01 junho 2014

O MUNDO DA CAROLINA


É Domingo, 1 de Junho, e algo se passa na Covilhã.
Há cerca de 5 meses a memória de uma menina deu origem à criação de uma nova Associação cujo objetivo é ajudar.
Ajudar quem precisa de ajuda, ajudar quem, sem querer e sem culpa, se vê a braços com alguma doença daquelas que não deixam dúvidas quanto ao fim a que destinam os que lhes caem nas garras.
Esta associação de que Vos falo hoje é a Associação “O Mundo da Carolina”.
A Carolina foi uma menina que viveu 8 anos, 8 anos apenas.
Apenas 8 anos que no entanto foram suficientes para deixar aos crescidos, com muitas dezenas de anos, um legado de Amor suficiente para provocar esta onda solidária que hoje tem um dos seus momentos mais importantes com a inauguração de um parque para crianças e com o lançamento público do livro que a Carolina, com apenas 8 anos (!), nos deixou em herança.
Um livro de histórias e desenhos, que a Carolina escreveu e desenhou durante o tempo em que ficou hospitalizada no Hospital Pediátrico de Coimbra.
Legado extraordinário, felizmente agora posto ao serviço das outras crianças que, como ela, se vêm envolvidas na injustiça do sofrimento.
Os Pais da Carolina, os Colegas, as Professoras, muitos Amigos, juntaram-se e 5 meses após a criação da Associação sem fins lucrativos “O Mundo da Carolina”, eis que hoje na Covilhã, cidade onde nasceu e viveu enquanto pôde, é feito o lançamento do livro que traz a todos nós  aquilo que foi o Seu mundo, histórias de Amor e Ternura que a sua jovem e inocente imaginação foi capaz de inventar para entretenimento dos dias em que não pôde saltar e brincar como a maioria dos seus coleguinhas.
Deixo-Vos este testemunho e um desafio.
Quis o acaso (será o acaso ?) que tenha podido falar ontem, Sábado, com uma das pessoas que a acompanhou até ao fim no hospital em Coimbra, e mesmo sendo uma profissional da saúde (…ou da doença ?), habituada e habilitada a muitas situações de grande constrangimento, ainda recordou a Carolina que acompanhou há mais de um ano.
A que não hesitem em visitar o sítio   www.omundodacarolina.pt assim como Vos desafio a encomendar um livro através do endereço  geral@omundodacarolina.pt  (10 euros) com as histórias e poemas que a Carolina nos deixou.
Toda a receita reverte para apoio a quem necessita e isso não se nega nem se esquece.
Bem hajas Carolina, estejas onde estiveres os teus Amigos não te esquecem e mantêm a Tua memória.


J.P.Setúbal

30 maio 2014

O Silêncio e o Verbo! – Parte -1

O Silêncio e o Verbo!

Gênesis 1:1 No princípio criou Deus os céus e a terra.
Gênesis 1:2 A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas.
(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

No princípio …
No princípio da criação, tendo em conta os livros sagrados, nada existia com forma, nada havia para além do vazio.

Tínhamos apenas o espaço vazio, o caos, o vácuo, o espaço sem direção (sem Sul, sem Norte, sem Oriente, sem Ocidente, sem Zénite e sem Nadir, ou seja, sem a verdadeira dimensão de universalidade, até porque nada existia com forma).

Assim se nada existia, com forma, também o Verbo não podia descrever essa mesma ausência de forma, porque também ele não existia, o que fazia que não existindo o Verbo (a palavra), também o Silêncio não existia, pois o Silêncio é, ou pode ser:

(…) a ausência total ou relativa de sons audíveis. Por analogia, o termo também se refere a qualquer ausência de comunicação, ainda que por meios diferentes da fala.
(Fonte: Wikipédia)

Ou seja, se a comunicação é o Verbo e o Verbo aquilo que permite a existência da comunicação é também a existência do Verbo que leva à existência do Silêncio e se o Verbo não existia, também o Silêncio não existia.

Gênesis 1:3 Disse Deus: haja luz. E houve luz.
Gênesis 1:8 Chamou Deus ao firmamento céu. E foi a tarde e a manhã, o dia segundo.
Gênesis 1:29 Disse-lhes mais:
Eis que vos tenho dado todas as ervas que produzem semente, as quais se acham sobre a face de toda a terra, bem como todas as árvores em que há fruto que dê semente; ser-vos-ão para mantimento.

(Fonte: A Bíblia Sagrada – Génesis – A criação do Mundo)

“E disse Deus…”
“Chamou Deus…”
“Disse-lhes mais…”


Ou seja o Grande Arquiteto Do Universo quebrou o vazio, desfez a ausência de forma, preencheu o vazio, organizou o caos, deu direção ao espaço, criando assim o Sul, o Norte, o Oriente, o Ocidente, o Zénite e o Nadir, ou seja, deu dimensão ao conceito de Universalidade, através do uso do Verbo, isto é, o Grande Arquiteto Do Universo criou com o uso do Verbo, quebrando e gerando assim, em simultâneo, o próprio Silêncio.

No seu ato final, a criação do Homem, o Grande Arquiteto Do Universo, teve de comunicar diretamente a fim de gerar um EU e um TU, isto é, não quebrar apenas o Silêncio, usando o Verbo, mas dirigir esse Verbo a alguém, “Ele” tinha de ser ouvido.

1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava junto de Deus e o Verbo era Deus.
2. Ele estava no princípio junto de Deus.
3. Tudo foi feito por ele, e sem ele nada foi feito.
4. Nele havia a vida, e a vida era a luz dos homens.
5. A luz resplandece nas trevas, e as trevas não a compreenderam
(…)
8. Não era ele a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9. [O Verbo] era a verdadeira luz que, vindo ao mundo, ilumina todo homem
(Fonte: A Bíblia Sagrada - O Evangelho Segundo S. João)

Assim perante o poder da criação, declarado pela utilização do Verbo e diante da grandeza do “Real”, que é sábia na utilização deste, comecei a entender melhor o porquê do “SILÊNCIO” .

Era demasiada a ambição e até descabida, alguém como eu, que começara a apreender a utilizar as ferramentas base, na construção do seu próprio Templo, querer ter logo de início o poder de criar, isto mesmo sem mais nada saber!

Será que não está mais que provado que o uso inadequado do Verbo tem sido a principal causa de conflitos e de destruição desde do princípio dos tempos?

Não seria desta forma uma atitude totalmente descabida e tendencialmente fratricida passar tal arma e poder para as mãos de quem ainda não estava preparado?

Hoje estou certo que sim!
Mas afinal onde estava eu nessa altura com essa ambição tão desmedida e descabida?
Querer criar, sem primeiro entender como o fazer!

Estava afinal ainda ligado a um cordão umbilical profano, estava ainda ligado a uma corrente de vida profana, da qual não tinha sido capaz de me desligar aquando da minha descida ao centro da terra, afinal não tinha sido capaz de visitar o meu interior e rectificar-me, largado os conceitos e preconceitos profanos, dos quais havia prometido livrar-me!

Alexandre T.

28 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto do candidato José Manuel Pereira da Silva


Conforme prometido e em cumprimento do princípio da igualdade de tratamento das candidaturas, que livremente assumimos neste blogue, divulga-se hoje o manifesto de candidatura do candidato José Manuel Pereira da Silva, também publicado no sítio na Internet da sua candidatura, de acesso livre, em http://jmpereiradasilva.wordpress.com/.

Carta aos M. Q. I. da GLLP/GLRP em que se explicam as razões duma candidatura ao cargo de Grão Mestre

Vivemos, nestes dias, um período que se espera de profunda reflexão para todos os M:.M:. que reúnem a qualidade para, no dia 21 de junho, decidir sobre qual o seu par a ser investido nas funções de Grão-Mestre da Obediência.

Se falo de reflexão e de decisão individual é porque me recuso a ver, neste processo, uma “campanha eleitoral”, uma “disputa entre candidatos” ou outra qualquer coisa que se assemelhe. Não porque esses processos me sejam estranhos, tantos foram aqueles em que, na minha vida profana, participei e me envolvi com entusiasmo. Porém, não os consigo conceber no interior duma Obediência Maçónica. Por duas razões principais.

A primeira, porque entendo que, ao contrário das organizações profanas, a Maçonaria dispensa individualidades de liderança ou chefia que se afirmem como constitutivos de orientações capazes de mobilizarem um conjunto de seguidores que neles confiem. Entre nós as mais altas funções só podem resultar como emanação duma vontade coletiva. Foi por isso que a minha candidatura não nasceu da minha vontade, mas sim da vontade de várias dezenas de irmãos cuja solicitação de disponibilidade se me impôs como um dever fraterno.

A segunda, assim sendo, porque me repugna a ideia duma disputa entre pessoas que, partilhando os mesmos princípios jurados, se devem dispor à Concórdia e à Fraternidade na mais solene recusa da divergência e do antagonismo.

Candidato-me porque acredito na Maçonaria como um projeto coletivo exemplar que tem no Amor Fraterno uma fonte suficiente de legitimação do serviço que cada um é chamado a prestar.

Todos conhecemos os princípios, apesar da sua origem na antiguidade dos tempos, que fundaram a criação da Maçonaria Universal moderna. A Grande Loja é um garante de que todos partilhamos os mesmos valores, as mesmas regras e o mesmo
respeito pela Tradição com que nos afirmamos como uma via iniciática e com que nos circunscrevemos como Sociedade e Fraternidade num contributo notável ao serviço da Humanidade. Mas, é um garante perante todos e cada um, precisamente porque é dessa necessidade coletiva, tornada consciência, que ela se ergue como realidade necessária e testemunho dum querer e dum crer coletivo.

A Grande Loja é, por isso, uma emanação das Lojas e só estas detêm a soberania que se expressa nas competências do órgão máximo da nossa governação: a Assembleia de Grande Loja. E não existe outra sede de detenção dum poder efetivo. Toda a função executiva se lhe deve submeter e nenhuma autonomia que
não resulte duma clara delegação desse poder deve ser questionada e corrigida. Este é o princípio da constituição do poder entre nós que, justamente, se inscreve na Constituição e no Regulamento Geral em cumprimento dos princípios da Regularidade e da Tradição.

Tal significa que essa constituição dum poder soberano, entre nós, se inicia, propriamente, na eleição de cada VM e se completa com a eleição do Grão-Mestre. Confundir o vértice com a própria pirâmide é um erro, deliberado ou inconsciente, próprio dos que sonham com a formação de nomenklaturas que se pretendem legitimadas para o exercício dum poder que tenho dificuldade em descortinar qual possa ser, mas que não deixa de ter um impacto negativo ao criar a desagradável sensação de que as Lojas devem servir a GL e as decisões que nela se tomem mesmo que ao arrepio da sua vontade. Esta lógica inversa é negativa e cria divisões
internas, por um lado, e um progressivo alheamento da participação coletiva.

Candidato-me porque acredito que a soberania das Lojas deve tornar-se efetiva para que possamos prosseguir o nosso trabalho e irradiar com força e vigor.

Chegam-me ecos dum desconforto crescente entre os Irmãos que manifestam sentir que, entre nós, tem crescido aquilo que podemos identificar como aquela tendência de alguns que se sentem, particularmente, “iluminados” e “talhados” para o exercício de cargos e funções, ou que veem no exercício do grande oficialato uma forma de promoção e ascensão hierárquica. Como se isso pudesse ter algum sentido entre nós e como se esse exercício não seja, ainda, apenas a manifestação daquela disponibilidade que a humildade fraterna reclama para o serviço de todos. Não deixo, contudo, de reconhecer a existência de Irmãos que, por refletirem essas mesmas qualidades de disponibilidade e humildade, desenvolvidas num intenso e assíduo trabalho nas suas Lojas e pela exemplar sabedoria revelada na sua execução ritual se revelam como figuras incontornáveis e como uma mais-valia cerimonial e espiritual, constituindo um exemplo que se deve acentuar e manter.

Mas estes são já sinais dum “desvio” de que todos somos responsáveis na medida em que para ele todos temos contribuído. É, por isso, muito importante a criação dum espaço de reflexão coletiva em que possamos questionar-nos sobre a natureza e a finalidade contemporânea da Maçonaria. Considero-o como um grande, necessário e urgente debate, capaz de nos motivar e unir para os grandes desafios do futuro. Não basta reclamarmo-nos da Tradição, de nos constituirmos como uma via iniciática e simbólica se a essa reivindicação não pudermos atribuir uma significação e um sentido que ilumine a nossa pertença e a nossa escolha dum caminho que, só podendo ser transformante de cada um para se instituir como contributo universal, deve continuar a ser vivido como uma das mais surpreendentes e belas construções dos homens “livres e de bons costumes”: a Maçonaria. Porque se não clarificarmos e aprofundarmos, coletivamente, esse significado e esse sentido continuaremos a deixar que se instalem, entre nós os mal-entendidos e os epifenómenos que nos prejudicam e nos dificultam o trabalho que, iniciado no Templo, devemos continuar no mundo profano. E como esse mundo precisa hoje de nós e do nosso trabalho!

Candidato-me porque acredito que todos nos podemos reconhecer em todos, sem exceção, dando conteúdo a essa ideia primordial de que nos constituímos como Fraternidade.

Sei que os compromissos assumidos pela Grande Loja exigem uma gestão rigorosa e difícil. No entanto, sinto-me perfeitamente preparado para o exercício da função de Grão-Mestre e para enfrentar com o maior rigor essas dificuldades. Estive durante mais de uma década envolvido nessa gestão e em tempos que não foram, por certo, mais fáceis. Mas esse é um aspecto menor, quando sabemos que existem na Obediência tantos Irmãos que, em termos de preparação e qualificação nas áreas da gestão e da administração, organizacional e financeira, se situam em
patamares de excelência e cujo apoio me foi fraternamente manifestado. Será, por isso, garantida uma gestão que assegure o cumprimento dos compromissos adquiridos e que adeque o orçamento aos tempos difíceis que vivemos, limitando as despesas ao essencial, com rigor e frugalidade. Não sendo rico, tenho a vantagem de compreender a dificuldade sentida por tantos Irmãos no cumprimento das suas responsabilidades e a razão, pela qual, têm diminuído os troncos nas nossas Lojas.

Nesse sentido deveremos ser particularmente rigorosos na organização de eventos e iniciativas, garantindo que a participação de todos se possa fazer sem qualquer sacrifício material. Considero a ideia de que a iniciação é acessível apenas a uma
“elite económica” é antimaçónica e compromete, gravemente, o nosso futuro e a irradiação da Ordem. E sendo essa irradiação um dos nossos deveres constitucionais devemos pugnar para que se nos possam juntar todos os que, considerados como “livres e de bons costumes”, o queiram fazer, independentemente do seu estatuto económico e social.

Temos, por isso, que cuidar de um orçamento que se sustente na realidade suportável pelas Lojas, num período em que a crise económica se abate sobre a generalidade dos Irmãos e muitos havendo a passar por grandes dificuldades financeiras, que deverão ser objeto da nossa mais alta atenção e solidariedade.

Nesse sentido defendo que um plano anual de atividades deve basear-se na capacidade e na iniciativa das Lojas a que a GL se deve associar, promovendo-as, divulgando-as e se necessário coordenando-as. Todas as iniciativas da GL, que tenham impacto orçamental acrescido face aos compromissos atuais devem ser objeto de parecer prévio do Conselho de Veneráveis e de aprovação da Assembleia.

Candidato-me porque acredito que a nossa energia coletiva é suficiente para a resolução de qualquer problema que tenhamos que enfrentar.

A Obediência tem visto crescer o número de Lojas, sobretudo no último ano. Considerando esse crescimento como um fator positivo em si, não deixo de recear que ele possa pôr em causa o normal funcionamento de muitas Lojas, tantas são as que têm que recorrer à fraterna solidariedade e disponibilidade dos seus Mestres Auxiliares para poderem funcionar com o quórum ritual.

Defendo que o crescimento do número de Lojas deve, por isso, resultar do crescimento do efetivo de obreiros e que esse crescimento deve constituir um desafio mobilizador para os próximos anos. Mas não a todo o custo porque, infelizmente, todos sabem como a ausência de cuidado em algumas admissões se transformou num prejuízo sentido internamente e percebido no exterior.

Por outro lado, o bom trabalho das Lojas pode e deve ser aprofundado com ações de formação simbólica e ritual bem como a criação de condições para que a investigação maçónica se faça, entre nós, de forma estruturada e rigorosa. A Academia de Formação Maçónica pode e deve assumir este processo, recorrendo aos Irmãos que, tendo a necessária preparação científica, possam orientar e formar, metodologicamente, todos aqueles que mostrarem essa disponibilidade e gosto pelo estudo e pela investigação: a construção de uma atividade de investigação em teoria e história da Maçonaria, de uma verdadeira maçonologia, seria um notável contributo da GLLP/GLRP para a cultura maçónica universal. Temos obreiros com capacidade e vontade para isso. Garantir condições de trabalho e de divulgação está ao alcance da GL e deve ser tomada como uma prioridade. Tanto mais quanto esta é, exatamente, o tipo de atividade que nos pode prestigiar externamente e contribuir para a irradiação da Ordem. As tecnologias de informação e comunicação permitem-nos, hoje, ter recursos poderosos ao serviço desses desígnios com elevada eficiência.

Também como prioridade e urgência deve ser tomado o inventário do acervo documental e testemunhal que permita a consolidação da nossa memória histórica.

Candidato-me porque acredito que, crescendo com qualidade e esclarecimento, cumprimos a nossa obrigação de via transformante, numa resposta às necessidades espirituais duma sociedade em progressiva erosão ética.

A Grande Loja está hoje comprometida, e bem, com a criação de laços de cooperação e desenvolvimento da maçonaria regular nos espaços lusófono e ibero-americano. Estaremos mesmo comprometidos com a organização, em 2015, com um grande evento como a Conferência Maçónica Interamericana. Devemos honrar os nossos compromissos e cumpri-los de forma a consolidar o nosso prestígio. Mas temos que ser realistas quanto à nossa participação e envolvimento na organização de eventos que impliquem custos que se traduzam em dificuldades orçamentais. Tenho consciência das dificuldades das Lojas e, por isso, defendo que, para além dos compromissos já assumidos, todas as iniciativas futuras devem resultar duma decisão e implicação coletiva e só depois de submetidas a parecer favorável do Conselho de Veneráveis. Penso que é numa agenda interna que devemos, para já, concentrar a nossa atenção e energia, sem prejuízo de todas as iniciativas que, a baixo custo ou sem ele, sempre podemos ir desenvolvendo no plano externo, sobretudo no  plano da lusofonia e ibérico.

Candidato-me porque considero como prioritária a consolidação dos aspetos
internos, sobretudo os orçamentais, e que só resolvidos esses podemos ter a
pretensão, no plano maçónico, duma afirmação externa.

Meus Queridos Irmãos

Estas são as principais ideias que quero partilhar convosco e com as quais justifico a minha disponibilidade para, em nome das largas dezenas de Irmãos que fraternalmente mo “exigiram”, me apresentar como candidato à função de Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Uma função para a qual, reafirmo, me sinto preparado por
um passado de entrega ao serviço da Obediência, incluindo a sua fundação.

Não vos apresento um programa porque isso, para mim, não tem qualquer significado numa organização maçónica. Não porque sobre isso não tenha ideias concretas mas, apenas, porque entendo que o “programa” da GL só pode ser aquele que as Lojas, na sua inalienável soberania, decidirem e construírem. A Grande Loja e o seu Grão-Mestre são apenas o garante da nossa Regularidade, ou
seja, do escrupuloso cumprimento da Constituição e do Regulamento Geral que decidimos adotar de acordo com a Tradição, os Usos e os Costumes da Maçonaria Universal.

Sinto-me feliz e realizado com o trabalho maçónico que desenvolvo, assiduamente desde sempre, na minha querida Loja Amor e Justiça.

Mas um Mestre tem que estar à Ordem e servir onde os Irmãos entendam que ele deve servir. Se tiver que ser, por vossa vontade, como Grão-Mestre, que assim seja com a ajuda do G:.A:.D:.U:.

José Manuel Pereira da Silva


Publicado por Rui Bandeira

23 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -3


Julgado fui, e agora novas provas tinha de passar, pois no fim de tudo a Luz eu ia poder enxergar e o meu Eu, mais íntimo, alcançar.

Às provas me dediquei, depois de as aceitar. Guiado fui e pelas várias provas passei, vento e calor sofri, mas com água no final me refresquei e dela bebi, só não esperava o amargo, que no fim senti.

Sim o amargo da “doce” frescura, pois com sede “ao pote” eu tinha ido, mas do mais importante me esquecia, que quem daquela água bebe, a ela fica ligado.

Provas superadas a Luz me foi mostrada, sim a Luz à minha frente se apresentava.
Estaria eu acordado, ou a sonhar?

Tudo aquilo à minha frente se declarava e a Luz se mostrava.
Estaria a sonhar, ou aquilo era a realidade?
Pois por um sonho já eu havia passado e com uma Luz, sonhado, que a mesma me haveria de ser dada, por alguém que eu não vislumbrava, por alguém que eu desconhecia, mas por alguém, que de mim, já algo sabia.

Recordo-me e sei, que dessa forma um dia sonhei. E dos sonhos para a realidade, algumas coisas se fazem Verdade.

Seria agora esta a minha sentença, por uma cegueira cega, de falsas parecenças, eu estava rodeado?

Seria verdade e eu estava acordado?
Verdade, mentira?
O que é a realidade?
Será que é verdade dizermos coisas, e delas garantia dar, sem que um dia as tenhamos sequer vindo a experimentar?

Que estranhos Rituais e que estranhos movimentos, eu tinha acabado de fazer, que se passava afinal, em todos aqueles novos momentos?

Nada!
Nada e tudo, ou, quase tudo e nada!
Assim eu, naquele momento, pensava.

Da realidade para a ficção, existia, naquele momento, uma parte que se confirmava e a outra não.

Aquilo era tudo e era nada, daquilo, que eu, havia imaginado, aquilo não era nada, de tudo o que eu afinal, julgava um dia ter dominado.

A verdade, é que por tudo, e devido a tudo, o que eu havia imaginado,
Em outra realidade, agora, o tal momento, e a viagem, se tinham tornado!

Não em realidade, ou verdade, do que antes, tinha sido escrito e ou falado, mas a minha, e tão-somente a minha!

Sim! - A minha realidade!
A realidade do momento, que então eu, antes, tanto havia ansiado.
A realidade, não só da minha mente, mas a realidade do que, no momento, verdadeiramente sentia.

Aquela era a realidade, que um dia alguém me tinha dito, sim que me tinha dito, e eu não acreditara, que somente minha seria, e tão-somente minha, aquela nova realidade, se as barreiras, que se me apresentariam, passasse com a verdade.

Agora compreendia o Segredo, do meu mais íntimo e do meu “Ser”.

Afinal o Segredo, o tal Grande Segredo, não era nenhum Segredo, era apenas algo que só a mim dizia respeito, algo que só eu podia entender, por isso o Segredo, nada tinha de Secreto, mas sim, como um dia já ouvira dizer, ele era apenas Discreto.

Por isso só para mim, ele se tinha revelado e por isso mesmo, e de forma alguma, devia, agora, ele, de ser, aos outros, contado.

E assim terminei esta minha viagem e ao destino consegui chegar, pois nela, tal como na vida, tudo de mim tinha dado e agora para começar um novo caminho eu estava preparado.

Se este novo caminho o vou conseguir fazer, só de mim depende, certo eu estou que de o meu melhor eu vou dar, para a perfeição tentar atingir e a Verdadeira Luz receber.

Nota Final: E assim acabou o sossego de uma vida acomodada, de uma vida cheia de certezas e conceitos, ou preconceitos, enraizados, a viagem, naquele dia iniciada, bem essa ainda muito (espero) falta para estar terminada.

Alexandre T.

21 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: manifesto do candidato Júlio Meirinhos


Numa eleição personalizada, como é a eleição para Grão-Mestre, as pessoas dos candidatos são obviamente o mais importante. Mas os respetivos propósitos e projetos também são, claramente, relevantes para uma escolha consciente. Ambos os candidatos, naturalmente, divulgaram documentos com as respetivas propostas. Embora de interesse fundamentalmente para o universo dos eleitores, os Mestres Maçons da GLLP/GLRP, não existe qualquer inconveniente na sua acessibilidade aos interessados em geral. Aliás, isso mesmo entendeu o candidato Júlio Meirinhos, que o publicou no sítio na Internet da sua candidatura, de acesso livre em http://www.juliomeirinhos.pt

Publica-se hoje aqui, na íntegra, o manifesto apresentado por Júlio Meirinhos. Na próxima semana idêntico procedimento se fará em relação ao manifesto do outro candidato.


Meus Irmãos,
Em todos os vossos Graus e Qualidades
,

Consciente do meu papel enquanto maçom, dos meus deveres, do desejo de contribuir para uma Maçonaria mais atuante, optei por candidatar-me à função de Grão-Mestre, no intuito de servir, trabalhar, ao serviço da nossa Causa.

Assim e também em resposta aos inúmeros apelos que recebi de Irmãos de todo o país e de Lojas extra territoriais, decidi candidatar-me ao cargo de Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Apresento-me, aos meus Irmãos, como sempre estive na nossa Augusta Ordem em todas as funções que desempenhei, tendo por base os valores da solidariedade e fraternidade.

Sempre à Ordem!

Com uma permanente e total disponibilidade para servir a nossa organização, em todas as circunstâncias em que seja importante representá-la, a bem da Maçonaria Regular, da que fala português e da Maçonaria universal.

Apresento-me em nome do modelo de governação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP que privilegia a boa relação com todas as potências maçónicas regulares mundiais que primam pela preparação, estabilidade e continuidade das suas lideranças, a bem da regularidade maçónica, designadamente a concertação das Obediências europeias e as de língua portuguesa.

Apresento-me ao serviço de uma estratégia a longo prazo, o único registo que, em Maçonaria, faz sentido.

Apresento-me com a convicção de poder vir a ser o garante da unidade, da pluralidade e da diversidade.

Apresento-me no entendimento de ser capaz de continuar o nosso crescimento qualitativo, quantitativo e territorial assim como de pugnar pela integração, no nosso seio, de maçons oriundos de outras obediências e de todos os ritos regulares.

Apresento-me na convicção de poder contribuir para reforçar a credibilidade internacional da nossa Obediência.

Apresento-me com o intuito de ser capaz de dar continuidade a tudo aquilo que de bom foi feito, e é muito, e de melhorar tudo aquilo em que podemos evoluir, aberto às sugestões de todos, integrando os sentimentos coletivos.

Meus Irmãos,
Em todos os vossos Graus e Qualidades
,

Para o efeito, quero assumir alguns compromissos. Só assim sei estar na vida e, logo, na nossa organização.

Comigo, há lugar para todos os que trabalham a bem da Ordem, valorizando as propostas e atitudes que servem a sua Loja ou a nossa Obediência, atentos ao impacto negativo de eventuais manipulações ou desvios.

Regularidade

As nossas regras são imutáveis. E o seu cumprimento é o primeiro dever de um Maçom.

Logo, por maioria de razão, um Grão-Mestre deve cumprir e fazer cumprir a estrita observância da Regularidade Maçónica, dos Landmarks, da Constituição, dos Regulamentos, dos Rituais e dos nossos valores.

Infelizmente, alguns Irmãos, por vezes, esquecem-se desse dever. Individualmente ou em projetos que, de maçónicos, pouco têm; e que prejudicam a nossa imagem.
Em conjunto, teremos de saber preservar os nossos valores e erradicar, do nosso seio, comportamentos que nos afetaram negativamente no passado e lesam no presente.

Respeitarei, naturalmente, todos os Ritos Maçónicos que são praticados na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Harmonia

Defenderei intransigentemente a Harmonia, a Paz e a Concórdia no seio da nossa Augusta Ordem. Não admitirei, no nosso seio, comportamentos que violem esses valores.

Quero estabelecer com os Altos Graus uma parceria e um diálogo permanente de aprofundamento do nosso trabalho conjunto.

Quero contar com o contributo dos Past Grão-Mestres para o nosso trabalho maçónico.

Governação Participada e Colegial

A governação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é, cada vez mais, delicada e complexa em termos administrativos e financeiros, em razão do seu enorme crescimento, qualitativo e quantitativo, dos compromissos financeiros existentes e de tudo o que a sua gestão já implica.

Não podemos regredir ao amadorismo e temos, ao invés, de aprofundar a eficiência do seu modelo de gestão e governação.

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é uma Obediência. E não deve ser confundida, na sua prática interna, com organizações de qualquer outro tipo. O Grão-Mestre tem os poderes constantes da sua Constituição e Regulamentos.

Quero uma governação participada. É esse o modelo que vou implementar.

Quero uma Grande Loja complementar ao trabalho das Lojas.

Quero ouvir os meus Irmãos em todos os seus Graus e Qualidades.

Quero reunir o Conselho de Veneráveis.

Quero instalações de Veneráveis, participadas e descentralizadas, em que estarei disponível para acordar a forma de o fazer.

Quero uma gestão administrativa e financeira cada vez mais eficiente.

Relações Institucionais

A nível nacional, assumo o compromisso de manter um relacionamento sadio com as autoridades civis e religiosas.

A nível local e regional, procurarei, em articulação com os Veneráveis Mestres e colhendo previamente a sua opinião, no estrito respeito da autonomia de cada Loja, estimular o relacionamento com os diferentes poderes religiosos e civis.

Sede e Templos

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é hoje a grande potência maçónica portuguesa.

Está implantada em todo o território continental e possui inúmeras Lojas nas Regiões Autónomas e no estrangeiro. Cresceu em qualidade e quantidade. É a maçonaria regular portuguesa.

A sua Sede Nacional e os seus Templos devem ser, nos próximos anos, adequados a este crescimento qualitativo e quantitativo.

A aquisição de uma nova sede para a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, na capital do país, em Telheiras, foi um marco para a nossa organização. Vamos melhorar as suas funcionalidades e utilização.

Similarmente, vamos consolidar a nossa presença, com templos, em todo o país. O Porto é uma prioridade, mas vamos lutar para que todos os distritos tenham espaços condignos e bem localizados.

Esta área será uma das minhas prioridades. A excelente gestão financeira que temos tido, que não vai sofrer desvios, permite afirmar este objetivo.

Relações Internacionais

Nas relações internacionais, tal como na maçonaria em geral, a opção é a de manter o rumo e consolidar o trabalho que tem vindo a ser feito ao longo dos anos.
A nossa aposta estratégica assenta na relação com as maçonarias regulares dos países de língua portuguesa em paralelo com a manutenção da ligação ao eixo Atlântico, valorizando o nosso posicionamento de centralidade entre a Europa, a América e a África.

Assim sendo, procurarei reforçar a relação com as principais potências maçónicas, com particular incidência com os países Ibero‐americanos e com os países lusófonos e, em especial, com as potências regulares brasileiras e a Grande Loja de Moçambique assim como com os Triângulos e Lojas a trabalharem no espaço lusófono.

Daremos uma particular importância à organização da Conferência Maçónica Interamericana CMI, a realizar em Lisboa, em 2015, que, à luz do que fizemos em 1996, Reunião Mundial de Grão-Mestres, será um momento de consolidação da nossa Grande Loja. Paralelamente, iremos igualmente organizar a Reunião Internacional dos Grandes Secretários e a Reunião da Confederação Maçónica de Língua Portuguesa, dando assim continuidade a todo o trabalho já efetuado, assumindo de novo a responsabilidade de coordenação e realização de todos estes grandes eventos.

Reforçarei a continuidade das Cimeiras Ibéricas, pelo crescente incremento da participação na CMI e na organização que congrega a Maçonaria Regular Lusófona.

Consolidação da nossa Grande Loja

Darei continuidade a tudo aquilo que reputo de bom e considero bem feito e estarei disponível para integrar e implementar todas as sugestões de melhoria ou de evolução.

A consolidação da nossa Augusta Ordem, em múltiplas vertentes e áreas, continuará a ser o grande desígnio do meu mandato.

Quero apoiar as apostas das Lojas, em prol da filantropia e do apoio aos Maçons, designadamente através da continuidade dos trabalhos em curso, na criação de um seguro de saúde, no apoio aos mais idosos, na promoção de bolsas de estudo, na preparação de programas de estágios e na instituição de ações de solidariedade social.

Quero reforçar a capitalização do nosso Fundo de Solidariedade.

Quero valorizar, ainda mais, a nossa imagem social e solidária bem como os nossos laços de amizade e fraternidade através do incentivo e apoio às iniciativas das Lojas que potenciem esses desígnios e envolvam as nossas famílias.

Vou incentivar a nossa implantação em todo o território nacional. Vou continuar a promover o crescimento de Obreiros e de Lojas.

Quero facilitar a adoção do uso das tecnologias informação e comunicação e a utilização do nosso site enquanto principal instrumento de comunicação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Quero criar uma revista maçónica digital.

Quero consolidar o funcionamento descentralizado e digital da Academia de Formação aprofundando as suas valências maçónicas e profanas.

Quero trabalhar na elaboração da história da Maçonaria Regular portuguesa.
Meus Irmãos,
Em todos os vossos Graus e Qualidades
,

Estes meus compromissos pressupõem uma atenção constante às iniciativas de tudo aquilo que possamos desenvolver em conjunto. Daí que esteja interessado em enriquecer a minha atuação de Grão‐Mestre, integrando as ideias deste manifesto de candidatura com as vossas sugestões, críticas e propostas.

Só passaremos nas pontes que construirmos.

Estou ao vosso dispor, ao serviço da Maçonaria Regular e da Maçonaria Universal.
A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP é e será aquilo que, unidos, construirmos. Em congruência, o nosso lema é:

Continuar, cumprindo os Princípios, a consolidar a edificação da nossa Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos


Publicado por Rui Bandeira

20 maio 2014

É hora de escrever …

Como escrever algo quando a inspiração a isso pouco ou nada ajuda?

Escolher um tema, daqueles que julgamos saber, estudá-lo um pouco mais, ou na realidade, estudá-lo pela primeira vez, desenvolvê-lo, interpretá-lo e escrever sobre ele?

Escrever sobre tudo e nada, sobre nada em particular, sobre tudo em geral?

“Bater” toda esta mistura de ingredientes e como sempre vontade de a saborear e escrever … e levado ao “forno” sair algo sobre maçonaria.

Seja assim então! É hora de escrever.

O que não falta a um maçon é inspiração para escrever, essa é uma capacidade que nos é reconhecida pelos demais, embora particularmente encontre que muitas das vezes a simpatia e a amizade fazem com que as críticas e os reparos sejam amenos.

Quais os temas, daqueles que julgamos saber e dominar de lés a lés, quando na realidade nada sabemos sobre eles? Não insinuo sobre aqueles que sabemos mais ou menos, muito menos sobre os outros em que sabemos uma ou outra coisa, pronúncio sim aqueles em que temos a profunda noção que nada sabemos, mas insistimos em dizer que sim e, na generalidade dos casos a nós próprios, sendo esse um erro que é, como muito bem sabemos e até reconhecemos, fatal (metaforicamente falando).

Esta parte de estudar, de pesquisar, de ouvir e de aprender é, a partir de determinada altura, na vida de um maçon, uma enorme e valente chatice, podendo até ser considerada como uma afronta e ou uma falta de respeito. A partir de determinada altura, tudo se sabe, tudo se domina, tudo se encara de maneira diferente, tudo tem e emana luz e, na realidade, não passa de uma ilusão individual.

Escrever é tão só, algo que considero individual e ao mesmo tempo coletivo. Quem escreve, fá-lo porque assim o entende, escreve porque tem gosto nisso. E se ao escrever for possível aprender? E evoluir?

Cá vou aprendendo as minhas “coisas”, os temas que considero importantes estudar, desenvolver e interpretar, dando-lhes depois o meu cunho, mas esses não os partilho, pois esses fazem parte do meu caminho, da minha discrição, do meu templo interior. Não tenho necessidade e nem os quero partilhar, não sendo isto defeito, mas sim feitio. 

É hora de escrever que há uns tempos que a inspiração me falta, que há (muitos) temas que não domino e que os tento aperfeiçoar um pouco mais a cada nova aurora.

Não sou, nem ambiciono ser nem mais nem menos, sou apenas aquilo que sou e sempre aquilo que quero ser.

E por fim, mas nunca por último, que tem tudo isto a ver com Maçonaria?

É aquela simples parte de escrever sobre tudo e sobre nada. Individual em prol do coletivo, estando à ordem!

Daniel Martins


16 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -2


Eis que de repente a viagem começou e eu por ela não tinha dado, ou melhor, por ela eu não queria dar.

Agora do silêncio da espera algo irrompia e de súbito uma mão para mim se estendeu.

De onde vinha e ou de quem era, isso agora não importava, o que contava era que a tal viagem para que eu me preparara agora já estava a acontecer.

A caminho, e de caminho, a uma porta, eu fui dar, e na consciência eu fui bater.

Que consciência?
A consciência de que esta viagem tinha de ser feita de uma forma leal e sentida, por isso se o sítio escuro, tinha de ser, porque haveria eu de os olhos querer usar.

Bem voltando à Porta, a que eu tinha ido dar, para a conseguir ultrapassar um segredo me foi contado.
- Não, claro que o não posso revelar. Lembrem-se, esta foi a viagem ao meu interior e só para mim ela faz sentido e significado consegue ganhar.

Depois de, no tal segredo, as respostas ter recebido, foi um tormento, ali logo concedido, mais fundo eu tinha que descer e numa gruta entrar.

Depois de muito andar, e por paredes estreitas ter passado, a um Grande Templo eu cheguei.

Assim e já dentro do Grande Templo eu me encontrar, quando de repente, para além de quem a mão me dava e os segredos me descortinava, uma voz forjada pela Sabedoria, pela Força e Beleza do conhecimento e saber, se fez ouvir, e comigo começou a falar.

- Quem tu és, porque aqui queres entrar?
- Não sabes que este é um Mundo reservado apenas a quem o merece ter.
- Porque te julgas merecedor de nele entrar?
- Não sabes, e já não ouviste contar, que quem aqui entra para trás já não pode regressar?
- Tens a consciência que com o Sagrado não se pode brincar e que se o caminho continuares a garganta te irei cortar, se daqui revelares o que vires e escutar?

- Que pavor, ou talvez não! - Na verdade era ali que eu queria estar, e para aquela viagem eu me tinha preparado, como podia sequer ficar assustado?

Em frente decidi ir e com a verdade me armar, nada tinha a temer por ali conseguir chegar, mas então com uma regra fui confrontado, para de mim mais saber, ia ter de ser julgado.

Nota: Para quem a ultima etapa desta viagem quiser conhecer, esperar pela próxima semana será o suficiente, para a derradeira etapa, e o Grande Segredo, ficar a conhecer.

Alexandre T.

14 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato José Manuel Pereira da Silva

Tendo na semana passada publicado o currículo de um dos candidatos a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, publica-se esta semana o currículo do outro candidato.

Nas próximas semanas, publicarei sucessivamente os manifestos de ambos os candidatos e procurarei obter deles respostas a um questionário (igual para ambos), de forma a permitir que melhor se ajuíze sobre as propostas de cada um. A ordem de publicação dos currículos, manifestos e entrevistas é a da entrada na Grande Secretaria da respetiva candidatura.

José Manuel Pereira da Silva


Currículo maçónico

Co-Fundador da Maçonaria Regular em Portugal, foi iniciado no GOL em 1980, tendo participado na cisão que conduziu à criação, em 1991, da Maçonaria Regular em Portugal.

Principais cargos desempenhados ao serviço da GL:
  • 1º Grande Vigilante
  • Assistente de Grão Mestre
  • 1º Vice Grão Mestre 
  • Grão Mestre Interino
  • Past V:.M:. das R:.L:. Jean Mons e Barbosa du Bocage
  • Fundador do GPIL (Grande Priorado Independente da Lusitânia ), CBCS (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa) e Cav:. de Malta do RER
  • Grau 33 do REAA (Supremo Conselho para Portugal)
  • Grau 33 do R:. Adonhiromita (Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal)
  • Grande Oficial Instalador da Grande Loja de Marrocos
  • Representante da G:. L:. da Florida (USA).
DISTINÇÕES MAÇÓNICAS:
  • Ordem Honorífica Gomes Freire de Andrade
  • Grão Mestre de Honra
  • Grande Oficial (ad vitam)
  • Participante como palestrante e conferencista sobre temas maçónicos e simbólicos em inúmeras iniciativas da GLLP, a convite de RR:.LL:. ou de entidades profanas.
Currículo profano

Habilitações Académicas:
  • Licenciatura em Arquitectura, pela ESBAL, com classificação final de 15 val., em 18.07.1980
  • Curso de Economia e Tecnologia da Construção, com Distinção, I.S.T./FSE, 1989
  • Curso de Condicionamento de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Reabilitação de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Gestão da Qualidade - CEQUAL 1993 
  • Curso de Mestrado em Construção, do Instituto Superior Técnico, (Tecnologia e Economia da Construção e Reabilitação), 1991/1993.
  • Doutorado em Ciências da Educação – Universidade de Huelva, Espanha
Certificação Profissional:
  • Membro da Ordem dos Arquitectos Portugueses (nº 1626)
Docência:
  • Professor Efectivo da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, 3º Grupo (Construções Civis), atual GR 530.
  • Professor equiparado a Adjunto da ESAD (Escola Superior de Arte e Design), Caldas da Rainha, em 93/94 e 94/95.
  • Monitor em vários cursos de Formação Profissional (FSE).
  • Formador certificado pelo IEFP, leccionando desde 2003 a disciplina de Tecnologia da construção dos Cursos de Formação Profissional em Mediação Imobiliária, em acções reconhecidas pelo IMOPPI, no CEFORCAL em Caldas da Rainha.
  • Formador certificado pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, no âmbito da formação de professores.

Publicado por Rui Bandeira

09 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -1

Um dia decidi!

Sim decidi tomar uma grande decisão.
Decidi fazer uma grande viagem, uma viagem para não mais voltar.

Não, não é uma daquelas em que partimos para um outro lado qualquer e por lá ficamos. Esta viagem foi uma viagem muito mais complicada, esta foi aquela viagem!

Foi a viagem ao meu interior;
Ao meu mais íntimo;
À minha razão de ser;
A viagem ao principio de tudo.

Nesta caminhada decidi encarar todos os meus medos e confrontar os meus receios. Assim e com a decisão tomada comecei a prepara as coisas para levar nesta viagem.

Identifiquei de onde eu era;
Filho de quem e de que famílias proviam as minhas origens;
As razões que me levavam a fazer esta caminhada;
O sentido de fazer a mesma;

Enfim todas aquelas coisas que normalmente levamos numa viagem, pelo menos numa viagem como esta.
Depois de tudo inventariado e Check-List realizado, estava pronto para partir.

Parti e decidi, com convicção, de que era o caminho certo, de que este era realmente o meu caminho, senão nada fazia sentido.

Nada do que até agora havia feito;
Nada por onde tinha passado e aprendido;

Passo ante passo, pé ante pé, a caminho me coloquei, naquele caminho que ao meu interior me havia de levar.

Estava escuro e frio, ou não, mas segui;
Tudo era negro, ou não, mas mantive-me firme;
Gritos e ruídos, por mim passavam, ou não, mas sem nada a temer;
Imagens por mim passaram, ou não, mas tal coisa não conseguia entender;
Uma coisa era certa a decisão tomada estava e agora o meu Eu me esperava.

Fechei todas as portas que para trás tinham ficado, do Mundo Profano agora me afastava, começava agora a abrir, ao de leve, mesmo de muito ao de leve a porta da Alma ao Sagrado.

Com a consciência de que este era o passo certo, nada mais havia a fazer, para trás ficavam as incertezas e as inseguranças, agora tudo era fácil, eu já ali estava, o que de mal poderia acontecer?

Por certo nada, claro que não, nada havia a temer, esta era a viagem que eu queria fazer.

Na verdade em todos estes passos, no quarto escuro eu continuava, sem dele sequer conseguir sair, que tinha eu de fazer para ao meu interior conseguir descer?

Decidi esperar, pois se assim tivesse que ser, tal se iria realizar, alguma ajuda, eu haveria de ter, e por certo ela ai estria a chegar.

Esperei e continuei a esperar que a tal viagem, eu pudesse iniciar.

Nota: Para quem esta viagem quiser continuar a seguir, esperar pela próxima semana será o suficiente, para mais uma etapa ficar a conhecer.

Alexandre T.

07 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato Júlio Meirinhos

Como em toda as eleições, também em Maçonaria as pessoas são importantes nas escolhas. Pessoalmente, penso que o mais importante... Projetos, ideias, propósitos são seguramente importantes, mas são as pessoas que executam ou não os projetos, que tornam ou não realidade as ideias, que cumprem ou não os propósitos.

Na GLLP/GLRP, procuramos que as nossas escolhas sejam tão informadas e esclarecidas quanto possível. Por isso, as candidaturas são instruídas com currículos dos candidatos, resumindo a sua atividade, quer maçónica, quer na sua vida profana.

Os dois candidatos a Grão-Mestre forneceram os seus currículos, maçónicos e profanos. Publica-se hoje o currículo de um dos candidatos. O currículo do outro será publicado na próxima semana.

Júlio Meirinhos 


Currículo maçónico

Iniciado na R:.L:. Porto do Graal, n.º 2 em 1992
Ininterruptamente em funções desde então
Atualmente Vice Grão-Mestre.

Funções e cargos desempenhados na Grande Loja Legal de
Portugal/GLRP:
  • Venerável Mestre da R:. L:. Luz do Norte, nº21
  • Venerável Mestre Fundador da R:. L:. Rigor, nº 57
  • Assistente de vários M:.R:. Grão‐Mestres 
  • Vice Grão‐Mestre de vários M:.R:. Grão-Mestres
  • Grande Representante da Grande Loja de Mestres Maçons de Marca de França
  • Grande Representante da Grande Loja da Holanda
  • Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras.
Condecorações:
  • Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade
  • Grã‐Cruz da Ordem General Gomes Freire de Andrade.
Funções e cargos desempenhados nas estruturas de Altos Graus:
  • Sumo‐Sacerdote do Capítulo nº 6, Mosteiro Castro de Avelãs
  • Ilustre Mestre do Conselho nº 3, S. Bartolomeu
  • Eminente Comendador da Comenda nº 3, Cristóvão Colombo
  • Presidente da Ordem da Rosa
  • Membro da Ordem dos Sumo‐Sacerdotes Ungidos e Consagrados
  • Membro da Ordem da Trolha
  • Grande Sumo‐Sacerdote do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal
  • Grão-Mestre do Grande Conselho de Mestres Reais e Escolhidos de Portugal
  • Generalíssimo da Grande Comenda de Cavaleiros Templários de Portugal
  • Grau 32º do Supremo Conselho para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite
  • Patriarca Inspector Geral do 33º e último grau do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal.
Currículo profano

59 Anos
Casado, 2 filhas e 2 netas
Reformado, com residência em Miranda do Douro e em Lisboa, onde tem 1 filha e 2 netas.
  • Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra
  • Advogado
  • Presidente de Câmara durante 4 mandatos
  • Deputado em duas legislaturas
  • Coordenador da Comissão Parlamentar de Ética.
  • Membro da Comissão Parlamentar de Defesa
  • Secretário‐Geral e Notário privativo do Leal Senado de Macau
  • Juiz Presidente do Tribunal Administrativo e Contas de Macau
  • Membro fundador e dirigente do Instituto Jurídico de Macau
  • Docente da Faculdade de Direito de Macau
  • Membro da Academia da “Língua Asturiana” Oviedo‐Espanha
  • Auditor de Defesa Nacional
  • Presidente do Agrupamento de Municípios da Terra Fria Transmontana
  • Administrador da Associação de Municípios de Trás‐os‐Montes e Alto Douro
  • Coordenador do PROCOA‐ Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale do Côa
  • Membro do Comité das Regiões em Bruxelas
  • Presidente do Conselho da Região da Comissão de Coordenação da Região Norte
  • Governador Civil de Bragança 
  • Presidente da Assembleia para a criação da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança
  • Presidente de diversas associações (Associação Ibérica de Municípios Ribeirinhos do Douro, Associação Ibérica Antinuclear)
  • Dirigente e membro fundador da Associação Nacional de Municípios Portugueses
  • Presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano
  • Vice‐Presidente da ANRET (Associação Nacional das Regiões de Turismo
  • Vice‐Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Condecorações:
  • Cidadão honorário do Município de Miranda do Douro ‐ Grau Ouro.
  • Agraciado pelo Estado Português com o grau de Comendador da Ordem Nacional do Infante D. Henrique.
  • Eleito o «Melhor Autarca do ano de 1986» ‐ Prémio telex de prata‐ANOP.

Publicado por Rui Bandeira

30 abril 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: os candidatos


A eleição do Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP para o mandato que decorre entre 2014 e 2016 está marcada para o dia do solstício de verão, 21 de junho.

Findo o período de apresentação de candidaturas, apresentaram-se ao escrutínio dois valorosos obreiros, os Irmãos Júlio Meirinhos, Vice Grão-Mestre em funções, e José Manuel Pereira da Silva.  

Num processo eleitoral que decorre de forma tranquila, duas coisas se podem já tomar como certas. 

A primeira é que o próximo Grão-Mestre da GLLP/GLRP será um maçom de alto gabarito, merecedor da confiança de todos os obreiros, qualquer que seja a opção de voto que venham a manifestar. Com efeito, ambos os candidatos dão garantias de competência e capacidade e a Grande Loja ficará bem servida com qualquer deles. É sempre motivo de agrado quando a escolha que se perfila é entre dois elementos capazes, é uma escolha entre dois bons elementos. Obviamente que será necessário escolher, optar, e que, no final, um deles será eleito e o outro não. Mas o que não for eleito certamente ficará a disposição para dar a colaboração que lhe seja pedida e quiçá noutra oportunidade venha a ser escolhido para a função da direção cimeira da Grande Loja. 

A segunda é que o próximo líder máximo da Grande Loja não terá residência principal na zona de Lisboa: Júlio Meirinhos tem a sua residência principal em Bragança (embora tenha uma residência secundária em Lisboa) e Pereira da Silva nas Caldas da Rainha. É algo que, num país com a dimensão e a facilidade de comunicações do nosso, não trará qualquer inconveniente e que permite a comprovação de que são inúteis, aqui como noutras instituições, bacocos regionalismos ou ultrapassados centralismos. As funções devem ser preenchidas pelos que. em cada momento, mais bem capacitados estejam para as exercer, independentemente do ponto do país onde residam.

A Loja Mestre Affonso Domingues convidou os dois candidatos para, pessoalmente ou através de seus representantes, nos darem a satisfação da sua visita numa das próximas sessões da Loja, antes da eleição, para melhor se darem a conhecer, a eles próprios e aos respetivos projetos, para o mandato que se propõem exercer. 

A ambos os candidatos, a Loja Mestre Affonso Domingues formula votos de felicidades e manifesta a sua confiança em que ambos serão iguais a eles próprios no decorrer do período de esclarecimento que decorre até ao dia da eleição.

A  ambos os candidatos a Loja Mestre Affonso Domingues expressa o seu desejo de bem os receber, atentamente os ouvir, fraternalmente os questionar, aplicadamente garantir, como habitualmente, as condições para que todos os seus obreiros e os Irmãos que nos derem o prazer da sua visita se possam esclarecer, num ambiente de fraternidade.

Pessoalmente, ambos os candidatos sabem que por ambos nutro grande consideração e com ambos mantive, mantenho e manterei as melhores relações. Como os demais, efetuarei a minha escolha e só um deles poderá ser escolhido. Mas desde já deixo bem claro que, para mim, a escolha não é de um contra o outro, antes de um agora e porventura o outro depois.  

Ao Júlio e ao José Manuel aqui deixo, a cada um, um triplo e fraternal abraço. Estou certo que aquele que, no final do presente processo eleitoral, vencer exercerá condignamente o ofício de Grão-Mestre e o que não vencer dará a melhor colaboração fraterna ao outro e à GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

23 abril 2014

Há quarenta anos, dia por dia...


Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem de dezoito anos que alcançara, à custa de muito trabalho, uns quantos sacrifícios e bastantes privações dos meus pais, o que era então o verdadeiro privilégio de ser estudante universitário. Estudava que me desunhava, não porque fosse especialmente dedicado, mas porque sabia que os meus pais - ele, operário eletricista, ela doméstica - não podiam sustentar vilegiaturas académicas sem aproveitamento. O curso era para se fazer o mais depressa que fosse possível, que os tostões eram parcos e contadíssimos e havia que deixar de ser fardo para a família e começar a contribuir para o seu sustento. Por outro lado, não bastava tirar o curso depressa: havia que procurar ter boas notas, única forma de diferenciação possível de quem provinha de classe modesta e não dispunha de pedigree, conhecimentos ou auxílios da elite que dominava este país. 

Há quarenta anos, dia por dia, o sentimento que perpassava por toda a sociedade, por praticamente toda a população, era de medo. Medo de ir ou de que o seu filho fosse para a guerra, medo de ser tomado por algum polícia, PIDE ou bufo (informador da polícia política) como desafeto ao regime, pois isso implicaria, no mínimo, uma condução a instalações policiais e sujeição a interrogatório "musculado" com uns valentes tabefes, eventualmente uma estada, gratuita, mas frequentemente sem direito a dormir e com direito a uma estátua (mas quem fazia de estátua e não podia dormir era o "hóspede"...) nas temidas instalações da polícia política, na Rua António Maria Cardoso, ou mesmo umas "férias" mui pouco agradáveis na estância muito pouco termal de Caxias.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, que até me considerava atento e bem informado, só sabia o que os detentores do poder político entendiam que me era permitido saber, pois a Imprensa (então não se costumava ainda dizer Comunicação Social...) estava sujeita a um férreo regime de censura, crismada com o cognome de "exame prévio", que só permitia que fosse publicado o que não lhes causasse inconveniência - e o principal "desporto" dos jornalistas da época dava pelo nome de "finta à Censura"; e que grandes craques havia nessa interessantíssima "modalidade desportiva", felizmente extinta, por desnecessidade, espero que para sempre!

Há quarenta anos, dia por dia,  a sina de qualquer jovem adulto fisicamente apto (e mesmo de alguns nem sequer tão aptos como isso...) era ir perder quatro anos da sua vida (ou perder a sua vida no horizonte de quatro anos...) numa "comissão de serviço" na Guiné, em Angola ou Moçambique, combatendo não sabia quem, porquê, para quê e até quando. A não ser que optasse por se exilar e conseguisse fazê-lo ou que fosse filho de algum dos próceres do regime, que esses tinham garantido confortável cumprimento dos seus deveres militares na "Metrópole", isento de riscos e de sacrifícios, integrantes da casta dominante que eram.

Há quarenta anos, dia por dia, não se escolhiam os líderes políticos, nem se opinava sobre as políticas a seguir. Os detentores do poder detinham-no e pronto! As funções políticas eram exercidas por escolhidos em circuito interno e à generalidade da população cabia obedecer e não refilar.

Há quarenta nos, dia por dia, não se podia sair legalmente do país sem autorização "de quem de direito", os direitos cívicos e políticos existiam no papel (num célebre art. 8.º da Constituição de 1933), mas o mesmo papel elencava tantas exceções e restrições ao exercício desses direitos que, na prática, não existiam, ou só existiam se, quando e na medida em que o poder entendesse permitir que fossem existindo.

Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem universitário vivendo num ambiente de medo, sem perspetivas, sem direitos realmente dignos desse nome, sem nada  que não fosse vegetar e esperar, esperar, esperar que um dia, talvez, algo mudasse. Era um jovem comum, um entre milhões que não tinha atividade política relevante, ao fim de dezenas de anos de condicionamento de todo um povo para que não ousasse "meter-se em política".

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, sentia-me asfixiado pela falta do ar da Liberdade.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, vivia no momento de maior negrume de uma noite que se prolongava por mais de outros quarenta anos.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, à exceção de umas centenas de heróis que estavam na ponta final da preparação do que iria finalmente mudar as coisas, não sabia ainda que o maior negrume da noite é a altura que precede imediatamente o momento do nascer da aurora - e que esse momento estava a menos de quarenta e oito horas de distância.

Hoje, relembrando como estávamos há quarenta anos, dia por dia, deixo aqui um simples, emocionado e sincero MUITO OBRIGADO àqueles heróis que, menos de quarenta e oito horas depois, me iam ensinar que também se chora de alegria - e que se chora de alegria precisamente quando essa alegria é enorme, imensa!   

Hoje relembro como era este país há quarenta anos, dia por dia, porque muitos e muitos há que, felizmente, já não viveram esses tempos. Vivemos hoje tempos de dificuldade - mas sabemos que vamos, mais tarde ou mais certo, ultrapassá-la. Expressamos hoje a nossa insatisfação - mas podemos fazê-lo. Não concordamos com muito do que aqueles que nos dirigiram nos últimos anos decidiram ou fizeram - mas podemos, individual e coletivamente, criticar, decidir e executar o que se decidir fazer para se corrigir o que de errado se fez. Duvidamos das capacidades, da competência, dos motivos de alguns dos que nos dirigiram ao longo destes quarenta anos - mas sabemos que fomos nós, coletivamente, que lhes entregámos essa liderança e sabemos que podemos escolher quem colocamos a dirigir-nos, procurando não cometer os mesmos erros de avaliação do passado.

Hoje, digo e afirmo: por muito mal que as coisas andem, por muito descontentes que estejamos, lembrem-se todos, mas principalmente aqueles que tiveram a felicidade de não ter vivido aquele tempo, que estamos muitíssimo, incomparavelmente melhor do que estávamos há quarenta anos, dia por dia. Porque ao longo destes quarenta anos, tudo o que de certo e de errado (e muito de errado houve também, sem dúvida) se fez, foi, em última análise, feito ou permitido POR NÓS TODOS, enquanto povo LIVRE. Livre mesmo cometendo erros, mesmo fazendo ou permitindo disparates, mesmo escolhendo por vezes mal os seus líderes. Mas LIVRE de aprender, de melhorar, de corrigir, de opinar, de debater, de escolher os seus caminhos.

Que cada um faça as suas escolhas. Que todos debatamos os caminhos, Que, por vezes, nos zanguemos até uns com os outros, no calor das discussões sobre as escolhas a fazer. Mas que todos sempre prezemos e defendamos o essencial (que ninguém o duvide!) que este povo há quarenta anos, dia por dia, estava a menos de quarenta e oito horas de recuperar: a LIBERDADE e a possibilidade de, exercendo-a, viver a sua vida com dignidade!

Há quarenta anos, dia por dia, não sabia ainda que estava prestes a finalmente ter direito a uma vida digna de ser vivida. Com erros e acertos. Com coisas boas e coisas más. Mas com as escolhas feitas por mim. Eu e todos os meus compatriotas. Que nunca mais neste país se perca o direito de cada um fazer as suas escolhas. Que nunca mais este Povo volte a perder a sua LIBERDADE, alfa e ómega de tudo o que coletivamente vale a pena ser vivido!

Rui Bandeira   

16 abril 2014

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - VI

Pedro Espanhol, 2009, óleo sobre tela, 90 x 120 cm
Reprodução publicada pelo autor em Masonic Art

Antes do mais, sê muito bem-vindo entre nós. Estás aqui por teus méritos e, sobretudo, por tuas potencialidades. A ti, e só a ti, deves a admissão no seio dos obreiros desta Oficina da Augusta Ordem da Maçonaria. Nós, os que vos acolhemos, limitámo-nos a reconhecer em ti a capacidade e a vontade de efetuar o longo – direi mesmo: interminável -, trabalhoso – acrescentarei: permanente – e minucioso – precisarei: rendilhado – processo de transformação de um Homem Bom num Homem Melhor.

Esta frase, que de tantas vezes dita soa já como um lugar-comum, é, acredita-me, muito mais simples de dizer do que de levar à prática. Passar de um simples e comum Homem Bom – aquilo que nós, maçons, costumamos designar por homem livre e de bons costumes – para se ser um Homem Melhor é tarefa, mais do que diária, de todos os instantes, verdadeiramente permanente, que necessita de ser executada ao longo de toda a vida – e que só faz sentido se for permanentemente executada ao longo de toda a vida.

É uma tarefa interminável, porque é de sua natureza sê-lo: o homem bom de hoje que se transforma amanhã num homem um pouco melhor, em bom rigor, ao fim do dia de amanhã não será mais do que um pouco melhor homem bom que poderá e deverá, no dia seguinte, melhorar um pouco mais. E assim sucessivamente até ao momento em que a nossa tarefa neste plano de existência terminar.

A Arte Real é um guia para esse trabalho. O método que propõe e coloca à disposição de todos os seus obreiros é o estudo, compreensão e interiorização dos significados – quantas vezes vários, ou mesmo múltiplos – dos muitos símbolos com que nos deparamos.

Admito que, hoje, aqui e agora, não tiveste ainda tempo para te aperceberes de que tudo o que nos rodeia tem carga simbólica. Como certamente ainda não assimilaste convenientemente o significado do que se passou, do que viveste, desde o instante em que entraste neste edifício até agora. Não te preocupes com isso. É normal, é natural, é previsível, é até desejável que assim seja. Tivemos o cuidado de nada de substancial te informar sobre o que irias viver neste dia. Porque é necessário sem conhecimento prévio viver, sentir, a passagem que acabaste de efetuar para depois melhor compreender o seu significado.

Não esqueças nunca: a Razão complementa, completa, domina e interpreta a Emoção. O que vale por dizer que a Emoção é forte alicerce da Razão, que o mero conhecimento racional pode ser muito e vasto, mas é fraco e pouco consistente se não estiver ancorado, se não tiver sido adquirido com a Inteligência Emocional que integra também a nossa capacidade para estarmos, orientarmo-nos e compreendermos o mundo em que vivemos. Se assim não fosse, não precisávamos de viajar – bastava ler livros e ver filmes de viagens...

A tua primeira tarefa é também um labor permanente e será, afinal, o teu último trabalho: conhecer-te a ti mesmo. Isso é essencial. Porque tu és o centro, a origem, o início e o fim do teu mundo. Portanto, o mínimo que te é exigível é que te conheças verdadeiramente a ti mesmo. Não a imagem que tens ou dás de ti, mas o que está por detrás dela, em tudo o que ali está e o que foi, que é causa do que é e base para o que será. O que tem de agradável e luminoso, mas também o que é mais sombrio e com que nos custa a deparar.

Esta a base, o ponto de partida. Já há milhares de anos estava escrito no Templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”.

Esta asserção é, desde a mais remota Antiguidade, a base de toda a busca e jornada iniciática. Não precisamos de inventar nada, não é necessário inventar o que já está inventado.

Devo-te esclarecer o significado da Arte Real. Como o poderei fazer, se há mais de vinte anos que o busco e ainda não o determinei completamente? Talvez a melhor resposta seja esta: a Arte Real é um método de busca que tem princípio em ti mesmo, como guia os símbolos, como rota a melhoria individual, como objetivo a perfeição e como meta todo o Universo e o que mais haja.

Sei bem que esta definição que acabei de te propor hoje, aqui e agora não é mais do que um conjunto de palavras que se juntam a uma enorme quantidade de informação que hoje recebeste e de sensações que experimentaste e que, portanto, agora de pouco te vale. Não te preocupes tu com isso, que eu também não estou nada preocupado. Tens à tua frente muito tempo para ordenar, para assimilar, para compreender tudo o que hoje viveste, viste e ouviste. E tudo, a seu tempo, te fará sentido. Até este arrazoado que tiveste a paciência de ouvir...

Mas isso fica para depois. Agora o tempo que chega é de celebrar, de conviver, de nos alegrarmos por estarmos juntos e sermos mais a estar juntos. Amanhã começarás o teu trabalho!

Rui Bandeira