10 maio 2018

Integrado na comemoração dos 300 anos da Grande Loja Unida de Inglaterra, a Ilha de Man emitiu um conjunto de selos postais alusivos que merecem ser vistos:



07 maio 2018

Republicação: A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia



Foi há quase dois anos (em 9 de maio de 2016) que este texto foi pela primeira vez publicado no A Partir Pedra. Como, na GLLP/GLRP, estamos de novo em período eleitoral, com o inevitável cortejo de promessas de perfeição, juras de sublimidade, compromissos de primor, acho oportuna a sua republicação aqui e agora.

Aqui vai: 

Mão amiga fez-me chegar o texto do pequeno conto que seguidamente publico. Este texto terá sido encontrado num pequeno e velho cofre que ganhava pó num sótão, dentro de um sobrescrito em cujo exterior estava rabiscado: PARA LER E DAR A LER EM PERÍODOS DE ESCOLHAS.

Na GLLP/ GLRP, entramos em período de eleição do Grão-Mestre para o próximo biénio. É a altura de ler e dar a ler este pequeno conto!

A Queda da Grande Loja da Harmónica Utopia 

A Harmónica Utopia era um lugar - bem, não foi nunca um lugar porque na verdade não existiu... - onde tudo acontecia de forma ideal.

Todos eram amigos, não havia infracções, os meninos e meninas eram todos excelentes alunos, não havia pobreza (nem mesmo a de espirito – bem, desta talvez houvesse...), nem fome, nem opressão, nem …

Tamanha perfeição era também timbre dos maçons da Grande Loja da Harmónica Utopia. Todos tinham já burilado as suas asperezas e imperfeições. Mais um pouco, muito pouco, e seriam todos “Grandes Arquitetos do Universo”!

Esse pouco era mesmo só o prescindir da disciplina (não fazia falta), da Justiça (porque não havia infrações que não se solucionassem com um abraço e uma conversa), da gestão (os anjos podiam fazê-lo em outsourcing), e, como tudo era ideal, não era preciso pagar quotas. 

Decidiu-se passar a assim proceder.

A partir de então, na Grande Loja da Harmónica Utopia, o Grão-Mestre não precisava de poder. Também para que precisaria disso, se os Irmãos eram todos tão cumpridores? Aliás, era sabido que o Grão-Mestre, quando deixasse o cargo, passaria a usar o titulo de Antigo Grande Arquiteto...

Um dia um homem malvado, talvez o único que ainda restasse, conseguiu disseminar a ideia que a Harmónica Utopia era isso mesmo, uma Utopia - e de repente o sonho acabou.

A Grande Loja da Harmónica Utopia também não resistiu e colapsou. O cobrador do fraque apareceu à porta, parece que queria receber. O Grão-Mestre ainda tentou uma conversa e um convencimento e uma solução harmoniosa, mas não foi suficiente! Então alguém com memória lembrou-se da “estória do grande alicate”.

Parece que no passado, quando ainda não se estava no máximo da Harmónica Utopia, o cobrador da electricidade veio cobrar umas contas atrasadas e que lhe contaram que era precisa a assinatura do Grande Tesoureiro e do Grande Secretário e do Grande ….. e que se ele fizesse o favor de passar na semana seguinte já haveria cheque. O homem lá fez isso e quando chegou, uma semana depois, lá lhe foi dito que já havia a assinatura do Grande e do outro Grande mas que o Grande estava no estrangeiro e que talvez na semana seguinte. O dito cobrador terá então retorquido: “não há qualquer problema, vou ali ao carro buscar o Grande Alicate e corto já a electricidade”.

E quando o Grão-Mestre quis saber como estavam a gestão e as contas e as listas de obreiros e os procedimentos, tudo estava entregue aos anjos do outsourcing e estes não tinham responsabilidade pois só trabalhavam com o que lhes era dado - e fazia dois anos que não lhes davam documentos (embora nunca o tivessem reportado e tivessem sempre recebido o seu cheque...).

E assim acabou a Harmónica Utopia e a sua Grande Loja.

 Felizmente que esta fábula não passa de um sonho. Ou será pesadelo?


Como não gosto de me enfeitar com penas de pavão, garanto que este texto não é de minha autoria. Aliás, nem sequer tenho qualquer jeito para a ficção. Mas subscrevo-o na íntegra. 

Prezo muito a Harmonia - mas não pode haver harmonia sem disciplina, sob pena de ocorrer rapidamente a degradação numa anárquica aparência de organização, em que os mais "fortes", ou os mais "espertos", ou os mais "próximos" mandam e põem e dispõem e os restantes... harmonizam!

Prezo muito a Tolerância. Mas Tolerância não implica não haver Justiça e não serem sancionadas as condutas que violem as obrigações assumidas e as normas vigentes. Até por uma questão de Igualdade entre todos: se uns quantos podem infringir diretamente as normas e - em nome de uma alegada "Harmonia" e de uma enviesada "Tolerância" - não verem punidas as suas condutas, por que razão os demais haveriam de cumprir as normas? Nesse caso, cada um faria o que entendesse, quando entendesse, pela forma que entendesse, segundo o seu livre alvedrio e ao arrepio das normas e das decisões de quem foi eleito para as tomar e alegremente se caminharia rumo à Grande Loja da Harmónica e Tolerante... Anarquia.

Invocar como argumentos eleitorais a prevalência da Harmonia sobre a Disciplina e da Tolerância sobre a Justiça não tem sentido. Afinal, uma Grande Loja é uma Obediência Maçónica - não uma Desobediência...

Cada um pensa por si e decide por si. Mas eu, quando vejo certas posições, lembro-me sempre de um excerto de uma velha canção de Lena d´Água (letra e música de Luís Pedro Fonseca):

Demagogia feita à maneira
É como queijo numa ratoeira

P’ra levar a água ao seu moinho
Têm nas mãos uma lata descomunal
Prometem muito pão e vinho
Quando abre a caça eleitoral
Desde que se vêem no poleiro
São atacados de amnésia total

Disse!

Rui Bandeira

16 abril 2018

INQUIRIÇÃO, DESAFIO DE LIBERDADE


A Maçonaria é, por definição, um conjunto de homens “livres e de bons costumes”, que se consideram como tal e se reconhecem como tal, perseguindo os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade.
São conceitos que serviram uma revolução em 1789 em França, mas que são tão antigos quanto o próprio homem. Nem sempre cumpridos... raramente cumpridos… mas existentes !
A condição de Maçon diz que somos “livres e de bons costumes”, ou que nos reconhecemos conjuntamente como Homens “livres e de bons costumes”. Deixo os “bons costumes” de lado, por agora, e foco-me em “ser livre”, e pode-se ser livre dentro das grades de uma prisão e sentir-se acorrentado no cimo de uma montanha com o horizonte por limite.

O “infinito” é um conceito teórico que os matemáticos arranjaram para trabalharem com o Universo que, sendo material, não tem “folha de cálculo” ou “plano de contas” que o suporte. Sem princípio nem fim.
E é por aqui que entendo a liberdade dos Maçons.
Ser livre é a capacidade de olhar e ver o Universo de uma só olhada, é abarcar a globalidade universal de uma só vez, é construir a folha de cálculo onde cabe o Universo. Isso é ser livre !
O Universo não é vermelho ou verde, não é claro ou escuro, não é aqui ou ali.
O Universo é o vermelho e o verde, é o claro e o escuro, é o aqui e o ali.
Ser livre é poder ver numa visão única o vermelho e o verde, o fogo e a água, Israel e a Palestina.
Ser livre é poder olhar e sentir todas as cores, todas as “sem fronteiras”, o Sol e a Lua.
É isso que é ser livre e é isso que deve ser um Maçon. Somos Maçons porque somos livres… porque nos reconhecemos uns aos outros como Homens livres. E por isso, e se não houver mais razões, só por isso, temos de ter… somos obrigados a ter no mesmo olhar todas as cores, todas as fronteiras (todas as sem fronteiras prefiro eu). Porque o Universo não tem fronteiras, não tem princípio nem fim, não tem muros nem limites. Tal qual a Maçonaria !
A Liberdade é um desafio. E pode não ser simples. Sejamos livres. Sejamos livres sempre. Aqui e lá fora. Em Loja e no Mundo. Sejamos livres quando em Loja cumprimos os rituais. Sejamos livres quando na nossa profissão damos duro. Sejamos livres quando vivemos a nossa vida, sós, ou acompanhados. Sejamos livres quando executamos as nossas tarefas, os nossos encargos, mesmo que pouco agradáveis.
E sejamos livres, completamente livres, quando incumbidos da tarefa de apreciar um candidato a Maçon. A Inquirição, é assim que se chama, só tem que saber se “Aquele” é também um Homem livre, ou se é capaz de o vir a ser. Só isso interessa. Se usa mais o vermelho ou o verde… se fala mais árabe ou hebraico… se vota mais azul ou laranja… mas o que é que isso interessa se ele for capaz de com um olhar apenas abarcar o vermelho e o verde, o azul e o laranja, Israel e a Palestina, o Arco-Iris inteiro, o Universo todo ?
Para que queremos nós saber se é coxo ou marreco se de facto for um Homem Livre ?
 Se os candidatos são coxos ou marrecos, altos ou magros, pretos ou brancos… isso interessa para quê ? e a quem ?
Há uns anos, na R:.L:.M:.Affonso Domingues, discorremos sobre o tema e acabamos concluindo que a Inquirição serve para perceber se “Aquele” com quem estamos a conversar pode ser convidado, de bom grado, para nossa casa. É essa a conclusão que há a tirar e é a conclusão que o Maçon inquiridor tem a passar, em relatório, aos Irmãos na Loja. Porque o que estamos a fazer numa Inquirição é exatamente isso, e apenas isso, tentar saber se aquele profano pode ser bem vindo a nossa casa.
Tudo o resto é acessório e muito pouco interessante.

Aos meus Irmãos peço que sejam Livres, de Liberdade plena, capazes de abarcar o Universo todo com um só olhar.
No Universo não há parcelas, nem partidos, nem clubes, nem fronteiras.
Sejam livres ou então… libertem-se.
E se na Inquirição concluírem que não convidam o Candidato para vossa casa só porque é marreco… meus irmãos peçam o atestado de quite porque estão no sítio errado.
Não são nem livres, nem de bons costumes.
JPSetúbal