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13 setembro 2007

O nono Venerável Mestre

Entre Setembro de 1998 e igual mês de 1999, exerceu funções o nono Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, Luís P..

Luís P. foi um dos maçons que mais tempo se manteve no grau de Aprendiz, não por desinteresse ou falta de assiduidade, mas porque recusou, várias vezes, ser elevado ao Grau de Companheiro, por não se sentir preparado para tal! Já Mestre maçon, sempre revelou um particular interesse pela formação, especialmente pela formação dos Aprendizes, de que foi directamente responsável, salvo erro, dois anos, enquanto 2.º Vigilante da Loja. Foi ele o 2.º Vigilante que, conforme o José Ruah referiu aqui, lhe pediu para continuar mais um ano nessa função, em vez de, como seria normal, avançar para 1.º Vigilante, preferindo ser ultrapassado na informal "linha de sucessão" da Loja por Jean-Pierre G.. Ou seja, Luís P. revelou um particular interesse pela formação maçónica e pelo trabalho com os símbolos, quer como formando, quer como formador.

Tinha, além disso, uma concepção rigidamente esotérica, quase crística, senão mesmo crística da Maçonaria. Para ele, a Maçonaria é essencialmente um método de desencadeamento e evolução de um processo iniciático, tendente à aproximação do Homem ao Divino - um processo paralelo, por exemplo, ao misticismo monástico cristão. isto é, e se bem interpreto o seu pensamento, o método iniciático maçónico é um dos métodos de aproximação do Homem ao Divino, como o são o dito misticismo monástico ou o budismo. Luís P. privilegiava, assim, o estudo, a teoria, a análise simbólica, tendo porém o cuidado de alertar para os perigos do que costuma designar de "devaneios esotérico-birutas" muito presentes em muita "literatura", principalmente do século XIX.

Luís P. procurou aplicar estes seus princípios no governo da Loja, durante o seu mandato. Privilegiou, assim, a formação, o apoio, dos Aprendizes - e, por arrastamento, dos Companheiros. Na minha opinião, já enquanto 2.º Vigilante estabelecera as bases e a forma de proceder à instrução dos Aprendizes que ainda hoje se pratica na Loja Mestre Affonso Domingues - designadamente o hábito, que permanece, de os Aprendizes e Companheiros terem uma sessão de instrução uma hora antes da sessão de Loja que se realiza no segundo sábado de cada mês. Manteve e reforçou essa actuação. E nisso deixou um bom legado à Loja.

Também deixou o legado de a formação dos Companheiros ser muito similar à dos Aprendizes, apenas incidindo no Catecismo de Companheiro e nos símbolos do grau. Na minha opinião, esse legado não será tão positivo, porquanto a minha concepção do grau de Companheiro é de que os objectivos deste são radicalmente diversos dos do grau de Aprendiz e, portanto, não devem ser prosseguidos com os mesmos métodos. Mas isto são contas de outro rosário...

Durante o seu mandato, a Loja esteve virada para dentro, para a formação, para a reflexão, para a união do grupo em prol do aperfeiçoamento dos seus membros.

Luís P. dirigiu a Loja segundo a sua concepção, sem derivas. Quem concordou, aproveitou; quem não concordou, suportou. Foi talvez, até agora, o último Venerável "autoritário" da Loja. Alguns não concordavam lá muito com a orientação de Luís P.. Mas a Loja ainda estava na fase de actuar segundo a batuta do seu Venerável Mestre e, portanto, a concepção de Luís P. foi aplicada sem objecções de maior.

No entanto, esta sua concepção de direcção da Loja não viria a vingar - e a mudança começaria mais cedo do que mais tarde, ironicamente devido a uma decisão pessoal do Luís P... Mas essa será matéria para outro texto...

Rui Bandeira

07 setembro 2007

O oitavo Venerável Mestre

O oitavo Venerável Mestre, tal como ocorrera com José M. M., completou o mandato do seu antecessor e foi eleito e assegurou um novo, e agora completo, mandato. Porém, e até hoje, foi o único Venerável Mestre duas vezes eleito para essa função. Com efeito, José M. M. completara o mandato do seu antecessor por designação do Grão-Mestre; o oitavo Venerável Mestre, como bem lembrou aqui o José Ruah, foi, após a decisão da Loja, subsequente à cisão ocorrida em 1996/1997, de permanecer leal ao Grão-Mestre, regularmente eleito para completar o mandato de José Ruah que, pelas razões que estão explicadas no texto para que remete o atalho acima, entendeu renunciar ao seu mandato. Em Julho de 1997, na reunião normalmente agendada para eleições, foi reeleito para continuar a ocupar a Cadeira de Salomão entre Setembro de 1997 e igual mês de 1998, o que ocorreu.

Jean-Pierre G. foi o oitavo Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues e, mais uma vez, a Loja teve a fortuna de ter o homem certo a dirigi-la no momento certo. Sendo, como o seu nome indica, de origem e cultura francesas, Jean-Pierre G. não possuía a fraqueza, tão comum nos portugueses, do "nacional-porreirismo". Como ele muitas vezes disse e repetiu, com ele "serviço é serviço, conhaque é conhaque", isto é, a amizade não colidia com o dever, a obrigação e o poder de dirigir impunham-lhe que tomasse as decisões que entendia certas, independentemente das amizades, e havia um tempo para folgar e um tempo para trabalhar. Tão simples como isto, mas tão saudavelmente distante de algumas das nossas atávicas idiossincrasias...

Assim, Jean-Pierre G. foi um Venerável Mestre que fez o que tinha a fazer. Recebeu uma loja escaqueirada pela cisão e não se lamentou - apanhou os cacos. Recebeu uma Loja amputada dos seus mais experientes quadros e não se apoquentou - trabalhou com os quadros que havia, que ganharam experiência em exercício. Recebeu uma Loja que perdera organização e não se desorientou - organizou-a.

Jean-Pierre G. foi o gestor de meios, de homens e de expectativas que a Loja precisava. Quando teve de ser autoritário, foi-o. Recordo-me de uma certa ocasião em que se debatia a limpeza do quadro de elementos que não compareciam a reuniões e não pagavam quotas. Um dos elementos em causa era um Grande Oficial, que exercia, e bem, e com dedicação e zelo, uma função importante e que era da particular confiança do Grão-Mestre. Absorvido nessas funções, há mais de um ano que não comparecia em Loja. A Loja hesitava. Era certo que há muito não vinha às reuniões. Mas era Grande Oficial... E de confiança do Grão-Mestre... E estava a fazer um bom trabalho... E era um tipo porreiro... Jean-Pierre G. viu no que aquilo ia dar e resolveu cortar a direito: tudo isso está muito bem, mas eu é que sou o Venerável Mestre e foi a mim que me encarregaram de decidir. Porreiro ou não porreiro, de confiança ou não, Grande Oficial ou não, o certo é que ultrapassou o período fixado para estar ausente da Loja e deve ter o mesmo tratamento que os outros, que aqui não há filhos e enteados - ou vem à próxima reunião ou até lá pede para mudar de Loja, senão, decide-se a sua exclusão e o Grão-Mestre que arranje outro Grande Oficial. E ponto final! Todos os elementos da Loja se entreolharam, mas todos meteram a viola no saco: realmente o Irmão estava em falta; e não havia nada nos regulamentos que justificasse que tivesse um tratamento de privilégio; e o Venerável Mestre fora eleito para decidir... Resultado: antes da reunião seguinte, o Secretário da Loja recebeu o formal pedido de transferência para outra Loja, onde era mais conveniente para esse Irmão comparecer, e o problema ficou resolvido!

Com Jean-Pierre G. a Loja aprendeu que a fraternidade não exclui o rigor, que a amizade não autoriza privilégios, que quando é tempo de trabalhar, é tempo de trabalhar. Se o caminho se faz caminhando, então é preciso caminhar, não apenas pensar em fazê-lo.

Tenho para mim que, naquela época, muito beneficiou a Loja em ser dirigida por alguém com uma mentalidade diferente, em que o rigor não era incompatível com a boa disposição. Com efeito, Jean-Pierre G. era e continua a ser um homem com um extraordinário sentido de humor, brincalhão e bonacheirão - mas só na hora do conhaque; na hora do serviço, faz-se o que se tem de se fazer, enquanto se tem de fazer.

Ainda hoje a Loja é um refúgio de boa disposição, de descontraída brincadeira entre Irmãos que se tornaram amigos e que facilmente integram e enturmam os novos. Mas ainda hoje a Loja, dir-se-ia que por reflexo adquirido no tempo do Jean-Pierre G., quando trabalha, trabalha - com rigor e espírito de procurar fazer o melhor possível e de ser hoje melhor que ontem, esperando que seja pior do que amanhã.

Rui Bandeira

24 julho 2007

O fim da infância

Os minutos seguintes foram dos mais complicados da história da Loja. Quase 40 Homens adultos nos braços uns do outros – não importava que caminho tinham votado – chorando.

José Ruah, in Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues - 2


Nesta passagem, José Ruah não exagerou nem um bocadinho! Foi assim mesmo que se passou! No entanto, ao longo de duas reuniões, com várias horas, dois grupos de membros da Loja esgrimiram razões, arremessaram argumentos, prouraram influenciar os aparentemente indecisos para a sua posição, sabendo ambos que a maioria, num ou noutro sentido, seria muito pequena. Foi uma luta leal, mas uma luta dura! Assim sendo, como foi possível que, minutos após a decisão, que determinou vencedores e vencidos, não existissem nem uns, nem outros, mas apenas Irmãos chorando as circunstâncias, despedindo-se uns dos outros, mutuamente se desejando felicidades e esperando que um dia se reunissem os que então se separavam?

A resposta está em que a Loja Mestre Affonso Domingues teve, então em escassos sete anos de existência, a felicidade e a arte de viver a Maçonaria bem vivida e, assim, criar o que é, não apenas o mais importante, mas o básico, o essencial, numa Loja Maçónica: o cimento da união na diversidade, a argamassa da fraternidade na diferença. Esses escassos sete anos bem vividos permitiram aprender - e praticar! - que discordar não implica querelar, que o respeito do outro implica a aceitação do seu pensamento, ainda que diferente do nosso, que o meu Irmão é meu Irmão não apenas quando concorda comigo, mas também quando nos opomos. E que a oposição não implica zanga, nem desrespeito, nem quebra de afectividade. Numa palavra, a Loja teve a oportunidade de aprender a Tolerância!

Um episódio anterior aos eventos de 1996 / 1997 ajuda a entender o espírito que se criara na Loja.

Ocorreu já não sei bem quando, creio que dois ou três anos antes, talvez no Veneralato do Manuel A. G.. Então, a Loja ainda se reunia nas instalações do Monte Estoril, junto ao Jardim dos Passarinhos, como nós designávamos o local. A sala onde decorriam as reuniões era muito pequena: acomodava confortavelmenteaté 15 / 20 elementos, mas, acima desse número, era francamente exígua. A Loja estava numa fase pujante, recuperada da sua fase de cansaço. A presença de obreiros nas sessões de Loja ultrapassava sistemática e significativamente o "máximo suportável" naquele espaço e era sistematicamente muito difícil "arrumar" toda a gente e conseguir garantir o mínimo de espaço para que o Mestre de Cerimónias e os outros Oficiais de Loja que necessitavam de o fazer circulassem. Várias vezes houve em que se não pôde sentar toda a gente. Resumindo, estávamos com Loja a mais e espaço a menos!

Nestas circunstâncias, era inevitável que se debatesse as medidas a tomar para ultrapassar o problema, tanto mais que, então, não se descortinava para breve a disponibilização de mais desafogadas instalações. Rapidamente se chegou à conclusão que se tinha que dividir a Loja. Essa necessidade foi consensualmente aceite. Decidido então esse passo, havia só um pequeno, mínimo, insignificante detalhe a resolver para que se executasse a consensual e necessária solução: definir quais seriam os obreiros que sairiam da Mestre Affonso Domingues e criariam a nova Loja, filha da anterior.

Aqui chegados, chegou a ser cómico de ver! Todos, mas virtualmente todos, os que, minutos antes, tinham facilmente chegado à conclusão da inevitabilidade da divisão da Loja em duas, assim que perceberam o que implicava a decisão... começaram a olhar para o lado, a assobiar para dentro, a demonstrar um súbito e irresistível interesse pela posição dos respectivos dedos nas respectivas mãos! Quando tocou a saber-se quem é que iria então sair e criar a nova Loja, ninguém se chegou à frente!

Ao fim de alguns minutos de expectante silêncio, alguém - já não me lembro quem, talvez o Venerável Mestre - declarou o óbvio: se ninguám se dispõe a sair para outra loja, então não se pode dividir a Mestre Affonso Domingues em duas...

Mal estas palavras foram ditas, pareceu que se libertou algo no ambiente: os olhares ausentes tornaram-se presentes, as caras fechadas abriram-se, as posturas hirtas descontrairam-se! E alegremente toda a gente concluiu que realmente o melhor era não dividir a Loja, que a falta de espaço não era um problema tão difícil assim, que, com mais um jeitinho ainda se acomodavam mais uns quantos, etc., etc....

E nunca mais se falou na falta de espaço nem em dividir a Loja - ideias disparatadas, obviamente!

Dois anos depois, as circunstâncias fizeram que o problema do espaço fosse o menor dos nossos problemas. Mas sempre tive para mim que o que, naquelas duas reuniões esteve, para os NOSSOS obreiros, verdadeiramente em causa não foi quem se mantinha fiel ao Grão-Mestre e quem concordava com a sua destituição. Isso foram detalhes... cada um tomou a sua decisão e só tinha de prestar contas à sua conciência. O que verdadeiramente esteve então em causa foi decidir quem ficava e quem saía!

E o que todos choraram então foi a raiva e foi a frustração de, desta vez, o problema não ter sido só de espaço (esse resolvia-se outra vez, aperta daqui, encosta dacolá...), ter sido bem mais grave, bem mais fora do nosso controlo, bem impossível de ser resolvido por nós! Foi o termos descoberto que afinal nem tudo podia ser resolvido com a nossa Cadeia de União...

Na vida chega sempre um momento assim, o momento em que somos obrigados, muito a contragosto, a aceitar que não podemos tudo. Então, chora-se de raiva, de frustração, de desgosto. Mas cresce-se!

E foi assim que a Loja Mestre Affonso Domingues saiu da infância!

Rui Bandeira

23 julho 2007

Um dia fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues - 3

Com a devida desculpa de nao publicar com maior intervalo mas terei amanha segunda feira uma quase total impossibilidade de o faze. Por isso aqui fica a 3º e ultima parte das minhas memorias relativas ao ano em que fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues.
Restava cumprir a minha palavra.

Convoquei de imediato uma sessão ritual da Loja, para uma sala do Hotel Penta (era assim o nome na altura), informei a grande Secretaria desse facto e solicitei a presença de um Grande Oficial para que logo após a votação fosse imediatamente instalado o candidato eleito.

Não dei qualquer hipótese ao J.P.G. , que era o 1º Vigilante na altura. Ele tentou demover-me, dizendo que faltavam uns meses para acabar o ano, que estávamos em Março e em Julho haveria eleições, etc. etc.

Não podia ser. Além da palavra e compromisso assumidos e ainda sou dos que foi educado dando valor à palavra de honra, havia um outro factor fundamental.

Eu tinha sido um “Comandante de Guerra” e a Loja precisava de um “Comandante de Paz”. Eu, não por vontade própria, mas por força das circunstâncias tinha ficado ligado à separação, ao infortúnio, à tristeza.

A Loja não podia a ficar a viver no meu Mundo, precisava de avançar firme e sólidamente, e o J.PG. , que como disse no inicio havia sido convidado porque o 2º Vigilante no mandato anterior me solicitou o favor de ficar mais um ano enquanto tal, era essa pessoa.


A Sessão decorreu sem grandes sobressaltos, a Loja estava farta de sobressaltos. A ordem de trabalhos foi a normal, foram então lidos todos os decretos emanados pelo Grão Mestre, toda a correspondência existente.

Apresentei então uma prancha – chamemos-lhe assim – na qual expliquei tudo o que se havia passado e lembro-me de terminar dizendo que a História me julgaria pelo que havia decidido e pelas acções que tomei.

Posto isto foi feita a votação da única candidatura existente que foi votada unanimemente, pelo que passei o malhete ao Grande Oficial presente, um amigo R. Cruz na altura Vice Grão Mestre, para que procedesse à Instalação do Novo Venerável Mestre.

A Sessão terminou, tendo-se seguido um jantar no próprio hotel com a presença das nossas mulheres.

No fim do jantar informei o J.P.G que me iria ausentar dos trabalhos de Loja durante um período cuja duração desconhecia. Continuaria a pagar as quotas, não deixando de ser membro da Loja, mas apenas não apareceria nas sessões.

Ter sido “Comandante de Guerra” e não querer ser “ Eminência Parda” conjuntamente com o facto de provocar a Instalação de um novo Venerável ser a única maneira de poder garantir que o poder passava de mão para mão sem que com isso eu ficasse impedido de prosseguir no caminho da Regularidade foram as razões da minha decisão de afastamento. A razão de não poder ser só Venerável de uma parte foi a que achei que seria melhor percebida e a que daria menos discussão.

Baseada nas razões anteriores esta ausência tinha um duplo objectivo.

Permitir-me-ia afastar de todos os problemas da Loja, mas sobretudo permitiria ao novo Venerável e à Loja poderem reiniciar o caminho sem a minha presença e logo com mais liberdade de acção.

Voltei passados 9 meses, tendo combinado com o J.P.G que chegaria atrasado e que entraria de forma ritual, com resposta ao inquérito usual nessas circunstâncias.
Foi-me indicado um lugar nas colunas e não no Oriente como era de direito, mas era assim que tinha que ser.

Só na sessão seguinte é que ocupei o meu lugar de Ex-Veneravel, na cadeira à esquerda da do Venerável.


Epilogo

A Fraternidade e o Espírito Maçónico que a Loja passou aos seus Membros verificou-se.

Aqueles que não seguiram o caminho da Loja cumpriram escrupulosamente a palavra dada e mesmo intimados a por a funcionar a Loja Mestre Affonso Domingues, à semelhança do que acontecia com outras Lojas, recusaram fundamentando com a palavra dada.

Alguns voltaram à Loja, mas ficaram apenas um ou dois anos. Outros abandonaram a vida Maçónica activa, mas continuam a ser Maçons no seu espírito, e no nosso.

Alguns comparecem à refeição (almoço ou jantar) que a Loja organiza pelo Solstício de Inverno.

Todos, estou seguro, guardam a medalha da Loja em local de destaque, nem que seja só nos seus corações.

Tudo o que levei a cabo naquele ano de 1996 /1997 nao teria sido possível se aqueles que eu tinha escolhido para me acompanharem na gestão da Loja não tivessem confiado nas minhas decisões e não me tivessem apoiado.

Nos nossos rituais, iniciação no 1º grau, é mencionado um princípio muito importante:

“No entanto, reflicta que nem os adultos isolados e plenamente desenvolvidos podem efectuar sozinhos qualquer grande empreendimento. Pôde fazer sem dificuldade a
sua viagem com o passo firme de um homem maduro mas foi-lhe certamente bem útil a companhia de um homem experiente que se comportou como um Irmão. “

Isto aconteceu na altura e acontece hoje.

Cabe referenciar que aquele que foi o meu quadro de Oficiais na altura da convulsão, ficou praticamente todo com a Loja e se a memória não me atraiçoa, quase todos foram Veneráveis Mestre da Loja. Fica assim uma palavra para:

J.P.G. ; Luís D.P. ; Rui Bandeira ; António P. ; João D.P. ; que foram Veneráveis e para Acácio R. que teve papel fundamental como Grande Secretário da GLLP/ GLRP e Rui.D.R. que tem sido apenas obreiro.
Tenho que salientar que aquele que escolhi como Mestre Organista, A.B., continua hoje a ser o Mestre Organista da Loja e provavelmente continuará a sê-lo enquanto quiser.

A Loja Mestre Affonso Domingues continua. Tem vindo nestes 10 anos a fazer o seu trabalho de forma irrepreensível, sempre mantendo o espírito que a caracterizou desde o início.

Este ano como no ano anterior e espera-se à semelhança do que acontecerá para o ano que vem, na primeira sessão do mês de Julho a Loja elegeu mais um Venerável Mestre, o 18.º

A Loja tem neste momento no seu quadro mais de 40 Obreiros (numero mais ou menos constante nos últimos 5/6 anos), é uma das maiores da GLLP/ GLRP, tem uma frequência média às sessões de 20 Obreiros com a particularidade de uns só virem à sessão de sábado e outros só virem à sessão de quarta-feira (o que extrapolado se todos viessem sempre seriam frequências de 25 a 30 obreiros por sessão).

Nas ultimas eleições para Grão Mestre votaram 20 Mestres do quadro em 29 possíveis.

Estão nos passos perdidos 2 ou 3 candidatos para serem admitidos, e prevê-se que ingressem na Loja, vindos de outras Lojas mais 2 ou 3 membros.

A Loja continua com os projectos de Solidariedade que acarinhou desde sempre, ajuda a instituições carenciadas, grupo de dadores de sangue e outros. Não negligenciou nunca os planos de formação dos aprendizes e companheiros. Mantém um rigor ritual invejável.
Produz por ano uma dezena de pranchas como mínimo. Mantém uma actividade social com as famílias.
Discute todos os assuntos internamente, e apresenta-se sempre em Grande Loja com opinião formada sobre os assuntos em discussão, votando de acordo com o que foi determinado internamente e não para fazer jeitos a A ou B.
Dirimiu sempre os problemas surgidos internamente, nos graus apropriados e soube sempre encontrar uma solução.

Por tudo isto e por mais um sem numero de coisas posso, sem falsas modéstias nem vaidade, afirmar que a História já me julgou e que as minhas decisões foram as correctas.

Mas mesmo assim precisei de 10 anos para conseguir escrever estas memórias.

Foi de facto um Veneralato muito diferente. Muito diferente dos anteriores, felizmente muito diferente dos posteriores, mas sobretudo muito diferente do que eu tinha planeado e eu tinha pensado em fazer um Veneralato diferente!!!

Um dia fui Venerável da Melhor Loja Maçónica que conheço. Na verdade só dirigi 5 sessões em 22 possíveis, não fiz nada do que tinha planeado fazer e fiz tudo o que tive que fazer.

Ser Maçon é isso mesmo, fazer o que se tem que fazer.

Revelo aqui um segredo.

Um dia vou querer ser Venerável da Loja Mestre Affonso Domingues, mas esse dia ainda está muito, mas mesmo muito, distante.


José Ruah


Fica assim concluido este texto que reflecte as minhas memorias de um ano muito complicado para a Maçonaria Regular em Portugal. Quis o Grande Arquitecto que fosse eu o Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues.

22 julho 2007

Um dia fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues - 2

Continuo hoje a publicação do texto sobre o meu Veneralato.

Sábado 7 de Dezembro de 1996.

Nessa madrugada (noite de sexta para sábado) pelas 3h um grupo de membros da Grande Loja, comandados pelos meus interlocutores da chamada de Novembro espera o fim de uma sessão de uma Loja e tomam de assalto a Sede ocupando-a. Decretam o impedimento do Grão Mestre por Insanidade maçónica (ainda hoje não consegui perceber o que isto queria dizer!), constituem uma “ Junta de salvação maçónica” e convocam um Soberano Colégio de Oficiais para 2ª feira à noite. Estranhamente a convocatório, feita por telefone, foi selectiva.

Até segunda (9 de Dezembro) foi um frenesim. Não tendo sido convocado para o Soberano Colégio de Oficiais, reuni em minha casa à mesma hora do dito Colégio, os oficiais da Loja, com excepção do Tesoureiro que estava em Cascais a assistir ao Colégio, para poder ouvir os meus pares e poder decidir.

Antes de mais impunha-se saber se no sábado seguinte, dia 14, haveria ou não reunião da Loja Mestre Affonso Domingues. Se sim, onde e como, se não, por que razão. E durante essa noite a sessão esteve montada, um de nós arranja a sala, outro comprava uns malhetes, eu tinha cópias dos quadros de Loja, enfim tudo era possível.

Até que começámos a receber informações de Cascais e das decisões que lá se tomavam. Simultaneamente chegavam informações de Lisboa. Nessa altura a gravidade da situação não era mais escamoteavel, se é que alguma vez o tinha sido.

Com o acordo de todos decidi adiar sine dia a reunião de 14/12, tendo escrito (manuscrito) uma carta aos Irmãos, que o Irmão Secretário depois montou em papel da Loja e enviou por correio azul, explicando essa decisão.

Esta decisão veio a verificar-se como de grande importância no futuro.

Os dias até ao Natal / Ano Novo sucederam-se com contactos telefonemas, reuniões, decretos emitidos por Cascais (Sino) e emitidos por Lisboa (GLRP/GLLP). Estes decretos, emitidos a uma velocidade vertiginosa, expulsavam pessoas, suspendiam-nas, renomeavam-nas para cargos, etc.

Foi por estas alturas que tomei a decisão de não decidir naquele momento. As partes queriam uma decisão rápida do Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues, pois queriam alinhar Lojas nas suas fileiras, e se possível Lojas de referencia com gente de referencia.
Esta decisão foi apenas institucional, uma vez que a minha posição pessoal estava definida desde o primeiro momento.

As informações sucediam-se, a Loja A alinhou em Cascais, a B em Lisboa, a C partiu-se ao meio, a D abateu colunas, etc.

Fui chamado para inúmeras conversas privadas, por gente das duas partes, onde ouvi todo o género de argumentos pró e contra cada uma das partes, mas sobretudo o realçar da importância de uma Loja como a Mestre Affonso Domingues.

Importa aqui informar o estimado leitor que na altura eu tinha 5 anos de Maçonaria e 32 anos de idade.

Este facto pesou muito nas tentativas de me “chamar à razão”, a pressão em cima do “puto” vai fazê-lo ceder terá sido seguramente uma das coisas que aflorou muitas mentes. Lastimo os que pensaram assim, pois só mostraram como não conheciam o Venerável que tinham escolhido os que à Loja pertenciam e que não me conheciam como pessoa os demais.

Depois de muito matutar decidi sobre a forma de decisão da Loja quanto ao caminho a seguir. Convoquei uma reunião formal, mas não ritual da Loja que funcionaria nos seguintes termos:

- Todos os membros da Loja, constantes da lista de obreiros em 6/12/1996, seriam convocados.
- Cada presente, independentemente do seu grau, tinha direito a 1 voto, podendo haver votos por delegação no máximo de 1 delegação.
- Não seriam admitidos insultos, sob pena de ser retirada a palavra.
- Cada intervenção teria no máximo 3 minutos, excepto as intervenções de fundo a serem proferidas por “representantes das partes”.
- Seria concedido o direito de resposta, desde que não solicitado abusivamente.
- Não havia limite de intervenções por orador
- As votações seriam de braço no ar e a decisão por maioria simples.
- Com excepção de mim que dirigiria a sessão nenhum outro oficial da Loja tinha especial prerrogativa.

Reservei então uma sala no Hotel Plaza em Lisboa, solicitando que as mesas fossem dispostas em U com uma mesa de presidência. E preparei detalhada explicação sobre a forma de funcionamento da reunião.

Sábado 19 de Janeiro de 1997.

Sala cheia no hotel. Ambiente tenso de cortar à faca. A Loja com um sentimento de Loja fortíssimo, mas com lealdades pessoais e caminhos pessoais muito fracturantes.
A grande confiança, entre os membros, que tinha sido o alicerce da Loja tinha evoluído para uma grande desconfiança. Havia inclusivamente alguns rancores latentes.

Lembro-me que as facções se sentaram em lados separados da Mesa. Terá sido mais ou menos uma coincidência !

Também instrui alguns Irmãos da minha confiança (J.P.G, Rui Bandeira) a tomarem lugar em sítio onde eu pudesse comunicar facilmente com eles com uma troca de olhares.

Tudo pronto.

A primeira questão levantada foi a da legitimidade de fulano e cicrano estarem sentados ali.

A resposta mil vezes ensaiada saiu pronta.

Comecei com “ Meus senhores” e não com “ Meus Irmãos” para marcar claramente a diferença do contexto.

Expliquei então qual a questão técnica que me permitia ter ali toda a gente, questão essa, que assentava nos seguintes pressupostos:

Não tendo havido qualquer sessão ritual da Loja desde fim de Novembro, a Loja e logo eu enquanto Venerável Mestre não havia tomado conhecimento oficial dos Decretos emanados pelos Grão-Mestres. Consequentemente não havia sido possível aplicar o disposto nos mesmos. O que queria dizer que não havia conhecimento de expulsões, e outras sanções.

Aquela era uma sessão não ritual e logo nada obstava a que todos pudessem estar ali sentados
O terceiro pressuposto foi que quem mandava era eu e que aquela tinha sido a minha decisão e o convite/convocatória havia sido redigido, assinado e mandado por mim e que logo a responsabilidade era integralmente minha.

Posto isto iniciou-se uma maratona de mais de 4 horas de discussão, que tendo tido momentos de grande tensão decorreu na generalidade com decoro e educação.

Deram entrada 2 Moções.

A primeira elaborada por Rui Bandeira (na altura Orador da Loja e hoje Ex-Venerável), extensa completa e estruturada, que visava a decisão imediata do caminho a seguir pela Loja.

A Segunda subscrita por Ilídio P. C., Ex. Venerável que solicitava que a Loja envidasse um último esforço para re-aproximar as partes desavindas.

Percebendo que se a primeira moção fosse votada, a segunda seria prejudicada decidi inverter a ordem de votação. Tomei esta decisão imbuído um pouco do espírito Quixotesco da paz e se isso fosse possível do papel fulcral que a Loja teria para a Historia da Maçonaria em Portugal.

A proposta foi aprovada por maioria, e ficou determinado que haveria nova reunião daí a 2 semanas para avaliação dos esforços, sendo que se fossem infrutíferos passaríamos a votação da proposta que havia entrado em primeiro lugar.

Encerrei a reunião, esgotado e cheio de febre. Fui para casa dormir e devo ter acordado umas 15 horas depois.

Nas duas semanas seguintes desmultipliquei-me em contactos. Bem, na verdade foram os primeiros dias suficientes para perceber que não havia qualquer hipótese de conciliação.

Informo então todos os membros da Loja que a continuação da reunião ocorrerá na data definida, mas no bar do Clube dos Empresários em Lisboa, que para o efeito foi transformado em plateia.

O ambiente era muito pesado. Todos sabíamos que era chegado o momento mais penoso.

Dei conta do falhanço e voltei a explicar as regras do jogo. Abri a plateia para mais intervenções e houve lugar a mais uma série delas que totalizaram mais umas 3 horas de reunião.

Não era possível não deixar as pessoas falar, era necessário que cada um dissesse o que lhe ia na alma para que nada ficasse por dizer e o caminho a seguir começasse da melhor maneira.

Entrámos então no debate de como iríamos votar a moção apresentada e a única em cima da mesa. Foi decidido depois de alguma discussão que a votação seria ponto a ponto e não a integralidade da moção.
Iniciei o processo e todos os pontos foram sendo votados por Unanimidade. Nestes pontos cada um assumia o compromisso que dentro das regras e dos regulamentos, faria o possível por reintegrar na Loja Irmãos que tendo seguido caminho diverso do da Loja a ela desejassem voltar.

Um outro compromisso era o de que a Loja Mestre Affonso Domingues era UMA e UMA SÓ e que os Irmãos que seguissem caminho diverso da Loja se comprometiam a não permitir que existissem Lojas com o mesmo nome distintivo.

E por aí a fora.

Chegados à votação do ultimo ponto no qual se propunha que a Loja reunisse dentro da legalidade e debaixo do Estandarte da GLRP, reconhecendo como Grão Mestre o Irmão Luís Nandim de Carvalho, legitimamente eleito.

Aqui interrompi os trabalhos e anunciei a minha posição e decisão.

Informei todos os membros da Loja que independentemente do resultado da votação que se seguia, fosse ele a minha opção ou não, convocaria uma Sessão Ritual de Loja com a seguinte ordem de trabalhos:

“Eleição de novo Venerável Mestre “

Expliquei que o fazia porque o poder numa Loja não pode cair num vazio e que portanto tendo-o recebido iria entregá-lo, e que alem do mais eu tinha sido eleito por todos os obreiros e não poderia ser o Venerável de apenas alguns. Estas explicações não convenceram uma grande parte dos Irmãos, mas também não me questionaram.

Isto permitia-me resolver o problema se o caminho da Loja fosse diverso do meu, obrigava-me a cumprir a palavra se o caminho fosse o meu.

Voltando a votação o resultado foi que a maioria dos presentes foi favorável à proposta e consequentemente a Loja Mestre Affonso Domingues seguiu o seu percurso na que se passou a denominar Grande Loja Legal de Portugal / GLRP.

Os minutos seguintes foram dos mais complicados da história da Loja. Quase 40 Homens adultos nos braços uns do outros – não importava que caminho tinham votado – chorando.

No meio dessa demonstração de sentimentos, um dos meus maiores críticos, homem que dificilmente mostrava os seus sentimentos e que no inicio do meu Veneralato havia lançado inúmeras duvidas sobre o meu desempenho, disse-me ao ouvido que tinha tido orgulho em me ter como Venerável.

Foi o maior elogio que ouvi até hoje na Maçonaria e foi também a maior demonstração de espírito maçónico que presenciei.

Não me lembro o que fiz a seguir. Acho que nesse dia o meu cérebro ficou vazio. Pela primeira vez a Loja Mestre Affonso Domingues não votava um assunto por unanimidade ou pelo menos por maioria esmagadora.
Mas ficou também o sentimento de dever cumprido. O sentimento que tudo o que havia a fazer internamente havia sido feito e que esta separação resultava da consequência de acções iniciadas fora da Mestre Affonso Domingues. Acções essas relacionadas com poder, como se na Maçonaria o Poder fosse uma coisa importante.
Acabava de passar à condiçao de Veneravel Mestre Cessante.
(...)
José Ruah
A terceira e ultima parte será publicada amanhã.

21 julho 2007

Um dia fui Veneravel Mestre da Mestre Affonso Domingues - 1

Começo aqui a publicação das minhas memórias. O texto pelo seu tamanho vai ser dividido em 3 e diz respeito ao ano do meu Veneralato. Não entrarei em detalhes sobre o Golpe da casa do Sino, reservando-me o direito de mais tarde publicar sobre esse tema.
Um dia fui Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues. Nunca mais fui Venerável nem desta nem de outra Loja.

Não porque tenha ficado vacinado mas porque enquanto acreditar no projecto da minha Loja, não vou para outra ou não vou fundar outra, e consequentemente fico como estou.

Corria o mês de Julho do ano de 1996 quando em eleição por unanimidade passei à condição de Venerável Mestre eleito. Foi um sábado. Nessa noite em festa brilhantemente organizada pelo VM cessante o Vítor, no pátio do Clube dos Empresários em Lisboa, as sardinhas e o resto comida estavam óptimas, foi possível à Loja reunir um montante em dinheiro muito apreciável, bem como géneros alimentícios, roupas e brinquedos que foram entregues nessa noite às responsáveis pelo ATL do bairro da Galiza no Estoril.

O dia tinha começado com uma dação de sangue pela manhã. Foi um dia em cheio para a Mestre Affonso Domingues.

Tinha decidido entre a apresentação da candidatura e a eleição que iria ser diferente do que até então tinha sido a norma, só não sabia que o que eu planeara como diferente foi uma brincadeira de crianças comparado com o que aconteceu.

Essa diferença assentou no facto de anunciar logo após o resultado da votação quem iriam ser os oficiais principais da Loja. Lembro-me de convidar o 2ª Vigilante para ser primeiro e como me solicitou ficar mais um ano no posto convidei outro Irmão para o Cargo. Nessa altura não estava ainda enraizado o hábito da progressão dos Vigilantes e era normal durante o mês de Agosto o VM eleito receber “pressões” para escolher este ou aquele. Como não gosto de ser pressionado, e quando sou, tendo a mandar o “pressionador” às urtigas, decidi assim. Dessa forma passava o verão tranquilo.

O Vítor solicitou-me, no final da sessão, que representasse a Loja numa reunião da máxima importância que ocorria no dia seguinte – domingo – e que tinha sido convocada por Fernando Teixeira que era o Grão Mestre na altura. Esse ano de 1996 era o ano da realização da Conferencia Internacional de Grão Mestres e a GLRP tinha conseguido organizar esse evento. Em simultâneo ocorreria a tomada de posse de Luís Nandim de Carvalho enquanto 2º Grão Mestre da GLRP.

A dita reunião visava aspectos relacionados com a Conferencia, mais especificamente financiamento do evento. As Lojas tinham sido chamadas para patrocinarem a vinda de Grão Mestres de países com dificuldades. Se me recordo 350 contos (1750 Euros) trazia e aLojava um Grão Mestre de um país europeu.

A reunião correu muito bem, uma Loja pagava um GM, outras duas dividiam outro, e nós Affonso Domingues calados lá no canto. Corria bem a reunião até que fomos interrogados por F. Teixeira – “ E a Affonso Domingues? “.

Respondi que a Loja estava exangue, exangue porque tinha dado sangue na véspera e porque tinha também esgotado as suas reservas financeiras no apoio a uma instituição de solidariedade social que somado dava cerca de 700 contos (3500 euros), consequentemente não podíamos trazer nenhum GM porque não tínhamos dinheiro e juntei que mesmo que tivéssemos as nossas prioridades seriam para com quem precisa e não para festas.

Nessa altura a reunião começou a correr mal !

Na nossa perspectiva as prioridades eram umas, nas de Fernando Teixeira tínhamos prejudicado a vinda de 2 Grão Mestres.

Esta reunião deu origem, para além de dezenas de conversas e indignações dos que eram mais chegados ao Grão Mestre, a um decreto de Fernando Teixeira no qual dispensava a Loja Affonso Domingues de comparecer na festa e na Sessão de Grande Loja, etc. Eu pessoalmente já lhe tinha dito que não iria aquando de uma conversa privada posterior a esta reunião na qual lhe expliquei com mais detalhe a posição da Loja e a minha.

Este “castigo” de dispensa de presença, e não um decreto de abertura de inquérito com vista a sanção disciplinar minha, como era hábito nessa altura, demonstrou claramente que a Loja Affonso Domingues tinha razão e que as posições apresentadas o foram de forma inatacável.

Modéstia colectiva à parte mas sempre e ainda hoje as posições da Loja são fundamentadas, correctas e inatacáveis.

Nesse ano, e dado que no equinócio de Setembro tomou posse o novo Grão Mestre e que este tinha expressado o desejo de instalar o Máximo de Veneráveis Mestres possível, não decorreram as costumeiras Instalações.

Logo no inicio de Outubro e em cerimonia simplificada, presidida pelo próprio Grão Mestre foram empossados todos os Veneráveis que já fossem Mestres Instalados (o que era o meu caso por dispensa especial do Grão Mestre Anterior).

Também neste particular o meu Veneralato foi diferente.

Convoquei a primeira sessão e nela expliquei à Loja a razão pela qual já a dirigia.

Em meados de Outubro convidei o Grão Mestre para um almoço, fazendo-me acompanhar dos meus vigilantes. Reservamos uma sala num restaurante de Lisboa, e durante a refeição explicámos ao GM que entendíamos a situação difícil da Grande Loja, num momento de transição e que enquanto ele GM se mantivesse fiel aos princípios da Maçonaria Regular, aos regulamentos, etc . , então a Loja Mestre Affonso Domingues o suportaria e apoiaria.

Nenhum de nós tinha ideia do que iria suceder.

Foi por esta altura que foi alugada a Casa do Sino e se deu a mudança de instalações do Jardim dos Passarinhos no Estoril para lá.

Grandes alegrias por termos finalmente uma sala onde pudéssemos reunir com dimensão para se poder trabalhar com à vontade, e sobretudo o que era muito importante com a possibilidade de organizar os ágapes rituais logo após a sessão, uma vez que usando a cozinha local a mulher do ex Grão Mestre preparava (aquecia) a comida previamente encomendada.

Lembro-me que começamos a usar a sala imediatamente sem sequer se fazerem modificações como fossem os degraus do Oriente. Mas o entusiasmo era tal que essas coisas eram de menor importância.

Dirigi 2 sessões, as de Novembro, na casa do Sino.

Convém aqui explicar, e antes de continuar o relato, que a Loja Mestre Affonso Domingues era na altura uma das mais importantes da Grande Loja e que nas suas colunas se sentavam mais de 15 grandes oficiais, alguns Assistentes de Grão Mestre e mesmo Vice Grão Mestres. O número de presenças a uma sessão era de 30 obreiros como mínimo.
Dentro da Loja existiam muitos líderes de opinião que eram respeitados por membros de outras Lojas, e dado que a Loja tinha assistido na criação de Lojas de fora de Lisboa tinha também algum peso na decisão das mesmas.

O Ambiente estava frenético.

Pelo fim de Novembro, não posso precisar a data específica, recebo uma chamada na qual me é solicitado que me desloque à Universidade Moderna para assinar uma carta para destituir o Grão Mestre. Esta solicitação foi-me feita em dupla qualidade de Venerável Mestre da Mestre Affonso Domingues e Grande Oficial. Pedi que me mandassem por fax cópia do documento para poder analisar e decidir se o assinava ou não, mas não consegui pois do outro lado argumentavam que era ultra confidencial e que se eu quisesse conhecer o documento que me deslocasse. Fiz finca pé e a chamada foi transferida para alguém com mais autoridade no golpe (e na Moderna) que perante a minha recusa me ameaçou – “ ou assinas ou …” e eu respondi “ ou … “ – tendo a conversa ficado por ai. Hoje tenho pena de não ter ido lá ler a carta.
Nunca a assinaria, mas como a dita nunca foi divulgada ficaram sempre dúvidas sobre a sua existência. Disse-me quem viu a carta que esta nunca foi divulgada porque o número de assinaturas no fim da mesma não era representativo.

Na altura tudo me pareceu estranho, pelo que fui mantendo o Grão Mestre informado do que se passava.

As informações e contra informações eram muitas e começaram a aparecer noticias nos jornais.

No entanto e se me recordo os dias que antecederam o “ assalto” foram mais ou menos calmos.
(...)
José Ruah
Seguem-se mais 2 partes

20 julho 2007

O sétimo Venerável Mestre

O sétimo Venerável Mestre foi eleito em Julho de 1996 e foi instalado em Setembro do mesmo ano, com grande expectativa e grandes esperanças da Loja. Era um elemento da "nova geração", que fora iniciado já depois da constituição da Grande Loja e, sobretudo, o primeiro elemento que não pertencia ao círculo restrito de amizades de Fernando Teixeira, o Grão-Mestre fundador. Era unanimemente reconhecida a sua capacidade, o seu interesse, o seu dinamismo, esperava-se que ele fosse o catalisador dos novos rumos da Loja, novos rumos que os mais ansiosos e inconformados vinham debatendo há algum tempo, que com ele se começasse a dar resposta às principais perguntas que na Loja se fazia então: que fazer com este grupo? Como evoluir? Que iniciativas tomar?

José Ruah, o sétimo venerável Mestre, nem quando foi eleito,nem quando foi instalado sequer remotamente intuiu quão grande, quão radical, seria a mudança que ocorreria no seu Veneralato.

José Ruah, ensarilhado pelas circunstâncias, envolto no imprevisto, lançado no olho do furacão, pouco teve oportunidade de fazer - mas fez mais do que muitos, talvez, até hoje, tenha sido o Venerável Mestre que, contas feitas, mais fez pelo preservar da identidade da Loja.

José Ruah, tolhido pela tempestade, batido pelos ventos da discórdia, encharcado pela chuva da cizânia, acabou por cumprir menos de meio mandato - mas essa menos de metade valeu por vários mandatos completos.

José Ruah, assediado por uns e por outros, sitiado pela urgência, acompanhado por todos, pouco fez do seu projecto para esse ano - mas salvou e fortaleceu o projecto da Loja Mestre Affonso Domingues.

Os primeiros tempos na Cadeira de Salomão são de adaptação. Os mais experientes sabem-no. Por isso, o Venerável Mestre que termina o seu mandato procura deixar algum trabalho encaminhado para ser executado pelo seu sucessor: candidatos já votados e aprovados, prontos para serem iniciados, Aprendizes com pranchas lidas e em condições de serem passados a Companheiros, Companheiros com formação terminada, aptos a serem elevados a Mestres, Mestres com pranchas de traçar prontas para apresentar seus planos na Oficina. Assim, os primeiros tempos do novo Venerável Mestre, enquanto este se ambienta e afina a orientação que pretende incutir à Loja, estão assegurados. É por volta de fins de Novembro, Dezembro, que os projectos verdadeiramente do novo Venerável Mestre começam a ser implementados.

No caso do José Ruah, ambientação feita, projectos afinados, execução em começo e... ocorre o "pulo do lobo", o golpe da Casa do Sino!

De um dia para o outro, a Loja fica sem instalações, ocupadas pelos golpistas, com recurso a seguranças armados, é pressionada a aderir ao golpe, por uns, e instada a permanecer leal ao Grão-Mestre eleito, por outros. Os mais antigos e experientes, incluindo todos os ex-Veneráveis, são amigos de Fernando Teixeira e pronunciam-se pela adesão à cisão. Os Mestres mais novos, já iniciados depois da constituição da Grande Loja e formados no respeito da legalidade e no cumprimento dos princípios da Regularidade, tendem a manter-se fiéis ao Grão-Mestre eleito e internacionalmente reconhecido e aceite como tal. Os Companheiros e Aprendizes ficam desorientados no meio do caos que se instala.

E todos se voltam para José Ruah, todos esperam do Venerável Mestre que indique o caminho, aponte a opção, escolha o rumo. Todos, na Loja e fora dela, de um lado e do outro, têm a clara noção que, muito provavelmente, a Loja seguirá a via por que enveredar o seu Venerável Mestre. Todos, na Loja e fora dela, de um lado e do outro, rapidamente se apercebem que a opção que a Loja Mestre Affonso Domingues tomar tem todas as condições para ser determinante na opção de outras Lojas e muitos outros obreiros: a esmagadora maioria dos obreiros da Grande Loja fora iniciada pela Loja Mestre Affonso Domingues, os seus elementos ajudaram a consagrar muitas Lojas, de Norte a Sul, do Litoral ao Interior. A influência da Loja Mestre Affonso Domingues podia ser determinante para o sucesso da cisão ou para o suporte do Grão-Mestre eleito e agora contestado.

Por isso, as pressões, internas e externas, foram enormes, foram esmagadoras, foram asfixiantes. E todas, ao mesmo tempo, se exerciam sobre quem tinha o poder de cortar o nó górdio por um ou outro dos lados, sobre quem segurava a Espada Flamejante da Loja Mestre Affonso Domingues, o seu sétimo Venerável Mestre, José Ruah.

José Salomão Ruah fez então jus ao seu segundo nome e agiu com sageza e prudência dignas do Rei que tal nome usou e por tais Virtudes ficou conhecido: primeiro esperou, depois aguardou; olhou, viu, ouviu, sentiu; deixou a poeira assentar, os pássaros pousar, a contenda acalmar. Durante dois meses, fez saber a todos os obreiros que a Loja estava com os trabalhos suspensos, até que fosse tempo de decidir. Acalmou as hostes internas, exasperou os que de fora aguardavam pelo apoio dele e da Loja; ouviu as razões dos revoltosos e a versão do Grão-Meste contestado e de quem o apoiava, assegurou-se das intenções de uns e de outros.

Quando o tempo foi de decidir, convocou uma reunião de todos os elementos da Loja. Aí anunciou que a sua decisão era que a Loja é que ia decidir, que o grupo é que se ia assumir. Pela gravidade da situação, anunciou, e todos concordaram, que a decisão não seria apenas tomada pelos Mestres, mas por todos os Obreiros, Mestres, Companheirosa e Aprendizes, um homem, um voto. Logrou obter consenso quanto ao mais importante: o principal era preservar a Loja e a sua identidade, qualquer que fosse o seu caminho, e esse podia ser um, não de dois, mas de três: ficar fiel ao Grão-Mestre eleito, aderir à cisão, ou bater com a porta na cara de uns e de outros e decidir seguir o seu caminho como Loja independente e quem criou os problemas que os resolvesse...

Fez aprovar os princípios de que cadaum seria livre de tomar a opção que entendesse, mas que a opção da maioria seria a opção seguida pela Loja e os minoritários tomariam o seu caminho sem azedumes e sem pôr em causa a Unidade e o Património Moral da Loja, afastando-se pacificamente. Garantiu que ficasse assente que a porta que se abria para os que saissem se abriria de novo, sem hesitação nem problema, para aqueles que porventura ulteriormente desejassem regressar. E, após duas reuniões, em que todos falaram, serenamente, sem azedumes, sem ataques pesooais, sem criticar as opções do parceiro do lado, a maioria optou por permanecer fiel ao Grão-Mestre eleito e assim ficou também a Loja. Quem tomou a decisão de se afastar, não foi criticado pela maioria que ficou; as amizades mantiveram-se; os contactos cordiais e os reencontros agradáveis mantiveram-se e mantêm-se. Alguns dos que então partiram já voltaram. Um desses já voltou a partir, agora para o Oriente Eterno. Os demais, estejam onde estiverem, estejam com quem estiverem, continuam e continuarão a ser dos nossos. Porque honraram a sua palavra. Porque respeitaram a Unidade e a Identidade da Loja que ajudaram a criar, a crescer e a desenvolver-se e porque, portanto, muito do que a Loja foi, algo do que é, um pouco do que será, também é deles.

Este legado, o de ter conseguido que a Loja saísse mais forte e mais unida daquela profunda crise, deixou-o José Ruah - e não sei se outrem, naquelas circunstâncias, o teria conseguido deixar. O seu papel no reforço da Identidade da Loja foi, assim, imenso e assinalá-lo é um simples acto de justiça.

E - é curioso! - nunca mais em Loja se voltou a ter a dúvida existencial de "que fazer com o grupo". Desde então, todos aprenderam, todos sabem, todos transmitem aos mais novos, que o grupo serve para ajudar a aperfeiçoar os seus elementos e que estes e cada um destes faz o que se sentir bem a fazer, em prol de si, da Loja, da Maçonaria, do País e da Humanidade, sem qualquer ordem de preferência, com a ajuda dos demais. E, daí para a frente, sempre soubemos o que fazer e sempre tivemos que fazer - até um blogue...

Para obter e atingir a pretendida Unidade da Loja, José Ruah pagou um preço: garantiu antecipadamente aos que ficassem em minoria que ele não iria dirigir a maioria. Ele, Venerável Mestrte da Loja Mestre Affonso Domingues, dirigira a Loja com todos os seus obreiros. Não a dirigiria apenas com alguns.

Não sei porque assim decidiu. Eu não decidiria assim e nunca entendi bem essa sua decisão, embora, naturalmente a tivesse respeitado. Até hoje, não compreendo a necessidade de assim ter procedido (talvez agora o José Ruah me elucide...). Mas o certo é que o José Ruah assim o disse e assim o fez: não voltou a dirigir a Loja que, até ao fim do seu mandato, e na falta de um Ex-Venerável (todos acompanharam a cisão) teve de, excepcionalmente, ser dirigida, com a devida autorização do Grão-mestre, pelo 1.º Vigilante, actuando no impedimento do Venerável Mestre eleito. Até ao fim do seu mandato, José Ruah manteve-se ausente. Regressou, com toda a naturalidade, depois de eleito e instalado o seu sucessor. E hoje, volta e meia...dá-nos música!

Rui Bandeira

14 julho 2007

A Continuidade - Vem ai o 18.º

Hoje a Loja Mestre Affonso Domingues, elegeu o seu proximo Veneravel Mestre e o proximo Tesoureiro.

Numa votaçao sem qualquer sobressalto, foi assegurada a continuidade da Liderança da Loja.

Para Tesoureiro foi eleito o Irmão Nuno. S. L., e espera-o um cargo dificil e ingrato, mas que ele conseguirá cumpri-lo nao temos qualquer duvida.

Para Veneravel, e será o 18.º Veneravel da Loja, foi eleito o Irmao JPSetubal, habitual colaborador deste Blog.

A tomada de posse ocorrerá em Setembro e nessa altura disso daremos conhecimento aqui.

Ao Nuno e ao JPSetubal , felicitaçoes.

Jose Ruah

12 julho 2007

O sexto Venerável Mestre

O sexto Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues foi Victor E. C.. Exerceu funções entre Setembro de 1995 e Setembro de 1996.

Se o Venerável Mestre anterior, Manuel A. G., era um homem corpulento, Victor E. C. não o era menos. Se aquele era um homem bonacheirão, este elevava essa característica ao superlativo absoluto. Se um era um grande amigo de Fernando Teixeira, o outro não o era menos. Se um era aficionado pela tauromaquia, ao outro esta corria-lhe nas veias. Se um era monárquico, o outro monárquico era. Vistas à distância do tempo as características pessoais de um e de outro, efectivamente ressaltam as semelhanças, as similaridades de interesses, as cumplicidades de gostos, o paralelismo de percursos, que ambos partilhavam.

Porém, pese embora estas semelhanças, Victor E. C. não era e não foi um clone de Manuel A. C., longe disso. Desde logo, enquanto este irradiava serenidade, aquele transbordava simpatia. Mais uma vez, a Loja era dirigida por quem privilegiava a afectividade e a camaradagem. Era quase como se um invisível sistema de pesos e contrapesos actuasse sobre os destinos da Loja, pontuados pelo rigor, mas também pela afectividade, umas vezes com um pouco mais de prevalência daquele, outras com uma nota mais acentuada desta.

Victor E. C. era, à época, um bon vivant, bom garfo e bom copo. Hoje, não será já tanto assim, que a idade já pesa e os cuidados com a saúde já o obrigam a cuidar do acerto de como come e a uma especial moderação no que a líquidos tange. Além disso, era e continua a ser um excelente conversador, um grande organizador de convívios, viagens, visitas e eventos.

Com ele, a Loja desdobrou-se em actividade, em colaboração com a Grande Loja, em visitas, em organizações. Ainda hoje as mulheress dos obreiros dessa altura dizem que "no tempo do Victor é que vocês sabiam organizar coisas...".

Victor E. C. manteve a Loja no rumo que a mesma levava. O número de obreiros continuava a aumentar. Os Aprendizes e Companheiros continuavam a ser bem formados e a só serem passados a Mestres após terem permanecido nos seus graus o tempo que se entende como necessário e após terem evoluído como devido. A tudo isto acresceu o apreço de Victor E. C. pela vertente do convívio social e a sua capacidade de organização nesse aspecto.

Esta característica não fora, porém, consensual. Antes da sua eleição, um obreiro então com alguma influência na Loja, defendeu, em conversas com outros obreiros, que alguém com esse gosto pelo convívio social, que ele considerava fútil, não tinha as melhores condições para dirigir a Loja e defendeu que a Manuel A. G. sucedesse, não o seu 1.º Vigilante, Victor E. C., mas sim o seu 2.º Vigilante, José Ruah. Essa tese não mereceu vencimento. Praticamente todos os demais entenderam que não só Victor E. C. tinha todas as condições para dirigir a Loja, mas também merecia ser eleito para essa função, pelo esforço e dedicação que há vários anos dedicara à Loja e à Grande Loja, em leal colaboração e esforçado apoio a quem dirigia uma e outra. Além do mais, todos ainda tinham fresca na memória a forma como fora resolvida a transição do segundo para o terceiro Venerável Mestre e as vantagens que existiam em não haver lutas pelo poder na Loja, seguindo-se uma natural e aceite ordem de transmissão de funções.

Em boa hora se tomou tal decisão! Tivesse-se então abandonado o critério que era seguido e cedido à pretensão de ultrapassar Victor E. C. por José Ruah e amargamente pagaríamos o preço no ano seguinte!

É que, se na Loja tudo corria bem, no conjunto da Grande Loja não era bem assim: um poderoso grupo estendia a sua influência, ganhava posições, preparava o assalto ao quimérico poder. As nuvens acastelavam-se no horizonte. A tempestade veio a rebentar no ano seguinte. E se José Ruah tivesse sido Venerável Mestre em vez de Victor E. C., não beneficiaria a Loja da sua firmeza ao leme quando a colossal borrasca nos atormentou! Mas essa é matéria para outro texto...

No ano maçónico de 1995-1996, apesar destas nuvens negras no horizonte, a Loja manteve o seu curso pujante e beneficiou de um excelente ano sob a direcção agradável e convivial de Victor E. C.. Todos juntos! Mal sabíamos nós que esse era o último ano em que o caminho era comum para todos!

Victor E. C., pelos profundos laços de amizade com Fernando Teixeira, quando a crise sobreveio, não podia, desde logo por razões afectivas, deixar de o seguir. Mas teve um comportamento exemplar na execução do que veio a ser por todos decidido. A ele muito se deve que a Loja Mestre Affonso Domingues seja uma e una. A ele e outros se deve a recuperação dos nosssos bens. Nunca, nem nos tempos mais dolorosos e profundos de separação, o Victor E. C. deixou que a sua Amizade por todos, os que optaram por um lado e os que escolheram outro caminho, fosse perturbada. Acompanhou Fernando Teixeira e isso só lhe ficou bem. Quando Fernando Teixeira passou ao Oriente Eterno, ficou liberto das obrigações que a sua profunda amizade por ele lhe impusera. Entretanto, passou por crises pessoais, profissionais e de saúde que limitaram a sua acção. Mas sempre continuou em estreita ligação connosco. E, um dia destes, espero, e espero não me enganar, estará de novo no lugar que é seu, na Loja Mestre Affonso Domingues, num confortável retomar de cumplicidades.

Rui Bandeira

04 julho 2007

O quinto Venerável Mestre

O quinto Venerável Mestre, que exerceu funções de Setembro de 1994 a Setembro de 1995, foi Manuel A. G..

Manuel A. G., um homem corpulento e bonacheirão, era amigo pessoal do Grão-Mestre Fernando Teixeira, com quem partilhava o gosto, os conhecimentos e a paixão pela tauromaquia.

Sob a sua liderança, a Loja manteve-se sempre muito próxima do Grão-Mestre, o qual, por sua vez, nomeou vários dos obreiros da Loja para o exercício de funções de Grande Oficial, isto é, funções na Grande Loja. Por um lado, isso era agradável, porque correspondia à manutenção da confiança do Grão-Mestre fundador na Loja e nos seus obreiros. Por outro lado, isso era penalizador para a Loja, que não raras vezes se via privada da presença e do contributo de vários e influentes obreiros, ocupados no exercício dos deveres dos seus ofícios na Grande Loja. Por outro lado, tinha começado a implantação dos Altos Graus na Maçonaria Regular portuguesa, com os Altos Graus dos Rito Escocês Rectificado e do Rito Escocês Antigo e Aceite à cabeça, e muitos dos obreiros da Loja acumulavam com a frequência de sessões de Altos Graus e o exercício de ofícios nos Altos Graus, por vezes com simultaneidade de reuniões entre estes e a Loja Azul (a Loja trabalhando nos três graus basilares da Maçonaria, Aprendiz, Companheiro e Mestre).

Por força destas circunstâncias, a Loja continuou a trabalhar com Quadros de Oficiais muito variáveis. Existia o Quadro de Oficiais efectivo, digamos assim. Mas raramente a Loja trabalhou com a presença de todos os oficiais efectivos. Para cada ofício existia o titular efectivo da função e, informal e naturalmente, perfilavam-se um ou mais suplentes que asseguravam o exercício da função na falta do titular. Assim a Loja se habituou a colmatar as faltas de seus membros, impedidos em outras actividades maçónicas. Assim se reforçou a característica da Loja de todos os seus membros estarem aptos a exercer bem mais do que um ofício em Loja e de conseguir trabalhar com segurança e qualidade independentemente da composição efectiva do quadro de oficiais em cada momento. O que, em termos de prática ritual, trouxe a mais-valia da garantia de uma qualidade média do trabalho, independentemente de quem esteja presente e de como estejam distribuídos os obreiros pelos ofícios, mais-valia que, felizmente, se foi mantendo ao longo do tempo.

Manuel A. G. apreciava que os trabalhos decorressem de forma imponente e serena. Com ele, cada sessão de Loja era um exercício de execução tão perfeita quanto possível do ritual, entendendo-se como parte desse esforço a execução, em toda a pompa e circunstância, de cada gesto, de cada passo, de cada fala. Com Manuel A. G., a Loja habituou-se de novo a executar o ritual, não apenas bem, mas com brilho. Cada pormenor era corrigido, cada detalhe era aperfeiçoado.

Assim, em termos de execução do ritual, a Loja retomou a qualidade que se habituou a considerar sua, com as vantagens do aumento do número de obreiros capazes de a manter e da capacidade de execução de múltiplos ofícios por cada obreiro. A preocupação e o gosto de Manuel A. G. pela boa execução do ritual criou em todos o hábito e a necessidade da qualidade. Isso continua a Loja a dever a Manuel A.G..

No seu sereno e calmo mandato, apenas uma pequena nuvem se apresentava no horizonte: retomada e aperfeiçoada a qualidade de execução do ritual, os mais dinâmicos interrogavam-se sobre o que fazer com a Loja. Tínhamos um grupo que aprendera a ser coeso, que nutria o gosto pela qualidade do trabalho ritual, que paulatinamente aprendia Maçonaria. O que fazer com ele? Apenas executar com qualidade o ritual já sabia a pouco. Mas fazer o quê? Utilizar o potencial da Loja em quê?

Uma coisa se tinha como certa. Fosse o que fosse, não seria por voluntarismo que se encontraria. Utilizar de forma útil o potencial da Loja e dos seus obreiros só fazia sentido e só seria efectiva e persistentemente possível se fosse consensual. Esta busca de conteúdo, de valia, de contribuição prática da Loja em algo que consensualmente se tivesse como possível e que se entendesse valer a pena foi tema recorrente nas conversas entre os seus obreiros, naquela época. Muitos projectos foram falados, muitos foram reconhecidos de megalómanos ou não reuniram o consenso. A pouco e pouco, foi-se entendendo que a solução não era a busca de grandes coisas, de projectos de encher o olho e a alma. Como sempre, foi nos princípios da Maçonaria Regular que fomos buscar as bases para a resposta aos nossos anseios. No caso, que a Maçonaria Regular não se destina a intervir, ela própria, enquanto tal, na Sociedade, mas cada obreiro, por virtude do seu aperfeiçoamento pessoal deve ele próprio contribuir, na medida do que possa, para a melhoria da Sociedade. A resposta não estava, pois, em ambiciosos projectos, em grandes organizações, em eventos de estalo. A resposta estava em nós mesmos e no que nós pudéssemos dar e fazer.

Foi assim que nasceu o primeiro projecto colectivo da Loja Mestre Affonso Domingues. Um projecto modesto, mas à medida das possibilidades dos seus obreiros. Um projecto discreto, mas que ajudava a suprir uma necessidade social. Um projecto através do qual cada um, na medida em que podia fazê-lo, dava o que de mais precioso uma pessoa pode dar: um pouco de si próprio.

Assim começou o que pomposamente gostamos de chamar Grupo de Dadores de Sangue Mestre Affonso Domingues, um grupo sem sede, sem direcção, sem contas nem património, sem organização, um pouco como a a casa da canção infantil ("era uma casa muito engraçada, não tinha tecto, nem tinha nada..."). Mas se nada disso teve, nem tem, teve, tem e desejamos que continue a ter o que verdadeiramente importa: a disponibilidade para ajudar, para obter e efectuar doações de sangue, para contribuir para que ninguém fique sem o necessário tratamento ou recuperação da sua saúde por falta desta essencial seiva da vida. Quem pode dar sangue, dá; quem não pode, ajuda de outra forma qualquer, na organização da acção, na sua divulgação, na simples companhia aos que dão. Sendo a Loja constituída por algumas dezenas de obreiros e com uma não negligenciável quota de elementos cuja idade ou condições de saúde não lhes permitem que dêem sangue, não esperamos que, de cada vez, se recolha uma grande quantidade de sangue. Mas, ao longo dos anos, a quantidade de sangue recolhida já é significativa. e, a pouco e pouco, vamos conseguindo o auxílio de terceiros, que amigos, conhecidos e mesmo desconhecidos também ajudem e também dêem sangue. E lá vamos ajudando...

Manuel A.G. contribuiu também para este projecto. Como os demais Veneráveis Mestres da Loja deixou também nela a sua marca. E nós não o esquecemos.

Como amigo pessoal de Fernando Teixeira que era, naturalmente que, na altura da cisão, o acompanhou. Mas continua a ser um amigo e, pelo menos no nosso convívio anual de Dezembro, procuramos, com todo o gosto, tê-lo connosco e ficamos especialmente satisfeitos quando os seus afazeres lhe permitem estar connosco. Também a ele se aplica a nossa máxima de que uma vez um dos nossos, sempre um de nós.

Rui Bandeira

28 junho 2007

O quarto Venerável Mestre

O Venerável Mestre no período entre Setembro de 1993 e Setembro de 1994 foi Ilídio P. C..

Foi o homem certo na altura certa. A Loja aprendera a trabalhar em condições mais difíceis do que aquelas em que se formara. A Loja aproveitara para perceber as vantagens de fazer rodar os Mestres - particularmente os mais recentes - nos vários ofícios rituais. É verdade que tal ocorrera por necessidade, devido à diminuição de assiduidade nas reuniões havidas às quartas-feiras. Mas ultrapassara a dificuldade e ainda obtivera um ganho com a forma como a ultrapassara. Mas a Loja necessitava de obter uma maior empatia com o seu líder. E Ilídio P. C. era o homem ideal para isso.

Ilídio P. C. teve a seu favor, desde logo, o factor emocional. A Loja aprendera a trabalhar sob uma liderança menos carismática, mas recordava com alguma saudade a ligação emocional e carismática que tivera com José M. M.. E, na verdade, com Ilídio P. C. teve o mais próximo disso que era possível, até num plano simbólico: Ilídio P. C. e José M.M. tinham sido cunhados (um deles, já não me recordo qual, tinha sido casado com a irmã do outro), a sua ligação pessoal mútua era grande (sobrevivera ao fim do casamento que os tornara cunhados) e Ilídio P. C. era também um emotivo, tal como José M. M.. Eram, obviamente diferentes - José M. M. motivava o grupo pela garra, pela combatividade, pelo carisma; Ilídio P. C. arregimentava afectos mansamente, ouvindo todos pacientemente e, num fio de voz, anunciando a decisão que todos instantaneamente sentiam que tinham contribuído para ser tomada e que reconheciam como a melhor, em face das circunstâncias analisadas. Era um carisma sossegado, mas não deixava de ser carisma.

Tinha uma actividade profissional intensa e competitiva e costumava dizer que a Loja era o seu porto de abrigo, o seu local de descontracção, onde podia estar à vontade e com as defesas em baixo, sem preocupações de ser traído (a palavra que utilizava era mais vernácula...), nem apunhalado pelas costas. Dizia-o, parte por ser verdade, mas também parte como meio de incutir na Loja a coesão entre os seus membros. A sua mensagem era: não importa a luta que travemos na vida profana, a forma como aí tenhamos de estar atentos; aqui é um espaço de camaradagem, de confiança, de amizade. Não é preciso gostar de todos, ser amigo de todos; mas não se trai nenhum e por nenhum se é traído. Aqui cada um pode e deve ser ele próprio, mostrar as suas fraquezas e colaborar com as suas forças; ninguém se aproveita das fraquezas de qualquer dos demais, ninguém abusa das forças dos seus irmãos.

E, dando-se a si como exemplo, agindo em consonância com o que dizia, calmamente fez com que todos o seguissem, e a Loja voltou a levantar voo, com as capacidades que tinha, enriquecida com a coesão que passou a fazer parte das suas características genéticas.

Ilídio P. C., que beneficiou também do paulatino regresso de muitos dos que, esgotados, tinham passado por um "ano sabático" de recuperação, no fim do seu mandato transmitiu ao seu sucessor uma Loja mais forte, mais coesa, mais madura, que entendera que a liderança também se exercia de uma forma calma e, com isso, crescera mais um pouco.

Ilídio P. C., aquando da cisão de 1996, sofreu como poucos o desgosto da separação e a forçada e inesperada quebra da coesão por que tanto se esforçara. Coerente, afastou-se. Mas, algum tempo depois, o apelo da Maçonaria foi mais forte. Uma vez maçon, sempre maçon. Acabou por se integrar numa Loja do GOL e aí certamente que o seu estilo brando e calmo exerce tanta influência como exerceu em nós.

Continuamos a revê-lo e a com ele conviver, sempre que possível, seja numa qualquer organização a que ele nos dá o gosto da sua presença, seja no jantar anual do Solstício de Inverno que a Loja organiza. E é sempre com grande alegria que o revemos e com ele convivemos e, sempre, algo de novo aprendemos. Porque o Ilídio P. C. não foi apenas um dos nossos. O Ilídio P. C. contribuiu, e muito, para a nossa identidade e características, mostrando-nos o imenso valor da coesão. Esteja onde estiver, esteja com quem estiver, é e será sempre um dos nossos!

Rui Bandeira

21 junho 2007

O mandato do terceiro Venerável Mestre

No texto em que relembrei as circunstâncias da sua eleição, descrevi como a Loja foi convencida a eleger José C. C. para exercer o ofício de Venerável Mestre para o período entre Setembro de 1992 e Setembro de 1993, apesar do desacordo inicial de muitos dos obreiros, e como, tomada essa decisão, todos manifestaram o seu apoio ao candidato.

A forma como foi construído o consenso removeu um grande escolho no caminho do novo Venerável Mestre. Mas as circunstâncias adversas acumulavam-se e o mandato de José C. C. não podia deixar de se ressentir. A Loja estava exausta: quase dois anos de actividade ritual extremamente intensa, dedicados a iniciar, passar e elevar quase todos os obreiros da nóvel grande Loja deixaram marcas que inevitavelmente cobrariam o seu preço. A equipa que dirigira a Loja durante o mandato de José M. M. e que, com notável coesão, assegurara todo o trabalho ritual esrava cansada e dispersava-se. José C. C. teve de efectuar uma renovação do quadro de oficiais da Loja, recorrendo inevitavelmente a elementos menos experientes.

Com a condução das cerimónias rituais por elementos com menor experiência e, sobretudo, sem a coesão que a anterior equipa forjara, não podia deixar de se notar uma quebra de qualidade no trabalho ritual na Loja, particularmente um aumento de hesitações e de comissão de pequenos erros. Isto levou a duas consequências, uma penosa a curto prazo, outra rapidamente gratificante.

A penosa foi que muitos dos que tinham manifestado discordância perante a perspectiva de José C. C. ser Venerável Mestre da Loja, pensaram que se confirmavam os seus receios. Essa sensação e o cansaço acumulado fez com que muitos dos elementos até então preponderantes na Loja fossem paulatinamente reduzindo a sua comparência. Por outro lado, no final do mandato de José M. M. a Loja tinha decidido mudar os dias de reunião. Em vez de reunir dois sábados por mês, passou a reunir um sábado e uma quarta-feira em cada mês. A reunião à quarta-feira à noite demorou a entrar nos hábitos dos obreiros da Loja e foi no período do mandato de José C. C. que tal mais se sentiu. Durante esse ano, algumas quartas-feiras houve em que as sessões decorreram com o mínimo indispensável de presenças, algo a que a nossa pujante loja não estava, de todo, habituada...

A gratificante foi que a nova equipa resolveu adequadamente o problema da sua inexperiência: corrigiu erros, ultrapassou hesitações, ganhou coesão e, em poucos meses. a qualidade do trabalho ritual foi retomada. Particularmente importante, porque difícil, foi o papel do novo Mestre de Cerimónias.

Numa loja maçónica do Rito Escocês Antigo e Aceite, o rito praticado pela Loja Mestre Affonso Domingues, toda a circulação no espaço do Templo é assegurada e dirigida pelo Mestre de Cerimónias, oficial que, assim, assume particular importância no ritmo e na correcção de todas as cerimónias rituais. A Loja estava habituada a trabalhar com um fentástico e experiente Mestre de Cerimónias, Miguel C. M.. A sua substituição não se antevia fácil e não o foi. Mas o caminho faz-se caminhando - e o cemitério está cheio de insubstituíveis... A seu tempo emergiu um novo e notável Mestre de Cerimónias que, à sua indesmentível qualidade no exercício do ofício, veio a aliar a sua permanente disponibilidade para partilhar os seus conhecimentos do ritual e ajudar os outros a bem exercitar a sua função. Hoje é, seguramente, dos maçons portugueses que mais sabe do Rito Escocês Antigo e Aceite e ainda continua a, sempre que é preciso, proficientemente exercer o ofício de Mestre de Cerimónias (ou qualquer outro em Loja, diga-se de passagem...). Quem habitualmente lê este blogue está familiarizado com o seu nome: José Ruah!

Mas aquele ano 1992/1993, com todas as dificuldades, com todos os obstáculos, foi passando, sem problemas de maior. Foi um ano de anti-clímax, de "serviços mínimos", em que, paulatinamente, a Loja recuperou fôlego, renovou o seu Quadro de Oficiais e viu uma nova geração de Mestres ganhar experiência. E aprendeu que as dificuldades se superam com trabalho e coesão. E isso foi um importantíssimo ganho para a Loja: a coesão que naquele ano aprendeu e obteve, nunca mais, até hoje, a perdeu. E tempos difíceis vieram em que essa coesão se revelou essencial. Ainda hoje a característica mais forte, mais distintiva, da Loja Mestre Affonso Domingues é, na minha opinião, a sua coesão, que se fortalece e floresce quando as adversidades surgem. José C. C. teve um papel importante no construir dessa coesão. Só por isso, merece uma grata referência na memória da Loja.

José C. C, um tímido afável, exerceu esforçada e interessadamente o seu ofício de Venerável Mestre. E, com a ajuda do seu Quadro de Oficiais, cumpriu a sua obrigação: entregou ao seu sucessor a Loja objectivamente melhor do que a recebeu, recomposta, mais experiente, pronta para, esgotado o ciclo do contributo ritual para a implantação da Obediência, definir o seu projecto.

Rui Bandeira

28 maio 2007

A eleição do Terceiro Venerável Mestre

O terceiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues foi José C. C.. Todas as circunstâncias apontavam para que o seu mandato fosse difícil, e foi-o. Mas José C. C. cumpriu o que se espera de um Venerável Mestre: recebeu o malhete, símbolo do seu poder de direcção da Loja, do seu antecessor e transmitiu-o, não pior do que o recebera, ao seu sucessor.

Naquele início de Verão de 1992, a Loja Mestre Affonso Domingues ia proceder à eleição do sucessor de José M. M.. A contra-gosto! Era praticamente unânime a opinião de que ele deveria assegurar um novo mandato. Mas José M. M. não concordava. Tinha mesmo tido o cuidado de ter providenciado pela aprovação, pela Loja, do seu Regulamento Interno, nele tendo incluído uma disposição que previa que o Venerável Mestre só podia exercer o máximo de dois mandatos consecutivos. Apesar da argumentação dos demais membros de que ele só tinha sido eleito uma vez (o seu primeiro mandato ocorrera por designação mediante decreto do Grão-Mestre), a sua posição era definitiva: já tinha cumprido dois mandatos, chegara a hora de transmitir o malhete de Venerável Mestre a outrem.

José C. C. fora fundador da Loja. Na carta-patente desta figurava como 2.º Vigilante fundador. O Venerável Mestre fundador não chegara a assumir efectivamente o ofício, por razões de saúde, tendo sido, então, substituído por José M. M., por decreto do Grão-Mestre. O 1.º Vigilante fundador, Hélder V. entretanto fora encarregado de dirigir uma outra Loja, em acumulação com o seu ofício de Grande Oficial e teve, por isso, de abandonar a Loja. José C. C. passou, assim, a exercer o ofício de 1.º Vigilante e era o sucessor natural de José M. M..

O problema era que as suas características pessoais não o tinham feito particularmente popular entre os demais obreiros. A Loja ansiava pela continuação da liderança de José M. M. e, confrontada com essa impossibilidade, queria alguém do mesmo estilo: interveniente, popular, bom condutor de homens, extrovertido e emotivo. José C. C. era precisamente o oposto: tímido, era algo desajeitado no relacionamento com todos aqueles que não pertenciam ao seu núcleo restrito de amizades; retraído, não demonstrava um décimo da emotividade de José M. M.; monárquico e politicamente conservador, e ainda por cima sofrendo os efeitos de ser sempre acompanhado por seu pai, um truculento ultra-conservador que não raras vezes não se coibia de infringir a regra que excluía a política da Maçonaria, não conseguira granjear o apoio dos demais membros da Loja para ocupar a Cadeira de Salomão, isto é, o lugar de Venerável Mestre; embora tendo sido um fiel lugar-tenente de José M. M., deixara-se ofuscar e, mesmo, anular pelo brilho da liderança deste e ninguém o via como Venerável Mestre.

Até que José M. M. voltou a sacar da sua cartola mais um passe da sua liderança: num convívio informal - em que, convenientemente, José C. C. não estava presente... (isto só foi percebido depois, e apenas pelos mais atentos) -, José M. M. convence todos de que a Loja devia, desde o princípio, prevenir o perigo de lutas intestinas pelo efémero "poder" do ofício de Venerável Mestre - todos concordaram; que a melhor forma de o fazer era instituir um critério transparente e lógico, logo, aceite por todos ao longo dos tempos, de escolha do Venerável Mestre - todos deram o seu acordo; esse critério era o da eleição do sucessor natural do Venerável Mestre em exercício, o seu primeiro Vigilante - breve instante de silêncio enquanto cada um percebia como fora habilmente conduzido a esta conclusão, seguido de um coro de discordância, não pelo princípio, mas em função do concreto 1.º Vigilante que seria então eleito Venerável Mestre; José M. M. deixou que os protestos fossem desabafados, fluir os argumentos, pairar os desacordos quanto à figura do sucessor e, pacientemente, fez ressaltar as vantagens de evitar lutas pelo poder na Loja, demonstrou que o Venerável Mestre só tinha o poder que a Loja lhe desse, que só conseguia fazer o que a Loja deixasse - muitos, mas já não todos, mantinham a discordância; argumentou que o facto de a Loja seguir o critério da sucessão natural, mesmo que muitos não apreciassem que em concreto determinada pessoa fosse o eleito, só fortaleceria o espírito de corpo da Loja, que, afinal de contas, um ano passava depressa e que, no final, a Loja sairia reforçada com a experiência, que a qualidade dos seus obreiros sempre compensaria eventuais deficiências do Venerável Mestre... - e, a pouco e pouco, foi vencendo as resistências e, no final, obteve a unânime, embora resignada, aprovação de todos para a eleição de José C. C.. E, de passagem, criou um paradigma (correcto) que ainda hoje perdura: qualquer Mestre da Loja pode ser Venerável Mestre; com mandatos anuais, qualquer Mestre minimamente interessado terá a oportunidade de vir a ser Venerável Mestre; em termos de normalidade, não faz sentido, assim, a pugna eleitoral (embora se mantenha sempre o sistema de eleição), por regra elege-se o 1.º Vigilante para exercer o ofício de Venerável Mestre no ano seguinte.

Obtido o acordo da Loja para a eleição de José C. C., havia ainda um outro problema: a José C. C. não passara despercebida a contestação à sua eleição - como poderia passar despercebida?- e isso magoava-o, talvez até ao ponto de ele vir a não estar disposto a assumir o ofício. José M. M. tem então um segundo golpe de asa: combina pessoalmente com cada um dos Mestres presentes na sessão de Loja de apresentação de candidaturas que, quando circulasse o Saco das Propostas, cada um introduzisse nele a proposta de candidatura de José C. C.. Obtém de todos o acordo para tal. E, após ter circulado o Saco das Propostas, José C. C. viu que o seu nome fora proposto por todos os demais Mestres presentes. Melhor declaração de apoio não podia ter - sobretudo ocorrida após contestação aberta... E claro que aceitou a candidatura. Até hoje, assim se continua a proceder na Loja Mestre Affonso Domingues: na sessão de apresentação de candidaturas, todos os Mestres colocam no Saco das Propostas a proposta de candidatura ao ofício de Venerável Mestre do 1.º Vigilante em funções. É a demonstração simbólica que toda a Loja dá do seu apoio incondicional ao Irmão que irá exercer o ofício de a dirigir por um ano.

E, na sessão seguinte, José C. C. foi tranquilamente eleito Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues, para o período de Setembro de 1992 a Setembro de 1993!

Os símbolos também se criam! E as boas tradições estabelecem-se naturalmente quando se procura actuar, de forma transparente e coerente, pelos bons motivos, em benefício de todos!

Rui Bandeira

24 maio 2007

A carta-patente da Loja

Ontem foi um grande dia para a Loja Mestre Affonso Domingues. Ontem regressou à Loja a sua carta-patente!

A carta-patente é o documento que proclama e certifica a criação, pela forma tradicional e regularmente reconhecida, de uma Loja maçónica. É, obviamente, um documento importantíssimo para qualquer Loja maçónica, em termos históricos, mas também em termos rituais, pois uma Loja maçónica Regular deve, salvo motivos imponderáveis, reunir na presença da sua carta-patente, como testemunho directo da sua criação dentro dos limites e princípios da Regularidade.

A imagem que ilustra este texto é a de uma carta-patente respeitante à criação de uma Loja Regular chilena, a Loja Pentalpha, em 16 de Setembro de 1965, ao Oriente de Santiago do Chile e sob os auspícios da Grande Logia de Chile. Não é, por ora, possível publicar a carta-patente da Loja Mestre Affonso Domingues, não tanto por não estar ainda digitalizada (isso resolvia-se em alguns minutos...), mas porque a mesma contém nomes de maçons vivos e que não declararam publicamente essa condição, pelo que, no respeito de uma essencial regra maçónica, tem de se respeitar a reserva de sua identidade.

A carta-patente da Loja foi emitida, pelo então Grão Mestre da Grande Loge Nationale Française (GLNF), André Roux, em 30 de Junho de 1990, ainda no âmbito do Distrito de Portugal daquela Grande Loja. 30 de Junho é, assim, a data de aniversário da Loja. Recorde-se que a reinstituição da Regularidade Maçónica em Portugal processou-se através de criação de várias Lojas sob os auspícios da GLNF, que constituiram o Distrito de Portugal daquela Obediência Regular e que, ulteriormente, obtiveram a consagração da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Foram designados para exercer, em primeiro lugar, os ofícios de Venerável Mestre, 1.º Vigilante e 2.º Vigilante, respectivamente, os Irmãos Eduardo M., Hélder V. e José Cunha C.. Em documento anexo, figura também a lista dos Maçons fundadores da Loja, entre os quais, nada mais, nada menos, os que vieram a ser os três primeiros Grão-Mestres da GLLP/GLRP: Fernando Teixeira, Luís Nandin de Carvalho e José Anes!

Na sequência dos acontecimentos que vieram a ser conhecidos como cisão da Casa do Sino, estes documentos ficaram extraviados. Durante anos, a Loja Mestre Affonso Domingues trabalhou na presença de uma nova carta-patente, emitida pelo Grão-Mestre da GLLP/GLRP. Ontem, um Grande Oficial muito querido de todos nós visitou a nossa Loja e deu-nos a grata surpresa de nos trazer os documentos. A partir de agora, a Loja Mestre Affonso Domingues pode exibir duas cartas-patentes: a da sua criação, ainda no âmbito do Distrito de Portugal da GLNF e a emitida já pela GLLP/GLRP, de que foi Loja fundadora!

Rui Bandeira

16 maio 2007

O Segundo Venerável Mestre

José M.M. foi o segundo Venerável Mestre, mas, na realidade, foi o primeiro a conduzir os destinos da Loja Mestre Affonso Domingues, entre 1990 e o Verão de 1992, primeiro por designação do Grão-Mestre Fernando Teixeira, em virtude da incapacidade do Venerável Mestre fundador e, depois, como seu primeiro Venerável Mestre eleito.

Conheci José M.M. quando ele me telhou. Com efeito, tendo eu sido iniciado e passado a Companheiro na Alemanha, na Loja Miguel Cervantes y Saavedra, ao Oriente de Bonn e tendo iniciado trabalhos uma Obediência Regular em Portugal, diligenciei a minha transferência maçónica para Portugal. Foi-me indicada como Loja mais adequada a Loja Mestre Affonso Domingues e assim me apresentei ao seu Venerável Mestre em exercício, que, para início de conversa, me telhou, isto é, assegurou-se da minha qualidade de Companheiro Maçon, fazendo-me demonstrar perante ele tal facto mediante os meios de reconhecimento do segundo grau da Maçonaria.

José M.M. era, e creio que continua a ser, um homem extremamente afável e, sobretudo, um grande condutor de homens, um excepcional líder de grupos. Penso que muito daquilo que a Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje é resulta da marca que ele lhe imprimiu no seu início.

No período do seu mandato, a Maçonaria Regular em Portugal estava a organizar-se e a implantar-se. Foi na Loja Mestre Affonso Domingues, sob a direcção de José M.M., que se fixaram os primeiros rituais do Rito Escocês Antigo e Aceite em uso na Obediência.

José M.M. já tinha experiência como Venerável Mestre. Orgulhava-se, aliás, de ter sido o mais jovem Venerável Mestre de uma Loja, ainda no GOL. Sob a sua direcção e beneficiando da sua experiência, a Loja Mestre Affonso Domingues dedicou-se à aprendizagem da correcta execução do ritual, em todas as cerimónias maçónicas, de tal forma tendo conseguido atingir esse objectivo que, por decreto do Grão-Mestre Fernando Teixeira, teve, durante algum tempo, o quase exclusivo de iniciar, passar a Companheiro e elevar a Mestre (para além dela, só o próprio Grão-Mestre e a Grande Loja o podiam fazer). Assim, virtualmente durante cerca de dois anos, quase todos os Maçons da Obediência foram iniciados por Oficiais da Loja Mestre Affonso Domingues.

Foram dois anos de arrasar, sempre e só em Iniciações, Passagens e Elevações! A Loja cimentou-se no trabalho ritual, as relações fraternais assentaram na mútua colaboração, na atenção aos lapsos e sua correcção, no esforço de fazer bem e cada vez melhor.

Este legado, esta marca, diria que quase genética, da Loja Mestre Affonso Domingues ainda hoje permanece. A Loja dispõe de vários membros que, sem sequer necessitarem de preparação prévia, estão aptos a dirigir ou executar funções em qualquer cerimónia do Rito Escocês Antigo e Aceite, em qualquer ofício ritual. E continua a estimular os seus membros mais recentes para que aprendam e executem todos os ofícios em Loja, aprendendo a razão de ser de cada frase, de cada movimento, a surpreender o seu significado, a executar sempre bem e procurando fazê-lo melhor. Hoje muitas outras Lojas felizmente também o fazem, tão bem ou melhor que nós, e isso só nos alegra e estimula a procurarmos sempre progredir!

Para além desse legado da atenção ao bom exercício do trabalho ritual, José M.M: deixou um outro importante legado à Loja: a noção de que a função de Venerável Mestre é susceptível de ser exercida por qualquer Mestre maçon e que é a Loja que faz o Venerável Mestre, tanto quanto este faz aquela. Desenvolverei o assunto no texto dedicado ao Venerável Mestre que lhe sucedeu.

José M.M., elemento muito ligado, até afectivamente, a Fernando Teixeira, acompanhou-o na cisão de 1996. Foi essa a primeira vez que a Loja não o seguiu. A partir daí, os nossos caminhos passaram a ser diversos.

Mas isso não impede que se reconheça que muito deve a Loja Mestre Affonso Domingues ao seu segundo Venerável Mestre, primeiro no efectivo exercício de funções, José M.M.. Porque os caminhos podem divergir, mas a Memória permanece.

Rui Bandeira

11 maio 2007

Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre

Há um tempo certo para tudo!

Há muito que eu e outros dos mais antigos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues ocasionalmente falávamos que se devia preservar a memória da Loja, elaborar registo do que se foi passando ao longo do tempo, para além do que fica registado na linguagem seca das actas, para que, mesmo depois do desaparecimento dos mais antigos, os vindouros pudessem ter acesso às raízes e à evolução da Loja. Mas nunca se passou do "pois é", "boa ideia", "temos de tratar disso".

Foi ao elaborar o texto O nome da Grande Loja, uma elaboração em que tive de rememorar eventos que, na época, foram traumáticos e que, por isso mesmo, evitava relembrar, que, subitamente, a evidência se fez clara no meu espírito: de nada vale dizer que é preciso registar a memória da Loja, se nada se fizer. Tenho os meios: vivi quase todo o tempo da Loja até agora e, do que não vivi, ainda pude falar com quem viveu; a minha memória ainda não está irremediavelmente afectada pelo inevitável decurso do tempo; e este blogue e o seu arquivo é um local tão bom como qualquer outro para guardar o registo do que se foi passando. É a hora de me chegar à frente e começar a fazer o relato do que me lembro que se passou. Talvez outros sigam então o exemplo e completem, corrijam, aperfeiçoem o que eu apenas esboçarei.

Vou, pois iniciar mais uma série de textos aqui no blogue, que agruparei sob o marcador "Memória da Loja". Como as demais séries que aqui vão havendo, serão publicados textos na periodicidade de "quando me apetecer". É, como os demais aqui no blogue, um trabalho para se ir fazendo, sem pressas, sem pressões, com gosto e descontraidamente. Espero que a pedra bruta que aqui irei deixando seja, não obstante, suficientemente talhada para que outros, mais hábeis do que eu, a vão polindo e adornando, para que possa vir a ser não totalmente sem mérito.

Uma nota deixo: os textos que aqui deixar não têm a pretensão de constituírem a História da Loja: a História é feita pelos historiadores, que estão cientificamente preparados e detêm as técnicas e os conhecimentos para a registarem; os meros escrevinhadores, mesmo que escrevinhem sobre o que viveram e viram, mais não podem aspirar do que a deixarem meros rascunhos, esperando que porventura úteis para quem efectivamente saiba e queira escrever História.

Uma única limitação me imponho: mesmo despretensiosamente, só se pode registar de uma forma minimamente objectiva o que não está demasiado perto e que, assim não demasiadamente perturbe a busca de uma razoável objectividade na análise e registo de eventos. Consequentemente, o mais perto da actualidade a que chegarei será até ao Veneralato do Venerável Mestre que precedeu o ex-Venerável em exercício. Mas essa é limitação a que só terei de atender daqui a uma não negligenciável quantidade de textos.

E, para que este texto não seja só um manifesto de intenções, comece-se já com breve menção da fundação da Loja e referência ao seu Venerável Mestre fundador.

A Loja Mestre Affonso Domingues foi fundada, ainda antes da formal constituição da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, como loja pertencente ao Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française (GLNF). Foi, na ordem de numeração desse Distrito, ulteriormente mantida na ordem de numeração da GLLP/GLRP, a Loja n.º 5, com a sua criação contemporânea das quatro que a precedem nessa Ordem: Fernando Pessoa, n.º 1, Porto do Graal, n.º2, Europa, n.º 3, e General Gomes Freire de Andrade, n.º 4. Todas agruparam maçons que, oriundos do Grande Oriente Lusitano (GOL), Obediência que se integra na corrente liberal da Maçonaria, desejavam refundar a Maçonaria Regular em Portugal.

A data de constituição oficial da Loja Mestre Affonso Domingues, enquanto Loja nº 5 da GLLP/GLRP é coincidente com a data da fundação da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

O ano da fundação da Loja Mestre Affonso Domingues é o de 1990. O maçon designado para, em primeiro lugar, exercer a função de seu Venerável Mestre foi Eduardo M. . Não o cheguei a conhecer. E creio que nunca chegou efectivamente a presidir a uma sessão da Loja - pelo menos é a ideia que recordo da consulta que, há anos, fiz do primeiro livro de actas da Loja. Eduardo M., segundo me foi dito, adoeceu e não pôde chegar a assumir o exercício dessa função. Mas o seu lugar como Fundador e designado primeiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues merece ficar registado.

Rui Bandeira