11 maio 2015

ÉTICA? ÉTICA... ÉTICA!


O tema comum do nosso encontro de hoje é ÉTICA. Mas será que todos temos a mesma noção deste termo? Não arriscarei muito se afirmar que, se fizéssemos um rápido inquérito entre todas e todos os presentes, obteríamos respostas diversas... Acho portanto útil maçar-vos alguns minutos com uma referência ao que os Mestre da filosofia entenderam, ao longo do tempo, sobre o significado de Ética.

Para Sócrates, a Ética consistia no conhecimento, de forma a vislumbrar, através da felicidade, o fim, o objetivo, dos nossos atos. A Ética tinha como propósito preparar o homem para se conhecer a si próprio, uma vez que, precisamente, é o Conhecimento a base do ato ético. Essencial era o Conhecimento da Lei, das normas sociais vigentes, porquanto, para Sócrates, a obediência à Lei era o limite entre a civilização e a barbárie. Em suma, para Sócrates, o Conhecimento que subjazia à Ética não se limitava à mensagem do Oráculo de Delfos, o conhecido aforismo do “Conhece-te a ti mesmo” – ainda hoje um dos pressupostos ideológicos da Maçonaria especulativa -, mas abrangia necessariamente o conhecimento, a obediência e a atuação respeitadora das leis vigentes na Sociedade, condição essencial para a existência e manutenção do corpo social.

Já para Aristóteles, a Ética podia ser definida como uma busca da felicidade dentro do âmbito do ser humano, se o Homem se esforçar a atingir a sua excelência. A Felicidade como objetivo era central no conceito aristotélico de Ética e consistia na realização humana e no sucesso que o Homem pretendia obter, para tal agindo no seu mais alto grau de excelência, através do desenvolvimento das suas qualidades de caráter. Esta noção de aperfeiçoamento, de aprimoramento das nossas caraterísticas, em busca da maior aproximação possível da Perfeição também é cara ao ideário maçónico.

Platão construiu o seu conceito de Ética em torno da finalidade da condução do Homem ao Bem, um dos valores arquetipicamente existentes no mundo ideal, no plano dos Deuses, que os homens apenas podiam aspirar a emular. Em face deste arquétipo do Bem, a vida humana não se poderia resumir apenas à busca do prazer, mas dever-se-ia dedicar a atingir o valor mais alto do Bem. Para tal, era essencial a ideia da Ordem, ou da Justa Proporção, que consistia no equilíbrio de diversos elementos desembocando no mesmo e justo fim. Designadamente, o Bem atingia-se através da atuação na justa medida, do equilíbrio, entre o Prazer e a Inteligência. Tal Bem, evidentemente – falamos do fundador do Idealismo... – não consistia nas coisas materiais, mas em tudo aquilo que permitia o engrandecimento da alma, ou seja, a ética platónica ensinava que acima dos prazeres, riquezas ou honras estava a prática das Virtudes – outro conceito que indubitavelmente integra o cerne do pensamento maçónico. 

Voltando agora a atenção para a Idade Média, verificamos que Santo Agostinho – talvez o melhor exemplo do pensamento dominante em dez séculos de História do Pensamento Ocidental – tinha, não surpreendentemente, uma noção completamente diferente do conceito de Ética. No paradigma agostiniano, a Ética Humana dependia de dois polos: por um lado, Deus, o Supremo Bem; por outro, o Pecado Original, afetando toda a Humanidade. Por via deste, o Homem não era intrinsecamente Bom e necessariamente que seria levado ao Mal e aos vícios da carne, a não ser que lograsse seguir uma vida virtuosa, em Deus. Para Agostinho, a atuação ética pressupunha o domínio da natureza humana, conspurcada pelo Pecado original, mediante uma vida virtuosa, através da qual seria possível aceder à Salvação. Para ele, a verdadeira Felicidade está na esperança da Salvação e, portanto, depende da Vida Eterna. Assim, embora Agostinho partilhasse com Aristóteles a noção da essencialidade da prática das virtudes e do aprimoramento individual, porque para ele Deus é o princípio e o fim de todas as coisas, a Felicidade é inatingível no decorrer da vida humana, só sendo alcançada junto de Deus na Vida Eterna, para tal sendo indispensável a conduta ética, isto é, a vida virtuosa.

Oposto à visão agostiniana da Ética é o conceito que dela teve Nicolau Maquiavel. Refletindo na esfera do Poder, sua obtenção, manutenção e exercício, mas facilmente se extrapolando o seu pensamento para a conduta humana em geral, Maquiavel define como valores essenciais a manutenção da pátria e o bem geral da comunidade, tudo se subordinando a eles, custe o que custar. Assim, uma ação só numa perspetiva histórica pode vir a ser considerada boa ou má, consoante o resultado com ela obtido em prol dos ditos valores essenciais. Esta crua visão facilmente pode ser considerada como anética, pois põe o acento tónico nos fins, nos objetivos, cuja obtenção ou não justificaria ou não a ação realizada. Mas a simples recusa desta noção é, a meu ver, insuficiente. Importa ainda anotar o primeiro aparecimento da prioridade absoluta do coletivo sobre o individual. O indivíduo pode ser sacrificado, sem qualquer limite, em prol do interesse coletivo, considerando Maquiavel ser tal perfeitamente ético... se resultar! Esta noção veio a ser desenvolvida amplamente, designadamente pela corrente materialista, nos séculos XIX e XX e, neste último século, temos visto várias consequências da sua aplicação. Adiante, que a companhia não é das melhores...

Descartes retoma o conceito de que a Ética constitui a realização da Sabedoria, suficiente para a Felicidade, a qual é por ele considerada “a melhor existência que um ser humano pode ter esperança de alcançar”. Para ele, a Ética assenta em dois pilares essenciais: a Virtude e a Felicidade, aquela entendida como uma disposição da vontade para efetuar escolhas de acordo com o juízo da Razão sobre o Bem, esta singelamente entendida como a tranquilidade. A noção cartesiana da ética redunda assim na compatibilização das visões socrática, aristotélica e platónica sobre o tema. O Renascimento na sua mais evidente expressão…  

A obra-prima de Baruch de Spinoza tem para nós, maçons, o sugestivo título de A Ética demonstrada à maneira dos geómetras. Está dividida em cinco partes, nas quais trata sucessivamente do Ser, do Homem, dos Afetos, da Servidão humana e da Liberdade. Para Spinoza, a razão e os afetos não se opõem. A própria razão é um afeto, um desejo de encontrar ou criar as oportunidades de alegria na vida e evitar ou terminar as circunstâncias causadoras de tristeza. Em suma, a Razão é ela mesma um afeto tendente à Felicidade. A ética de Spinoza é a ética da alegria, só ela nos conduz ao amor e à felicidade. Para ele, a Ética não resulta do altruísmo, bondade ou solidariedade, mas da própria condição natural. Está mais próximo dos clássicos gregos do que de Santo Agostinho. Tal como aqueles, para Spinoza a Felicidade é o objetivo último da ação humana.  

Locke acreditava que a Ética tem que ser demonstrada racionalmente, pois nenhuma regra de conduta moral é válida se a sua necessidade não for fundamentada através da Razão. Para ele, os principais fundamentos (racionais, obviamente) das regras morais são a busca da Felicidade e o propósito de evitar a deterioração da Sociedade.

A propósito de Razão, o teórico da Razão Pura, Immanuel Kant, relativamente ao conceito de Ética não estabelece nenhum bem ou fim que tenha de ser alcançado e não se pronuncia sobre o que temos de fazer, apenas sobre como devemos atuar. Para ele, o que importa é a intenção, a coerência entre a Lei e a ação, não o fim. Situa-se claramente nos antípodas do florentino Maquiavel. Se alguma aproximação lhe detetamos é ao pensamento de Sócrates.

Nietsche rejeita uma visão moralista do mundo e atribui os valores éticos ao campo das emoções, não da Razão. Para ele, o Homem Ético é aquele que não reprime os seus instintos, desejos e emoções, concretizando-os em atos libertários. Dificilmente se poderia conceber um conceito mais individualista do que este!   

Habermas considera que a Ética depende da valorização da Diferença e da Liberdade Humana, impondo que a Diferença seja equiparada à normalidade. A Ética projeta-se em valores como a Vida, a Solidariedade, a Cooperação, a Amizade. 

Finalizo esta excursão por vários Mestres da filosofia com a referência a Peter Singer, filósofo australiano da Ética Prática. Para Singer, em termos de aplicação prática, Ética e Moral são sinónimos e enfaticamente ele chama a atenção para algo de que pudemos aperceber-nos ao longo do enunciado de pensamentos com que os venho maçando: a Ética NÃO É um conjunto de proibições. Como ele cristalinamente ilustra, mentir em circunstâncias normais é um mal – mas no caso de uma pessoa vivendo na Alemanha nazi a quem a Gestapo batesse à porta à procura de judeus, mentir negando a existência de judeus escondidos nas águas-furtadas da casa era o eticamente adequado...

Para Singer, Ética é uma perspetiva que concede à Razão um papel importante nas decisões e os juízos éticos devem ser formulados de um ponto de vista universal, isto é, os interesses individuais ou de grupo não valem mais do que os outros interesses de outros indivíduos ou de outros grupos. O juízo ético é aquele que procura, em relação a cada problema, determinar a solução ou a conduta que possibilite o maior bem, entendido como a maior e melhor satisfação das necessidades possível – ou seja, a maior Felicidade!

Feita esta resenha do pensamento de vários Mestres, verificamos que, na diversidade dos seus pensamentos, podemos detetar uma linha comum, talvez um pouco surpreendente: a Ética tem essencialmente a ver com a busca e o anseio humanos pela Felicidade! As normas, as imposições ou proibições de condutas que normalmente associamos à Ética não são o cerne do conceito, mas as condições para a viabilização dessa busca humana da Felicidade.

Entendemos assim facilmente porque há em diferentes épocas e latitudes tão diferentes conceitos de Ética: porque as condições de vida e de enquadramento social de cada época e latitude tornaram diferentes as formas de busca e de tentativa de concretização do humano anseio pela Felicidade.

Sendo assim, compreende-se que é normal a primeira afirmação que hoje fiz: cada um dos presentes terá uma diferente noção de Ética porque, embora de forma porventura subtil, a Felicidade que cada um busca é diferente da dos demais, é própria, pessoal e intransmissível.

Mas, sendo assim, que denominador comum poderei eu sugerir hoje, aqui e agora, sobre Ética, de forma que seja aceitável para os apressados espíritos de hoje, inundados de informação tão abundante que nem sequer logramos, por vezes, sobre ela incidir um juízo verdadeiramente crítico? 

Sem grande preocupação de rigor científico – por evidente e confessada falta de capacidade para tal -, mas procurando ilustrar o conceito de uma forma sugestiva, gostaria de vos propor um entendimento de Ética que julgo ser uma noção completa, isto é, com princípios, meios e fins: 

ÉTICA É O CONJUNTO DE PRINCÍPIOS QUE NORTEIAM A DETERMINAÇÃO E UTILIZAÇÃO DOS MEIOS À NOSSA DISPOSIÇÃO PARA ATINGIRMOS OS FINS A QUE NOS PROPOMOS. 

Atenção que Ética não é uma declaração de princípios. Ética é a utilização dos princípios por cada um adotados. Um solene conjunto de princípios, por muito bonitos ou consensuais que sejam, que serve apenas para eles serem invocados, declarados, apregoados, mas que na realidade não são utilizados, é como a coleção de porcelanas da minha tia-avó: só serve para estar exposta na sala e ser exibida às visitas! Não passa de bacoca manifestação de vaidade e fútil exibição de pretensas preciosidades, alegadamente valiosas, mas realmente inúteis! Em nada e para nada releva ou interessa apregoar ou invocar ou proclamar solenes princípios se estes não passarem de palavras soltas em ocasiões julgadas oportunas e não forem efetivamente praticados.

A Ética não está nos princípios declarados, está nos princípios praticados. Não está nas palavras, está nos atos. Não está nos consensos formados, está nas cooperações levadas a cabo. Não está nas intenções, está nas concretizações. Não está nas justificações, está nas consequências. Não está dentro de cada um de nós, está no que cada um de nós projeta para o exterior de si.

A Ética não é um conceito estático, é uma aplicação dinâmica. O Homem não É ético.  O Homem sempre, em cada momento, renova-se e FAZ-SE Ético, em cada decisão, em cada escolha, em cada ato.

Só temos verdadeiramente Valores, ou seja, Princípios, se os utilizamos SEMPRE para conformarmos os nossos atos na concretização dos nossos objetivos (e sempre é sempre: quando nos convém e principalmente quando não nos convém).

PRINCÍPIOS que determinam os nossos MEIOS para atingirmos os nossos FINS – esta a noção de Ética que considero adequada para todos. 

E esta noção de Ética, bem vistas as coisas, não é limitadora, é construtora. Construtora da nossa personalidade e da nossa conduta. Construtora da nossa imagem de nós perante nós próprios. Construtora do conceito que granjeamos dos outros em relação a nós. Construtora do que somos, do que fazemos, do que conseguimos. Construtora do sentido das nossas vidas. Construtora das nossas vitórias, mas também construtora da superação dos nossos desaires. Construtora da nossa Vida, do nosso lugar na Vida e da nossa legítima fruição da Vida. Construtora, em suma, da nossa FELICIDADE.

Afinal os Mestres tinham razão! Por isso os reconhecemos como tal!


Rui Bandeira
9/5/2015
Colóquio da GLFP A Maçonaria no século XXI
Painel Desafios éticos no Mundo atual


Bibliografia:

https://jfariaadvogados.wordpress.com/2010/01/27/a-etica-de-socrates/, consultado em 8/4/2015.
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-em-aristoteles/23318/ , consultado em 8/4/2015.
http://www.webartigos.com/artigos/a-etica-platonica-e-aristotelica/87414/ , consultado em 8/4/2015.
https://sentadonalua.wordpress.com/2012/07/12/a-etica-de-santo-agostinho-frente-a-etica-aristotelica/, consultado em 11/4/2015.
http://descartesfilosofia.blogspot.pt/p/etica.html, consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Maquiavel , consultado em 11/420/15.
http://www.filosofia.com.br/historia_show.php?id=79 , consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica_%28livro%29 , consultado em 11/4/2015.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Baruch_Espinoza , consultado em 11/4/2015.
http://www.eses.pt/usr/ramiro/docs/etica_pedagogia/A%20%C3%89TICA%20DEESPINOSA.pdf , consultado em 11/4/2015.
http://www.efdeportes.com/efd129/a-etica-revisitada-olhares-atraves-da-historia.htm , consultado em 11/4/15
http://afilosofiadaintegracao.blogspot.pt/2009/03/etica-de-kant.html , consultado em 11/4/2015. 
Peter Singer, Ética Prática, consultada em 11/4/2015, em http://docente.ifrn.edu.br/edneysilva/etica-pratica 

04 maio 2015

1º de Maio, Dia do Trabalhador ( e do maçom, digo eu!)...


Depois de ter publicado no texto anterior uma reflexão sobre o 25 de Abril, hoje venho publicar outro texto mas desta vez motivado pelo “1º de Maio”.

O que poderá  aparentar que transformei este espaço de liberdade com politiquices e afins… Mas nada de mais errado!

Quem não leu o texto anterior e apenas viu as letras do título poderia supor tal, aceito isso. 
Mas quem leu o texto anterior na integra e se for ler este texto também, no final constatará que “politiquismos” não existem, mesmo que a Política seja um conceito necessário para a vida das civilizações e seu progresso.

Mas o que me importa abordar neste texto é o contexto de trabalho que se pode assacar da celebração do feriado do “ 1º de Maio”.

Festeja-se esse dia por este mundo fora para celebrar o Dia do Trabalhador, logo de todos nós.

Mas num sentido mais estrito da palavra “trabalhador”,  também aqui os maçons podem considerar esse dia com um dia seuE passo a explicar.

O maçom considera-se alguém que labora o seu interior – o seu íntimo – para o bem da sociedade em geral. Logo utiliza geralmente como metáfora ou alegoria do seu trabalho pessoal a construção de um templo em si mesmo, lapidando e burilando a “pedra bruta” que é ele próprio.
 E este trabalho não é nada fácil por sinal. 

Posso até afirmar que para algumas pessoas é uma tarefa bastante árdua e com algum sacrifício pelo meio.
Moldarmos o nosso carácter, a nosso postura, o nosso comportamento e os nosso pontos de vista habituais, que geralmente apenas estão visados para nós próprios e raramente para os outros, é bastante difícil. Talvez seja uma tarefa tão hercúlea como a construção das pirâmides do Egipto ou a Grande Muralha da China… 
Pois nunca foi fácil para ninguém perceber que poderá estar errado em relação a algo ou que tem se “mudar” a si próprio se quiser evoluir como ser pensante.

Evoluir nunca foi fácil para o Homem, logo ele teve de trabalhar para isso suceder.

Instruíu-se, educou-se, formou-se, fez múltiplas coisas para que lhe fosse possível alcançar o que hoje em dia tem e experencia. Mas neste conjunto de ações que fez, algo é aceitável por todos, o Homem “trabalhou”; umas vezes com maior proveito outras vezes nem tanto, mas aprendeu com isso e soube ultrapassar esses momentos que aconteceram pelo meio. 
O Homem unicamente pelo seu trabalho, prosperou…

- E é isso que deve ser também festejado num dia como este.-

E o maçom sendo ele também um trabalhador no mundo profano e principalmente no meio maçónico, deve ele sentir também a homenagem em causa efetuada neste dia, nesta celebração.

No interior das suas Respeitáveis Lojas, os maçons trabalham nas suas Pranchas, trazendo alguma "luz" aos seus irmãos, debatem as suas ideias e aprendem  - neste caso, reitera - um conjunto de princípios que deverão empregar no mundo profano, por forma a que possam ser  válidos cidadãos no local onde vivam ou para o país que os acolham.

Pode a generalidade da população desconhecer o trabalho maçónico que se faz em prol da sociedade, mas o maçom não o descura porque o conhece e sabe que muitas vezes o que foi conquistado pela sociedade deve-se ou deveu-se ao trabalho dos seus irmãos. E por isso mesmo compete ao maçom preservar esse trabalho feito e se possível levá-lo a uma fasquia superior, caso tenha condições para isso.

Pode a sociedade (dependendo dos países em questão) não conhecer o que fazemos, mas temos de o continuar a fazer, nem que seja por nós próprios e pelos outros que pensam e vivem tal como nós…

O que nos espera será sempre: trabalhar, trabalhar e trabalhar…


PS: Texto escrito ao fim da tarde do “primeiro de Maio” e publicado hoje por opção editorial minha.

27 abril 2015

25 de Abril... uma singela reflexão


Comemora-se hoje mais um feriado referente ao 25 de Abril. 

Como todos bem sabemos, este feriado celebra o fim da ditadura do Estado Novo, época durante a qual as liberdades e direitos da maioria do povo se encontravam cerceados.

O 25 de Abril, ou a revolução efetuada nesse dia e mais tarde conhecida com o sugestivo epíteto de “revolução dos cravos”, independentemente de muitos concordarem ou não com os seus fins programáticos, numa coisa todos terão de concordar, trouxe alguma da liberdade de expressão que antes não existiria. 

Liberdade de expressão esta que me permite neste momento estar a debitar estas singelas linhas,” liberdade de expressão” que me autoriza a que eu o possa assim fazer apenas por me apetecer tal.

Para além disso, consignou o “direito à livre reunião entre pessoas”, direito esse eu que orgulhosamente usufruo na sua plenitude. Permitindo-me estar com quem eu quero quando o assim desejo ou posso.

Trouxe também o “direito à livre circulação”, que a todos dará muito jeito. Qualquer pessoa pode circular por onde quiser e principalmente às horas que desejar.

Com estes não tão singelos direitos outorgados pela “revolução dos cravos”, que não são tão simples assim como poderão aparentar pela forma de como os descrevi, é permitido  que a Maçonaria possa subsistir -  e perseverar, digo eu! – nos dias que correm.

Se tal “revolução” não tivesse acontecido, nem maçons nem o povo na sua generalidade poderiam vivenciar tais direitos, mas saberiam pelo menos dar-lhe o valor que os mesmos teriam, porque simplesmente não os poderiam experienciar. E como quase tudo na vida, normalmente só damos valor a algo quando tal é inalcançável ou que se o tenha perdido. Singularidades da vida, é o que me apraz dizer...

Hoje em dia e passados já mais de quatro décadas desta revolução começa a por-se em questão esta dita revolução, seja pelo espaço temporal a que aconteceu seja porque uma grande parte da população já ter nascido depois desta insurreição e não ter “sentido na pele” o estado retrógrado em que se vivia então, no sentido de que estas ditas “liberdades” serão mesmo liberdades ou garantias básicas para a evolução da sociedade ou meramente algo que se pode prescindir em detrimento de outra coisa qualquer e a qualquer custo também...

O povo ou os seus “mandatários”, libertaram-se de um sistema anti-democrático para se submeterem a um jugo financeiro atual, tal a dependência que temos dos sistemas bancários e instituições económico-financeiras. Poderes estes não controlados pela “força do voto”. - O que se pode tornar perigoso a curto e médio prazo para as "liberdades" da generalidade -.

Naturalmente que nos primeiros tempos em “liberdade” muitas coisas erradas aconteceram fruto da inebriação coletiva do recente fim da ditadura. Aconteceram coisas positivas outras nem tanto, mas foram essas coisas que nos trouxeram até aqui e que nos desenvolveram a nossa identidade atual.

O que somos atualmente?

Passámos de uma sociedade em que a grande parte dos seus cidadãos viveria com salários pequenos e condições de trabalho limitadas para uma sociedade contemporânea consumista e excessivamente materialista e capitalista.

Quantos de nós, principalmente os da minha geração (que nasceram entre 1975 e 1990) souberam dar valor ou reconhecer algum mérito à liberdade que temos e que usufruímos?!

Alguns com certeza. Outros falarão de liberdade apenas como um neologismo criado pelos tempos vigentes, pois nunca – felizmente!- sentiram ou partilharam dos sentimentos que os seus pais ou avós partilhavam.

E falei da minha geração porquê?

Porque neste momento também já não são somente filhos de uma revolução, mas sim pais e alguns até mesmo avós, e caberá a esta geração transmitir estes valores e ideais de Liberdade às gerações atuais. 
Primeiro porque as faixas etárias estão muito próximas, depois porque falam uma “linguagem” muito semelhante, e finalmente numa boa parte dos casos, serão os ídolos destas gerações, logo gente que é escutada e observada no seu quotidiano. Logo mais facilmente sob escrutínio das gerações atuais.

É que apesar de a Liberdade ser um conceito demasiado amplo, o mesmo não pode ser vago. Quando se fala em liberdade, convém explicitar depois qual liberdade a que nos referimos, uma vez que a nossa liberdade termina quando começa a do nosso semelhante, e se duas “liberdades” colidirem entre si, obviamente que não haverá qualquer liberdade; existirá sim, a liberdade de um prevalecendo sobre a do próximo, e isso em última instância não é sequer Liberdade mas outra coisa qualquer…indigna de lhe ser outorgado esse nome.

Hoje, 25 de Abril de 2015, num ano de eleições legislativas, num ano em que a maioria dos cidadãos portugueses terá na sua mão o seu destino e o destino dos próximos anos, convirá que todos façam a sua reflexão, que meçam os prós e os contras, que metam na “balança” as suas ideias, os seus desígnios, e se preparem para o “grande dia”. 
Já não falta tanto tempo assim…

É que se alguma liberdade esta revolução nos trouxe foi a liberdade de decisão e de opção pela agremiação política que melhor poderá nos representar a nós próprios bem como decidir o destino das nossas vidas e dos nossos concidadãos.

Agora o que importará  é que todos exerçamos esse direito, essa regalia que nos foi concedida, porque depois e porque vivemos num sistema democrático, teremos de nos submeter à decisão do coletivo do eleitorado.

Por ora, que saibamos viver em liberdade e que saibamos partilhar essa liberdade com o nosso semelhante.

25 de Abril, Sempre!!!



PS: Este texto foi escrito este sábado, dia 25 de Abril, e apenas publicado hoje por opção editorial minha.

20 abril 2015

Relacionamento “inter-frates”

O texto que hoje publico é motivado por um agradável convívio entre pessoas que observam os mesmos princípios e costumes de vida em que tive o prazer de participar e para o qual fui amavelmente convidado. Aliás, pelas presenças neste encontro quase que me apraz dizer que se tratou de um “almoço de família”…

Fica assim desta forma aqui explicitado publicamente o meu agradecimento a quem organizou tal refeição.

Posto isto, vou "aflorar" um pouco acerca do relacionamento maçónico entre irmãos.

Noutra ocasião – noutro texto – já tive  a oportunidade de abordar o relacionamento entre maçons e suas famílias particulares, por isso venho agora focar-me noutro ponto deste mesmo tipo de relacionamento.
Os maçons consideram-se irmãos entre si, logo dessa forma, como partes integrantes de uma “grande família”, que também é assumidamente universal.

É habitual após a realização das reuniões/sessões maçónicas existir uma refeição – ágape – entre quem esteve presente durante a realização dessas reuniões/sessões onde habitualmente se convive e se tratam assuntos que nada (em geral) tenham a haver com os assuntos tratados em maçonaria. Os irmãos conversam, debatem, abordam temas variados sem ter a preocupação ou a obrigação de cumprir com os preceitos que são obrigados a respeitar no interior da sua Respeitável Loja.

Também é habitual que membros de uma mesma Obediência visitem outras Respeitáveis Lojas filiadas nessa mesma Obediência e assim conhecerem outros irmãos e poderem conviver com eles, mas principalmente também conhecer os trabalhos realizados por essas Respeitáveis Lojas, algo que é fulcral para a aprendizagem e caminhada maçónica que o maçom se propõe a fazer.

Quanto a visitas a outras Obediências, o mesmo já dependerá do reconhecimento que exista entre elas. Estando vetada a visita de membros de Respeitáveis Lojas que não sejam reconhecidas pela sua Obediência de origem,  e o mesmo reciprocamente. Sendo que se tal proibição não for observada, esse comportamento poderá ser passível disciplinarmente mediante o regulamento que exista em vigor na Obediência em questão.

Mas apesar do que afirmei nos dois parágrafos anteriores, isso somente se aplica de forma ritualista. Uma vez que nada proíbe ou impede o convívio entre pessoas fora do “mundo da Maçonaria”. Fora das Respeitáveis Lojas é habitual irmãos da mesma Obediência ou de Obediências “diferentes” se cruzarem e manterem relações de amizade ou cordiais entre si.

Algo que eu considero que seja até “saudável” que aconteça, porque muitos até são colegas académicos ou de trabalho, vizinhos e/ou até mesmo familiares na sua vida profana, e como tal não haveria outra forma de ser. Teriam sempre de se relacionar entre si. - Não há volta a dar -.
Assim e como o Homem é um “animal social” logo faria todo o sentido que pessoas que vivem mediante determinados princípios se relacionassem entre si no “mundo profano”. 
Não será nada de estranho nem é algo que possa ser considerado como anormal ou bizarro sequer!

Aliás é mesmo habitual serem organizados “eventos brancos” – eventos abertos a profanos – onde os intervenientes são membros das mais variadas organizações maçónicas que existem bem como outras pessoas que nada têm a haver com a Maçonaria na sua generalidade e que se calhar também nunca terão alguma ligação a ela. 
Numa larga maioria das vezes, quem frequenta este tipo de eventos é gente que apenas gosta do tema "Maçonaria" e que o estuda, investiga, mas que depois não se interessa por dar o respetivo "passo".

Normalmente este tipo de eventos são debates, tertúlias ou simpósios onde habitualmente a Maçonaria é o tema principal, mas onde pode qualquer outro tema ser abordado ou designado como foco ou temática a ser abordada. 

Na prática o que é de interesse é o salutar debate e trocas de ideias pelas partes presentes nesses encontros, para além do convívio e o relacionamento fraternal que possa decorrer entre maçons, demonstrando dessa maneira que na realidade “existe algo mais que nos aproxima do que aquilo que nos separa ”.

Estes convívios que por vezes ocorrem, permitem também a existência de um diálogo aberto e franco sem quaisquer preconceitos que possam existir entre pessoas com origens diferentes.

- É através do debate de diferentes pontos de vista e de determinados conceitos que possam ser divergentes, que a evolução na e da Maçonaria pode ser concretizada bem como o progresso da sociedade em geral -.

No entanto, não é obrigatório que tal aconteça a curto trecho nem a médio prazo sequer, ou se alguma vez tal sucederá.

O que importa reter é que os princípios que todos dizem subscrever se tornem os pontos fulcrais da forma de viver de cada um, seja na sua vida profana, seja na sua vida maçónica.  

E se caminharem todos lado a lado, tanto melhor… a Sociedade só terá a ganhar.

13 abril 2015

Introdução a uma merecida exceção



(O texto que se segue foi proferido em sessão da Loja Mestre Affonso Domingues. Creio que fala por si. Quanto à identidade do homenageado, nós, os seus Irmãos, conhecemo-la - e isso basta, para ele e para nós...)


Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,
Respeitáveis Grande Oficiais,
Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia,
Venerável Mestre,
Meus Irmãos, em todos os vossos graus e qualidades,

A Loja Mestre Affonso Domingues vai fazer algo que nunca fez em vinte e cinco anos, algo que, precisamente para conferir valor e significado ao que vai ocorrer, tenciona que, nos próximos vinte e cinco anos, em muito raras e escolhidas ocasiões, se é que em alguma, volte a fazer: homenagear um dos nossos!

Fazemo-lo pela primeira vez em vinte e cinco anos, e tencionamos muito parcamente voltar a fazê-lo nos próximos vinte e cinco anos, não porque tenhamos algum problema em relação a homenagens, mas simplesmente porque na cultura, na matriz, da nossa Loja está profundamente impresso que aqui cada um de nós está para procurar ser melhor, para buscar fazer melhor, com o auxílio dos seus Irmãos e auxiliando os seus Irmãos a igualmente todos os dias melhorarem mais um pouco. Nesta Loja, desde sempre que os mais antigos instilam nos mais novos a noção de que o simplesmente bom não chega, sendo corrente, mesmo até rotineiro, que trabalhos dos nossos obreiros sejam áspera e por vezes impiedosamente criticados... porque são apenas bons! 

Nesta Loja, o mínimo que exigimos de nós próprios é ser melhores, porque, no nosso padrão, o Ótimo não é nunca o objetivo final, é apenas um necessário degrau para se atingir a Excelência, aquele patamar em que por vezes - ainda que sempre fora do alcance da nossa mão, por mais que estiquemos o braço - se consegue vislumbrar a humanamente inatingível Perfeição. 

Porque esta é a nossa cultura, a nossa matriz, não somos muito dados a homenagens aos nossos, porque aqui ser melhor do que bom é um simples cumprimento do dever, sem direito a especial menção, ser ótimo é um ponto de passagem que confere apenas direito a um breve e discreto louvor, atingir a Excelência é o objetivo.

No entanto, hoje, aqui e agora a Loja entendeu ser imperativo da justiça prestar fraterna homenagem a um dos nossos, porque lhe reconhece a Excelência. Excelência enquanto cidadão, homem de família, profissional e maçom. Aquele que hoje gostosamente vamos homenagear é um maçom que é muitíssimo mais que um homem bom,  muito mais do que um homem que se tornou melhor – afinal de contas, não fazendo mais do que a sua obrigação ao estar entre nós - é bem mais do que um ótimo homem e maçom.  Aquele que hoje vamos homenagear pertence ao muito restrito número daqueles que se impõe que reconheçamos como um Excelente homem e Excelente maçom, alguém que faz com que cada um de nós pense, de si para consigo, que “quando eu for grande gostava de ser como ele”.

Todos nós, os que aqui estamos reunidos, buscamos entender o sentido da vida e procuramos que a nossa vida tenha significado. Sobre o sentido da vida, cada um saberá a que conclusões chegou. Sobre o significado da vida do Irmão que hoje está no centro das nossas atenções, a homenagem que agora se inicia pretende precisamente assegurar-lhe que a sua vida, o seu caráter, a sua postura, a sua fraternidade, a sua disponibilidade, representaram e representam um profundo significado para todos e cada um de nós, que é apenas justo hoje demonstrar-lhe.

Quis – e bem – toda a Loja envolver-se neste reconhecimento ao nosso Irmão. Assim, seguidamente serão apresentadas três pranchas dedicadas a ele, à sua figura, à sua ação, ao que ele representa para todos nós, uma apresentada em representação da Coluna dos Aprendizes, uma outra em nome da Coluna dos Companheiros, a terceira pronunciada por mandato dos demais Mestres da Loja. Seguir-se-á ainda uma pequena e despretensiosa surpresa que esperamos agrade ao nosso Irmão e, naturalmente, no que toca à Loja, a voz de quem toda a Loja representa, a do Venerável Mestre. 

Muito Respeitável Vice Grão-Mestre,
Respeitáveis Grande Oficiais,
Venerável Mestre da Respeitável Loja Lusitânia
Venerável Mestre,
Meus Irmão, em todos os vossos graus e qualidades,

É com um enorme sentido de privilégio e de honra que declaro aberta a merecida homenagem ao nosso muito prezado Irmão ...

Rui Bandeira

06 abril 2015

"Páscoas"...


Depois de findo este tempo de “passagem” pela Páscoa, não importando tanto qual, se a Pessach, a Páscoa Cristã ou inclusive a “Páscoa” pagã, o que me importa reter é a reflexão que nos pode ser proporcionada pela vivência desta dita quadra festiva.

Tanto judeus como cristãos e pagãos celebraram por estes dias, algo que nas suas praxis  religiosas convida à partilha.

 Nos povos judaicos e cristãos é hábito as famílias se juntarem à mesa e repartir o pão – a “comida”- numa ceia que para cada um destes povos tem um significado especial. 

Os judeus partilhando o pão ázimo é lhes relembrado não só o tempo de exílio pelo deserto do Sinai após a sua “fuga” do Egipto, mas principalmente e também,  a passagem do anjo que “condenou” os primogénitos egípcios, após a “maldição divina”.

Por sua vez, os povos que baseiam a sua religião no Cristianismo, habitualmente na quinta-feira de Endoenças (mais vulgarmente conhecida por quinta-feira santa), também costumam partilhar uma refeição que tem origem na Eucarístia Crística, quando Jesus, o Cristo, partilhou a sua última refeição com os seus apóstolos.

- Até mesmo na Maçonaria em determinado grau, nesta mesma data, é usual existir uma refeição eucarística baseada nesta mesma “refeição”  e também na ceia mitraica, o que torna esta refeição em algo de especial e muito diferente do usual ágape fraternal que se costuma efetuar após as reuniões maçónicas-.

Já da celebração feita pelos povos ditos pagãos encontramos nos dias de hoje algumas reminiscências de outras épocas em que se celebrava a Ostara. Festividade esta, em que para além de se celebrar o Equinócio da Primavera, se festejava também a fertilidade e o "renascimento" da natureza. E desses cultos pagãos, encontramos não a partilha  de pão, mas sim de ovos. 
Hoje em dia é costume em quase todos os “países ocidentalizados” serem ofertados ovos, mas principalmente serem oferecidos ovos de chocolate, estes últimos mais ao gosto das crianças.

-No nosso país, é também habitual  nesta altura do ano se oferecer o conhecido " folar pascal", uma espécie de bolo que contém no seu interior ovos cozidos-.

No fundo e de forma transversal a estas religiões, encontramos nesta quadra uma ideia generalizada de partilha, da dádiva de algo.

O que poderia se supor que existisse apenas na celebração do Natal cristão ou nas festividades do Dia dos Reis (festas de tradição cristã), tornando essa quadra festiva  um pouco mais comercial do que deveria o ser, viemos encontrar um paralelismo interessante entre estas religiões no que toca à partilha de alguma coisa nesta época em que vivemos.

Neste caso em concreto e  que no fundo motivou a escrita deste texto, existe a partilha de algo substancial ao ser humano, algo que é a base da sua vida, a Alimentação.

Queiramos nós todos também nas nossas vidas, nas nossas práticas, sejam elas religiosas ou de cariz mais profano, partilhar também algo de  importante ou que seja considerado como tal, com quem mais o necessite, tendo sempre em mente que a vida não é apenas "vida" em determinadas épocas ou quadras festivas, mas que o é durante o decorrer de todo o ano. Não esperemos nós pelas "Páscoas" da nossa vida para fazer e partilhar o Bem...

Esta foi a reflexão que esta Páscoa me deixou e que muito abertamente partilhei com todos Vocês…

30 março 2015

Sessão de Equinócio da Primavera da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP…


Por altura do Equinócio da Primavera, e também celebrando este como o é habitual, reuniu em Assembleia Magna a Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, num local a coberto da indiscrição de profanos.

Estiveram presentes bastantes Irmãos provenientes de várias Respeitáveis Lojas e de várias localidades do nosso país, do Norte ao Sul, do Oriente ao Ocidente , como gostamos de dizer em maçonês.

Nesta digníssima Sessão Maçónica tratou-se do que havia de se tratar e falou-se do que se deveria falar, ou não fosse ela uma sessão mais administrativa...

Mais uma vez, a Respeitável Loja Mestre Affonso Domingues nº5  esteve presente com uma parte do seu quadro de Oficiais de Loja bem como com elementos do seu quadro de obreiros que integram o corpo do Grão-Mestrado.

De salientar ainda o contributo que esta mesma Respeitável Loja deu em relação à Regulamentação da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, no âmbito da elaboração de uma proposta de determinado documento, demonstrando que não só se encontra à Ordem bem como ficou patente que trabalha a bem da mesma  na sua generalidade…

Finalizando,  algo que se pôde constatar das conclusões retiradas desta Assembleia Geral é de que a Maçonaria Regular portuguesa se encontra em franco crescimento e que se encontra de “boa saúde”… 
E que é assim que ela deve permanecer, acrescento eu!

23 março 2015

Mensagem do Grão-Mestre da GLLP/GLRP no Dia do Maçom 2015


O dia do Maçom decalca a sua celebração sobre a data de nascimento de George Washington, primeiro presidente dos EUA e I.: Maçom.

E quando penso em George Washington e outros Grandes da nossa espécie, ponho-me a cogitar sobre uma escala adjetival que ordene o valor dos Homens, todos os homens: os de bons costumes e os restantes. Frequentemente desenha-se-me a seguinte proposta: humanóides; homens; homens inteligentes; homens sábios; homens génios; homens profetas. E a riqueza ou a pobreza não contam para a minha escala. Quando digo inteligentes, não me restrinjo apenas aos aspetos enquadrados pela ciência, ou pelas artes, mas incluo antes os latos universos do cognitivo e do afetivo; quando digo sábio, não me restrinjo apenas ao saber livresco, mas antes alargo a todos os saberes e artes que emanam da vida e a sublimam; quando digo génios, não me refiro apenas a figuras que a história consagrou, mas também a muitos outros que viveram uma relação de humildade tal com a história que esta os esqueceu e ignorou e nem da lei da morte os deixou libertar; quando digo profetas, não me refiro apenas aos escolhidos e enviados, aos ditos profetas clássicos, tal Cristo ou Maomé, mas também a outros, que nascem no seio da humanidade apenas cada quinhentos, mil ou dois mil anos, e que concretizam profecias fantásticas e absolutas: para um país, para uma ciência, para um desporto, para uma arte, para a bondade e cidadania dos homens...

E penso nestas coisas que parecem tontices, porque também gosto de pensar nas centenas de grandes maçons com que gosto de encher a boca, professando o seu nome a rogo de exemplo, que fez com que a humanidade progredisse e ficasse melhor, e que tanto orgulham a Maçonaria Universal e a nossa Augusta Ordem. E a ditadura dos números não me deixa esquecer aquele número, grande, de homens que foram, ou são, maçons e que nunca souberam honrar, nem a humanidade, nem a maçonaria. E digo isto porque é verdade meus II.:. É verdade, porque não basta pertencer à Maçonaria, para ser-se Maçom: é sobretudo preciso que pratiquemos e incorporemos os Valores que a Maçonaria professa e defende há tantas centenas de anos. E quando defendemos e praticamos os Valores, não deixamos espaços vazios para desvarios e extremismos loucos que enchem todos os dias jornais e televisões.

E celebrar o dia do Maçom também deve ser isso: celebrar o dia do Homem, que pode até nem sequer ser inteligente, nem sábio, nem génio, nem profeta, mas é Homem de Valores, porque incorporou e pratica todos os dias os valores pelos quais a Maçonaria sempre lutou, e que fizeram com que a humanidade pulasse e avançasse no sentido certo: tudo o resto é pura vanidade e desperdício, e cedo o bom Maçom aprendeu, que meia palavra lhe bastaria...

E era esta a mensagem forte que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, fazendo o mundo mais feliz, e por contágio, sermos todos mais felizes, cumprindo os Princípios e os Valores, para consolidar a edificação da nossa Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto do Universo.

Júlio Meirinhos
Grão Mestre

16 março 2015

Perspetivas “reais”…


Quem já teve a oportunidade de ler algum texto que eu vou escrevendo, porventura já terá reparado que algumas vezes costumo afirmar que na mais simples coisa se pode encontrar a presença da Arte Real.

Naturalmente que só vislumbramos algo se o conhecermos, bem como reciprocamente, que só poderemos encontrar aquilo que efetivamente  procuramos.

Aliás, existe até mesmo um silogismo religioso e iniciático que diz que “quem procura, encontra”.
E eu acrescento que pode mesmo encontrar!

Pode é nem sempre ser tão lesto como se poderia desejar, mas com trabalho, empenho, paciência e muita perseverança, tal poderá ser concebível.

Mas por vezes é possível encontrarmos algo mesmo que não estejamos à procura de alguma coisa e essa descoberta, algumas vezes fascinante, é algo que nos pode motivar e impelir para ir mais além, demonstrando de certa maneira, que o caminho que escolhemos tomar é o que melhor se nos aplica.

Por isso, não são raras as vezes que encontro a presença da minha(/nossa) arte, em coisas tão simples como em frases ditas por alguém que nem sempre está identificado com os princípios de vida que observo, ou em canções ou músicas que nem sempre são aquelas intemporais ou mais comerciais que é usual conhecermos ou outras que poderíamos relacionar com algo mais místico ou metafísico até, ou inclusive até mesmo em simples construções onde a presença da Maçonaria poderia ser assumidamente dada como inexistente.

Quando encontro algo que relaciono direta ou indiretamente com a Arte Real é porque detenho um conhecimento que me permite reconhecer essa presença, ou pelo menos, a supor.

Mas tudo isto, apenas pode ser feito através da minha perspetiva, da minha visão, dos meus princípios morais e da minha experiência de vida. É a perspetiva que tenho sobre tal, que me permite esse facto.
Pois as mesmas coisas, os mesmos objetos, as mesmas músicas, poderão na perspetiva de outrem, pouco ou nada ter a ver com a opinião que tenho sobre essas mesmas coisas. Tudo na vida depende da nossa perspetiva e da nossa opinião e é a nossa perspetiva que tudo define.

Aquilo que eu vejo e sinto, podem outros também o ver e sentir, tal como outros poderão nunca o fazer…

Mas aquilo que eu vejo, sinto, saboreio ou toco, apenas poderá acrescentar mais valias à minha vida se eu tiver a noção disso mesmo, caso contrário apenas serão meras sensações que sentirei e que pouco ou nada me trarão de novo ou de positivo para o que eu espero da vida.

Todavia, enquanto eu olho para algo através da vista de alguém reconhecido como maçom, um estudante de Teosofia, um Rosa-Cruz, um membro de outra via iniciática qualquer ou que tenha alguma perspetiva espiritual diferente da minha, encontrará outras coisas que não me serão possíveis encontrar.

Primeiro, porque não as procuro, mas principalmente porque não as conheço. E sem as conhecer, nunca me será possível as reconhecer…  

Todavia, alguém não iniciado nestas “andanças”, também não o conseguirá fazer  porque não as conhece, e também porque sem as conhecer,  também não as poderá identificar.

O que poderá fazer no entanto, é tentar perceber o que é aquilo que observa, e quanto muito, se auxiliado corretamente, é apreender, através da boca de quem lhe vai debitando noções ou percepções daquilo que estará à sua frente.
O que é sempre diferente de reconhecermos algo e aquilo que nos dizem que será ou que poderá ser na realidade…

- Existem sensações que são necessárias vivê-las, experimentá-las, para se saber verdadeiramente o que são… As nossas experiências, as nossas vivências são determinantes na nossa vida, pois elas são responsáveis por aquilo que somos, por aquilo que pensamos e por aquilo que fazemos…-

Quantas vezes não estivemos nós em excursões ou em visitas a museus, castelos, igrejas, espaços culturais, etc, onde fomos guiados por alguém?

E em ocasiões em que tal era a primeira ou a segunda vez que visitávamos esses locais?

E que à medida em que íamos ouvindo o nosso guia, íamos adquirindo novas percepções sobre o que estávamos a ver?

Ou em visitas posteriores aos mesmos lugares, em que observávamos já com olhos diferentes aquilo que estávamos a contemplar, fruto dos conhecimentos que fomos ganhando entretanto?!

A nossa opinião bem como a nossa perspetiva sobre algo é mutável, evolui.

Já alguém dizia que só “os ignorantes não mudam de opinião” e quem não muda, não consegue progredir. E sem progredir, o Homem estagna, definha…

Por isso é tão importante a perspetiva que temos das coisas e quanto menos ambígua for essa perspetiva mais depressa poderemos definir aquilo que encontramos ou aquilo que observamos como sendo (o) verdadeiro e/ou o mais correto.

E a nossa experiência de vida, o nosso empirismo, terá um papel fulcral no auxílio de validar aquilo que se nos é apresentado pela vida.

Através da nossa experiência é nos possível adquirir uma visão das coisas, que sem ela, não nos seria possível obter.

Não basta se olhar alguma coisa simplesmente olhando, há que se olhar com olhos de quem quer ver
E isso é o mais importante, porque só agindo assim poderemos alcançar o conhecimento, atuando de forma deliberada e tendo a noção do que (o) estamos a fazer .

A nossa perspetiva será sempre a “nossa”. Outros terão as “deles”.

Devido a diferentes experiências de vida, diferenças culturais, sociais, económicas e educacionais, existem várias formas de se olhar e analisar a mesma coisa.

Tanto que na maioria das vezes, temos como opinião que, se as perspetivas dos outros forem semelhantes à nossa, facilitam-nos o nosso inter-relacionamento humano, e que se forem contrárias ou divergentes às perspetivas que temos, possibilitam-nos outras novas aprendizagens e também a comunhão e partilha de diferentes pontos de vista, originando o debate dessas diferentes  ideias. Sendo isto, algo que considero também como bastante necessário para o progresso humano.

E é para o progresso do ser humano que os maçons trabalham! Seja através da sua ação no mundo profano, seja através do seu trabalho nas suas lojas maçónicas…

Por tudo isto, dependendo apenas da perspetiva que se poderá ter acerca de algo, foi-me possibilitado fazer esta reflexão que convosco partilhei.

Foi apenas a minha perspetiva que enunciei e nada mais.

Se correta, se errada, apenas outrem a poderá sufragar e dar-lhe o valor que considerar que ela valha.
Quanto a mim e para aquilo que pretendo da vida, por enquanto, vai servindo perfeitamente…