semana, que deixou saudades na sua Moura. Foi um maçon discreto e assíduo, que fez aquilo que um maçon deve fazer: aproveitar o grupo para o seu benefício espiritual e dar o seu contributo, discreto mas sempre valioso, a esse mesmo grupo, em benefício dos demais.

Tenho saudades do Eduardo. Ainda hoje, quando me sento no meu lugar numa das colunas da Loja e relanceio o olhar pela sala, imagino ver, placidamente sentado do outro lado, sereno e com um leve sorriso nos lábios, o Eduardo. E, pensando bem, talvez ele continue a lá estar. Eu é que não o vejo... E, do alto das minhas já ultrapassadas cinco décadas de vida, dou por mim, por vezes, a pensar que quando eu for grande, quero ser como o Eduardo...

E hoje aqui lembrar o Eduardo faz-me sentir muito bem. Os que o conheceram, sentem-se mais ricos por o terem conhecido. Essa é uma das características de quem aproveitou bem o seu tempo de passagem por este mundo. E sem dúvida que esse foi o caso do Eduardo Gonçalves, um maçon exemplar que a Loja Mestre Affonso Domingues teve a fortuna de ter tido no seu seio, que eu tive a felicidade de conhecer e que tenho orgulho em aqui evocar.

Rui Bandeira

03 fevereiro 2008

TIPOS DE MAÇOM

Continuando a aproveitar o descanso do "guerreiro" e o tempo disponivel do fim de semana, cá estou mascarado de trabalhador.
Um dos anteriores VM da Mestre Affonso Domingues enviou-me uma lista de definições de Maçon, anotando que em alguma dessas definições deveria estar incluido.
Claro que o nosso querido LRD está incluido numa delas, e para castigo dele mas alegria nossa, incluo-o na última !

A mensagem que Ele me enviou é a que segue:


Como em todas as Organizações, podemos afirmar que também na Maçonaria não somos todos iguais. Existem, informalmente, diversos tipos de maçons que se caracterizam pelos seus comportamentos. De conformidade com as suas maneiras de se comportarem em relação à Instituição, vários tipos de Maçom vamos evidenciar.

SUPERMAÇOM - Este é o que conhecemos, geralmente, como um figurão . Como sempre, amável e educado. Na vida profana ocupa posições de relevo; talvez por isso não tenha tempo nem se sinta obrigado a frequentar os nossos trabalhos. A Tesouraria quase sempre está em dificuldades com ele; entretanto, sempre tem os seus defensores devido à posição de destaque que ocupa no mundo profano.

MAÇOM SATÉLITE - Também não é amigo da frequência, mas é prestimoso, amável, contribui sempre e generosamente quando solicitado. Não emite opiniões, não vive a vida da Loja, não procura criar casos. Embora prime pela ausência, os Responsaveis nunca estão dispostas a enquadrá-lo porque no fim das contas é um bom sujeito, sempre disposto a colaborar, sempre pronto a ajudar um Irmão.

MAÇOM ENCOSTO - Também conhecido como irmão coitado, é carinhoso, chegado, gosta de se fazer de vítima, para ter apoio ou conseguir favores, que às vezes nem necessitaria realmente, aluga a Loja, mas na hora em que se precisa do retorno, ainda não retornou.

MAÇOM 'NÃO SEI PORQUE' - 'Não sei porque ele ainda é maçom; nem você, e talvez nem ele saiba'. Não comparece; não colabora; dá trabalho ao Tesoureiro; critica o que se faz e o que deixou de ser feito; ninguém sabe por que ele entrou e como conseguiu galgar os diversos graus; porque ali permanece e porque demoram em eliminá-lo.

MAÇOM 'PASTOR' - É aquele que se acha a última reencarnação Crística, quando começa a falar não pára mais, deveria fundar uma seita e não pertencer a Maçonaria; não aceita contradições, 'conhece tudo', 'sabe tudo' ou já 'viveu isso', quer que os irmãos pensem que existem duas maçonarias, antes e depois de sua iniciação, fala pelos cotovelos e não diz nada, poderia ser chamado de Maçom Enche Saco!

MAÇOM DA SEGUNDA-FEIRA - Também poderia ser chamado de Maçom Standart. Comparece pontualmente a todas as reuniões. Maçonaria para ele se resume nisso: fica no seu lugar, não quer encargos, comissões, enfim não quer trabalhar. Não apresenta propostas; não entra em debates, discussões; nunca apresenta trabalho de cunho maçónico. Participa das votações porque é obrigado. O único serviço que presta à Loja é ser pontual com a tesouraria e dar boa referência às reuniões.

MAÇOM CIFRÃO - Também conhecido como Maçom Comercial, é aquele que está na Maçonaria apenas para vender o seu peixe, os irmãos não passam de clientes, comparece pontualmente a tesouraria para mostrar que está bem, não conhece nada de maçonaria, não lê nada, não faz nada que não venha a render alguma medalha cunhada.

MAÇOM BUFÃO - É aquele que não leva ninguém a sério, muito menos a Maçonaria, é alegre, de conhecimento profundo, só piadas, seria um excelente irmão se vivessemos apenas de ágapes.

MAÇOM COMUM - É aquele Maçom que comparece, ajuda, estuda, realiza na vida profana e familiar, esta sempre a disposição quando solicitado, não se envolve em confusões, nem as cria, é o verdadeiro obreiro, um óptimo espelho para os outros.

MAÇOM DONO DA BOLA - Geralmente ex-veneráveis forçados, não conseguem deixar o cargo e não largam o pé do actual Venerável Mestre, e quando possível fazem questão de dizer que na sua gestão era assim ou assado. Melhores que eles para dirigirem a Loja, ninguém. Acham-se donos da Loja, não admitem que se faça nada sem sua autorização ou consulta, e se isso acontecer, ficam contra o projecto. Irmãos de verdade para eles, somente aqueles que os apoiam.

MAÇOM DEDICADO - Finalmente o Maçom com 'M' maiúsculo, sem subtítulos. Comparece às reuniões, vive os problemas da Loja, procura trabalho. Não rejeita encargos nem tarefas, aponta erros, aplaude êxitos. Assume responsabilidades sem segundas intenções. Não procura impor as suas opiniões. Muitas vezes se aborrece, se desilude, mas, na próxima sessão, lá está de novo incansável. É o 'que carrega a Loja às costas'. Procura estudar os rituais, o simbolismo, a filosofia maçónica. Não vive a exaltar os seus feitos para chamar atenção, nem a criticar os outros. O que seria da Loja e da Maçonaria se não existisse esta consciência?
.
Como se constata não há diferenças entre os possíveis tipos de Maçon e os de profano.
E porque deveria haver ?
A massa é a mesma, portanto a Maçonaria só pode refletir o mundo exterior, desejavelmente para muito melhor. O que lamentamos profundamente é que o "mundo exterior" não reflicta a Maçonaria.
A Humanidade seria mais justa e feliz.
.
JPSetúbal

06 abril 2011

Pedra de Buril


Pedra de Buril é um blogue de temática maçónica mantido por Nuno Raimundo e iniciado em janeiro do corrente ano. Nuno Raimundo assume-se como obreiro da Loja Mestre Affonso Domingues.

Perguntar-se-á - aliás, já lhe foi perguntado, numa "cinzelada" (comentário) do blogue - por que razão optou Nuno Raimundo por iniciar e manter um blogue maçónico, em vez de juntar os seus escritos aos que se publicam no A Partir Pedra. Nuno Raimundo esclarece que encara o seu blogue como um projeto mais pessoal, mais íntimo, portanto diferente, do que o A Partir Pedra. Tem toda a razão e - como ele o assinala, aliás, o tempo mostrará que as caraterísticas de ambos os blogues são diferentes e que, mais do que concorrentes, são complementares.

Mas uma outra razão há para que o Nuno Raimundo não escreva ainda no A Partir Pedra e tenha optado por comunicar a sua vivência e visão de maçom no Pedra de Buril. É que o A Partir Pedra, sendo um blogue escrito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, é, por opção dos seus administradores, reservado, quanto à publicação de textos na sua área principal, a Mestres Maçons da Loja. Os Aprendizes e Companheiros - ainda sujeitos à regra do silêncio - apenas podem, se quiserem, intervir na caixa de comentários. Nuno Raimundo só daqui a algum tempo terá acesso, como autor, ao espaço principal.

Não se depreenda daqui qualquer desagrado ou discordância com a decisão do Nuno Raimundo em publicar o Pedra de Buril. O silêncio de Aprendizes e Companheiros é, como já neste espaço foi esclarecido, apenas limitado ao espaço e tempo da sessão ritual de Loja, sendo pleno - e encorajado - o seu direito de uso da palavra e da expressão do seu pensamento fora daquele estrito condicionalismo. Aliás, em bom rigor, o A Partir Pedra, não sendo um espaço de sessão ritual da Loja, não tem que necessariamente estar restrito, no seu espaço central, a Mestres da Loja. Esta opção é, por um lado, simbólica e, por outro, decorre de uma razão muito prática: a preservação do próprio obreiro, no período da sua adaptação à Loja. Optámos assim por aguardar que o obreiro esteja já plenamente integrado na Loja, no seu espírito, bem conhecedor dela e do que lá se faz, para lhe facultarmos este instrumento de comunicação para, se assim o quiser (como é evidente, pelo número de autores de textos no A Partir Pedra, muitos não querem...), expressar o seu pensamento. Mas esta opção em nada prejudica, ou inibe, ou impede, qualquer obreiro que ainda não pode aceder ao espaço central do A Partir Pedra de iniciar e manter o seu próprio blogue.

Nuno Raimundo é um ativo blogueiro. Contactei, pela primeira vez com o seu trabalho nesta área ainda ele era Profano. Continuei a seguir os seus textos no blogue coletivo 2711. Agora, já não mais profano, mas maçom, dá-nos a sua visão pessoal da Arte Real através do Pedra de Buril. É interessante verificar o seu percurso e evolução pessoais ao longo do tempo e em virtude da (grande) mudança que constitui a Iniciação! Tempo virá em que o Nuno Raimundo decidirá se privilegia o Pedra de Buril em relação ao A Partir Pedra, se troca aquele por este ou se se dedicará a ambos, selecionando o local de publicação dos seus textos conforme o seu respetivo cariz. Essa decisão será, oportunamente, sua e só sua.

Por agora, o Pedra de Buril é mais um interessante blogue, que recomendamos. O Nuno alia a sua experiência de blogueiro, o seu gosto pela escrita, um certo jeito intimista de transmissão, com o seu percurso e trabalho maçónicos e o resultado é, manifestamente, agradável. Revela, aqui e ali, para o observador mais experiente nestas coisas, um pouco de inexperiência, no que à Maçonaria diz respeito? Claro que sim (por isso mesmo está ainda em silêncio no A Partir Pedra...). É isso mau? Não me parece. Pelo contrário, quer para quem se interessa por Maçonaria, quer para quem gosta de ler o que o Nuno Raimundo escreve, é e será certamente muito interessante espreitar um pouco do produto do seu trabalho nestas lides e surpreender a sua evolução.

Aqui se dá, pois as boas-vindas ao Pedra de Buril e se deixa um conselho: coloquem este espaço na vossa lista de leitura de blogues. Aproveitem enquanto podem! Que - a "ameaça" fica feita! - tempo virá em que o A Partir Pedra recrutará o Nuno e depois... logo se verá!

Rui Bandeira

01 dezembro 2014

Sugestão musical para a Coluna da Harmonia: "You’ve got a friend in me" de Randy Newman ...



Hoje venho fazer uma sugestão musical para ser utilizada pela Coluna da Harmonia num momento de descontração em sessão de Loja. E uma vez que estes momentos também existem, penso que esta canção é apropriada para ser ouvida durante a sua ocorrência. E como de vez em quando encontramos a presença da Arte Real onde menos esperamos, decidi partilhar convosco uma canção que apesar de ser bastante simples não o é na realidade, pois exprime alguns dos melhores sentimentos que se pode sentir e partilhar com outrém. E falo-vos da Amizade e do sentimento fraterno que sentimos por quem decidimos que faça parte da nossa “vida ativa”…
Assim, a sugestão musical que tenho o prazer de partilhar com os leitores deste blogue é uma canção que encontrei num filme de animação para crianças.
O que poderá causar alguma estranheza a quem lê este texto.
Uma sugestão musical “maçónica” e logo encontrada numa animação infantil?!
 Pois, não é habitual se encontrar a presença de princípios morais maçónicos em animações feitas para crianças (preferencialmente)  apesar de existirem vários contos infantis e bandas desenhadas onde os mesmos se podem encontrar. Dou como exemplos as “fábulas de La Fontaine”, as estórias protagonizadas por “Corto Maltese” ou o conto infantil “O Pequeno Príncipe” de Saint Exupery, entre outros… Mas numa produção Disney, o que é o caso nesta publicação, e uma vez que o fundador desta empresa, Walter Disney (05/12/1901-15/12/1966) foi maçom, a possibilidade de se encontrarem princípios morais maçónicos nos seus filmes e contos infantis nunca pode ser descartada.
A canção que hoje faço referência, integra a banda sonora original do filme de animação infantil "Toy Story" co-produzido pela Disney e pela Pixar. 
Aqui pode encontrar mais informação sobre este filme infantil. E também durante o visionamento do referido videoclip é  possível encontrar a sua letra original. Mas se preferir uma tradução ligeira desta letra, pode-a encontrar aqui também, apesar de eu traduzir a respetiva letra na análise que irei efetuar a esta música.
O título desta canção é “You’ve got a friend in me - Tú encontras um amigo em mim -“ e foi produzida pelo compositor musical Randy Newman e a sua letra é:
"You've got a friend in me
You've got a friend in me
When the road looks rough ahead
And you're miles and miles from your nice and warm bed.
You just remember what your old pal said
Boy, you've got a friend in me
Yeah, you've got a friend in me
You've got a friend in me
You've got a friend in me
You got troubles, then I got 'em too
There isn't anything I wouldn't do for you
If we stick together we can see it through
'Cause you've got a friend in me
You've got a friend in me
Now some other folks might
Be a little bit smarter than I am
Bigger and stronger too. Maybe
But none of them will ever love you
The way I do
Just me and you, boy
And as the years go by
Our friendship will never die
You're gonna see, it's our destiny
You've got a friend in me
You've got a friend in me
You've got a friend in me"
Assim numa primeira impressão criada pela leitura do título da canção, pudemos reter no imediato é que esta canção trata de Amizade, e por inerência, de Fraternidade; dois dos princípios morais de excelência da Maçonaria. Mas tal como na sugestão musical anterior onde pudémos encontrar também valores morais tais como o “Amor Fraternal” e o “Dever de Auxílio”, também na canção  You’ve got a friend in me” os vamos encontrar apesar de num contexto um pouco diferente.
Enquanto na sugestão musical anterior dava-se ênfase ao auxílio que deve existir entre irmãos, nesta canção a amizade é enfatizada em relação aos restantes valores morais que encontramos. E apesar de não se falar em fraternalismos e nem mesmo em fraternidade de forma explícita, subliminarmente os mesmos estão bem implícitos na letra desta canção. E a frase “you’ve got a friend in meencontras um amigo em mim” é a prova disso.
Quantas vezes existem e conhecemos casos de famílias desavindas onde os seus familiares nem se falam sequer? E nas quais, os seus membros se relacionam apenas com os seus amigos?
Quantas vezes nós preferimos o apoio, o abraço ou o carinho de um amigo em detrimento dos mesmos, efetuados por familiares nossos?
Uma das grandes conquistas que provém da liberdade que nos oferecida pela vida é a liberdade de escolha. A liberdade de escolher com quem queremos conviver e de nos intimamente relacionarmos. A liberdade de decidir com quem queremos partilhar a nossa vida e desejamos fazer o bem. Por certo a nossa  família de sangue não a podemos escolher, é algo que é natural. Mas quanto às nossas amizades e famílias fraternais, a escolha só dependerá da nossa vontade e do desejo dos outros em nos acolherem nas suas vidas.
E voltando à análise desta canção nas frases seguintes, When the road looks rough ahead And you're miles and miles from your nice and warm bed. You just remember what your old pal said Boy, you've got a friend in me”E quando o caminho em frente te parecer difícil e estiveres milhas e milhas longe da tua cama quente. Só tens de te lembrar do que o teu velho amigo disse, Rapaz tú tens um amigo em mim-. Isto bem o percebem, os maçons. Que mesmo longe do seu lar, seja no ar, na terra ou no mar, terão sempre um amigo ao seu dispor, um irmão que os poderão apoiar e auxiliar no que necessitem. Aliás um bom maçom e membro da Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5 afirma e bem que “na Maçonaria, a amizade é prêt-à-porter”, isto é, a amizade encontra-se e faz-se em qualquer parte do mundo.
No entanto, também o auxílio mútuo que é devido entre irmãos e amigos se encontra bem patente em “You got troubles, then I got 'em too There isn't anything I wouldn't do for you If we stick together we can see it through 'Cause you've got a friend in me”Tú tens problemas, então eu também os tenho, não haverá nada que eu não farei por ti e se nos mantivermos juntos nós conseguiremos ultrapassar isso porque tens um amigo em mim -. Isto é na verdade, o tal "ombro amigo" de que por vezes tanto se fala no mundo profano. É alguém sentir que deve "estar lá" para todas as ocasiões e não  estar presente apenas nos bons momentos  que a vida proporciona aos seus amigos e irmãos. Geralmente é nos momentos adversos da nossa vida que encontramos ou descobrimos quem realmente são os nossos amigos. O apoio que nos poderão dar nesses momentos menos positivos da nossa vida é crucial para que estes possam ser ultrapassados ou esquecidos.

 E, uma vez mais, a amizade é salientada nesta música novamente em “Now some other folks might Be a little bit smarter than I am Bigger and stronger too. Maybe But none of them will ever love you The way I do”- Agora outros rapazes poderão ser um pouco mais espertos que eu para além de serem maiores e mais fortes. Talvez, mas nenhum deles gostará de ti da maneira como eu o sinto -. Aqui encontra-se representada a pureza e a intemporalidade de uma grande amizade. A qual deverá permanecer inabalada seja pelo tempo ou pela distância que por vezes e por vários motivos pode separar os amigos e irmãos.

Nomeadamente encontramos o eco destas palavras e deste sentimento  na frase “And as the years go by Our friendship will never die You're gonna see, it's our destiny”- E à medida que o tempo passa, a nossa amizade não perecerá, e tú o assim irás observar, é o nosso destino -. E é mesmo esse o nosso destino; pois tal como encontramos no  mote maçónico latino “Virtus junxit mors non separabitAquilo que a Virtude juntou, a morte não o separará…” também assim tal ficou demonstrado nesta última estrofe da canção. Seja neste oriente ou no Grande Oriente Eterno, juntos uma vez, juntos para sempre
Mais uma vez, de algo que inicialmente nada de maçónico poderia conter, mostrou-se que afinal existe muito para refletir e principalmente, para sentir

31 março 2009

Atividade Maçónica

. Hospital Maçónico de Sorocaba, Brasil

Pegando na “estorinha” da chávena e em algumas outras achegas, especialmente a do nosso Irmão AG que escreveu uma prancha focando a sua preocupação pelo estado “disto”… sendo que o “isto” é, apenas, a sociedade humana, trago ao blog alguns minutos do nosso comportamento.
Podemos ser tentados, e somos com enorme frequência (por mim falo !), a considerar que vivemos com dois comportamentos, cada um em seu lugar próprio.
Assim, quando em Loja cada um de nós é Maçon, comporta-se como tal, veste, vive e relaciona-se ritualmente de acordo com os regulamentos instituídos e voluntariamente aceites.
Uma vez fora da Loja somos profanos, vulgaríssimos, iguais a todos os restantes humanos que passam por nós ou que connosco convivem socialmente. Na empresa, no transporte, no restaurante, onde quer que estejamos…
Ora esta dualidade de estados é totalmente despropositada, mais ainda se a eles fazemos corresponder uma dualidade de comportamentos.
Nada explica que dividamos o nosso comportamento como se um deles fosse um heterónimo, ou o nosso outro Eu e o outro fosse o verdadeiro, original.
Digo-vos já que se é assim, ou quando é assim, a 2ª versão é sempre prejudicada na verdade que tenta apresentar.
Sim, porque em qualquer dos estados (original ou heterónimo) cada um faz questão de querer mostrar a naturalidade da normalidade, só que não é possível enganar todos durante todo o tempo, pelo que a apresentação de duas posturas será sempre, numa delas, com o sacrifício mais ou menos nítido da naturalidade.
Quando falamos da guerra, da fome, da iliteracia dos povos, de muitos povos, de muitos milhões de seres humanos, não estamos mais do que a pôr o dedo numa ferida que nos acompanha. Sejamos atentos aos nossos comportamentos. Será que o ser Maçon é um estado de espírito definitivo para todos ?
Claro que é durante a aprendizagem permanente que, passo a passo, construímos esse estado de espírito e é passo a passo que nos aproximamos desse objetivo.
No entanto a questão primeira está na nossa própria consciência da situação. Porque se não estivermos conscientes de que esse caminho é necessário também pouco faremos para lá chegar.
Acontece que escolhemos demasiadamente a chávena, não dando importância à “qualidade do chocolate” e depois sai-nos “um Porche com motor de Fiat 600”.
Para agravar a situação ainda há alguns que mesmo assim vêm para a rua passear o popó todos vaidosos.
Quando digo o “popó”, também posso dizer o penacho !
Então qual é o desafio ?
Bom, se deixamos os metais do lado de fora é bom que não deixemos a Maçonaria do lado de dentro… apenas.
É bom que ela venha connosco ao sair, porque é nossa obrigação integrar todos os Homens na Cadeia de União que formámos enquanto em sessão. O que acontece com frequência excessiva é a Cadeia de União ser exclusivamente interna quando interessa, muito mais, que seja externa.
Igualdade, Fraternidade, Solidariedade não são para ficar fechadas. Nesse ambiente murcham e secam… Precisam do ar livre com Sol, Lua, Chuva, Luz… Se a Maçonaria (e portanto os Maçons) for ativa muito dos males da Humanidade poderão ser resolvidos.
A comunidade Maçónica tem, ao longo do tempo e por todo o mundo, criado muitas responsabilidades no apoio aos necessitados.
Seja criando e gerindo hospitais, sejam escolas e universidades, seja criando e/ou participando em organizações e serviços de apoio social a jovens e velhos, maternidades, lares, e… e…e…
Então, como dizia o outro, se está tudo assim tão bem, porque vai tudo assim tão mal ?
Pois é, há uma atuação vastíssima e importantíssima por parte dos Maçons ao longo do tempo, mas ainda não chega.
É preciso fazer muito mais, é preciso fazer, fazer, fazer…, principalmente fazer, sem anuncio nem anterior nem posterior, simplesmente… fazer !
Em bom português, “que se lixe a chávena !”

JPSetúbal

15 fevereiro 2008

Homenagem a Aristides Sousa Mendes

A Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, n.º 32 da GLLP/GLRP, levou a cabo ontem, dia 14 de Fevereiro, uma sessão comemorativa do seu 11.º aniversário e de homenagem ao seu patrono, o Cônsul que, desobedecendo a Salazar, emitiu vistos válidos para entrada em Portugal a cerca de 30.000 refugiados, muitos deles judeus, que fugiam do avanço das tropas de Hitler e do colaboracionismo do regime de Vichy.

A sessão realizou-se numa sala de um hotel de Lisboa, para o efeito preparada e decorada segundo os trâmites do Rito de York, o rito praticado pela Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes. Os trabalhos foram ritualmente abertos e posteriormente suspensos, sendo então franqueada a entrada na sala aos convidados, familiares e amigos de Aristides Sousa Mendes, familiares dos obreiros da Loja e maçons visitantes, representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, da Comunidade Israelita de Lisboa e da Embaixada de Israel em Lisboa e senhoras da Ordem da Rosa (organização de senhoras esposas e companheiras de maçons, associada aos Altos Graus do Rito de York).

A homenagem a Aristides Sousa Mendes consistiu na apresentação pública de dois trabalhos sobre a vida e obra do homenageado, na entrega à Fundação Aristides Sousa Mendes, na pessoa do seu representante, do diploma de persona grata concedido pelo Muito Respeitável Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal e na imposição, na pessoa do neto do homenageado, Major Álvaro Sousa Mendes, do Grande Colar da Ordem General Gomes Freire de Andrade, condecoração maçónica concedida, a título póstumo, a Aristides Sousa Mendes, em reconhecimento da sua conduta de alto significado moral e humanitário, pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP.

Discursaram, relembrando Aristides Sousa Mendes e sua mulher, Angelina, a sua histórica decisão e o alto preço que por ela pagou - o afastamento e o ostracismo imposto por Salazar - e manifestando a sua alegria e reconhecimento pela homenagem prestada, o representante da Fundação Aristides Sousa Mendes, que igualmente divulgou os princípios e objectivos da Fundação, e um neto do homenageado.

Ainda no âmbito das comemorações do aniversário da Respeitável Loja anfitriã, procedeu-se à realização da Cerimónia da Lembrança, sentida forma de recordar e homenagear os maçons da GLLP/GLRP que já passaram ao Oriente Eterno.

Depois de concluídas as cerimónias e homenagens, todos os ilustres convidados abandonaram a sala, após o que os trabalhos da Loja retomaram força e vigor e se procedeu ao seu ritual encerramento.

Os obreiros e ilustres convidados presentes juntaram-se seguidamente num agradável e animado ágape, no decorrer do qual houve lugar à recitação de poemas por dois profissionais do espectáculo, que, graciosa e simpaticamente, se disponibilizaram para o efeito, e a dois momentos musicais, um a cargo de um grupo de que faz parte um filho de um obreiro da Respeitável Loja Aristides Sousa Mendes, que executou, com agrado geral, duas composições musicais, a última das quais de homenagem a Aristides Sousa Mendes, e o outro a cargo de dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, Acácio R. (executante de guitarra clássica) e Alexis B. (balalaica e violino), que executaram diversas obras musicais, com as conhecidas mestria e alta qualidade, já familiares aos obreiros da nossa Loja, mas que muito impressionaram os convidados.

Estiveram presentes na sessão e no ágape, além dos obreiros da Respeitável Loja anfitriã, o Muito Respeitável Grão-Mestre, acompanhado de luzida e numerosa comitiva de Grandes Oficiais, e obreiros visitantes de diversas Lojas da Obediência. A Loja Mestre Affonso Domingues fez-se representar por uma delegação composta pelo seu Venerável Mestre, JPSetúbal, três Mestres, todos Ex-Veneráveis, Rui Bandeira, Miguel R. e Paulo FR, um Companheiro, João M., e um Aprendiz, Alberto G.. Estiveram ainda presentes mais dois obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues, mas na sua qualidade de Grandes Oficiais da GLLP/GLRP, integrando a comitiva do Muito Respeitável Grão-Mestre, no caso o Vice-Grão-Mestre José M. e o Grande Organista Alexis B.. Apenas ao ágape juntou-se o Acácio R..

Tendo-se verificado que um dos objectivos prosseguidos pela Fundação Aristides Sousa Mendes é a dinamização de doações de sangue, ficou logo projectada a futura colaboração da Loja Mestre Affonso Domingues, através do seu Grupo de Dadores de Sangue, e da Fundação em futuras acções de dinamização de doações de sangue. Para o efeito, ficou aprazada para muito breve uma reunião entre o Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues e responsáveis da Fundação.

Que maneira melhor tínhamos nós de homenagear Aristides Sousa Mendes?

Rui Bandeira