No âmbito das publicações de autores convidados, aqui fica um texto sobre a Maçonaria na Ilha da Madeira.
A
Maçonaria na Madeira
Em 1727, foi constituida a primeira
Loja Maçónica em Lisboa composta por comerciantes ingleses e que seria
apelidada pelo Santo Ofício de “Hereges Mercadores”, em 1733 uma segunda Loja
denominada “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia” com uma predominância de obreiros católicos
portugueses e irlandeses e uma terceira fundada pelo suíço John Coustos em
1741. Todas elas sofrerão uma grande perseguição por parte da Inquisição no ano
de 1743, onde alguns destes Irmãos foram torturados e sentenciados a duras
penas.
Uma segunda fase acontece a partir
dos anos sessenta desse mesmo século, como consequência de uma tolerância
ideológica por parte do Marquês de Pombal, que fora um homem iniciado no
estrangeiro (Inglaterra ou Áustria), onde residiu algum tempo como diplomata da
coroa Portuguesa.
É precisamente durante esta segunda fase
acima referida que se erguem as colunas da primeira Loja Maçónica na Ilha da
Madeira em 1768.
Esta Loja que foi fundada por
elementos da nobreza Madeirense tais como:
Aires de Ornelas Frazão, Leal de
Herédia, Joaquim António Pedroso e Francisco Alincourt.
Alguns destes Irmãos teriam sido
mesmo iniciados em Londres, destacando-se o caso de Aires de Ornelas Frazão, 1º
Venerável Mestre da Loja e que casou com Mary Phelps, uma sra de famílias
inglesas que também residiu na Ilha.
No ano de 1770, consta de um ofício
dirigido ao Marquês de Pombal a 3 de Dezembro desse ano pelo governador José
António de Sá Pereira de que os Irmãos acima referidos teriam sido presos por
este nas Cáceres do Santo Ofício e enviados para Lisboa, onde foram libertados
pelo Marquês de Pombal.
No ano de 1780, haviam poucos
Obreiros devido à continuada perseguição movida pelo governador Sá Pereira, mas
com a chegada à Ilha da Madeira de Barthelemy Andrieu du Boulaiy, a nossa Ordem
retoma o vigor inicial devido ao seu empenho e ao recrutamento de novos elementos.
Em 1790, acontece uma cisão na Loja
onde Ornelas Frazão envereda pelo reconhecimento britânico e uma Loja
denominada de “S.Luís” que segue o reconhecimento francófono.
Nessa altura na Ilha da Madeira
estavam a trabalhar cerca de três Lojas e o numero de Maçons ultrapassava os
100, destacando-se os nomes do Padre Alexandre José Correia que tinha um
diploma maçónico inglês, Miguel Carvalho que mais tarde iria para os Barbados
(Antilhas Inglesas) e de Tomás de Ornelas Frazão, filho de Aires e que ergueu
colunas no ano de 90 na cidade da Horta, Ilha do Faial, Açores.
Recuando cerca de um ano, mais
precisamente 1789, chega á Ilha da Madeira, por nomeação do governo de D.Maria
I e com a missão de estudar a flora Madeirense e seus efeitos terapêuticos, Jean
Jacques de Orquiny, que era grande comendador do Grande Oriente de França e que
não só levantou colunas de uma Loja como também formou uma Academia de Ciências
e Artes.
Em 1792 foi movida uma segunda grande
perseguição contra os pedreiros livres, liderada pelo Bispo D. José da Costa
Torres e pelo governador à época de nome Diogo Forjaz Coutinho, que à imagem do
seu antecessor Sá Pereira, prendeu todos os Maçons nas Cáceres do Santo Ofício,
e através de um edital incentivou toda a população a denunciar perante a própria Inquisição (cito):
TODO AQUELE
QUE SOUBESSEM PERTENCER À MALDITA SEITA, QUE TINHA PACTO COM SATANÁS E ERA
EXCOMUNGADA.
Como é óbvio, esta manobra ditatorial
e absolutista contra homens livres, de bons costumes e anti-dogmáticos, iria
instalar o pânico nas suas famílias, levando a que uma grande parte dos Irmãos
“fugissem” da Ilha da Madeira para sítios onde a sua condição não fosse um
constrangimento.
Os destinos principais foram o Brasil
e os Estados Unidos da América onde foram muito bem recebidos.
A Maçonaria voltou a reorganizar-se
enquanto a Madeira esteve ocupada por tropas britânicas entre 1801 a 1802 e
1807 a 1814, tendo à época levantado colunas uma Loja de nome Unidos, da qual
nasceram outras duas.
É precisamente nesta terceira fase
que a nossa Ordem na Madeira começa a deixar uma postura filosófica e cultural
para ter uma mais valia política e social.
Com o liberalismo implementado no
país, o cenário com certeza era favorável para que estes princípios começassem
a implodir.
No entanto, a alçada do governo
absolutista de D. Miguel começou com as suas intervenções inquisitórias no ano
de 1823, dispersando novamente os Maçons.
Com a devida persistência já
denotada, no ano de 1825 formou-se uma sociedade que se denominava de “Os
Jardineiros”, organizada por estudantes universitários e bacharéis.
A pressão exercida por parte daqueles
que o seu modus operandis é o controlo social pela força, pelo dogmatismo e
pelo não desenvolvimento intelectual da maioria, os Maçons à época eram
obrigados a um sigilo absoluto.
Sendo assim, reuniam-se nas quintas e
propriedades dos seus membros para que a descrição fosse cumprida.
Entre outras, é de referir a quinta
do Til, a quinta da Carne Azeda, a quinta de St. Filipa, uma das quintas no
Monte e a de um inglês de nome Gran que também era pedreiro-livre.
A Maçonaria volta a ressurgir robusta
em 1826, tendo como personagem principal João do Carvalhal.
No entanto e novamente, a alçada do
governo de D. Miguel volta em 1828 onde pronuncia duzentas e dezasseis pessoas,
entre os quais cerca de cem Maçons.
Esta perseguição provocou um novo
surto de emigração, e os que não partiram, sofreram durante cinco anos
sanguinária pressão, tendo muitos morrido pelas suas crenças e convicções.
A 5 de Junho de 1834, as instituições
liberais foram restabelecidas, onde os poucos Maçons ali existentes puderam
recomeçar os seus trabalhos.
Entre 1847 e 1872 a atividade
Maçónica na Ilha da Madeira teve mais uma quebra acentuada, mas a 11 de Março
do ano de setenta e dois e pela mão do Tenente-Coronel José Paulo Vieira, ergue
colunas a Loja Liberdade, com uma postura apolítica e muito mais filosófica.
Nos anos posteriores, constituíram-se
outras três Lojas, que se fundiram pouco depois de 1880.
A implementação da República
Portuguesa no princípio do sec. XX proporcionou o constituir de outras Lojas
formadas por membros Portugueses e a Britanic Lodge por membros ingleses.
Esta fase da Maçonaria na Madeira
terminou, bem como em todo o Portugal, com a implementação do Estado Novo, onde
a “Inquisição” volta a ter um papel castrador, com a devida conivência do estadista
António Oliveira Salazar a partir de 1932.
Depois do maior interregno desde a
formação da primeira Loja em 1768, a Maçonaria na Madeira volta a acordar cerca
de 75 anos depois, mais precisamente no dia 2 de Maio do ano simples de 2009.
O objetivo atual da Maçonaria Regular
na Madeira é claro:
1- Continuar o legado dos
Irmãos que já partiram para o Oriente Eterno.
2- Fundar e desenvolver
instituições que apoiem o desenvolvimento social e filosófico através da
ciência e da cultura
3- Praticar a filantropia.
4- Colaborar no estreitamento
dos laços de amizade na Maçonaria Lusófona.
Conclusões:
Este trabalho é baseado em vários
relatos históricos e que descrevem as nossas raízes na Ilha da Madeira, as perseguições
e as dificuldades impostas por quem sempre quis privar-nos de um princípio
anti-dogmático e fundamental para a evolução sociológica que é o livre
pensamento.
A quem nos provocou e a quem nos
continua a provocar, a eles dedico-lhes e a vós recito meus Irmãos uma frase do
ilustre poeta Fernando Pessoa, e que relata o seguinte:
EXISTE NO
SILÊNCIO TÃO PROFUNDA SABEDORIA QUE ÀS VEZES ELE SE TRANSFORMA NA MAIS PERFEITA
RESPOSTA.
Em bom rigor, esta é uma postura de
homens livres e de bons costumes que, por e simplesmente sonham como outros
tantos sonharam, como Aires de Ornelas Frazão e com grande coragem, partilhamos
este brilhante legado que nos deixaram e que nos constitui honrosamente Irmãos
da Lusofonia.
Que estes factos sejam exemplo para
que a Maçonaria de expressão Lusófona esteja cada vez mais unida e mais forte,
e para que estas palavras se completem, todos juntos, devemos nos empenhar
profundamente na construção de uma sociedade mais justa, mais iluminada, em
suma, a caminho de uma 4ª dimensão ortogonal.
Octávio
Pimenta Sousa
(M.·.M.·. da R.·.L.·.João
Gonçalves Zarco nº 71, a Oriente do Funchal)