27 março 2013

Meio-dia


Repararam certamente que os meus textos aqui no A Partir Pedra são, desde há muito, sempre publicados precisamente ao meio-dia (hora legal de Portugal Continental). Faço-o propositadamente, porque o meio-dia é a hora em que os maçons iniciam os seus trabalhos.

Não quer isto dizer que os maçons sejam uma cambada de mandriões que passam as manhãs em vale de lençóis ou em dolce far niente... A expressão tem um significado simbólico - que nem sequer é muito difícil de descortinar.

Mas, antes de prosseguir, uma advertência: em Maçonaria não há dogmas, não há "verdades" impostas a quem quer que seja - designadamente em termos de significados simbólicos. Cada um estuda, analisa, reflete, sobre um símbolo e extrai dele o significado que lhe parecer adequado - e que pode ou não coincidir com a interpretação alheia. Não há significados "certos" de símbolos. Há significados que são certos para aquela pessoa, podendo outra pessoa considerar certo para si diferente significado do mesmo símbolo. E isto é, mais do que normal, vulgar e essencial em Maçonaria, que preza em absoluto a liberdade individual e que tem como componente inderrogável a Tolerância pelo entendimento alheio. Se dois maçons tiverem diferente perceção sobre algo (por exemplo, um significado simbólico), calmamente expõem os respetivos pontos de vista, analisam-nos em conjunto, e cada um extrairá as sua conclusões, podendo um ser convencido pelo outro, podendo ambos mudar de opinião e confluírem numa conclusão diferente das respetivas posições iniciais, podendo um ou ambos mudar de opinião, mas permanecerem em desacordo, agora em diferentes bases, ou simplesmente ambos manterem os seus respetivos entendimentos, concordando em discordar - sem que, em qualquer das situações, venha daí mal ao mundo... A liberdade de opinião é sagrada, mas só o pode ser desde que se respeite a liberdade de opinião alheia (que é tão sagrada como a nossa...) e naturalmente se conviva com a inevitabilidade das divergências, sem que elas impeçam o trilhar comum dos caminhos em que se está de acordo.

Por vezes há símbolos cujo significado adquire uma natureza quase consensual. Mesmo nesses casos, não se pode, em bom rigor, afirmar que o significado, ainda que consensual, do símbolo é "o" correto. Se alguém lhe atribuir outro significado, se alguém concluir que esse outro significado é o que, para si, é o certo, para esse assim será - e os demais naturalmente respeitam isso. Portanto, sempre que eu afirmo que um determinado símbolo tem um certo significado, o leitor deve entender que esse é o significado que eu lhe atribuo, que pode até ser consensualmente aceite pela generalidade dos maçons - mas não é necessariamente certo para todos, aceite por todos. Sempre que eu refiro um significado de um símbolo, o leitor deve fazer o seu juízo e concordar com ele ou dele discordar. Apenas sabe que eu atribuo esse significado, que raciocino em função dele e deve ter tal em consideração ao interpretar o que escrevo. Mas deve manter a sua liberdade de pensamento e o seu juízo crítico e concordará ou discordará - e assim é que deve ser!

Regressando então, após esta - longa! - advertência ao assunto, dizia eu que se atribui (eu atribuo; muitos dos maçons atribuem, como eu...) ao meio-dia um significado simbólico que leva a ser comummente usada entre os maçons a frase de que estes iniciam os seus trabalhos a esta hora. 

Tal como o dia é regido pelo percurso do Sol desde o momento em que nasce até àquele em que se põe e atinge o seu clímax, o seu máximo expoente, ao meio-dia, os maçons utilizam o termo para significar a idade adulta. Durante a madrugada e manhã das suas vidas - a infância e a adolescência - crescem, aprendem, amadurecem. Nessa altura ainda não têm a maturidade necessária para consistentemente passar do material ao espiritual, ainda não estão prontos para iniciar os seus trabalhos de maçons - que consistem no dominar das suas paixões, no alisar de seus defeitos, no aprofundar de seus conhecimentos, no lustrar de suas qualidades, enfim, em tudo o que necessário é para que se evolua, se melhore, se aperfeiçoe. 

Só com a idade adulta e a estabilidade a ela inerente atingidas, ultrapassadas que estejam as dúvidas sobre si próprio, as suas capacidades e o seu lugar no mundo, o homem está verdadeiramente disponível para melhorar, se aperfeiçoar, através de um método próprio, que implica vir do mundo para dentro de si e dar de si ao mundo o melhor que continuamente faz, edifica, altera. 

O meio-dia a que se referem os maçons é, pois, a sua maturidade, o momento em que estão maduros e, continuando a lidar com o mundo, a vida, a sociedade, as suas obrigações pessoais, familiares, profissionais, sociais, podem e conseguem já não se limitar a isso - como muitos vão fazendo ao longo da sua vida, e chegam perto do seu fim perguntando-se se a vida é só isso... -, mas fazer um pouco mais, e diferente, construir-se a si próprio, conhecer-se, retificar-se, evoluir, buscar o que sabem ser inatingível, mas que só vale a pena viver se se viver buscando-o: a perfeição.

É nesse preciso momento em que ultrapassou o imenso período de crise, porque de contínua mudança, que é a infância e a adolescência, que resolveu os seus problemas de sobrevivência, que sabe qual é o seu lugar no mundo e na sociedade, e o ocupa, que, enfim, está estabilizado, que o homem está pronto para trabalhar no seu interior, esculpir a sua personalidade, melhorar os seus conhecimentos e a sua forma de ser, estar e de agir, ir para além da vulgar materialidade embrenhando-se no território quantas vezes quase desconhecido da sua espiritualidade.

Esse é o momento em que está pronto para iniciar os seus trabalhos sobre si próprio. Uns atingem-no cedo, outros mais tarde. Cada um, e as suas circunstâncias de vida, atinge esse preciso ponto de equilíbrio, em que ou estagna na sua vidinha, ou se abalança à aventura de se metamorfosear, mantendo o mesmo aspeto exterior, na altura em que atinge. Esse é o momento em que se fica ou se vai. Esse é o momento em que o homem não faz sombra a nada, nem a ninguém - nem a si próprio -, mas em que adquire a consciência do valor da sua individualidade e do potencial que ela pode desenvolver.

Esse é o meio-dia, a hora em que os maçons iniciam os seus trabalhos! 

Rui Bandeira

20 março 2013

"Casamento maçónico"


Um ilustre Irmão perguntou-me porque é que em certas jurisdições os maçons repetem os votos de casamento em Loja em presença dos Irmãos e das famílias e ainda se tal seria um modismo ou se tinha alguma concatenação histórica.

As aspas colocadas no título deste texto denunciam que a minha opinião não é particularmente entusiasta em relação a esta prática que, tanto quanto sei, tem essencialmente lugar no Brasil. Mas, apesar disso, manda a justiça frisar que no grande país lusófono da América do Sul, tal prática não deve ser considerada um modismo, pois encontra-se enraizada  nos costumes locais, sendo reconhecida por várias Obediências  Regulares brasileiras. Já a "importação" dessa prática para outras paragens, na minha opinião, sofreria desse pecado...

Antes do mais, deve refutar-se a designação de "casamento maçónico". A este respeito, transcrevo parte de um texto que consigna as conclusões de um simpósio sobre o tema"Maçonaria e Religião" que decorreu em Belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, Rito Escocês Antigo e Aceito (texto completo aqui): 

Casamento: Cerimônia tradicional entre os maçons, ligada ao matrimonio, é atualmente denominada, "CONFIRMAÇÃO MATRIMONIAL". Não se trata de uma solenidade religiosa, nem cívica, conforme normalmente se considera. Não é tampouco uma solenidade substitutiva daquelas que normalmente ocorrem num templo religioso. Nesta solenidade, evocando os valores da família, sempre exaltados pela maçonaria, os cônjuges - normalmente já casados - se comprometem perante os membros da loja e demais maçons de outras lojas, a manterem firmes e constantes os vínculos que livremente resolveram celebrar. A maçonaria lembra o dever de cada um, bem como suas responsabilidades na condução da família, célula essencial da sociedade.
O cerimonial nada tem de religioso, é uma solenidade fraterna e humanitária muito usual entre maçons. É antes de tudo uma afirmação da maçonaria aos valores éticos e morais de uma sociedade formada por famílias solidamente constituídas.

O erradamente designado "casamento maçónico" deve então, com maior correção, ser designado por "confirmação matrimonial". Também encontrei a designação, que me parece igualmente adequada, de "reconhecimento conjugal" num outro texto de que, pelo seu evidente interesse, transcrevo o seguinte excerto:

Após e somente de posse do registro do Cartório o  Irmão poderia pedir a Loja que lhe fizesse seu Reconhecimento Conjugal. Há vários rituais para o ato, cada Potência/Obediência adota um. O mais importante é sempre ressaltar que NÃO SE TRATA DE CASAMENTO MAÇÔNICO. Maçonaria não é religião e nem substitui os requisitos e formalidades que as leis do país estabelecem para a validez do matrimônio. 


Em resumo, trata-se de um costume brasileiro que, tendo ali criado algumas raízes, deve ser respeitado pelo significado que os maçons ali lhe atribuem, embora reconheçam (como no texto sobre "reconhecimento conjugal" também se assinala, e dele novamente cito) que alguns procedimentos adotados pelas Potências/Obediências Maçônicas não estão diretamente ligados aos Ritos Maçônicos. Muitas atividades foram criadas para atender a demanda dos Maçons. Um exemplo é o Reconhecimento Conjugal, algumas Potências/Obediências criaram um momento próprio para a apresentação da esposa do Irmão a todos os demais Irmãos e cunhadas.

Reconhecendo a intenção dos Irmãos brasileiros, não me parece que deva ser um costume que seja asado importar para a Europa. A Maçonaria busca possibilitar e enquadrar o esforço de aperfeiçoamento individual dos seus membros. A cerimónia de "reconhecimento conjugal" ou "confirmação matrimonial" não tem nenhum significado esotérico ou simbolismo maçónico, reconduzindo-se, afinal, a uma festividade social levada a espaço no espaço de um templo maçónico. A meu ver, deve-se reservar o espaço e o tempo e o modo de reunião dos maçons para o que simbólica e espiritualmente tem significado para estes e contribui para o aperfeiçoamento de cada um e de todos. As festividades sociais, o regozijo pelo enlace matrimonial, o acolhimento das esposas dos nossos Irmãos no círculo de amizades e social dos maçons pode e deve ser naturalmente feito fora e para além do espaço da Loja. Por muito bonita que seja a cerimónia, por muito belo que seja o texto ritual que para ela foi criado, continua a não ser mais do que uma festividade social...

Fontes:

Conclusões do Simpósio sobre "MAÇONARIA E RELIGIÃO", ocorrido em belo Horizonte em 10 de setembro de 2005, sob a égide do Supremo Conselho do Grau 33 para a República Federativa do Brasil, in http://www.guatimozin.org.br/artigos/mac_religi.htm .

Quirino, A. R. L. S. Presidente Roosevelt, n.º 25 da Grande Loja Maçônica de Minas Gerais, Reconhecimento Conjugal, 21 de agosto de 2011, in http://www.aminternacional.org/PDF/ReconhecimentoConjugal_Quirino.pdf

Rui Bandeira

13 março 2013

O meu testamento maçónico


No texto anterior, procurei esclarecer o que é o testamento maçónico. Neste, vou procurar ilustrar na prática esse documento. Pessoalmente, e uma vez que há muito assumi publica e orgulhosamente a minha condição de esperar que os meus Irmãos me reconheçam como maçom, não necessitaria de elaborar um documento desse género. Mas, já que me predispus a um exercício prático ilustrativo do que é este tipo de documento, eis então o que, aqui e agora, constitui o meu testamento maçónico.

AOS MEUS IRMÃOS MAÇONS E A TODOS OS QUE ME RECONHECEM COMO TAL

Saibam todos os que este escrito lerem ou ouvirem que o seu autor um dia teve a ousadia de crer merecer ser admitido na Augusta Sociedade dos Maçons, antigamente chamados de pedreiros-livres, pedreiros porque utilizam como seus símbolos artefatos dos construtores, livres de pensamento e de paixões que os dominem (embora todos reconheçam ter paixões, defeitos e asperezas que são ínsitos a todos os seres humanos - e que procuram, com diferentes graus de êxito, dominar, domesticar, encerrar nos calabouços de seus íntimos, de forma a que ninguém prejudiquem e raramente sejam entrevistos). Essa ousadia pagou-a, pelo resto da sua vida, com permanente esforço de procurar, em cada dia, ser um pouco, um tudo nada, melhor do que o anterior: aprender mais, aprender sempre, refletir mais cuidadamente, dominar suas impaciências, dosear justiça com solidariedade e rigor com generosidade, trabalhar eficazmente, honrar sua palavra, amar sua família, respeitar a todos, tolerar as imperfeições alheias na mesma medida em que espera poder ver toleradas pelos demais as suas, enfim, viver plenamente a vida como deve ser vivida, na permanente busca da melhoria que é, talvez, o verdadeiro significado e objetivo da nossa passagem por este plano de existência. 

Chegado o tempo do pousar de ferramentas, na altura da disposição do que aqui resta depois do mais importante de mim ter partido para o Desconhecido no Eterno Oriente, deixo à vontade de meus Irmãos e da minha família a realização, pública ou recatada, de cerimónia maçónica: em bom rigor, não será já questão que me afete, pois já terei então partido e o que fisicamente restar não serei já eu, mas apenas o que fica para trás. Sempre achei que as cerimónias fúnebres - de qualquer tipo - se fazem para os vivos, não para quem já partiu... Portanto, se à minha família e a meus Irmãos agradar fazer uma cerimónia maçónica, que ela seja feita. Se a uma ou outros desagradar tal coisa, que sem remorso ou pena fique por fazer, que falta não me fará, certamente, pois tenciono já ir adiante...

Se alguém perguntar qual a minha religião, respondam que fui, acima de tudo, Crente. Fui católico por cultura, mas fui mais do que católico, pois considerei-me também protestante e judeu e muçulmano e hindu e animista e tudo o resto que põe o Homem perante o Absoluto, o Criador e a Criação, a Vida, a Vida antes da Vida e depois dela. Sempre considerei que o que importa na religião é, precisamente, religar o Homem à sua origem, à sua criação, e ao seu destino, religar a minúscula partícula de quase invisível peça, que cada um de nós é, ao Grande Arquiteto Construtor e sua inapreensível Obra. Por isso, sempre acreditei que não há que dividir entre religiões, todas são a mesma expressão da mesma necessidade humana, simplesmente cada uma sendo específica variante de particular cultura, de determinado tempo, de ambiente próprio. Mas, porque todas as religiões correspondem à mesma básica necessidade humana, todas são iguais no essencial e, assim, aquilo em que diferem é necessariamente apenas acessório. O desejo que deixo expresso é que cada um viva o Essencial, praticando livremente o Acessório que lhe agradar!

Se alguém quiser falar de mim e se tal não for penoso para minha família nem agredir demasiado a paciência de quem a acompanhe, então que sobretudo não fale de mim, do que fiz ou deixei de fazer, dizer ou pensar, mas antes procure extrair a lição para o futuro do que fiz bem e do que mal efetuei: o que tenha feito no Passado, Passado é. Importa mais preparar o Futuro, vivendo plenamente o Presente.

Os objetos ligados à Arte Real que para trás deixo, se os meus herdeiros com isso concordarem e se a minha Loja nisso estiver interessada, que sejam confiados à minha Loja, que lhes dê o destino que lhe aprouver. Se uns não concordarem ou outros não estiverem interessados, que isso não cause preocupação ou desgosto a ninguém. Afinal de contas, são meros objetos, nada mais... Os meus livros de temática maçónica que fiquem para os meus herdeiros, se nisso tiverem interesse, ou então que sejam entregues à minha Loja, para que lhes dê o uso ou destino que lhe aprouver e para que tenham utilidade. 

O que escrevi, publiquei-o e, uma vez publicado, não pertence só a mim. Os pensamentos, uma vez divulgados, são de todos, para que cada um faça com eles o que bem entender. As palavras, logo que públicas, são livremente utilizáveis por cada um. Tudo o que escrevi pode ser citado, copiado, glosado, divulgado, comentado, criticado, apenas com o respeito de duas condições: a identificação do seu autor e a indicação do local onde foi primeiramente publicado. Quanto a publicações comerciais ou de que resultem proventos (se algo do que escrevi algum dia tal mérito ou potencialidade tiver), naturalmente que dependem do regime legal dos direitos de autor e dependerão da vontade de meus herdeiros e herdeiros deles, até que legalmente caduquem tais direitos.

Em suma, e parafraseando alguém que foi uma grande alma e que foi também por muitos reconhecido como tal, Raul Solnado, a mensagem que tenho a veleidade de deixar é apenas esta: FAÇAM O FAVOR DE SER FELIZES. Eu procurei sempre sê-lo e aprendi que a felicidade está nos momentos, na satisfação do dever cumprido, no orgulho das vitórias, mas também na consciência das derrotas bem lutadas, no percorrer do caminho que traçámos, com destino ao horizonte depois do horizonte. Que cada um percorra o caminho na direção de sua escolha pela forma que seja do seu agrado e, sobretudo, que consiga ser feliz, com a noção de que verdadeiramente não se é feliz, está-se feliz e é do estar que vem o ser.

Sobretudo, que cada um celebre o que é verdadeiramente importante: a Vida!

Rui Bandeira

06 março 2013

Testamento Maçónico


Enquanto cidadãos, todos podemos elaborar o nosso testamento, documento no qual, essencialmente, expressamos, desejavelmente dentro dos limites da Lei - senão, o que estipularmos será nulo -, a nossa vontade quanto ao destino dos bens que acumulámos ao longo da nossa vida. 

O maçom pode também elaborar e deixar ao cuidado de seus Irmãos um testamento maçónico. Neste caso, o essencial não é a estipulação sobre bens materiais, até porque a forma legalmente prevista para tal é precisamente o testamento civil, não o maçónico.

O cerne das disposições do testamento maçónico respeita à indicação de como deseja o testador que se comportem os seus Irmãos em relação à sua condição de maçom, designadamente no decorrer das exéquias fúnebres.

Um dos elementos que integram o segredo maçónico é a reserva de identidade do maçom que não se tenha assumido publicamente como tal. A razão de ser desta reserva prende-se exclusivamente com a necessidade de prevenir prejuízos para o maçom, em virtude da divulgação dessa sua condição, em sociedades em que a Maçonaria seja reprimida ou objeto de preconceito. Pode estar em causa a manutenção do seu emprego, a obtenção dos meios de subsistência do próprio e da sua família, quando e onde o preconceito contra a Maçonaria esteja presente. Porém, tal reserva apenas subsiste em vida do maçom em causa, pois, com o seu decesso, não há já preconceito que o possa prejudicar.

Os maçons aprenderam, porém, com experiências desagradáveis, que, embora o maçom que passou ao Oriente Eterno não possa já ser prejudicado pela revelação pública dessa sua condição, a família que deixou para trás pode ainda ser negativamente afetada com esse conhecimento público, quanto mais não seja por vil maledicência.

O testamento maçónico destina-se, assim, a possibilitar que o maçom informe os seus Irmãos do seu desejo em relação ao comportamento deles nas suas cerimónias fúnebres.

Assim, designadamente deixa estipulado se deseja ou não que os seus Irmãos, na noite do seu velório, se o mesmo tiver lugar, ou em qualquer outro momento das cerimónias fúnebres, executem a Cadeia de União em sua evocação. A Cadeia de União fúnebre é um tocante ritual de homenagem em honra do maçom partido para o Oriente Eterno e, no caso dos maçons regulares, de reafirmação da crença de todos na permanência da Vida para além do umbral da morte física. Assinala ainda a convicção de todos os nela participantes de que tudo o que o homenageado construiu em si próprio e de si próprio ao longo da sua vida maçónica, todo o seu trabalho de aperfeiçoamento, não foi em vão, não se desperdiça nem perde significado com a sua partida, antes permanecem vivos a sua inspiração e o seu exemplo na memória dos seus Irmãos, e o seu esforço simbolicamente prossegue no trabalho dos que lhe sucedem, que as ferramentas que pousou ao chegar a sua hora final são retomadas pelos mais novos e incansavelmente prosseguem o trabalho de edificação de uma Humanidade melhor, indivíduo a indivíduo. A Cadeia de União fúnebre pode ser realizada em privado, apenas com a presença de maçons, ou em público, designadamente com a presença de familiares e amigos do  homenageado. Pretendendo ser uma homenagem, uma evocação sentida, não deve ser constrangedora para ninguém, designadamente para a família do homenageado. Assim, ninguém melhor do que o maçom pode informar os seus Irmãos sobre a conveniência de realização pública - e numa ocasião de tanta emoção como são as exéquias do falecido - da Cadeia de União fúnebre.

Pode o maçom também deixar expresso se está ou não de acordo que, nas suas exéquias, um seu Irmão faça uma breve alocução relativa à sua postura na vida profana, na sua vida maçónica ou em ambas.

Pode suceder que o maçom não tenha família no local do seu falecimento e onde deverão decorrer as suas exéquias. Nesse caso, pode deixar aos seus Irmãos indicação se pretende ou não que nelas tenha lugar cerimónia religiosa - e de que religião.

Pode, no testamento maçónico, estipular-se se as flores que os seus Irmãos pretendam enviar em sua homenagem devem ou não conter elemento identificativo de que quem as envia é maçom - designadamente identificação de Loja ou de Grande Loja.

Pode ainda, no testamento maçónico, solicitar-se que um dos Irmãos, em tempo oportuno, providencie aos familiares mais próximos do testador uma explicação do que é a Maçonaria, com ou sem indicação da Loja a que pertencia o falecido, ou que essa explicação seja providenciada apenas em relação a pessoa ou pessoas determinadas.

Pode também declarar-se se pretende doar os seus paramentos maçónicos (aventais, colares, chapéus, luvas) ao Museu da Obediência e os seus livros, escritos e documentos de índole maçónica à Biblioteca da Obediência, ou parte de uns e outros, ou se quer que aqueles, estes ou ambos fiquem na posse dos seus familiares ou de quem ele entender.  Esta estipulação não tem qualquer valor legal (para o ter, teria de estar inserta num testamento civil), servindo apenas de orientação e informação para os seus Irmãos e sua família em relação ao desejo, nesta matéria, do falecido. Mas o poder de decisão pertence, obviamente, aos seus herdeiros legais, nos limites de eventual estipulação feita em testamento civil.

Pode, por outro lado, utilizar-se o testamento maçónico para informar os seus Irmãos de ajuda que seja necessário prestar a qualquer seu familiar, e relativamente a que assunto ou de que natureza. A obrigação de solidariedade dos maçons estende-se aos familiares do Irmão do falecido. Ninguém melhor do que o próprio para informar os seus irmãos de ajudas, esforços ou responsabilidades que se assegurava e que a morte física impede que se continue pessoalmente a assegurar, solicitando o auxílio dos Irmãos sobrevivos para a resolução da questão.

Finalmente, pode o maçom utilizar o seu testamento maçónico para deixar qualquer mensagem, pensamento ou indicação que tenha por asado deixar, seja para os seus Irmãos, ou algum ou algum deles, seja para que os seus Irmãos transmitam a alguém.

Em suma, o testamento maçónico é um documento análogo ao testamento civil, mas relacionado com a vida maçónica do seu autor, sem valor jurídico, mas com evidente valor moral - aquele que, em primeira linha, interessa aos maçons!

Rui Bandeira

27 fevereiro 2013

O Vigésimo Primeiro Venerável Mestre


Foi iniciado em 1998. Foi o primeiro assumidamente autoproposto que a GLLP/GLRP admitiu às provas da Iniciação. Com efeito, una anos antes, manifestara o seu desejo de ser admitido maçom mediante uma mensagem de correio eletrónico enviada para a caixa de correio eletrónico da Grande Secretaria da Obediência. Hoje isso não parece nada de especial. Enviam-se e recebem-se milhões de mensagens de correio eletrónico por dia. Presentemente o correio eletrónico é algo de banal, como banal é a troca de mensagens instantâneas em qualquer rede social. Mas nos anos noventa do século passado, estas coisas da Internet e do correio eletrónico ainda se estavam a enraizar nos hábitos. E receber um pedido de admissão à Maçonaria por mensagem de correio eletrónico foi uma absoluta novidade! Uma novidade tão grande que o A. Jorge - é a ele que me refiro! - durante algum tempo após a sua Iniciação era referenciado como "o Irmão da Internet"!

Mas o século XX findou - sem que se tivessem concretizado os temores do desastre tecnológico anunciado para o alvorecer do ano 2000 (lembram-se?) -, o século XXI avançou, pouco depois em Portugal e na Europa havia uma moeda nova, o Euro, e, quase sem se dar por isso, quando, em julho de 2010, o A. Jorge foi eleito  para vir a ser o vigésimo primeiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, as novidades tecnológicas já eram coisa comum e o A. Jorge já há muito era apenas (e  muito era e é!) o A. Jorge! Sempre ligado às Novas Tecnologias de Informação, é verdade - tanto assim que já há algum tempo era o editor responsável pelo sítio da Loja Mestre Affonso Domingues - mas afinal um maçom que fez o seu percurso normal após a Iniciação, de Aprendiz a Companheiro e daí a Mestre.

Não deixa, no entanto, de ter algo de simbólico que a Loja tenha escolhido como seu líder no início da sua terceira década de funcionamento, maturidade atingida, precisamente um Irmão conotado com a Modernidade e a Inovação, como que enfatizando que, terminado o ciclo do nascimento, implantação, crescimento e superação de crise, o ciclo dos primeiros vinte anos, que a Loja acabara de comemorar, assumia que a sua função, a sua marca genética enquanto Loja Maçónica da GLLP/GLRP era a contínua busca do aperfeiçoamento, da melhoria, da modernidade, da experiência, da excelência, em todos os campos e também no progresso, sem nunca esquecer a sua ligação á Tradição. Tradição e Modernidade, a perfeita simbiose que a Loja Mestre Affonso Domingues vem buscando e que o A. Jorge tão bem encarna e simboliza!

A. Jorge foi eleito para liderar uma Loja pujante, saudável, que acabava de comemorar, com orgulho, as suas primeiras duas décadas de existência. Tudo apontava para que o seu mandato fosse uma aprazível continuação do excelente momento que a Loja atravessava. Mas, entre julho e setembro, altura da sua instalação, o panorama teve algumas mudanças. Nada de particularmente trágico, mas obrigando a suplantar desafios que não eram aparentes à data da sua eleição: mais uma vez, a Loja ia cumprir a sua função de disponibilizar quadros por si formados para, em nova estrutura, realizarem tarefa importante para a Grande Loja.

Já se sabia, em julho, que o Grão-Mestre, por sinal um dos mais antigos obreiros da Loja, designara o Vigésimo Venerável Mestre, Rui C. L., para exercer o ofício de Grande Secretário - o que forçosamente iria limitar a sua participação na Loja, obrigando o seu sucessor a não beneficiar do apoio do Ex-Venerável. Mas o que então apenas poucos sabiam era que, estando em fermentação o processo que viria a culminar na cessação da cisão de 1996/1997 e em curso um processo de regularização de maçons dispersos por estruturas alheias à GLLP/GLRP, se constatara ser necessário que levantasse Colunas uma Loja que enquadrasse um número razoável de elementos que batiam à porta da GLLP/GLRP, solicitando a sua Regularização, e propiciasse a sua boa integração no conjunto da Obediência. E poucos também sabiam então que a nova Loja teria, no seu Quadro Fundador, um conjunto de Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues!

A  Instalação de A. Jorge coincide com o anúncio do Alçamento de Colunas da Loja Fernando Teixeira, nome do Grão-Mestre Fundador adequadamente escolhido para patrono da Loja que iria ser um dos pilares do trabalho de ultrapassagem da cisão e reintegração de todos os maçons regulares na estrutura da GLLP/GLRP. Como seu Primeiro Venerável Mestre foi designado Rui C. L. que, assim, teria, não apenas que diminuir a sua assiduidade na Loja Mestre Affonso Domingues (como era previsível, em função dos seus deveres como Grande Secretário), mas, pura e simplesmente, de a abandonar. Não deixava de ser irónico que a Loja Mestre Affonso Domingues, que perdera, de uma assentada, todos os seus  Antigos Veneráveis aquando da cisão de 1996/1997, mais uma vez se visse privada do seu Ex-Venerável, agora em prol da superação e do termo dessa cisão!

Mais: com Rui C. L. saía para a Loja Fernando Teixeira mais um outro Antigo Venerável - e elemento muito ativo na Loja e muitíssimo integrado no grupo -, o Paulo FR, e mais quatro ou cinco jovens Mestres, que a Loja preparara e de que se via na necessidade de abdicar, a favor da nova Loja!

A. Jorge não temeu e não tremeu! Se assim era preciso, assim seria. Tinha como Vigilantes dois Mestres da nova geração, mas já experientes, que garantiam o adequado acompanhamento das Colunas de Companheiros e Aprendizes. A Loja mantinha alguns veteranos que podia mobilizar da sua situação de "reserva" para enquadrar e auxiliar os Mestres mais novos que restavam. Era certo que algum do potencial de trabalho, de capacidade e de qualidade era, mais uma vez, perdido pela Loja em prol do nascimento de uma nova Loja. Mas, afinal, essa sempre fora uma das marcas da Loja Mestre Affonso Domingues, que nunca atingiu dimensão demasiado grande precisamente porque sempre cumpriu a preceito o seu papel de enquadrar e ser embrião de novas Lojas.

Portanto, com um sorriso nos lábios e a tranquilidade que lhe é caraterística, A. Jorge deu a volta por cima e conduziu a Loja a assim também fazer. A Loja não só apadrinhou a Loja Fernando Teixeira como organizou a sessão do respetivo Alçamento de Colunas e Instalação do seu Primeiro Venerável Mestre! E depois procedeu aos ajustamentos a que tinha de proceder e... prosseguiu a sua normal atividade.

O início do mandato foi inesperado e trabalhoso. Mas o  seu decurso cumpriu-se com normalidade: o Quadro da Loja recompôs-se. A Coluna dos Aprendizes foi reforçada com alguns Candidatos que aguardavam nos Passos Perdidos e, por sua vez, alimentou a Coluna de Companheiros com alguns elementos que, cumprido o seu tempo e o seu trabalho no grau, para isso estavam prontos. Esta, por sua vez, ajudou a recompor o Quadro de Mestres com um novo e promissor conjunto de jovens Mestres. No fim do mandato do A. Jorge, a Loja estava praticamente recuperada em termos de quadros e... pronta para outra! O ano maçónico foi rico em formação e trabalhos apresentados. A relação com as outras Lojas da Obediência manteve-se num agradável plano de fraternidade e harmonia. No fim do mandato do A. Jorge, ninguém diria que ele tivera de gerir a Loja superando uma significativa e inesperada perda de quadros...

Foi um ano trabalhoso para o A. Jorge e que coincidiu com ou imediatamente antecedeu mudanças nos planos profissional e pessoal da sua vida. Terá sido esgotante. Mas pode o A. Jorge estar certo que todos nós unanimemente entendemos que cumpriu o seu mandato com distinção e deixou a Loja melhor do que a encontrou. Soube geri-la ultrapassando as circunstâncias adversas e potenciando os seus meios e forças. Foi um auspicioso começo da terceira década da vida da Loja Mestre Affonso Domingues que é mister reconhecer!

Rui Bandeira

20 fevereiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXIX (e última)


Toda a Reunião Anual da Grande Loja tem competência própria para fazer novos regulamentos, ou alterar estes, para o real beneficio desta Antiga Fraternidade, desde que os Antigos Landmarks sejam preservados e desde que as alterações e novos regulamentos sejam propostos e aprovados na terceira Reunião Trimestral após a grande festa anual; devendo ainda ser postos por escrito à apreciação de todos os Irmãos, antes do jantar, mesmo ao mais jovem Aprendiz. A aprovação e consenso da maioria dos Irmãos presentes é absolutamente necessária para que os mesmos sejam vinculativos e devem, após o jantar, e após o novo Grão-Mestre ser empossado, ser solenemente aprovados, assim como o foram aprovados e conseguidos estes regulamentos propostos pela Grande Loja, a cerca de 150 Irmãos, no ano de 1721, no Dia de São João Batista. 

Esta última Regra derruba um mito com que, por vezes, nos deparamos: a imutabilidade das regras maçónicas. Todas as disposições regulamentares das Instituições Maçónicas são suscetíveis de alteração, mudança, aperfeiçoamento, substituição. 

A única exceção são os Landmarks que, esses sim, são considerados imutáveis, porque caraterizadores da essência da maçonaria. Consequentemente, qualquer alteração aos mesmos importaria mudança da instituição. Deixava de ser Maçonaria; passava a ser outra coisa qualquer, porventura muito parecida com a Maçonaria, quiçá real ou potencialmente melhor, mas não era a mesma coisa. Mudando-se a essência de algo, esse algo deixa de ser o que era, transforma-se em algo de diverso.

Isto explica a persistência do Grande Cisma Maçónico causado pelo abandono, em 1877, pelo Grande Oriente de França (e também pelo Grande Oriente da Bélgica) da obrigatoriedade de crença num Criador (qualquer que seja a conceção que individualmente se tenha do mesmo) para se ser admitido maçom - assim admitindo ateus e agnósticos. Desde o início da Maçonaria Especulativa que era consensualmente assente que era Landmark da Maçonaria a crença no Criador, que só crentes podiam ser maçons. A alteração pelos Grandes Orientes de França e da Bélgica em 1877 foi uma mudança que atingiu a essência da Maçonaria, transformando-a em algo diverso, talvez muito semelhante, quiçá melhor (os adeptos da Maçonaria Liberal acreditam ser eticamente superior a sua posição, porque inclusiva de todos os que desejem aperfeiçoar-se segundo o método maçónico, independentemente de serem crentes, agnósticos ou ateus) - mas, definitivamente diferente. Alterando-se a essência, altera-se a natureza da coisa...

O problema está em que não existe um conjunto de regras universal e consensualmente aceites como constituindo os Landmarks da Maçonaria - mesmo no âmbito da Maçonaria Regular.. Com efeito, basta dar o exemplo de que a GLLP/GLRP afirma como Landmarks as Doze Regras da Maçonaria Regular, enquanto que, por exemplo, na Maçonaria americana e sul-americana são correntemente invocados os 25 Landmarks compilados por Albert Mackey.

Na minha opinião, o que importa é preservar o essencial dos princípios que são comuns a todas as compilações de Landmarks  que se efetuam. Cada compilação é necessariamente datada, influenciada pelas ideias da época e pelos preconceitos remanescentes no compilador. A título de exemplo, atente-se no XVIII Landmark de Mackey: Por este Landmark, os candidatos à Iniciação devem ser isentos de defeitos ou mutilações, livres de nascimento e maiores. Uma mulher, um aleijado ou um escravo não podem ingressar na Fraternidade. Se é consensual, na Maçonaria Regular que esta instituição é masculina, hoje em dia é claramente inaceitável que um mutilado físico não seja suscetível de admissão à Iniciação. Hoje em dia, entende-se que não é suscetível de ser Iniciado o que tem defeito moral, aquele cujo caráter está mutilado dos sãos princípios inerentes aos bons costumes, tal como o escravo que não pode ser iniciado é aquele que não é livre na sua pessoa, por ser escravo das suas paixões, dominado por elas e incapaz de ser ele a dominá-las.

Esta última Regra informa-nos ainda que o conjunto das Regras Gerais foi aprovado em Assembleia ocorrida no dia de São João Batista (24 de junho) de 1721, era então Grão-Mestre o Duque de Montagu (a quem o Livro da Constituição de Anderson é dedicado). Mas só vieram a ser publicadas em 1723, incluídas no Livro da Constituição de Anderson, era então Grão-Mestre o Duque de Wharton e Vice Grão-Mestre John Theophilus Desaguliers.  Daí que, embora tendo as Regras Gerais sido aprovadas em 1721, atenta a data da sua publicação, sejam usualmente referidas como as Regras Gerais de 1723.


Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 145. 

Rui Bandeira

13 fevereiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXVIII


Terminadas as anteriores formalidades, o Grão-Mestre ou seu Vice Grão-Mestre, ou algum Irmão nomeado por aquele, deverá dirigir-se aos Irmãos e dar-lhes os melhores conselhos. Finalmente, depois de todos os procedimentos, que não podem ser escritos em qualquer língua, os Irmãos devem ir-se ou permanecer por mais algum momento, se assim o desejarem. 

Esta penúltima Regra faz referência à prancha do Grão-Mestre, um costume que, felizmente continua a ser mantido pela maior parte das grandes Lojas.

Parte de cada sessão da Grande Loja é dedicada à divulgação de uma prancha pelo Grão-Mestre, em regra pronunciando-se sobre o estado da Obediência, ou alguma questão de particular importância, seja do foro maçónico, seja do foro profano mas com relevo para a Maçonaria, ou ainda pronunciando-se sobre o trabalho maçónico, individual ou coletivo. A Prancha Traçada do Grão-Mestre é uma orientação para os obreiros ou uma chamada de atenção para qualquer assunto de especial relevo. É o momento próprio para o líder exercer a sua liderança perante o conjunto dos representantes dos Obreiros que lidera. A Prancha Traçada da sessão pode ser proferida por um Vice Grão-Mestre ou por qualquer Grande Oficial, ou mesmo obreiro sem ofício particular, para o efeito designado. O que importa é que em todas as sessões haja algo para meditar, para auxiliar ou motivar ou enquadrar o trabalho dos Irmãos.

Também é saudável que em todas as sessões de Loja seja apresentada uma prancha, seja por um Aprendiz ou Companheiro, mostrando a toda a Oficina os seus progressos na Arte Real, seja por um Mestre proporcionando formação, informação ou desenvolvimento de qualquer tema à Oficina. Não é necessário que seja um trabalho de grandes dimensões. Aliás, é mesmo recomendável que a sua apresentação não ultrapasse, no máximo, quinze minutos (daí, penso, no Brasil, a referência ao "quarto de hora de estudos"). Não é preciso que seja um trabalho de nível académico ou de grande profundidade - mas é desejável que seja o melhor que, em cada momento, o seu autor seja capaz de produzir sobre o tema que tratar.  Já ouvi pranchas em Loja que eram constituídas por uma simples frase e que me fizeram pensar mais do que extensos trabalhos. Tal como não é raro encontrar, em trabalhos singelos de recentes Aprendizes que ainda estão na fase de aprender a aprender, pérolas que nos apontam caminhos ou ângulos de análise que os mais experimentados Mestres ainda não tinham descortinado.

O que importa é que haja, em todas as sessões de Loja, um tempo dedicado ao estudo, à formação, à meditação, a aprender algo. Ir à Loja é também conviver, mas não é só conviver. É também praticar o ritual, mas não é só isso. É debater e resolver os problemas da Oficina, mas é mais do que isso. Ir à Loja, ser da Loja, é dar algo aos demais e receber dos demais algo - designadamente ensinamento, matéria para reflexão, ferramenta para aperfeiçoamento. Em todos os momentos da sessão maçónica isso é possível, mas a apresentação e escuta de uma prancha é, por excelência, o momento em que alguém põe em comum algo para que todos retirem algo para si próprios, ocasião em que todos melhoram, ou podem melhorar, aprendem ou podem aprender, mais um pouco, poucochinho que seja. De forma a que todos saiam um pouco mais ricos do que entraram. Ricos interiormente, onde tal é realmente importante.

Prossegue a regra referindo os "procedimentos que não podem ser escritos em qualquer língua". Refere-se ao ritual - no caso, ao ritual de encerramento da Loja. É tradição que todos os rituais de origem inglesa, designadamente o Ritual de Emulação, e os neles originados (inclusive o ritual norte-americano fixado por Preston-Webb, também comummente designado por "rito de York") seja executados de cor. Antigamente eram transmitidos por via oral e apenas por via oral. Daí a referência na Regra. Nos dias de hoje, claro que estão escritos, embora devam os respetivos textos ser de acesso restrito a quem deva lê-los ou aprendê-los. No que se refere ao Rito Escocês Antigo e Aceite, mais complexo e longo, muito dificilmente pode ser dito de cor - ao menos por quem não tenha a memória muito bem exercitada... - estando escrito e sendo, normalmente, lido pelos Oficiais da Loja, nos momentos próprios.

Uma referência à expressão final da Regra: "...se assim o desejarem". É uma expressão utilizada num dos mais significativos brindes maçónicos, o último brinde ritual, proferido pelo Aprendiz mais recente, dedicado a todos os maçons, e pontua bem a essencialidade, no pensamento maçónico, do respeito pela liberdade individual, pelas escolhas de cada um. Os maçons mutuamente se reconhecem que os seus atos devem ser realizados quando, como, nas circunstâncias e se assim o desejarem. Só homens livres podem ser homens responsáveis!

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 145 

Rui Bandeira

06 fevereiro 2013

Agora em livro eletrónico!


Há três anos, publicamos o livro LOJA MESTRE AFFONSO DOMINGUES - 20 ANOS DE HISTÓRIA em edição em papel. Tratando-se de edição própria, sem contrato de distribuição comercial, verificámos que, para além das encomendas via correio eletrónico, o acesso ao livro dos interessados residentes fora da região de Lisboa e, naturalmente, fora de Portugal, era difícil.

Agora, aproveitando o sistema de publicação de edições eletrónicas em edição de autor que a Leya disponibiliza através do sítio Escrytos, colocamos à disposição de todos os interessados, em epub, formato eletrónico apto para ser lido em qualquer suporte atual (computador, tablet, ereader, IPad, IPhone e dispositivos Android), a edição eletrónica do livro.


No Brasil, o seu preço são R$ 26,97 e está já disponível no IBA (em https://www.iba.com.br/livro-digital-ebook/Loja-Mestre-Affonso-Domingues---20-anos-de-Hist%C3%B3ria-b0e90b4b3151ff2f33611b080271ab6e), no Submarino (em http://submarino.thecopia.com/catalog/details.html?catId=9858048) e na Livraria Cultura (em http://www.livrariacultura.com.br/Produto/E-BOOK/LOJA-MESTRE-AFFONSO-DOMINGUES-20-ANOS-DE/17638852). Nesta última, os possuidores do cartão Livraria Cultura poderão adquiri-lo com o pagamento em seis prestação de R$ 4,50 cada.

Na Wook, é possível ler uma amostra do livro (prefácio do Vigésimo Venerável Mestre, Nota Introdutória, texto sobre o nosso patrono Mestre Affonso Domingues e o primeiro texto da Memória da Loja, Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre).

Não consegui localizar, mas a Leya informa que, dentro de um prazo de duas semanas, o e-book estará também disponível na ibookstore /iTunes/ Appstore, nos sítios da Livraria Almedina (Portugal) e do Gato Sabido (Brasil) e na Amazon e na Barnes & Noble (internacionais).

Curiosa é a dificuldade de classificação que os administradores dos sítios tiveram em relação ao livro: na Leya, o livro foi colocado na secção Biografias / Memórias, na FNAC / Kobo, em Arte e Arquitetura - Artes Gerais, na Livraria Cultura, simplesmente em Artes...

A Loja Mestre Affonso Domingues preza a Tradição, mas não rejeita - pelo contrário, utiliza! - as ferramentas de comunicação do século XXI.  Com esta iniciativa, pretendemos possibilitar que, em qualquer ponto do planeta, qualquer interessado possa obter e ler o livro LOJA MESTRE AFFONSO DOMINGUES - 20 ANOS DE HISTÓRIA.

Boa leitura! Espero, sobretudo, que tenham tanto prazer na leitura do livro como nós tivemos na sua conceção e feitura.

Rui Bandeira

30 janeiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXVII


Então o Grão-Mestre deverá permitir que qualquer Irmão, Companheiro ou Aprendiz, fale, dirigindo o seu discurso ao Grão-Mestre; ou para fazer qualquer proposta a bem da Fraternidade, a qual deverá ser imediatamente considerada e decidida, ou então, ser remetida para a Reunião seguinte da Grande Loja, ordinária ou extraordinária. 

Esta antepenúltima Regra Geral consagra o que hoje em dia os maçons vulgarmente designam pelo "período a bem da Ordem ou da Loja" - ou, em temos de assembleia profana, o "período após a Ordem do Dia".

Tratados os assuntos da Ordem de Trabalhos, antes do encerramento da reunião existe um período dedicado ao uso da palavra ou à apresentação de propostas sem vinculação temática. É a altura destinada à colocação de questões, problemas ou considerações sobre qualquer assunto que o orador julgue relevante ou de interesse geral.

Modernamente, com a evolução havida no sentido de os assuntos administrativos serem tratados e resolvidos pelo Quadro de Oficiais, na sua atividade diária, as Assembleias de Grande Loja têm uma grande componente cerimonial, mas não dispensam um tempo e um espaço próprios para qualquer Mestre Maçom se pronunciar sobre o que desejar. É uma componente essencial da matriz maçónica esta liberdade individual a todos reconhecida e garantida.

Em 1723, Mestre era a designação do Venerável Mestre da Loja. Só havia dois graus, o de Companheiro (hoje correspondente ao grau de Mestre) e o de Aprendiz. Só mais tarde, na década de 30 do século XVIII se instituiria o sistema de três graus nas Lojas azuis.

Como se deduz da Regra, o Aprendiz não estava então submetido à regra do silêncio em reunião formal. Ainda se vivia o tempo de transição da Operatividade para a Maçonaria Moderna, em que a regra da participação de todos em tudo era o procedimento corrente. Esta norma indicia-nos que a Regra do Silêncio dos Companheiros e Aprendizes em reunião formal foi introduzida já em plena evolução da Maçonaria Especulativa, como instrumento do processo de evolução do novel maçom. O que também nos alerta para a necessidade de pormos em devida perspetiva as considerações, correntes, de que em Maçonaria nada se muda, tudo é feito hoje como era feito antigamente.

A Maçonaria preza a Tradição e não altera práticas e procedimentos por dá cá aquela palha e de ânimo leve. Mas, como todas as instituições humanas, sabe evoluir, de forma a mais bem corresponder às necessidades dos seus elementos em cada época. Se assim não fosse, este blogue não existiria...

A preservação da Tradição e das boas práticas da Maçonaria está, por exemplo, ilustrada na passagem desta norma que frisa que aqueles que usem da palavra devem dirigir o seu discurso ao Grão-Mestre. Assim se faz ainda hoje em Grande Loja, tal como, similarmente, em Loja, o uso da palavra é dirigido ao Venerável Mestre da Loja. É claro e evidente que, em assembleia, todos ouvem. Mas a prática, o hábito, de a palavra ser dirigida sempre a quem conduz a reunião faz com que não haja diálogos ou confrontações diretas. Não se discute com ninguém, não se trocam argumentos com ninguém; cada um transmite as suas ideias, a sua opinião, os seus argumentos, a todos, através do líder do grupo. Esta postura, por si só, treina os maçons para preferirem a cooperação ao confronto, para se habituarem a que a discordância, o diferente entendimento, não são ataques ou deméritos, são legítimas posições da inteligência de todos. Admitir, preservar, cultivar, a sadia discussão de diferentes posições, sem confrontos, duelos ou azedumes, é uma indispensável manifestação da Tolerância matricial da Maçonaria e dos maçons e um elemento essencial do aperfeiçoamento individual através do grupo, pois permite, facilita e promove sínteses resultantes da mútua influência das nossas teses e das alheias antíteses.   

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 145. 

Rui Bandeira

23 janeiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXVI


Mas se o Irmão que o Grão-Mestre em exercício nomear como o seu sucessor, ou o que a maioria da Grande Loja escolha através do voto, estiver, por doença ou outro motivo qualquer, ausente dessa grande festividade, este não poderá ser proclamado o novo Grão-Mestre, a não ser que o antigo Grão-Mestre, ou alguns dos Mestres e Vigilantes da Grande Loja possam assegurar, por sua honra de Irmãos, que esta dita pessoa, nomeada ou escolhida, prontamente aceitará o dito cargo; e nesse caso o antigo Grão-Mestre deverá atuar como seu procurador, e, então, nomear o seu Vice Grão-Mestre e Vigilantes em seu nome, e em seu nome também, receber as usuais honras, homenagens e congratulações. 

Nos recuados tempos do século XVIII, as comunicações não eram tão fáceis e rápidas como na atualidade. As reuniões magnas não ocorriam com a frequência e naturalidade que hoje verificamos existirem. A festividade anual dos maçons era preparada com meses de antecedência. Cada um tinha de organizar a sua vida de forma a poder estar nela presente. Era pois importante que o que de essencial houvesse para tratar fosse tratado. Daí que a Regra XXXVI impusesse que o novo Grão-Mestre estivesse presente, para que, após declarar a sua aceitação do ofício, fosse logo empossado e designasse o seu Vice Grão-Mestre e os Grandes Vigilantes.

Se assim não ocorresse, das duas, uma: ou alguém, por sua honra, assegurava - obviamente com conhecimento de causa - que o designado aceitava desempenhar o ofício, ou teria de se efetuar nova designação. O que não se admitia era o risco de o designado não presente vir, quando tivesse conhecimento da designação, a recusar o exercício da função, pois tal obrigava a que a Grande Loja vivesse numa situação de exceção, sem o dirigente máximo em funções durante um ano, salvo se ocorresse uma Assembleia extraordinária para efetuar designação que superasse a recusa - o que não era fácil, na época.

Hoje em dia as comunicações são muito mais fáceis e expeditas. A eleição para Grão-Mestre de um maçom porventura não presente não é grande problema, pois facilmente com ele se comunica e se obtém a sua aceitação ou recusa. E, se qualquer percalço houver, não é grande problema a realização de nova reunião para o superar.

Atualmente é comum que a eleição do Grão-Mestre e a sua posse ocorram em datas diferentes, e até com algum desfasamento temporal. Na GLLP/GLRP, em regra entre a eleição do Grão-Mestre e a sua posse decorrem cerca de três meses, período de tempo que é aproveitado para comunicar às restantes Obediências maçónicas mutuamente reconhecidas essa eleição e a data prevista para a posse, permitindo que as demais Potências Maçónicas organizem a sua representação na cerimónia de posse.

A posse do Grão-Mestre, a exemplo do que se passa com idêntica cerimónia em relação ao Venerável Mestre da Loja, é usualmente designada por instalação. Instalação aonde? Naquilo que os maçons designam por Cadeira de Salomão. Ou seja, o Grão-Mestre, tal como o Venerável Mestre da Loja, toma assento na Cadeira de Salomão. Mais do que a peça de mobiliário física - mais ou menos bonita, trabalhada ou confortável -, o que se pretende simbolizar com esta expressão é que, quer o Grão-Mestre da Obediência, quer o Venerável Mestre da Loja, devem exercer os seus ofícios com a sensatez e a sabedoria que vulgarmente se consideram terem sido atributos do rei Salomão. É afinal isso que se espera de um dirigente. Mais do que heroísmos, grandes feitos ou ousadas realizações, essencialmente Sensatez, Sabedoria, Equilíbrio. Com o uso dessas qualidades, os trabalhos individuais e coletivos podem decorrer na desejada Harmonia.

No século XVIII, o Grão-Mestre era assistido por um Vice Grão-Mestre e dois Grandes Vigilantes. O crescimento das instituições maçónicas obrigou a uma maior complexidade da sua estrutura hoje. Além daqueles Grandes Oficiais, o Grão-Mestre designa o Grande Secretário - que zela por toda a estrutura burocrática da Grande Loja -, o Grande Tesoureiro . que assegura a administração económica e financeira -, os Grandes Inspetores - que auxiliam o Grão-Mestre na verificação, harmonia e melhoria do funcionamento das Lojas, tendo em atenção os respetivos ritos -, o Grande Correio-Mor - o responsável pela estrutura de comunicação da Grande Loja -, o Grande Hospitaleiro - que dirige e coordena a atividade de beneficência - e vários outros Grandes Oficiais responsáveis por ofícios rituais e de administração de uma estrutura com dimensão nacional de coordenação e apoio de dezenas (em Portugal), centenas (em alguns Estados do Brasil) ou milhares (em Inglaterra) de Lojas.

A Maçonaria também se carateriza por uma harmónica integração entre a Tradição e a Evolução, prosseguindo hoje essencialmente os mesmos propósitos de há trezentos anos, mas utilizando os meios atualmente disponíveis. 

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 144. 

Rui Bandeira

16 janeiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXV


Logo que o último Grão-Mestre seja novamente empossado, ou então o escolhido, deverá nomear o seu Vice Grão-Mestre, podendo ser o anterior ou um novo, o qual deverá ser declarado, saudado e empossado como acima indicado. 
O Grão-Mestre nomeará os novos Grandes Vigilantes, e se forem unanimemente aprovados pela Grande Loja, devem ser declarados, saudados e empossados como acima indicado; mas se assim não o for, devem ser escolhidos pelo voto, do mesmo modo que o Grão-Mestre; assim como os Vigilantes das Lojas também devem ser escolhidos pelo voto em cada Loja, se os seus membros também não concordarem com a nomeação feita pelo seu Mestre. 

Definidas, nas regras anteriores, as várias variantes para a designação do Grão-Mestre, esta regra postula que. logo após a sua posse, o Grão-Mestre que inicia ou reinicia o seu mandato deve designar o seu Vice Grão-Mestre e os dois Grandes Vigilantes. 

Em 1723, o Vice Grão-Mestre era livremente escolhido pelo Grão-Mestre, enquanto que os Grandes Vigilantes dependiam de proposta do Grão-Mestre, aprovada unanimemente pela Assembleia ou, no caso de não aprovação do proposto pelo Grão-Mestre, de eleição segundo o mesmo sistema que, na regra XXXIV, se postulou para Grão-Mestre: um misto de eleição e sorteio, pelo qual cada elemento da Assembleia escrevia o nome do seu preferido num papel e, reunidos todos os papeis dos votos, um deles era retirado à sorte, e assim designado para o ofício. 

Esta Regra XXXV elucida-nos ainda da determinação de que os Vigilantes das Lojas deveriam ser escolhidos pelo mesmo sistema: designação pelo Venerável Mestre da Loja e concordância unânime dos Mestres da Loja, ou então escolha através do misto de eleição e sorteio referido.

É esta última parte da Regra que se me afigura mais interessante, porque ilustra uma notável evolução organizativa da maçonaria, na transição da Maçonaria Operativa para a Especulativa. Não nos esqueçamos que a Constituição de Anderson de 1723 foi aprovada escassos seis anos após a instituição da Grande Loja de Londres e Westminster, em 1717, data convencionada para o início da Maçonaria Especulativa. É que anteriormente, em todo o tempo hoje designado como o da Maçonaria Operativa, a regra era a da absoluta independência de cada Loja em relação às restantes e a qualquer estrutura de coordenação, no que aos seus assuntos internos dizia respeito. Podia haver uniformidade ritual, critérios comuns de acesso às Lojas, de formação dos novos elementos, etc., mas a organização interna de cada Loja só a ela mesmo dizia respeito e era impensável que outra qualquer Loja ou qualquer estrutura de Lojas interferisse nela. 

A instituição da Grande Loja de Londres e Westminster em 1717, em bom rigor, não marca o fim da Maçonaria Operativa e o início da Maçonaria Especulativa. Essa data é apenas uma data de transição convencionada. O processo de evolução, de transformação da Maçonaria Operativa para a moderna Maçonaria Especulativa processou-se ao longo de mais de um século - naturalmente, com avanços e recuos, com saltos qualitativos inesperados, com transições não previstas, sem planificação, enfim, como todos os processos sociais naturalmente ocorrem. O que a instituição da Grande Loja de Londres e Westminster em 1717 marca é algo de diferente: a transferência do centro do poder organizativo das Lojas para a Grande Loja, a substituição da atomização pela coordenação, o enquadramento da livre diferença com possibilidades de anárquico afastamento de conceitos, práticas, posturas, através de introdução de normas organizativas tendencialmente uniformizadoras, não obstante respeitadoras do espaço essencial de liberdade e diferenciação das Lojas, mas procurando-se o controle das forças centrífugas.

Com a introdução da Grande Loja de Londres e Westminster, a Maçonaria entrou num período - de que verdadeiramente ainda não saiu - de busca de equilíbrio entre a independência e liberdade das Lojas e de sujeição à coordenação de uma estrutura superior que as enquadra e agrega.  

Com a regra XXXV da Constituição de Anderson de 1723, os Vigilantes das Lojas deixaram de ser nomeados como cada Loja entendesse dever nomeá-los. Porventura aqui seriam designados pelo Venerável, ali eleitos pelo conjunto de Mestres, acolá escolhidos através de um qualquer outro sistema intermédio. Com aquela Regra, ficou determinado que todos eram designados pela forma ali constante. Com a criação da Grande Loja de Londres e Westminster e a Constituição de Anderson, concretizava-se uma transferência parcial de soberania das Lojas para a Grande Loja, de que esta Regra era um dos indicadores.

Hoje em dia, mais do que falarmos de diferenças de organização ou de métodos entre Lojas, falamos de diferenças entre Obediências. A prática instituída em cada Obediência tende a ser uniformizada em todas as Lojas da mesma. É assim que a designação dos Oficiais de Loja pode variar entre a simples escolha pelo Venerável Mestre, a proposta por ele e a eleição em Loja ou a eleição pelo coletivo, consoante se instituiu em cada Obediência. Na GLLP/GLRP, o Tesoureiro da Loja é, tal como o Venerável Mestre, eleito pelos Mestres da Loja, em escrutínio secreto e eleição por voto maioritário. Os demais Oficiais do Quadro da Loja - incluindo os Vigilantes - são livremente escolhidos pelo Venerável Mestre eleito.

Esta uniformização, porém, não exclui e saudável existência de práticas diferentes pelas diversas Lojas, algumas vindo a adquirir a natureza de integrantes da Tradição da Loja, do seu ADN, tão importantes para aquela Loja como o estrito cumprimento do regulamentado. Por exemplo, é comum e banal que haja candidaturas concorrentes ao ofício de Venerável Mestre. Isso é, no entanto, embora possível, impensável na Loja Mestre Affonso Domingues, por ser inerente à sua própria identidade a ausência dessa pugna eleitoral, a assunção do princípio de que, salvo circunstancionalismo especial - sempre suscetível de ocorrer e que já ocorreu -, em cada ano o Primeiro Vigilante do ano anterior é eleito Venerável Mestre e designa como seu Primeiro Vigilante o Segundo Vigilante do ano anterior. É um princípio da Loja tão arreigado que, mais do que isso, a candidatura  a Venerável Mestre do Primeiro Vigilante do ano anterior é apresentada por todos os Mestres presentes na sessão de Loja em que tal formalidade deva ser realizada. E as (poucas) exceções a esta regra não escrita mas escrupulosamente cumprida são registadas e por todos vistas como isso mesmo: exceções, anormalidades, curiosidades a registar, não exemplos a seguir. E esta opção moldou indubitavelmente o espírito da Loja Mestre Affonso Domingues, é uma das suas caraterísticas quase que intrínsecas, evitando que se perca tempo e energias em confrontos entre obreiros da Loja e estando todos cientes de que, a cada um querendo, trabalhando, persistindo, o seu tempo de dirigir a Loja como seu Venerável Mestre chegará, com a mesma naturalidade com que, um ano depois, chegará a altura de ceder o exercício do ofício a outro, que se preparou durante um ano para o exercer o melhor possível...

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 144. 

Rui Bandeira

09 janeiro 2013

Regras Gerais dos Maçons de 1723 - XXXIV


Mas se a nomeação não for unanimemente aprovada, o Grão-Mestre deve ser imediatamente escolhido através do voto. Todos os Mestres e Vigilantes escreverão o nome de seu escolhido, bem assim como o Grão-Mestre. E o nome que o Grão-Mestre primeiro retirar, casual ou aleatoriamente, será o Grão-Mestre no ano seguinte. Se este estiver presente, deverá ser proclamado e saudado como acima indicado, e consequentemente empossado pelo último Grão-Mestre de acordo com o Costume. 

Esta Regra XXXIV permite-nos perceber como o conceito de "escolha pelo voto" evoluiu desde o início do século XVIII até agora. 

Relembremos que o século XVIII - muitas vezes referido pelo "século das Luzes", aquele em que triunfou o Iluminismo - foi um tempo de transição da aquisição do conhecimento pela via escolástica para a obtenção do saber pela via da Razão. Anteriormente, a "verdade" tinha origem divina e era revelada pelas Escrituras e pelos "doutores" que as interpretavam. Galileu necessitou, para evitar a tortura e, quiçá, a morte na fogueira, de abjurar a sua descoberta de que era a Terra que se movia em torno do Sol e não o contrário, como escolasticamente estava "estabelecido". Na esteira de Descartes e de Spinoza, de Immanuel Kant, de Rousseau, dos enciclopedistas e dos filósofos ingleses, a sociedade europeia recomeçou a caminhada que interrompera após a Antiguidade Clássica (e breve e localizadamente retomara no tempo do Al-Andaluz islâmico) no sentido da primazia da Razão e do triunfo da Ciência Experimental.

Este percurso teve inevitáveis reflexos na organização social. Com a primazia da Razão, decaiu o Direito Divino de governar em que se baseava a organização política monárquica, retomou-se a noção de Democracia, criada nas cidades-Estado gregas da Antiguidade, particularmente na brilhante Atenas de Sólon e Péricles e dos grandes pensadores Aristóteles, Sócrates e Platão - que a origem do Poder não era divina, mas residia no Povo.

Mas no início do século XVIII ainda o velho e o novo se digladiavam, se misturavam, mutuamente se influenciavam. Entre o direito divino de governar, o Poder "pela escolha de Deus", e o Poder originário do Povo muitas mentes se interrogavam, muitas inclinações se balançavam, muitos avanços e retrocessos existiam. Como em tudo na realidade na vida, não houve uma fronteira, um momento definido em que, como que por artes mágicas, o novo conceito substituísse o antigo. Ambos coexistiam, primeiro o antigo sobrepondo-se ao novo, depois havendo uma equivalência e, progressivamente, o novo ganhando vantagem e paulatinamente destronando o antigo - e neste processo, coexistindo, influenciando-se mutuamente, surgindo inesperados híbridos entre o antigo e o novo, como só a fantástica imaginação humana é capaz de produzir.

Esta Regra XXXIV precisamente constitui um desses híbridos!

Recorde-se, antes do mais, os antecedentes: (1) em reunião privada, os representantes das Lojas deliberavam sobre a continuidade do Grão-Mestre em funções, deliberação esta que tinha de assentar na unanimidade; (2) na hipótese afirmativa e ocorrendo aceitação do Grão-Mestre em funções, estava o assunto encerrado; (3) não havendo unanimidade quanto à continuidade do Grão-Mestre em funções ou não aceitando este a sua continuidade, o Grão-Mestre em funções nomeava, propunha, um sucessor; (4) sendo o proposto aprovado por unanimidade, ficava a questão resolvida; (5) não havendo aprovação unânime do proposto, então aplicava-se a Regra XXXIV.

E em que consiste a regra XXXIV? Na escolha do novo Grão-Mestre pelo voto. Aparentemente, a utilização do método democrático como hoje o concebemos. Mas, na realidade, não exatamente assim.

É que hoje concebemos a escolha pelo voto como a escolha resultante da maioria dos votos expressos, um critério objetivo, em que a aleatoriedade não tem lugar.

Mas o sistema indicado na regra XXXIV contém um elemento de decisiva aleatoriedade, algo perturbadora para as nossas conceções modernas: o escolhido não era o que tinha maior votos - era aquele que era sorteado de entre todos os votos expressos! 

Se é verdade que se, num universo de, digamos, 100 votantes, 99 votarem em João e 1 em José, as probabilidades de ser sorteado como vencedor João é esmagadora, o certo é que pode suceder que seja o único e solitário voto em José que é, "casual ou aleatoriamente", o retirado. E se, dos 100, 60 tiverem escolhido João e 40 José, embora haja mais probabilidades de João ser o sorteado, são muito significativas as probabilidades de sair José...

No entanto, a Regra enfaticamente afirma que "o Grão-Mestre deve ser imediatamente escolhido através do voto"...

Este é um evidente produto híbrido das duas conceções então ainda em luta: o dirigente, o líder, aquele que exerce o Poder, resulta da decisão divina ou provém da escolha humana. 

Os maçons do início do século XVIII não acreditavam já (ou não acreditavam maioritariamente) na conceção da designação por direito divino; mas, inclinando-se para a Modernidade, para a escolha pelo Povo, pelo universo de votantes, pela conceção democrática do Poder, ainda não estavam em condições de utilizar exclusivamente esta (ou ainda tinham no seu seio um número não negligenciável de seguidores do "pensamento antigo") e de deixar a escolha totalmente à decisão maioritária.

Daí a solução híbrida: cada um expressava a sua vontade, sendo expectável que a maioria das vontades expressas viesse a redundar na escolha; mas deixando intervir um decisivo elemento de aleatoriedade através do sorteio entre os votos expressos... A aleatoriedade introduzida correspondia, afinal, ao fator da intervenção divina: se Deus, o Grande Arquiteto do Universo, entendesse que a escolha da maioria dos votantes era errada e não deveria subsistir, então a sua Divina Vontade faria com que a Fortuna levasse a que fosse sorteado o nome daquele que deveria exercer a função!

Este curioso híbrido, esta engenhosa mistura entre a designação por direito divino e a escolha por decisão do universo de votantes, espelha que se estava numa fase de transição entre duas conceções civilizacionais da organização social. É um sistema curioso, engenhoso e que não encontrei em mais nenhum lado, em mais nenhuma instituição, em mais nenhum outro tempo. É uma solução que foi um típico produto de uma época concreta e das específicas condições existentes.

E, vista a cerca de trezentos anos de distância, tem a virtude de nos dar dois alertas: (1) a Maçonaria, prezando a Tradição, não se deve deixar envolver pelo Imobilismo; o que é antigo deve ser preservado, mas deve sê-lo na exata medida e com as alterações que se impuserem, em face da evolução da Sociedade, dos tempos, das conceções morais e sociais; (2) devemos sempre procurar estar em sintonia com o tempo em que estamos, atentos às evoluções, mas nem mantendo o Antigo só por manter, nem o trocando de ânimo leve pelo que se apresenta como novo, sem sabermos se é realmente novo e, sobretudo, se é acertado e adequado; o Antigo tanto pode apodrecer, como manter, preservar e aumentar de Qualidade; o Novo pode ser evolução - e deve então ser bem-vindo - como pode ser mera aparência desta mas real involução ou simples irrelevância - e nesse caso deve ser descartado e recusado; o Novo de hoje pode substituir o Antigo de ontem, pode fundir-se com o Antigo e transformá-lo ou, pura e simplesmente, pode não ter virtualidade em face do Antigo, experimentado e estabelecido. 

Como em tudo na Vida, impõe-se usar o Bom Senso - uma Virtude que o Criador nos concedeu mas que cabe a nós Humanos efetivamente praticar e usar, sem receio, neste caso, de abusar!

Fonte:

Constituição de Anderson, 1723, Introdução, Comentário e Notas de Cipriano de Oliveira, Edições Cosmos, 2011, página 144. 


Rui Bandeira

03 janeiro 2013

Pelos olhos dos meus irmãos



Os três rapazes olhavam alternadamente, de soslaio, uns para os outros, depois para os próprios sapatos, para os dedos das mãos, e para as paredes do quarto, sem saber o que dizer mais. Todos estudantes, partilhavam um apartamento próximo da faculdade que frequentavam - os três, e mais o Sandro. Este último não estava presente - e era dele que se falava, sem se chegar a nenhuma conclusão pois, se todos sabiam o que quereriam dizer-lhe, não faziam ideia de como dizê-lo. 

O Sandro, sempre despistado, parecia viver noutro mundo, sempre ruminando um cigarro de enrolar - quantas vezes apagado. Desleixado consigo mesmo, fazia a barba de quando em quando, para logo a deixar crescer - não por ato de vontade, mas por inércia ou desleixo. Mas o pior era o cheiro: quer ele quer o seu quarto empestavam todo o apartamento com um misto de suor e tabaco frios com roupa de cama usada semanas a fio, tudo agravado pela absoluta ausência de desodorizante.

Se o Sandro fosse um pulha, um inútil, um egoísta, seria fácil dizer-lhe cara a cara que deixasse de ser porco, ou que o queriam dali para fora. Mas não era assim. Excelente aluno - apesar de sempre distraído, parecia que sorvia o conhecimento do ar - era-lhe reconhecida a enorme disponibilidade - e mesmo entusiasmo - para explicar, a qualquer colega que lho pedisse, os pontos mais densos da matéria, e isto até que este de facto a apreendesse. Por tudo isto, e por muito mais, todos tinham o Sandro por um tipo às direitas a quem nenhum deles queria melindrar. Mas a "tal questão" tinha, forçosamente, que ser abordada.

As indiretas não pareciam fazer efeito: "Então, Sandro, que te aconteceu? Estás todo transpirado! Toma um duche, que te ficas a sentir melhor..." "Deixa estar, estou a apanhar aqui um ventinho à janela e já seca..." Chegaram a fazer um "regulamento" do apartamento, referindo que os quartos tinham que estar limpos; o Sandro apanhou as coisas que tinha espalhadas pelo chão, enfiou tudo dentro do guarda-fatos - sapatos, roupa suja, livros, enfim... - aspirou sumariamente, despejou os cinzeiros, e apareceu, todo sorridente, a dizer que do quarto dele não havia nada a apontar! Foi depois disto que se reuniram os três, sem saber o que fazer ou o que dizer, e acabaram por ficar de pensar como abordar o assunto.

O Chico lá ganhou coragem e, apanhando-se sozinho com o Sandro, foi direto à questão: que  o odor do quarto dele incomodava todos os restantes ocupantes do apartamento, e que para resolver o problema ele precisava de passar a lavar a roupa com mais regularidade, bem como de tomar banho e usar desodorizante diariamente. O Sandro ficou branco; nunca se apercebera de nada. Pouco habituado a gerir essas questões - em casa dos pais era sempre a mãe quem tratava da roupa e o mandava tomar banho quando entendia que estava a precisar - não se apercebia, sequer, do próprio odor corporal. "Eu... eu não costumo usar desodorizante... e no banho passo-me só por água e uso um pouco de sabonete... e não tenho roupa suficiente para estar a usar roupa limpa todos os dias... nem tenho onde a lavar cá... só quando vou a casa, e muitos fins de semana tenho que ficar cá..."

Foi a vez do Chico ficar atrapalhado, mas por pouco tempo. Prometendo manter a questão entre os dois, colocou à disposição do Sandro o seu champô e uma lata de desodorizante, emprestou-lhe toalhas lavadas e uma muda de roupa, passou a levar para casa dos seus próprios pais a roupa do Sandro sempre que este não podia ir a casa dos seus. Além disso, assim como quem não quer a coisa, foi-lhe deixando de uma vez umas cuecas ("ficam-me apertadas mas na loja não aceitam trocas de roupa interior"), de outra umas camisolas interiores ("a minha avó mandou-me tantas que não me cabem na gaveta") e ia zelando por que nunca faltassem os produtos de higiene pessoal.

A vergonha inicial (de um e de outro...) fora difícil de superar mas, tendo tomado consciência do problema, o Sandro endereçou-o o melhor que sabia. O quarto - se bem que desarrumado - já não cheirava a nada de diferente dos restantes, pois até passara a fumar na varanda. Fez algumas economias, e comprou roupa em quantidade suficiente para que nunca lhe faltasse uma muda de roupa limpa, e deixou de precisar de recorrer à boa vontade do amigo. Ao fim de umas semanas parecia outra pessoa, para grande estupefação dos outros dois, que não perceberam de onde tinha vindo a mudança. O Chico, satisfeito com os resultados, nunca mais tocou no assunto, e o Sandro ficou-lhe para sempre reconhecido - por isso, e por todo o resto.

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Não há homens perfeitos, e os que se esforçam por ser melhores e se aperfeiçoar só conseguem fazê-lo sozinhos até certo ponto. É certo que o caminho é o de cada um, e o paradigma de perfeição aquele que cada um tenha estipulado para si mesmo. Cada homem é senhor do seu destino, pelo que não é legítimo que um imponha a outro os seus próprios padrões de perfeição interior. Isso não significa, contudo, que não haja mérito na interação com os demais. Pelo contrário. É que, se há limitação que nos caracteriza a esse nível,  é a impossibilidade de nos vermos a nós mesmos como os outros nos vêem; incapazes de apreciar, quantas vezes, os nossos próprios defeitos, não nos apercebemos da sua natureza, da sua dimensão, ou até da sua mera existência.

Poder contar com alguém que, fraternalmente, no-los faça notar - especialmente quando se trate de questões íntimas, melindrosas, ou de difícil abordagem - é, nestas circunstâncias, de enorme valia. Ter a certeza de que essa ajuda é desinteressada, construtiva e bem intencionada é essencial para que seja tida na devida conta. E é assim entre os maçons: cada um procurando tornar-se melhor sabendo que esse aperfeiçoamento é um trabalho individual cujos parâmetros cabe a cada um definir, mas ao mesmo tempo disponível para ajudar os irmãos e para aceitar a sua ajuda naquilo que não é capaz de atingir por si mesmo.

Já a sabedoria para discernir em que circunstâncias se deve oferecer a mão, e em que circunstâncias se deve guardar silêncio em respeito por uma opção diferente da nossa, é algo que só se vai aprendendo com o passar do tempo...

Paulo M.