20 julho 2006

Da Polémica

Este post será breve porque estou com pouco tempo para o escrever, o que quer dizer que talvez volte ao assunto.

Caro Rui

Não sei o fazes mas fico cá pensando deves ser advogado, ou qualquer coisa dessas.

Na verdade caracterizar esta pequena troca de posts como uma polémica é generosidade tua, pois na verdade nada do que eu disse foi efectivamente contestado, foram apenas atiradas para a discussão algumas ideias na generalidade generalistas e imprecisas numa tentativa de criar uma polémica.

Aceitar o desafio para a polémica foi coisa que fiz, mas para ser derimido em privado. Nunca entraria em confronto directo neste blog.

Quando acima digo imprecisas refiro-me entre outras ao Hezbollah.

Erato diz que a UE reconhece como terrorista o Hezbollah. É uma pequena verdade, pois apenas implicitamente como se pode ler no boletim de 10 março cujo link aqui fica
http://europa.eu/bulletin/en/200503/p106031.htm

Esta pequena verdade é consubstanciada numa outra declararção da UE feita sobre o mesmo tema ( o Assassinato do 1º Min Rafiq Hariri), na qual se fala de ala terrorista do Hezbollah, e cujo link aqui vai
http://europa.eu/bulletin/en/200501/p106053.htm

Ao falar-se de ala terrorista pressupõe-se que exista a ala não terrorista. Ora o Movimento Hezbollah é todo dirigido pela mesma pessoa. ( deve ser o Nasrallah sopeira, O Nasrallah Dona de casa, O Nasrallah mordomo, etc.....)

Todavia no documento de fundo sobre organizaçoes terroristas, actualizado em 29/6/2006 o Hezbollah não é explicitamente mencionado.
http://europa.eu/scadplus/leg/en/lvb/l33208.htm

Ou seja a Uniao Europeia navega em meias tintas, para asssim poder ter um grau de liberdade maior.

Como vez, e acho que já sabias, os factos que levam a escrever são fundamentados, não são fantasiados.

E neste blog terei ( como tenho tido ) o cuidado de verificar as minhas fontes, que posso ou não por logo de inicio.

Podes tambem ter certeza que a expressão das minhas opinões não foi, nem será feita de forma ligeira.

E Pronto, se quiseres continuar com o Epiteto de Polémica pois que seja.

Um Abraço

JoseSR

Até que enfim uma polémica!


Desde o princípio do blogue que aguardava por um desacordo claro e inequívoco entre autores. Juro!

E aguardava, porque, como eu esperava, o desacordo de opiniões entre o JoséSR e o Erato é uma boa oportunidade de desmontar, ao vivo e a cores, um dos mitos sobre os maçons e de mostrar como funciona o debate entre maçons.

Relembro palavras que já foram escritas, no texto de apresentação do blogue: "este espaço não é, não quer ser e não vai ser, um "blogue maçónico". É, quer ser e vai ser, simplesmente, um blogue feito por maçons." E também: "Este espaço não se destina a ser lido por maçons (...) Este espaço destina-se a ser lido por quem quiser fazê-lo" - maçon ou não maçon.

Neste espaço cabe a apresentação e discussão de quaisquer temas que qualquer colaborador do blogue entenda útil apresentar ou discutir, sem tabus, sem censuras, sem limitações que não as inerentes ao correcto comportamento social que todos nós, maçons, procuramos ter: o respeito pelas ideias dos outros, mesmo - e sobretudo! - quando diferentes e opostas das nossas; a discussão aberta, leal, dura, mesma, sobre as ideias, sobre os argumentos, não sobre as pessoas ou aqueles de quem pontualmente discordamos.

Visto isto, vamos à desmontagem do mito: os maçons não têm um pensamento único, não estão sempre de acordo; pelo contrário, só pode ser maçon quem, por acreditar na Liberdade, por praticar a Tolerância, por exercer a Responsabilidade, tiver as suas próprias ideias e as defenda, não importa se em concordância ou discordância de outro maçon!

Esta mini-polémica permite ainda mostrar como os maçons, pela sua vivência comum, pela sua prática, sabem discutir, sabem polemizar, sabem discordar, sabem, enfim, debater ideias sem utilizar a ofensa ou argumentos ad hominem e, pelo contrário, procuram defender as suas ideias assumindo as discordâncias com as ideias expressas pelo seu parceiro, mas não as diabolizando, antes procurando ressalvar os pontos positivos delas e as convergências que é possível encontrar.

Não quero proclamar que nós, maçons, somos perfeitos e sempre impolutos no debate. Longe disso! Só se pode proclamar maçon quem assume a sua imperfeição e, humildemente, procura aperfeiçoar-se, com o auxílio dos seus Irmãos! Portanto, as regras de boa convivência, de boa discussão, de são debate, são, por vezes quebradas. Claro que sim! Mas a diferença é que tal quebra sucede muito menos que no comum da Sociedade e, sobretudo, que a quebra destes princípios, quantas vezes no calor do debate, é assinalada e não raro assumida pelo próprio que os quebrou.

Aproveitemos então a mini-polémica para verificar o cumprimento dos princípios enunciados. O resumo e a interpretação das posições de cada um é, obviamente, pessoal meu e, embora procurando espelhar o pensamento de cada um dos polemistas, trata-se de um resumo muito no "osso", apenas tocando o necessário para demonstrar o cumprimento dos princípios atrás enunciados.

O JoséSR expressou a sua posição sobre os actuais desenvolvimentos no Médio Oriente, deixando bem clara a sua posição favorável aos israelitas e verberando o duplo padrão que, no seu entender, os governos ocidentais praticam em relação ao terrorismo que atinge o Ocidente e aquele que "apenas" vitimiza Israel. Nesse sentido, deixou bem clara a sua concordância com a recente e actual actuação de Israel e a sua óbvia discordância relativamente à actuação dos militantes e dirigentes do Hezbolah, do Hamas, etc..

O Erato manifestou o entendimento de que o pensamento do JoséSR é parcial e não objectivo - mas afirmou o seu respeito pelo texto que critica e expôs os seus argumentos, que considera dever serem também atendidos: a declaração europeia que considera o Hezbolah uma organização terrorista, a sua preocupação com as vítimas civis e com o sacrifício que é sucessivamente imposto ao Líbano com as permanentes acções militares no seu território e termina proclamando que tudo isto se passa "porque, talvez, façam falta os homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos".

A resposta do JoséSr lamenta que Erato não tenha entendido que a sua posição não é a favor da guerra, antes a de condenação da "hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo".

Repare-se: cada um expõe os seus argumentos, critica, porventura acerbamente, o que discorda nos argumentos do outro, mas nenhum põe em causa a boa fé do outro; pelo contrário, facilmente se pode verificar que, partindo de posições divergentes, ambos buscam os pontos de convergência nos seus entendimentos: Erato, embora manifestando preocupação pelas consequências da actuação de Israel, ressalva: "Claro que o Estado de Israel tem o direito, e o dever legítimo, de preservar a sua integridade nacional"; JoséSR assume ser a sua posição "facciosa", assim também considerando a do seu opositor, mas respeitando-a e concedendo-lhe o óbvio direito de a ter; manifesta a sua pena de que o Líbano seja de há muito instrumentalizado por muitos e esclarece não defender a guerra.

Conclusões? Que Homens livres e de Bons Costumes não têm medo de assumir divergências; que respeitam as posições contrárias e procuram contra-argumentar racionalmente; que buscam as convergências.

E, no caso concreto, ninguém fica, creio, com dúvidas que ambos entendem que Israel tem direito à existência, à segurança e à integridade territorial, que o Líbano também, que a guerra é sempre a pior maneira de resolver os conflitos e que é preocupante e de censurar que vidas de civis inocentes sejam ceifadas por qualquer conflito. E que, afinal, ambos concordam que, realmente, fazem falta mais homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos...

É assim uma boa e saudável discussão entre maçons!

Que todos discutam tão firme, mas tão serenamente assim...

Rui Bandeira


19 julho 2006

Lamento

Quando escrevo nao pretendo ser consensual. Tenho as minhas opiniões e expressa-las-ei, tantas vezes quanto me apetecer.

Lamento que ERATO tenha confundido um Blog com uma Loja. Mas é o direito dele de confundir.

Lamento tambem o facto de ERATO nao ter percebido nada do que escrevi, mas cada um percebe o que quer e esse é um direito de cada um.

Por isso vou tentar explicar que :

Um Blog não é Loja não se rege pelos mesmos padrões, consequentemente tem uma latitude bem mais vasta.
Para além do mais, os promotores do Blog tiveram o cuidado de escrever :
"Blogue escrito por Maçons .... " o que é totalmente diferente de Blog Maçonico que por definição nao teria muito cabimento pois estaria limitado quer nos temas quer nas latitudes de abordagem.

Quanto ao meu escrito e para que fique mais claro se é que tal é necessário , em lado nenhum do que escrevo defendo a guerra, condeno sim a hipocrisia dos Media e de alguns Governantes e Senhores importantes deste mundo.

O que alias é consubstanciado em POST posterior.

JoseSR

LIBANO, A MINHA PÁTRIA TEM SEMPRE RAZÃO

Não sei se o texto intitulado “Hipocrisia ou Falta de Coragem” tem o seu lugar num blog Maçónico.

Principalmente quando o nosso Querido Irmão JP Setúbal escreve, e passo a citar: “Temos a intenção de falar/brincar/dissertar, mas principalmente tirar as teias de aranha que povoam as cabeças de muitas pessoas sobre os M:. e a M:. dando a conhecer o que queremos, o que fazemos, quem somos.”

Mas como sou tolerante por natureza, e odeio todas as formas de censura, vou respeitar este texto partidário, embora lamentando um ponto de visto verdadeiramente “orientado”.

Vou tentar, então, desfazer um pouco este maniqueísmo e vestir a pele do advogado do diabo.

Primeiro, e para restabelecer a verdade, está errado escrever que os países ocidentais, a não ser os USA, não qualifiquem o Hezbollah de terrorista. O Parlamento Europeu adoptou no dia 10 de Março de 2005 uma resolução qualificando o Hezbollah justamente de terrorista.

Isto dito, justificar o injustificável, quero dizer a sobrevivência de Israel num conflito com o Hezbollah e, consequentemente, dissertar sobre os estragos colaterais na população Libanesa, é pelo menos redutor.

Como se pode escrever tão ligeiramente acerca da morte de crianças e mulheres ? Seres inocentes que cometeram o erro dramático de nascer no país errado, numa época errada.

Será preciso relembrar que são civis que são mortos e não combatentes de uma ou outra frente ?

Não quero polemicar porque trata-se de um assunto grave demais para brincar aos analistas políticos de segunda.

Digo simplesmente que, desde a criação do Estado de Israel até ao dia de hoje, houve 5 conflitos generalizados nos quais o Estado Hebraico esteve implicado (1948, 1956, 1967, 1973 et 1982), sem tomar em conta a guerra civil no Líbano.

E qual foi o resultado dessas guerras ? Pergunto, a nível político?
- Nada! Zero!

Por uma razão muito simples: porque nunca será encontrado um compromisso aceitável pelas partes em presença.
Pelo menos, enquanto os actuais dirigentes Sírios e Iranianos se mantenham no seu lugar. Porque são os verdadeiros responsáveis da situação actualmente vivida no Médio Oriente, fornecendo armas, dinheiro, logística e ideologia aos combatentes do Hezbollah e outras facções armadas.

A razão de esperar uma solução que se chame “Jordânia” ou “Egipto”, que passaram a ser exemplos de uma mudança política correcta.
Correcta para nós, Ocidentais. Obviamente.

Claro que o Estado de Israel tem o direito, e o dever legítimo, de preservar a sua integridade nacional mas quero dizer o seguinte acerca do Líbano:

- Não é bombardeando as estradas conduzindo à Síria que Israel vai dar cabo dos terroristas. Apenas irá matar refugiados que tentam fugir das zonas de combate.
- Como não é bombardeando o porto de Beirute e o seu aeroporto internacional que Tsahal acabará com o Hezbollah. Porque o Líbano não é o Hezbollah, longe disto.
- Os Chiitas representam 24% da população Libanesa, menos que os muçulmanos Sunitas e Druzes ou mesmo até que os Cristãos. Sem contar com a população que vive fora do Líbano, essencialmente Cristã, estimada em 12 ou 13 milhões.
- E seria errado pensar que todos os Chiitas aprovam as acções do Hezbollah.

Então ?

Será que o rapto de dois soldados é a verdadeira razão de tal empenhamento do exército Israelita ?

Será que Israel vai continuar a destruir um Estado de Direito que já sofreu uma guerra civil entre 1975 e 1990 que fez 150.000 mortos ?

Afinal, será uma guerra aberta contra um País vizinho ou retaliações contra uma organização armada que, desde 1982, lança ataques mortíferas contra a população de Israel ?

Ou, então, será para acabar de vez com a memória do massacre ocorrido em Sabra e Chatila quando a Milícia Libanesa e soldados de Tsahal, de mãos dadas, mataram centenas de civis Libaneses ?

Porquê Israel não quer implicar a Síria no conflito com o Hezbollah ?

Porquê Israel recusa o presença de uma força internacional, sob a égide das Nações Unidas, na fronteira com o Líbano?

Porquê ? Porquê ?

Porque, talvez, façam falta os homens livres e de bons costumes neste mundo de loucos.

Erato

Entrámos no top 100 do Blogcounter!



Vale o que vale, mas é grato saber: ontem, com os nossos 37 visitantes e 80 vistas de páginas, entrámos no Top 100 do Blogcounter, no 45.º lugar.

Para se ter uma noção, o 40.º da lista teve no dia de ontem 39 visitantes, o 30.º teve 59, o 20.º teve 75, o 10.º teve 179 e o 1.º (http://Simply-Speechless.Blogspot.com) teve... 1144 visitantes!

Só volto a tocar no assunto se e quando este blogue algum dia estiver nos trinta primeiros. Prometo!

Rui Bandeira

A Flauta Mágica


Vai ter lugar no próximo dia 4 de Agosto (sexta-feira) uma récita da famosa ópera de Wolfgang Amadeus Mozart "A Flauta Mágica". Este espectáculo, integrado no Festival de Ópera de Óbidos - 2006, ocorrerá na Cerca do Castelo de Óbidos, pelas 22 horas, e o preço do bilhete de entrada são apenas € 10,00 (isso mesmo: dez euros!).

O belíssimo cenário em que a obra será apresentada contribuirá, certamente, para uma inesquecível noite para quem for assistir.

A ópera foi escrita escrita em apenas 3 meses. Possui dois actos e o libreto é de Emmanuel Schikaneder. A sua estréia ocorreu em Viena em 30 de setembro de 1791. O libreto é uma alusão à maçonaria, e mostra os dois grandes poderes que regem as relações humanas (bem e mal) - elementos retirados daqui .

Eis um resumo do libreto, tal como Lázaro Curvêlo Chaves publicou neste sítio (ortografia adaptada para o português europeu):

“Hilfe!”, “Hilfe!”, “Hilfe!” – A ópera começa com a entrada de Pamino, esbaforido, gritando por socorro num bosque desconhecido. Antes de entendermos do que foge, esta maneira de começar a peça musical denota o estabelecimento de uma marca: vamos entrar num terreno iniciático, diferente do quotidiano regular.

Fugia de uma serpente de uma enorme serpente, pronta para devorá-lo. Acaba desfalecendo e é salvo por três Damas da Rainha o observam em segredo e correm a dar a notícia de sua chegada ao reino da Rainha da Noite. Entretanto, um caçador de pássaros, Papageno, entra em cena e, vendo a carcaça da serpente acaba assumindo a autoria da salvação diante de um atónito Tamino. Quando aquele se encontra no auge de sua fanfarronada, chegam as três Damas novamente, bem a tempo de o surpreender a mentir. Papageno é castigado e elas, na condição de porta-vozes da Rainha da Noite, dão as boas vindas a Pamino e contam a história de Pamina. A jovem e bela princesa, filha da Rainha da Noite, seqüestrada pelo perverso Sarastro, um poderoso feiticeiro, em cujo castelo a mantém cativa. Elas entregam um retrato de Pamina enviado pela própria Rainha da Noite a Tamino, que imediatamente se apaixona pela beleza da princesa.


Tamino canta uma ária em louvor à beleza de Pamina. Nisso, a Rainha da Noite, um ser sobrenatural que usa um véu negro, surge diante dele. Ela confirma a história contada por suas três Damas, fala da perda de sua filha para Sarastro e roga a Tamino que liberte sua filha das garras de Sarastro. Apaixonado, Tamino decide empreender a tarefa imediatamente. A Rainha, usando seus poderes mágicos oferece ao príncipe uma arma: uma flauta dotada também de poderes sobrenaturais. Sempre que enfrentar quaisquer perigos bastará tocar esta flauta mágica que todos os obstáculos serão vencidos. A Rainha recruta ainda Papageno para auxiliar Tamino nesta tarefa e lhe dá como arma um “glockenspiel”, um pequenino carrilhão que imita sons de sinos. Como auxiliares em sua longa jornada, ambos contarão ainda com três Génios da Floresta que os ajudarão a encontrar Sarastro e Pamina, assim como a superar dificuldades que surjam.

Saem os heróis principais, armados com seus instrumentos, guiados pelos três Génios da Floresta.


Pamina é mantida prisioneira sob a guarda de três escravos liderados pelo mouro Monostatos, serviçal de Sarastro. Monostatos deseja-a e, dominado por intensa sensualidade tenta por todos os meios seduzir Pamina. No interior do palácio, Monostatos avança mais uma vez sobre Pamina quando Papageno entra em cena. Ambos se assustam. O mouro foge da presença da estranha figura do caçador de pássaros. Pamina, aliviada do assédio de Monostatos, conversa com Papageno, que se apresenta como embaixador da Rainha da Noite – fazendo a princesa feliz – e conta os planos de sua mãe para libertá-la. Pamina fortalece suas esperanças na libertação ao saber que um jovem e belo príncipe se encontra a caminho para tirá-la das garras do poderoso Sarastro. Ignorando a real história de seu cativeiro, a real personalidade de Sarastro, seguem as orientações da Rainha da Noite, cujas intenções também ignoram. Quando pela primeira vez se encontram, por sinal, Pamina e Tamino cantam em dueto uma belíssima ode ao amor sublime entre um homem e uma mulher.


Entretanto, Tamino, guiado pela magia dos três Génios da Floresta, chega aos domínios de Sarastro. Antes de prosseguir na sua missão, recebe a recomendação de observar três virtudes essenciais: firmeza, paciência e sigilo. “Empenhe-se como verdadeiro homem e conseguirá seu objetivo”. Pamino chega a um bosque no qual se erguem três templos muito belos. Colocados lado a lado, no da esquerda está escrito “Natur” – Templo da Natureza, “Weisheit” – Templo da Sabedoria – “Vernunft” – Templo da Razão. Em dúvida sobre qual dos templos detém o ideal que busca e já partindo para o processo de tentativas, Tamino está prestes a bater à porta do Templo da Natureza quando escuta um coral que lhe barra a entrada dizendo: “Zurük” – para trás! A seguir prestes a bater à porta do Templo da Razão escuta novamente: “Zurük” - para trás! Finalmente, ao bater à porta do Templo da Sabedoria a porta abre-se e um velho sacerdote, ricamente trajado em vestes brancas e com voz suave dirige-se a Tamino: “Que o traz aqui, jovem audacioso? Que procuras neste local sagrado?” Tamino revela-
lhe as suas intenções: quer libertar a princesa Pamina das mãos do cruel feiticeiro Sarastro. O Sacerdote percebe que Tamino é movido pelo Amor mas que está mal informado acerca de Sarastro. Passa a buscar desfazer a imagem errónea que dele faz Tamino. Este insiste em saber onde a princesa se encontra, tendo por toda a resposta o silêncio. Fica aliviado ao saber, contudo, por vozes estranhas ao templo, que ela ainda vive. O sacerdote afasta-se e Tamino agora resolve tocar a Flauta Mágica, sua arma salvadora. Papageno, ao longe, ouve o som e responde-lhe com a sua flauta de caçador de pássaros. Fica imaginando se Papageno teria encontrado Pamina. Em instantes Papageno entra em cena com Pamina – livre de suas correntes –, orientado que fora pelo som da Flauta Mágica. Monostatos segue ambos, com auxílio dos escravos, e alcança-os já próximos de Tamino. Estão prestes a aprisioná-los quando Papageno se recorda de sua arma mágica, o “glockenspiel”, e toca-o. Ao som de uma dança alegre e saltitante os bandidos saem dançando, como que enfeitiçados.

Pamina, Tamino e Papageno ficam aliviados, quando um som de trombetas anuncia a chegada de Sarastro. Papageno teme por sua sorte e Pamina julga-se perdida. Afinal, acabara de fugir de Monostatos, que a mantinha cativa por ordem de Sarastro.


O séquito de Sarastro chega ao local em que se encontram. Sarastro, saudado pelo coral, entra em cena. O coral diz: “O homem sábio o aclama, o falso aprende a temê-lo. Com paciência ele nos guia para a Sabedoria e para a Luz. Pois ele é nosso líder, proclamando a rectidão.”


Monostatos conta a Sarastro a sua versão dos eventos recentes. De como aquela “estranha ave” – Papageno – o havia surpreendido e retirado Pamina de seus olhos. Sarastro compreende tudo e ordena que dêem “77 chibatadas” nos pés de Monostatos, que sai carregado por outros escravos para a sua punição.


Pamina aproxima-se do Grão Sacerdote Sarastro e confessa a sua transgressão, o seu desejo de escapar para voltar ao convívio de sua mãe. Revela ainda o assédio que vinha sofrendo por parte do mouro Monostatos. Sarastro informa compreender as suas intenções e que não poderia se interpor entre ela e seu anseio de amar. Ressalta, contudo, que não poderá, ainda, libertá-la. Revela quem de facto é sua mãe e os seus planos para destruir a fraternidade de Ísis e Osíris – propõe-se manter Pamina sob seus cuidados e os dos membros daquela fraternidade.


Papageno e Tamino percebem que tinham uma impressão equivocada sobre Sarastro, impressão neles inculcada pela Rainha da Noite, e agora, admirados com Sarastro e a irmandade de Ísis e Osíris manifestam sua vontade de também serem membros. Sarastro informa-os que, nesse caso, deverão passar por um julgamento e uma série de provas a fim de que sejam aceites. Têm início os preparativos para a Iniciação de Tamino e de Papageno que, com a cabeça recoberta por espessa venda, saem de cena.


Chegamos ao final do I Acto.


O II Acto começa num bosque com desenhos estranhos e uma pirâmide truncada ao fundo. Dezoito sacerdotes posicionam-se em três pontos da cena, à esquerda, à direita e ao fundo. Sarastro, de pé ao centro, abre a reunião anunciando: “Iniciaremos neste Templo da Sabedoria, servos de Ísis e Osíris. Com alma pura, declaro a todos vós que esta assembléia é uma das mais importantes do nosso Templo. Tamino, filho de um rei, vinte anos de idade, está à porta de nosso Templo.” Três dos sacerdotes se levantam, um de cada vez. O primeiro questiona: “Ele é virtuoso?” pergunta o primeiro. “Ele é discreto?” pergunta o segundo. “É um homem caridoso?” pergunta o terceiro. Sarastro responde afirmativamente a todas as questões e pergunta se todos concordam com a iniciação, devendo manifestar-se erguendo uma das mãos. O grupo de sacerdotes que se encontra à esquerda fá-lo e mantém-se assim enquanto a orquestra entoa uma nota constante. A seguir, o mesmo para o grupo que está à direita e, finalmente, o grupo que está ao fundo, pontuados por uma mesma nota cada, totalizando três toques. Sarastro encerra a reunião cantando uma ária em que invoca a proteção de Ísis e Osíris.


Os dois iniciandos estão prontos para o cerimonial. Este tem início com Tamino e Papageno conduzidos por um sacerdote cada um, no átrio do Templo. Desvendado, Tamino reafirma sua intenção de galgar a sabedoria e ter como recompensa o amor de Pamina. Quando questionado pelo Orador, emite respostas simples, firmes e diretas. Papageno contudo, questionado pelo sacerdote, manifesta-se apenas ansioso pelos prazeres da vida: “comer, dormir e beber. Isto é bastante para mim. Se possível, ter uma bela esposa.” O Orador dá a palavra final: aconteça o que acontecer daqui para frente ambos terão de manter silêncio absoluto. Se violarem esta ordem estarão perdidos. Orador e Sacerdote previnem ambos quanto às malévolas tentações femininas. Logo que estes saem, deixando os dois sozinhos com suas meditações, entram as três Damas da Rainha da Noite que advertem os dois sobre o perigo que correm se permanecerem naquele lugar. “Tamino, certamente a morte aguarda-o. Papageno, você está perdido para sempre.” Apavorado, Papageno começa a tagarelar e é por várias vezes repreendido por Tamino que lhe faz recordar o que ambos prometeram aos sacerdotes. Diante das três Damas, Tamino mantém silêncio e elas saem. A prova termina com os sacerdotes entrando em cena e informando que Tamino vencera aquela etapa.


Na cena seguinte, vemos Pamina a ser preparada para a sua Iniciação. Pamina está adormecida no jardim do palácio de Sarastro. Monostatos surge para mais uma vez tentar seduzir a jovem. Canta a sua paixão pela beleza da princesa. A Rainha da Noite surge no meio de trovões, fazendo Monostatos esconder-se, amedrontado. Ao perguntar a Pamina sobre o destino do jovem que ela lhe havia enviado, a filha retruca que este será iniciado na fraternidade de Ísis e Osíris. Percebendo a gravidade da situação a Rainha, sabedora de que Pamina também está enredada pela fraternidade dos iniciados, entoa a magnífica “Ária da Vingança”, um desafio para a soprano que o interpreta. Extravasa toda a sua cólera contra Sarastro e seus seguidores. Entrega um punhal à filha com a recomendação de que assassine o seu inimigo mortal. A Rainha da Noite desaparece tão misteriosamente como havia surgido. Monostatos, que se ocultara diante da aparição da Rainha, reaparece e toma o punhal das mãos da princesa, ameaçando-a caso não se entregasse a seu apetite sensual. Exactamente no momento em que ele tenta possuir a jovem, Sarastro entra em cena, compreende o que se passa e repreende Monostatos. Este sai, ficando Sarastro e Pamina a sós. Este revela a Pamina que já conhecia os planos de vingança da Rainha da Noite contra ele e a fraternidade de Ísis e Osíris. De sua parte, numa bela ária, Sarastro mostra quais são as armas de que dispõe para derrotar a Rainha:


“Em nosso sagrado templo,

A vingança é desconhecida,

E aqueles que se desviam do dever

O caminho é-lhes mostrado com amor

Com ternura são levados pela mão fraterna

Até encontrarem, com alegria, um lugar melhor

Dentro de nossa sagrada maçonaria,

Por laços de amor estamos unidos

Cada um perdoa o seu próximo

Aqui não há traição

E aqueles que desprezam este nobre plano

Não merecem ser chamados de homem.”

Com esta ária, de forma serena e firme, Sarastro ressalta a diferença entre o que a Rainha da Noite diz e o que a fraternidade de Ísis e Osíris realmente representa. Pamina conhece agora a face da verdade: a crueldade e os propósitos de vingança da Rainha da Noite estão em vivo contraste com a serenidade e o equilíbrio, temperados com o mais sincero amor fraternal revelados por Sarastro. Aqui se encontra o clímax da ópera, a universal confrontação da Luz contra as Trevas.

Na próxima cena, Tamino e Papageno prosseguem em suas provas. Ambos devem continuar guardando o mais absoluto silêncio, conforme recomendação do Orador e do Sacerdote. Para Papageno um teste estranho: surge a seu lado uma mulher muito velha coberta por um capuz e uma longa capa, ocultando sua face e suas formas. Puxando conversa com ele, revela que tem dezoito anos e que seu namorado se chama Papageno. Vai revelar o seu nome quando desaparece num alçapão. Espantado, este puxa conversa com Tamino, que sucessivas vezes o repreende. Tamino será submetido à prova ainda mais difícil: Pamina entra em cena e dirige-lhe palavras de amor, mas ele está impedido, por seu juramento de silêncio, de dirigir-lhe a palavra. Ambos sofrem muito com esta situação. Tamino desejaria falar-lhe, mas está impedido. Pamina julga, desconcertada, que Tamino lhe renega seu amor. Chorando convulsivamente, deixa a cena com Tamino sofrendo muito pela dor que, involuntariamente, impôs à princesa.

Seguem as provas. Agora, no interior do Templo, Sarastro e outros sacerdotes entoam um coral em louvor a Ísis e Osíris. Tamino e Pamina são trazidos à sua presença. Faz-se silêncio em toda a assembléia. Sarastro previne a ambos que ainda deverão se submeter a outras provas. O casal deve despedir-se com um adeus pois agora o príncipe deve submeter-se à prova final – e seu futuro é incerto. Papageno também entra em cena e o sacerdote que o acompanha diz-lhe que, embora não tenha sido bem sucedido na prova anterior, os deuses estavam dispostos a satisfazer-lhe um desejo. Ele pede um copo de vinho. A seguir recorda-se e, numa alegre ária, Papageno canta seu maior anseio: que lhe seja concedida uma bem-amada, tão ansiosamente aguardada. A mesma velha de antes surge e informa que ele tem duas alternativas: casar-se com ela ou morrer. Ele decide-se a aceitá-la e, como por encanto, ela transforma-se numa jovem linda, a Papagena. Papageno corre a abraçá-la e é contido pelo sacerdote que o adverte: “Afaste-se, jovem! Ainda não tem este direito!” E sai com a bela jovem, deixando Papageno só e desolado.

Pamina, por sua vez, encontra-se num aprazível jardim envolvida por pensamentos melancólicos. Não tem certeza do amor de Tamino e, sentindo-se abandonada, pensa em suicidar-se utilizando o punhal que a mãe lhe dera. Surgem os três Génios da Floresta, que buscam dissuadi-la daqueles maus pensamentos com a revelação de que Tamino está a submeter-se a provas, a fim de se unir a ela. Recomendam que Pamina os siga e verá Tamino em sua prova final.

Tamino está próximo do Templo, onde se vêem duas cavernas – uma de cada lado do palco – com um portão gradeado. No centro, uma escada conduz a uma porta onde estão postados dois guardas armados. Os guardas cantam em dueto:

“Aquele que andar

Por estes caminhos

Cheios de dificuldades,

Terá de passar pelas provas

Do fogo, da água, do ar e da terra

E, se vencer

O temor da morte

Como que deixará a terra

Em direção ao brilho do céu.

Iluminados, coração e mente,

Empenhar-se-ão pelo direito

E no sagrado rito de Ísis

Encontrarão a verdadeira luz.”

Os dois guardas, avisando-o dos perigos, exortam à coragem de Tamino e Pamina no início destas provas. Tamino segue firme em seu propósito e informa que nenhuma ameaça pode amedrontá-lo.

Tamino prepara-se para enfrentar a primeira prova, a prova do fogo. Pamina aproxima -se dele para participar também desta prova. Ambos entram na caverna por onde saem labaredas de fogo. Tamino, tocando a Flauta Mágica, passeia com desenvoltura em companhia de Pamina, pelas chamas que vão desaparecendo. A seguir atravessam por uma torrente de águas, como de uma grande catarata, sem que nada lhes aconteça, graças ao mágico som da Flauta. Ao retornarem vitoriosos são saudados por um coral de sacerdotes, Sarastro à frente, que se rejubilam com os iniciandos.

Próximo dali, Papageno ainda está atormentado, desconsolado sem a sua sonhada bem-amada. Canta com saudade e diz, diante de uma forca, que contará só até três para que Papagena reapareça. Papageno está prestes a suicidar-se quando surgem os três Génios da Floresta que o exortam a tocar o seu “glockenspiel” e assim fazer com que Papagena volte. Ele recorda-se do seu instrumento mágico, toca-o e Papagena surge magicamente, tendo início o delicioso dueto “Papagena-Papageno.”

Na cena final vemos a chegada da Rainha da Noite, das três Damas e de Monostatos, que havia passado para o lado da Rainha a fim de, usufruindo de seus poderes mágicos, chegar a seu intento: seduzir Pamina. A Rainha, ensandecida ao ver Pamina e Tamino agora iniciados e membros da fraternidade que odiava, tenta invadir os domínios dos iniciados para derrotá-los definitivamente. Chegam no meio de densa treva, trazendo tochas. Nesse instante, tem lugar uma grande tempestade, com raios e trovões, que obriga os invasores a dispersarem. A noite vai aos poucos dando lugar à aurora. O sol surge e o ambiente ganha cada vez mais luz. Sarastro, o Grande Sacerdote, surge cercado pelos irmãos e sacerdotes e canta:

“A glória do dourado Sol,

Conquistou a noite.

O falso mundo das trevas

Conhece agora o poder da luz.”

Um majestoso coral encerra a ópera com louvores a Ísis e Osíris e aos iniciados:

“Salve, novos iluminados!

Passastes pela noite

Louvamos a ti, Osíris.

Louvamos a ti, Ísis.

Pela força são vitoriosos

São dignos da coroa

A beleza e a sabedoria

Haverão de iluminá-los como o Sol.”

Rui Bandeira




18 julho 2006

“O cancro é um produto da nossa capacidade evolutiva.”


Editor António Coxito
Produção Ricardo Melo
Publicado em "De Frente"

MANUEL TEIXEIRA
Nasceu no Porto em 1967. Licenciou-se em Medicina em 1992 pela Universidade do Porto e doutorou-se em Medicina (Genética Médica) pela Universidade de Oslo em 1997. Depois de vários anos de actividade científica na Escandinávia (no Odense University Hospital na Dinamarca e no Institute for Cancer Research do Norwegian Radium Hospital na Noruega), ingressa como investigador no Instituto Português de Oncologia do Porto em 2001. É Director do Serviço de Genética e do Centro de Investigação do IPO-Porto e Professor Convidado do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar da Universidade do Porto. É autor de mais de 70 publicações internacionais sujeitas a peritagem científica na área da genética do cancro.Coordenou a equipa de investigadores do IPO do Porto que descobriu o gene responsável pela leucemia mielóide.



A causa do cancro é essencialmente genética ou comportamental/ ambiental?
A nível celular todos os cancros têm provavelmente origem genética, uma vez que resultam de alterações do material genético, ou seja, de mutações. A causa dessas mutações é que pode variar, podendo resultar de um aumento de exposição a agentes mutagéneos ou de um defeito da reparação das lesões do DNA que ocorrem constantemente. Os agentes ambientais causais podem ser físicos (por exemplo, radiação ultra-violeta), químicos (por exemplo, fumo do tabaco) ou biológicos (por exemplo, o vírus HPV). Por outro lado, mutações germinativas em genes envolvidos na reparação de lesões do DNA causam várias síndromes caracterizadas por predisposição hereditária para cancro. Por exemplo, mutações nos genes BRCA1 ou BRCA2 (que participam na reparação de quebras de cadeia dupla do DNA) causam cancro hereditário da mama, enquanto que mutações nos genes MLH1 ou MLH2 (que participam na reparação de erros de emparelhamento do DNA) causam cancro colo-rectal hereditário. Em geral, só cerca de 5% dos cancros mais comuns têm uma origem genética, enquanto que a maioria das neoplasias são esporádicas. É importante realçar que o cancro é um produto da nossa capacidade evolutiva, já que esta depende da existência de uma instabilidade genética basal. O nosso metabolismo normal produz radicais de oxigénio causadores de lesões do DNA que, se atingirem genes importantes e não forem reparadas, podem dar origem a uma neoplasia.

Para quando a erradicação precoce da leucemia?
Houve grandes avanços no tratamento da leucemia nos últimos anos. No entanto, é importante salientar que leucemia não é uma única doença mas sim dezenas de doenças diferentes, cada uma com uma base biológica distinta. Várias leucemias agudas têm taxas de cura de 80-90%, especialmente em crianças, enquanto outras apresentam pior prognóstico. Uma boa parte dos avanços no tratamento deve-se ao tratamento diferenciado conforme os grupos de prognóstico em parte definidos pelas alterações genéticas das células leucémicas. Por outro lado, há já tipos de leucemias que são tratadas com as novas drogas dirigidas a alvos moleculares específicos (as chamadas drogas inteligentes). Por exemplo, a leucemia mielóide crónica é agora tratada com uma taxa de sucesso de 95% com uma molécula que inibe selectivamente a proteína de fusão BCR-ABL que causa a doença e que resulta de uma translocação cromossómica entre os cromossomas 9 e 22. No futuro, cada vez mais haverá tratamentos específicos dirigidos à alteração molecular que está subjacente à neoplasia em causa, em vez de uma quimioterapia inespecífica que causa mais efeitos laterais por afectar também as células normais.

O que leva à fusão do Septina 2 do cromossoma 2 com o MLL do cromossoma 11?
O que origina a fusão dos genes SEPT2 e MLL é uma translocação cromossómica, que mais não é do que uma troca de fragmentos entre dois cromossomas após a ocorrência de quebras das cadeias de DNA. Neste caso, as quebras das moléculas de DNA ocorrem nestes dois genes, dando origem a um novo gene de fusão chamado SEPT2-MLL. Este gene de fusão passa a codificar uma proteína híbrida que vai causar a leucemia por ter propriedades alteradas que afectam a proliferação celular, a morte celular programada e/ou a diferenciação celular.

Qual o processo utilizado para encontrar o "par" do MLL?
Foi necessária a combinação de várias metodologias. Tudo começou pela detecção da translocação entre os cromossomas 2 e 11 por análise citogenética clássica. Como o ponto de quebra no cromossoma 11 sugeria que o gene MLL estivesse envolvido, fomos confirmá-lo por hibridação fluorescente in situ com uma sonda específica para aquele gene. Confirmado o envolvimento do gene MLL e sabendo que este gene habitualmente se funde com um outro para criar um gene de fusão, faltava encontrar o gene parceiro localizado no cromossoma 2. Esta foi a tarefa mais árdua pois havia dezenas de genes localizados na zona afectada do cromossoma 2. Depois de avaliar a função dos genes candidatos, foram seleccionados para estudo aqueles que, em termos teóricos, se poderiam fundir com o gene MLL para causar uma leucemia aguda. Usando a técnica da reacção em cadeia da polimerase para estudar o RNA, foi finalmente detectado um gene de fusão entre o MLL e o SEPT2. Que este gene híbrido é constituído por sequências nucleotídicas do MLL e do SEPT2 foi posteriormente confirmado por sequenciação automática.
No caso de detecção desta alteração cromossómica, em que consiste o seu tratamento?
O tratamento deste tipo de leucemia consiste em quimioterapia de alta dose e eventualmente transplante de medula óssea. A leucemia mielóide aguda com envolvimento do gene MLL está associada a uma probabilidade de sobrevivência aos 5 anos de cerca de 20%, enquanto que há outro tipo de leucemia mielóide aguda com alterações genéticas de bom prognóstico que apresenta uma sobrevivência de 85%. O grande desafio é descobrir novas modalidades terapêuticas que permitam tratar melhor o tipo de leucemia para o qual a terapia actual é menos eficaz.

JPSetúbal