10 setembro 2008

Já somos fonte!

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Foi hoje publicado na edição eletrónica do jornal Ponto Final, de Macau, um artigo, da autoria do jornalista João Paulo Meneses, intitulado Está a nascer a terceira loja maçónica em Macau.

Para além de apreciarmos uma notícia genericamente bem feita relativa a uma Loja em constituição da GLLP/GLRP, Obediência em que se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, que temos nós a ver com isso? Dois aspetos:

O primeiro, notar que a Imprensa tradicional começa a usar assumidamente como fonte de informação e pesquisa os blogues, no caso os blogues de temática maçónica. Com efeito, expressamente se refere na dita notícia que parte das informações recolhidas para a notícia foram obtidas no blogue Luz do Oriente (Macau) (in installation), para cujo endereço remete um dos atalhos que disponibilizamos na coluna da direita do A Partir Pedra.

O segundo, assumir que o "outro blogue que segue a mesma filiação da GLLP", no qual o "mestre instalador" escreveu um comentário transcrito na notícia foi o nosso A Partir Pedra. O comentário foi publicado por AMG, Mestre Instalador da Loja em processo de constituição, a propósito do texto Loja Luz do Oriente (Macau).

A notícia parece-me genericamente correta e elaborada com o propósito de informar. Detetei, no entanto, duas pequenas imprecisões: a GLLP/ GLRP foi criada, não em 1996, mas sim em 1990, então sob o nome de GLRP. Em 1996, na sequência da cisão dos elementos afetos ao que ficou conhecido como "golpe da Casa do Sino", mudou de nome para GLLP/GLRP; não é completamente exato que todas as Lojas da GLLP/GLRP trabalhem, como afirma a notícia, no Rito Escocês Antigo e Aceite: a maior parte das Lojas da GLLP trabalham no REAA, mas há Lojas trabalhando noutros ritos. Aliás, e não sendo contas do nosso rosário, creio que não será também correto afirmar-se que todas as Lojas do GOL trabalhem no Rito Francês... Mas, bem vistas as coisas, trata-se de imprecisões naturais em quem assumidamente teve alguma dificuldade em recolher as informações que pretendia.

Rui Bandeira

09 setembro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base III



BASE III

DA HOMOFONIA DE CERTOS GRAFEMAS CONSONÂNTICOS

Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário diferençar os seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É certo que a variedade das condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos homófomos nem sempre permite fácil diferenciação dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente, se deve empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som.


Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:

1º) Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, Chico, chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho, mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim, baixei, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer, oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara.

2º) Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra, algema, algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir, gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio, sege, Tânger, virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica, enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias, Jericó, jerimum, Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista, majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.

3º) Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia, ascensão, aspersão, cansar, conversão, esconso,farsa, ganso, imen­so, mansão, mansarda, manso, pretensão, remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa; abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse, Cassilda, codesso (identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), cras­so, devassar, dossel, egresso, endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar, acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar, percevejo; açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dan­çar, Eça, enguiço, Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça, negaça, pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe.

4º) Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/fônico: adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito, estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto, sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo com esta distinção convém notar dois casos:

a) Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido de i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto, sixtina, Sixto.

b) Só nos advérbios em -mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida de outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar do z: Biscaia, e não Bizcaia.

5º) Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/ fônico: aguarrás, aliás, anis, após, atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país, português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdês; cálix, Félix, Fénix flux; assaz, arroz, avestruz, dez, diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz, Queluz, Romariz, [Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz. 6º) Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso, analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besun­tar, blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa, [Marco de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/ho­mônimo de Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa, raso, represa, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar, exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar, azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro, Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar, Veneza, Vizela, Vouzela.

As determinações constantes desta base também em nada alteram a norma de escrita pré-existente, quer em Portugal, quer no Brasil. Note-se que, em bom rigor, com a exceção da norma que declara que é inadmissível z final equivalente a s em palavra não oxítona: Cádis e não Cádiz, esta base não fixa nenhuma regra orientadora de escrita. Limita-se a apresentar listas de palavras que, em razão das suas diferentes origens etimológicas, são escritas com letras diferentes representando os mesmos sons. Ou seja, aqui não há (salvo a exceção referida) regras para aprender e aplicar. A escrita correta das palavras indicadas nesta base só se aprende memorizando a forma de escrever de cada uma delas.
Dada a elevada tecnicidade dos termos utilizados, indica-se seguidamente o seu significado em linguagem mais corrente.
Homofonia - (do grego antigo "mesmo som") literalmente significa "vozes semelhantes" (definição extraída daqui ).
Grafema - é o nome dado à unidade fundamental de um sistema de escrita, podendo representar um fonema nas escritas alfabéticas, uma sílaba nas escritas silábicas ou em abjads, ou ainda uma ideia numa escrita. O grafema é a unidade formal mínima da escrita. Mínimo porque não pode ser desmembrado em dois ou mais sinais que também possam ser tratados como grafema. Formal porque é abstrato, não pode ser visto (definição extraída daqui).
Consonântico - relativo a consoante.
Fricativa palatal - emissão de som, resultante da fricção do ar expirado, decorrente da colocação da língua junto ao palato. Som representado em português pela letra j e, em certos casos, também pela letra g, seguida de e ou i.
Sibilante surda - sonoridade resultante da emissão de um sopro através dos dentes cerrados, semelhante ao som emitido pela cobra. Som normalmente representado em português por s ou ss.
Sibilante sonora - o mesmo, mas o sopro é acompanhado de voz resultando um som semelhante a um zumbido. Som normalmente representado em português por z, mas também por s entre vogais e, ainda, residualmente, por x entre vogais.
Fónico - relativo a som; sonoro.

Palavra oxítona - palavra que tem o acento tónico na última sílaba, por muitos designada como palavra aguda.
Rui Bandeira

08 setembro 2008

A propósito de anedotas e de sementes


O nosso “novato” A.Jorge aproveitou a 6ª feira, entrada do fim de semana, para propor uma reflexão sobre uma anedota, tirando no final (e muito bem) uma conclusão moral.
Acontece que recebi uma “estorinha” (não é uma anedota), com evidente relação com a conclusão moral tirada pelo A.Jorge no seu post.
Bom, a relação tem a ver o encaminhamento que é, ou pode ser, dado às sementes...
Transcrevo pois a estorinha que uma amiga fez o favor de me enviar hoje (6ª feira, dia 5).

Conta assim:

Uma chinesa velha tinha dois grandes vasos, cada um suspenso na extremidade de uma vara que ela carregava nas costas.
Um dos vasos era rachado e o outro era perfeito. Todos os dias ela ia ao rio buscar água, e ao fim da longa caminhada do rio até casa o vaso perfeito chegava sempre cheio de água, enquanto o rachado chegava meio vazio.
Durante muito tempo a coisa foi andando assim, com a senhora chegando a casa somente com um vaso cheio e outro meio de água.
Naturalmente o vaso perfeito tinha muito orgulho do seu próprio resultado - e o pobre vaso rachado tinha vergonha do seu defeito, de conseguir fazer só a metade daquilo que deveria fazer.
Ao fim de dois anos, reflectindo sobre a sua própria amarga derrota de ser 'rachado', durante o caminho para o rio o vaso rachado disse à velha :
"Tenho vergonha de mim mesmo, porque esta rachadura que tenho faz-me perder metade da água durante o caminho até casa..."
A velhinha sorriu :
"Reparaste que lindas flores há no teu lado do caminho, somente no teu lado do caminho ? Eu sempre soube do teu defeito e portanto plantei sementes de flores na beira da estrada do teu lado. E todos os dias, enquanto voltávamos do rio, tu regava-las. Foi assim que durante dois anos pude apanhar belas flores para enfeitar a mesa e alegrar o meu jantar. Se tu não fosses como és, eu não teria tido aquelas maravilhas na minha casa !"

Cada um de nós tem o seu defeito próprio : mas é o defeito que cada um de nós tem, que faz com que a nossa convivência seja interessante e gratificante.
É preciso aceitar cada um pelo que é ... e descobrir o que há de bom nele !
Portanto, meu "defeituoso" amigo/a, desejo que tenhas um bom dia e que te lembres de regar as flores do teu lado do caminho ! Já agora, envia este e-mail a algum (ou a todos) os teus amigos "defeituosos".
Sem esquecer que é "defeituoso" também quem to mandou ! ...

Este foi o texto completo da mensagem que me chegou.

(Não o alterei de propósito para agora poder escrever o seguinte:
Recuso definitivamente todas as mensagens que apelam à auto-divulgação, seja porque nos próximos 3 dias a Cláudia Schiffer me vai cair “amantissimamente” nos braços, seja porque durante o próximo mês ganharei o “euro-milhões” pelo menos 5 vezes.
Este apelo continuado de propagação de mensagens tem com resultado único o entupimento das vias de comunicação dos acessos à rede, estudados e preparados para uma utilização racional, que ficam completamente entupidos com a utilização desregrada que estas correntes provocam.
Para quem está longe da matéria pode comparar ao efeito que as grandes e inesperadas chuvadas têm nos sistemas de escoamento das águas públicas.
O sistema existente, que funciona muito bem durante 99% do ano, é incapaz de engolir a massa de água caída inesperadamente e em quantidade muito superior ao habitual, dando origem a cheias e às consequências nefastas que todos conhecemos.
É isso o que se passa também na rede de comunicação de dados internacional, resultando depois queixas de que os sistemas são lentos, têm erros ou, pura e simplesmente, não funcionam.

Este parágrafo de facto não tem relação com o que pretendo deixar-Vos.
Constitui apenas um pequeno desabafo pelo que… voltemos ao assunto.)

Este conto pequeníssimo termina com uma conclusão:
- Nada é completamente mau !
Pronto, já sei que virão argumentar que a inversa também é verdadeira.
Claro que é, mas cada um vê a metade da garrafa com os olhos que tem ou que quer ter.
Os otimistas de uma forma e os pessimistas da forma contrária.
Para este caso tanto me faz que a vejam meio cheia ou meia vazia.
Em qualquer dos casos o que me interessa é que sejamos capazes de perceber o que há de bom em cada momento, eventualmente esquecendo o resto que é mau, e percebendo o que é bom aproveitá-lo, para si próprio e para incentivar os que lhe estiverem próximos de modo a que num esforço de conjunto se não desperdice nada de bom e não se aproveite nada de mau.
E bem sabemos como muitas vezes deitamos fora o vaso rachado, como se dele nada houvesse para aproveitar.
Há um “Amigão do peito” que acha muita graça quando lhe digo que “até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia” (!).
O que quero afirmar com esse princípio (que não inventei, antes apanhei-o no ar, algures) é exactamente o mesmo: -Nada é completamente mau !
E assim vamos descobrindo formas de utilizar os recursos disponíveis. Mesmo sendo escassos é provável que, com jeito, se consigam resultados surpreendentes utilizando-os de forma adequado.
A este respeito ainda cá voltarei com um aspecto importante deste aproveitamento possível.
Agora, e para terminar, apontarei apenas dois princípios.
1 – Repito, até um relógio parado tem razão 2 vezes ao dia ou, por outra imagem, até um vazo rachado pode ser muito útil. Só temos que olhar o relógio na hora adequada ou utilizar o vazo para a função que ainda pode cumprir.
2 – E agora pegando no conceito moral concluído pelo A.Jorge no final do seu post, o que acontecerá se “comermos” as sementes em vez de as utilizar para lançar à terra, onde com a ajuda de um qualquer vazo rachado germinarão em belas plantas novas, embelezando o mundo e dando continuidade à vida, tal qual foi devidamente arquitetado em tempo útil ?

Pois é, se comermos as sementes e/ou deitarmos fora o vazo rachado o mundo ficará mais triste e a vida perderá alguns dos seus argumentos.
Também tal como na estória, os velhos são capazes de perceber facilmente que é assim.
JPSetúbal

06 setembro 2008

Poema maçónico

Onde quer que possas estar,
Onde quer que te detenhas a meditar,
Seja longe, em terras estranhas,
Ou simplesmente no lar, doce lar,
Sempre sentes um grande prazer,
Que faz vibrar as cordas do coração,
Apenas em ouvir a fraterna saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão!”

Quando recebes a saudação do Irmão
E ele te toma pela mão
Isso comove-te e toca-te no íntimo,
Numa emoção incontida, por demais profunda.
Sentes que aquela união de Irmãos,
Que é um anseio da humanidade inteira,
Que se realiza no estender das mãos
E na voz a dizer fraternalmente:
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E se és um estranho,
Solitário em estranhas terras,
Se o destino te deixou derreado,
Batido e à beira da morte, longe do lar,
Não há sentimento mais completo
Que aquele que te sacode sob a saudação
“Vejo que tens viajado muito, Irmão”

E quando chegar, finalmente, tua derradeira hora,
O momento de empreender a mais longa das viagens,
Revestido do branco avental de cordeiro
E sob a a escolta dos Irmãos que já passaram,
O Cobridor da Porta de Ouro,
Com Esquadro, Régua e Prumo
Pedir-te-á a Palavra de Passe
E dir-te-á, então,
“Passa. Vejo que tens viajado muito, Irmão”
Autor: desconhecido, do Oriente de Montana - USA

05 setembro 2008

Uma anedota

Como o fim-de-semana se aproxima, decidi transcrever aqui uma anedota que ouvi há dias e que acho "deliciosa".

Um industrial da nossa praça, tendo problemas com um equipamento informático, decidiu chamar um técnico. O técnico chegou, deu duas voltas ao equipamento e com uma simples chave de parafusos, deu 1/4 de volta num parafuso, tendo o equipamento ficado a funcionar perfeitamente.

Passados dias, chegou a factura. Tinha como descritivo "reparação informática - 1.000€".

O nosso empresário, achando a factura demasiado alta para um simples quarto de volta num parafuso, decidiu solicitar uma factura discriminada. A nova factura que chegou já tinha duas linhas:

  • Apertar 1/4 de volta no parafuso - 1 €
  • Saber qual o parafuso a apertar - 999€

A factura foi paga.

(PAUSA PARA RISOS)

Desta anedota, é possível concluir que numa situação destas, quereríamos todos receber os 1000€, que são bem melhores do que só um.

O problema é que só tem direito aos 1000€, quem sabe realmente identificar qual é o parafuso que é preciso apertar. Não chega dizer que sabemos ou ter um diploma que diz que sabemos ou até fazer um movimento do tipo "os 1000€ quando nascem são para todos..." ou ainda "eu não sei, mas a culpa não é minha..., logo também tenho direito".

Vem isto a propósito das dificuldades com que me defronto regularmente quando proponho formação aos meus colaboradores - é preciso quase impô-la. Estamos mais uma vez perante um problema "das duas ansiedades" - "deixem-me continuar a fazer o que sempre fiz, mas não me falem em deslocalizar a fábrica".

Como sociedade, temos todos de unir esforços no sentido de conseguirmos levar as pessoas a querer saber qual o parafuso a apertar, mais do que a apertá-lo.

Como? Persistindo e não baixando os braços, apoiando, motivando, reduzindo a resistência à mudança (ansiedade 1) e, em certos casos, ajustando ainda que ligeiramente a ansiedade 2. Já agora, dava jeito que tivéssemos todos uma atitude mais "agrícola" - semear para colher. Creio que por vezes comemos as sementes e reclamamos quando não há mais.

Bom fim-de-semana

04 setembro 2008

A CAVERNA E AS BARREIRAS do A.Jorge


Os variados acidentes com que tropecei ao longo dos últimos 3 meses não são de molde a desculpar a terrível “sornice” que me deu e que fez com que não tivesse dado qualquer ajuda ao “coitado” do Zé Ruah que arcou com a responsabilidade, por inteiro, de manter viva a chama diária do “A-Partir-Pedra” durante o mês de Agosto.
De facto, durante todo este tempo, até foram muito poucas as vezes que visitei o blog, umas vezes por não ter máquina disponível, outras porque a tinha para utilização muito “bate e foge”, outras ainda por “sornice”… pois, a mesma !

Agora regressado à base pude passar pelos textos entretanto “blogados” e, haja Deus, eis senão quando dou com um novo colaborante para as postagens (não é pastagens, é mesmo postagens ! O Rui que se entretenha a confirmar se cabe no acordo, acordado).
E fiquei muito feliz.
Primeiro porque é mais um que não promete, faz !
Segundo por ser quem é !
Terceiro porque, tal como diz o Zé R., soltaram o monstro… Agora aturem-no.

Grande texto, esta “iniciação” do A.Jorge !

Tocaste num ponto sensível do nosso dia a dia actual.
O facto é que não se pode reconhecer, e portanto desejar, o que se não sabe que existe.
Se apenas for mostrada a sombra, os homens não reconhecerão, nunca, a coisa razão da sombra e ficarão apenas com o conhecimento dessa imagem.

Certamente viram um filme sensacional (digo eu) que esteve nos cinemas há um ror de anos, mas que também já passou pela televisão mais de uma vez. Chama-se “Os Deuses devem estar loucos” e é um hino à interpretação do desconhecido.
No caso trata-se de uma garrafa de Coca-Cola vazia transformada em sinal divino, mas a circunstância é facilmente transponível para outro objecto qualquer.

Veja-se o conceito de “mar” das populações do interior que nunca tiveram oportunidade de se aproximar da costa.
Veja-se o que acontece com populações de milhões de pessoas que nunca viram um frigorífico ou uma máquina de lavar.

Passa na RPT1 uma série excelente, excelentemente realizada e interpretada, que dá pelo nome de “Conta-me como foi”.
Para quem viveu os anos 50 e 60 do século XX em Portugal, vê ali magistralmente retratado o percurso da tal subida ao cimo do monte, com a descoberta sucessiva das coisas escondidas que estavam para além das sombras que nos eram mostradas.
É como se tivéssemos vivido de verdade a estória do filme.
E até a piada da garrafa de Coca-Cola se aplica direitinha.
É que a Coca-Cola era proibida em Portugal, muito poucos sabiam da sua existência e menos ainda conheciam o feitio da embalagem.
Aquele filme poderia muito bem ter sido feito no Portugal daquela época.

E quando trago a questão para o nosso “dia a dia” estou apenas a apontar o que se passa com muitos milhões de seres humanos mantidos acorrentados de “pernas e pescoço” dentro de uma “caverna” que, por “força” da “força” das tecnologias da informação e da comunicação vão sendo forçadamente e esforçadamente abertas, os seus pescoços e pernas a pouco e pouco desacorrentados, e consequentemente também a pouco e pouco, mas cada vez mais depressa, vão enxergando luz, vão caminhando direitos ao cimo do monte, vão querendo ter a coisa, não se contentado já e apenas com a sombra da coisa.

É a vida, diria um.
É o progresso dirá outro.
E como sempre os extremos tocam-se, diz Óscar Wilde
– Vivemos uma época em que as coisas desnecessárias são as nossas únicas necessidades.

Como dizes, caríssimo A.Jorge, não sabes onde está o equilíbrio.
E alguém sabe ?

Provavelmente não.
Provavelmente se alguém soubesse calava-se e enchia-se de dinheiro.
Provavelmente não interessa que se saiba.
Provavelmente não é possível saber-se.
Provavelmente esse equilíbrio não existe.
Provavelmente… seria o fim da guerra.

Uma chatice !

Sê bem vindo. É preciso é continuação.
Primeiro estranha-se, depois…

(Olha, gostei das palavras do Sócrates ! Tens mesmo a certeza que foi ele ?)

Grande abraço.

JPSetúbal

03 setembro 2008

Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 - Base II


BASE II

DO H INICIAL E FINAL

1º) O h inicial emprega-se:

a) Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.

b) Em virtude da adoção convencional: hã?, hem?, hum!.

2º) O h inicial suprime-se:

a) Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso, formas de origem erudita);

b) Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver.

3º) O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/ anti-higiênico, contra-haste, pré-história, sobre-humano.

4º) O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!

Sobre o uso da letra h, H no início e no fim das palavras, nenhuma modificação o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 trouxe relativamente ao estatuido anteriormente, quer na norma de escrita de Portugal, quer na do Brasil.

Em Portugal, os opositores do Acordo acenaram com a supressão do h, H inicial em dezenas ou centenas de palavras de uso corrente, mas sem razão. Tal não acontece, nada muda!

Note-se que a possibilidade de supressão do h, H inicial só é admissível quando esta estiver INTEIRAMENTE consagrada pelo uso.

A situação mais próxima que antevejo de tal ocorrer poderá porventura ser o caso de humidade, húmido, que escritores consagrados, como é o caso de João Ubaldo Ribeiro grafam umidade, úmido. Porém, estamos, a meu ver, ainda muito longe de uma INTEIRA consagração pelo uso do abandono do h, H inicial nestas palavras, pelo que a norma correcta de as escrever continua, no meu entendimento, a ser com o h, H inicial: humidade, húmido.

Repito: nada muda, a este respeito, com o Acordo Ortográfico de 1990. Acenar com o contrário foi, do meu ponto de vista, condenável demagogia de quem se opunha a tal Acordo e, pelos vistos, não teve melhores argumentos do que agir como se os seus concidadãos fossem acríticos atrasados mentais, que tremeriam perante a atoarda lançada.

Rui Bandeira