14 maio 2007

Gomes Freire de Andrade

No texto Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre, menciono os nomes das cinco Lojas com a numeração de 1 a 5 da GLLP/GLRP. Dessas, uma foi dedicada a um maçon patriota e mártir: Gomes Freire de Andrade.

Gomes Freire de Andrade nasceu em Viena de Áustria em 27 de Janeiro de 1757 e passou ao Oriente Eterno executado no Forte de S. Julião da Barra, em 18 de Outubro de 1817.

Era filho de Ambrósio Freire de Andrade, embaixador de Portugal, e de uma senhora, condessa de Schafgoche, vinda de antiga e ilustre família da Boémia.

Teve a educação que na época se costumava dar aos filhos da nobreza. Destinado à carreira militar, assentou praça de cadete no regimento de Peniche, sendo em 1772 promovido a alferes. Passou à Armada Real, embarcando em 1784 na esquadra que foi auxiliar as forças navais espanholas no bombardeamento de Argel.

Regressou a Lisboa em Setembro, promovido a tenente do mar da Armada Real, e em Abril de 1788 voltou ao antigo regimento no posto de sargento-mor. Tendo alcançado licença para servir no exército de Catarina II, em guerra contra a Turquia, partiu para a Rússia. Em São Petersburgo conquistou as maiores simpatias na corte e da própria imperatriz. Na campanha de 1788-1789, comandada pelo príncipe Potemkin, distinguiu-se nas planícies do Danúbio, na Crimeia e sobretudo no cerco de Oczakow, sendo o primeiro a entrar na frente do regimento quando a praça se rendeu em 17 de Outubro de 1788, depois de cerco prolongado. Praticou muitos actos de bravura, sendo aos 26 anos recompensado com o posto de Coronel do exército da imperatriz, que em 1790 lhe foi confirmado no exército português, mesmo ausente.

Em 1816 foi eleito Grão-Mestre da Maçonaria portuguesa e tornou-se a «alma» de uma conspiração liberal contra o Marechal Beresford, oficial que administrava Portugal sob mão de ferro, como se tratasse uma colónia inglesa, despertando grande descontentamento junto dos oficiais e intelectuais portugueses. A 25 de Maio de 1817, em estado avançado dos preparativos da insurreição contra Beresford, Gomes Freire foi preso conjuntamente com outros 11 conspiradores, por denúncia de três maçons (três traidores, como na Lenda do 3.º grau...), José Andrade Corvo de Camões, Morais de Sarmento e João de Sequeira Ferreira Soares.

Gomes Freire de Andrade foi enforcado por ordem do Marechal Beresford no cadafalso na Torre de S. Julião da Barra e os demais no Campo de Santana, hoje denominado, em sua memória, Campo dos Mártires da Pátria.

Narra Borges Grainha que um dia antes da execução um coronel inglês, Robert Haddock, visitou o Grão-Mestre na cadeia e ofereceu-lhe como irmão a oportunidade para a fuga. Gomes Freire recusou a oportunidade!

Em 1853 foi erguido um monumento no sítio onde morreu sendo desde então homenageado como um dos heróis da luta pela instituição da monarquia constitucional em Portugal e um dos mártires mais eminentes da Maçonaria portuguesa.

A execução de Gomes Freire de Andrade é tema de uma das obras relevantes do teatro português do século XX, Felizmente há luar, de Luís de Sttau Monteiro.

Tem o seu nome uma Ordem Honorífica da Maçonaria Regular Portuguesa, a Ordem General Gomes Freire de Andrade, destinada a honrar os que prestam relevantes serviços à Maçonaria Regular.

Rui Bandeira

12 maio 2007

João Vilarett fez anos no dia 10 de Maio




Este rosto aparentemente meio gordinho pertence a um personagem que realmente era mesmo um tanto gordinho, personagem quase completamente esquecido dos portugueses com menos de 50 anos.

E no entanto a João Vilarett devemos em grande parte o conhecimento dos mais importantes poetas de língua portuguesa.

Não foi poeta, mas disse poesia como ninguém até hoje (e recordo Manuel Lereno e Mário Viegas que foram grandes, mesmo muito grandes... só que Vilarett nesta matéria foi enorme !).

Quem o ouve dizer José Régio tem que sentir a pele encrespar-se. Quem o ouve contar a história da "Menina Gorda" tem que sorrir e comover-se.

Por mais simples que fosse o texto, João Vilarett transformava-o num hino aos sentidos, aprofundava-o ao ponto que ninguém imaginaria possível, descobria-lhe uma humanidade muitas vezes insuspeita antes dele a pôr a descoberto. E no entanto não tem direito nem a uma mençãozinha, ranhosa que seja, nos livros escolares do nosso ensino, miserável, da língua portuguesa. Mau grado os responsaveis (?) pela matéria falarem, despudoradamente, alto e bom som, na língua de Camões. Como se Camões alguma vez tivesse escrito ou falado esta língua ! Como se João Vilarett alguma tivesse dito "esta língua"!

Chegou ao meu correio um texto ao qual não há que acrescentar nada e que portanto transcrevo em directo, nesta recordação que, em memória de Portugal, entendi dever fazer. A minha opinião é a de que os mais velhos têm a obrigação de não deixar esquecer o que de melhor este País (800 anos de existência e todas culturas) que se chama PORTUGAL teve (tem !) e que a geração de "responsáveis" (?) actual faz o que pode para apagar.









Ele dizia poesia como ninguém. É sobretudo por isso que é recordado. João Villaret foi actor de teatro e de cinema e apresentou programas de televisão. Morreu aos 48 anos mas, neste quase meio século de vida, fez com que uma nação se apaixonasse pelos poetas nacionais. Sobretudo Fernando Pessoa. Mas não só: “Muita gente ouviu falar pela primeira vez de José Régio através de João Villaret”, afirma o historiador Vítor Pavão dos Santos. Quando, no final da década de 50, a televisão se tornou a nova religião, Villaret surgiu como um profeta. Todos os domingos, religiosamente, prendia as pessoas ao pequeno ecrã.

João Henrique Pereira Villaret nasceu em Lisboa em 10 de Maio de 1913. Viviam-se os anos revoltos da I República, quando Portugal ainda buscava o seu rumo. João, por seu lado, não teve de procurar muito. Já trazia no sangue a vontade e a capacidade de encantar o público em cima de um palco. Foi actor, encenador e declamador. Foi uma fera dos palcos. O seu percurso demonstra que obras superlativas têm poder de reverter expectativas e derrubar barreiras consideradas intransponíveis. Depois de frequentar o Conservatório Nacional, começou por integrar o elenco da companhia de teatro lisboeta Rey Colaço-Robles Monteiro. Mais tarde, fez parte da companhia teatral Os Comediantes de Lisboa, fundada em 1944 por António Lopes Ribeiro e o seu irmão Francisco, mais conhecido por Ribeirinho. A mesma dupla de irmãos já fora responsável pelo êxito do filme “O Pai Tirano” (1941), onde Villaret faz uma breve aparição como pedinte mudo. Seguem-se “Frei Luís de Sousa” (1950) e “O Primo Basílio” (1959). No cinema, João Villaret trabalhou ainda com Leitão de Barros em filmes como “Inês de Castro” (1944) e “Camões” (1946). Ficou também na memória de quem viu a peça “Esta Noite Choveu Prata”. E quem não assistiu, vive hoje das descrições apaixonadas dos que lá estiveram. No extinto Teatro Avenida, em Lisboa. Corria o ano de 1954. Se, nos anos 30, o cinema se tornara “pouco a pouco um vício”, segundo afirmava na época a revista “Ilustração”, no final dos anos 50 é a televisão que vem ocupar o seu lugar. É assim que nascem estrelas como João Villaret. A experiência que adquirira no palco e em cinema, assim como em programas radiofónicos, faz do seu programa de televisão um êxito. Aos domingos era impreterível vê-lo declamar, com graça e paixão, poemas dos maiores autores nacionais. “Na televisão, teve um papel muito importante na divulgação dos grandes poetas portugueses, sobretudo Fernando Pessoa e António Botto, que eram amigos dele”, lembra o historiador Vítor Pavão dos Santos. E acrescenta: “Conseguiu pô-los em contacto com o público.” João Villaret soube ir mais longe e, em conjunto com Aníbal Nazaré e Nelson de Barros, deu origem à canção “Fado Falado”, onde se afirmava: “Se o fado se canta e chora, também se pode falar.” Criava-se um estilo. De mão no peito e olhar fixo na câmara, prendia as famílias ao pequeno ecrã. Era um homem grande, volumoso. Mas maior ainda era a sua arte. “Um grande português é alguém que foi capaz de colocar as suas qualidades intelectuais e morais ao serviço do país onde nasceu”, diz a actriz Maria do Céu Guerra. Não se refere a Villaret, mas a definição adequa-se. João Villaret morreu, aos 48 anos, em 21 de Janeiro de 1961. “Tocam os sinos na torre da igreja”… Ainda era a sua voz que se ouvia, a “cantar” o poema “Procissão” de António Lopes Ribeiro. “Na nossa aldeia, que Deus a proteja, já passou a procissão”, terminava. “Villaret tinha rara capacidade de lidar com o público e fez grande divulgação dos poetas. Isso foi muito importante”, conclui Vítor Pavão dos Santos.

(Texto com origem no programa "Os Grandes Portugueses" da RTP)
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JPSetúbal







11 maio 2007

Fundação da Loja e Primeiro Venerável Mestre

Há um tempo certo para tudo!

Há muito que eu e outros dos mais antigos obreiros da Loja Mestre Affonso Domingues ocasionalmente falávamos que se devia preservar a memória da Loja, elaborar registo do que se foi passando ao longo do tempo, para além do que fica registado na linguagem seca das actas, para que, mesmo depois do desaparecimento dos mais antigos, os vindouros pudessem ter acesso às raízes e à evolução da Loja. Mas nunca se passou do "pois é", "boa ideia", "temos de tratar disso".

Foi ao elaborar o texto O nome da Grande Loja, uma elaboração em que tive de rememorar eventos que, na época, foram traumáticos e que, por isso mesmo, evitava relembrar, que, subitamente, a evidência se fez clara no meu espírito: de nada vale dizer que é preciso registar a memória da Loja, se nada se fizer. Tenho os meios: vivi quase todo o tempo da Loja até agora e, do que não vivi, ainda pude falar com quem viveu; a minha memória ainda não está irremediavelmente afectada pelo inevitável decurso do tempo; e este blogue e o seu arquivo é um local tão bom como qualquer outro para guardar o registo do que se foi passando. É a hora de me chegar à frente e começar a fazer o relato do que me lembro que se passou. Talvez outros sigam então o exemplo e completem, corrijam, aperfeiçoem o que eu apenas esboçarei.

Vou, pois iniciar mais uma série de textos aqui no blogue, que agruparei sob o marcador "Memória da Loja". Como as demais séries que aqui vão havendo, serão publicados textos na periodicidade de "quando me apetecer". É, como os demais aqui no blogue, um trabalho para se ir fazendo, sem pressas, sem pressões, com gosto e descontraidamente. Espero que a pedra bruta que aqui irei deixando seja, não obstante, suficientemente talhada para que outros, mais hábeis do que eu, a vão polindo e adornando, para que possa vir a ser não totalmente sem mérito.

Uma nota deixo: os textos que aqui deixar não têm a pretensão de constituírem a História da Loja: a História é feita pelos historiadores, que estão cientificamente preparados e detêm as técnicas e os conhecimentos para a registarem; os meros escrevinhadores, mesmo que escrevinhem sobre o que viveram e viram, mais não podem aspirar do que a deixarem meros rascunhos, esperando que porventura úteis para quem efectivamente saiba e queira escrever História.

Uma única limitação me imponho: mesmo despretensiosamente, só se pode registar de uma forma minimamente objectiva o que não está demasiado perto e que, assim não demasiadamente perturbe a busca de uma razoável objectividade na análise e registo de eventos. Consequentemente, o mais perto da actualidade a que chegarei será até ao Veneralato do Venerável Mestre que precedeu o ex-Venerável em exercício. Mas essa é limitação a que só terei de atender daqui a uma não negligenciável quantidade de textos.

E, para que este texto não seja só um manifesto de intenções, comece-se já com breve menção da fundação da Loja e referência ao seu Venerável Mestre fundador.

A Loja Mestre Affonso Domingues foi fundada, ainda antes da formal constituição da Grande Loja Regular de Portugal (GLRP), hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, como loja pertencente ao Distrito de Portugal da Grande Loge Nationale Française (GLNF). Foi, na ordem de numeração desse Distrito, ulteriormente mantida na ordem de numeração da GLLP/GLRP, a Loja n.º 5, com a sua criação contemporânea das quatro que a precedem nessa Ordem: Fernando Pessoa, n.º 1, Porto do Graal, n.º2, Europa, n.º 3, e General Gomes Freire de Andrade, n.º 4. Todas agruparam maçons que, oriundos do Grande Oriente Lusitano (GOL), Obediência que se integra na corrente liberal da Maçonaria, desejavam refundar a Maçonaria Regular em Portugal.

A data de constituição oficial da Loja Mestre Affonso Domingues, enquanto Loja nº 5 da GLLP/GLRP é coincidente com a data da fundação da Grande Loja Regular de Portugal, hoje Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

O ano da fundação da Loja Mestre Affonso Domingues é o de 1990. O maçon designado para, em primeiro lugar, exercer a função de seu Venerável Mestre foi Eduardo M. . Não o cheguei a conhecer. E creio que nunca chegou efectivamente a presidir a uma sessão da Loja - pelo menos é a ideia que recordo da consulta que, há anos, fiz do primeiro livro de actas da Loja. Eduardo M., segundo me foi dito, adoeceu e não pôde chegar a assumir o exercício dessa função. Mas o seu lugar como Fundador e designado primeiro Venerável Mestre da Loja Mestre Affonso Domingues merece ficar registado.

Rui Bandeira

10 maio 2007

Os doze mandamentos maçónicos

Já no texto Mais Lojas Baden-Powell tive oportunidade de manifestar o meu desejo de aqui publicar informações relativas à actividade maçónica no Brasil, aliás procurando corresponder ao facto de a maioria das visitas a este blogue ser oriunda deste grande país de língua portuguesa. A maior limitação à realização desse desejo resulta da dificuldade de obtenção de informação que seja susceptível de interessar a generalidade dos visitantes do blogue.

Mas vou procurando...

Dei ontem com um texto publicado por Júlio Capilé em O Progresso, no qual o autor, além do mais, transcreve Os doze mandamentos maçónicos, da autoria de Joaquim Gervásio, que penso ser Joaquim Gervásio de Figueiredo, autor de um popular Dicionário da Maçonaria que, apesar da sua vetustez, continua a ser um livro muito útil para quem quer apreender o significado de muitos conceitos e termos utilizados em Maçonaria e escolas de pensamento que, de algum modo, com ela estiveram historicamente relacionadas.

Eis, pois,

Os doze mandamentos maçónicos

- Deus é Todo-Poderoso, Sabedoria Eterna e Imutável e Inteligência Suprema. Honrá-Lo-ás com a prática das virtudes.

- Tua religião será a de fazeres o Bem pelo prazer de fazê-lo. Jamais por obrigação.

- Tua alma é imortal; nada farás, pois que a degrade.

- Sê amigo do sábio e conserva os seus preceitos. Combate o vício sem descanso. Não faças aos outros, aquilo que não queres que te façam. Conforma-te com tua sorte conservando a luz do sábio.

- Ama tua esposa, teus filhos e tua pátria, cujas leis obedecerás.
Honra teus parentes, respeita os velhos, instrui os jovens e protege a infância.

- Considera teu amigo como se fora outra parte de ti mesmo e jamais te afastes dele em seu infortúnio. Por sua morte, porta-te com ele como se ainda vivesse.

- Foge das falsas amizades para resguardar e justificar a tua boa reputação.

- Não te deixes dominar pela Paixão e sê indulgente para com o erro alheio.

- Escuta mais, fala menos e age bem.

- Esquece as injúrias; ao Mal respondas com o Bem e não abuses de tua superioridade.

- Aprende a conhecer melhor os Homens, para te conheceres melhor a ti mesmo.

- Busca a verdade, sê justo e evita a ociosidade.

Não é preciso ser-se maçon para se perceber que são boas regras de vida!

Rui Bandeira

09 maio 2007

Um cartoon português dedicado à imigração ganha o WORLD PRESS CARTOON 2007

"imigração ilegal" foi o vencedor do primeiro prémio na categoria de cartoon editorial do
Cristina Sampaio nasceu em Lisboa.
Em 1985 licenciou-se em pintura na Escola Superior de Belas Artes de Lisboa.
Ilustra livros infantis desde 1987 e trabalha desde 1986 como ilustradora e cartonista para diversas revistas e jornais em Portugal e no estrangeiro.Trabalhou em cenografia, multimédia e animação.
As suas ilustrações foram apresentadas em várias exposições colectivas e individuais,em Portugal, no Brasil, na Alemanha, em França e na República Checa.
Em 2002 e em 2005 foi-lhe atribuído pela Society of News Design (EUA) o Award of Exellence. Em 2006 recebeu o Prémio Stuart de Desenho de Imprensa para o melhor cartoon da imprensa portuguesa.

Em 2007 recebeu o primeiro prémio do World Press Cartoon, na categoria de cartoon editorial.
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Esta informação foi recolhida no sítio pessoal da Cristina Sampaio, onde se pode dar uma olhada a muito da Sua bela obra, publicada até agora por esse mundo escrito à volta (www.cristinasampaio.com).
Só não consta do sítio que a Cristina é um coração de oiro e que desde muito novinha o desenho era a Sua habilidade.
Saudemos uma portuguesa ilustre !
JPSetúbal

O nome da Grande Loja

O texto de JPSetúbal Noticiário da capoeira foi objecto de um comentário algo ácido de memorias, questionando a legitimidade do uso da sigla GLRP pela Grande Loja onde se integra a Loja Mestre Affonso Domingues, a Loja em que se enquadram os maçons que escrevem este blogue.

memorias é, manifestamente, um elemento ligado à estrutura que se designa de Grande Loja Regular de Portugal e que, segundo se deduz do que escreveu, reivindica o direito ao uso exclusivo da sigla GLRP.

Não vou aqui criticar nem desmerecer daqueles que, honestamente, então tomaram opção diversa da minha. Nem na altura da cisão havida na Maçonaria Regular Portuguesa dei para esse peditório, não o vou fazer agora.

Entendo que cada pessoa tem o direito de exprimir as suas posições, as suas opiniões e, por isso, de forma alguma critico memorias por ter expressado a sua naquele comentário. E distingo a forma do fundo. Aquela não me agradou: achei-a, como em outros comentários que entretanto li de memorias, desnecessariamente azeda e agressiva, nada ilustrativa de como um maçon deve argumentar. Este, merece a explanação do meu ponto de vista sobre o assunto. Esclarecido isto, vamos então ao assunto.

A Maçonaria Regular Portuguesa nasceu do anseio de um grupo de maçons, então integrando a única estrutura do tipo maçónico existente em Portugal, o Grande Oriente Lusitano, de assumirem o estrito cumprimento dos princípios da Maçonaria Regular e de virem a obter o reconhecimento da Comunidade Maçónica Regular Internacional como tal. Foram então esses maçons liderados por aquele que veio a ser o primeiro Grão-Mestre da Maçonaria Regular, Fernando Teixeira.

Sendo princípio inalienável da Regularidade que a constituição de uma potência Maçónica Regular deriva da transmissão dessa qualidade por uma Potência Regular pré-existente, esses maçons constituíram as suas Lojas (entre as quais a Loja Mestre Affonso Domingues) sob os auspícios da Grande Loge Nationale Française (GLNF), única Potência Maçónica Regular existente em França, agrupando essas Lojas num Distrito daquela Grande Loja.

A Maçonaria que se reclama da regularidade tem como um dos seus princípios enformadores o respeito das leis do Estado em que funciona. A legislação em vigor no Estado Português dispõe que, para uma comunidade de interesses ter relevância jurídica, deve estar constituída em associação (ou, eventualmente, fundação).

Em cumprimento da legislação do Estado Português, esses maçons refundadores da Regularidade em Portugal constituíram uma associação civil de direito privado denominada Grande Loja Regular de Portugal.

A seu tempo, a Grande Loge Nationale Française acedeu ao desejo dos maçons regulares portugueses de autonomizar o seu Distrito em Portugal e consagrá-lo como Grande Loja com autoridade exclusiva sobre a Maçonaria Regular em Portugal, com a designação, similar à da associação profana já existente, de Grande Loja Regular de Portugal.

Esta nova Potência Mónica Regular foi reconhecida como tal pela generalidade das suas congéneres de todo o Mundo, designadamente pela UGLE (United Grand Lodge of England) e pelas potências maçónicas americanas (para além, obviamente, da sua Grande Loja Mãe, a GLNF), reunindo assim o consenso do reconhecimento como Potência Maçónica Regular por todas as Potências Maçónicas Regulares chaves do globo (Grã-Bretanha, Estados Unidos e França).

Assim, e sendo Grão-Mestre Fernando Teixeira e Vice-Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, ficou institucionalizada a Maçonaria Regular em Portugal com uma associação de direito civil e uma Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, ambas utilizando o nome de Grande Loja Regular de Portugal e a sigla GLRP.

Ocorreram então, em finais de 1996, os acontecimentos que vieram a ficar conhecidos pela cisão da Casa do Sino. Para melhor entendimento das suas consequências quanto ao nome da potência Maçónica Regular Portuguesa, importa ter presente alguns detalhes.

Os calendários eleitorais civil e maçónico não são coincidentes. Normalmente, as eleições nas associações civis ocorrem no primeiro trimestre de cada ano. Na Obediência Maçónica Regular, a eleição do Grão-Mestre sucessor ocorreu no final do segundo trimestre de 1996 e a sua posse no trimestre imediato. Por outro lado, a Casa do Sino, em Cascais, então a sede da Maçonaria Regular Portuguesa, fora arrendada em nome pessoal pelo então Grão-Mestre Fernando Teixeira.

No final do ano de 1996, alguns elementos da GLRP, discordando do Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho, e beneficiando do beneplácito do anterior Grão-Mestre, Fernando Teixeira, ocuparam a Casa do Sino e declararam que consideravam destituído o Grão-Mestre Luís Nandin de Carvalho.

A maioria dos maçons e das Lojas, concordantes ou não com o estilo de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele na eleição para Grão-Mestre, não acompanhou este pronunciamento, considerando-o violador das regras da Maçonaria Regular (eu permito-me acrescentar: das regras da maçonaria, seja ela Regular ou Liberal...), e, concordando ou discordando de Luís Nandin de Carvalho, tendo ou não votado nele, manifestou o reconhecimento pela sua autoridade de Grão-Mestre da Maçonaria Regular Portuguesa, legítima e regularmente eleito e instalado, e submeteu-se à sua autoridade, rejeitando o pronunciamento.

Os ocupantes e quem os apoiou declararam vago o cargo de Grão-Mestre e vieram a eleger, entre si, outrem a quem passaram a declarar ser o seu Grão-Mestre.

Estava consumada a cisão!

Colocou-se, porém, um problema jurídico: apesar de a maioria dos maçons regulares e das Lojas Regulares se ter mantido sob a autoridade do Grão-Mestre eleito e instalado, devido à falta de sincronismo dos calendários eleitorais civil e maçónico, os dirigentes em funções da associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal eram elementos que tinham apoiado a ocupação da Casa do Sino e se tinham pronunciado pela destituição do Grão-Mestre a que a maioria (concordando ou não com o seu estilo, tendo ou não votado nele) de maçons e de Lojas Regulares manteve a sua lealdade.

Para a maioria dos maçons que se mantiveram fiéis ao Grão-Mestre eleito e instalado, havia duas hipóteses: entabular um longo, desgastante e desprestigiante litígio nos tribunais do Estado sobre quem tinha direito de gerir a associação civil denominada Grande Loja Regular de Portugal ou, pura e simplesmente, não entrar em disputas estéreis e constituir uma outra associação civil que desse o enquadramento institucional civil e legal à Obediência Maçónica Regular que fora posto em crise pelo pronunciamento dos que optaram por rejeitar a autoridade maçónica Regular do Grão-Mestre eleito e instalado.

Optaram por não entrar em dolorosos, desgastantes e inúteis confrontos e criaram a associação civil denominada Grande Loja Legal de Portugal. Esta associação civil passou a enquadrar legalmente a Obediência Maçónica internacionalmente reconhecida, até aí, como Grande Loja Regular de Portugal.

Quer em virtude dessa continuidade, quer pelo peso sentimental do nome que também eles tinham ajudado e habituado a respeitar e a reconhecer, decidiram que a sua designação, enquanto Obediência Maçónica e estritamente nesse âmbito, passaria a ser Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, utilizando comummente a sigla GLLP/GLRP.

É esta a Potência Maçónica Regular que manteve o reconhecimento internacional como tal, seja da UGLE, seja da GLNF, seja das Potências Maçónicas Americanas, seja da generalidade das Potências Maçónicas Regulares de todo o Mundo

Resumindo: existe (creio que existe, admito que existe) a associação civil Grande Loja Regular de Portugal, controlada pelos que, em 1996, se subtraíram à autoridade maçónica do Grão-Mestre então eleito e empossado; existe a associação civil Grande Loja Legal de Portugal, que enquadra a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal. Esta, para evitar confusões, passou a usar a denominação Grande Loja Legal de Portugal/GLRP.

Nunca, em termos civis ou profanos, desde a cisão de 1996, a entidade que enquadra legalmente a Potência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal em Portugal usou ou usa outra denominação que não a de Grande Loja Legal de Portugal. Consequentemente, nunca usurpou ou usurpa o nome de outra associação.

Em termos estritamente maçónicos, por definição subtraídos e independentes dos poderes do Estado, a Obediência Maçónica Regular internacionalmente reconhecida como tal passou a designar-se Grande Loja Legal de Portugal/GLRP, abreviadamente GLLP/GLRP, constituindo o último conjunto de quatro letras a homenagem e a ligação à sua designação original, que teve de alterar em virtude de eventos dolorosos protagonizados por elementos que tomaram opções diversas dos que se mantiveram fiéis ao que entenderam ser o espírito e a prática da Regularidade Maçónica.

A Loja Mestre Affonso Domingues e os seus obreiros orgulhosamente enquadram-se na Grande Loja Legal de Portugal/GLRP e aí seguem o seu caminho na busca do seu aperfeiçoamento.

À Loja Mestre Affonso Domingues e aos seus obreiros nenhuma mossa faz, nenhum incómodo traz, que outros, que fizeram opções diferentes das deles, usem, na organização em que se agrupam, o nome que entenderem. Essa é uma contenda que não temos, que não nos interessa, que não nos motiva e que não nos afecta! O que importa não é a designação que se usa, o que interessa é o trabalho que se faz, o projecto que se segue, o caminho que se trilha!

Desejamos sinceramente que ninguém busque criar conflitos, ou levantar contendas, ou simplesmente expressar azedume a propósito de nomes ou designações. Para esse peditório, repito, não demos, não damos e nunca daremos!

E, se alguém tiver dúvidas, pergunte a quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues e teve a opção diferente da maioria da Loja o que, então, todos nós, combinámos! E ficará a saber que, para todos, a maioria que ficou e aqueles que se foram, quem foi da Loja Mestre Affonso Domingues é sempre da Loja Mestre Affonso Domingues, esteja onde esteja, esteja com quem esteja, pense como pensar, opte como optar! Foi, é e será sempre um dos nossos! Que fique esclarecido e que ninguém tenha disso dúvidas!

Portanto, não vale a pena quem quer que seja procurar vir a este blogue relançar pretensas rivalidades. Da nossa parte, não terá quem as sustente. O que nós desejamos é, tão simplesmente, que cada um siga o seu caminho e que seja feliz nele. O que pedimos é, tão só, que não nos venham importunar no nosso caminho. E, se algum dia, os nossos caminhos se voltarem a cruzar e a unir, tanto melhor. A isso eu chamo, também, ser maçon!

Rui Bandeira

08 maio 2007

Diálogo (V)

- Ouve lá. há dias, tive uma conversa de duas horas com um Manuel qualquer coisa; ontem, foram mais duas horas, com um Joaquim. Isto da inquirição é eu ser entrevistado quantas vezes?

- Se pões assim a questão... as vezes que forem necessárias!


- Esclarecedor! E que mais diligências tem essa tal de inquirição?

- As que forem necessárias...

-Pareces um disco riscado! A sério, abre-te lá e conta como é isso da inquirição. Com essas evasivas ainda me deixas a pensar que anda alguém, tipo SIS, a seguir a minha vida passo a passo...

-Tipo SIS, não! Tipo SIM!

-Tipo SIM?

-Serviço de Informação Maçónico! Caíste que nem um patinho...

- Lá te caiu mais um dentinho com a piada! Queres esclarecer ou não?

- Já te disse o que havia para dizer, tu é que não quiseste ouvir... Mas eu explico, devagarinho como de costume...

- Para eu entender, já sei. Tens que arranjar piadas novas, que essa já está muito batida...

- Por regra, a inquirição é sempre composta por duas entrevistas feitas por cada um dos inquiridores ao candidato. Mas pode haver mais, pelas mesmas ou por outras pessoas, se for necessário obter mais esclarecimentos. E não, não se investiga, tipo SIS, a vida das pessoas. Mas isso não quer dizer que, discretamente, não se procure obter um conhecimento sobre quem é o candidato através de outras fontes que não ele próprio.

- Como?

- Por exemplo, uma vez que o candidato indica onde trabalha, se existirem maçons nesse local de trabalho é lógico que se lhes pergunte que ideia têm do candidato, como se comporta, se é mesmo de bons costumes, enfim, que nos dê elementos que permitam saber quem é essa pessoa.

- O que me intrigou é que, nas duas conversas, houve perguntas similares, mas essencialmente foram diferentes. Um queria saber o que eu pensava sobre Religião e Sociedade e que interesses eu tinha, como era a minha família, etc.; com o outro, falei de futebol e de viagens e do meu trabalho e dos filmes que gostava e dos livros que ambos líamos...

- Se pensares bem, faz todo o sentido. Há-de haver alguns temas que interessam a ambos os inquiridores, mas o que importa é poder conhecer tantas facetas quanto possível do candidato. Quanto mais diferentes forem os temas, mais ele se dá a conhecer...

-Mais hipóteses ele tem de se espalhar...

-Não é isso que importa! Ao contrário do que pensas, o principal objectivo das inquirições não é saber se o candidato deve entrar ou não. Isso um inquiridor experiente fica a saber em cinco minutos: ou há empatia, ou não há, ou se está perante alguém sincero, ou alguém que soa a falso...

- Essa agora... Então a ideia não é saber se deve ou não entrar?

-È, claro que é! Mas não há inquirições que valham se alguém for hábil a usar uma máscara. Não somos tão ingénuos assim... E a Maçonaria é muito antiga e o Diabo não sabe muito por ser Diabo, é por ser velho! Quem não vier por bem, acabará por se cansar, por ver que não ganha nada em fazer passar-se pelo que não é e silenciosamnete deslizará para o limbo do esquecimento... Nas inquirições, quer-se conhecer tão profundamente quanto possível o candidato, não apenas para decidir quanto à sua entrada, mas também para - se calhar, principalmente para - se saber como deve o grupo auxiliar a sua integração. Não te esqueças que uma entrada de um novo elemento numa Loja é um acto que resulta da conjugação de duas vontades e que tem duas consequências: quem entra, entra porque quer e vai ser influenciado, marcado, pela sua ligação à Maçonaria; mas o grupo que aceita a sua entrada, que, no fundo, coopta mais um elemento, também vai ser modificado por ele. As inquirições ajudam-nos a decidir como podemos vir a ser úteis ao novo maçon, mas também a procurar descobrir que impacto trará ele ao grupo, como o irá influenciar, como o irá modificar. Afinal, como evoluirá o novo maçon através da sua integração na Loja e como evoluirá a Loja através da integração do novo maçon. Porque é isso, afinal, também a Maçonaria: o aperfeiçoamento individual através do grupo e a melhoria do grupo através do indivíduo.

Rui Bandeira

07 maio 2007

Medula - mais uma nota

Registo com agrado que o Governo representado ao mais alto nivel deu hoje um sinal claro que pretende apoiar o desenvolvimento do Banco de Medula Ossea.

Este Blog que desde a primeira hora tem vindo a dar especial atenção a este tema agradece a acção , mesmo que simbolica, que hoje governantes deste país deram.

JoseSR

Ser ou não ser .... Arguido

Vou entrar por um tema que está na MODA. Ser arguido.
O texto terá seguramente imprecisões juridicas mas não sou advogado.

Vou começar por vos confessar que eu já fui arguido uma dezena de vezes em processos crime. Em todos eles o mais longe que cheguei foi à instrução de um deles e fui dado como Não Pronunciado. Os recursos de quem me atribuia a responsabilidade nos "crimes" pelos quais fui constituido arguido foram todos recusados.

A maioria destes processos em que respondi nunca chegaram à instrução tendo sido arquivados, mesmo se num deles e já por gozo "confessei" o crime de que ia acusado pois tratava-se de um processo de falsas declarações no qual eu ia acusado de no inquerito e enquanto testemunha ter dito uma coisa e passados 2ou 3 anos na instrução desse processo e na mesma enquanto testemunha ter dito a mesma coisa mas no singular e não no plural como havia dito anos antes.

Pelo ridiculo da coisa confessei pois de facto a primeira formula no plural estava gramaticalmente errada e a segunda no singular estava certa, confessei porque como disse à senhora Magistrada andava já angustiado há muito tempo por ter vilipendiado de forma tão grosseira a Lingua Pátria e quando pude corrigir o erro cometido corrigi, relatando a situação de forma correcta e expressando-me em bom português. Foi entendido que por isto eu teria prestado falsas declarações e fui então constituido Arguido.

Ser constituido arguido é a coisa mais simples deste mundo. Basta uma queixa, uma referencia em interrogatório de terceiros, uma certidão e é iniciado um processo de averiguações que culmina com a constituição como arguido. Nesse momento não é ainda sequer conhecido o facto que constitui a acusação e se me lembro só depois de ouvido e constituido arguido é que o meu advogado tinha acesso ao processo para saber de que ia eu acusado.

Arguido é como ir ao parque passear. Não tem valor qualquer e não pode prejudicar a honorabilidade das pessoas. Se eu me chatear com um dos meus co-blogueiros e for dar parte deles contando uma historia que possa ser vista pelas autoridades como crime publico, é quase garantido que eles serão constituidos arguidos, e na verdade não fizeram nada.

Entre ser constituido arguido e o processo de acusação ficar concluido pode demorar mais de 1 ano. E depois de formalmente acusado ainda pode demorar mais uma data de tempo até chegar à instrução do processo. Havendo pronuncia há julgamento, mas relembro que neste país existe uma coisa que se chama

PRESUNÇÃO DE INOCENCIA

e que todos somos inocentes até provado o contrário e que a unica prova que vale é a que é produzida em tribunal.

Acho indecente que um cidadão tenha que adiar a sua vida por um periodo de tempo desconhecido apenas por ter sido constituido arguido e formalmente nao ser acusado de nada e nao ter tido sequer a possibilidade de se defender ( a defesa só pode ser feita depois de constituido arguido).

Acho que um cidadão culpado deve ser punido, até à prova da sua culpa não pode perder nenhum direito nem garantia.

Todavia creio que entre a constituição de arguido e a acusaçao formal , a existir, o tempo deveria ser extraordinariamente curto pois a honorabilidade do cidadão está em causa.

Entendam que cada vez que tinha que ir prestar declarações, ser ouvido, etc tinha que apresentar no departamento de pessoal da empresa um documento do tribunal ou da policia para justificar a minha falta. As coisas sabem-se e não é agradavel ser olhado de forma diferente e tal como disse no inicio nunca fui condenado (bem umas multas de transito e outras fiscais mas isso nao conta!!!).

Os média à falta de assunto tornaram o " ser Arguido " em " Culpado para além de qualquer duvida e nem vale a pena ir ao tribunal que nós julgamos já aqui nas noticias e aplicamos a sentença imediatamente"

E fazem isto de forma impune porque o fazem ao abrigo da liberdade de imprensa o que torna dificilimo processá-los por difamação.

Não pretendo ilibar ou defender ninguém mas tendo sido arguido inumeras vezes e nao tendo por isso ficado menos honesto ou honoravel tenho que dar o beneficio da duvida aos arguidos deste mundo e esperar o resultado do respectivo julgamento se este vier a acontecer.

Por ultimo um agradecimento ao advogado que brilhantemente me defendeu e que no que depender de mim me defenderá sempre que necessário.
JoseSR

Esperteza saloia

Os peditórios públicos anuais são uma forma de obtenção de meios por parte das instituições de solidariedade social. São também uma oportunidade de chamar a atenção para as carências dos mais necessitados. Mobilizam muitos voluntários. Mobilizam a boa vontade da generalidade da população. Aprendi no sábado que também são utilizáveis por chicos-espertos para campanhas de marketing de pacotilha.

Sábado de manhã, à entrada da loja Lidl na Av. Coronel Eduardo Galhardo, em Lisboa, deparo com um grupo de voluntários que distribuem sacos de plástico para acondicionar donativos de bens alimentícios destinados ao Banco Alimentar contra a Fome. Aceito um saco, disposto a adquirir naquela loja alguns alimentos não rapidamente perecíveis, para os entregar aos voluntários.

Como habitualmente, registo a boa colaboração que as cadeias de distribuição dão a esta iniciativa e afasto, por mesquinha, a subreptícia suspeita de que essa boa colaboração não é totalmente desinteressada, já que da boa vontade dos que querem contribuir também beneficiam os estabelecimentos onde são adquiridos os bens alimentares doados. Não será essa a principal preocupação dos responsáveis dessas cadeias de distribuição. O negócio não exclui a predisposição para a solidariedade!

Já dentro da loja, deparo com um expositor onde está anunciado que, por cada cinco unidades de diversos produtos (leite ultrapasteurizado meio-gordo, esparguete, salsichas, arroz, etc.) que cada pessoa oferecer ao Banco Alimentar contra a Fome, a Lidl oferecerá mais uma unidade. Bastará para tanto que o cliente adquira cinco unidades do produto da sua escolha e apresente na caixa, no momento do pagamento, um pequeno prospecto onde está um código de barras. Esse prospecto, certamente depois de validado, será entregue aos voluntários.

Penso com os meus botões que os responsáveis da Lidl tiveram uma boa ideia. Assim motivam que se ofereça mais. Se é certo que vende mais, pois levam as pessoas a adquirir cinco e não apenas um ou dois, também a própria cadeia de distribuição contribui, senão com a totalidade, seguramente com grande parte do lucro que isso lhe proporciona, pois de cada cinco unidades vendidas ela própria oferece uma sexta. Se a taxa de lucro de cada mercadoria for de 20 %, oferece todo o seu lucro. Se for superior, oferece uma grande parte dele. É justo e é uma boa ideia e decido corresponder adquirindo cinco litros de leite meio-gordo ultrapasteurizado.

Por acaso, aquilo que eu buscava adquirir no estabelecimento estava esgotado, pelo que me apresentei na caixa só com os cinco litros de leite e o tal prospectozinho. Se não tivesse sido assim e tivesse feito mais compras, como a esmagadora maioria dos clientes do estabelecimento fizeram, não teria possivelmente dado pelo logro, como possivelmente a esmagadora maioria dos clientes não deu...

Cada litro de leite custava 40 cêntinos. Uma simples operação aritmética informa que cinco litros desse leite custavam 2 Euros. Na caixa, o operador passa o código de barras do tal prospecto. Seguidamente passa o código de barras de um pacote de leite e assinala que são cinco os pacotes adquiridos. Pede-me o preço: - São dois euros e quarenta cêntimos.

- Como é? - pergunto eu. Cinco vezes quatro, vinte...

Resposta do operador de caixa: - Mais quarenta cêntimos do prospecto...

Insisto: - Leia lá bem o prospecto, eu ofereço cinco unidades, a Lidl oferece a sexta; se eu pagasse a sexta, quem oferecia era eu e não precisava que a Lidl fosse entregar, entregava logo eu...

O operador de caixa chamou a supervisora. Repito o argumento. A supervisora deita uma olhadela ao prospecto e dispara, no tom automático e displicente de quem repete uma frase pela enésima vez na última hora: Não, não é assim. O senhor paga o produto do papel e por cada cinco papéis que o Banco Alimentar entregar na Lidl, nós oferecemos uma unidade.

É claro que não é isso que a publicidade feita anuncia. Essa é inequívoca: o cliente oferece cinco, a Lidl oferece mais um! Com esta abstrusa interpretação, cada cliente paga 6 e por cada cinco clientes que o façam, isto é, por cada 30 unidades adquiridas e pagas pelos clientes, a Lidl então faria a fineza de acrescentar mais uma...

Ponho a hipótese de ser um engano da supervisora. Mas então porque regista a caixa, para o cliente pagar, o custo do produto representado no prospecto, através do código de barras aí incluso? E a resposta rápida e em tom displicente da tal supervisora inculcam que já deu esta mesma resposta a mais clientes e que esta será a resposta que foi preparada para dar...

Fervo por dentro! Procuro controlar-me, mas, apesar disso, respondo num volume de voz mais alto do que o necessário: - Isso é publicidade enganosa! Fique com o leite, que eu vou comprá-lo a outro lado!

Fiz mal! Devia ter pago o que me pediram e pegado no recibo e no prospecto e tê-los entregue na ASAE (Autoridade de Segurança Alimentar e Económica), acompanhando a respectiva queixa! Para a próxima, não me vou esquecer!

Rui Bandeira

04 maio 2007

O Picapau Amarelo já foi...



Pois é, este mês temos o Pirilampo Mágico.
Estamos em Maio, não esqueçam, é o mês do Pirilampo.

Não, não é Caga-Lume, é mesmo Pirilampo e Mágico, Pirilampo de esperança e de alegria, de força e de bondade, Pirilampo fraterno, solidário, amigo... e liiiindo !!!

Por isso atenção à palavra de ordem deste mês, a partir de àmanhã, Sábado, "TODOS AO SÍTIO DO PIRILAMPO AMARELO".

São 2 euros por um Pirilampo e 1 euro por um pino do Pirilampo Mágico que se multiplicam, e multiplicam, e multiplicam... As "Cerci's" precisam da nossa colaboração e os proveitos da campanha do Pirilampo Mágico vão direitinhos para o bem estar das crianças (míudos e graúdos) que estas organizações acolhem, tratam, educam, em substituição ou em complementaridade de famílias que ou não existem ou não podem de todo tratar convenientemente de seres maravilhosos que só tiveram o azar de nascer diferentes do rebanho geral.

Este fim de semana o tempo estará bom, saiam de casa e procurem uma banca ou um dos muitos locais que dão apoio à campanha.

Vá, não faltem com o V. apoio. Os miúdos agradecem.

JPSetúbal

03 maio 2007

Diálogo (IV)


- Ontem foi votada favoravelmente a tua candidatura...

- Jóia, já vou entrar na próxima reunião?

- Eh, calma, que os gatos apressados são atropelados a meio do caminho! Se não tivesses interrompido e tivesses ouvido até ao fim, ouvirias que ontem foi votada favoravelmente a tua candidatura... para realização de inquirições!

- Inquirições? Que é lá isso?

-
Foi liminarmente aceite a tua candidatura e vai-se agora proceder ao inquérito, às investigações sobre a tua pessoa e...

- Vocês são mesmo complicadinhos da Silva... Então não foste tu que me propuseste, que me apadrinhaste, como tu dizes que os maçons dizem? E não disseste também que houve ainda outro maçon que também subscreveu a minha candidatura? Para que é que são mais inquirições? Ou afinal tu não tens importância nenhuma lá na Loja?

-
Tenho exactamente a mesma importância que qualquer dos outros, nem mais, nem menos. Aliás, fica sabendo que, quando uma candidatura é votada para admissão a inquirições, não é dado conhecimento à Loja de quem são os proponentes.

- Porquê?

- Para que todos votem sem serem influenciados pela amizade ou pela consideração que tenham pelos proponentes. Para que a votação tenha em conta o candidato e só o candidato.

- Então, porque são necessários proponentes?

- Porquê, porquê, porquê... Pareces o meu filho quando tinha quatro anos... Vamos lá, eu explico-te devagarinho, para tu teres tempo para conseguir entender...

-Já cá faltava a piadinha...

- Esquece! O processo de admissão de um profano na Maçonaria é um processo em várias fases, todas elas eliminatórias, que procura ser cuidadoso, embora sacrificando a celeridade. É necessário que o candidato ultrapasse diversas etapas ou, para quem gosta de jogos de computador, diversos níveis, até atingir a prova final, a Iniciação. E não vale a pena saltar etapas. Cada uma delas só faz sentido desde que ultrapassada a anterior.

- Ilumina a minha ignorância, ó sapiente iluminária!

- E depois sou eu que estou sempre com piadas... Presta lá atenção! Antes de mais , o interessado tem de querer ser maçon. Sem isso não se justifica nada... Daí a necessidade de que o profano peça para ser maçon. Depois, a sua pretensão tem de ser apoiada por dois maçons. Não faz sentido colocar à consideração de toda uma Loja uma pretensão se não houver pelo menos dois maçons dispostos a subscrever o pedido... Essa proposta, assim apoiada, é entregue ao Venerável Mestre da Loja. Em todo o processo de candidatura, só ele e quem ele determine (em regra, o Secretário da Loja e mais quem o Venerável Mestre entenda consultar) sabe quem são os proponentes. O Venerável Mestre faz a primeira triagem, pede os esclarecimentos que tiver a pedir aos proponentes, aconselha-se com quem entender por bem aconselhar-se e, se nada tiver a objectar, coloca então a admissão às inquirições à consideração da Loja. Se o Venerável Mestre, por qualquer razão, entender não prosseguir com o processo de candidatura, ele para logo ali... É também para fazer esses juízos que a Loja o escolheu. Não faz sentido prosseguir com um processo de candidatura à revelia do entendimento do Venerável Mestre. Como disse, se o Venerável Mestre não tiver objecções, coloca então a candidatura à votação da Loja para admissão às inquirições...

- Mas ouve cá! Se a candidatura é subscrita por dois maçons, se é submetida ao Venerável Mestre, se este tem de estar de acordo e, para isso, pode tirar as dúvidas que tiver e aconselhar-se com quem quiser, para quê a votação? Se a Loja elegeu o Venerável Mestre é porque confia nele...

- Bem visto! Afinal a criatura pensa! Tens razão, normalmente a votação é um pró-forma, efectivamente as candidaturas são quase sempre admitidas às inquirições por unanimidade...

- Lá está! Esta criatura pensa, e pensa bem! Essa votação é uma inutilidade!

-
Errado! Essa votação tem a grande utilidade de... existir!

- Lá voltas tu a falar por enigmas...

-
O interesse da votação é anunciar à Loja que existe um candidato e informar quem ele é. Por regra, a generalidade dos elementos da Loja não tem objecções ou nem sequer conhece o candidato e, portanto, confia no juízo dos proponentes e do Venerável Mestre. Mas esse anúncio prévio permite que, se alguém tiver objecções, peça a palavra e informe o Venerável Mestre que existem razões que, no seu entender, aconselham se relegue a votação para melhor oportunidade. Nesse caso, será precisamente isso que o Venerável Mestre deve fazer: suspender a votação e inquirir, em privado, quem o alertou, das razões do seu alerta.

- Porquê em privado?

-
Por duas razões: porque a honra das pessoas não é para ser discutida na praça pública e porque uma discussão imediata e geral das objecções colocadas cria grave risco de se tomarem decisões emocionais ou pelas razões erradas (votar apoiando quem teve a melhor argumentação, o que não quer dizer que tenha razão, por exemplo). Assim, o que houver a discutir e a analisar é discutido e analisado com calma e racionalmente. Em face das objecções colocadas e dos conselhos recolhidos em função dos novos elementos, o Venerável Mestre decidirá então, ou suspender o processo de candidatura (e já não haverá votação...) ou informar quem colocou objecções que não as considera suficientemente relevantes para impedir o prosseguimento do processo de candidatura, e porquê, e colocará a mesma à votação na sessão seguinte.

- Mas quem objectou vai votar contra, claro...

- Não necessariamente! Pode ter concordado em que os seus óbices não sejam suficientes para inviabilizar a candidatura, ou pode não votar contra por ter uma garantia de que as questões que colocou serão devidamente ponderadas com mais informação. Por exemplo, o Venerável Mestre pode informá-lo de que decidiu, em ordem a se apurar sem dúvida alguma se as objecções colocadas são relevantes ou não, que, votada favoravelmente a admissão do candidato às inquirições, um dos inquiridores seja... o maçon que levantou as objecções! Assim, ele próprio poderá verificar pessoalmente se elas têm ou não razão de ser...

- Pobre do candidato! Isso é o mesmo que inviabilizar a sua candidatura, pôr a julgá-lo quem tem objecções a ele!

- Pelo contrário, essa é a maneira de lhe dar uma hipótese justa de ver as objecções ultrapassadas, tendo em conta o método da votação final... Mas isso ver-se-á lá mais para a frente. Por agora, ficas só a saber que foste admitido às inquirições. E agora a conversa já vai longa. Depois falamos do que se segue.

Rui Bandeira

02 maio 2007

Noticiário da capoeira




A revista Sábado, de quinta-feira passada, publicou nas suas páginas 70/72 uma informação referente à Maçonaria Regular, anunciando uma espécie de acordo negociado entre o Grão-Mestre e o Presidente da Câmara (Carmona Rodrigues) para utilização, pela primeira, de um espaço no Príncipe Real.
Não vou tecer quaisquer comentários sobre o texto, ele mesmo, mas quero comentar alguns aspectos que estão adjacentes à notícia.

A Sábado termina a notícia com uma caixa onde selecciona “os princípios sagrados” de um lado e “…e o outro lado da moeda” do outro !

Como “princípios sagrados” apontam Liberdade, Igualdade, Fraternidade, Solidariedade, Discrição, atribuindo uma “definição maçónica” a cada um destes princípios, e por aí não há muito a dizer.
O que lá está não foge à verdade. É assim, de facto.

No outro lado da moeda é que se percebe que estamos a lidar com dinheiro falso.

Condicionamento – Quem divergir da doutrina oficial não é bem-visto na instituição. Como é ? De um lado afirma-se que a Liberdade de acção e de pensamento é uma das máximas da Maçonaria, do outro lado escreve-se que quem divergir da doutrina oficial não é bem-visto na instituição… É…, é dinheiro falso. Estas duas faces não podem ser da mesma moeda e eu só reconheço a primeira face.

Diferença – O estatuto depende da projecção que o irmão tem na sociedade “profana”… Como é ?
De um lado a Igualdade, escrevendo-se que todos os homens devem estar ao mesmo nível dentro e fora da instituição, e do outro faz-se depender o estatuto individual interno da posição social profana ? … É…, é dinheiro falso. Estas duas faces não podem ser da mesma moeda e eu só reconheço a primeira face.

Distanciamento – Há maçons que não se falam fora dos templos maçónicos… Como é ?
De um lado define-se que a Fraternidade é um dos valores mais invocados pelos maçons (até se tratam por irmãos…) e do outro lado escreve-se que há maçons que não se falam fora dos templos… É…, é dinheiro falso. Estas duas faces não podem ser da mesma moeda e eu só reconheço a primeira face.

Egoísmo – O não pagamento da quota dá direito a expulsão… Bem, não é exactamente assim, mas desta feita não está demasiadamente longe.
Entretanto convém esclarecer que esta situação só é verdadeira se o Irmão Maçon não pagar as suas quotas em manifestação de vontade de afastamento e/ou desinteresse pela instituição.
São sempre feitas várias tentativas de esclarecimento da razão pela qual os pagamentos não são feitos sendo que, se a razão apurada forem dificuldades económicas que impeçam o Maçon de cumprir esse seu dever, então há várias maneiras de resolver o problema sem que o Irmão perca qualquer dos seus direitos. É para isso que serve, também, a Solidariedade maçónica.

Exibição – As fugas de informação servem as constantes guerras internas… Mas quais guerras internas ?
Acontece que este “lado da moeda” bate certo, certinho, com o conteúdo da notícia, agora sim, ela mesmo.
E porque é assim ? Não é por causa de guerras internas, não… É mesmo exibicionismo. Em todas as capoeiras há perus a quererem passar por pavões… É assim em todas capoeiras… É assim em toda a parte onde os homens são… “humanos”…
Claro que é pena que as coisas aconteçam desta forma, mas os homens são assim, a inveja existe e as penas de pavão fazem falta a alguns perus que estão sempre disponíveis para a primeira página. Ora o que a Maçonaria precisa é de quem está disponível… para página nenhuma !
JPSetúbal

28 abril 2007

Disto & Daquilo ...

O nosso querido José falou sobre o estado do "estado", mas... ... ... imperdoavel (!), nem uma linha sobre o "campeonato" que se disputa este fim de semana.
Campeonato claro, porque campeonato é Benfica-Sporting, o resto é paisagem...

Eu por mim estarei fora... cá dentro, até 4ªfeira próxima, mas seguirei via TV o "derby".

Só puxei este assunto porque espero (é um voto que deixo por aqui) que venhamos a ter e a ver (os que gostam) um jogo de futebol a sério, sem malabarismos nem de jogadores, nem de árbitros, e muito... MUITO menos de pseudo-espectadores (felizmente parece que alguns estarão entretidos lá por Santa Comba, o que dá esperança de civilidade ali para os lados da "catedral"), selvagens habitualmente à solta nos nossos campos de futebol.

O resultado (para satisfação do nosso querido e habitual "Profano") é o que menos me interessa, porque o que dá "pica" é ver jogadores a sério (já que são profissionais que honrem a profissão) a jogar futebol, com virilidade, com serenidade, com inteligência, com entrega ao espectáculo que lhes dá tanto dinheiro a ganhar.

E quanto ao resultado... quero que o resultado se trame !

E "Viva o Benfica" !

Até quarta-feira. Bom fim de semana e bom 1º de Maio.

JPSetúbal

27 abril 2007

Disto e Daquilo - Como vai a Sociedade

Hoje e como não venho aqui há muito tempo vou deambular.
Vi nos noticiários relatada a carga policial sobre uma manifestação ocorrida no dia 25 de Abril.
E hoje por uma casualidade ouvi uma parte do debate mensal com o Governo no Parlamento.
Vamos ao primeiro.
Nao sou Pró policia nem contra a policia, e acredito que em algumas situações umas bastonadas são aplicaveis.
Pude perceber que a manifestação não tinha as devidas autorizaçoes legais, logo era ilegal o que dava a policia o direito de a impedir.
Pude perceber que os manifestantes eram extremistas e que uma das suas palavras de Ordem era com a Autoridade - uma clara alusão à Anarquia - e consequentemente configura um comportamento nao enquadravel num regime democratico.
Pude perceber que iam de cara tapada e que pelos danos causados estavam a destruir propriedade privada e publica.
Também foi notório que nao acataram a ordem de dispersar e de acabar com a manifestação.
Face a isto creio que foram mais que justificadas as bastonadas.
Indo para o debate
Foi a primeira Oportunidade de Paulo Portas confrontar o Primeiro MInistro no Parlamento. Pareceu-.me que estava mal preparado, ou estando quis mostrar uma postura de superioridade. Saiu-se mal porque nao só não interpelou o Governo sobre o assunto em discussão como acabou a ter que ouvir a ironia do Primeiro Ministro - usando a propria expressao de Paulo POrtas - classificar a intervenção como banal e trivial. E de facto foi .
A seguir e no decurso do seu tempo Francisco Louça trouxe o grave caso de uma empresa que quer Obrigar os trabalhadores a fazer turnos de 12h e 15 min, sendo que se estes nao concordarem serão dispensados.
Esquece-se Louçã que lei preve um numero máximo de horas de trabalho por semana, e que passar de 5 turnos de 7h e 20 min para 3 de 12h 15 min representa o mesmo numero de horas semanais, repartidas de forma diferente. E que se a produtividade aumentar porque os turnos sao mais compridos, imaginem que o processo de fabrico de uma peça dura 12 horas e nao 7, entao um unico trabalhador podera acompanhar o processo de incio ao fim evitando erros e desperdicios que podem acontecer quando se torna necessario passar informaçao.

E assim vamos vivendo neste país.

JoseSR

Mais Lojas Baden-Powell

No texto Baden-Powell e a Maçonaria, além de fazer constar algumas informações sobre o criador do Movimento Escotista, referenciei a existência de diversas Lojas Maçónicas que adoptaram como sua designação o nome desse profano ilustre.

Recebi ontem uma simpática mensagem de correio electrónica, enviada pelo Irmão HSM, Mestre Instalado da Respeitável Loja Baden-Powell, n.º 185 da Grande Loja Maçônica do Estado do Rio Grande do Sul, Brasil, informando-me da existência desta Loja, fundada em 4 de Novembro de 2004 e com sede no Oriente de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil. Esta Loja conta actualmente com 42 obreiros.

Informou também o mesmo Irmão que no Brasil existem ainda mais duas Lojas com o nome Baden-Powell, uma no Rio de Janeiro e outra em São Paulo.

Ao referenciar, no mencionado texto, diversas Lojas com a denominação de Baden-Powell, não tive a pretensão de recensear todas as que existiam. Limitei-me a dar conta do que encontrara em pesquisa na Rede. A achega agora trazida pelo Irmão HSM permite-me agora completar um pouco mais essa informação.

Com gratidão, aqui deixo os meus agradecimentos ao Irmão HSM, também com a menção de que espero que, sempre que tenha informação que julgue útil ou interessante ser publicada aqui no A Partir Pedra, não hesite em transmitir-ma, pois será sempre uma mais-valia para nós divulgar tudo o que importe aos maçons e aos profanos que se interessam pela Maçonaria e temas maçónicos.

Igual desejo expresso aos demais visitantes deste blogue, particularmente aos oriundos do Brasil. Não colocamos aqui mais informação sobre a Maçonaria Brasileira apenas por nosso desconhecimento. Mas estamos sempre atentos e desejosos de, na medida do possível, ir colmatando essa falta, pois estamos cientes - e muito satisfeitos com isso!- de que mais de metade das visitas a este blogue têm origem no Brasil. Na verdade, presentemente, o total de visitas oriundas do Brasil já supera as oriundas de Portugal em 50 % e os acessos através do Google.br triplicam os vindos através do Google.pt! Estamos pois, conscientes de que, sendo este blogue escrito por maçons de uma Loja Regular portuguesa, a Loja Mestre Affonso Domingues, não é já (seria talvez melhor ir adaptando para a sintaxe do português do Brasil: não é mais...) um blogue apenas destinado aos maçons e profanos portugueses, antes é um blogue para os maçons e profanos interessados de língua portuguesa. E cada vez mais, com a ajuda de todos, procuraremos corresponder a isso.

Para já, eu continuarei a procurar corresponder a partir de quarta-feira, pois, até lá, aproveito fim de semana, ponte e feriado para mais umas profanas mini-férias...

Rui Bandeira

26 abril 2007

Visita à Sinagoga "Portas da Esperança"

Ontem, quarta quarta-feira do mês, seria normalmente dia - ou melhor, noite - de sessão da Loja Mestre Affonso Domingues. Sendo também o dia de ontem feriado comemorativo do Dia da Liberdade, entendeu o Venerável Mestre, com o acordo geral da Loja, que se deveria, porém, organizar um programa especial alternativo. Ficou assim aprazada para ontem uma visita que há muito estava projectada, a visita à Sinagoga da Comunidade Israelita de Lisboa, aberta a todos os membros da Loja, famíliares e amigos.

Assim, ao fim da tarde deslocámo-nos à Rua Alexandre Herculano, n.º 59, em Lisboa, local onde se encontra a Casa de Oração, Centro de Estudo e local de reunião da Comunidade Israelita de Lisboa, tendo sido recebidos por um membro da referida Comunidade, que nos proporcionou uma visita guiada e uma interessante sessão de esclarecimento sobre a sinagoga e sobre alguns aspectos da religião judaica.

Quanto às instalações, centro da nossa curiosidade, a sinagoga impressiona sobretudo pela sua sobriedade. Trata-se de um edifício essencialmente funcional, manifestamente projectado e edificado para servir o objectivo do culto religioso judaico, confortável mas não luxuoso, agradável mas sem ostentação.

A Sinagoga "Portas da Esperança" (Shaaré Tikvá, em transliteração do hebraico) foi projectada pelo Arquitecto Ventura Terra, que contou com a colaboração do historiador Joaquim Bensaúde, quanto às normas sobre construção religiosa. Foi inaugurada em 18 de Maio de 1904, com a presença do Grão-Rabino de Gibraltar.

O edifício apresenta a particularidade - resultante de imposição legal na época então vigente, relativamente a qualquer local de culto dedicado a qualquer religião que não a católica - de não ter a fachada virada e dando directamente para a rua. Aliás, a discrição da implantação da sinagoga é notória: quantos se deram conta, ao passar pela movimentada Rua Alexandre Herculano, em Lisboa, que ali existe uma sinagoga? Acede-se às instalações entrando por um discreto portão que dá acesso a um pátio interior e daí então se entra no edifício, orientado de Poente para Nascente.

Para entrar na sinagoga, todos os homens devem ter a cabeça coberta por um chapéu ou por um solidéu. As mulheres podem entrar de cabeça descoberta. A explicação que o nosso guia nos deu - e que muito agradou às senhoras...- foi que os homens devem cobrir a cabeça no local sagrado em sinal de humildade, por serem imperfeitos e, logo, impuros, necessidade inexistente em relação às mulheres. Assim se confirma a explicação feminina do facto de, segundo o Génesis, Deus ter criado primeiro Adão e só depois Eva: faz-se sempre um esboço antes da obra-prima...

O local especificamente destinado ao culto é um amplo salão rectangular, rodeado por duas galerias. Segundo nos informou o nosso guia, salvo em cerimónias específicas, os homens ficam no salão e as mulheres nas galerias. Ao centro da sala fica o espaço de onde o ou os oficiantes dirigem as orações, sempre virados para Oriente. Na parede Oriental (virada a Jerusalém), no topo do salão, pode ver-se uma espécie de portada em duas portas (as portas da Arca Sagrada), em cada uma delas estando gravados, em hebraico, cinco dos Dez Mandamentos revelados pelo Criador a Abraão.

Dentro da Arca Sagrada guardam-se os livros da Tora (o Pentateuco, os cinco primeiros livros do Antigo Testamento), todos escritos à pena, símbolo a símbolo, em hebraico, em peles, que são enroladas em suportes de madeira e revestidas de mantilhas.

Em frente à Arca da Aliança está pendurada uma lâmpada (Ner Tamid - visível em ambas as fotos), uma lamparina a azeite onde está permanentemente acesa uma luz, em memória do Candelabro do Templo de Jerusalém e evocando a presença contínua do Criador.

Quer a visita, quer os esclarecimentos prestados pelo nosso guia, foram elucidativos da forma de prestar culto ao Criador que é prosseguida pelos praticantes da religião judaica, reforçando no espírito dos membros da Loja Mestre Affonso Domingues um princípio que é constituinte do nosso entendimento: não importa como o Criador é cultuado; seja-o através da Tradição Judaica, de qualquer das variantes Cristãs, dos princípios do Islamismo ou de qualquer outra religião, o que interesa é que é sempre ao mesmo e único Criador que os fiéis de qualquer religião se dirigem.

Os nossoa agradecimentos à Comunidade Israelita de Lisboa, pela simpática recepção e pelos preciosos esclarecimentos prestados. Para quem estiver interessado em visitar esta sinagoga, informa-se que visitas guiadas podem ser efectuadas mediante marcação através do fax (351) 213931139. As imagens que ilustram este texto foram retiradas do sítio na Rede da Comunidade Israelita de Lisboa, mais especificamente daqui.

Rui Bandeira

25 abril 2007

É 25 de ABRIL

Liberdade querida e suspirada



Liberdade querida e suspirada,
Que o Despotismo acérrimo condena;
Liberdade, a meus olhos mais serena,
Que o sereno clarão da madrugada!
Atende à minha voz, que geme e brada
Por ver-te, por gozar-te a face amena;
Liberdade gentil, desterra a pena
Em que esta alma infeliz jaz sepultada;
Vem, oh deusa imortal, vem, maravilha,
Vem, oh consolação da humanidade,
Cujo semblante mais que os astros brilha;
Vem, solta-me o grilhão da adversidade;
Dos céus descende, pois dos Céus és filha,
Mãe dos prazeres, doce Liberdade!
Bocage




Depois do “post” do Rui fica muito pouco para dizer sobre o significado desta data.
Eu tenho mais 15 anos do que o Rui, o que significa que passei sob aquele regime mais 15 anos do que Ele, tendo-me dado a oportunidade, que dispensaria gratamente, de viver algumas situações que a geração dele já não chegou a sentir, felizmente.
O “Dia do Estudante”, a “greve da fome” na Cantina Universitária, as corridas pelo Jardim Botânico de Lisboa quando as “bestas” a cavalo assaltavam a Faculdade de Ciências, os comunicados dos estudantes coordenados entre as Academias de Lisboa, Porto e Coimbra… (1960/1962)
Claro, a censura, bicho medonho que capou um povo durante dezenas de anos, a guerra, a miséria generalizada transformada, por milagre de Fátima, em bênção divina para ganhar o Céu…, a prisão (que eu não cheguei a ter) e a mordaça, o medo, o medo, o medo, constante, presente em toda a parte, a cada esquina de cada rua, de cada canto deste País.
Falam os defensores do “Estado Novo” (Estado Novo… ?) nas reservas de ouro que Portugal então acumulou.
Pois…, e para quê ? Para utilizar onde ? E com quem ? Como ?
A dupla negra do Sec. XX português Salazar/Cardeal Cerejeira amordaçou um povo, mantendo o isolamento de Portugal relativamente a tudo o que se passava fora das fronteiras do País, filtrando toda a informação publicada, mantendo a ignorância e o atraso do desenvolvimento cultural.
O lema era “ninguém quer o que não sabe que existe” ! e isso fez com que passassem 50 anos praticamente sem consequências na nossa cultura como povo.
A máscara do desenvolvimento industrial serviu para enquadrar milhares de trabalhadores em fábricas, facilitando o controlo das suas vidas e ocupações.
A riqueza, sob a forma dos ordenados que eram pagos nas fábricas, era distribuída “o quanto baste” para o sustento diário curto, muito curto, dando a ilusão que se vivia quando de facto apenas se sobrevivia.
A RTP passa actualmente uma série exemplar na construção, apresentação e verdade histórica, de António Barreto, “Portugal um Retrato Social”, a não perder por razão alguma.





Ontem (dia 24) saltou-me no correio a notícia do lançamento de um livro, “Bocage Maçon” de Jorge Morais.
Bocage foi um dos maiores génios portugueses do Sec. XVIII (morreu em 1805) e foi também ele um excluído da ditadura de então (a tradição de ditaduras vem de longe !), esteve preso, foi perseguido pela Inquisição (hoje é a Congregação para a Doutrina da Fé da qual Ratzinger foi Prefeito), torturado, agredido e finalmente espoliado de tudo acabou morrendo na miséria.
Entretanto foram encontrados elementos, há documentos maçónicos, processos judiciais e muita correspondência da época, que permitem a conclusão de que José Maria Barbosa du Bocage foi Maçon, iniciado (1795/1797) na Loja Fortaleza (fundadora do Grande Oriente Lusitano que mais tarde sofreu a cisão que deu origem à “Grande Loja Legal de Portugal/Grande Loja Regular de Portugal”).
Bocage na Sua Iniciação tomou o cognome maçónico de “Lucrécio”, obrigatório ainda hoje na obediência do GOL mas que a “GLLP/GLRP” não utiliza.
Esta condição de Maçon foi uma das razões que o levaram à prisão e ao sofrimento.

. . .
“Por outro lado, nesta fase da sua vida, Bocage, para além da poesia lírica, compôs poemas de carácter satírico contemplando pessoas do regime, tipos sociais e o clero, facto que não agradou obviamente ao poder. Poemas como "Liberdade, onde estás? Quem de demora?", "Liberdade querida e suspirada", "Pavorosa Ilusão da Eternidade" ou um outro em que faz explicitamente o louvor de Napoleão, paradigma da revolução francesa, e a crítica do Papa conduziram-no à prisão, por crime de lesa-majestade. No Limoeiro, vivendo em condições infra-humanas, moveu as suas influências e beneficiou da amizade do ministro José de Seabra da Silva e da sua popularidade. Três meses mais tarde, era entregue à Inquisição, já sem o poder discricionário que outrora tivera, sob a acusação de impiedade. Dos cárceres da Inquisição passou para o Mosteiro de S. Bento, como comprova o respectivo "Dietário", referente a 1798”
. . .
“Porém, a saga de Bocage com a Inquisição reacendeu-se em 1802, tendo sido aberto novo processo por denúncia feita por Maria Theodora Severiana Lobo que o acusava de pertencer à Maçonaria.
Por falta de provas e provavelmente devido à saúde fragilizada do escritor, o referido processo, que pode ser consultado na Torre do Tombo, foi arquivado. Um último aspecto é digno de menção: a censura perseguiu Bocage durante toda a sua vida.
Muitos versos foram cortados, outros ostensivamente alterados, poemas houve que só postumamente viram a luz do dia. Compreende-se plenamente o seu anseio desesperado: ‘Liberdade, onde estás? Quem te demora?’ ”
(Informação pesquisada na NET em
http://purl.pt/1276/1/liberdade.html)




Hoje, 25 de Abril de 2007, recordo Bocage, não como boémio, sacrílego, desregrado, mas como Homem espiritual e culturalmente desenvolvido (andou pelo Brasil e pela Índia), cidadão interessado, pertenceu à Marinha e foi Ministro.
Crítico mordaz do seu tempo e dos políticos que atraiçoavam o País, não lhes perdoava os jogos de interesses nem as jogadas palacianas.
A sua poesia tanto podia sair sarcástica, irreverente, como libertária ou romântica.
O seu génio permitia-lhe tudo isso.


“Aos sócios da Nova Arcádia” dirigiu-se-lhes um dia clamando:

Vós, Ó Franças, Semedos, Quintanilhas,
Macedos, e outras pestes condenadas;
Vós, de cujas buzinas penduradas
Tremem de Jove as melindrosas filhas:
Vós néscios, que mamais das vis quadrilhas
Do baixo vulgo insonsas gargalhadas,
Por versos maus, por trovas aleijadas,
De que engenhais as vossas maravilhas.


JPSetúbal


24 abril 2007

Memória do último dia sem Liberdade

Faz hoje trinta e três anos que vivi o último dia de Ditadura, o último dia sem Liberdade.

Vivi dezoito anos, oito meses e três dias em Ditadura. Bem menos do que meu Pai. Bem mais, felizmente, do que todos aqueles, o presente e o futuro desta terra, que nem um dia de falta de Liberdade suportaram. Talvez estes não tenham a noção da felicidade que têm: ninguém apreciará, certamente, mais a faculdade de ver do que o cego de nascença que foi curado da sua cegueira... Talvez só aprecie verdadeiramente a Liberdade, a singela Liberdade a transparente Liberdade, a invisível Liberdade, a "inútil" Liberdade quem viveu dela privado.

Eu vivi (só) dezoito anos, oito meses e três dias em Ditadura e tive a sorte de, na maior parte desse tempo, não me aperceber disso, embalado na Inocência da Infância e distraído pelos fulgores da Adolescência. Mas, sempre que a Razão se sobrepôs à Distracção a falta de Liberdade atingiu-me como ao asmático a falta de ar o afecta. É isso: fui um "asmático da Liberdade": tive a sorte de conseguir esquecer muitas vezes a minha insuficiência de Liberdade, mas quando a crise me atingia, atingia forte e feio! E, para mim, cada um dos dias desses dezoito anos, oito meses e três dias foi um dia a mais!

A todos aqueles que têm a ventura de não ter vivido nesse período, deixo as três palavras que a minha memória regista da Ditadura: Medo, Vergonha e Humilhação.

Medo que vi inúmeras vezes nos olhos de meu Pai. Medo que fazia que meu Pai, mesmo no aconchego do lar, sempre que desabafava e lhe escapava alguma palavra ou frase contra o Regime, assustadamente baixava a voz e inquietamente olhava em redor (na sua própria casa...), porque "as paredes tinham ouvidos" e a PIDE estava em todo o lado... Medo que fez meu Pai ter acções hoje tão inauditas como esta: naquele tempo, as "eleições" não eram nada como agora naturalmente ocorre; nem sequer se punha a "cruzinha" num boletim de voto: cada candidatura, a oficial e as pontualmente toleradas, enviava para casa de cada "chefe de família" (só esse podia votar...) um boletim com a sua lista de candidatos; o voto traduzia-se na colocação na urna do boletim da lista escolhida; recordo-me bem do cuidado que meu Pai teve, em 1969, de, antes de sair de casa, colocar num dos bolsos a lista da Situação (A "União Nacional" ou a "Acção Nacional Popular", e no outro a da Oposição. E, depois de voltar, apressadamente, ter ido QUEIMAR a lista da Situação, para que nenhuns restos indiciassem que se tinha atrevido a votar na Oposição...

Vergonha que eu senti ao ser obrigado a usar a farda da "Mocidade Portuguesa". Naquele tempo, não se podia frequentar o Liceu sem, obrigatoriamente, ter de pertencer àquela imitação de pacotilha da Juventude Hitleriana... A vergonha que eu sentia de ter de usar aquela ridícula camisa verde, aqueles patéticos calções caqui, aquele ofensivo cinto com a fivela em forma de "S" (de Salazar, pois claro...)!! Como eu desejava que chovesse a potes nos dias em que eu tinha de ir para a "Bufa" (como nós chamávamos àquela aberração), só para poder tapar com a gabardina aquela farda que me envergonhava!

Humilhação que senti quando, entrado para a Faculdade de Direito de Lisboa, tive de suportar os "famosos" GORILAS, os "contínuos" recrutados pelas suas especiais qualificações de possuírem músculos na proporção inversa em que possuíam miolos e cuja principal função era reprimirem brutalmente qualquer tentativa de manifestação de rebeldia que a "estudantada" ousasse ter. A Humilhação de ver diariamente as minhas Colegas serem objecto de grosseiros piropos oriundos daquelas minúsculas mentes, sem poder pôr devidamente na ordem aqueles brutamontes, sacos ambulantes de esteróides anabolizantes, que ainda por cima andavam sempre aos pares...

Hoje faz trinta e três anos que vivi o meu último dia sem Liberdade. Amanhã, como nos últimos trinta e três anos, no mesmo dia, não escrevo. Saio, passeio, respiro, sobretudo respiro e gozo a Liberdade, que sei apreciar por ter havido tempos em que a não tive. Para mim, amanhã é e será sempre assim:


Rui Bandeira