O Mestre Maçom perante si próprio
Todo o maçom, desde o primeiro dia que adquiriu essa condição sabe que o seu maior inimigo é aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho. Mas também sabe que a melhor maneira de acabar com o inimigo não é prendê-lo (pode sempre libertar-se...), ou matá-lo (pode dele fazer um mártir ou herói para outros, e assim afinal multiplicar os seus inimigos...). A melhor maneira de acabar com o seu inimigo é fazer dele seu aliado, seu amigo. A amizade tem mais força que a força...
Todo o maçom sabe, desde o dia em que adquiriu essa condição, que dentro de si convive o que potencialmente o destrói, o desvaloriza, o apouca - os seus vícios, os seus defeitos - e o que o engrandece - as suas virtudes e capacidades. Por isso aprende que é crucial cavar masmorras aos seus vícios e cultivar suas virtudes. Só assim aquele que vê quando, de frente, olha para o espelho deixará de ser o inimigo que arrasta para as sombras da depravação para passar a ser efetivamente o aliado amigo que acompanha no caminho para a Luz.
O Mestre Maçom, quando se coloca - o que deve fazer com frequência... - perante si próprio, deve sempre recordar-se que o esforço para ser melhor pode não necessitar de ser muito grande, mas inevitavelmente tem que ser contínuo. Tal como aquele que anda de bicicleta precisa de manter o movimento para não cair, assim aquele que cessa o esforço para melhorar verá degradar-se o que atingiu.
Assim, a palavra que, no meu entendimento, se deve utilizar para ilustrar o que se impõe ao Mestre Maçom perante si próprio é "persistência".
Persistência no contínuo esforço de melhoria. Persistência em aprender e ensinar e em aprender ensinando. Persistência no Estar como meio para o Ser. Persistência em fazer, dia após dia, mês após mês, ano após ano, mais do mesmo, como forma de descobrir, afinal, que o mesmo continuamente se reinventa e, quando damos por ela, já é outro e melhor.
Persistência no trabalho mais importante que existe, o trabalho em si próprio, o trabalho que lhe permite reconhecer-se e ser reconhecido como aquilo de que se apelida, Maçom.
Persistência no lapidar da única obra que, apesar de todas as obras que construa ou que crie, afinal realiza durante o tempo que passa neste plano da existência, a sua verdadeira obra-prima, a sua vida e quem a vive.
Persistência na busca da forma de melhorar o que parece bem mas pode sempre ser um pouco melhor - para descobrir que, após a melhoria, o que é melhor, pode ainda ser melhorado mais um pouco, desde que... persista no trabalho.
Persistência na lapidação da sua Pedra Bruta até conseguir dar-lhe a desejada forma de Pedra Cúbica. Persistência para polir essa Pedra Cúbica, face a face, para bolear bem as arestas, uma a uma, para que essa Pedra Cúbica seja capaz de ser encaixada onde deve, seja sólida para bem assegurar o seu papel, se enquadre harmoniosamente entre as demais, aumentando com o seu brilho o brilho das vizinhas.
Persistência para nunca se sentir satisfeito, para ter a noção de que é sempre possível fazer e ser um pouco melhor e para efetivamente agir para assim fazer e ser - e descobrir que continuar a lapidar uma Pedra Cúbica não a faz mais pequena, paradoxalmente engrandece-a.
Persistência em ser realmente e completamente aquilo que se reclama ser: Mestre Maçom!
Rui Bandeira
3 comentários:
Boas...
O problema residirá naqueles que exigem sempre demais aos outros quando o deveriam fazer e começar por eles próprios.
Pois alguns (infelizmente) quando chegam a um patamar tal, que parece que se esquecem que a caminhada não chegou ao fim, mas antes a um lugar apenas, faltando o resto do caminho por fazer...
E depois temos a "medalhite" crónica que parece que apouquenta outros tantos... pois combater os tais vícios e evitar outros tantos erros tem que se lhe diga, e se é dever de qualquer maçom o fazer, parece que para alguns isso será de somenos importância.
Lamento bastante que tal aconteça, talvez não por culpa dos próprios que talovez não utilizem o tal "espelho" que o Rui fala, mas também por culpa dos outros que estarão à sua volta em não o "trazerem" ou encaminharem de e na forma devida e correta.
O exame do "espelho" é relevante em demasiado para que seja relegado. Se cada um (onde eu também me incluo, fizesse um auto-exame à sua consciência, encontraria sempre alguma falha a corrigir, alguma lacuna a preencher...
Não basta ser maçom, há que agir como tal...
Gostei bastante do texto, aliás se fosse numa rede social, botava "like"...
TAF
NR
Estimado e respeitável NR;
Faz tempo no tempo que não comento, nenhum post e ou comentário, seja de quem for, no entanto depois de ler o seu comentário, não me contive, assim aqui vai:
Será que aquele quem chega a um grau de Mestre, deve ser permanente chamado à razão, quando as arestas da sua pedra se tornam mais vivas, ou será que deve esse mesmo Mestre ter oportunidade de polir essas arestas vivas, que muitas das vezes a agressão das intempéries dos anos e da vida faz com que a aresta polida se avive, usando para isso as ferramentas que aprendeu em tempos a utilizar?
Será que um outro Mestre, ao tomar a medida e força do seu maço e cinzel, na pedra do seu Irmão, não está ele também a não ser capaz de ser verdadeiramente Tolerante e a limitar o direito de liberdade de escolha e opinião do outro?
Estimado NR, estou certo que compreender os outros é e deve ser uma faceta de todos os homens, sejam ou não maçons, mas tendo em conta o que aqui tanto se escreve, tendo em conta os comentários de tantos maçons que aqui se apresentam, não deve ser a tolerância, igualdade, fraternidade, direito à afirmação enquanto homem e homens livres uma exigência de um maçon?
Estimado NR tenho e continuo a ter sempre muitas questões, as quais me levam sempre a questionar todas aquelas situações e ou coisas que e ou com as quais discordo, mas eu na minha faceta profana estou em total liberdade de o fazer, quanto mais não seja pelo direito que um homem livre e de bons costumes, grupo no qual me inclu, têm de questionar os outros e as suas opiniões, sem querer de forma alguma tentar impor qualquer vontade e ou desejo, seu, nas ações dos outros.
Estimado NR li recentemente um livro, minto, 3 livros, cujo o autor intitulou de Caixa para pensar e onde o desafio dele é pensem comigo, atenção o desafio é pensem comigo e não como eu, se calhar as minhas questões são um desafio, aquem assim o entender, também para que pensem comigo.
Bem haja quem pelo bem e de bem está para consigo e para com os que o rodeiam.
Marcos Amaro.
Caro Marcos,
ser Mestre não é o "fim do caminho", pois se o fosse, esse "caminho" seria curto demais.
Aliás é para mim, um "estado", estado esse em permanente mutação e em crescente evolução.
Aliás quando se é exaltado a Mestre, adquirem-se outras responsabilidades que quem é Aprendiz ou Companheiro não têm, tanto pelo grau a que pertencem, tanto pela falta de "maturidade maçónica" (chamemos-lhe assim).
Por isso, aqueles que persistem no "bom" caminho, esses sim serão os exemplos a seguir ou pelo menos com os quais se deve aprender...
Aos outros, apenas lhe incutir o que lhes falta... pois se o que interessa de facto é o aprimoramento moral, que assim seja.
Quanto às tuas questões, são de também minhas, pois constantemente me debato com as mesmas; mas a minha experiência ainda não me trouxe as respostas que eu desejava alcançar...
Abraço
NR
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