24 janeiro 2007

Os Voos da CIA

Bem cá vou eu “largadinho” para mais um tema polémico. Mas que posso eu fazer é mais forte que eu. Deve ser por isso que me vou mantendo no caminho do aperfeiçoamento.

Estou farto, já não consigo ouvir falar do assunto, e sobretudo como diz o JPSetubal não há pachorra para ouvir tanta baboseira e tanta asneira proferida por uns pretensos paladinos da moral.

Refiro-me ao assunto VOOS DA CIA, ou melhor dos aviões supostamente ao serviço da CIA porque esta propriamente dita não voa.

Os argumentos que vou ouvindo são que a CIA viola os direitos humanos, que os passageiros vão acorrentados, que os aviões passaram no espaço aéreo português, que aterraram na base americana das Lajes, e que tudo isto é inadmissível num estado de direito ou melhor numa Europa de Direito.

Vamos dar por dados adquiridos e certos, os seguintes:

A CIA transportou por avião entre origens mais ou menos conhecidas e destinos mais ou menos revelados, pessoas que deteve para averiguações sobre questões relacionadas com a segurança dos USA.

Que os Aviões voando de Oriente para Ocidente, passaram por espaço aéreo Português.

Que alguns aviões aterraram na base das Lajes para reabastecimento, ou mesmo em qualquer outro aeroporto nacional.

Que os passageiros que viajavam nesses voos, estavam acorrentados ou pelo menos presos aos seus lugares.

Que esses passageiros foram ou estavam a ser, ou iriam ser sujeitos a tortura e tratamento menos digno.

Postos estes dados em cima da mesa, e se bem percebi são estas as acusações que são feitas, sendo que o Estado português é acusado de compactuar e de não prestar informação competente ao Parlamento Europeu.


Por outro lado também me parece de elementar justiça dar como adquiridos e verdadeiros os seguintes factos

A CIA é uma agência de informações e de combate ao terrorismo. Por definição é um organismo que actua de forma secreta e que responde apenas às instâncias americanas.

A CIA não investiga delito comum, nem questões de violência doméstica, trata de assuntos relativos à segurança do Estado Americano.

Que esses voos foram feitos em aviões particulares, e que provavelmente cumpriram as normas mínimas de informação de voo que, e confesso não ter a certeza, não devem incluir a profissão dos passageiros.

Que o que se passa dentro de um avião mesmo que em escala num aeroporto qualquer continua a ser dirimido pela jurisdição de bandeira do Avião. É sabido que sem as devidas autorizações as autoridades locais não podem entrar a bordo de aviões cuja nacionalidade seja outra que a local.

Que estes passageiros foram aprisionados em países onde a actividade terrorista é intensa e que se foram estes a ser presos e não outros foi porque havia fortes indícios que estariam ligados a actividades terroristas.

Que o terrorismo não é uma forma de combate convencional, tradicional e leal.

Que as formas de combate ao terrorismo, poderão não ser compatíveis com todas as leis e legislações democráticas ocidentais.

Que os dirigentes da CIA não são todos mentecaptos e que sabem o que andam a fazer.

Que existem acordos entre os Estados que pela sua natureza não são para ser do domínio publico

Que o Parlamento Europeu não é o Grande Pai da Europa e que por muito que a Comissão queira não se pode sobrepor as politicas bilaterais dos Estados Soberanos.

O Mundo ocidental acordou para o fenómeno do Terrorismo há muito pouco tempo. Acordou quando numa acção sem precedentes os USA foram atacados de forma hiper mediática e hiper violenta. Seguiram-se Madrid e depois Londres.

Os ataques a que me refiro são sobejamente conhecidos, e sobre eles não vale a pena falar muito. Tiveram no entanto como consequência mediata o incremento de medidas de segurança, e o investimento em formas de combate e prevenção. O Mundo Ocidental não concebe ser mais atacado. E de forma clara Portugal faz parte desse Mundo Ocidental.

Portugal é membro fundador da NATO. São forças da Nato que estão no Afeganistão, incluindo Soldados portugueses.

Portugal contribuiu para o esforço de guerra no Iraque, e contribui para a força de interposição colocada no Sul do Líbano.

Que o Mundo ocidental está neste momento em guerra. Não a guerra no sentido batalhas com muitos homens no terreno, mas guerra no sentido de tentar evitar ataques terroristas, ou seja guerra contra o Terrorismo.


Pegando apenas no argumento sobre a questão da soberania e jurisdição a bordo de aviões, e este argumento seria suficiente para responder a todas as acusações.

Ou seja, dado que a CIA não terá dado mais que as normais informações de voo, que garantissem a atribuição de um corredor aéreo, e eventualmente uma lista de passageiros que podem ser quaisquer, que responsabilidade pode ser assacada ao Governo português. Apenas e só a de deixar sobrevoar o espaço aéreo nacional por um avião registado num país amigo e que cumpriu as formalidades da aeronáutica civil.

Como estes passam no espaço aéreo português centenas por dia, e alguns deles se calhar são de países com os quais não temos relações diplomáticas, e eventualmente transportam terroristas à solta.

Esta soberania aplica-se em todas as escalas, e por maioria de razão nas feitas nas bases americanas existentes em território nacional.

Mas continuando, e mesmo que esta justificação não fosse suficiente, pergunto-me eu – como transportar prisioneiros num avião?

De acordo com estes paladinos do Parlamento Europeu deveria ser com poltronas de primeira, refeição de “ Chez ….”, talheres de prata, copos de cristal e com total liberdade para visitarem a cabine de pilotagem. Pois mas não é.

As normas de transporte de presos em avião estão bem definidas, e posso dizer-vos que há muitos anos, mais de 15, atrás no mesmo voo que eu entre Paris e Lisboa vinha um sujeito sentadito entre outros dois. Posso dizer-vos que nem para o jantar lhe tiraram as algemas.

Ora se num voo comercial em que um sujeito vem acompanhado de outros dois (estes agentes da policia Judiciaria) vem algemado e bem preso, num voo especificamente dedicado ao transporte de prisioneiros acho que o sensato é que venham presos aos seus lugares.

A não ser que se pretenda dar-lhes uma oportunidade de estatelarem o avião contra um prédio em Lisboa.

Abreviando, o que vos quero dizer é que numa guerra global contra o terrorismo, sabendo nós que o terrorismo ataca indiscriminadamente os cidadãos pacatos e cumpridores apenas, as tácticas têm forçosamente que ser diferentes.

O Terrorismo não se combate só com força, mas essencialmente com informação e contra informação. Com golpes baixos iguais ou parecidos com os que são usados pelos próprios terroristas. Todavia há uma diferença. Se os métodos fossem absolutamente iguais então a CIA teria por e simplesmente abatido os ditos prisioneiros e não gastaria recursos em faze-los viajar para o outro lado do mundo.

Ora não é preciso ser um génio para perceber que nestas coisas da informação e contra informação é absolutamente necessário manter confidencialidade e muitas vezes dar acordos tácitos sem saber a totalidade da informação.

Relembro que o objectivo é ganhar a guerra aos terroristas, não é retaliar (esta é a parte visível da coisa).

Com estas acções o Parlamento Europeu está, na minha opinião, a prestar um péssimo serviço ao Mundo Ocidental e os deputados portugueses assanhados com uma fúria de vingança contra qualquer coisa (mas seguramente pessoal) estão a causar embaraços ao Pais.

Espero que o Governo Português continue a dar o mínimo de informação sobre o assunto pois essa é a única atitude que no longo prazo permitirá a todos nós (incluindo as Anas deste mundo) dormir em sossego.

JoseSR

23 janeiro 2007

Meter uma colherada

Estes meus “Compagnons de Blogage…”, Rui e José, têm um mau feitio insuportável.
Havia decidido não gastar “tempo de antena” com este assunto do “Referendo sobre a interrupção voluntária da gravidez”, conforme denominação da Comissão Nacional de Eleições, para além da referência, que considero definitiva (se isso existe), ao famoso poema da Natália Correia dedicada ao “Morgado”.
E agora estes dois trazem o tema ao “blog” e eu, invejoso que sou, tenho que vir postar uma colherada.
Ponto 1 – A minha posição sobre o assunto não se desvia 1 mm do que é exposto pelo Rui e complementado pelo José.
Ponto 2 – Tinha a expectativa de ter, no meu País e finalmente, um debate civilizado sobre este assunto, em contradição com as manifestações de intolerância (cá estamos outra vez com a … tolerância !), de sectarismo, de irrazoabilidade, de demagogia que movimentos de ambos os lados promoveram durante a campanha para o primeiro Referendo.
Ponto 3 – A principal razão desta minha expectativa baseava-se em declarações de altíssimos dignitários da Igreja Católica que anunciaram que a “Igreja não se iria meter no assunto por ser uma questão do foro individual”, como se da primeira não fosse também do foro individual.
Ponto 4 – Constato que, mau grado aquelas intenções anunciadas, tudo volta a acontecer como antes, com a Igreja Católica em campanha “eleitoral”, com a apresentação das mesmas razões dogmáticas e demagógicas valendo-se, premeditadamente, da acriticidade de grande parte da população que por valores religiosos acorre às suas assembleias.
Ponto 5 – Esclareço que faço este enfoque especial no caso da Igreja Católica pelo peso que as manifestações respectivas têm, ainda, no País e por que considero que, em vez de formar e esclarecer as consciências, aquela Igreja aposta ainda em muitas paróquias, no obscurantismo e no acriticismo dessas mesmas consciências (se calhar todas as Igrejas são assim, mas é a esta que agora me refiro).

Não é fácil nomear muitas entidades que, mundial e historicamente, tenham maiores responsabilidades directas em morticínios, em holocaustos terríveis de milhões de seres humanos, do que a Igreja de Roma.
Pois com o aval dessa mesma entidade, promovem-se e escrevem-se eventos a favor do “não”, dos quais trago 2 belos exemplos !


22 de Janeiro no Jornal de Notícias

O Cónego Tarsício Alves, num boletim distribuído hoje, na paróquia de Castelo de Vide, escreve que o funeral religioso está impedido aos cristãos que cometam o aborto, acrescentando que são excomungados "automaticamente" pela lei da Igreja.
O Cónego Tarsício Alves, da paróquia de Castelo de Vide, Portalegre, distribuiu hoje o Boletim Paroquial em que refere que "as mulheres que cometem o aborto estão impedidas de ter um funeral religioso" invocando, para tal, o cânone 1184 do Código Canónico.
Segundo o Cónego, o funeral eclesiástico é "um sinal da plena comunhão" e quem "comete um aborto incorre automaticamente numa excomunhão, a mais pesada das censuras eclesiásticas".
Na última edição de 2006, do folheto que publica semanalmente, o Cónego
Tarsício Alves pôs à "reflexão" dos fiéis "cinco casos reais da vida concreta" e num deles pergunta se recomendaria o aborto a uma jovem grávida e não casada, não sendo o noivo o pai da criança: "Se respondestes Sim, terias morto Jesus Cristo", pode ler-se.
O Cónego Tarsício Alves escreve também que considera o aborto "um crime nefando contra a vida humana".

15 de Janeiro no Diário de Notícias

Junto à estátua de D. José, o rei que expulsou os jesuítas de Portugal, algumas dezenas de católicos juntaram-se ontem de manhã para rezar o terço, atraindo as atenções dos raros turistas indiferentes à névoa fria que pairava sobre o Terreiro do Paço. Pastoreados pelo padre Dehoniano Macedo, pároco da igreja do Loreto, ao Chiado, intercalavam as rezas com cânticos ritmados em louvor à Virgem. Mais mulheres que homens, mais idosos que jovens, todos irmanados num propósito: "Alertar as consciências das pessoas para combater esse mal que é o aborto." Palavras de uma paroquiana do padre Macedo, apostado neste conjunto de iniciativas "para dar mais visibilidade" ao combate ao aborto. A pensar no referendo de 11 de Fevereiro. "Começámos na noite de Natal e vamos prosseguir", assegura o sacerdote, dizendo que a ideia partiu "de várias pessoas" que costumam escutá-lo na missa dominical.Uma imagem da Senhora de Fátima foi colocada em destaque, na base da estátua de Machado de Castro, erigida no Terreiro do Paço a 12 de Outubro de 1833. Eram tempos funestos para os católicos portugueses: grassava a guerra civil entre absolutistas e liberais, no ano seguinte as ordens religiosas seriam expulsas do País. Mas o espectro da História não demovia o padre Macedo: "Decidimos vir para aqui por ser uma praça bonita, ampla e emblemática", justifica ao DN, enquanto recebe saudações de várias mulheres que minutos antes haviam orado com ele - várias delas, pertencentes à Comunidade Emanuel, ajudaram a conferir mais vibração aos cânticos.Mas esta não era uma celebração do terço como qualquer outra. Nas breves palavras que dirigiu aos fiéis, o padre Macedo não deixou lugar a dúvidas: aquela reunião matutina à beira-Tejo, desafiando o nevoeiro e a humidade de Janeiro, destinava-se a "defender a vida e os direitos de qualquer ser humano, nascido ou por nascer". Os católicos congregados na praça mandada construir por um ilustre maçon chamado Sebastião José de Carvalho e Melo, mais conhecido por Marquês de Pombal, são activos militantes antiaborto. Para tornar este facto ainda mais notório, uma senhora distribuía folhetos com versículos da Bíblia. Com uma frase de Jeremias: "Antes de te haver formado no ventre materno, Eu já te conhecia; antes que saísses do ventre de tua mãe, Eu te consagrei." E esta, extraída dos Salmos: "Na verdade, Tu me tiraste do seio materno; puseste-me em segurança ao peito de minha mãe. Pertenço-Te e desde o ventre materno; desde o seio de minha mãe, Tu és o meu Deus."Equilibrada a imagem sobre um manto votivo, duas guitarras ajudaram a soltar ainda mais as vozes: "Avé Maria, sê nosso refúgio / toma as nossas preces / e pede a Deus por nós." Algumas mãos erguiam-se para os céus, outras seguravam nos rosários. Antes de ser rezado o terceiro mistério, ficou evidente o que ali atraía aqueles paroquianos do Loreto e outros templos de Lisboa. "Vamos pedir ao Senhor por todas as mães que estão em perigo e todas as grávidas que estão em perigo. Porque estão sozinhas, são maltratadas, e não sabem o que vão fazer aos filhos que têm e aos filhos que estão por nascer", escutou-se no Terreiro do Paço, onde ontem os pombos pareciam tolhidos pelo frio.O fruto das entranhasMais um cântico. Nos folhetos que circulavam de mão em mão, destacava-se uma frase de Isaías: "Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebé, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele, Eu nunca te esqueceria." E evocavam-se palavras de João Paulo II sobre o aborto: "Reivindicar o direito ao aborto e reconhecê-lo legalmente equivale a atribuir à liberdade humana um significado perverso e iníquo: o significado de um poder absoluto sobre os outros e contra os outros. Mas isto é a morte da verdadeira liberdade."O terço evoluía, entrava-se enfim no quinto e derradeiro mistério: "Vamos pedir a intercessão pelo futuro das nossas gentes, dos nossos jovens, das nossas crianças. Para que seja afastada da nossa sociedade qualquer ameaça de morte."Os cânticos surgiam mais ritmados, havia quem lesse outra citação dos Salmos: "Quando os meus ossos estavam a ser formados, e eu, em segredo, me desenvolvia, tecido nas profundezas da terra, nada disso Te era oculto. Os teus olhos viram-me em embrião. Tudo isso estava escrito no Teu livro."Logo após a Salve Rainha, cantada, o padre Macedo fez uma alusão inequívoca ao referendo. Para que não restassem dúvidas de qualquer espécie: "Até ao dia 11, vamos cada vez mais pedir a Nossa Senhora que nos dê o dom da vida." Terminava a celebração com este apelo. E logo nas conversas informais que ali irromperam surgiram frases espontâneas em que era evidente a oposição geral daqueles católicos à despenalização do aborto.Casais de turistas, curiosos, acercavam-se do grupo: as freiras ali presentes foram muito fotografadas, entre dois planos do arco da Rua Augusta. Passavam ciclistas, fardados a preceito para dar ao pedal. Um peruano tocava para ninguém ouvir no outro extremo da praça. Prestes a ser desmontada, a "maior árvore de Natal da Europa", paga por uma instituição bancária, ainda foi a tempo de assistir a tudo isto.
JPSetúbal

22 janeiro 2007

Do Fim da Vida Humana - Uma achega

No Post sobre o Inicio da vida Humana o Rui Bandeira, e numa posição com a qual sou concordante - reparem que não estamos em desacordo em tudo -, vai buscar o fim da vida humana para sustentar a sua posição de defesa da despenalização do Aborto nas condições determinadas por este referendo.
Por desconhecimento seguramente tem algumas imprecisões no que diz respeito à noção do momento de Morte.
Não sendo eu um entendido, transcrevo para este Blog o que aprendi com um estudioso da matéria e a cujas conferencias assisto sempre com interesse - o senhor meu Pai que é sem falsas modéstias um eminente médico.
A noção de fim de vida estava associada a 3 factores, ausência de batimentos cardíacos, ausência de movimentos respiratórios e o livor mortis. Durante séculos, diria milénios, estes foram os critérios usando-se os mais variados métodos desde a pena no nariz e boca ou um espelho, para detectar o mais ínfimo movimento respiratório ou exalação de vapor de agua, à auscultação primeiro com métodos primitivos depois com estetoscópio e mais tarde com electrocardiograma.
Com o advento das tecnologias medicas que permitiram os transplantes, e com a condicionante que os órgãos do dador devem ser colhidos com o corpo a funcionar, ou seja com o coração a bater e com os pulmões a respirar, mesmo que assistidos por aparelhos externos, aparece um problema grave.
Tirar o coração a um dador com ele ainda a bater, pela noção de constatação de óbito clássica era Homicídio.
A Medicina evolui rapidamente para o conceito de morte cerebral. Esta morte passa pela constatação por mais que um médico que a actividade cerebral do paciente - dador é inexistente e que há uma linha isoelectrica no electroencefalograma durante mais que um numero determinado de minutos. Esta constatação tem requisitos legais perfeitamente definidos.
A Teologia no entanto anda mais devagar que a medicina. Hoje em dia das religiões do Livro , Judaísmo, Cristianismo e Islamismo , apenas o Judaísmo com 100% de certeza já evoluiu do conceito de morte clássico para o conceito de morte Cerebral., conforme pode ouvir aqui
O Islamismo penso que está em analise avançada e vão evoluir ( poderá ja ter acontecido formalmente mas desconheço ).
O Cristianismo , na vertente Católica , não legislou sobre o assunto. No que aos transplantes diz respeito, a Igreja Católica toma uma posição de não condenação, aceitando tacitamente a morte cerebral, conforme se pode ler nesta declaração do Papa João Paulo II aqui .

O Judaísmo legislou, com responsas de Rabinos baseadas em pareceres médicos e sobretudo na observação feita por Maimonides - Medico e Filosofo Judeu que viveu no Secs XII e XIII - aquando das execuções por decapitação. Depois de decapitado era ainda possível observar no condenado movimentos cardíacos e respiratórios, mas era também evidente que estava morto. Maimonides não terá percebido tudo mas percebeu que a cabeça era essencial para a vida, mais que o coração ou os pulmões. Da cabeça ao cérebro o caminho é evidente.

Com esta achega espero contribuir para a melhor percepção do texto do Rui.
JoseSR

Do Início da Vida Humana

Para início de conversa, quero deixar bem clara a minha posição, que se resume a duas frases: 1. Eu sou contra o aborto; 2. Eu vou votar SIM no referendo de 11 de Fevereiro à pergunta se concordo com a despenalização do aborto, se feito a pedido da mulher, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado, até às dez semanas de gravidez.

Não existe qualquer contradição entre as duas proposições: ser contra o aborto não implica concordar com a penalização de quem decide recorrer a ele, sabe-se lá com que estado de alma; concordar com a despenalização do aborto até às dez semanas de gravidez e praticado, por opção da mulher, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado, isto é, sem ocorrer de forma clandestina, não me faz entender que o aborto seja algo bom.
Respeito a posição de todos aqueles que liminarmente rejeitam a despenalização, com fundamento no direito à vida do ser concebido. Reconhecendo o pressuposto ético de tal posição, considero, porém, que à mesma falece fundamento racionalmente lógico.
Do meu ponto de vista, uma questão tão sensível em termos éticos, emocionais e sociais só pode ser adequadamente analisada à luz de uma estrita racionalidade. E, à luz da mesma, importa afastar alguns escolhos que só servem para perturbar a lúcida visão do problema.
Em primeiro lugar, não está em causa, no debate da questão, se existe Vida no embrião. É inegável que existe Vida no embrião. A questão, até do ponto de vista ético, não é se se vai atentar contra a vida existente no embrião, mas se existe então, e se se atenta contra ela, Vida Humana.
Atentar contra a Vida é inevitável e uma necessidade imperiosa da nossa sobrevivência, quer individual, quer enquanto espécie: matamos animais para comer, aniquilamos insectos que nos incomodam, ou roedores que invadam o nosso habitat, colhemos, e assim matamos, plantas para a nossa alimentação ou simplesmente para nosso deleite visual (a Vida vegetal não deixa de ser Vida...); destruímos bactérias porque nos atacam ou simplesmente nos causam sintomas desconfortáveis; mais, o nosso sistema imunitário naturalmente destrói a vida de bactérias e vírus que penetram no nosso corpo (e ai de nós quando falha...). O Universo está organizado de forma que a sobrevivência, o simples conforto, dos membros de uma espécie implica a aniquilação, a destruição, a morte de membros de outras espécies. Esta é uma constatação inevitável, que nos obriga a concluir que o que constitui violação ética não é o atentado contra a Vida, é o atentado contra a Vida Humana.
O que importa então verificar é se o aborto até às dez semanas constitui a morte de um Ser Humano. E é neste ponto que eu divirjo das análises mais simplistas dos defensores do Não. No meu entender, o critério para estabelecer o momento a partir do qual se inicia a Vida Humana não pode deixar de ser similar ao critério que é estabelecido quanto à cessação da mesma.
Durante milhares de anos, o limiar entre a Vida e a Morte aferia-se pela capacidade de respirar: quem respirava estava vivo; quem já não respirava estava morto. Se não erro, a Tradição Judaica ainda incorpora esta noção. Daí resultava que, simetricamente, a Vida Humana só se iniciava com o nascimento, momento a partir do qual o nóvel Ser Humano passava a respirar autonomamente. E, se o não fizesse, era considerado um nado-morto. Esta noção ainda se manifesta no Sistema Jurídico, que considera qua a personalidade jurídica só se adquire pelo nascimento. É, creio, em função desta noção, que nas sempre directas culturas anglo-saxónicas, se conclui que, só existindo personalidade jurídica com o nascimento, então, antes do nascimento o feto não tem quaisquer direitos (nem o direito à vida...) e, logo, é admitido o aborto sem limitação de tempo (Estados Unidos, Inglaterra). Obviamente que a Ciência nos permite hoje saber que a fronteira entre a Vida e a ausência dela não está na capacidade de respirar autonomamente e, por consequência, esta noção está ultrapassada.
Hoje em dia, está, creio que consensualmente, admitido que a fronteira entre a Vida e a Morte se situa na cessação da actividade cerebral. Existindo actividade cerebral, a pessoa está viva; quando ela já não existe, morreu. Logo, se a Vida Humana cessa quando cessa a actividade cerebral, então a mesma inicia-se quando tal se inicia!
Estabelecido este princípio, então a sua aplicação à questão do aborto torna-se intuitiva: o aborto será, ética e juridicamente, admissível se e enquanto não se tiver iniciado actividade cerebral.
A Ciência elucida-nos também que é a partir das dez semana de gestação que se começam a criar as células do sistema nervoso central e que um aglomerado de células nervosas agrupadas no que virá a ser o cérebro existirá por volta das doze semanas de gestação; é assim certo que não existe actividade cerebral antes das dez semanas de gestação. Esta será a razão pela qual, até às dez semanas de gestação, o conjunto de células em desenvolvimento é denominado de embrião e, a partir daí, passa a ser designado por feto.
Em resumo: até às dez semanas de gestação não existe actividade cerebral e, logo, ainda não se iniciou a Vida Humana. Logo, não constitui atentado à Vida Humana o aborto até essa ocasião. Não me é, assim, eticamente inadmissível a despenalização do aborto até às dez semanas de gestação.
Rui Bandeira

19 janeiro 2007

Apito Dourado

Acabo de ouvir na Radio que vai ser reaberto um processo contra o Sr. Pinto da Costa. Espero que seja o primeiro de muitos e que finalmente se comece a luta contra a verdadeira Máfia.
Não pretendo julgar e condenar publicamente o dito senhor, alias porque existe a presunção de inocência do cidadão.
Este passo é dado no sentido contrário do que geralmente acontece, que é o arquivamento.
Fico com a secreta esperança que outros passos sejam dados e conduzam o dito senhor a julgamento, e já agora que o condenem, porque isto de presunção e agua benta cada um....
E se não for por corrupção no futebol, que seja por evasão fiscal, ou por multas de transito, ou por cuspir para chão !
Espero que desta vez sejam de facto apuradas as responsabilidades e os culpados punidos e que o F.C.Porto vá para à 3ª divisão distrital com proibição de subir durante 25 anos.

JoseSR

Do blogue


Começo por uma pequena inconfidência.

Ontem, a propósito de algo que aqui não releva (eu avisei que a inconfidência era pequena...), o JoséSR colocou a hipótese da utilidade de publicação de um texto explicando a "política editorial do blogue".

Respondi-lhe, designadamente:

A única "política editorial do blogue" é: 1)Cada um escreve o que lhe der na realíssima gana, com o respeito das leis, de preferência respeitando também os princípios e regras maçónicas, se possível com a melhor compostura e o bom gosto que conseguir ter, esperavelmente com um mínimo de qualidade, desejavelmente sem erros gramaticais; 2) Não há censura. Parece-me curto para fazer um artigo com interesse... Mas, aplicando a regra 1, "cada um escreve o que lhe der na realíssima gana, etc."... 4) A situação do ... (a inconfidência é pequena, lembram-se?) foi-nos útil para entre nós contactarmos e acertarmos ideias. Mas se, porventura, algum dos outros Mestres da Affonso Domingues resolvesse escrever um texto a falar da medalha dada ao senhor Não Sei Quem pela entidade Não Sei Quê, eu podia não concordar, mas aplicava a regra 2 (Não há censura). Quando muito, escrevia um texto a seguir a expressar a minha discordância...

Queria eu dizer no meu arrevesado estilo que não achava particularmente útil publicar um texto sobre a "política editorial do blogue", mas que se o JoséSR entendesse por bem fazê-lo era lá com ele.

Entretanto, pensei melhor e... afinal vejo utilidade em escrever algo sobre a "política editorial do blogue"! Isto é assim, só os néscios é que não meditam sobre o acerto das suas opiniões e só os teimosos é que não mudam de opinião, se concluírem que estavam errados.

Não sei se o JoséSR tenciona publicar algo sobre o assunto, mas eu avanço já.

O meu entender sobre a "política editorial do blogue" está descrito na resposta que dei ao JoséSR e que acima transcrevi. Nada mais tenho a acrescentar sobre isso.

O que entendo útil apontar é outra coisa: o objectivo que nós, Mestres da Loja Mestre Affonso Domingues, temos ao animar este blogue, porque e como é que, para nós, vale a pena e tem interesse gastarmos um pouco do nosso tempo, retirado (às vezes com um pequeno sentimento de culpa...) aos nossos afazeres profissionais ou ao convívio da nossa família, a escrever textos para publicar neste blogue.

Do meu ponto de vista, a ideia de criação e manutenção deste blogue visou atingir essencialmente três objectivos: 1. Criar e manter um meio de publicação de matérias de interesse para os maçons; 2. Fazê-lo em meio aberto ao acesso, à leitura, à consulta de qualquer pessoa, contribuindo para a desmistificação do secretismo da Maçonaria e das teses conspirativas que, por vezes, por aí são propaladas; 3. Mostrar a quem quiser ver como pensam os maçons, em que se traduz a ética maçónica, o que é e para que serve o método maçónico de busca de aperfeiçoamento através do estudo dos símbolos, da interiorização de princípios éticos e morais e do respeito de normas de conduta salutares.

No âmbito deste terceiro objectivo, procuramos contribuir, com a exposição do nosso pensamento, com o nosso exemplo, para o aperfeiçoamento global da Sociedade. Será pouco, será porventura insignificante, mas é de muitos poucos que se faz muito, é através de várias insignificâncias que se constrói algo com algum significado!

Entendemos valer a pena escrever sobre temas maçónicos ou sobre assuntos da sociedade. Entendemos valer a pena mostrar como podemos ter opiniões diferentes sem conflitos, como podemos debater os nossos pontos de vista com veemência, mas sem ataques pessoais ou descalabros de linguagem. Entendemos valer a pena mostrar que é essencial respeitar as opiniões alheias, mesmo se (e principalmente quando) as mesmas são diferentes ou, mesmo, opostas às nossas. Entendemos valer a pena mostrar que é mais profícuo tratar de qualquer assunto, por delicado ou desagradável que seja, com ponderação, com racionalidade, com espírito de abertura, com bom senso, em suma.

Por isso, aqui tudo é passível de ser tratado. Matérias maçónicas e assuntos "profanos", como nós costumamos dizer. O que nos importa é que tudo seja tratado da forma serena, aberta e, sempre, no respeito das leis do Estado e das normas sociais.

Tendo em conta estes princípios e estes objectivos, entendo que não se deve passar aqui no blogue ao lado do debate presentemente em curso na sociedade. Vou, por conseguinte, publicar um texto sobre a questão da despenalização do aborto e o referendo marcado para 11 de Fevereiro. Eu vou dar a minha opinião. Outros darão, se assim o entenderem, a sua. As opiniões que forem expressas serão convergentes ou divergentes. Mas todas serão aqui respeitadas. Os comentários, concordantes ou discordantes, serão sempre bem-vindos.

Eis porque entendi útil afinal escrever um texto a pretexto da "política editorial do blogue".

Rui Bandeira


18 janeiro 2007

A Proposito de Saldos

Não sou um entendido em Saldos, nem sequer em comprar nos saldos. Mas há uma coisa que sei e que se calhar faz toda a diferença.
Os Saldos destinam-se a saldar a mercadoria existente nas lojas. A Lei dos saldos determina que e expressamente proibido comprar mercadoria para Saldar. Ou seja um truque que era usado há uns anos de comprar colecções de baixo preço para os Saldos não é mais possivel.
Mas para as promoções nada está determinado. Os comerciantes podem comprar coisas para promover, e podem determinar quais os artigos que estão ou não em promoção.
As promoções, e estou em desacordo com o RUi Bandeira, nao são uma violação da lei. Regem-se por questões comerciais e estão devidamente consagradas nas praticas comerciais. Aqui a unica coisa que nao pode acontecer é a pratica de Dumping ( venda por preço inferior ao Custo).
Ora vir alterar a epoca dos Saldos, aumentando-a é ou pode ser contraproducente para os Lojistas.
O que o representante dos lojistas nao pode dizer é porque razão isso é contraproducente.
Enfim, coisas do nosso quotidiano.

JoseSR