16 janeiro 2008

Mais Memoria de Loja

Tem sido designio do actual Veneravel Mestre que se compile o espolio da Loja e que se faça a História da Loja.
Ha dois dias fui finalmente ao sitio onde tinha guardado todo o espolio que tinha na minha posse e tirei-lhe a poeira.
Muita coisa ja entreguei ao arquivista, mas alguns documentos estão ainda na minha posse. São documentos relativos às reuniões de discussao sobre o futuro da Loja aquando da cisão de 1996.
Sobre este assunto já falei, mas depois de reler os documentos comecei a digitalizar alguns. E se uns permitem a utilizaçao de OCR e pude passa-los a ficheiros de textos outros ficarao ficheiros de imagem.
Porque estes textos têm, na minha opinião, valor historico suficiente para serem publicados, mas sobretudo porque mesmo passados 11 anos ainda estao actuais decidi começar a publicaçao aqui mesmo.
Alguns deles, por serem manuscritos terei que os passar para ficheiro e isso levará tempo mas... valerá a pena.
O texto de hoje é a minha alocução inicial proferida em 18 Janeiro de 1997 no Hotel Plaza em Lisboa, perante cerca de 40 membros da Loja Mestre Affonso Domingues, ali reunidos para decidirem sobre o futuro da LOja.


ALocuçao Inicial
Rudes golpes atingiram esta casa, a fraternidade não imperou e o diálogo ou não existiu ou foi transformado em monologo.

Foram ditas e feitas coisas indignas de um Maçon, que queira ser digno desse nome.

Em nome de uma bandeira chamada regularidade esconderam-se seguramente os verdadeiros motivos que levaram os actuantes a fazer o que bem conhecemos.

Regularidade: Conceito esquisito
Regularidade: Aquilo que todos reclamam ter
Regularidade: Bandeira para guerras santas
Regularidade: Simplesmente a crença no GADU , a não discussão de política ou religião entre nós, o respeito pelos Landmarks e pelas constituições de Andersen.

Não sei qual das definições preferem, eu opto pela ultima.

Os protagonistas da crise esqueceram-se destes princípios, pois segundo a minha opinião esqueceram-se do GADU, envolveram-se em questões de ordem política , revelaram identidades seja explicita ou implicitamente, usaram da força

A cobiça dos Homens substituiu a sabedoria da tradição alicerçada nos landmarks . O homem quis ser Deus.

As paixões sobrepuseram-se às virtudes. Perverteu-se a Maçonaria.

Rudes golpes para atordoar, para ferir, para matar.


Quem é o responsável ?

Uns dizem Fernando Teixeira
Outros dizem Luís Nandim de Carvalho
Outros ainda afirmam que foram os dois e seus acólitos
Eu digo-vos NÓS.

Nós II, Nós Lojas, Nós Indivíduos.

Nós porque não fomos capazes de prever, antecipar e consequentemente evitar.

Nós Lojas nunca quisemos o poder por pensarmos que tínhamos coisas mais importantes para fazer.

Virámo-nos para dentro esquecendo o exterior.

Por nossa não actuação pagamos agora a factura. Factura que é elevada demais para as nossas posses.

Podemos argumentar, não não temos culpa, não destituímos ninguém, não fomos para a imprensa, não.

É verdade. Mas isso não impede que a factura nos seja dirigida.

Como Aconteceu?

Uns dizem que o início da crise foi há muito tempo, outros que foi apenas há umas semanas atrás.
Provavelmente têm todos razão ou não tem nenhum.

Como aconteceu também não é importante.


O que aconteceu?

Falar do sucedido sem tecer juízos de valor é difícil.
Sabem todos que o dom da palavra não tenho, o da pena julgarão depois de me ouvirem.

Tentarei citar factos, se porventura incorrer em algum juízo de valor é porque talvez não fosse possível descrever o facto tal qual aconteceu, ou porque também sou humano, embora a tendência seja de considerar o VM extra-humano pois falhas não lhe são normalmente admitidas.

Cingir-me-ei aos factos mais marcantes.

Segunda-feira, 25 Nov. 1996

É posto a circular um documento do tipo abaixo assinado que promove a destituição do Grão Mestre Luís Nandim de Carvalho.
Nunca vi este documento na sua forma original, mas informações recebidas de II em quem deposito a máxima confiança garantem a existência do mesmo nesta data.


Sexta-feira, 29 Nov. 1996

Publicação de um artigo no jornal” A Capital” referenciando esse mesmo movimento e incluindo uma fotografia de LNC e outros II durante o juramento prestado pelo
primeiro em sessão de GL de 28 Setembro de 1996 , aquando da sua instalação enquanto GM


Sábado 7 Dez 1996

Um grupo de IIocupa a sede da GLRP em Cascais, autodenominando-se governo interino.

Foram as suas acções seguintes a destituição do Grão Mestre LNC, do SCO ( nota introduzida – Soberano Colégio de Oficiais órgão deliberativo à época) , nomeação de novo SCO e envio de um comunicado à imprensa.
( permitam-me agora uma interrogação. Teria sido absolutamente necessário recorrer a forças de segurança privadas? )


Domingo 8 Dez 1996

Reunião de informação e debate promovida por LNC nas instalações da Associação Cultural Albert Pike, onde também funciona o Templo dos Altos Graus do REAA. Para este efeito a sala foi despojada de todos os adornos Maçónicos do REAA e as cadeiras dispostas em plateia.
Desta reunião saiu nomeado um secretariado de crise.


Segunda-Feira 9 Dez 1996

Reunião do SCO nomeado no dia 7, em Cascais , com o objectivo de ratificar as decisões tomadas no Sábado anterior.

Ratificação essa que segundo as minhas informações foi unânime entre os presentes.


Dias 7 - 8 - 9 - e seguintes


Profusão de comunicados e artigos na imprensa e na TV.

Todos os actos posteriores são consequência destes referidos e sobre eles não falarei, mas incluíram reuniões de VM, sessões de G.Loja, reuniões de SCO, reuniões várias. Decretos, Decretos anti-Decretos e Decretos anti-Decretos anti- Decretos.

E não falarei pelo seguinte:

Dos factos que relatei apenas um contou com a minha presença, sobre os demais recebi relatos de fontes de confiança como já referi.

Dos posteriores não vos falo, como disse acima, porque tudo o que sei deles foi o que ouvi a terceiros. Não estive presente em qualquer deles com o fito único de não comprometer a Loja que dirijo e que nos pertence.

Fi-lo na esperança que o GADU incutisse bom senso onde faltava e os II apertassem as mãos retomando a Cadeia de União.

Até hoje, isso não aconteceu e tanto quanto sei os caminhos divergem.


Outros acontecimentos dignos de registo

Tentei honestamente promover dialogo. As portas não se abriram.

Tentei conjuntamente com alguns II incutir bom senso nas bases, isto é nas Lojas. Não sei se tive sucesso.

Outras Lojas tentaram promover a conciliação. Não tiveram Sucesso.

Pergunto-vos

O que aconteceu à Tolerância?
O que aconteceu à Fraternidade ?
O que aconteceu ao Amor Maçónico?
O que aconteceu .....

Será que temos que rescrever o catecismo do grau de Aprendiz e à pergunta


DE ONDE VENS MEU IRMÃO ?

a resposta passe a ser

DE UMA LOJA DE TREVAS

Volto a dizer-vos as Paixões sobrepuseram-se à virtude.

Quando fui eleito para este cargo confidenciei àqueles que escolhi para oficiais desta Loja que pretendia apenas continuar o trabalho iniciado anteriormente, e que tentaríamos manter a nossa Loja em posição de relevo Maçónico mas sem sobressaltos exteriores.

Era só o que eu queria, e depois de acabar o mandato passar o malhete ao I que fosse eleito, acompanhá-lo com conselho se fosse pedido, para posteriormente ser GIe finalmente ocupar um lugar nas colunas, em posição cómoda e seguramente menos trabalhosa.

Foi um bom sonho, até porque o se tinha começado a concretizar. Acordei num pesadelo que infelizmente não o é por ser real.

Não gosto de conflitos, são normalmente desgastantes e consomem muito tempo.

Ninguém ganha uma guerra. E quem disser que ganhou é tolo. Com certeza não contabilizou os seus custos, excepto claro se o conceito de ganhar for “ganha o que ficar de pé” e então não é tolo é muito tolo para mais não dizer.

Tenho consciência que entre nós, obreiros desta Loja, existem múltiplas posições, algumas declaradamente assumidas, outras apenas assumidas, outras por assumir.

É minha esperança que nesta casa de tradição a não união não signifique a desunião e que o confronto de opiniões não seja uma guerra.

Respeito, como aliás sempre respeitei as posições de cada um enquanto indivíduo, e logo exercendo a sua prerrogativa de livre arbítrio.

Espero que a minha posição enquanto indivíduo seja respeitada, aquando do seu anuncio formal, ou seja se a concórdia não for possível.

A minha posição enquanto VM obriga-me à total imparcialidade e à luta pela paz e concórdia entre os II .

Durante este período , pareceu-me que a melhor política era a de deixar a poeira assentar. Não tomei, portanto, qualquer posição publica que pudesse comprometer a Loja Affonso Domingues.

Infelizmente até numa Loja em que a tradição tem um peso de respeito, em que entre os Irmãos constam ou constaram gentes vindas de muitos países, de várias confissões religiosas, cores e opiniões políticas, que permitiu chegar até hoje sem mácula, a divisão teima em aparecer.

Estou desgostoso porque esta divisão é causada por razões e motivos intra­Obediência.

Somos Fortes para fora e fracos do lado de dentro.

Foi-nos dado a acreditar que sendo respeitados e reconhecidos pelos países A; B; C; etc. o nosso futuro estava assegurado.

Pobre arquitecto que desenha uma cúpula de Prata e uma fundação de papelão.

Pobre do seu segundo que não o chamou à realidade.

E por fim pobres de nós que apanhamos com o tecto na cabeça.

Disse-vos já que os responsáveis da crise tínhamos sido nós.

Talvez não seja tanto assim.

Não vou assacar responsabilidades a A ou B nem dizer-vos que são todos farinha do mesmo saco.

Mas é obvio que a História um dia atribuirá responsabilidades, nós saberemos então de quem foi a culpa.

Até a Historia nos informar sobre quem foram os responsáveis, teremos que tomar uma posição enquanto indivíduos e enquanto Loja.

Eu pessoalmente preferiria que a Loja decidisse por se manter unida na procura da união entre os II

Não sou no entanto D. Quixote e saberei quando desistir.

Antes de concluir e consequentemente passar a palavra peço-vos encarecidamente que se lembrem dos seguintes conceitos:

- Respeito
- Tolerância
- Educação
- Decoro
- Amor

O debate é aberto a todos os presentes.
Que o GADUilumine os trabalhos que se vão seguir.

Lisboa, 18 de Janeiro de 5997


Após esta alocuçao decorreram quase 8 horas de debate em dois dias.
Ficam para publicaçao breve e para vos aguçar o apetite:
As propostas entradas ; os resultados das votaçoes ; As propostas que estavam preparadas mas que nao entraram; O discurso final.

José Ruah
Afastado mas sempre por perto !

15 janeiro 2008

A Maçonaria X Ambiente

Estive estes últimos dias completamente fora do A-Partir-Pedra (claro, já sei que bem podia continuar, obrigado !) mas como o tema Maçonaria versus Ambiente se mantém resolvi incluir mais um apontamento.
De facto tenho mais algumas coisas que gostaria de preparar para ajudar à discussão, mas as coisas têm estado demasiadamente animadas cá pró meu lado, fazendo com que não tenha tido nem disposição, nem concentração, para acompanhar os nossos queridos colaborantes blogueiros (o Rui, o Bandeira, o R.Bandeira, o RB, … uma data deles!).

Entretanto apanhei alguns vídeos sobre a participação dos Maçons brasileiros na defesa da Amazónia.

A Maçonaria Regular do Brasil, organizada sob o Grande Oriente do Brasil não é de capinar sentada no que se refere à participação política e todos os dias recebo notícias sobre intervenções do GOB e/ou de Lojas estaduais (como eles dizem) em assembleias, comissões de estudo, participação em iniciativas legislativas, sendo que na maioria dos casos a participação é por convite como conselheiros.

As iniciativas de carácter filantrópico são mais que muitas, no ensino, na saúde, no apoio social de toda a ordem sendo responsáveis pela recuperação e manutenção de muitas pequenas povoações onde a vida seria degradante, não fosse a intervenção daqueles nossos Irmãos organizando e mantendo escolas, postos de saúde, pequenas indústrias e pólos de desenvolvimento artesanal.

A intervenção na defesa da Amazónia, que os vídeos retratam, tem uma face de defesa ambiental mas tem, também, uma clara e confessada faceta de defesa da independência territorial.
Para nós e para o tema presente interessa-me a luta declarada pela manutenção da selva amazónica, pulmão de um mundo que está com uma tosse cada vez mais cavernosa e com os pulmões todos infectados.
Vamos a ver se este “antibiótico” ainda vai a tempo.

JPSetúbal

14 janeiro 2008

MAÇONARIA E AMBIENTE: O paradigma do Valor

Para se trocar um bem por outro, há que calcular quanto vale cada um. Para facilitar o processo de troca, criou-se a moeda. A moeda é a referência do valor de todos os bens. A moeda, a troca, o mercado são os pés do tripé que sustenta a economia global.

Mas não é a moeda que estabelece o valor de um bem. É suposto que uma dada quantidade de moeda represente o valor de um bem. O Valor dos bens é intrínseco e logicamente anterior à sua expressão monetária.

O problema é que a nossa Civilização criou um paradigma de Valor que não é perfeito. O paradigma do valor que estabelecemos respeita à QUANTIDADE de algo que nele está inserido: quantidade de matéria, quantidade de trabalho nele introduzida, quantidade de custos necessários para o produzir e comercializar. Exemplificando: o valor de uma jarra corresponde ao valor da quantidade de material de que ela é composta, mais o valor do trabalho necessário para a fabricar, mais os custos de produção e comercialização da mesma (lucro dos diversos intervenientes no processo incluído). Por sua vez, o valor do material que compõe a jarra depende do valor unitário que é atribuído à respectiva substância: o ouro vale mais do que a prata, esta mais do que o cristal e este mais do que o vidro. Mais uma vez, a atribuição deste valor intrínseco depende da QUANTIDADE do material disponível. Há menos ouro do que prata, daí que aquele valha mais do que esta; o cristal incorpora mais substâncias (chumbo, designadamente) que o vidro e, portanto vale mais do que este, mas pode-se fabricar muito mais quantidade de cristal do que é possível obter de prata e muitíssimo mais do que existe de ouro, daí que o cristal valha menos do que a prata e muito menos do que o ouro.

Toda a economia se baseia no conceito de valor e o paradigma deste presta tributo essencialmente à QUANTIDADE, não tanto à QUALIDADE.

Mesmo nos campos em que aparentemente o valor das coisas depende da sua qualidade, se analisarmos bem, assim não é. O quadro dos Girassóis de Van Gogh vale o preço absurdo que vale não propriamente pela sua qualidade intrínseca, mas pela raridade de telas pintadas por Van Gogh e pela enorme desproporção entre a quantidade de pessoas que gostaria de ser proprietária desse quadro (eu incluído!) e o número de exemplares do mesmo: UM! Mas, se fosse apenas uma questão da QUALIDADE da imagem, então não se justificaria a enormíssima diferença de valor entre o original, cópias e reproduções...

Similarmente, assim se entende porque, quando morre um pintor famoso, aumenta exponencialmente o valor dos seus trabalhos. É que, enquanto o artista está vivo, pode continuar a produzir trabalhos e não se sabe quantos mais irá criar; quando morre, fica certo o número exacto de obras que produziu, que será sempre inferior ao número de pessoas que gostaria de possuir uma dessas obras. E, previsivelmente, no futuro, ocorrerá o fenómeno inverso: aumentará o número dos que almejam a possuir uma obra do artista e o número destas só pode variar no sentido da diminuição, na medida em que ocorra a destruição de algum trabalho. A QUANTIDADE de potenciais compradores é superior e aumenta; a QUANTIDADE de obras é inferior e é estável ou diminui; o VALOR das obras aumenta!

Ao basear-se o paradigma do Valor na QUANTIDADE, negligencia-se na incorporação do valor dos bens elementos que vamos colectivamente verificando que deveriam ser considerados. Qual a sustentabilidade, em termos ambientais, da produção desse bem? Quais os custos, em termos de poluição, de gasto energético, de biodiversidade, de..., de..., de..., que a produção e comercialização desse bem acarreta?

Ou, por outra via: QUANTO VALE O AR PURO?

Nem o valor do ar puro, nem o da biodiversidade, nem o da sustentabilidade energética, nem, de forma geral, os componentes, eminentemente QUALITATIVOS, dos valores ambientais incorporam o paradigma do Valor dos bens.

Para bem da saúde ambiental do planeta, convém que o paradigma do Valor mude, de forma a incorporar também estes elementos.

Também aqui a Maçonaria e os maçons podem ajudar. Os maçons interessam-se precisamente por temas e assuntos e matérias que não têm valor económico, mas apenas racional, moral ou espiritual. E prezam muito estes valores. E estão habituados a ponderá-los em todos os actos da sua vida. E devem procurar transmiti-los aos demais membros da Sociedade e, por essa via, contribuir para a melhoria desta. É também tempo de nos habituarmos a considerar também os valores ambientais, a apreciá-los, a ponderá-los em todos os actos da nossa vida, em transmiti-los aos outros membros da Sociedade.

Por essa via, ajudaremos à necessária mudança do paradigma do Valor. E esta mudança será uma das mais profundas que a Humanidade conseguirá. E vale um tesouro incalculável: a sobrevivência das espécies - no limite, a sobrevivência da NOSSA ESPÉCIE - em ambiente saudável e equilibrado.

Claro, um tesouro QUALITATIVAMENTE muito valioso! Mas, em bom rigor, só poderemos determinar exactamente quanto depois da mudança do paradigma do Valor...

Rui Bandeira

11 janeiro 2008

Fácil X Difícil


Mais um texto aparentemente ligeirinho, que recebi através do correio electrónico. Mas, meus caros, sendo ligeirinho, ligeirinho, vale a pena meditar no que nele está escrito (o que é fácil) e, sobretudo, levar à prática as nossas conclusões (o que é mais difícil).

Fácil é ocupar um lugar na agenda telefónica;

Difícil é ocupar o coração de alguém.

Fácil é julgar os erros dos outros;

Difícil é reconhecer os nossos próprios erros.

Fácil é ferir quem nos ama;

Difícil é curar essa ferida.

Fácil é perdoar aos outros;

Difícil é pedir perdão

Fácil é exibir a vitória;

Difícil é assumir a derrota com dignidade.

Fácil é sonhar todas as noites;

Difícil é lutar por um sonho.

Fácil é rezar todas as noites;

Difícil é encontrar Deus nas pequenas coisas.

Fácil é dizer que amamos;

Difícil é demonstrá-lo todos os dias.

Fácil é receber;

Difícil é dar.

Fácil é criticar os outros;

Difícil é melhorar-nos a nós mesmos;

Fácil é pensar em melhorar;

Difícil é deixar de pensar e realmente fazê-lo!

Ser maçon é partir do fácil e procurar fazer o difícil.

Rui Bandeira

10 janeiro 2008

Procuram-se Anjos da Guarda

Li no jornal electrónico A Tribuna on line, do litoral Estado de São Paulo, Brasil, que a estrutura da região litoral de São Paulo da Ordem DeMolay, organização juvenil apoiada pela Maçonaria, tem em curso, de hoje até domingo, uma campanha de angariação e registo de potenciais dadores de medula óssea, nos municípios de Santos, Praia Grande e São Vicente.

Na Praia Grande, funcionarão dois postos de registo, um na Praia do Boqueirão, que funcionará entre as 9 e as 17 horas, e o outro no Litoral Plaza Shopping, aberto entre as 10 e as 18 horas. Neste último ponto de registo, estará presente, no sábado, a partir das 12 horas, o saxofonista Caio Mesquita, disponível para dar autógrafos... mas apenas a quem se registar como dador de medula!

Em Santos, o posto de recolha funcionará, das 9 às 17 horas, na Praça das Bandeiras: ao lado do Bonde Turístico, na Praia do Gonzaga.

Em São Vicente, o centro de recolha funcionará, no mesmo horário, no Ilha Porchat Clube, sito na Alameda Paulo Gonçalves, n.º 61.

Com o nome Procuram-se Anjos da Guarda, a campanha é organizada em parceria com o Hospital de Câncer (HC) de Barretos. Mais de 60 médicos e enfermeiros, da Fundação Pio XII, gestora do HC, vão cadastrar o tipo sanguíneo de quem quiser ajudar, destinando-se os elementos recolhidos a integrar o Registro Nacional de Doadores de Medula Óssea (Redome), do Brasil. As amostras de sangue são encaminhadas para o Instituto Nacional do Câncer (Inca), localizado no Rio de Janeiro, onde serão submetidas a testes de compatibilidade. Os dados permanecerão à disposição num banco de dados e o doador só será chamado quando houver necessidade.


Refere-se na notícia do Tribuna on line que, actualmente, no Brasil, as probabilidades de se encontrar um doador compatível com os pacientes são de uma em 100 mil. Nos casos mais graves, essa probabilidade diminui e passa para uma num milhão.


Segundo o organizador da campanha na região, o DeMolay Reynaldo de Faria Júnior, a expectativa é atrair 6 mil pessoas nos quatro postos.


Para se registar no Redome, o interessado deve ter entre 18 e 55 anos de idade e estar de boa saúde. As únicas restrições são para os portadores de doenças infecciosas, SIDA (AIDS) e cancro (câncer).


Para efectuar o registo, os técnicos colhem pequena quantidade de sangue e preenchem uma ficha com os dados pessoais do doador, num procedimento simples que dura, no máximo, 20 minutos.


Vindo a ocorrer compatibilidade entre um dador de medula óssea e um doente necessitado de transplante da mesma, a colheita da medula para transplante é um procedimento que não causa danos à saúde, uma vez que a medula se regenera, permitindo, inclusive, novas doações. O transplante é uma forma de tratamento para doenças malignas que afectam as células do sangue, designadamente leucemias.


O A Partir Pedra tem todo o gosto em aqui divulgar esta iniciativa e apela aos nossos leitores da zona litoral do Estado de São Paulo, que estejam em condições de saúde para o efeito, que gastem muito bem gastos vinte minutos do vosso tempo a efectuar o registo como dadores de medula óssea. Todos ganham. Quanto mais dadores houver registados, maiores são as probabilidades de ser encontrado dador compatível para quem só com um transplante de medula óssea pode ser salvo da morte. Um dia, pode ser um parente vosso a ser salvo, graças à solidariedade de um qualquer desconhecido!


E esta campanha no litoral do Estado de São Paulo bem pode servir de pretexto e lembrança também para quem reside noutros pontos do globo. Leitores de outras regiões do Brasil: aproveitem, por favor, a lembrança e vão ao sítio do REDOME e vejam aí onde se podem registar como dadores de medula óssea. Leitores de Portugal, para vós é ainda mais fácil: olhem para o lado direito do blogue, na secção de Atalhos e sigam o atalho Banco de Medula / Centro de Transplantes que nós temos permanentemente à vossa disposição. O primeiro passo está dado. Façam o favor de dar o seguinte... Leitores de outras zonas do globo: informem-se onde e como podem, na vossa região, inscrever-se como dadores de medula.


Solidariedade não é apenas uma palavra. É, sobretudo, acto. E nem sequer precisa de ser muito difícil ou grandioso. O pequeno gesto, o leve incómodo, da inscrição como dador de medula é fácil, é barato e insere-o numa cadeia de solidariedade que, quantos mais milhões de elos tiver, mais vidas salvará.


Rui Bandeira

09 janeiro 2008

Vamos poupar energia...


O “e = mc2” já está passado, mas foi durante muitos anos a bandeira dos físicos. Constituiu a enorme descoberta de uma relação matemática entre “energia” e “matéria”, relação que já se sabia que existia muito antes mas não estabelecida e provada matematicamente. Foi esse o enorme passo que Einstein deu.

Entretanto aqui, no A-Partir-Pedra, o tema foi base de um encontro, mais um, de textos esclarecidos e esclarecedores e ao qual quero dar uma achega, isto é, não resisto a meter a colherada.

- É da maior importância a discussão sobre o ambiente e a sua manutenção;
- É muito importante trazer a ‘campo descoberto’ o relacionamento, ou o possível relacionamento, com a atitude maçónica;
- É da discussão que nasce a luz (?) já diziam os meus avós, e eu posso constatar que da discussão nascem as ideias, as coisas novas, as melhores e mais importantes descobertas.
Então se é assim só posso apoiar esta “discussão” !

O consumo de energia e respectiva produção estão directamente relacionados com o equilíbrio do sistema ecológico, mas também a forma como essa energia é consumida e é produzida.
Isto é, o problema não está apenas nos actos do consumo e da produção, mas está também na maneira como se faz esse consumo e essa produção, porque é possível fazer a produção de forma menos agressiva, tal como é possível fazer o consumo mais criterioso, obtendo melhor rendimento daquilo que se gasta.
E, de facto, não há produção de energia sem transformação de matéria.
Diz o nosso Caro “Simple” (a partir de Lavoisier) “… que tudo se transforma” !
Muito bem, é ainda uma quase verdade na época em que estamos.
É que a transformação da energia em matéria, que significaria a sua reciclagem (m = c2/e) exigiria o controlo do “c”, e aí estamos tramados, por enquanto.
Algum dia será, mas agora ainda não.
Algumas teorias dizem que algum dia foi assim, o “big bang” teria sido isso mesmo, mas por agora está fora do nosso controlo.
O homem ainda não conseguiu o seu “bang”, nem grande nem pequeno.
No dia em que isso for conseguido acabam as companhias aéreas e passamos a movimentar-mo-nos por transmutação da matéria.
A questão é que a transformação da matéria em energia (o nosso querido corpinho a ir-se num sopro) já se faz de forma… assim, assim, ali vai ele num fio de cobre ou numa radiação electro-magnética qualquer.
A inversa é que… (a tal equação com a incógnita trocada m = c2 / e )
Entramos numa “espécie de cabine telefónica” e vamos parar, num momento, numa outra “espécie de cabine telefónica” do outro lado do mundo !
Já pensaram o que se vai poupar em transporte ?
Vejam o IC19 sem filas de automóveis… O pessoal passa todo a deslocar-se por transmutação ! Vai ser sensacional !
Só um aspecto me preocupa. O que acontecerá quando no meio da minha viagem houver um apagão ?
Do outro lado, na tal “espécie de cabine telefónica” de chegada irá sair assim como que uma espécie de JPS.
Por acaso esta ideia não me entusiasma !

Mas regressando à conservação do Ambiente…

Diz o Rui que relacionar Maçonaria e Ambiente é como que fazer a quadratura do círculo…
Mas então a Maçonaria não tem o Homem como preocupação central ?
E o objectivo não é a sua melhoria, espiritual (claramente) mas física também ?
E como melhorar a condição humana deixando degradar o ambiente de vida ?
Correndo o risco do “impossível” que é “quadratar” o círculo, afirmo que a Maçonaria se relaciona com o ambiente, sim !

Ao Maçon compete-lhe, também, preservar o sistema ecológico sem o qual o animal humano ficará em risco de sobrevivência.
A questão poderá mesmo chegar ao ponto em que o Homem tenha de escolher entre o sobreviver e o continuar a viver com as suas comodidades (o que poderá significar acabar com a espécie).
E se… qual vai ser a decisão ?
Se o leitor decide manter o seu status-quo actual… é bom que encomende já a urna porque na altura poderá não haver madeira para tal !
Se o leitor decide sobreviver, então comece já a poupar. Talvez consiga ainda evitar a dispensa de algumas das mordomias que tem e que terá de abandonar.

E a Maçonaria tem a ver com isso, tem mesmo !
JPSetúbal

08 janeiro 2008

Prancha

Na Antiguidade, a especialização era muito menor. O Mestre Construtor era uma mistura de arquitecto, mestre de obras, engenheiro, paisagista, decorador de interiores, canteiro, escultor, metalúrgico, enfim, parte daquilo que as nossas mulheres ainda hoje pretendem que nós sejamos lá em casa...

Na Idade Média e no Renascimento, as corporações de construtores em pedra também tinham estruturas (Lojas) dirigidas por Mestres construtores, que exerciam as funções de arquitecto, engenheiro e director de obra, além de assegurar também as de gestor e formador.

Como hoje, a construção de uma edificação que ultrapassasse a rusticidade implicava a prévia laboração de um mais ou menos complexo e detalhado projecto. O desenho desse projecto era, na falta de papel, executado em material durável, transportável, leve, que se transportava enrolado e que se consultava estendido sobre e preso a uma prancha de madeira. Mesmo a própria acção de desenhar o projecto era efectuada com o suporte do desenho colocado sobre e preso a uma prancha. Ali se desenhavam os planos da obra, ou, utilizando a linguagem da época, se traçavam os planos. E a prancha sobre a qual os planos eram traçados era denominada, naturalmente, a prancha de traçar.

A prancha de traçar era, pois, um indispensável instrumento do Mestre Construtor e o símbolo da sua actividade. Era o Mestre quem traçava, não os restantes operários da construção, pelo que a prancha de traçar era o instrumento do Mestre. Sempre que era preciso detalhar qualquer aspecto da obra, desenvolver qualquer solução, o Mestre ia à prancha traçar o trabalho.

A língua evolui. Uma mera questão de tempo mediou a passagem entre a expressão “ir à prancha” (traçar um projecto, desenhar um detalhe) e “fazer uma prancha”. E, quando se faz uma prancha, então a “prancha” é o trabalho feito.

A Maçonaria Especulativa herdou e desenvolveu as tradições vindas da Maçonaria Operativa, das Corporações de Construtores. Assim, na Maçonaria Especulativa o instrumento próprio do Mestre Maçon é a prancha de traçar. E o trabalho que o Mestre maçon executa e apresenta em Loja é uma “prancha traçada”. Abreviadamente, uma “prancha”.

Mas, embora sejam os Mestres quem tem a obrigação de zelar pela formação de todos os obreiros (incluindo a dos outros Mestres e a deles próprios, pois um Mestre maçon deve considerar-se um eterno aprendiz), não são só os Mestres quem apresentam trabalhos em Loja. Companheiros e Aprendizes também o fazem, como demonstração dos seus progressos na Arte Real. Todo o trabalho apresentado em Loja se denomina uma prancha. E é irrelevante para essa denominação a natureza do trabalho: pode ser um texto ou uma obra de arte, uma música ou uma peça em pedra. O que importa é que se trate de um trabalho de um maçon para maçons, que se destine a testemunhar ou a colaborar no aperfeiçoamento individual ou colectivo.

Pode ser sobre matéria de exposição ou interpretação simbólica, pode ser uma reflexão filosófica, uma manifestação artística, uma exposição científica ou uma mera divulgação factual. Feita por maçon para maçons e apresentada em Loja é uma prancha.

Rui Bandeira