25 fevereiro 2007

Andam á procura de um Português GRANDE ?

Com o atraso de 2 dias, isto de disponibilidade de tempo tem andado algo atrapalhado, trago-Vos a recordação de um Português GRANDE.
Fez 20 anos que passou ao Oriente Eterno (anteontem, 23) e Portugal recordou José Afonso, quem foi, o que nos legou, o que é ainda hoje, 20 anos após ter deixado o mundo que o insultou e a humanidade que Ele defendeu como muito poucos.
Para os da geração de "40" o "Zeca" foi, em determinado momento da vida de Portugal, verdadeiramente "a luz ao fundo do tunel" teimando em brilhar contra quase tudo.
Na sua preocupação central de defender a Liberdade, de espalhar Fraternidade, de promover Igualdade, "Zeca" foi único em dimensão, em sentido de futuro, em projecto de vida para a humanidade, na forma que adoptou para o fazer.
Há 20 anos "Zeca" Afonso deixou o mundo, mas não deixou a humanidade.
Ele continua vivo na recordação dos que Lhe devem "enormes" momentos de abertura de esperança e, tal a Sua dimensão, em muita juventude actual, que havendo nascido muito após a Sua morte retomou os seus temas e os seus motivos.
Parte importante da música de intervenção urbana actual, hip-hop tão em voga, foi confessadamente buscar ao "Zeca" muita da inspiração com que combate a descriminação e aponta um rumo de esperança, particularmente aos jovens, ensinando que há saídas possiveis e que vale a pena lutar por elas.
Em muito dessa música é evidente o grito solidário e o protesto pelo mundo fraterno que devia estar instituido... e não está !
Esse foi o tema do "Zeca", e foi a Sua luta, e foi a Sua prisão, e foi a Sua alegria, finalmente, quando em 25 de Abril de 1974 viu o dia amanhecer ao som da Sua música e o Sol a brilhar na esperança da luta que tinha travado durante toda a vida.
Recordo-me que a primeira edição do "Vampiros" (... eles comem tudo, eles comem tudo e não deixam nada...") tive de a pedir ao meu cunhado que estava em medicina em Coimbra, para me arranjar um exemplar (vinil e 45 r.p.m. ...), só possível no circuito clandestino das Academias e das Associações de Estudantes (numa tarde qualquer do início dos 70's entrei na Sasseti, na altura ficava numa esquina da R. do Carmo, para comprar um disco do José Mário Branco. A cara do jovem, tão jovem quanto eu próprio, desconfiado a olhar para mim assim como que "é desta que vou dentro..." ficou-me inesquecível, e lá me vendeu o disquinho, "long play 33 r.p.m.", metendo-o num saco de papel debaixo do balcão e pedindo-me para não o abrir na rua !).
Era assim a vida portuguesa e devemos ao Zeca muito do que foi feito para a alterar.
Azeitão 1979-1987
"Curioso é que nós passamos 40 ou 50 anos de uma vida a fazer determinadas coisas e um dia mais ou menos de repente, sem que renunciemos a nada do que fizemos, apercebemo-nos de que tudo deveria ter sido diferente. É apenas uma vaga sensação que se instala, sem que saibamos defini-la muito bem. No fundo sou muito mais contraditório e supersticioso do que quis admitir ao longo dos anos."
"Eu sempre disse que a música é comprometida quando o músico, como cidadão é um homem comprometido. Não é o produto saído desse cantor que define o compromisso mas o conjunto de circunstâncias que o envolve com o momento histórico e político que se vive e as pessoas com quem ele priva e com quem ele canta.
"Não me arrependo de nada do que fiz. Mais: eu sou aquilo que fiz. Embora com reservas acreditava o suficiente no que estava a fazer, e isso é o que fica. Quando as pessoas param há como que um pacto implícito com o inimigo, tanto no campo político como no campo estético e cultural. E, por vezes, o inimigo somos nós próprios, a nossa própria consciência e os alibis de que nos servimos para justificar a modorra e o abandono dos campos de luta."
" Admito que a revolução seja uma utopia, mas no meu dia a dia procuro comportar-me como se ela fosse tangível. Continuo a pensar que devemos lutar onde exista opressão, seja a que nível for."

José Afonso

José Afonso está vivo e continua a cantar para todos nós ! (http://www.aja.pt/biografia.htm)



JPSetúbal


23 fevereiro 2007

O maçon Mozart

Wolfgang Amadeus Mozart é talvez o maçon mais famoso. Para se ter uma ideia, se se fizer uma busca no Google utilizando a palavra chave Mozart, encontra-se nada mais nada menos do que 42 milhões de páginas referenciadas; pesquisando nestes resultados com a palavra chave maçon, obtém-se, para o conjunto Mozart maçon o número de 213.000 páginas referenciadas; se, em vez de maçon, efectuarmos, nos resultados obtidos com a pesquisa Mozart, outra pesquisa, agora com a palavra chave mason, em inglês, para este conjunto Mozart mason o número de páginas referenciadas sobe para 1.030.000!

Em resumo, não é segredo para ninguém que Mozart foi maçon e mesmo os mais distraídos podem facilmente tropeçar com essa informação na Rede. É assim evidente que uma galeria de Maçons célebres não pode deixar de conter um texto sobre o mais célebre dos célebres maçons! Eis então um breve retrato do maçon W. A. Mozart.

Mozart tinha onze anos quando, atingido pela varíola, foi tratado por um médico vienense de apelido Wolff, que era um conhecido maçon. Em agradecimento pela sua cura, Mozart compôs uma melodia que ofereceu ao Dr. Wolff, que intitulou An die Freude (À alegria). O texto musicado era claramente de inspiração maçónica e o jovem Mozart não poderia ter composto a melodia sem conhecer o seu sentido.

Um ano mais tarde, Mozart travou conhecimento com o célebre Dr. Messmer, também maçon.

Aos dezasseis anos de idade, Mozart compôs O heiliges Band (Ó Sagrada Escritura), sobre um texto de Lens existente num conjunto de textos maçónicos, reservado apenas aos maçons e a que, naturalmente, era suposto nenhum profano ter acesso...

Um ano mais tarde, um maçon importante, von Gebler, encomendou a Mozart dois coros e cinco entreactos para acompanhar um drama heróico, Thamos, rei do Egipto (prefigurando o que mais tarde virá a ser uma ópera intitulada A Flauta Mágica).

Ou seja, entre os 11 e os 17 anos o contacto de Mozart com maçons e a sua forma de pensar e ver o Mundo foi frequente.

Em 1783, tinha então Mozart 27 anos de idade, o famoso Gemmingen, que conhecia o compositor, instala a sua própria Loja Maçónica em Viena e convida Mozart para se juntar a ela e aí exercer o ofício de Mestre da Harmonia. Mozart reflecte. Em Novembro do ano seguinte, apresenta a sua candidatura à Loja Zur Wohlthätigkeit (Beneficência). Foi aí iniciado em 14 de Dezembro de 1784.

A 7 de Janeiro de 1785 (apenas 24 dias depois da sua iniciação!), Mozart é, na Loja Zur wahren Eintracht (Verdadeira Concórdia), passado ao grau de Companheiro. A 10 de Janeiro, termina o Quarteto de Cordas em Lá Maior (K 464), no qual o movimento Andante se refere ao ritual de Iniciação Maçónica. A 13 de Janeiro (6 dias depois da passagem a Companheiro, 30 dias depois da sua Iniciação!), Mozart é elevado ao grau de Mestre. Quatro dias mais tarde, compõe um Quarteto de cordas em Dó Maior (K 465), que se refere ao grau de Companheiro. Em Março de 1785, termina o Concerto em Dó Maior (K 467), cujo Andante faz claramente alusão ao terceiro grau, o de Mestre.

A 6 de Abril de 1785, participa na cerimónia de Iniciação do seu próprio pai, Leopold Mozart.

Mozart participa em inúmeras reuniões de Loja e compõe numerosas obras destinadas a serem tocadas em sessão. Visita as Lojas Zu den drei Adlern (Três Águias) e Zur gekrönten Hoffnung (Esperança Coroada).

Entretanto, a doença que lhe virá a ser fatal (o síndroma de Schönlein-Henoch) progride. Mozart compõe as suas três grandes obras com simbologia maçónica: A Clemência de Tito, a Flauta Mágica e o Requiem.

A morte de Mozart origina uma reunião de exéquias fúnebres de seus Irmãos. Uma oração fúnebre proferida na ocasião foi impressa. Hoje, dela resta apenas um exemplar. Eis a sua tradução:

O Grande Arquitecto do Universo acaba de retirar à nossa Cadeia Fraternal um dos elos que nos era mais caro e mais valioso. Quem não o conhecia? Quem não amou o nosso tão notável Irmão Mozart? Há poucas semanas ainda, ele encontrava-se entre nós, glorificando com a sua encantadora música a inauguração deste Templo. Quem de nós imaginaria que seria tão rapidamente arrancado do nosso seio? Quem poderia saber que três semanas depois choraríamos a sua morte? É o triste destino imposto ao homem, de deixar a vida deixando a sua obra inacabada, e tão excelente ela é. Mesmo os réis morrem deixando à posteridade as suas intenções inacabadas. Os artistas morrem depois de terem devotado as suas vidas a melhorar a sua arte para atingirem a perfeição. A admiração de todos acompanha-os ao túmulo.No entanto, se os povos choram, os seus admiradores não tardam, muito frequentemente, a esquecer-se deles. Os seus admiradores talvez, mas não nós, seus Irmãos! A morte de Mozart é para a arte uma perda irreparável. Os seus dons, reconhecidos desde a infância, tinham feito dele uma das maravilhas deste tempo. A Europa soube-o e admirou-o. Os príncipes gostaram dele e nós, nós poderíamos chamá-lo: “meu irmão”. Mas se é óbvio honrar o seu génio, não nos devemos esquecer de comemorar a nobreza do seu coração. Foi um membro assíduo da nossa Ordem. O seu amor fraternal, a sua natureza inteira e devotada, a sua caridade, a alegria que mostrava quando beneficiava um de seus irmãos com a sua bondade e o seu talento, tais eram as suas imensas qualidades, que nós louvamos neste dia de luto. Era simultaneamente um marido, um pai, o amigo de seus amigos e o irmão de seus irmãos. Se tivesse tido fortuna, faria todos tão felizes como ele desejaria.

As informações para elaborar este texto foram recolhidas aqui.

Rui Bandeira

22 fevereiro 2007

Loge Nationale de Recherche Villard de Honnecourt

Já foi referenciada neste blogue a principal Loja de Investigação da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE), a Loja Quatuor Coronati.


Agora é a vez de dar conta da principal Loja de Investigação da Grande Loja Nacional Francesa, a Loge Nationale de Recherche Villard de Honnecourt, n.º 81 daquela Obediência Regular.

A Loge Villard de Honnecourt foi fundada em 1964, entre outros por Jean Baylot (1897-1976), autor de diversas obras de História da Maçonaria, e é reconhecida em todo o Mundo maçónico pela qualidade das suas conferências e dos seus trabalhos, constituindo as obras que publica referências da Maçonaria e da investigação espiritual contemporânea.

Publica a colecção CAHIERS DE VILLARD DE HONNECOURT, na qual se inserem os volumes, semestralmente publicados, dos TRAVAUX DE LA LOGE NATIONALE DE RECHERCHE VILLARD DE HONNECOURT.

A designação da Loja homenageia o Mestre de Obras Villard de Honnecourt, que viveu e trabalhou no século XIII, célebre por ter deixado documentos repletos de projectos arquitectónicos, actualmente guardados na Biblioteca Nacional de França.

As duas últimas iniciativas públicas da Loja tiveram lugar, respectivamente, em 12 de Dezembro e 13 de Fevereiro últimos e consistiram em conferências, a primeira sobre o tema A LEI E O SAGRADO (conferencista: Christian Charrière-Bournazel, Bastonário da Ordem dos Advogados de Paris) e a última subordinada ao tema A NATUREZA E O SAGRADO (conferencista: Jean-Marie Pelt, Presidente do Instituto Europeu de Ecologia).

Rui Bandeira

21 fevereiro 2007

Medalhas de identificação maçónicas

Aqueles que, nos últimos dias, têm visitado este blogue, ter-se-ão, porventura, interrogado: então agora que dizem que "isto está a ficar mesmo a sério" é que deixaram de actualizar o blogue? Não se tratou de um súbito ataque de pânico. Apenas e tão só o aproveitar coincidente, por todos os autores habituais de textos, de uns dias de férias, por ocasião do Carnaval. O JPSetúbal e eu fomos até à Serra da Estrela verificar a temperatura da neve. O JoséSR também aproveitou para descansar. Mas o bem-bom acabou e hoje já se volta a actualizar o blogue.

Após um período de descanso, nada como um recomeço ligeirinho. Vamos lá então a mais uma curiosidade maçónica.

Todos certamente se recordam de ter visto em filmes de guerra a utilização por soldados de fios com umas medalhas de identificação. Tais medalhas destinam-se a facilitar a identificação dos militares tombados no eufemisticamente chamado "campo da honra".

Pois os nossos Irmãos do continente americano vão mais longe e utilizam tais medalhas de identificação também para afirmarem a sua condição de maçons. A imagem de uma delas está reproduzida no início deste texto. Há mais modelos, todos custando 10,99 dólares americanos. Os fabricantes informam poder fornecer, mediante encomenda, outros modelos, com individualização da Loja ou da Unidade do cliente.

Mas não são só medalhas de identificação de combatentes que aquele fabricante fornece.

Fazendo jus à denominação deste produto em inglês (dogtag, literalmente, etiqueta de cão), o mesmo anuncia também uma medalha destinada a ser colocada ao pescoço do melhor amigo do Homem, igualmente demonstrativa do orgulho de ser maçon: uma medalha com o esquadro, o compasso e a letra "G" e, no verso, a inscrição O meu dono é maçon. Note-se que, no original em inglês, a inscrição permite um trocadilho, já que a palavra Master significa "dono", mas também "Mestre" (Maçon, obviamente).

Onde encontrei eu isto? Aqui!

Rui Bandeira

16 fevereiro 2007

Mais um Marco no Blogue

Pois é isto está a ficar mesmo a sério.

O dia 15/2/2007 é o primeiro dia em que o nosso blog regista mais de 100 visitantes num so dia.

A média de visitas diárias quase duplicou de Janeiro para Fevereiro.

Aos leitores que nos honram - muito obrigado.

A nós blogueiros iniciantes uma responsabilidade acrescida de continuar a merecer a confiança dos leitores.

JoseSR

15 fevereiro 2007

O Quatuor Coronati Correspondence Circle

A admissão na Loja Quatuor Coronati, n.º 2076 da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE) ocorre exclusivamente por convite formulado a maçons regulares que se tenham distinguido no campo dos estudos maçónicos ou em outro campo das artes, letras ou ciências. Porém, o resultado do trabalho desta elite de especialistas não interessa apenas a estes, nem sequer apenas aos maçons. A Loja Quatuor Coronati criou, assim, uma estrutura destinada a acolher todos os que se interessem pelos temas objecto de estudo dos seus membros: o Círculo de Correspondência da Quatuor Coronati (Quatuor Coronati Correspondence Circle, ou, abreviadamente, Q. C. Correspondence Circle, ou ainda mais sinteticamente, QCCC). Até há alguns anos, podiam aderir ao mesmo apenas Mestres Maçons Regulares. Presentemente, qualquer interessado, maçon ou não maçon, pode ser admitido.

O Círculo de Correspondência é administrado pela Q.C. Correspondence Circle, Limited, uma sociedade comercial constituída por todos os membros da Loja, gerida por um Conselho de Gestão. A jóia de inscrição é de 5 Libras para o volume normal ou de 6 Libras para o volume encadernado, dando de imediato direito à recepção, gratuita, do último volume das Ars Quatuor Coronatorum, o volume onde se publicam todas as pranchas apresentadas no ano anterior e a reprodução dos comentários e críticas que as mesmas mereceram, além de outros elementos.

A quota anual é de £ 20.00 para o volume normal ou de£ 22.00 para o volume encadernado.

Para aderir ao Círculo de Correspondência, pode-se imprimir e preencher o formulário para tal existente no sítio do Círculo, ou, para os residentes em Portugal, simplesmente contactar-me a mim, pois asseguro a sua representação em Portugal. Após o preenchimento da documentação e a entrega da quantia correspondente em Euros ao montante em Libras fixado para a modalidade escolhida, enviarei todos os elementos para Londres e, após aceitação, o nóvel membro receberá o volume gratuito. Ulteriormente, todos os contactos com o Círculo de Correspondência podem ser feitos directamente através dos respectivos serviços em Londres ou por meu intermédio.

A adesão será válida a partir da data da reunião seguinte do Conselho de Gestão do Círculo de Correspondência após a recepção da candidatura.

Os membros do Círculo de Correspondência, se Maçons Regulares, terão os mesmos direitos que os membros da Loja Quatuor Coronati, excepto os direitos de voto e de exercer cargos na Loja ou na Sociedade QCCC, Ltd.

Os membros do Círculo de Correspondência recebem também as convocatórias das reuniões da Loja, às quais os membros que forem Maçons Regulares podem assistir e participar nas discussões que se seguem à apresentação das pranchas. Os membros que não sejam Maçons Regulares podem assistir às reuniões que sejam anunciadas como estando abertas a eles. As datas das reuniões são a terceira quinta-feira de Fevereiro, a segunda quinta-feira de Maio, a quarta quinta-feira de Junho e as segundas quintas-feiras de Setembro e de Novembro , nesta última ocorrendo a instalação do Venerável Mestre para o ano subsequente. Os membros do Círculo de Correspondência têm direito a adquirir qualquer das outras publicações da QCCC, Ltd., as quais, tal como o volume anual das Ars Quatuor Coronatorum, estão exclusivamente reservadas aos membros. Têm também direito a colocar as questões que entenderem, relativas a história, costumes, rituais, etc., da Maçonaria à secretaria, que providenciará para que as respostas, por membros abalizados, sejam emitidas. Podem participar nos ágapes da Loja subsequentes às reuniões, mediante marcação prévia.

As Ars Quatuor Coronatorum anuais registam o trabalho da Loja Quatuor Coronati desde 1886. Contêm os estudos de muitos especialistas em vários campos do estudo e da pesquisa maçónicos. Os primeiros números são hoje extremamente raros, mas cópias de algumas edições, bem como as edições mais recentes estão agora disponíveis em CD-ROM. A QCCC, Ltd. publica ainda reproduções dos trabalhos maçónicos raros e valiosos, que ficam desse modo acessíveis aos estudiosos de todo o Mundo.

É possível marcar conferências sobre temas maçónicos, sendo os conferencistas providenciados pelo Conselho de Gestão do Círculo de Correspondência. Nenhum pagamento é exigido, excepto os reembolso de despesas de viagem e alojamento, o qual deve ser providenciado pelos organizadores da conferência. Os pedidos para conferências (em Inglês...) devem ser dirigidos à secretaria, directamente ou por meu intermédio.

Rui Bandeira

14 fevereiro 2007

Do Encerramento das Urgencias

Nos últimos tempos muito se tem falado do Encerramento das Urgências. Temos ouvido alguns discursos mais ou menos inflamados de autarcas e de entendidos afirmando que nem que ….. , aquela urgência sairá dali. O argumento mais interessante que ouvi numa entrevista na rádio foi “porque sim e mais nada”. Hoje de relance vi no noticiário que populares estavam a fazer uma vigília com cartazes dizendo “… não tirem daqui o Centro de Saúde …”

Antes de vir aqui escrever fui ler o tal relatório que tanto se fala e que poderá ser lido Aqui

Encontrei um relatório que me pareceu correcto e lógico, assentando sobre factos concretos e mensuráveis. Com objectivos a atingir que me parecem lógicos e coerentes com a política de racionalização de serviços que o Ministério da Saúde está a seguir.

O chavão “Encerramento” transmite a ideia imediata que depois da medida tomada o país ficará com menos serviços de urgência. Depois de lido o relatório podemos perceber que na verdade de 73 pontos de rede de urgência e depois de encerrados 15 ficamos com 83 pontos de rede. Que aritmética a minha! Pois toda a gente sabe que 73 menos 15 dá 58.
O que ninguém fala é que este relatório prevê a abertura de 25 pontos de rede. Ou seja temos assim o tal saldo de 10 pontos.

Fecham uns abrem outros. E porque razão é preciso fechar uns a abrir outros, se para ficarmos com mais 10 seria mais lógico abrir só esses.

Na verdade não é preciso pensar muito para perceber que foram aplicados critérios demográficos e de distância ao ponto de rede. A ideia geral é diminuir o tempo médio de chegada à urgência para 45 minutos para 90 % da população. Sendo que o que entendi é que actualmente este tempo está em 60 minutos para menos de 90 % da população. Ora nestas coisas dos valores médios há algumas cautelas a ter. De facto para algumas populações o tempo de chegada ao ponto de rede será aumentado, mas para outras será diminuído. O resultado final é mais positivo para mais gente, ou seja há mais gente melhor, sendo que alguns ficaram um pouco pior.

Quando se falam de serviços de Urgência, temos que separar 3 tipos de instituições. Os hospitais com Serviço de Urgência Polivalente (SUP), os com Serviço de Urgência Médico-cirúrgica (SUMC) e os com Serviço de Urgência Básica (SUB).

Os SUP estão associados a Hospitais Centrais ou agrupamento de Hospitais Centrais, onde são disponibilizados meios técnicos e humanos altamente diferenciados onde existem por exemplo aquilo que se chama hoje de “trauma room” ou uma Unidade de Queimados, os SUMC são serviços com alguma diferenciação, onde é possível atender casos com gravidade mas todavia com meios muito inferiores aos SUP. Quanto aos demais são serviços que atendem casos muito menos graves e que em muitos casos não servem sequer para estabilizar o paciente antes deste ser transferido para outro sitio, pois essa triagem é feita a montante pelo próprio INEM que encaminha logo o paciente para o serviço apropriado, e bem, em vez de perder tempo num ponto de rede que não tem os meios necessários.
Ora os centros que fecham são essencialmente os SUB sendo substituídos por outros SUB e por alguns SUMC.

Não nos esqueçamos também que os centros de Saúde existentes não fecham, apenas o serviço de Urgência o que quer dizer que na realidade só durante um horário especifico é que a cobertura normal de cada zona que deixa de ter um ponto de rede fica inferior à actual.

Fecham as Urgencias porque como disse há que conseguir o tal número médio. Mas podemos perguntar porquê fechar, se abrindo os tais mais 25 ficaríamos com mais 25 e com uma cobertura melhor (talvez passasse para 45 minutos para 95% da população). Aritmeticamente até talvez fosse verdade, mas economicamente seria catastrófico. Basta ver que no relatório um dos pressupostos é que nos SUMC para serem considerados como tal é necessário um mínimo de 3 cirurgias oriundas das urgências por dia.

Entendamos que não é possível equipar pequenos hospitais com tecnologias de ponta, para depois serem usadas uma vez por cada 2 anos, sempre assumindo que haveria os técnicos qualificados para o fazer.

Apenas por curiosidade, para poder garantir cirurgias de urgência na especialidade de Cirurgia Geral num período de 24H e considerando apenas a equipa de Bloco Operatório ( sem mais) são precisos em números absolutamente mínimos, 2 Cirurgiões com qualificação mínima de Especialista, 4 Cirurgiões no Internato de Cirurgia sendo que um poderá ser de primeiro ano, 2 Médicos Anestesistas, 2 Médicos Internistas, 3 enfermeiros de anestesia (1 por turno), 3 enfermeiros instrumentistas (1 por turno), 3 enfermeiros circulantes (1 por turno), 3 enfermeiros Chefe/Responsavel (1 por turno), 3 enfermeiros de assistência no Recobro Pos Operatório ( 1 por turno), 4 auxiliares de acção médica por cada turno.
Somando temos 10 Médicos, 15 Enfermeiros e 12 Auxiliares, ou seja 37 pessoas sem contar os administrativos e todo o restante pessoal necessário para manter uma Unidade Cuidados Intensivos, assistência medica e de Enfermagem no internamento etc.
E isto para um dia, é preciso contar que o ano tem 365, e que dado que estas pessoas também têm férias, folgas por trabalho nocturno etc.
Os custos de uma estrutura destas são imensos e só fazem sentido se forem rentabilizados, entendendo-se por rentabilização casos cirúrgicos urgentes para resolver.

A propósito relembro aqui o caso da Maternidade de Elvas. Para haver Maternidade e este serviço tem que estar aberto sempre 365x24, é necessário pelo menos 2 obstetras, 2 pediatras, 2 anestesistas, enfermeiros, parteiras, auxiliares, etc. Ora em Elvas nasciam no Hospital por ano 250 crianças. Assumindo por absurdo que só nascia um por dia isto quereria dizer que em 115 dias do ano esta equipa de profissionais ficava apenas a cumprir horário.

Que empresa (e o Estado é uma empresa) pode aguentar ter profissionais altamente qualificados parados durante 4 meses por ano.

Ora nos serviços de urgência o princípio é o mesmo. Há que racionalizar.

Desta forma inclusivamente recolocando os médicos e os outros profissionais nos novos serviços, (porque evidentemente não se vão descartar estes profissionais) os tempos de atendimento poderão ser reduzidos e as valências aumentadas, melhorando substancialmente a qualidade do atendimento.

À guisa de conclusão, tendo em conta o meu conhecimento do sector da saúde, parece-me que esta medida poderá ser benéfica para as populações e para os cofres do Estado. Todavia este é um relatório inicial, pelo que agora há que estudar a operacionalidade da solução, tanto no factor humano, quanto logístico e financeiro.
E como já ouvi o Ministro dizer que as coisas ocorrerão de forma faseada e com as garantias necessárias, nomeadamente a afectação de meios de transporte de urgência de melhor qualidade nas localidades que tinham um ponto de rede e que deixam de ter, bem como em outras que actualmente registam menos meios.
Aqui fico a aguardar o desenvolvimento do projecto para depois o poder analisar
JoseSR