30 junho 2008

Solsticio de Verão - Aniversário



Decorreu no passado Sábado a sessão de Grande Loja correspondente ao Solsticio de Verão e consequentemente o aniversário da constituição da Grande Loja.

E vão 17 anos desde a consagração pela Grande Loge Nationale Française, e vão dias bons e dias maus e outros assim assim.

O de sábado foi dia bom. Sala absolutamente cheia estando cerca de 250 Irmãos presentes.

A GLLP/GLRP foi honrada com a presença de várias potências estrangeiras a saber:

Moldova, Marrocos, Roménia, Itália, França, Espanha, Brasil e a mais importante de todas a Inglaterra. A Grande Loja Unida de Inglaterra fez-se representar pelo seu Pró Grão Mestre o Marquês de Northampton, 2ª figura da hierarquia da UGLE.

A sessão decorreu ligeira e rapidamente, sendo respeitados todos os procedimentos e protocolos.

Mas a melhor noticia foi que o Grão Mestre da GLLP/GLRP o Muito Respeitável Irmão Mário Martin Guia se apresentou de saúde e com toda a sua força e jovialidade, já recuperado das maleitas que lhe atormentaram a saúde nos primeiros meses deste ano.

O Jantar decorreu em ambiente agradável (segundo me disseram que eu não pude estar presente pois obrigações familiares mais importantes assim o determinaram) e de grande fraternidade.

Evidentemente que, e como sempre, a prestimosa colaboração da Milu e da Sandra foi de importância vital para que a logística do evento decorresse sem sobressaltos.

Mais um marco na história da GLLP/GLRP.



José Ruah

Comentario dos Editores - Mapa de Origem de visitantes

Foi retirado por se ter verificado que o site de origem foi infectado por adware e spyware.

No futuro se o site ficar operacional decidiremos se voltamos a instalar ou nao esta funcionalidade.

As nossas desculpas.


A Partir Pedra

27 junho 2008

O anúncio


O poeta brasileiro Olavo Bilac, que viveu entre 1865 e 1918, foi membro fundador da Academia Brasileira de letras. Tal como Pessoa escreveu que a minha Pátria é a língua portuguesa, Olavo Bilac, que foi proclamado no seu tempo o Príncipe dos Poetas Brasileiros, afirmou: A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.

Autor anónimo atribuiu Olavo Bilac participação na situação que constitui a historieta que hoje serve de pretexto para alguma meditação:

O dono de um pequeno comércio, amigo do grande poeta Olavo Bilac, abordou-o na rua:


- Sr. Bilac, vou vender a minha quinta, que o senhor tão bem conhece. Será que o senhor poderia redigir o anúncio para o jornal?

Olavo Bilac pegou num papel e escreveu:

" Vende-se encantadora propriedade, onde cantam os pássaros ao amanhecer no extenso arvoredo, cortada por cristalinas e marejantes águas de um ribeirão. A casa banhada pelo sol nascente, oferece a sombra tranquila das tardes, na varanda".

Meses depois, topa o poeta com o homem e pergunta-lhe se já tinha vendido a quinta.

- Nem penso mais nisso -disse o homem- quando li o anúncio é que percebi a maravilha que tinha!


Às vezes, não descobrimos as coisas boas que temos connosco e vamos atrás de miragens e falsos tesouros. Valorizemos o que temos, as pessoas que estão ao nosso lado, os nossos amigos, o nosso emprego ou o nosso modo de ganhar a vida
, os conhecimentos que adquirimos, a saúde de que dispomos enquanto dela dispomos, o sorriso dos nossos filhos ou simplesmente das crianças com que privamos. Querer sempre mais ou sempre diferente é meio caminho andado - senão mesmo o caminho completo... - para andarmos perpetuamente insatisfeitos. Não quer isto dizer que se não deva ter objectivos, que devamos renunciar a prossegui-los e a lutar por eles. Ter objectivos, anseios, faz parte da vida e é positivo. Mas a valorização do que se tem, do que se conseguiu é algo que não devemos negligenciar. Além do mais, porque é também uma forma de darmos o devido valor ao trabalho que fizemos e ao esforço que desenvolvemos, ao longo de todo o nosso passado, para termos aquilo que temos, os amigos com que privamos, as boas coisas da vida que atingimos.

Façam o favor de ser felizes!

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Segunda-feira estarei de novo ausente, na defesa do meu brigantino inocente, pelo que não publicarei.

Rui Bandeira

26 junho 2008

Inovações


De tempos a tempos, apetece-nos fazer umas modificações no aspecto do blogue, aproveitando as possibilidades técnicas que o serviço de alojamento nos vai proporcionando e as que vamos encontrando em vários serviços que disponibilizam alguns elementos que consideramos de interesse.

Há dias, o José Ruah proporcionou um alargamento do sistema de identificação para quem quiser efectuar comentários.

Hoje, e após uma breve conferência que tivemos oportunidade de ontem ter sobre o assunto, aqui deixamos mais duas novas melhorias, através das quais os nossos leitores têm a possibilidade de melhor avaliar a difusão quantitativa e geográfica deste blogue.

Quase desde o início que temos visível o contador de visitas. Em cerca de dois anos, já ultrapassou as 83.000 visitas, o que nos enche de satisfação. Para um blogue temático, e dedicado ao tema da Maçonaria, é um êxito! O José Ruah deu-se ao trabalho de fazer a comparação e informou-me que alguns dos mais populares blogues maçónicos dos Estados Unidos, com uma antiguidade não inferior à nossa, têm um número total de visitas menor do que o A Partir Pedra! E notem que lá nos States vivem cerca de trezentos milhões de pessoas. É claro que nós, sendo só cerca de dez milhões em Portugal, contamos com os quase cento e noventa milhões de brasileiros! Com os demais falantes de português espalhados pelo Mundo equilibramos as contas! Mais ou menos... Bom, há que reconhecer que há mais falantes de inglês do que de português. Mas nós somos melhores, pronto!

O que os nossos leitores não tinham a noção é de que o número dos nossos leitores registado pelo contador de visitas peca por defeito, desde há cerca de um ano. É que desde então adicionámos ao blogue uma outras funcionalidade que altera os números: a possibilidade de quem estiver nisso interessado subscrever gratuitamente um serviço através do qual recebe por correio electrónico, entre as 21 e as 23 horas de cada dia (hora oficial de Portugal), o texto ou textos que nas últimas vinte e quatro horas tenham sido publicados no blogue. O aspecto gráfico é atractivo - inclui as imagens publicadas - e quem recebe a mensagem de correio electrónico não precisa de aceder ao blogue para ter acesso aos textos publicados. Actualmente, este serviço está subscrito por 57 pessoas. Certamente que a esmagadora maioria delas não acede, porque não precisa, ao blogue: lê directamente os textos publicados nas mensagens que vai recebendo. Isto faz com que a real difusão do blogue seja muito superior ao que o contador de visitas regista. Façam-se as contas: normalmente publicam-se textos aqui no blogue cinco dias por semana (às vezes seis). Admitindo que 50 dos que recebem esses textos por correio electrónico leiam esses textos por essa via e nunca acedam ao blogue, em cada semana, temos uma difusão de mais 300 leituras, não registadas pelo contador do blogue. Isto por si só significa mais de 15.000 leituras anuais. Se atentarmos que, no último ano, o blogue teve cerca de 50.000 visitas registadas, estas 15.000 leituras em acréscimo são importantes!

Por aqui nós prezamos a transparência! Decidimos, assim, passar a disponibilizar, na coluna da direita do blogue (só visualizada por quem acede ao blogue; quem lê os textos por correio electrónico não tem acesso aos elementos desta zona; não se pode ter tudo...) um novo elemento gráfico pelo qual, abaixo do título Assinantes via correio electrónico, publicamos o número daqueles que, em cada momento, subscrevem o serviço. No momento em que escrevo este texto são 57. Espero que vá paulatinamente aumentando este número - até porque é realmente cómodo este serviço gratuito!

Por outro lado, o José Ruah teve a ideia - e eu aplaudi; e ele logo a executou - de adicionar, também na coluna da direita do blogue, um mapa indicando a localização dos visitantes do blogue. É uma curiosidade interessante, mas é muito mais do que isso. Possibilita ao leitor o acesso a informação a que, até agora, só os editores do blogue, através do contador de visitas, dispunham. Façam o favor de clicar no mapa e verão que ele é aumentado e pode movimentar-se a sua visão, utilizando uma ferramenta no canto superior esquerdo (ao estilo do Google Maps; aliás, é essa a tecnologia que é utilizada neste serviço). Pode assim ver-se, especificamente na região do globo que nos interessa, a localização dos visitantes do blogue no último dia. Mas ainda mais: na janela na parte inferior, é indicada, para a região do globo visualizada, quais os textos do A Partir Pedra que os visitantes dessa região consultaram nesse dia e a percentagem de acessos de cada texto indicado em relação ao total. Pode-se assim comparar, por exemplo, os interesses dos leitores de Portugal com os do Brasil.. Mas, mais ainda: a indicação de cada texto na referida janela é um atalho para o mesmo. Assim, se um leitor verifica que em determinada zona do globo foi lido um determinado texto cujo título lhe suscita o interesse, basta clicar no atalho para aceder de imediato ao texto em causa!

Clicando na bandeira que indica a localização de cada visitante, surge a informação da localidade oriunda do acesso e do último texto acedido por esse visitante. De novo, esta última indicação surge sob a forma de atalho para esse texto. Quando aparece apenas a indicação A Partir Pedra, tal significa que esse visitante específico acedeu à página mais recente do blogue, que contém os textos dos últimos sete dias.

Clicando, na parte superior direita, no atalho Popular Links, abre-se uma página que apresenta, por ordem decrescente, os atalhos dos textos mais lidos no último dia. Dentro desta página, pode-se ainda seleccionar diversas variantes: todos os atalhos, os atalhos dos textos acedidos do exterior do blogue (isto é, directamente de um apontador de texto), atalhos dos textos acedidos a partir do blogue (isto é, utilizando os atalhos da coluna da direita o blogue), etc.. Utilizando-se o atalho Popular Pages, acede-se à indicação, por ordem decrescente das páginas, textos e marcadores acedidos no último dia, com indicação do local de onde proveio o último acesso.

Enfim, procuramos melhorar o blogue. Esperamos que estas inovações vos agradem!

Rui Bandeira

25 junho 2008

... do modo, ...

Se o tempo é indispensável, o modo é variável. Cada um é como é. Cada um chega com vivências próprias e diferentes dos demais. Cada um tem a sua forma particular de reagir e de evoluir.

Este é um calmo observador, que pacatamente absorve o que se passa ao seu redor, processa-o no interior de si e, sem se dar por ele, sem que se lhe veja grande actividade - às vezes parecendo mesmo desinteressado -, um belo dia desabrocha e surpreende a todos. Aquele é hiper-activo, quer participar, fazer, misturar-se, aprender ontem, para experimentar hoje e aplicar amanhã, um furacão de ânsia e acção, que desperta nos mais antigos preocupações de desastre iminente. Mas procura, investiga, experimenta, fura, bate algumas vezes com a cabeça na parede, cai e levanta-se, erra e corrige e, no fim, compõe o aspecto e, com um sorriso cândido, mostra que está pronto. O outro parece falho de iniciativa, parece nada fazer por si mesmo, necessita de ser constantemente guiado, estimulado, que se lhe aponte o caminho e que, quando nele surge uma bifurcação, que se lhe indique qual a vereda mais aconselhável. Mas, a pouco e pouco, vai ganhando confiança e, a dado passo, mostra que já sabe andar sozinho. Outro ainda olha, extasia-se, procura, volta atrás, mira, remira, sai do caminho para ver o que está além, regressa para espreitar um pouco mais adiante, e pára de novo e vê, revê, admira e espanta-se, qual visitante em exposição barroca. Parece perdido e diletante. Um dia, quando todos já desesperam com suas idas e vindas, suas digressões, paragens, experiências e admirações, pára e anuncia que já viu como é o mapa e a sua orientação, afirma que o caminho é por ali e segue-o resoluto. Há aquele que quer fazer seu percurso sozinho e com o mínimo de perturbação e o que só avançará acompanhado. O que estuda e medita e o que brinca enquanto experimenta. Um aprecia particularmente o convívio, outro a introspecção. Um é pacato, outro é espalha-brasas. Este faz, aquele observa, aqueloutro constrói, adiante um outro abre o boneco para ver como é por dentro, um precisa de ver, o outro acredita se lhe disserem.

Em resumo, cada novo elemento que está a aprender a ser maçon é único e diferenciado dos demais. Tem, portanto, de ser entendido e aceite pelos que já estão na Loja como a individualidade única que é. Não há "planos quinquenais" para fazer maçons. Cada um é ele. Cada um tem direito - e incumbe à Loja e aos mais velhos assegurá-lo e respeitá-lo - ao seu "plano individual" de evolução. Não é fácil para quem está. Mas também sabemos que quem entra também está enfrentando dificuldades... Às vezes, um novo elemento lembra-nos um outro que, anos atrás, falhou a sua integração. E, preocupados, há quem duvide, quem alerte, quem queira intervir para evitar que seja seguido o mesmo caminho que levou a mau resultado. E há quem, embora alerta, embora atento, o deixe seguir o caminho que escolheu, limitando-se a avisar para o abismo que ao lado está, esperando que o avisado o evite e passe onde, antes dele, outros caíram.

A Maçonaria é um santuário de respeito pela individualidade e pelo indivíduo. Actua como e é uma Fraternidade, que trata os seus membros em plena Igualdade, mas reconhece-lhes inteira Liberdade. Nós não só aceitamos como prezamos a diferença. Porque é enriquecedora. Porque, quanto maior diversidade tiver o grupo, a Loja, mais forte e eficaz e adaptável ele é. Aquele cujas características durante algum tempo parecem pouco valiosas é o que, perante determinado escolho, conduz o grupo à sua ultrapassagem. Ninguém é indispensável nem insubstituível. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis - esta é uma das minhas frases preferidas. Mas também nenhum de nós pode ser dispensado, esquecido, deixado para para trás. É um dos nossos e ponto final! Se for preciso, carregamo-lo agora. Dia virá e que será ele que nos carregará a nós. É disto que se faz o cimento que une um grupo.

Portanto, o modo como cada um se faz maçon, como cada um evolui, como cada um cresce, é com cada um. Cabe ao grupo reconhecê-lo, respeitá-lo e ajudá-lo, sem o querer "formatar". Porque um maçon ou é informatável ou não é, de todo, maçon! E, se vai errar, a solução não é impedi-lo de errar. É, seguramente, avisá-lo que caminha para o erro. Mas, se persistir, temos o dever de o deixar fazer o seu caminho, mesmo que o pensemos errado, mesmo julgando que a sua velocidade é demasiada. Porque o que é errado para nós pode ser certo para ele. Porque o aviso feito pode ser útil para que, no momento asado, ele evite o desastre que tememos. Ou, simplesmente, porque todos temos direito a errar! Ponto é que saibamos assumir que errámos, sofrer as consequências do nosso erro e tirar as devidas conclusões! Afinal de contas, muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com mil lições... E, se o erro ocorrer, se o Irmão cair, o que temos de fazer é ajudá-lo a levantar-se. Cabe-lhe a ele lamber as feridas e ser capaz de prosseguir, desejavelmente com mais ponderação.

Concluindo: aquele que se junta a nós deve estar preparado e aceitar que necessita de respeitar e aproveitar o tempo, indispensável para a construção do seu Templo. E o grupo que o recebe deve ser inflexível na exigência do decurso do tempo necessário. Mas aquele que se junta a nós tem, como individualidade própria que é, o seu modo particular de aprender, de reagir, de crescer, de evoluir. Tem o direito ao seu modo. E cabe ao grupo descobrir que modo é esse, respeitá-lo e auxiliar na sua execução.

Ser maçon demora tempo, mas faz-se de muitos modos. Tantos quantos os maçons.

Rui Bandeira

24 junho 2008

A ORIGEM DOS CONFLITOS ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A MAÇONARIA

A Maçonaria, pode-se dizer, nasceu na Igreja Católica. Como construtores que eram, os maçons passavam longo tempo a construir catedrais e mosteiros.
Estes pedreiros, homens simples, ignorantes e rudes, recebiam, principalmente dos dominicanos, com quem viviam em estreito relacionamento, instrução e evangelização.
Além de ler e escrever, aprendiam a dar graças, a caridade e os princípios morais do cristianismo. Podemos crer que, nalguns ritos, a prece na abertura dos trabalhos e o tronco da viuva, seja resultado desta convivência.

Vejamos, então, como começaram os conflictos.

A Maçonaria como instituição associativa deu os seus primeiros passos em 1356, quando um grupo de pedreiros se dirigiu ao prefeito de Londres, e solicitou o registro da Associação de Pedreiros Livres.
Oficialmente registada e devidamente autorizada, os seus membros passaram a ter certos direitos e vantagens, tais como: Trânsito Livre, naquela época não se tinha a liberdade de viajar; Liberdade de reunião, naquele tempo era proibido, devido ao receio de conspirações e tramas contra os poderes constituídos; e a Isenção de impostos que obviamente agrada a qualquer um.

Pouco tempo depois, em 1455, Jonhann Gutemberg inventa a impressora com simbolos móveis, e é publicada a primeira Bíblia em latim. Assim, o evangelho passa a chegar mais facilmente a todas as camadas da população.
Quem lê, pensa mais e sabe mais. A história começava a mudar.

Em 1509 subiu ao trono da Inglaterra o rei Henrique VIII que, logo de seguida, se casa com Catarina de Aragão. Porém, mais tarde, apaixonado por Ana Bolena, contraria-se ao não obter do Papa o divórcio para casar com a sua amante. Após insistentes tentativas, revolta-se e simplesmente não reconhece a autoridade do Papa, fundando uma nova religião, a Anglicana.
Constitui-se como único protector e chefe supremo da Igreja e do clero de Inglaterra, acaba com o celibato dos padres e confisca os bens da Igreja.
Henrique VIII é excomungado, mas não se preocupa minimamente.
Com a morte de Henrique VIII em 1547, o trono foi ocupado por vários reis e rainhas até á chegada, em 1558, de Elizabete I que, como Rainha da Inglaterra, solidifica a Igreja Anglicana, como está, até aos dias de hoje. Durante o seu governo, a Inglaterra torna-se uma potência mundial e, embora não fosse um súbdito católico, por tudo que ela fez contra o catolicismo em geral, o Papa Pio V excomungou-a em 25 de fevereiro de 1570.

Até aqui, a Maçonaria continuava operativa. Não incomodava e nem era incomodada.

Em 1600, um facto aparentemente sem importância iria mudar os rumos da Maçonaria. É aceite o primeiro maçom especulativo, de que se tem noticia, Lord Jonh Boswel, um agricultor (plantava batatas). Foi o primeiro a ver vantagens em pertencer á Associação dos Pedreiros Livres.
Em 1646 é aceite outro especulativo, Elias Ashmole. A importância deste facto é que Ashmole era um intelectual, alquimista e rosacruz. Alguns autores atribuem-lhe a confecção dos Rituais do 1°, 2° e 3°grau, graças aos seus conhecimentos de Rosacruz.
As lojas proliferavam. Eram mistas ou só de especulativos.

Em 24 de junho de 1717 é fundada a Grande Loja de Londres e a partir daí a Maçonaria começou a expandir-se e a ser exportada para países vizinhos: Holanda em 1731; França e Florença em 1732; Milão e Genebra em 1736 e Alemanha em 1737.

Esta estranha sociedade secreta, que guarda segredo absoluto de tudo o que faz, constituída de nobres e aristocratas, começou a inquietar os poderes dominantes de cada país. O medo das tramas e subversões para derrubar o poder foi mais forte, e começaram as proibições.

Sem saber o que acontecia nas reuniões, sempre secretas, criou-se um alvoroço, e muitos governantes pediam providências ou soluções ao Papa. As alegações eram de que a sociedade admitia pessoas de todas as religiões; que era exigido aos seus membros segredo absoluto, sob severas penas, e que prestava obediência a um poder central de Londres. O que fazer?

Com o Papa Clemente XII doente, constantemente acamado, totalmente cego há 6 anos, rodeado de pessoas que lhe filtravam as informações e ainda sob a pressão dos governantes que exigiam providências e, também, dos inquisidores que exerciam a sua influência, o Papa assinou em 28 de abril de 1738 a Bula In Eminenti, selando assim o destino dos maçons católicos em especial, e da maçonaria em geral.

Esta Bula excomungava todos os maçons e afirmava que era bom exterminar essas reuniões clandestinas, pois, poderiam actuar contra o governo.

Bem, com a divulgação e publicação da Bula nos países católicos, foram-se desencadeando as proibições. Em França, o parlamento não a aprovou e por isso não foi promulgada. Sendo assim, em França, oficialmente, a Bula não entrou em vigor.

Nos Estados Pontifícios (Itália desunificada), cuja constituição administrativa era católica, todo o delito eclesiástico era castigado como delito político, e vice-versa. Infringir a religião era infringir a lei. Deu-se então uma verdadeira caçada á maçonaria e aos seus membros.

A inquisição, encarregada de executar as ordens papais torturou, matou e queimou inúmeros maçons e, logicamente, pessoas inocentes que eram confundidas com maçons.

Em 1800 foi eleito Pio VII, e durante o seu papado, surge Napoleão Bonaparte. Entre outros feitos, provocou a fuga da coroa portuguesa para o Brasil em 1808 e conquistou Roma, proclamando o fim do poder temporal do Papa mantendo-o preso no castelo de Fontainebleau.
Pio VII só recuperou parte de suas possessões, com a queda de Napoleão em 1815.

Nesta época, porém, o mundo já não era mais o mesmo.
Os ideais de libertação afloravam e iniciaram-se diversos movimentos pelo mundo, praticamente todos liderados por maçons, que conseguem a independência dos seus países.

Estados Unidos, 1783; França, 1789; Chile, 1812; Colômbia, 1821;Peru, Argentina e Brasil, 1822.

A maçonaria deixou então de ser simplesmente inconveniente e passou a ter mais ação, concreta e objetiva, e com isso recebia condenações mais veementes da Igreja.

Neste momento façamos uma pequena paragem. A maçonaria até aqui havia sido sempre condenada e perseguida por terceiros motivos. Até esse momento a Igreja Católica nunca tinha sido atingida diretamente pela influência maçônica.

O facto que realmente condenou a maçonaria pela Igreja Católica aconteceu no processo da reunificação da Itália. O trauma desse episódio não é esquecido até hoje por alguns sectores da Igreja.

A Itália, nesta época, era uma “Manta de Retalhos”, constituída por vários estados entre os quais os Estados Pontifícios, que correspondiam a aproximadamente 13,6% do total da Itália, ou seja, eram 41.000 Km², que pertenciam ao clero e localizavam-se na região central.

A população dos Estados Pontifícios não tinha acesso a nenhum cargo público, que era explorado pelo clero. Todos os funcionários públicos usavam o hábito.

O inconformismo e os movimentos de libertação começam em 1767, sendo os jesuítas expulsos de Nápoles.
Em 1797 é fundada a Carbonária, seita de caráter político independente da maçonaria, que tinha como objetivo principal a Unificação da Itália.

Pio VII em 1821, lança a Bula Ecclesiam A Jesu Christo condenando a atividade dos carbonários. A Carbonária tornou-se perigosa e prejudicial à maçonaria pois era confundida com esta. Os Carbonários tinham os seus aprendizes, mestres, grão-mestres, oradores, secretários, sinais, toques, palavras, juramentos e, é claro, segredos.

Os principais líderes Carbonários: Cavour, Mazzini e Garibaldi eram maçons, por isso, a Carbonária era muito confundida com a maçonaria, porém, diferenciavam-se pela origem, finalidade e actividades. Os carbonários matavam se fosse preciso.
Nos Estados Pontifícios explodiram grandes desordens. A insatisfação contra o clero, que não permitiam que os leigos ocupassem cargos administrativos, era grande.

Em 1848 o Papa Pio IX é obrigado a refugiar-se em Nápoles, devido á revolução, e lança após alguns meses a encíclica Quibus Quantisque, responsabilizando a Maçonaria pela usurpação dos Estados Pontifícios.

Em 1849 é proclamada por uma Assembléia a República em Roma. Nesse momento, Pio IX lançou cerca de 226 condenações contra a maçonaria. Ele e o seu sucessor, Leão XIII, lançaram cerca de 600 documentos de condenações.

Em 14 de maio de 1861, Vítor Manoel é proclamado Rei da Itália Unificada.

Como se vê, a Maçonaria estava condenada. Motivo? A Unificação da Itália... Ideal Carbonário.

Em 27 de maio de 1917 é promulgado por Bento XV, o primeiro Código de Direito Canônico, também chamado de Pio Beneditino onde se refere a Maçonaria da seguinte forma, no seu Cânon 2335:
“ Os que dão o seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem Ipso Facto, na excomunhão simplificter reservada à Sé Apostólica.”

E mais, recomendava noutros Cânones o seguinte:
Que as católicas não se casassem com maçons; que seriam privados de sepultura eclesiástica; privados da missa de exequias; não seriam admitidos em associações de fiéis; não poderiam ser padrinhos de casamento; não fariam a confirmação do baptismo (crisma); não teriam direito ao patronato, etc.

Os Sacramentos proibidos são: Baptismo, Eucaristia, Crisma, Penitência (confissão), Matrimónio, Ordenação Sacerdotal e a Unção dos Enfermos.

Para atender os anseios dos irmãos católicos, a Maçonaria criou o Ritual de adopção de Loutons, de apadrinhamento, Ritual de Pompas Fúnebres e o Ritual de confirmação de casamento.

Em 11 de fevereiro de 1929 foi criado o Estado do Vaticano pela assinatura do Tratado de Latrão, onde o poder Papal ficava restrito ao Vaticano com 44.000 m2 (anteriormente tinha 41.000 km2) e Pio XI reconhecia a posse política de Roma e dos Estados Pontifícios e afirmava a sua permanente neutralidade política e diplomática,etc.
Com o Tratado de Latrão assinado, encerra-se o processo da Unificação da Itália. O ideal Carbonário fora conseguido e a Carbonária desaparece logo após a Unificação da Itália.

Enfim, ficou o estigma da condenação.

Em 27 de novembro de 1983, já sob a autoridade do Papa João Paulo II, foi publicado um novo Código de Direito Canônico, que entrou imediatamente em vigor, reduzindo para 1752 os 2414 Cânons do antigo código.

O Código mais importante, referente á Franco-Maçonaria, é o 1374: “Aquele que se afilia a uma Associação que conspira contra a Igreja, deve ser punido com justa penalidade; e aqueles que promovem e dirigem estes tipos de Associações, entretanto, devem ser punidos com interdição”. Com isto, a maçonaria está legalmente e literalmente livre do estigma.

Entretanto, no mesmo dia, foi publicado uma Nota no jornal oficial do Vaticano, a Declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, que dizia:
“Permanece imutável o juízo negativo da Igreja perante as Associações Maçônicas, porque os seus princípios sempre foram considerados inconciliáveis com a Doutrina da Igreja, e por isso, a inscrição continua proibida. Os fiéis que pertencem às Associações Maçônicas estão em estado de PECADO GRAVE e não podem receber a SANTA COMUNHÃO.
Não compete às autoridades eclesiásticas locais, pronunciarem-se sobre a natureza das Associações Maçônicas com um juízo que implica na revogação do que é estabelecida”.

A publicação da Declaração foi mais uma acomodação política aos minoritários insatisfeitos, e pode-se dizer a contragosto do Papa. Afinal, ela afrontava uma decisão já tomada e aprovada, logicamente pela maioria de toda a Congregação reunida com a finalidade específica de renovação do Código.

Enfim, com a publicação no novo Código do Direito Canônico, e também da declaração da Congregação para a Doutrina da Fé, o que mudou na relação entre a Maçonaria e a Igreja Católica?

Mudou muito pouco em relação ao que se esperava, mas esse “muito pouco” é alguma coisa para quem não tinha nada. É uma esperança.

Paciência e esperança, essas são as palavras.

A pacificação total virá com certeza, mas não se pode ter pressa. Já foi um enorme passo a publicação do novo Código de Direito Canônico. Na medida em que, paulatinamente, as luzes se forem acendendo no entendimento de cada autoridade eclesiástica certamente novos horizontes surgirão.

Vimos, pela própria aprovação do Código do Direito Canônico, que a maioria do clero quer a pacificação, senão ele jamais seria aprovado, e é isto que deve acalentar as esperanças dos católicos, e até lhes dar confiança diante das vicissitudes.

Se o progresso é lento para a pacificação total, por outro lado, não há nada que justifique um retrocesso no futuro.

FÉ E VAMOS VER, MEUS IRMÃOS, A PAZ TOTAL VIRÁ.
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Texto, de autor desconhecido, adaptado e complementado para publicação neste blog.

JF - 2008

Do tempo, ...

Já aqui o mencionei. Fui iniciado na Alemanha, no último ano da década de oitenta do século passado. Não residia na Alemanha. À míngua de existência, na época, de Maçonaria Regular em Portugal, e aguardando a sua institucionalização aqui, optei por seguir o conselho do meu padrinho, um alemão que, na altura se encontrava em Portugal, e buscar a Luz numa Loja de língua espanhola de Bona, a Loja Miguel de Cervantes y Saavedra, minha Loja-mãe. Aí fui iniciado. Aí, cerca de um ano depois, fui passado a Companheiro. E foi como Companheiro que ingressei na Loja Mestre Affonso Domingues, pouco tempo depois da sua Consagração, em pleno período de reconhecimento internacional da emergente Maçonaria Regular em Portugal. Assim o decidi, assim o fiz. Mas paguei um preço. É esse preço que constitui o ponto de partida deste texto. Para que se entenda que todas as escolhas têm um preço. Também em Maçonaria. Talvez particularmente em Maçonaria.

O preço que eu paguei foi que não aprendi a ser maçon, o que era a Maçonaria, o que deveria ser e fazer e procurar, no tempo em que o deveria ter aprendido. O facto de ter sido iniciado na Alemanha e residir e trabalhar em Portugal e não poder deslocar-me regularmente à Alemanha, levou a que viesse a ser passado a Companheiro na terceira reunião da Loja em que participei. Leram bem: participei na sessão em que fui iniciado, participei numa outra, meses depois e, cerca de um ano depois da minha iniciação... interstício decorrido e ultrapassado, compareci a uma terceira sessão... para ser passado a Companheiro. Só em Portugal, e na Loja Mestre Affonso Domingues, vim a participar regular e assiduamente nos trabalhos da Loja.

O tempo de Aprendiz serve para isso mesmo: para aprender. Para aprender o que é ser maçon, o que é estar e integrar-se numa Loja, o simbolismo subjacente a tudo o que nos rodeia, o que se deve fazer, como se deve fazer, porque se deve fazer de uma maneira e não de outra. É um tempo de preparação e de início de mudança pessoal. Será complementado com o tempo e a actividade enquanto Companheiro. Para que, chegado a Mestre, se esteja habilitado a usar as ferramentas de beneficiação do nosso carácter que só devemos pousar quando a nossa meia-noite chegar.

Esse tempo não é apenas tempo. É trabalho. É presença em Loja. É observação. É meditação. É tentativa, erro e correcção. É um processo, quantas vezes não conscientemente notado, de mudança, de aperfeiçoamento.

Desse tempo, desse trabalho, não beneficiei. Não o utilizei um nem executei o outro. As circunstâncias foram o que foram. E eu aceitei-as. Mas paguei o preço. O preço que paguei foi que só considero que aprendi a ser maçon, a entender o que é e deve ser um maçon, a fazer o que deve ser feito, já era Mestre e bastante tempo depois de a tal grau ter sido elevado.

Isso teve uma única vantagem: aprendi naturalmente que o Mestre deve sempre continuar a ser e considerar-se um eterno Aprendiz, sem qualquer dificuldade, porque efectivamente fui um Aprendiz em avental de Mestre.

Mas esta opção que então fiz envolveu - compreendo-o hoje! - um enorme risco. O risco de nunca encontrar o caminho. De me perder e porventura levar a que outros se perdessem. O risco de não saber fazer, porque o fazer e, portanto, de nada de jeito aprender. Porque não estava preparado. Porque fazia coisas antes de tempo. Antes de realmente saber o seu significado. Não só com a cabeça. Também, e principalmente, com o coração e com o espírito.

A minha sorte terá porventura sido que, naquela época de organização e institucionalização da Maçonaria Regular em Portugal, tirando muito poucos, pouquíssimos, todos estavam a aprender. Em conjunto. Errando e tirando lições do erro. Não fui apenas eu. Outros foram - porque era imperioso que fossem! - Mestres antes do tempo. Temos hoje a consciência disso. Alguns - como eu - aprenderam e cresceram e evoluíram. Outros - mais do que nós gostaríamos que tivessem sido - ficaram pelo caminho. Nunca chegaram verdadeiramente a entender o que é ser maçon, por muitos aventais bonitos e graus e títulos que porventura tivessem ostentado. Esse foi um preço que teve que ser pago.

Mas esse é um preço que nós, os que tivemos a honra de ser pioneiros, não queremos que aqueles que agora se juntam a nós paguem. Porque não precisam. Porque eles têm tempo. O tempo que nós não tivemos e que, felizmente, os que conseguiram passar o cabo da "aprendizagem em movimento", trabalharam e trabalham para que os que agora se nos juntam tenham.

Por isso, a minha mais insistente recomendação aos Aprendizes da minha Loja é que não tenham pressa. Que dêem tempo ao tempo. Que trabalhem, que se integrem, que meditem, sempre sem pressa. A Maçonaria não é uma ciência. Nem uma filosofia. É um estilo de vida. Que, mais do que se aprender ou se seguir, se entranha no maçon. Quase que por osmose. O importante é estar, estar atento, estar disponível. Um dia, quase que sem darmos por isso, tudo começa a encaixar, tudo faz sentido. Então, entende-se que a Ética do maçon só poderia ser a que é. Que o nosso comportamento é o que deve ser. E não se faz esforço nenhum para se ser melhor. Naturalmente, tornamo-nos melhores. Como uma criança cresce, assim crescem os maçons. Porque ética e espiritualmente crescem. Como uma criança precisa de tempo para crescer, assim dele também os maçons necessitam.

Tempo. Talvez, bem vistas as coisas, o bem mais precioso de que dispomos. Não tenhamos pressa de o gastar. Não o vejamos como um empecilho. Que todos e cada um dos Aprendizes saibam aproveitar e usar o seu tempo enquanto tais. Demorará talvez muito até o compreender, mas um dia será possível entender que não foi um tempo desperdiçado.

Rui Bandeira