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08 fevereiro 2007

Regularidade em Maçonaria

Há dias lancei um repto e um comentador solicitou mais informações sobre um tema determinado, ou melhor sobre uma questão associada a um tema.

De então para cá foram já publicados vários textos sobre este assunto e vários comentários feitos. De qualquer forma e com algum atraso aqui vai.

O tema : Regularidade
a questão :

"Caro josesr, o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proíbam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de Coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.
comentário assinado por Escriba "

O leitor pergunta essencialmente sobre questões de politica relacional e institucional maçónicas, do que sobre a regularidade.

No Inicio não havia regularidade ou irregularidade, havia Maçonaria. Com os ideais de 1789, inicia-se um movimento maçónico em França que abdica da imprescindibilidade de crença num ente superior - Grande Arquitecto.

Os movimentos maçónicos entretanto constituídos por esse Mundo fora regiam-se todos pelos mesmos princípios, pelo que o aparecimento desta nova corrente, que aos olhos do Maçonaria de então cometera uma irregularidade, provocou a necessidade de decidir o alinhamento. Ou seja manter como estava ou aderir à nova forma.
Aparecem as cisões, porque dentro de cada obediência havia pessoas que queriam uma coisa e outras, outra.

Aparece então o movimento irregular, sendo que o seu nome deriva apenas da Irregularidade original.

Por oposição as Obediências que se mantêm fiéis aos princípios iniciais passam a ser denominadas Regulares.

Estão então criados dois movimentos alimentados por fundos comuns, mas com filosofias distintas.

É normal, creio eu, que os movimentos privilegiem as relações com os da “sua cor”. E tão normal é que ganhou corpo uma nova figura, a do reconhecimento.

O reconhecimento não é mais que ser aceite pelos seus pares como um igual, dentro da linha filosófica seguida, seja ela Regular ou Irregular.

Segundo a minha opinião criaram-se, emergiram melhor dito, 2 pólos centralizadores do reconhecimento, a Grande Loja Unida de Inglaterra (regular) e o Grande Oriente de França (irregular).

Com o andar do tempo, e o aparecimento da Maçonaria Americana, USA, apareceu um terceiro pólo de reconhecimento. A Maçonaria Americana sendo regular, articula as suas políticas de reconhecimento com a Inglaterra, sendo que todavia pode reconhecer Potencias que a Inglaterra ainda não tenha reconhecido (geralmente a Inglaterra é a ultima a reconhecer).

Feita esta pequena introdução, importa aqui clarificar o que são relacionamentos institucionais.

Poderão haver dois tipos de relacionamento institucional. Os de ordem politica e os de ordem filosófica/ritual

Os de ordem politica (chamemos-lhe assim), a ocorrer, ocorrerão normalmente entre as mais altas esferas das instituições, de forma mais ou menos explícita. Este tipo de contactos não tendo qualquer repercussão para a vida interna da organização, pode fazer muito sentido na preservação da imagem pública da Maçonaria, pois quem ataca não faz distinção entre correntes filosóficas.

Os de ordem ritual. Ora penso que é mais sobre estes que o leitor está interessado.

OS rituais seguidos pelas obediências, independentemente dos ritos, estão de acordo com a linha filosófica que optaram. Regular ou Irregular conforme seja requisito a crença num Ente Superior – Grande Arquitecto ou não seja requisito.

Mas interliguemos aqui a Maçonaria com a história das religiões. Considerando um Cisma o advento da Irregularidade, poderemos compara-lo com os variados cismas que foram existindo ao longo dos séculos.

Comecemos pelo primeiro, o advento do Cristianismo. O aparecimento do Cristianismo rompe com a religião Judaica. E apesar dos fundamentos serem muito similares, um Judeu não pode pregar numa Igreja nem um Padre pode fazer as vezes de um Rabino.

Alguns anos mais tarde aparecem as Igrejas Anglicana e Protestante. Mais recentemente temos as confissões Evangélicas. Todas estas são Cristãs, seguem um principio de base similar, mas são todas diferentes.

Os Oficiantes de cada uma apenas Oficiam na respectiva Igreja/confissão.

As hierarquias de cada uma são definidas por métodos próprios, e cada qual tem a liberdade de interpretar os mesmos livros de forma distinta, pregando coisas diferentes. Sendo mais ou menos tolerantes.

As concelebrações são coisas muito raras e apenas em ocasiões especificas, sendo que na verdade não são concelebraçoes, mas sim celebrações paralelas justapostas no tempo e espaço.

Ora a Maçonaria não é diferente.

Todavia a pergunta é, porque razão não se juntam ritualmente, ou melhor porque razão é proibido que isso aconteça.

A resposta é minha, e confesso que não fui ler nada sobre este tema, e como tal obriga-me a mim. Pode até ser um erro colossal, mas é a minha e penso que tem lógica.

Saber a razão inicial da proibição parece-me tarefa ciclópica, e só possível se pudéssemos viajar no tempo e ir ouvir o que foi dito pelos dignitários que a decretaram. Entre o que é dito publicamente e a verdadeira razão pode ir uma diferença substancial.

É certo que o objectivo era marcar a diferença. Mas a diferença primordial se bem que importante era ténue. Os espíritos da altura, época de revoluções e de descobertas de princípios que para nós hoje são dados adquiridos, eram talvez menos contemporizadores.

A forma tradicional de evitar, foi sempre a proibição. E ainda hoje voltando atrás as religiões o fazem de forma discreta mas fazem ao exigirem processos de conversão (mais ou menos complicados) para celebrarem casamentos de acordo com a “verdadeira fé”.

Ora em períodos conturbados, as indicações dadas pelas “chefias” devem ser claras.
“Não é permitido” é substancialmente mais claro do que , “ poderão eventualmente estar presentes desde que salvaguardados …… “ sem contar que desta forma ao proibir se preservava o poder de Reconhecer.

A não miscigenação preservaria os valores impolutos, e permitiria claramente considerar os grupos como dissidentes.

Ora hoje quase 3 séculos depois, a proibição passou a questão filosófica e cimentou a diferença.

Hoje não creio que seja possível, sem grandes modificações, que a junção das correntes acontecer. Todavia no futuro quem sabe.

Todavia e como Rui Bandeira mencionou, há algumas coisas a serem tidas em conta. Do ponto de vista da Regularidade é aceite como Maçonaria embora diferente a praticada pelos movimentos Irregulares, no caso português o GOL.

E na prática, há uma circunstância em que Maçons Regulares e Irregulares se reúnem ritualmente e é aceite (na generalidade) pelas estruturas. Esta circunstancia é infelizmente a Cadeia de União Fúnebre quando efectuada publicamente.

E por aqui me fico por enquanto. Sei que não disse nada de muito diferente do que o Rui Bandeira já escreveu, mas talvez a abordagem seja algo distinta.
JoseSR

07 fevereiro 2007

Relacionamento entre Corpos Maçónicos

Como resulta do texto publicado ontem, a posição da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE) relativamente aos Corpos Maçónicos que considera que não preenchem as normas para que possam ser por ela considerados Regulares é a de, embora os reconheça como Maçonaria, os qualificar de Irregulares e interditar o contacto maçónico com eles. As Obediências Regulares, em todo o Mundo, devem seguir - e por norma seguem - idênticos critério e procedimento. Este procedimento aplica-se em relação, quer colectivamente ao Corpo Maçónico considerado Irregular, quer individualmente aos obreiros desse corpo.

Por contacto maçónico deve entender-se exclusivamente o respeitante à actividade maçónica stricto sensu, isto é, a participação, integração ou recepção em sessões RITUAIS, exclusivamente destinadas à participação de maçons e, assim, realizadas, como os maçons referem, a coberto dos profanos.

Tudo o resto não está coberto pela interdição. Não estão nela incluídos os ágapes brancos (isto é, em que é admitida a participação de profanos) ou mesmo as sessões cerimoniais brancas, pela simples razão de que, se tais eventos são abertos a profanos, por maioria de razão não são interditos a maçons de diversa tendência; não estão incluídos pela dita interdição quaisquer eventos organizados ou dinamizados ou participados por Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, destinados ou abertos a profanos; não estão cobertos pela mencionada interdição os actos, organizações, projectos, etc., organizados pelas associações cívicas profanas que constituem o suporte legal ou que são participadas pelos Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, porque, por definição, são eventos profanos.

Concordo com esta orientação. Conforme escrevi no texto A Regularidade Maçónica, reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra. Admitido isto, sem complexos, facilmente entendemos que cada uma das tendências tem algo de único, de próprio, de íntimo. Esse algo deve ser reservado a ela própria e aos seus membros. Tal como cada um de nós preserva a sua vida íntima para si próprio e para com quem a compartilha. Em Maçonaria esse nível de intimidade corresponde às sessões rituais e respectivos ágapes. Faz-me, assim, sentido que essas sejam reservadas a quem compartilha comigo exactamente os mesmos princípios. Com maçons de outras orientações, o nível de relacionamento é diverso, mas seguramente diferente e mais próximo do que em relação ao Mundo Profano. Logo, excluído o ambiente exclusivamente destinado a meus Irmãos compartilhando comigo os mesmos princípios, é gratificante, é valioso, será porventura útil, ter um relacionamento especial também com maçons de outras orientações, mas respeitando o seu espaço próprio e preservando o meu. Assim, terei oportunidade de conviver e beneficiar dos ensinamentos de meu Irmão maçon de outra tendência em ágapes brancos, em sessões cerimoniais brancas (na sua casa, ou na minha), em organizações ou eventos de carácter profano, quiçá conjuntamente organizados (porque não?).

Em termos de imagem: com os conhecimentos normais, convivo fora de minha casa; aos meus familiares e amigos, recebo-os em minha casa e com eles compartilho a minha sala; o meu quarto, esse, reservo-o para quem é meu íntimo! E os meus amigos e familiares não se ofendem por eu reservar esse Santo dos Santos para mim e com quem partilho a minha intimidade. Igualmente não é razão de tristeza para meus Irmãos maçons de tendência diferente da minha que idêntica reserva eu faça na minha Vida Maçónica e que, similarmente, respeite tal reserva em relação a eles!

Tal reserva - que apenas distingue entre íntimos e próximos, mas que a ambos privilegia em relação a todos os demais - traduz apenas a aceitação da Realidade, das Similitudes e Diferenças que existem, de forma alguma um menor respeito ou consideração para com o Maçon de tendência diversa da minha.

Do meu ponto de vista, não há que nos lamentarmos por existir um pequeno espaço reservado unicamente aos maçons da mesma Obediência; há que aproveitar o enorme espaço de convivência, de cooperação, de afirmação dos princípios comuns, de que a Maçonaria e os maçons, independentemente das suas orientações, dispõem.

Rui Bandeira

06 fevereiro 2007

Reconhecimento de Corpos Maçónicos

Freemason's Hall - Londres

A existência de diversos Corpos Maçónicos, desde logo em termos internacionais - mas não só -, mas também a existência de organizações para-maçónicas ou que, nada tendo a ver com a Maçonaria, se reclamam dela, ou de esoterismo, ou de similares conceitos, implica a necessidade da Maçonaria distinguir entre o que é Maçonaria e o que não é e, dentro desse conceito, entre quem postula idênticos princípios e quem segue diferente caminho. Criou-se, assim, o mecanismo do Reconhecimento.

Na Maçonaria Regular, particularmente importante é o Reconhecimento da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE), por ser essa a Grande Loja original da Maçonaria Especulativa. Daí que seja dada especial atenção aos critérios instituídos por essa Grande Loja para o Reconhecimento de Corpos Maçónicos. Tais critérios estão publicados aqui e a sua versão em português está publicada no sítio da GLLP /GLRP, mais precisamente no capítulo sobre o Reconhecimento, de onde é para aqui transcrita. São, pois, os seguintes os critérios que é necessário preencher para que um Corpo Maçónico seja reconhecido como integrando a Maçonaria Regular:

1. Regularidade de origem, isto é, que cada Grande Loja tenha sido criada regularmente por uma Grande Loja devidamente reconhecida ou por três ou mais Lojas regularmente constituídas.

2. Que a crença no Supremo Arquitecto do Universo e na sua vontade revelada seja condição essencial para admissão dos membros.

3. Que todos os iniciados prestem o seu compromisso sobre o Livro da Lei Sagrada ou com os olhos fixos nesse Livro, aberto à sua frente, livro pelo qual se exprime a revelação do Ser Supremo ao qual o individuo que acaba de ser iniciado fica, em consciência, irrevogavelmente ligado.

4. Que a composição da Grande Loja e das Lojas particulares seja exclusivamente de homens e que cada Grande Loja não mantenha quaisquer relações maçónicas, seja qual for a sua natureza, com Lojas mistas ou com corpos que admitem mulheres como membros.

5. Que a Grande Loja exerça jurisdição soberana sobre as Lojas submetidas à sua obediência, isto é, que seja um organismo responsável, independente e inteiramente autónomo, possuindo uma autoridade única e incontestada sobre a Arte ou os graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) colocados sob a sua jurisdição, e que não esteja de forma alguma subordinada a um Supremo Conselho ou qualquer outra Potência reivindicando controle ou supervisão sobre esses graus, nem partilhe a sua autoridade com esse Conselho ou essa Potência.

6. Que as Três Grandes Luzes da Maçonaria (isto é, o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso) estejam sempre expostos durante os trabalhos da Grande Loja ou das Lojas na sua obediência, sendo o principal dessas luzes o Volume da Lei Sagrada.

7. Que as discussões de ordem religiosa e politica sejam estritamente proibidas em Loja.

8. Que os princípios dos Antigos Landmarks, costumes e usos da Arte sejam estritamente observados.

A Grande Loja Unida de Inglaterra precisa ainda, sob o título

Grandes Lojas Irregulares e Não Reconhecidas

Existem alguns Corpos Maçónicos com regras próprias que não preenchem estas normas, por exemplo, não exigem a crença num Ser Supremo, ou que autorizam ou encorajam os seus membros a desenvolver, enquanto tal, actividade política. Esses Corpos são reconhecidos pela Grande Loja de Inglaterra como sendo Maçonicamente Irregulares e o contacto maçónico com eles é interdito.

Note-se que a Grande Loja Unida de Inglaterra, com esta formulação, embora enfatize que tais Corpos Maçónicos não são Regulares (e portanto os designa de Irregulares), reconhece-os como Maçonaria.

A GLLP/GLRP é o único Corpo Maçónico português reconhecido como Regular pela Grande Loja Unida de Inglaterra, como se pode conferir aqui. De notar que, ao contrário do que muitos pensam, não é exacto que a Grande Loja Unida de Inglaterra apenas reconheça necessariamente um Corpo Maçónico por país; designadamente, no Brasil reconhece como Regulares o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas do Estado de Mato Grosso do Sul, do Estado do Rio de Janeiro e de S. Paulo, como se pode conferir aqui.

A GLLP/GLRP é reconhecida pelas seguintes Potências Maçónicas:

District Grand Lodge of Gibraltar
G. L. de la Republica Dominicana
G. L. de los Andes (Bucaramanga)
G. L. Nationale Guinéenne (Conakry)
Gran Loggia Repubblica Di San Marino
Gran Logia "Benito Juarez"
Gran Logia "Cosmos" del Estado de Chihuahua
Gran Logia "Cuscatlan"
Gran Logia "Occidental Mexicana"
Gran Logia "Unida Mexicana"
Gran Lògia D' Andorra
Gran Logia de AA:. LL:. Y AA:.MM:. de Sinaloa
Gran Logia de Chile
Gran Logia de Costa Rica
Gran Logia de Cuba
Gran Logia de Guatemala
Gran Logia de Honduras
Gran Logia De La Argentina
Gran Logia de la Republica de Venezuela
Gran Logia de Nicaragua
Gran Logia de Peru
Gran Logia de Tamaulipas
Gran Logia de Uruguay
Gran Logia de York de México
Gran Logia Del Ecuador
Gran Logia del Estado de Chiapas
Gran Logia del Estado de Hidalgo
Gran Logia del Estado de Nuevo Leon
Gran Logia del Pacifico
Gran Logia Simbolica del Paraguay
Gran Logia Soberana de Puerto Rico
Gran Logia Valle de México
Grand East of the Netherlands
Grand Lodge Alpina of Switzerland
Grand Lodge of A.F. & A.M. of Ireland
Grand Lodge of Austria
Grand Lodge of Bolivia
Grand Lodge of Bulgaria
Grand Lodge of Denmark
Grand Lodge of F. and A.M. of Japan
Grand Lodge of Finland
Grand Lodge of Greece
Grand Lodge of Iceland
Grand Lodge of India
Grand Lodge of Iran
Grand Lodge of Moldova
Grand Lodge of Norway
Grand Lodge of Panamá
Grand Lodge of Philippines
Grand Lodge of Russia
Grand Lodge of Slovenia
Grand Lodge of South Africa
Grand Lodge of Spain
Grand Lodge of Sweden
Grand Lodge of the Czech Republic
Grand Lodge of the State of Israel
Grand Lodge of Turkey
Grand Lodge of Ukraine
Grand Loge du Congo
Grand Loge Nationale de Madagascar
Grand Orient D' Haiti
Grande Loge de Côte D' Ivoire
Grande Loge de Luxembourg
Grande Loge Du Benin
Grande Loge Du Burkina Faso
Grande Loge Du Cameroun
Grande Loge Du Gabon
Grande Loge du Royaume du Maroc
Grande Loge du Sénégal
Grande Loge Nationale Française
Grande Loge Nationale Togolaise
Grande Oriente D' Italia
Grande Oriente de Pernambuco
Grande Oriente do Brasil
M. R. G. L. Nacional de Colombia
Marea Loja Nationala Di Romania
National Grand Lodge of Poland
Regular Grand Lodge of Belgium
Regular Grand Lodge of Yugoslavia
Sino Lusitano Lodge of Macau Nº 897 - Hong Kong
Symbolic Grand Lodge of Hungary
The G. L. of British Columbia & Yukon
The Grand Lodge of Alberta
The Grand Lodge of Croatia
The Grand Lodge of F. and A.M. of Estonia
The Grand Lodge of Scotland
United Grand Lodge of England
United Grand Lodge of New South Wales and Australian Capital Territory
United Grand Lodge of Victoria
United Grand Lodges of Germany.

Rui Bandeira

05 fevereiro 2007

A Regularidade Maçónica

No seu texto Breve análise do Blogue, JoséSR sugeriu aos visitantes do mesmo que, no espaço para comentários, indicassem assuntos que gostassem de ver aqui tratados. Escriba não se fez rogado e escreveu: Gostaria de por aqui ver abordada e participada pelos internautas, a questão da regularidade. É com enorme tristeza e pesar que constato o que no nosso país se passa neste dominio. Instado a esclarecer a razão da tristeza, acrescentou: o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proibam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.

A prioridade no desenvolvimento cabia ao JoséSR, já que o assunto fora suscitado em comentário a um texto seu. Porém, o JoséSR não terá tido ainda disponibilidade para o fazer. Como não é conveniente deixar passar mais tempo sem desenvolver o assunto proposto, sob pena de o Escriba ficar defraudado na sua expectativa, avanço já eu.

Uma advertência, porém, não quero deixar de formular, talvez desnecessariamente: todas as opiniões que neste blogue deixo consignadas vinculam-me apenas a mim, maçon livre de uma Loja livre, e a mais ninguém, pois sou porta-voz apenas de mim mesmo.

Escriba levantou, não uma, mas três questões diferentes: a Regularidade, o Reconhecimento e o Relacionamento das e entre as Obediências Maçónicas. Interligar-se-ão, influenciar-se-ão, sem dúvida. Mas são questões diferentes e assim devem ser tratadas. Hoje, tratarei apenas da primeira.

Denomina-se de Maçonaria Regular a Maçonaria que segue os princípios da Maçonaria Inglesa, especificamente da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE). Tais princípios estão definidos nos doze Landmarks já neste blogue apresentados e comentados. Deles se retira estarmos perante uma Maçonaria deísta (é elemento essencial a crença num Ente Criador), independente de e aceitando todas as religiões, com o objectivo do aperfeiçoamento moral e espiritual dos seus membros através do método maçónico e da interacção individual com o grupo em que se está inserido e só mediatamente influenciando a Sociedade, através do exemplo dos maçons, isto é, sem intervenção política directa e organizada. Em Portugal, esta tendência está corporizada na Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal (GLLP / GLRP). Outras organizações de menor expressão, originadas de cisões desta Obediência se reclamam do mesmo ideário.

À falta de melhor designação, designa-se por Maçonaria Liberal (evito aqui o adjectivo de Irregular, que pode ser interpretado como tendo uma carga negativa) a tendência que prossegue o ideário desenvolvido pelo Grand Orient de France desde a época da Revolução Francesa, assente sobretudo na trilogia de princípios Liberdade-Igualdade-Fraternidade, na promoção da Democracia e das Ideias Democráticas. Esta tendência não considera essencial a crença num Criador, admitindo agnósticos e ateus. Busca o aperfeiçoamento da Sociedade através da acção dos seus membros, que devem, para tal, aperfeiçoar-se moralmente. Não rejeita, antes favorece, a intervenção política. Em Portugal, esta opção é a seguida pelo Grande Oriente Lusitano (GOL).

Estas duas correntes são realidades e organizações diferentes e com diferentes propósitos. É certo que em muito os respectivos caminhos são comuns (o método de evolução, o tipo de organização, as raízes simbólicas, a proactividade pelo aperfeiçoamento). Mas também de forma não despicienda tais caminhos divergem: enquanto uma baseia todo o seu ideário na crença num Criador, como base e enquadramento para o aperfeiçoamento dos seus membros, objectivo essencial buscado (sendo tudo o resto, incluindo a evolução da Sociedade uma consequência mediata), a outra prescinde dessa crença (mas não a hostiliza, aceitando sem problema crentes e, tal como a Maçonaria Regular, integrando a tolerância perante as várias opções religiosas no seu ideário) e prossegue o aperfeiçoamento dos seus membros como meio para atingir o objectivo essencial, a transformação da Sociedade, a sua evolução e aperfeiçoamento, de acordo com a matriz democrática.

Ambas as tendências são igualmente respeitáveis. Têm - repito - muito em comum, quer na forma, quer na substância. Têm, no entanto, princípios essenciais diferentes e objectivos diversos. São, pois, realidades diversas, embora em muito semelhantes. Percorrem e partilham o mesmo caminho, ao longo de grande parte da jornada. Mas querem chegar a pontos diferentes. Ambas são romeiras. Só varia o destino de romagem.

No meu ponto de vista, não é melhor nem pior uma do que outra. São, simplesmente, diferentes. Ambos os caminhos são louváveis. Um convirá mais a uns; o outro a outros.

Não há, assim, uma mera questão administrativa a dividir Irmãos. Reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra.

Eu insiro-me na Maçonaria Regular, prossigo e aceito os seus princípios. É este o meu caminho, o que se adequa a mim. à minha mentalidade, à minha maneira de ser, de pensar, de reagir. Outros inserem-se noutra tendência maçónica. O seu caminho é igualmente meritório e, porventura, para a mentalidade, a maneira de ser, de pensar e de reagir de quem o trilha, será mais profícuo.

Se os maçons, de qualquer tendência, souberem assumir a sua própria individualidade e as dos demais, se aplicarem a si próprios e aos demais maçons, qualquer que seja a sua tendência, os princípios que professam, ser maçon Regular ou Liberal não será nunca um factor de divisão, antes e tão só o que é: um adjectivo caracterizador da forma que escolheu para procurar ser melhor e ajudar a Sociedade a ser melhor.

Rui Bandeira

19 dezembro 2006

Eleiçoes na Maçonaria (3)

Aqui há um tempo expliquei os vários métodos eleitorais que conheço. Há 2 dias o JPSetubal informou que tinha havido um vencedor e um vencido e que a ordem Prosseguia.

O processo que teve início em 30 de Setembro com o anuncio das Candidaturas terminou no sábado 16 com o escrutínio dos votos.

Apesar dos pesares mencionados no meu post anterior, e que se centraram em acções que extravasaram para a imprensa, o processo decorreu sem perturbações de maior.

Tendo já a noticia sido publicada no Site da GLLP/GLRP, é chegado o momento de dar aqui expresso esse mesmo resultado.

Concorreram ao cargo Mario Martin Guia e Fernando Ferrerro Marques dos Santos. cada um com o seu programa, assente nas suas convicções pessoais e visão de futuro para a Maçonaria Regular em Portugal.

Os votos reflectindo a vontade dos Maçons ditaram que o próximo Grão Mestre da Maçonaria Regular em Portugal será Mário Martin Guia, estando a posse aprazada para Março de 2007.

Está desta forma assegurada a continuidade natural de uma politica de serenidade e crescimento interno de forma consolidada.

Ao Mário Martin Guia os desejos de um mandato profícuo.

JoseSR

06 dezembro 2006

Eleiçoes na Maçonaria

Podemos dizer com quase total propriedade que todas as Grandes Lojas elegem o seu Grão Mestre. Eventualmente elegem também outros Irmãos para outros cargos, mas a unica eleição que é transversal a todas é de facto a do Grão Mestre. Os métodos e os regulamentos são os mais diversos e por isso podemos dizer que não há uma tese unica quanto à forma de eleição de um Grão Mestre.

As que conheço são :

Eleição directa e universal ou quase - porque só os membros com o grau de Mestre podem votar e nalguns casos mesmo de entre estes apenas os que o sejam há pelo menos um certo tempo. Estas restriçoes à Universalidade vêm de questões rituais e iniciaticas em que apenas os Mestres têm direito a falar e consequentemente emitir opinião e votar. Quanto ao facto de nem todos os mestres votarem a questão prende-se essencialmente com o momento de referencia dos cadernos eleitorais.

Eleição por Colegio - Existem varios tipos de colégios possiveis constituidos por Grandes Oficiais, representantes das Lojas ou outras Inerencias Rituais. Estes Colégios podem assumir varias formas e constituiçoes, sendo mais ou menos "democraticos" consoante tenham mais ou menos representantes das Lojas. Da minha experiencia pessoal conheci já Colegios inteiramente nomeados pelo Grao Mestre e colégios constituidos por Inerencias nomeadas e representantes das Lojas. Esta ultima versão pode ainda ter alternativas pois pode ou não haver limitaçoes ao numero de Inerencias.

Eleição por Inerencia - pode parecer um paradoxo, mas na verdade o caso mais paradigmatico deste tipo de eleição é a Grande Loja Unida de Inglaterra - que como sabemos é a Grande Loja mais antiga - em que o Grão Mestre é o REI ( quando este é Maçon - o que não falhou até agora). Ora actualmente o Rei não é Rei é Rainha e como foi já explicado em Post anterior a Ordem é Masculina. Por isso o GM de GLUI é o Duque de Kent ( primo da Rainha) que é eleito e re-eleito para o mandato. Um outro caso de Inerencia é a Suécia em que o GM é sempre o Rei.

A Eleição de um Grao Mestre é sempre um assunto de relevo na vida das Organizações Maçónicas, pois representa a escolha de um lider para um periodo mais ou menos longo ( dependendo dos regulamentos) e com poderes bastante vastos. Os poderes de um Grao Mestre podem ir para além dos regulamentos pois estão-lhe também acometidos poderes rituais especiais.

Pela Natureza simbolica associada à escolha de um lider de uma organização como a Maçonaria o acto em si reveste-se de uma caracteristica quase esoterica. Mas é também um acto interno e interior. É o assegurar a continuidade das tradições e o progresso da ordem, assuntos que em primeiro lugar dizem respeito apenas aos membros da Obediencia.

Como tal devem em minha opinião ser tratados internamente e com a reserva necessária à manutenção da discreção, mesmo que possam haver divergencias internas. Não sendo um assunto comum, e sobretudo não estando a base eleitoral noutro sitio que a propria instituição maçónica ( independentemente do tipo de eleição) tenho alguma dificuldade em entender o uso de Mass Média para derimir questões eleitorais, ou mesmo outras questões internas quaisquer que elas sejam.

Creio que a Instituição, e as pessoas que a compõem, têm que ser respeitadas. A Maçonaria tem internamente formas de resolver todas as questões e tem resposta para todas as questões, mesmo que em ultima analise a unica resposta possivel seja " se a Instituição já não corresponde as suas aspirações pode sempre optar por sair", pelo que e nos anos que levo ( 15 ) sempre me ative às normas que escolhi ( de livre vontade) respeitar.

Estamos em periodo eleitoral. Tanto quanto sei decorre com toda a normalidade, não fosse a vontade de alguns de quererem parecer mais que o que são e com isso terem manchado por 2 vezes este processo, que se adivinhava pacifico, com investidas nos Media.

Mas a Maçonaria e em particular a GLRP / GLLP prevalecerão uma vez eleito o novo Grão Mestre, pois a estabilidade de uma vasta maioria não será seguramente posta em causa por uma minoria que apesar de andar por cá há muito tempo, ainda não conseguiu combater os seus vicios nem aplacar as suas paixões.

Resta-nos ajudá-los a encontrarem o seu caminho, qualquer que ele seja, que se aparte quer se junte.

JoseSR

20 novembro 2006

Como prosseguir

A sabedoria, a força e a beleza dos princípios que nos movem impelem-nos a caminhar, com passo sereno e seguro pela senda que escolhemos. Não se antolha nenhum motivo para os substituirmos ou para os modificarmos.

São, ao mesmo tempo, a nossa segurança e a nossa liberdade; porque nos apoiamos em conceitos apurados durante séculos por homens que respeitaram a moral e a ética e porque nos ensinaram a ouvirmos e a vermos como os nossos ouvidos e com os nossos olhos.

É com alguma apreensão que ouvimos desmoronarem-se à nossa volta edifícios de grande solidez aparente, enquanto outros são construídos com a argamassa do ódio.

A tentação, que muitas vezes nos ataca de desistirmos, de enfileirarmos comodamente em bandos onde a única responsabilidade exigida é a de acatar submissamente as ordens dos transmissores de pobres certezas, é vencida por muitos, entre os quais queremos estar sempre.

Continuamos a acreditar que juntos poderemos ir mais longe; que palavras como solidariedade, fraternidade , respeito pelo próximo, tolerância, justiça social e liberdade são expressões vivas que se vão decantando como consequência do nosso aperfeiçoamento espiritual.

E, se como atrás nestas notas soltas referi, importa respeitar os princípios, a forma como estes são em Maçonaria seguidos e difundidos deve ser objecto de atenta e profunda reflexão. Porque, se a Maçonaria visa o aperfeiçoamento de cada homem, visa o aperfeiçoamento deste integrado num grupo que por sua vez integra a sociedade toda.

Porque o maçon sabe que, se tem deveres para com os seus Irmãos, não pode esquecer os deveres para com todos os seus semelhantes que fazem parte de um tecido vivo em permanente transformação.

A Maçonaria deve pois adequar o modo como age aos modelos culturais e sociais de cada episteme.

Se dentro do Templo, com os nossos Irmãos, aprofundamos saberes iniciáticos, devemos fora do Templo utilizá-los e difundi-los sem os deturpar de forma a que sejam entendidos e respeitados.

Num tempo próximo em que, como em poucos outros, as variáveis serão em muito maior número do que as constantes, em que conceitos racionais, que só racionais, transportam ideias materialistas, que só materialistas, para o mundo das tecnologias e gritam triunfos onde só são conseguidos desencantamentos e desumanizações. Como Fernando Pessoa e tantos outros teriam pena de quem se acocora dentro das máquinas com medo de olhar mais longe...

As tecnologias todavia deverão, naturalmente, ser utilizadas, como pontualmente já sucede para transmitirmos o que pensamos, para dizermos quem somos, o que já fizemos a bem da humanidade e o que estamos disposto a fazer.

Sem escancararmos as portas do Templo, sem exibirmos (como já irresponsavelmente foi feito) o âmago da nossa cultura iniciática, devemos aproveitar melhor os meios que hoje estão ao nosso alcance, e que de certa maneira nos são impostos, para apontarmos criteriosamente valores e objectivos. Se tal não suceder, a ocupação de todos os centímetros e de todos os segundos pelos que propagandeiam oportunismos e toscas formas de marcantilismo deixar-nos-iam numa remota e ignorada penumbra onde foram vazados os que foram e já não são.

Para agudizar a premência do acerto da passada pelas formas sem esquecer conceitos, uma realidade surge de forma avassaladora e numa pressa vertiginosa: a globalização. Não temos tempo para coçar a cabeça cogitando no que ela poderá ser; porque quando acabássemos o gesto ela já cá estava, imponente depois de entrar por todos os poros e interstícios. O tema, muito bem tratado por vários oradores no Congresso Internacional da Maçonaria Regular em boa hora organizado pela GLLP/GLRP, tem pois de ser encarado dentro do Templo.

Com a preocupação de o entender e de, na coerência das nossas formar de intervenção, estudarmos como o devemos olhar e como ele pode influenciar o nosso trabalho.

De uma certeza podemos partir: a cultura maçónica não é monolítica e visa, como sempre, colaborar na criação de mais justos e livres modos de vida, para todos. Está aberta, na segurança dos seus princípios, para ser aperfeiçoada, para poder aperfeiçoar cada homem, para que a humanidade, seja cada vez mais só uma, mais justa e mais livre de todas as amarras.

E sabemos que a Maçonaria prosseguirá na mesma luta, não construindo na utopia mas no mundo em que vivemos um Templo diferente de todos os outros, em permanente aperfeiçoamento, procurando dar, com o respeito pelos mesmos princípios de sempre, respostas às angústias sentidas em cada época.

Numa perspectiva adjunta, a Maçonaria só ensina os conhecimentos que os homens lhe oferecem, só é o que os homens puderem ser, só tem o que o homens lhe derem.

Sempre com a esperança de se tornarem melhores.

Assim tem sido, com a liberdade de pensar e de criar que está na origem de toda a obra da Maçonaria, repelindo um olhar único e não esquecendo que cada tempo formulou as suas perguntas, deu as suas respostas e confrontou os maçons com a sua coragem de dialogar com a transcendência.

Em proféticas palavras que continham uma definição mas também um aviso para o futuro, o pastor Anderson disse que “um maçon nunca será nem um ateu estúpido nem um libertino irreligioso”.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o nono e último de nove excertos que foram aqui publicados; o anterior foi publicado em 15/11/2006, sob o título "A Grande Loja Legal de Portugal / GLRP". A imagem que ilustra este excerto é a fotografia do autor, a quem os colaboradores deste blogue agradecem a autorização dada para a publicação dos textos).

Rui Bandeira

15 novembro 2006

A Grande Loja Legal de Portugal/GLRP


A nossa GLLP/GLRP atravessa uma fase de sereno e coerente crescimento.

Qualquer análise esclarecida tem de assentar em quem somos e nas circunstâncias que nos marginam e o ponto de partida só pode ser um: todo o nosso trabalho visa a construção de um Templo que as nossas humanas limitações não permitem que possamos concluir e não, como com ignorância profana poderíamos conjecturar, utilizar um Templo, por belo que seja na construção do qual não participámos, isto é, na parede do qual não colocámos nenhuma pedra por nós polida laboriosa e conscientemente. Iniciámos, formalmente, a nossa vida colectiva há década e meia; honramo-nos todavia, e, pelos motivos que apontei com toda e legitimidade, de um passado longo e que tão fundas marcas deixou na História da Humanidade.

Muitos são os que têm prosseguido o trabalho feito pelos que nos antecederam. A todos devemos reconhecer o mérito do seu labor e se alguns nomes caíram no esquecimento tal ter-se-á ficado a dever à discrição com que actuaram, o que mais realça a sua coerência maçónica e o seu desapego a ridículas vaidades.

Entre outros temas sobre os quais adiante ensaiarei algumas considerações um há que, na sua aparente linearidade esconde uma dúvida que nalgumas potências estrangeiras vem merecendo aturada reflexão: deverá a Maçonaria do futuro, e portanto a nossa Grande Loja, preocupar-se mais com o Templo ou com a Loja?

Noutras áreas do conhecimento este duelo de cumplicidades entre a Teoria e a Praxis é resolvido com a procura de simbioses. Creio que assim não deverá acontecer no que nos diz respeito. Continuo a crer, firmemente, e nesse sentido tenho actuado, que embora cuidemos do que é feito, este deve ser sempre descendente directo do porque é feito.

Se dermos importância de protagonista à nossa acção, torna-nos-emos, e muitos são os cantos das sereias que no-lo sugerem, um grupo de homens mais ou menos bons que se dedicam a causas mais ou menos boas, como tantos e tantos outros grupos. Seremos menos agredidos pelos intolerantes, é certo, mas, é bem preferível que sejamos agredidos por termos uma cultura própria que determina e margina o que fazemos a navegarmos em mares bonançosos que não são os nossos.

Justamente por isso, têm sido várias as actividades culturais que temos promovido acompanhados do convite à participação dos Obreiros.

Tem de ser este, só pode ser este, o nosso percurso. Os frutos começam a ser bem visíveis sendo estimulante verificar que várias são as RR...LL... interessadas em dar sequência aos exemplos dados, promovendo actividades diversas, inclusivamente a publicação de cadernos como em boa hora a R...L... Astrolábio começou a fazer há alguns anos – estão publicados 32!-.

É a colina dos saberes que fomos reunindo que determinará o que viermos a fazer não sendo razoável admitir que o nosso aperfeiçoamento espiritual dependa mais dos fins do que dos meios. A título de exemplo, aponta-se a beneficência: as acções, e muitas são, que promovemos neste domínio, não são um fim em si mesmas, são a natural consequência da nossa formação maçónica.

Estamos pois a crescer, tendo sempre presente que só nos interessa crescer para sermos melhores, não para, cedendo a interesses pessoais ou de grupo, sermos maiores e mais aptos para conquistarmos lantejoulas ou cifrões. A nossa meta está, só pode estar, muito para além e muito para cima de tais pobres objectivos.

O que estamos a fazer é conseguido com discrição, com prudência e, em especial, com a coerência imposta pelos princípios que seguimos, da Maçonaria Regular. Estes são princípios padronizados pela crença em Deus, Grande Arquitecto do Universo, que todos sentimos, ainda que a possamos viver de formas diferentes. Por isso é com a maior naturalidade que respeitamos as Religiões e os seu representantes, não existindo, da nossa parte, qualquer reticência que possa empanar um relacionamento que pretendemos que seja claro e assente no respeito mútuo.

Também no tocante a outras obediências maçónicas, reconhecidas ou não, recusamos qualquer forma de agressão ou de colisão. A Maçonaria, como a entendemos nós, os maçons Regulares, é trabalho de construção própria, nunca o de destruição do trabalho alheio.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o oitavo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 13/11/2006, sob o título "Os Altos Graus"; o próximo, e último, terá o título "Como prosseguir").

Rui Bandeira

13 novembro 2006

Os Altos Graus

Os Altos Graus integrados por Obreiros da GLLP/GLRP e por estas reconhecidos, oferecem meios de aprofundamento espiritual específicos de cada Rito, no prosseguimento harmonioso do trabalho em Loja que continuará a ser a base onde assentará a vida maçónica.

O muito que lhes deve a Maçonaria Regular advém em larga medida do perfeito entendimento que tem existido, assente no respeito mútuo, entre a GLLP/GLRP e cada uma das estruturas representativas dos Altos Graus. A unanimidades de posições, nomeadamente quando do relacionamento com potências estrangeiras, muito tem contribuído para que a Maçonaria Regular Portuguesa goze da imagem de rigor e de coesão que tanto a prestigia. As diferenças pontuais com que interpretam as formas que a cultura maçónica assume não traduzem contradições mas propostas de enriquecimento, tendo plena justificação a aprendizagem levada a cabo por Obreiros que, trabalhando em diferentes Altos Graus, contrastam versões e interpretações que mais não são do que perspectivas de uma mesma obra, belamente dramatizada.

Não tem sido esquecido que os caminho percorridos oferecem maiores e mais embelezadas formas de progressão mas não podem substituir a solidez do tronco donde brotam nem as raízes implantadas na sociedade, uma e outras oferecidas pelas RR...LL... azuis.

Justifica bem uma referência o facto de que os estudos aprofundados feitos nos Altos Graus, com rigor e exigência cientifica, muito podem contribuir para que sejam desmitificados muitos livros, documentos e filmes, hoje tanto na moda, nos quais, despudoradamente, são tratados de forma oportunista temas que merecem o nosso respeito.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sétimo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 9/11/2006, sob o título "As Respeitáveis Lojas"; o próximo terá o título "A Grande Loja Legal de Portugal / GLRP").

Rui Bandeira

09 novembro 2006

As Respeitáveis Lojas


As Respeitáveis Lojas são a célula donde brota a vida maçónica. Não há em Maçonaria estrutura mais determinante, mais padronizadora de saberes e de comportamentos. É na Loja que se aprende, é na Loja que se convive, é na Loja que nos assumimos, é na Loja que podemos, se para tanto o nosso engenho e a nossa arte o permitirem, transformar quem somos em quem queremos ser.

Respeitando os mesmos princípios que os restantes Irmãos, percebemos que lhes devemos oferecer, todos os dias, no Templo e fora do Templo, a nossa fraternidade; que o nosso pobre egoísmo ficou, com as nossa pobres vaidades, esquecido fora da Loja, numa atitude que – e há que o acentuar vivamente – não é só fruto da cultura, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem, como da inteligência, como da maturidade que alguns percebem que não é desprendimento pela vida mas amor à vida e ao que ela encerra de mais nobre e mais digno.

Tudo isto pode ser percebido, sentido e interiorizado em Loja pelo estudo que vivamente se aconselha dos nossos rituais e dos muitos textos que nos podem enriquecer mas serão sempre limitados os resultados se não houver um esforço de superação consciente e persistente.

Não são as Lojas estruturas isoladas. Mau sinal seria se proporcionassem a fraternidade entre os Obreiros de cada uma e não a fomentassem entre os Obreiros que trabalham em diferentes Lojas. Esse risco nem sempre é ultrapassado por Lojas que, embora trabalhando muito bem, se esquecem de que o Movimento Maçónico, (o Mundo Maçónico, a Família Maçónica) não é um arquipélago constituído por ilhas que ignoram a vida das restantes mas é um todo cuja eficácia é resultante do somatório dos trabalhos dos seus membros.

Os Regulamentos existentes, quer o da GLLP/GLRP que os das RR...LL..., corolários daquele, não são mais de um conjunto de normas que servem de referência para o trabalho concreto mas que devem ser sempre vistos como uma emanação dos nossos princípios e dos nossos “Landmarks”.

Não há, e é importante que tal seja plenamente assumido e entendido, uma estrutura maçónica inspirada em estruturas ou códigos profanos, tenham eles origem cultural, política ou social. Como não há uma hierarquia dependente da decoração dos aventais; a decoração dos aventais, salvo no tocante à que caracteriza o grau de cada Obreiro é um indicativo de responsabilidades assumidas durante um período de tempo, e nunca um objectivo que permite a satisfação de vaidades puramente profanas. Cada nova responsabilidade assumida em Loja, inclusive no seu Quadro de Oficiais tem de ser encarada como estímulo para um maior aperfeiçoamento como acontece, ainda com maior exigência, quando da iniciação da passagem a Companheiro e da elevação a Mestre. Pela mesma ordem de razão não são toleráveis os falsos argumentos freudianos que alijam responsabilidades que são claramente das RR...LL... para outras estruturas da GLLP/GLRP.

Daqui a estupefacção que sentimos por vezes quando somos confrontados com a ideia, nascida da ignorância, de que “as RR...LL... devem cumprir o programa da Grande Loja”.

Como é de todos sabido são promovidas, em especial desde há poucos anos, diversas iniciativas de que podem participar Irmãos de todos as Lojas, nomeadamente no âmbito cultural. Mas estas participações são sugeridas, nunca impostas, e têm a intenção de enriquecer a formação dos Obreiros não se pretendendo, bem pelo contrário, desmotivar a acção das Lojas, que deverá partir sempre da sensibilidade, das circunstâncias e da capacidade de trabalho e de organização de cada R...L... na convicção que todos temos de que esta é fonte criadora do livre pensamento. E este, aberto à vida e à verdade, pesquisa, investiga, estuda, respeitando os que sabem mais mas procurando sempre caminhos próprios.

Aos Órgãos da Grande Loja compete coordenar, estimular e se necessário intervir se os nossos documentos fundamentais não estiverem a ser respeitados; para além do cumprimento das atribuições que lhe estão naturalmente cometidas. Também lhes compete colaborar na criação de melhores condições de trabalho como vem sucedendo no tocante à consagração de novos Templos; e catalizar apoios favorecendo, por exemplo, o levantamento de colunas ou reinício da actividade de várias RR...LL.... Como se percebe, é bem preferível seguir este caminho de verdade do que criar novas RR...LL... só com a intenção de nos vangloriarmos com o seu número.

Tem sido bem visível o aumento do grau de exigência das RR...LL..., nomeadamente no que diz respeito ao rigoroso cumprimento dos rituais. Por aí teremos de prosseguir, como terá de continuar a ser prestado apoio pela RR...LL... com maior número de obreiros e maior dinamismo às suas Irmãs. Também por este caminho de entreajudas se tornará mais límpida a diferença entre o fundamental e o acessório; o grau de exigência seguido em cada R...L... é testemunho da forma como sabem encarar duas virtudes que não nos cansamos de apontar: a dignidade e a verdade. São virtudes visadas no mundo profano que nós, numa Ordem Iniciática, que respeita valores espirituais, por maior força de razão deveremos, sempre respeitar.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o sexto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 7/11/2006, sob o título "Obreiros"; o próximo terá o título "Os Altos Graus").

Rui Bandeira

07 novembro 2006

Obreiros


A Grande Loja é o reflexo de que as Lojas são e tem o que as Lojas lhe dão. E as Lojas são o que os seus Obreiros forem e têm o que os seus Obreiros lhes derem, em fraternidade, em solidariedade, em trabalho, em valorização cultural, em vontade de servir e na sua permanente luta pela superação.

Os obreiros são diariamente desafiados por si próprios a serem e agirem na qualidade de maçons: de homens honrados com uma iniciação, que lhes conferiu responsabilidades novas que os impele a lutarem contra os pobres e redutores hábitos profanos, os quais, instintivamente os conduziriam sempre, rotineira e mecanicamente, por uma senda de cinzentos e responsáveis comodismos.

Os maçons sentem, com plena naturalidade, que só poderão prosseguir, ou seja, valorizar-se espiritualmente, se aprenderem a cultivar as expressões mais nobres do respeito pelos outros e por si próprios.

E, com a mesma naturalidade, aceitarão os aumentos de salário que são atestados que comprovam aumento de conhecimento e de capacidade para assumirem maiores responsabilidades, sem caírem no logro profano de se envaidecerem com avanços que são, unicamente, simbólicos, na convicção de que todos, exactamente todos, estão conscientes da sua ignorância..

Por isso, é com constrangimento e tristeza que assistem à exibição de decorações ou ao enunciado de cargos, e de graus, que patenteiam mediocridades que ferem os ideais maçónicos.

Os Obreiros sabem bem que, independentemente das circunstâncias históricas, culturais e sociais de cada tempo, a Maçonaria deve ser discreta; passou o muito longo período em que fomos forçados a ser secretos mas, de acordo com o atrás dito, importa-nos, sempre, muito, o ser e nada o parecer.

Por estes, e por muitos outros motivos conhecidos dos maçons, a criteriosa selecção dos candidatos a Obreiros da Ordem deverá sempre ter em consideração que pretendemos que os iniciados sejam homens de bem, independentemente do estrato a que pertençam no mundo profano. Ainda devo acrescentar, para maior clarificação que, se não devemos impedir a entrada no Templo de um operário também, não devemos impedir a entrada de um ministro. O critério é outro e bem outro.

A formação dos Obreiros, à qual se podem em diversos casos apontar lacunas, é como sabemos, da responsabilidade de toda a Loja, em especial do Venerável Mestre, do 1º e do 2º Vigilantes.

Tarefa bem difícil, de todas a que melhor traduz a luta pela transformação da pedra bruta em pedra polida, encerra um imenso desafio: os maçons são filhos e foram moldados pela sociedade que eles querem transformar através da sua própria transformação.

Será, a este respeito muito em breve editado pela GLLP/GLRP um livro elaborado pela R...L... Pisani Burnay onde a nossa Ordem Maçónica Regular e os seus objectivos são levados ao conhecimento dos iniciados.

Para que a valorização se torne possível, é necessário que o maçon seja persistente, seja paciente, saiba suportar a incompreensão e a intolerância dos outros. E seja capaz, o que se reveste também de grandes dificuldades, de encarar, com isenção, o significado que deve atribuir à tolerância.

Se, como disse, devemos suportar, e em muitos casos compreender, a intolerância alheia, sempre oriunda da ignorância e da insegurança, não podemos usar da mesma bitola quando olhamos para nós e para os nossos Irmãos. O grau de exigência deve ser muito maior; não ignoremos que a quase totalidade dos problemas com que nos defrontamos são criados por nós próprios. Porque somos discretos, nos associamos e interagimos local, nacional e internacionalmente, muitos nos olham como um descuidado veículo para quem tem ambições pessoais sejam de carácter profissional ou envolvam necessidades de afirmação e de nós se quer servir.

E, quando surgirem dúvidas relativamente às proporções da nossa tolerância para com os que nos antagonizem, lembremo-nos que só uma atitude devemos tomar, consentânea com a cultura que nos especifica: não insultar quem nos insulta, não guerrear com quem guerreou, muito menos no Templo, mostrando que somos capazes de travar o diálogo e que partimos para este sempre mostrando que queremos ouvir os outros e, o que muito reforça moralmente a nossa posição, que estamos disponíveis para melhorarmos os nossos conhecimentos pela aceitação dos argumentos alheios se estes se mostrarem mais sólidos.

Porque a beleza da nossa cultura nasce do facto de estarmos mais interessados em aprender do que em ensinar, com a coragem intelectual de quem quer ter opinião fundada numa opinião livre e consciente.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quinto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 6/11/2006, sob o título "Maçonaria e Maçonarias"; o próximo terá o título "As Respeitáveis Lojas").

Rui Bandeira

06 novembro 2006

Maçonaria e Maçonarias


Quer no mundo profano quer por vezes no próprio seio da Maçonaria surgem algumas perplexidades, criadas pela auto anunciada existência de grupos que se consideram maçons e que vão, num ou noutro ponto, dando origem a confusões de diversa índole.

Há que, a este propósito reflectir um pouco, no respeito pela nossa cultura, pelos nossos princípios e por quanto representamos.

De dois pontos devemos partir: por um lado, não nos considerarmos detentores da verdade única e sermos tolerantes, por outro, devemos ser rigorosos e exigentes.

Por outras palavras: devemos respeitar todos os que de boa fé, respeitam os mesmo princípios que nós e não devemos nem podemos respeitar os que, sem pudor, se aproveitam do nome da Maçonaria, erguido laboriosa e persistentemente por muitos ao longo de séculos, colocando-o ao serviço de ridículas vaidades pessoais ou de desígnios menos claros.

Em linhas gerais, há em Portugal, duas grandes Ordens Iniciáticas Maçónicas: o Grande Oriente Lusitano e a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Como é sabido, ainda que por vezes, tal seja escamoteado, o mundo maçónico, em 1877, afastou da sua convivência o Grande Oriente de França por este pretender seguir por uma via que, por ser ateia, antagonizava os próprios Landmarks da Maçonaria. O facto da principal corrente maçónica portuguesa de então ter secundado a atitude do GOF fez com que tanto um como outro fossem a partir de então – até hoje – considerados irregulares.

Só no decurso da década de oitenta, na esteira da abertura introduzida em 1974 pelo movimento de 25 de Abril, se intensificaram os esforços que levariam ao restabelecimento da Maçonaria Regular em Portugal, que culminariam com a consagração da Grande Loja Regular de Portugal em 1991.

Hoje, a Maçonaria Regular Internacional, que se estima representar bem mais de noventa por cento de toda a Maçonaria Internacional, reconhece a GLLP/GLRP como lídima, e única representante da Regularidade em Portugal.

Como em muitos outros períodos, os interesses individuais, e até, naturais diferenças de opinião e de postura, deram origem a algumas secessões; destas a que deixou cicatrizes mais fundas foi a da chamada “Casa do Sino” tendo permanecido na facção então criada diversos Obreiros iniciados entre nós, vários dos quais já regressaram ao nosso convívio.

Uma ou outra vez ouvimos algumas vozes clamar pela unidade de todos os maçons portugueses. Ainda que por detrás da proposta haja muitas intenções sãs, devemos atentar em que:

  • A fusão entre as duas grandes potências maçónicas portuguesas – e só no caso destas tal se poderia conjecturar – seria sempre um acto contra natural. Se uma das Ordens mostrasse – ou mostre – interesse na fusão, reconheceria que abdicava das suas convicções, abjurava os juramentos feitos e, implicitamente, admitia aderir aos princípios pela outra Ordem respeitados; também de forma bem implícita aceitava que se encontrava numa fase de declínio ou de confusão institucional e que desistia das formas de luta que vinha adoptando.

  • Porém, e repetindo o já muitas vezes dito, a nossa coerência e a nossa tolerância, determinam que abramos as portas do nosso Templo aos que estão convictos de que merecem o título nobre de maçons desde que, naturalmente, se apresentem um a um – nunca em grupo – se encontrem nas condições impostas pelos Regulamentos da GLLP/GLRP e sejam aceites no seio de uma R:.L:. Foi esta situação já vivida diversas vezes, devendo acentuar-se que nunca houve qualquer tipo de aliciamento ou convite nascido na nossa Ordem. Tal seria abusivo, condenável e assumiria até formas próximas do não entendimento do que são valores maçónicos.

  • Por maior força de razão, esta atitude vem sendo adoptada, e continuará a sê-lo, para com os elementos dos outros grupos que se auto intitulam maçons.

  • A nossa Ordem não pode agir de outro modo, já que tal se traduziria no não cumprimento dos nossos deveres e , eventualmente, no risco de vermos negado o reconhecimento internacional, a que vimos fazendo jus.

  • As muitas sugestões que chegam às nossas RR:. LL:. para a realização de encontros e reuniões com membros de instituições que actuam em áreas próximas da nossa, mas não são reconhecidas, deve ser encarada, como claramente os Regulamentos o determinam, com toda a prudência e, obviamente, nunca poderão assumir qualquer expressão ritual.

A imprudência suscitada pela nossa tolerância unicamente poderia trazer benefícios aos autores das sugestões, sejam ou não estas formuladas desinteresseiramente.

Numa perspectiva adjacente, devemos recordar que as Ordens Iniciáticas que se reclamam da Regularidade respeitam todas elas, inclusivamente para merecerem, o reconhecimento internacional das suas pares, as mesmas Regras que são consideradas desde há muito imutáveis.

Determinam, entre outras disposições, que “A Maçonaria é uma Ordem, à qual só podem pertencer homens livres e de bons costumes...” e, mais adiante que “Os Maçons só devem admitir nas suas Lojas homens de honra...”.

Não é assim consentida a presença feminina nos Templos nem nos Trabalhos Rituais.

Todavia não deve tal ser entendido como sinal de menor respeito pelas mulheres nem pelas instituições em que se agrupam e que tenham relação cultural com os nossos valores e objectivos, como sucede no tocante à Grande Loja Feminina.

Todas estas questões, como muitas outras relacionadas com a legitima integração dos maçons numa vastíssima família, transportam-nos, naturalmente para um outro plano: o da Maçonaria Internacional, para as suas regras e exigências.

E aqui, bem ao contrário do que por vezes se anuncia, o quadro é mais claro do que poderíamos conjecturar: toda a Maçonaria visa os mesmos objectivos, toda obedece aos mesmo princípios, toda se rege pelas mesmas normas. Não há por parte das potências maçónicas internacionais nem vontade nem legitimidade para intervirem na vida interna das suas Irmãs. Unicamente, e a sabedoria maçónica o determinou, há a possibilidade de aceitarem que se sentem à mesma mesa os que respeitam os mesmos princípios e as formas de os observarem, assim como de rejeitarem, a presença dos restantes.

A aceitação é tanto maior quanto mais se reveste de dignidade; as rasteiras subserviências não são obviamente toleradas neste cenáculo de homens livres que representam outros homens livres.

Algumas interrogações levantadas em Ordens estrangeiras, levadas a hesitações quanto ao reconhecimento da GLLP/GLRP, suscitadas pela secessão de 1996, foram respondidas com o uso da única forma que a Maçonaria reconhece nestes casos: com a verdade, a persistência e a discrição.

Os laços que têm sido estabelecidos ou reforçados com as Ordens estrangeiras que podemos e devemos reconhecer são hoje sólidos e traduzem-se em acções nas quais participam não só os seus mais altos representantes como em acções que conduzem a geminações entre RR:.LL:. de países diferentes, desde que, naturalmente, suscitem a concordância dos respectivos Grão-Mestres. Não esqueçamos também a importância de que se reveste a visita que individualmente muitos maçons fazem a RR:.LL:. estrangeiras, para o que devem ser portadores do necessário passaporte maçónico.

Para o reforço destes laços, têm contribuído, e mais contribuirão, com o seu trabalho os Irmãos que são Garantes de Amizade, ou Grandes Representantes junto de ordens estrangeiras irmãs.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o quarto de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 2/11/2006, sob o título "A Maçonaria hoje"; o próximo terá o título "Obreiros").

Rui Bandeira

02 novembro 2006

A Maçonaria Hoje


Depois de ouvirmos e de lermos muitas opiniões sobre a Maçonaria, grande parte das quais elaboradas sobre preconceitos, em especial num País como o nosso onde durante décadas não foram consentidas instituições onde pudessem germinar ideias avessas ao poder dominante, formámos também as nossas opiniões. Estas eram, naturalmente as resultantes das informações tendenciosas transmitidas pelos meios que nos estavam mais próximos e eram, novamente, de esperança ou de suspeição, Se alguns imaginavam que a Maçonaria era uma escola de cidadãos perfeitos, outros garantiam que, quem nela entrasse tinha garantida a entrada no inferno com as mais vivas brasas.

Se os segundos se mantiveram, para tranquilidade dos seus votos, afastados da Ordem, alguns dos outros ousaram franquear as portas do Templo.

Aqui chegados, mantiveram as posturas que na vida profana vinham já adaptando: os que procuravam o aperfeiçoamento, estudaram, valorizaram-se, tornaram-se mais exigentes consigo próprios e tolerantes com os outros; perceberam que os textos rituais são inesgotáveis fontes de ensinamentos ainda que não entendessem facilmente todas as lições neles contidas. Os que, na vida profana se acomodavam e usavam a crítica como escudo, prosseguiram, apesar dos exemplos dos seus Irmãos, na mesma senda; e, porque lhes escasseia a capacidade para polirem a própria pedra olham com azedume a forma como os seus irmãos cuidam das suas. Nada dão de si próprios já que colocam à frente de quaisquer conceitos a defesa dos seus próprios interesses. E, o que não pode deixar de ser motivo de reflexão, estes que entraram, sem respeito, no Templo, viram as portas franqueadas pelos que já se encontravam no seu interior; buscavam favores profanos e, o que nos entristecia, em muitos casos, o reconhecimento obtido com a mais rica decoração de um avental que compensava uma vida profana apagada e triste.

Uns e outros, como que esquecidos de que são todos filhos da mesma sociedade levados por um imaginário que a História ajudou a construir e que não podemos desprezar, vieram para o nosso convívio, na expectativa de, num mundo diferente, encontrarem modelos culturais e sociais diferentes.

E novamente aqui a dicotomia se manifestou: os que sabem, e sentem, o que é a Maçonaria, encontraram muitas das respostas que procuravam; para tal estudaram, para tal trabalharam, para tal confiaram nos seus Irmãos, a tal se deram na percepção plena de que, efectivamente a Maçonaria é muito mais do que parece e de que, tudo o que nos pode oferecer é o resultado do trabalho de muitos que já não estão connosco e do trabalho solidário, fraterno e consciente de cada um de nós.

Naturalmente, e poderei dizer felizmente, para os que entram com a intenção de muito receberem sem quase nada darem, a Maçonaria não é a instituição que gostariam de encontrar. Uma instituição que, pela sua forma discreta de viver pelas relações nacionais e internacionais que possui, poderia constituir um veículo útil. De entre estes muitos afastam-se, enquanto outros permanecem, apaticamente, lendo mecanicamente rituais sem os entenderem, participando de iniciativas sem entusiasmo, no desejo de que algum Irmão os possa apoiar na vida profana ou de que as aparências o satisfaçam com aventais, colares, medalhas, diplomas, etc. etc. Ficarão sempre na convicção de que a Maçonaria é pouco, sem perceberem que eles são muito pouco.

Porque, quando falamos em aperfeiçoamento espiritual, e fazemo-lo sem reticências, sabemos que a pedra não é polida por outros: é polida, laboriosamente por cada um de nós, com a fraterna ajuda dos outros.

Na certeza de que cada Maçon está a trabalhar num momento em que a humanidade, cercada por angústias e incertezas, espera que ele cumpra a sua missão. Porque hoje, e verificamo-lo todos os dias, o homem deixou de confiar em muitos dos apoios a que se agarrou durante séculos e, numa deriva de confusões, em que se vê obrigado a correr no meio de uma turba sem saber para onde nem porquê, tenta evitar situações de desregulação psicossocial onde a esperança nele e nos outros já não existirá.

As agências de controlo social, a quem vinha entregando a responsabilidade de definir o que se deve fazer e o que não se deve fazer, no que devemos acreditar e no que não devemos acreditar, e às quais não eram feitas perguntas que não contivessem já as respostas acopladas, foram perdendo a função de bússola, impotentes que se foram mostrando face às novas avalanches de dúvidas e de contestações.

A Família já não representa o que representava, o Estado já não tem o poder que tinha, não se sabendo onde começa e onde acaba, desempenhando um papel crescentemente difuso, a Escola não logra emparelhar-se com a sociedade, a Religião, ainda que cada dia mais plurifacetada não é já respeitada nem temida como já foi, a Justiça perdeu credibilidade...

Mas o Homem, com as suas fragilidades carece, como sempre careceu, de se segurar em esperanças, pelo que é tentado a deitar a mão ao primeiro bote que passar desde que pareça sólido. Cedo se está a dar conta de que estes botes nenhuma confiança merecem e de que, afinal, é bem mais seguro procurar a segurança dos princípios, com outros homens, em lugares onde seja ouvido e respeitado.

E a Maçonaria oferece, de forma que continua a ser ímpar, a possibilidade de progredirmos espiritualmente sem perdemos o direito de pensarmos livremente. É um caminho bem difícil mas é, para nós, o que nos permite sermos melhores sem que seja menosprezada a nossa responsabilidade.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o terceiro de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 31/10/2006, sob o título "Tópicos históricos"; o próximo terá o título "Maçonaria e Maçonarias").

Rui Bandeira

31 outubro 2006

Tópicos Históricos


Após terem sido apontados os seus objectivos, após terem sido laboriosa e persistentemente apurados os conceitos e os padrões que deveriam ser respeitados e após terem sido coligidos, burilados e aperfeiçoados os textos rituais que serviriam de referência e apoio, a Maçonaria foi estruturando, com a prudência que as evoluções da História sugeriam, formas de organização próprias.

Como se esperaria, os diversos poderes olharam-na com preocupação e desde há muito optaram por uma de duas atitudes: a hostilidade, que foi traduzida em perseguições, prisões, suplícios e até penas de morte, e a complacência desconfiada que levou, em especial no norte da Europa, a que várias cabeças coroadas se tivessem intitulado protectoras da Maçonaria e tenham, directamente ou através de familiares, desempenhado as funções de Grão-Mestres, de modo a melhor acompanharem e controlarem uma instituição que olhavam mais com desconfiança do que com apreço.

Se os poderes políticos bolinavam entre estas duas margens, os poderes religiosos ficavam sempre amarrados à margem donde a Maçonaria era vista com absoluta intolerância e inquietação.

A atitude dos poderes religiosos era de um necessário distanciamento, aliás a única que se poderia aguardar, e que se deveu a um alargado conjunto de circunstâncias: a Maçonaria falava em aperfeiçoamento espiritual, tema e prática que eram exclusivos dos que definiam o caminho a seguir pelas religiões; a Maçonaria apregoava livres formas de pensar, o que muito contrariava quem respeitava monólitos de certezas; a Maçonaria usava como usa, muitos conhecimentos, criteriosamente seleccionados e simbolicamente entrosados, contidos em livros sagrados, o que, para além de ser visto como um abuso sacrílego, poderia induzir interpretações e versões afastadas dos cânones; a Maçonaria, ainda que tal não estivesse de acordo com os seus princípios, poderia ser, e não poucas vezes o foi, ponte entre as forças dominantes da sociedade, competência que as instituições religiosas, também ao arrepio dos seus objectivos, muitas vezes utilizaram; a maçonaria cultivava formas de secretismo, para melhor se proteger, proteger os seus membros e as suas práticas, o que muito incomodava as forças da intolerância que assim tinham maior dificuldade em situar os seus elementos e calar as suas actividades, em particular quando estas se relacionavam com a luta contra injustiças sociais que eram ignoradas, quando não estimuladas, pelas estruturas que usavam as religiões como máscara, a exemplo do que sucede hoje ainda em muitas paragens.

Do trajecto feito, das lutas travadas e dos resultados obtidos outros textos poderão falar com mais a propósito.

São no geral bem conhecidos e sobre eles se debruçaram estudiosos de diversas áreas do conhecimento como historiadores, sociólogos, políticos, filósofos e religiosos.

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o segundo de nove excertos que serão aqui publicados; o anterior foi publicado em 30/10/2006, sob o título "A Maçonaria da Esperança"; o próximo terá o título "A Maçonaria hoje").

Rui Bandeira

30 outubro 2006

A Maçonaria da Esperança


Desde sempre que o Homem, por razões que a Genética poderá explicar, é impelido a valorizar-se, a aperfeiçoar-se, a procurar o mais e a tentar o melhor.

Depois de procurar a valorização no mundo material, e de ter concluído que por essa via só daria pequenos passos, olhou mais longe, para além dos limites que sentia e imaginou como poderia libertar-se e ganhar novos horizontes. Estruturou religiões, burilou filosofias, amparou-se em crenças. Todas datadas, todas caracterizando melhor as angústias e os desejos dos homens do que apontando soluções e tranquilidades.

Há milhares de anos que assim sucede.

Consciente de que sozinho não poderia ir muito longe, o homem juntou-se a outros homens e procurou, racionalmente, encontrar vias seguras por si escolhidas que o conduzissem para os mundos onde vivem as transcendências.

Uma via foi escolhida por homens que foram somando saberes oriundos de muitas áreas e de muitas paragens. Dos seus primeiros passos nenhuma História reza; podemos só imaginar como foram colocadas as primeiras pedras do Templo que queriam construir. E isto ocorreu, seguramente há muitas centenas – ousam alguns apontar milhares - de anos.

Grande é o espólio ao qual podemos ir buscar datas, factos, conceitos. Mais difícil é separar as pedras que, de facto, foram utilizadas na construção do Templo das que nós imaginamos ou gostaríamos que tivessem sido utilizadas.

Tendo esta via, a que chamamos desde há muito Maçonaria, transitado, como afirmamos hoje, de uma fase operativa para uma fase especulativa, é natural que, no afã de tudo justificarmos, inclusivamente pela via simbólica, entrelacemos as muitas achegas que nos chegam para que o edifício seja cada vez mais sólido e coerente.

Assim, podemos ir buscar raízes - para além das que são procuradas em textos incluídos ou não em livros sagrados – em corporações romanas, em ordens religiosas militares (e aqui julgo que é atribuído um protagonismo excessivo, de quase exclusividade, aos Templários), em associações de classe, como em documentos que vão de um Manuscrito Régio, que terá tido origem no final do século XIV, no Manuscrito Cook, do século seguinte, na “Old Charges” (Antigos Deveres), não falando já noutras, bem mais antigas que podem ser chamadas à colação como éditos de Numa Pompílio ou Sérvio Túlio, etc. etc. Este acervo de conhecimentos foi sendo progressivamente harmonizado e vazado em formas simbolicamente dramatizadas.

Importa porém salientar que esta transição da Maçonaria Operativa para a Maçonaria Especulativa não define uma ruptura entre situações distintas; bem longe disso, já que no primeiro período muito do que se fazia tinha carácter e fundamento especulativo e no segundo também o inverso se verificou e verifica.

Porque só é entendivel o percurso feito se associarmos o gesto laborioso do pedreiro que colocava uma pedra na parede da catedral aos conceitos defendidos pelo catolicismo medieval maçónico e só se justifica a nossa acção actual se os estudos ritualísticos que promovemos se traduzirem em acções que, para além do aperfeiçoamento espiritual, se traduzam em formas concretas de beneficiar cultural e socialmente a humanidade de que fazemos parte.

A especificidade da cultura assim, criada, e permanentemente burilada, com a rigorosa apreciação e introdução de conhecimentos oriundos de paragens diversas e de saberes distintos, originou uma nova forma de intervenção na sociedade, com características que a tornaram uma figura ímpar que não andava com o passo rotineiro e inquestionado das figuras pares.

E é justamente o facto da Maçonaria impelir os seus Obreiros a buscarem o aperfeiçoamento sem terem a ousadia insensata de julgarem que um dia alcançarão a perfeição que os diferencia dos seguidores de certezas monolíticas.

Olhada por uns com grande esperança e por outros com negras suspeições, consoante queriam avançar com destemor na busca da justiça social, do livre conhecimento e da tolerância ou queriam parar, fechando as portas e as janelas com o receio de que novos tempos e novas ideias ameaçassem estatutos, privilégios e velhas construções feitas de toscas ideias.

Essa esperança e essas suspeições, permanecem vivas, ainda que assumam dimensões e expressões diferentes de país para país e até de região para região.

E de outro modo não podia ser, tão específicos são os passados históricos, as culturas, as economias e as formas de olhar o mundo.

E é daqui que temos de partir: somos uma Ordem Iniciática, criada pelos méritos e pelos defeitos dos homens que, independentemente do local onde vivermos e dos meios de que dispusermos, continua a lutar, coerente e persistentemente, pelos princípios que sempre respeitou.

A Maçonaria da esperança cresceu porque trouxe consigo formas de justiça social, independências de jugos ancestrais, e uma forte e pura articulação espiritual com formas culturais que até então estiveram muito dependentes de outras sedes.

É gritante, por exemplo, a profunda transformação sofrida na música onde os grandes temas todos de índole religiosa foram substituídos por grandes temas profanos por influência de compositores maçons. E aqui não resisto a evocar e a sugerir uma ponderada reflexão sobre um texto lapidar que ilustra este contraste e que foi escrito pelo actual Santo Padre, então Cardeal Ratzinger, na sua “Introdução ao Espírito da Liturgia”: “Ouvindo Bach ou Mozart na igreja – ambos nos fazem sentir de um modo magnífico o significado de gloria Dei – glória de Deus: nas suas músicas encontra-se o infinito mistério da beleza, deixando-nos, mais do que em muitas homilias, experimentar a presença de Deus de forma mais viva e genuína – todavia, aqui já se anunciam, perigos, embora o subjectivo e a sua paixão ainda disponham de docilidade (...). Mas as ameaças da virtuosidade e da vaidade do talento já se manifestam; elas já não expõem as suas faculdades ao serviço do todo, querendo elas próprias avançar para o primeiro plano”.

Creio que se todo este texto merece muito atenta leitura, é o final, com uma clara condenação do abrir das asas que suscita maior interesse nesta abordagem que fazemos.

Também durante séculos e em especial na taça que primeiro modelou o Império Romano e depois acolheu o Cristianismo que daí irradiaria para o Mundo, os textos escritos obedeciam aos ditames da religião dominante; só pouco a pouco e com larga influência de maçons – não tão evidente como na música – se alastraram para temas profanos.

Se de mais provas e exemplos precisássemos, iriam buscá-los a paragens como a pintura ou a escultura onde as aberturas verificadas seguiram passos semelhantes.

Isto é: só por teimosia poderíamos insistir em interpretações parcelares, quando todas estas transformações foram de facto só uma. E, se nem sempre foi determinante a intervenção dos maçons, ela esteve sempre presente e, na larga maioria das circunstâncias, com inegável coerência. 

(Excerto do artigo "A actualidade da Maçonaria", da autoria do Mui Respeitável Grão Mestre da Grande Loja Legal de Portugal /GLRP, Alberto Trovão do Rosário, originalmente publicado em "O Aprendiz", Revista da Grande Loja Legal de Portugal / GLRP - Nova Série, Ano 6, n.º 25; este é o primeiro de nove excertos que serão aqui publicados; o próximo terá o título "Tópicos históricos")

Rui Bandeira