09 fevereiro 2007

O maçon Kit Carson

Quando eu era miúdo, a banda desenhada chamava-se "histórias aos quadradinhos". Na época, as publicações eram a preto e branco e grande parte delas era dedicada às "cobóiadas". Desse tempo, recordo que um dos meus personagens preferidos era o Kit Carson. Mas Kit Carson não é apenas um personagem de banda desenhada. Kit Carson existiu mesmo. Nasceu no Kentucky, no condado de Madison County (não confundir com o local a que se refere o filme realizado e protagonizado por Clint Eastwood, As Pontes de Madison County, que se situava no Iowa) e... foi maçon!

Christopher (Kit) Carson nasceu em 24 de Dezembro de 1809. Quando tinha aproximadamente 1 ano, a família mudou-se para o condado de Howard, no
Missouri, onde cresceu, frequentando a escola somente até à terceira classe.

Aos 17 anos, fugiu de casa e juntou-se a uma caravana que se dirigia para o Novo México, onde a sua história maçónica começou, tinha ele 44 anos de idade.


Foi iniciado a 22 de
Abril de 1854, passado ao grau de Companheiro em 17 de Junho de 1854 e elevado ao grau de Mestre Maçon em 26 de Dezembro de 1854, na Loja Montezuma, em Santa Fé, Novo México. Na década de 50 do século XIX, havia pelo menos 10 Maçons que viviam na vizinhança de Taos. Em 16 de Novembro de 1859, pediram e obtiveram autorização da Grande Loja do Missouri para o levantamento de colunas da Loja Bent, em Taos. Kit Carson foi o primeiro 2.º Vigilante e, no ano seguinte, exerceu o ofício de 1.º Vigilante. Com o abatimento de colunas da Loja Bent, em 1865, Kit Carson regressou à Loja Montezuma, de Santa Fé, Novo México.

Kit Carson foi proclamado herói nacional dos Estados Unidos em 1854. Passou ao Oriente Eterno em 23 de Maio de 1868, em Fort Lyon, Colorado. Os seus restos mortais repousam, juntamente com os de sua mulher, no cemitério de Taos.

Como é que sei isto tudo? Porque o li no sítio da Grande Loja do Novo México, mais precisamente aqui!

Rui Bandeira

08 fevereiro 2007

Regularidade em Maçonaria

Há dias lancei um repto e um comentador solicitou mais informações sobre um tema determinado, ou melhor sobre uma questão associada a um tema.

De então para cá foram já publicados vários textos sobre este assunto e vários comentários feitos. De qualquer forma e com algum atraso aqui vai.

O tema : Regularidade
a questão :

"Caro josesr, o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proíbam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de Coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.
comentário assinado por Escriba "

O leitor pergunta essencialmente sobre questões de politica relacional e institucional maçónicas, do que sobre a regularidade.

No Inicio não havia regularidade ou irregularidade, havia Maçonaria. Com os ideais de 1789, inicia-se um movimento maçónico em França que abdica da imprescindibilidade de crença num ente superior - Grande Arquitecto.

Os movimentos maçónicos entretanto constituídos por esse Mundo fora regiam-se todos pelos mesmos princípios, pelo que o aparecimento desta nova corrente, que aos olhos do Maçonaria de então cometera uma irregularidade, provocou a necessidade de decidir o alinhamento. Ou seja manter como estava ou aderir à nova forma.
Aparecem as cisões, porque dentro de cada obediência havia pessoas que queriam uma coisa e outras, outra.

Aparece então o movimento irregular, sendo que o seu nome deriva apenas da Irregularidade original.

Por oposição as Obediências que se mantêm fiéis aos princípios iniciais passam a ser denominadas Regulares.

Estão então criados dois movimentos alimentados por fundos comuns, mas com filosofias distintas.

É normal, creio eu, que os movimentos privilegiem as relações com os da “sua cor”. E tão normal é que ganhou corpo uma nova figura, a do reconhecimento.

O reconhecimento não é mais que ser aceite pelos seus pares como um igual, dentro da linha filosófica seguida, seja ela Regular ou Irregular.

Segundo a minha opinião criaram-se, emergiram melhor dito, 2 pólos centralizadores do reconhecimento, a Grande Loja Unida de Inglaterra (regular) e o Grande Oriente de França (irregular).

Com o andar do tempo, e o aparecimento da Maçonaria Americana, USA, apareceu um terceiro pólo de reconhecimento. A Maçonaria Americana sendo regular, articula as suas políticas de reconhecimento com a Inglaterra, sendo que todavia pode reconhecer Potencias que a Inglaterra ainda não tenha reconhecido (geralmente a Inglaterra é a ultima a reconhecer).

Feita esta pequena introdução, importa aqui clarificar o que são relacionamentos institucionais.

Poderão haver dois tipos de relacionamento institucional. Os de ordem politica e os de ordem filosófica/ritual

Os de ordem politica (chamemos-lhe assim), a ocorrer, ocorrerão normalmente entre as mais altas esferas das instituições, de forma mais ou menos explícita. Este tipo de contactos não tendo qualquer repercussão para a vida interna da organização, pode fazer muito sentido na preservação da imagem pública da Maçonaria, pois quem ataca não faz distinção entre correntes filosóficas.

Os de ordem ritual. Ora penso que é mais sobre estes que o leitor está interessado.

OS rituais seguidos pelas obediências, independentemente dos ritos, estão de acordo com a linha filosófica que optaram. Regular ou Irregular conforme seja requisito a crença num Ente Superior – Grande Arquitecto ou não seja requisito.

Mas interliguemos aqui a Maçonaria com a história das religiões. Considerando um Cisma o advento da Irregularidade, poderemos compara-lo com os variados cismas que foram existindo ao longo dos séculos.

Comecemos pelo primeiro, o advento do Cristianismo. O aparecimento do Cristianismo rompe com a religião Judaica. E apesar dos fundamentos serem muito similares, um Judeu não pode pregar numa Igreja nem um Padre pode fazer as vezes de um Rabino.

Alguns anos mais tarde aparecem as Igrejas Anglicana e Protestante. Mais recentemente temos as confissões Evangélicas. Todas estas são Cristãs, seguem um principio de base similar, mas são todas diferentes.

Os Oficiantes de cada uma apenas Oficiam na respectiva Igreja/confissão.

As hierarquias de cada uma são definidas por métodos próprios, e cada qual tem a liberdade de interpretar os mesmos livros de forma distinta, pregando coisas diferentes. Sendo mais ou menos tolerantes.

As concelebrações são coisas muito raras e apenas em ocasiões especificas, sendo que na verdade não são concelebraçoes, mas sim celebrações paralelas justapostas no tempo e espaço.

Ora a Maçonaria não é diferente.

Todavia a pergunta é, porque razão não se juntam ritualmente, ou melhor porque razão é proibido que isso aconteça.

A resposta é minha, e confesso que não fui ler nada sobre este tema, e como tal obriga-me a mim. Pode até ser um erro colossal, mas é a minha e penso que tem lógica.

Saber a razão inicial da proibição parece-me tarefa ciclópica, e só possível se pudéssemos viajar no tempo e ir ouvir o que foi dito pelos dignitários que a decretaram. Entre o que é dito publicamente e a verdadeira razão pode ir uma diferença substancial.

É certo que o objectivo era marcar a diferença. Mas a diferença primordial se bem que importante era ténue. Os espíritos da altura, época de revoluções e de descobertas de princípios que para nós hoje são dados adquiridos, eram talvez menos contemporizadores.

A forma tradicional de evitar, foi sempre a proibição. E ainda hoje voltando atrás as religiões o fazem de forma discreta mas fazem ao exigirem processos de conversão (mais ou menos complicados) para celebrarem casamentos de acordo com a “verdadeira fé”.

Ora em períodos conturbados, as indicações dadas pelas “chefias” devem ser claras.
“Não é permitido” é substancialmente mais claro do que , “ poderão eventualmente estar presentes desde que salvaguardados …… “ sem contar que desta forma ao proibir se preservava o poder de Reconhecer.

A não miscigenação preservaria os valores impolutos, e permitiria claramente considerar os grupos como dissidentes.

Ora hoje quase 3 séculos depois, a proibição passou a questão filosófica e cimentou a diferença.

Hoje não creio que seja possível, sem grandes modificações, que a junção das correntes acontecer. Todavia no futuro quem sabe.

Todavia e como Rui Bandeira mencionou, há algumas coisas a serem tidas em conta. Do ponto de vista da Regularidade é aceite como Maçonaria embora diferente a praticada pelos movimentos Irregulares, no caso português o GOL.

E na prática, há uma circunstância em que Maçons Regulares e Irregulares se reúnem ritualmente e é aceite (na generalidade) pelas estruturas. Esta circunstancia é infelizmente a Cadeia de União Fúnebre quando efectuada publicamente.

E por aqui me fico por enquanto. Sei que não disse nada de muito diferente do que o Rui Bandeira já escreveu, mas talvez a abordagem seja algo distinta.
JoseSR

Blogue francófono

O IFSF - Blogue francophone de la FM Internationale é um verdadeiro "Mason's Digest", isto é, trata-se de um blogue que recolhe e cita muito do que é publicado, na Imprensa e na Rede, blogosfera incluída, sobre a Maçonaria.

Para quem domina a língua francesa e pretende manter-se informado sobre a (rica e variada) informação sobre a maçonaria que se publica nos países francófonos, é um endereço a incluir nos Favoritos.

Mas o blogue não se limita a recolher informações na Imprensa e na Rede de língua francesa. O nosso A Partir Pedra também é escrutinado pelos seus autores!

Prova disso mesmo é esta referência de 16 de Janeiro último, a propósito da Grande Loge Nationale Française e da filatelia, que nos deixa obviamente satisfeitos.

Rui Bandeira

Fernando Pessoa versus Hiram

Nas voltas da "net" encontrei a referência a um
documento que me parece ser uma preciosidade.
Sob dois aspectos essenciais:
- Pela raridade
Creio tratar-se de uma obra só possível encontrar em
antiquários e alfarrabistas e mesmo assim só por
grande acaso;
- Pela actualidade
Pelo pequeníssimo excerto que apanhei é de uma
actualidade espantosa, bom, ou talvez não "espantosa" !
Tratando-se de um documento datado de 1935 pode
constatar-se que, para ser notícia de hoje, basta trocar
nomes e data...
Então cá vai:

FERNANDO PESSOA
As associações secretas
JPSetúbal

07 fevereiro 2007

Relacionamento entre Corpos Maçónicos

Como resulta do texto publicado ontem, a posição da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE) relativamente aos Corpos Maçónicos que considera que não preenchem as normas para que possam ser por ela considerados Regulares é a de, embora os reconheça como Maçonaria, os qualificar de Irregulares e interditar o contacto maçónico com eles. As Obediências Regulares, em todo o Mundo, devem seguir - e por norma seguem - idênticos critério e procedimento. Este procedimento aplica-se em relação, quer colectivamente ao Corpo Maçónico considerado Irregular, quer individualmente aos obreiros desse corpo.

Por contacto maçónico deve entender-se exclusivamente o respeitante à actividade maçónica stricto sensu, isto é, a participação, integração ou recepção em sessões RITUAIS, exclusivamente destinadas à participação de maçons e, assim, realizadas, como os maçons referem, a coberto dos profanos.

Tudo o resto não está coberto pela interdição. Não estão nela incluídos os ágapes brancos (isto é, em que é admitida a participação de profanos) ou mesmo as sessões cerimoniais brancas, pela simples razão de que, se tais eventos são abertos a profanos, por maioria de razão não são interditos a maçons de diversa tendência; não estão incluídos pela dita interdição quaisquer eventos organizados ou dinamizados ou participados por Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, destinados ou abertos a profanos; não estão cobertos pela mencionada interdição os actos, organizações, projectos, etc., organizados pelas associações cívicas profanas que constituem o suporte legal ou que são participadas pelos Corpos Maçónicos, Regulares ou Liberais, porque, por definição, são eventos profanos.

Concordo com esta orientação. Conforme escrevi no texto A Regularidade Maçónica, reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra. Admitido isto, sem complexos, facilmente entendemos que cada uma das tendências tem algo de único, de próprio, de íntimo. Esse algo deve ser reservado a ela própria e aos seus membros. Tal como cada um de nós preserva a sua vida íntima para si próprio e para com quem a compartilha. Em Maçonaria esse nível de intimidade corresponde às sessões rituais e respectivos ágapes. Faz-me, assim, sentido que essas sejam reservadas a quem compartilha comigo exactamente os mesmos princípios. Com maçons de outras orientações, o nível de relacionamento é diverso, mas seguramente diferente e mais próximo do que em relação ao Mundo Profano. Logo, excluído o ambiente exclusivamente destinado a meus Irmãos compartilhando comigo os mesmos princípios, é gratificante, é valioso, será porventura útil, ter um relacionamento especial também com maçons de outras orientações, mas respeitando o seu espaço próprio e preservando o meu. Assim, terei oportunidade de conviver e beneficiar dos ensinamentos de meu Irmão maçon de outra tendência em ágapes brancos, em sessões cerimoniais brancas (na sua casa, ou na minha), em organizações ou eventos de carácter profano, quiçá conjuntamente organizados (porque não?).

Em termos de imagem: com os conhecimentos normais, convivo fora de minha casa; aos meus familiares e amigos, recebo-os em minha casa e com eles compartilho a minha sala; o meu quarto, esse, reservo-o para quem é meu íntimo! E os meus amigos e familiares não se ofendem por eu reservar esse Santo dos Santos para mim e com quem partilho a minha intimidade. Igualmente não é razão de tristeza para meus Irmãos maçons de tendência diferente da minha que idêntica reserva eu faça na minha Vida Maçónica e que, similarmente, respeite tal reserva em relação a eles!

Tal reserva - que apenas distingue entre íntimos e próximos, mas que a ambos privilegia em relação a todos os demais - traduz apenas a aceitação da Realidade, das Similitudes e Diferenças que existem, de forma alguma um menor respeito ou consideração para com o Maçon de tendência diversa da minha.

Do meu ponto de vista, não há que nos lamentarmos por existir um pequeno espaço reservado unicamente aos maçons da mesma Obediência; há que aproveitar o enorme espaço de convivência, de cooperação, de afirmação dos princípios comuns, de que a Maçonaria e os maçons, independentemente das suas orientações, dispõem.

Rui Bandeira

06 fevereiro 2007

Reconhecimento de Corpos Maçónicos

Freemason's Hall - Londres

A existência de diversos Corpos Maçónicos, desde logo em termos internacionais - mas não só -, mas também a existência de organizações para-maçónicas ou que, nada tendo a ver com a Maçonaria, se reclamam dela, ou de esoterismo, ou de similares conceitos, implica a necessidade da Maçonaria distinguir entre o que é Maçonaria e o que não é e, dentro desse conceito, entre quem postula idênticos princípios e quem segue diferente caminho. Criou-se, assim, o mecanismo do Reconhecimento.

Na Maçonaria Regular, particularmente importante é o Reconhecimento da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE), por ser essa a Grande Loja original da Maçonaria Especulativa. Daí que seja dada especial atenção aos critérios instituídos por essa Grande Loja para o Reconhecimento de Corpos Maçónicos. Tais critérios estão publicados aqui e a sua versão em português está publicada no sítio da GLLP /GLRP, mais precisamente no capítulo sobre o Reconhecimento, de onde é para aqui transcrita. São, pois, os seguintes os critérios que é necessário preencher para que um Corpo Maçónico seja reconhecido como integrando a Maçonaria Regular:

1. Regularidade de origem, isto é, que cada Grande Loja tenha sido criada regularmente por uma Grande Loja devidamente reconhecida ou por três ou mais Lojas regularmente constituídas.

2. Que a crença no Supremo Arquitecto do Universo e na sua vontade revelada seja condição essencial para admissão dos membros.

3. Que todos os iniciados prestem o seu compromisso sobre o Livro da Lei Sagrada ou com os olhos fixos nesse Livro, aberto à sua frente, livro pelo qual se exprime a revelação do Ser Supremo ao qual o individuo que acaba de ser iniciado fica, em consciência, irrevogavelmente ligado.

4. Que a composição da Grande Loja e das Lojas particulares seja exclusivamente de homens e que cada Grande Loja não mantenha quaisquer relações maçónicas, seja qual for a sua natureza, com Lojas mistas ou com corpos que admitem mulheres como membros.

5. Que a Grande Loja exerça jurisdição soberana sobre as Lojas submetidas à sua obediência, isto é, que seja um organismo responsável, independente e inteiramente autónomo, possuindo uma autoridade única e incontestada sobre a Arte ou os graus simbólicos (Aprendiz, Companheiro e Mestre) colocados sob a sua jurisdição, e que não esteja de forma alguma subordinada a um Supremo Conselho ou qualquer outra Potência reivindicando controle ou supervisão sobre esses graus, nem partilhe a sua autoridade com esse Conselho ou essa Potência.

6. Que as Três Grandes Luzes da Maçonaria (isto é, o Livro da Lei Sagrada, o Esquadro e o Compasso) estejam sempre expostos durante os trabalhos da Grande Loja ou das Lojas na sua obediência, sendo o principal dessas luzes o Volume da Lei Sagrada.

7. Que as discussões de ordem religiosa e politica sejam estritamente proibidas em Loja.

8. Que os princípios dos Antigos Landmarks, costumes e usos da Arte sejam estritamente observados.

A Grande Loja Unida de Inglaterra precisa ainda, sob o título

Grandes Lojas Irregulares e Não Reconhecidas

Existem alguns Corpos Maçónicos com regras próprias que não preenchem estas normas, por exemplo, não exigem a crença num Ser Supremo, ou que autorizam ou encorajam os seus membros a desenvolver, enquanto tal, actividade política. Esses Corpos são reconhecidos pela Grande Loja de Inglaterra como sendo Maçonicamente Irregulares e o contacto maçónico com eles é interdito.

Note-se que a Grande Loja Unida de Inglaterra, com esta formulação, embora enfatize que tais Corpos Maçónicos não são Regulares (e portanto os designa de Irregulares), reconhece-os como Maçonaria.

A GLLP/GLRP é o único Corpo Maçónico português reconhecido como Regular pela Grande Loja Unida de Inglaterra, como se pode conferir aqui. De notar que, ao contrário do que muitos pensam, não é exacto que a Grande Loja Unida de Inglaterra apenas reconheça necessariamente um Corpo Maçónico por país; designadamente, no Brasil reconhece como Regulares o Grande Oriente do Brasil e as Grandes Lojas do Estado de Mato Grosso do Sul, do Estado do Rio de Janeiro e de S. Paulo, como se pode conferir aqui.

A GLLP/GLRP é reconhecida pelas seguintes Potências Maçónicas:

District Grand Lodge of Gibraltar
G. L. de la Republica Dominicana
G. L. de los Andes (Bucaramanga)
G. L. Nationale Guinéenne (Conakry)
Gran Loggia Repubblica Di San Marino
Gran Logia "Benito Juarez"
Gran Logia "Cosmos" del Estado de Chihuahua
Gran Logia "Cuscatlan"
Gran Logia "Occidental Mexicana"
Gran Logia "Unida Mexicana"
Gran Lògia D' Andorra
Gran Logia de AA:. LL:. Y AA:.MM:. de Sinaloa
Gran Logia de Chile
Gran Logia de Costa Rica
Gran Logia de Cuba
Gran Logia de Guatemala
Gran Logia de Honduras
Gran Logia De La Argentina
Gran Logia de la Republica de Venezuela
Gran Logia de Nicaragua
Gran Logia de Peru
Gran Logia de Tamaulipas
Gran Logia de Uruguay
Gran Logia de York de México
Gran Logia Del Ecuador
Gran Logia del Estado de Chiapas
Gran Logia del Estado de Hidalgo
Gran Logia del Estado de Nuevo Leon
Gran Logia del Pacifico
Gran Logia Simbolica del Paraguay
Gran Logia Soberana de Puerto Rico
Gran Logia Valle de México
Grand East of the Netherlands
Grand Lodge Alpina of Switzerland
Grand Lodge of A.F. & A.M. of Ireland
Grand Lodge of Austria
Grand Lodge of Bolivia
Grand Lodge of Bulgaria
Grand Lodge of Denmark
Grand Lodge of F. and A.M. of Japan
Grand Lodge of Finland
Grand Lodge of Greece
Grand Lodge of Iceland
Grand Lodge of India
Grand Lodge of Iran
Grand Lodge of Moldova
Grand Lodge of Norway
Grand Lodge of Panamá
Grand Lodge of Philippines
Grand Lodge of Russia
Grand Lodge of Slovenia
Grand Lodge of South Africa
Grand Lodge of Spain
Grand Lodge of Sweden
Grand Lodge of the Czech Republic
Grand Lodge of the State of Israel
Grand Lodge of Turkey
Grand Lodge of Ukraine
Grand Loge du Congo
Grand Loge Nationale de Madagascar
Grand Orient D' Haiti
Grande Loge de Côte D' Ivoire
Grande Loge de Luxembourg
Grande Loge Du Benin
Grande Loge Du Burkina Faso
Grande Loge Du Cameroun
Grande Loge Du Gabon
Grande Loge du Royaume du Maroc
Grande Loge du Sénégal
Grande Loge Nationale Française
Grande Loge Nationale Togolaise
Grande Oriente D' Italia
Grande Oriente de Pernambuco
Grande Oriente do Brasil
M. R. G. L. Nacional de Colombia
Marea Loja Nationala Di Romania
National Grand Lodge of Poland
Regular Grand Lodge of Belgium
Regular Grand Lodge of Yugoslavia
Sino Lusitano Lodge of Macau Nº 897 - Hong Kong
Symbolic Grand Lodge of Hungary
The G. L. of British Columbia & Yukon
The Grand Lodge of Alberta
The Grand Lodge of Croatia
The Grand Lodge of F. and A.M. of Estonia
The Grand Lodge of Scotland
United Grand Lodge of England
United Grand Lodge of New South Wales and Australian Capital Territory
United Grand Lodge of Victoria
United Grand Lodges of Germany.

Rui Bandeira

05 fevereiro 2007

A Regularidade Maçónica

No seu texto Breve análise do Blogue, JoséSR sugeriu aos visitantes do mesmo que, no espaço para comentários, indicassem assuntos que gostassem de ver aqui tratados. Escriba não se fez rogado e escreveu: Gostaria de por aqui ver abordada e participada pelos internautas, a questão da regularidade. É com enorme tristeza e pesar que constato o que no nosso país se passa neste dominio. Instado a esclarecer a razão da tristeza, acrescentou: o que me deixa triste é a maioria das obediências deste país, não todas, proibam, a palavra é esta, o contacto entre maçons de outras obediências que não a sua. Não faz para mim sentido, de todo, que me possa reunir institucionalmente com um irmão australiano e não o possa fazer com um de coimbra. A Maçonaria é só uma, uma questão administrativa não devia servir para dividir irmãos que almejam apenas trabalhar em conjunto, há luz de um Ideal Maior.

A prioridade no desenvolvimento cabia ao JoséSR, já que o assunto fora suscitado em comentário a um texto seu. Porém, o JoséSR não terá tido ainda disponibilidade para o fazer. Como não é conveniente deixar passar mais tempo sem desenvolver o assunto proposto, sob pena de o Escriba ficar defraudado na sua expectativa, avanço já eu.

Uma advertência, porém, não quero deixar de formular, talvez desnecessariamente: todas as opiniões que neste blogue deixo consignadas vinculam-me apenas a mim, maçon livre de uma Loja livre, e a mais ninguém, pois sou porta-voz apenas de mim mesmo.

Escriba levantou, não uma, mas três questões diferentes: a Regularidade, o Reconhecimento e o Relacionamento das e entre as Obediências Maçónicas. Interligar-se-ão, influenciar-se-ão, sem dúvida. Mas são questões diferentes e assim devem ser tratadas. Hoje, tratarei apenas da primeira.

Denomina-se de Maçonaria Regular a Maçonaria que segue os princípios da Maçonaria Inglesa, especificamente da Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE). Tais princípios estão definidos nos doze Landmarks já neste blogue apresentados e comentados. Deles se retira estarmos perante uma Maçonaria deísta (é elemento essencial a crença num Ente Criador), independente de e aceitando todas as religiões, com o objectivo do aperfeiçoamento moral e espiritual dos seus membros através do método maçónico e da interacção individual com o grupo em que se está inserido e só mediatamente influenciando a Sociedade, através do exemplo dos maçons, isto é, sem intervenção política directa e organizada. Em Portugal, esta tendência está corporizada na Grande Loja Legal de Portugal / Grande Loja Regular de Portugal (GLLP / GLRP). Outras organizações de menor expressão, originadas de cisões desta Obediência se reclamam do mesmo ideário.

À falta de melhor designação, designa-se por Maçonaria Liberal (evito aqui o adjectivo de Irregular, que pode ser interpretado como tendo uma carga negativa) a tendência que prossegue o ideário desenvolvido pelo Grand Orient de France desde a época da Revolução Francesa, assente sobretudo na trilogia de princípios Liberdade-Igualdade-Fraternidade, na promoção da Democracia e das Ideias Democráticas. Esta tendência não considera essencial a crença num Criador, admitindo agnósticos e ateus. Busca o aperfeiçoamento da Sociedade através da acção dos seus membros, que devem, para tal, aperfeiçoar-se moralmente. Não rejeita, antes favorece, a intervenção política. Em Portugal, esta opção é a seguida pelo Grande Oriente Lusitano (GOL).

Estas duas correntes são realidades e organizações diferentes e com diferentes propósitos. É certo que em muito os respectivos caminhos são comuns (o método de evolução, o tipo de organização, as raízes simbólicas, a proactividade pelo aperfeiçoamento). Mas também de forma não despicienda tais caminhos divergem: enquanto uma baseia todo o seu ideário na crença num Criador, como base e enquadramento para o aperfeiçoamento dos seus membros, objectivo essencial buscado (sendo tudo o resto, incluindo a evolução da Sociedade uma consequência mediata), a outra prescinde dessa crença (mas não a hostiliza, aceitando sem problema crentes e, tal como a Maçonaria Regular, integrando a tolerância perante as várias opções religiosas no seu ideário) e prossegue o aperfeiçoamento dos seus membros como meio para atingir o objectivo essencial, a transformação da Sociedade, a sua evolução e aperfeiçoamento, de acordo com a matriz democrática.

Ambas as tendências são igualmente respeitáveis. Têm - repito - muito em comum, quer na forma, quer na substância. Têm, no entanto, princípios essenciais diferentes e objectivos diversos. São, pois, realidades diversas, embora em muito semelhantes. Percorrem e partilham o mesmo caminho, ao longo de grande parte da jornada. Mas querem chegar a pontos diferentes. Ambas são romeiras. Só varia o destino de romagem.

No meu ponto de vista, não é melhor nem pior uma do que outra. São, simplesmente, diferentes. Ambos os caminhos são louváveis. Um convirá mais a uns; o outro a outros.

Não há, assim, uma mera questão administrativa a dividir Irmãos. Reconhecer as diferenças, assumir a diferente natureza destas duas grandes tendências, admitir que não há UMA Maçonaria, antes DOIS tipos de Maçonaria - e que não há mal nenhum nisso! - é, no meu entendimento, essencial para que os elementos de cada uma das tendências viva proveitosamente aquela em que está inserido e se relacione fraternalmente com a outra.

Eu insiro-me na Maçonaria Regular, prossigo e aceito os seus princípios. É este o meu caminho, o que se adequa a mim. à minha mentalidade, à minha maneira de ser, de pensar, de reagir. Outros inserem-se noutra tendência maçónica. O seu caminho é igualmente meritório e, porventura, para a mentalidade, a maneira de ser, de pensar e de reagir de quem o trilha, será mais profícuo.

Se os maçons, de qualquer tendência, souberem assumir a sua própria individualidade e as dos demais, se aplicarem a si próprios e aos demais maçons, qualquer que seja a sua tendência, os princípios que professam, ser maçon Regular ou Liberal não será nunca um factor de divisão, antes e tão só o que é: um adjectivo caracterizador da forma que escolheu para procurar ser melhor e ajudar a Sociedade a ser melhor.

Rui Bandeira