16 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -2


Eis que de repente a viagem começou e eu por ela não tinha dado, ou melhor, por ela eu não queria dar.

Agora do silêncio da espera algo irrompia e de súbito uma mão para mim se estendeu.

De onde vinha e ou de quem era, isso agora não importava, o que contava era que a tal viagem para que eu me preparara agora já estava a acontecer.

A caminho, e de caminho, a uma porta, eu fui dar, e na consciência eu fui bater.

Que consciência?
A consciência de que esta viagem tinha de ser feita de uma forma leal e sentida, por isso se o sítio escuro, tinha de ser, porque haveria eu de os olhos querer usar.

Bem voltando à Porta, a que eu tinha ido dar, para a conseguir ultrapassar um segredo me foi contado.
- Não, claro que o não posso revelar. Lembrem-se, esta foi a viagem ao meu interior e só para mim ela faz sentido e significado consegue ganhar.

Depois de, no tal segredo, as respostas ter recebido, foi um tormento, ali logo concedido, mais fundo eu tinha que descer e numa gruta entrar.

Depois de muito andar, e por paredes estreitas ter passado, a um Grande Templo eu cheguei.

Assim e já dentro do Grande Templo eu me encontrar, quando de repente, para além de quem a mão me dava e os segredos me descortinava, uma voz forjada pela Sabedoria, pela Força e Beleza do conhecimento e saber, se fez ouvir, e comigo começou a falar.

- Quem tu és, porque aqui queres entrar?
- Não sabes que este é um Mundo reservado apenas a quem o merece ter.
- Porque te julgas merecedor de nele entrar?
- Não sabes, e já não ouviste contar, que quem aqui entra para trás já não pode regressar?
- Tens a consciência que com o Sagrado não se pode brincar e que se o caminho continuares a garganta te irei cortar, se daqui revelares o que vires e escutar?

- Que pavor, ou talvez não! - Na verdade era ali que eu queria estar, e para aquela viagem eu me tinha preparado, como podia sequer ficar assustado?

Em frente decidi ir e com a verdade me armar, nada tinha a temer por ali conseguir chegar, mas então com uma regra fui confrontado, para de mim mais saber, ia ter de ser julgado.

Nota: Para quem a ultima etapa desta viagem quiser conhecer, esperar pela próxima semana será o suficiente, para a derradeira etapa, e o Grande Segredo, ficar a conhecer.

Alexandre T.

14 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato José Manuel Pereira da Silva

Tendo na semana passada publicado o currículo de um dos candidatos a Grão-Mestre da GLLP/GLRP, publica-se esta semana o currículo do outro candidato.

Nas próximas semanas, publicarei sucessivamente os manifestos de ambos os candidatos e procurarei obter deles respostas a um questionário (igual para ambos), de forma a permitir que melhor se ajuíze sobre as propostas de cada um. A ordem de publicação dos currículos, manifestos e entrevistas é a da entrada na Grande Secretaria da respetiva candidatura.

José Manuel Pereira da Silva


Currículo maçónico

Co-Fundador da Maçonaria Regular em Portugal, foi iniciado no GOL em 1980, tendo participado na cisão que conduziu à criação, em 1991, da Maçonaria Regular em Portugal.

Principais cargos desempenhados ao serviço da GL:
  • 1º Grande Vigilante
  • Assistente de Grão Mestre
  • 1º Vice Grão Mestre 
  • Grão Mestre Interino
  • Past V:.M:. das R:.L:. Jean Mons e Barbosa du Bocage
  • Fundador do GPIL (Grande Priorado Independente da Lusitânia ), CBCS (Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa) e Cav:. de Malta do RER
  • Grau 33 do REAA (Supremo Conselho para Portugal)
  • Grau 33 do R:. Adonhiromita (Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal)
  • Grande Oficial Instalador da Grande Loja de Marrocos
  • Representante da G:. L:. da Florida (USA).
DISTINÇÕES MAÇÓNICAS:
  • Ordem Honorífica Gomes Freire de Andrade
  • Grão Mestre de Honra
  • Grande Oficial (ad vitam)
  • Participante como palestrante e conferencista sobre temas maçónicos e simbólicos em inúmeras iniciativas da GLLP, a convite de RR:.LL:. ou de entidades profanas.
Currículo profano

Habilitações Académicas:
  • Licenciatura em Arquitectura, pela ESBAL, com classificação final de 15 val., em 18.07.1980
  • Curso de Economia e Tecnologia da Construção, com Distinção, I.S.T./FSE, 1989
  • Curso de Condicionamento de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Reabilitação de Edificios - CENFIC 1990 
  • Curso de Gestão da Qualidade - CEQUAL 1993 
  • Curso de Mestrado em Construção, do Instituto Superior Técnico, (Tecnologia e Economia da Construção e Reabilitação), 1991/1993.
  • Doutorado em Ciências da Educação – Universidade de Huelva, Espanha
Certificação Profissional:
  • Membro da Ordem dos Arquitectos Portugueses (nº 1626)
Docência:
  • Professor Efectivo da Escola Secundária Rafael Bordalo Pinheiro, Caldas da Rainha, 3º Grupo (Construções Civis), atual GR 530.
  • Professor equiparado a Adjunto da ESAD (Escola Superior de Arte e Design), Caldas da Rainha, em 93/94 e 94/95.
  • Monitor em vários cursos de Formação Profissional (FSE).
  • Formador certificado pelo IEFP, leccionando desde 2003 a disciplina de Tecnologia da construção dos Cursos de Formação Profissional em Mediação Imobiliária, em acções reconhecidas pelo IMOPPI, no CEFORCAL em Caldas da Rainha.
  • Formador certificado pelo Conselho Científico-Pedagógico da Formação Contínua, no âmbito da formação de professores.

Publicado por Rui Bandeira

09 maio 2014

A minha Iniciação. Parte -1

Um dia decidi!

Sim decidi tomar uma grande decisão.
Decidi fazer uma grande viagem, uma viagem para não mais voltar.

Não, não é uma daquelas em que partimos para um outro lado qualquer e por lá ficamos. Esta viagem foi uma viagem muito mais complicada, esta foi aquela viagem!

Foi a viagem ao meu interior;
Ao meu mais íntimo;
À minha razão de ser;
A viagem ao principio de tudo.

Nesta caminhada decidi encarar todos os meus medos e confrontar os meus receios. Assim e com a decisão tomada comecei a prepara as coisas para levar nesta viagem.

Identifiquei de onde eu era;
Filho de quem e de que famílias proviam as minhas origens;
As razões que me levavam a fazer esta caminhada;
O sentido de fazer a mesma;

Enfim todas aquelas coisas que normalmente levamos numa viagem, pelo menos numa viagem como esta.
Depois de tudo inventariado e Check-List realizado, estava pronto para partir.

Parti e decidi, com convicção, de que era o caminho certo, de que este era realmente o meu caminho, senão nada fazia sentido.

Nada do que até agora havia feito;
Nada por onde tinha passado e aprendido;

Passo ante passo, pé ante pé, a caminho me coloquei, naquele caminho que ao meu interior me havia de levar.

Estava escuro e frio, ou não, mas segui;
Tudo era negro, ou não, mas mantive-me firme;
Gritos e ruídos, por mim passavam, ou não, mas sem nada a temer;
Imagens por mim passaram, ou não, mas tal coisa não conseguia entender;
Uma coisa era certa a decisão tomada estava e agora o meu Eu me esperava.

Fechei todas as portas que para trás tinham ficado, do Mundo Profano agora me afastava, começava agora a abrir, ao de leve, mesmo de muito ao de leve a porta da Alma ao Sagrado.

Com a consciência de que este era o passo certo, nada mais havia a fazer, para trás ficavam as incertezas e as inseguranças, agora tudo era fácil, eu já ali estava, o que de mal poderia acontecer?

Por certo nada, claro que não, nada havia a temer, esta era a viagem que eu queria fazer.

Na verdade em todos estes passos, no quarto escuro eu continuava, sem dele sequer conseguir sair, que tinha eu de fazer para ao meu interior conseguir descer?

Decidi esperar, pois se assim tivesse que ser, tal se iria realizar, alguma ajuda, eu haveria de ter, e por certo ela ai estria a chegar.

Esperei e continuei a esperar que a tal viagem, eu pudesse iniciar.

Nota: Para quem esta viagem quiser continuar a seguir, esperar pela próxima semana será o suficiente, para mais uma etapa ficar a conhecer.

Alexandre T.

07 maio 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: o currículo do candidato Júlio Meirinhos

Como em toda as eleições, também em Maçonaria as pessoas são importantes nas escolhas. Pessoalmente, penso que o mais importante... Projetos, ideias, propósitos são seguramente importantes, mas são as pessoas que executam ou não os projetos, que tornam ou não realidade as ideias, que cumprem ou não os propósitos.

Na GLLP/GLRP, procuramos que as nossas escolhas sejam tão informadas e esclarecidas quanto possível. Por isso, as candidaturas são instruídas com currículos dos candidatos, resumindo a sua atividade, quer maçónica, quer na sua vida profana.

Os dois candidatos a Grão-Mestre forneceram os seus currículos, maçónicos e profanos. Publica-se hoje o currículo de um dos candidatos. O currículo do outro será publicado na próxima semana.

Júlio Meirinhos 


Currículo maçónico

Iniciado na R:.L:. Porto do Graal, n.º 2 em 1992
Ininterruptamente em funções desde então
Atualmente Vice Grão-Mestre.

Funções e cargos desempenhados na Grande Loja Legal de
Portugal/GLRP:
  • Venerável Mestre da R:. L:. Luz do Norte, nº21
  • Venerável Mestre Fundador da R:. L:. Rigor, nº 57
  • Assistente de vários M:.R:. Grão‐Mestres 
  • Vice Grão‐Mestre de vários M:.R:. Grão-Mestres
  • Grande Representante da Grande Loja de Mestres Maçons de Marca de França
  • Grande Representante da Grande Loja da Holanda
  • Membro honorário de diversas Lojas Nacionais e Estrangeiras.
Condecorações:
  • Grande Oficial da Ordem General Gomes Freire de Andrade
  • Grã‐Cruz da Ordem General Gomes Freire de Andrade.
Funções e cargos desempenhados nas estruturas de Altos Graus:
  • Sumo‐Sacerdote do Capítulo nº 6, Mosteiro Castro de Avelãs
  • Ilustre Mestre do Conselho nº 3, S. Bartolomeu
  • Eminente Comendador da Comenda nº 3, Cristóvão Colombo
  • Presidente da Ordem da Rosa
  • Membro da Ordem dos Sumo‐Sacerdotes Ungidos e Consagrados
  • Membro da Ordem da Trolha
  • Grande Sumo‐Sacerdote do Supremo Grande Capítulo do Arco Real de Portugal
  • Grão-Mestre do Grande Conselho de Mestres Reais e Escolhidos de Portugal
  • Generalíssimo da Grande Comenda de Cavaleiros Templários de Portugal
  • Grau 32º do Supremo Conselho para Portugal dos Soberanos Grandes Inspectores Gerais do 33º e último grau do Rito Escocês Antigo e Aceite
  • Patriarca Inspector Geral do 33º e último grau do Excelso Conselho da Maçonaria Adonhiramita para Portugal.
Currículo profano

59 Anos
Casado, 2 filhas e 2 netas
Reformado, com residência em Miranda do Douro e em Lisboa, onde tem 1 filha e 2 netas.
  • Licenciatura em Direito pela Universidade de Coimbra
  • Advogado
  • Presidente de Câmara durante 4 mandatos
  • Deputado em duas legislaturas
  • Coordenador da Comissão Parlamentar de Ética.
  • Membro da Comissão Parlamentar de Defesa
  • Secretário‐Geral e Notário privativo do Leal Senado de Macau
  • Juiz Presidente do Tribunal Administrativo e Contas de Macau
  • Membro fundador e dirigente do Instituto Jurídico de Macau
  • Docente da Faculdade de Direito de Macau
  • Membro da Academia da “Língua Asturiana” Oviedo‐Espanha
  • Auditor de Defesa Nacional
  • Presidente do Agrupamento de Municípios da Terra Fria Transmontana
  • Administrador da Associação de Municípios de Trás‐os‐Montes e Alto Douro
  • Coordenador do PROCOA‐ Programa de Desenvolvimento Integrado do Vale do Côa
  • Membro do Comité das Regiões em Bruxelas
  • Presidente do Conselho da Região da Comissão de Coordenação da Região Norte
  • Governador Civil de Bragança 
  • Presidente da Assembleia para a criação da Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Bragança
  • Presidente de diversas associações (Associação Ibérica de Municípios Ribeirinhos do Douro, Associação Ibérica Antinuclear)
  • Dirigente e membro fundador da Associação Nacional de Municípios Portugueses
  • Presidente da Região de Turismo do Nordeste Transmontano
  • Vice‐Presidente da ANRET (Associação Nacional das Regiões de Turismo
  • Vice‐Presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte de Portugal.
Condecorações:
  • Cidadão honorário do Município de Miranda do Douro ‐ Grau Ouro.
  • Agraciado pelo Estado Português com o grau de Comendador da Ordem Nacional do Infante D. Henrique.
  • Eleito o «Melhor Autarca do ano de 1986» ‐ Prémio telex de prata‐ANOP.

Publicado por Rui Bandeira

30 abril 2014

Eleição de Grão-Mestre 2014/2016: os candidatos


A eleição do Grão-Mestre da Grande Loja Legal de Portugal/GLRP para o mandato que decorre entre 2014 e 2016 está marcada para o dia do solstício de verão, 21 de junho.

Findo o período de apresentação de candidaturas, apresentaram-se ao escrutínio dois valorosos obreiros, os Irmãos Júlio Meirinhos, Vice Grão-Mestre em funções, e José Manuel Pereira da Silva.  

Num processo eleitoral que decorre de forma tranquila, duas coisas se podem já tomar como certas. 

A primeira é que o próximo Grão-Mestre da GLLP/GLRP será um maçom de alto gabarito, merecedor da confiança de todos os obreiros, qualquer que seja a opção de voto que venham a manifestar. Com efeito, ambos os candidatos dão garantias de competência e capacidade e a Grande Loja ficará bem servida com qualquer deles. É sempre motivo de agrado quando a escolha que se perfila é entre dois elementos capazes, é uma escolha entre dois bons elementos. Obviamente que será necessário escolher, optar, e que, no final, um deles será eleito e o outro não. Mas o que não for eleito certamente ficará a disposição para dar a colaboração que lhe seja pedida e quiçá noutra oportunidade venha a ser escolhido para a função da direção cimeira da Grande Loja. 

A segunda é que o próximo líder máximo da Grande Loja não terá residência principal na zona de Lisboa: Júlio Meirinhos tem a sua residência principal em Bragança (embora tenha uma residência secundária em Lisboa) e Pereira da Silva nas Caldas da Rainha. É algo que, num país com a dimensão e a facilidade de comunicações do nosso, não trará qualquer inconveniente e que permite a comprovação de que são inúteis, aqui como noutras instituições, bacocos regionalismos ou ultrapassados centralismos. As funções devem ser preenchidas pelos que. em cada momento, mais bem capacitados estejam para as exercer, independentemente do ponto do país onde residam.

A Loja Mestre Affonso Domingues convidou os dois candidatos para, pessoalmente ou através de seus representantes, nos darem a satisfação da sua visita numa das próximas sessões da Loja, antes da eleição, para melhor se darem a conhecer, a eles próprios e aos respetivos projetos, para o mandato que se propõem exercer. 

A ambos os candidatos, a Loja Mestre Affonso Domingues formula votos de felicidades e manifesta a sua confiança em que ambos serão iguais a eles próprios no decorrer do período de esclarecimento que decorre até ao dia da eleição.

A  ambos os candidatos a Loja Mestre Affonso Domingues expressa o seu desejo de bem os receber, atentamente os ouvir, fraternalmente os questionar, aplicadamente garantir, como habitualmente, as condições para que todos os seus obreiros e os Irmãos que nos derem o prazer da sua visita se possam esclarecer, num ambiente de fraternidade.

Pessoalmente, ambos os candidatos sabem que por ambos nutro grande consideração e com ambos mantive, mantenho e manterei as melhores relações. Como os demais, efetuarei a minha escolha e só um deles poderá ser escolhido. Mas desde já deixo bem claro que, para mim, a escolha não é de um contra o outro, antes de um agora e porventura o outro depois.  

Ao Júlio e ao José Manuel aqui deixo, a cada um, um triplo e fraternal abraço. Estou certo que aquele que, no final do presente processo eleitoral, vencer exercerá condignamente o ofício de Grão-Mestre e o que não vencer dará a melhor colaboração fraterna ao outro e à GLLP/GLRP.

Rui Bandeira

23 abril 2014

Há quarenta anos, dia por dia...


Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem de dezoito anos que alcançara, à custa de muito trabalho, uns quantos sacrifícios e bastantes privações dos meus pais, o que era então o verdadeiro privilégio de ser estudante universitário. Estudava que me desunhava, não porque fosse especialmente dedicado, mas porque sabia que os meus pais - ele, operário eletricista, ela doméstica - não podiam sustentar vilegiaturas académicas sem aproveitamento. O curso era para se fazer o mais depressa que fosse possível, que os tostões eram parcos e contadíssimos e havia que deixar de ser fardo para a família e começar a contribuir para o seu sustento. Por outro lado, não bastava tirar o curso depressa: havia que procurar ter boas notas, única forma de diferenciação possível de quem provinha de classe modesta e não dispunha de pedigree, conhecimentos ou auxílios da elite que dominava este país. 

Há quarenta anos, dia por dia, o sentimento que perpassava por toda a sociedade, por praticamente toda a população, era de medo. Medo de ir ou de que o seu filho fosse para a guerra, medo de ser tomado por algum polícia, PIDE ou bufo (informador da polícia política) como desafeto ao regime, pois isso implicaria, no mínimo, uma condução a instalações policiais e sujeição a interrogatório "musculado" com uns valentes tabefes, eventualmente uma estada, gratuita, mas frequentemente sem direito a dormir e com direito a uma estátua (mas quem fazia de estátua e não podia dormir era o "hóspede"...) nas temidas instalações da polícia política, na Rua António Maria Cardoso, ou mesmo umas "férias" mui pouco agradáveis na estância muito pouco termal de Caxias.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, que até me considerava atento e bem informado, só sabia o que os detentores do poder político entendiam que me era permitido saber, pois a Imprensa (então não se costumava ainda dizer Comunicação Social...) estava sujeita a um férreo regime de censura, crismada com o cognome de "exame prévio", que só permitia que fosse publicado o que não lhes causasse inconveniência - e o principal "desporto" dos jornalistas da época dava pelo nome de "finta à Censura"; e que grandes craques havia nessa interessantíssima "modalidade desportiva", felizmente extinta, por desnecessidade, espero que para sempre!

Há quarenta anos, dia por dia,  a sina de qualquer jovem adulto fisicamente apto (e mesmo de alguns nem sequer tão aptos como isso...) era ir perder quatro anos da sua vida (ou perder a sua vida no horizonte de quatro anos...) numa "comissão de serviço" na Guiné, em Angola ou Moçambique, combatendo não sabia quem, porquê, para quê e até quando. A não ser que optasse por se exilar e conseguisse fazê-lo ou que fosse filho de algum dos próceres do regime, que esses tinham garantido confortável cumprimento dos seus deveres militares na "Metrópole", isento de riscos e de sacrifícios, integrantes da casta dominante que eram.

Há quarenta anos, dia por dia, não se escolhiam os líderes políticos, nem se opinava sobre as políticas a seguir. Os detentores do poder detinham-no e pronto! As funções políticas eram exercidas por escolhidos em circuito interno e à generalidade da população cabia obedecer e não refilar.

Há quarenta nos, dia por dia, não se podia sair legalmente do país sem autorização "de quem de direito", os direitos cívicos e políticos existiam no papel (num célebre art. 8.º da Constituição de 1933), mas o mesmo papel elencava tantas exceções e restrições ao exercício desses direitos que, na prática, não existiam, ou só existiam se, quando e na medida em que o poder entendesse permitir que fossem existindo.

Há quarenta anos, dia por dia, eu era um jovem universitário vivendo num ambiente de medo, sem perspetivas, sem direitos realmente dignos desse nome, sem nada  que não fosse vegetar e esperar, esperar, esperar que um dia, talvez, algo mudasse. Era um jovem comum, um entre milhões que não tinha atividade política relevante, ao fim de dezenas de anos de condicionamento de todo um povo para que não ousasse "meter-se em política".

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, sentia-me asfixiado pela falta do ar da Liberdade.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, vivia no momento de maior negrume de uma noite que se prolongava por mais de outros quarenta anos.

Há quarenta anos, dia por dia, eu, como todo um povo, à exceção de umas centenas de heróis que estavam na ponta final da preparação do que iria finalmente mudar as coisas, não sabia ainda que o maior negrume da noite é a altura que precede imediatamente o momento do nascer da aurora - e que esse momento estava a menos de quarenta e oito horas de distância.

Hoje, relembrando como estávamos há quarenta anos, dia por dia, deixo aqui um simples, emocionado e sincero MUITO OBRIGADO àqueles heróis que, menos de quarenta e oito horas depois, me iam ensinar que também se chora de alegria - e que se chora de alegria precisamente quando essa alegria é enorme, imensa!   

Hoje relembro como era este país há quarenta anos, dia por dia, porque muitos e muitos há que, felizmente, já não viveram esses tempos. Vivemos hoje tempos de dificuldade - mas sabemos que vamos, mais tarde ou mais certo, ultrapassá-la. Expressamos hoje a nossa insatisfação - mas podemos fazê-lo. Não concordamos com muito do que aqueles que nos dirigiram nos últimos anos decidiram ou fizeram - mas podemos, individual e coletivamente, criticar, decidir e executar o que se decidir fazer para se corrigir o que de errado se fez. Duvidamos das capacidades, da competência, dos motivos de alguns dos que nos dirigiram ao longo destes quarenta anos - mas sabemos que fomos nós, coletivamente, que lhes entregámos essa liderança e sabemos que podemos escolher quem colocamos a dirigir-nos, procurando não cometer os mesmos erros de avaliação do passado.

Hoje, digo e afirmo: por muito mal que as coisas andem, por muito descontentes que estejamos, lembrem-se todos, mas principalmente aqueles que tiveram a felicidade de não ter vivido aquele tempo, que estamos muitíssimo, incomparavelmente melhor do que estávamos há quarenta anos, dia por dia. Porque ao longo destes quarenta anos, tudo o que de certo e de errado (e muito de errado houve também, sem dúvida) se fez, foi, em última análise, feito ou permitido POR NÓS TODOS, enquanto povo LIVRE. Livre mesmo cometendo erros, mesmo fazendo ou permitindo disparates, mesmo escolhendo por vezes mal os seus líderes. Mas LIVRE de aprender, de melhorar, de corrigir, de opinar, de debater, de escolher os seus caminhos.

Que cada um faça as suas escolhas. Que todos debatamos os caminhos, Que, por vezes, nos zanguemos até uns com os outros, no calor das discussões sobre as escolhas a fazer. Mas que todos sempre prezemos e defendamos o essencial (que ninguém o duvide!) que este povo há quarenta anos, dia por dia, estava a menos de quarenta e oito horas de recuperar: a LIBERDADE e a possibilidade de, exercendo-a, viver a sua vida com dignidade!

Há quarenta anos, dia por dia, não sabia ainda que estava prestes a finalmente ter direito a uma vida digna de ser vivida. Com erros e acertos. Com coisas boas e coisas más. Mas com as escolhas feitas por mim. Eu e todos os meus compatriotas. Que nunca mais neste país se perca o direito de cada um fazer as suas escolhas. Que nunca mais este Povo volte a perder a sua LIBERDADE, alfa e ómega de tudo o que coletivamente vale a pena ser vivido!

Rui Bandeira   

16 abril 2014

Lição de um Mestre ao seu Aprendiz - VI

Pedro Espanhol, 2009, óleo sobre tela, 90 x 120 cm
Reprodução publicada pelo autor em Masonic Art

Antes do mais, sê muito bem-vindo entre nós. Estás aqui por teus méritos e, sobretudo, por tuas potencialidades. A ti, e só a ti, deves a admissão no seio dos obreiros desta Oficina da Augusta Ordem da Maçonaria. Nós, os que vos acolhemos, limitámo-nos a reconhecer em ti a capacidade e a vontade de efetuar o longo – direi mesmo: interminável -, trabalhoso – acrescentarei: permanente – e minucioso – precisarei: rendilhado – processo de transformação de um Homem Bom num Homem Melhor.

Esta frase, que de tantas vezes dita soa já como um lugar-comum, é, acredita-me, muito mais simples de dizer do que de levar à prática. Passar de um simples e comum Homem Bom – aquilo que nós, maçons, costumamos designar por homem livre e de bons costumes – para se ser um Homem Melhor é tarefa, mais do que diária, de todos os instantes, verdadeiramente permanente, que necessita de ser executada ao longo de toda a vida – e que só faz sentido se for permanentemente executada ao longo de toda a vida.

É uma tarefa interminável, porque é de sua natureza sê-lo: o homem bom de hoje que se transforma amanhã num homem um pouco melhor, em bom rigor, ao fim do dia de amanhã não será mais do que um pouco melhor homem bom que poderá e deverá, no dia seguinte, melhorar um pouco mais. E assim sucessivamente até ao momento em que a nossa tarefa neste plano de existência terminar.

A Arte Real é um guia para esse trabalho. O método que propõe e coloca à disposição de todos os seus obreiros é o estudo, compreensão e interiorização dos significados – quantas vezes vários, ou mesmo múltiplos – dos muitos símbolos com que nos deparamos.

Admito que, hoje, aqui e agora, não tiveste ainda tempo para te aperceberes de que tudo o que nos rodeia tem carga simbólica. Como certamente ainda não assimilaste convenientemente o significado do que se passou, do que viveste, desde o instante em que entraste neste edifício até agora. Não te preocupes com isso. É normal, é natural, é previsível, é até desejável que assim seja. Tivemos o cuidado de nada de substancial te informar sobre o que irias viver neste dia. Porque é necessário sem conhecimento prévio viver, sentir, a passagem que acabaste de efetuar para depois melhor compreender o seu significado.

Não esqueças nunca: a Razão complementa, completa, domina e interpreta a Emoção. O que vale por dizer que a Emoção é forte alicerce da Razão, que o mero conhecimento racional pode ser muito e vasto, mas é fraco e pouco consistente se não estiver ancorado, se não tiver sido adquirido com a Inteligência Emocional que integra também a nossa capacidade para estarmos, orientarmo-nos e compreendermos o mundo em que vivemos. Se assim não fosse, não precisávamos de viajar – bastava ler livros e ver filmes de viagens...

A tua primeira tarefa é também um labor permanente e será, afinal, o teu último trabalho: conhecer-te a ti mesmo. Isso é essencial. Porque tu és o centro, a origem, o início e o fim do teu mundo. Portanto, o mínimo que te é exigível é que te conheças verdadeiramente a ti mesmo. Não a imagem que tens ou dás de ti, mas o que está por detrás dela, em tudo o que ali está e o que foi, que é causa do que é e base para o que será. O que tem de agradável e luminoso, mas também o que é mais sombrio e com que nos custa a deparar.

Esta a base, o ponto de partida. Já há milhares de anos estava escrito no Templo de Delfos: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás todo o Universo e os deuses, porque se o que procuras não achares primeiro dentro de ti mesmo, não acharás em lugar algum”.

Esta asserção é, desde a mais remota Antiguidade, a base de toda a busca e jornada iniciática. Não precisamos de inventar nada, não é necessário inventar o que já está inventado.

Devo-te esclarecer o significado da Arte Real. Como o poderei fazer, se há mais de vinte anos que o busco e ainda não o determinei completamente? Talvez a melhor resposta seja esta: a Arte Real é um método de busca que tem princípio em ti mesmo, como guia os símbolos, como rota a melhoria individual, como objetivo a perfeição e como meta todo o Universo e o que mais haja.

Sei bem que esta definição que acabei de te propor hoje, aqui e agora não é mais do que um conjunto de palavras que se juntam a uma enorme quantidade de informação que hoje recebeste e de sensações que experimentaste e que, portanto, agora de pouco te vale. Não te preocupes tu com isso, que eu também não estou nada preocupado. Tens à tua frente muito tempo para ordenar, para assimilar, para compreender tudo o que hoje viveste, viste e ouviste. E tudo, a seu tempo, te fará sentido. Até este arrazoado que tiveste a paciência de ouvir...

Mas isso fica para depois. Agora o tempo que chega é de celebrar, de conviver, de nos alegrarmos por estarmos juntos e sermos mais a estar juntos. Amanhã começarás o teu trabalho!

Rui Bandeira