SOBRE A IMPERMANÊNCIA
Prancha traçada ao Vale de Lisboa, em 28 de Março de
6.018
O presente texto não está redigido segundo o acordo ortográfico da Língua
Portuguesa de 1 990/2 009.
A IMPERMANÊNCIA
Alinhando e desalinhando estes
parágrafos, maldizendo, (apenas um pouco), a minha incontida verborreia que me
fez falar em impermanência numa sessão onde, e muito bem, foi apresentada a
prancha “A Existência Humana”, um ensaio no qual Drucker (19NOV1909 a *11NOV2005) faz uma análise do pensamento de Kierkegaard (05MAI1813 a *11NOV1855), com os olhos
postos nas mudanças de pensamento, principalmente o político e social, que
ocorriam no fim da 1.ª metade do século XX.
Segundo Kierkegaard, o homem terá que renunciar a si mesmo
para superar as limitações que a realidade lhe impõe, e assim poder aceder ao
transcendente, aceder a Deus e à verdadeira individualidade; neste sentido,
realçou “o existir concreto do homem” (o existencialismo) que anseia pela
transcendência, focando em consequência disso, os sentimentos de angústia e
desespero inerentes a tal condição.
Ora, em minha modesta opinião, na vida onde tudo é transitório, tanto os
pensamentos quanto os amores e as coisas, que vão, vêm, ficam e passam, nada é
assim tão importante, a não ser a experiência da vida que passa (e apenas
enquanto passa), pelo que não me apetece mesmo nada ter algo que me obrigue a
viver em desespero e angústia para poder vir a ter a ilusão de “possuir” ou
“conquistar” o que quer que seja. O que vier, virá; mas virá sem sofrimento
consentido; assim sabendo e aceitando ser o traço característico da existência
terrestre a impermanência, decidi iniciar esta prancha por “a Morte”,
indubitavelmente a carta mais forte, ou mesmo o trunfo (e o triunfo) maior, do
tema que aqui se pretende tratar.
Para nós, que de certa forma nos
alinhamos e nos preparamos para a viagem rumo ao G\O\E\, não há dúvida que encararemos a nossa morte física
como a prova provada (desculpem o pleonasmo) da impermanência pois não iremos/voltaremos
mais “viver” nos moldes actuais (ou iremos?).
Octávio Paz (31MAR1914 a 19ABR1988) escritor poeta e ensaísta mexicano,
Nobel da literatura em 1990, dizia que “a morte não nos assusta
(aos mexicanos) porque a vida já nos curou dos medos”;
enquanto que Giuseppe Belli (07SET1791 a 21DEZ1863), poeta italiano famoso pelos seus sonetos em romanesco (o dialecto de
Roma) nos conta que “A morte está escondida nos relógios” (La golaccia).
A palavra morte quase não
é pronunciada em Nova Iorque, em Paris ou Londres, e infelizmente começa a não
ser pronunciada também em Lisboa, porque queima os lábios; contudo ainda vai
havendo quem a respeite, a acaricie, a celebre e até brinque com ela e não só
no México onde é, segundo Octávio Paz, “um dos seus brinquedos
favoritos e o seu mais constante amor”.
Lembro aqui o filme “Meet Joe Black”, um
filme rodado em 1998 e quase todo em Nova Iorque, cidade onde como acima
referimos se evita pronunciar a palavra morte, produzido por Martin
Brest tendo como actores, entre outros Brad Pitt e Anthony Hopkins, um filme que, ao que
eu saiba, pela primeira vez nos põe em contacto personificado com a Morte, com
humor e com alguma naturalidade, o que não é habitual nos filmes ou narrativas
que nos habituámos a ver provenientes dos EUA, onde a angústia e a perda são
pulsões permanentes.
Neste filme ocorre uma festa de
aniversário que, apesar de ser a última e o aniversariante o saber, foi um
festejo alegre e coroado com fogo-de-artifício!
O nosso portuguesíssimo “Pão por Deus”
que ultimamente vai sendo desvirtuado e substituído pelo “dia das Bruxas” ou “Halloween”, era o
dia em que antigamente se oferecia pão, bolos, vinho e outros alimentos aos
mortos, celebrado em cada ano no primeiro dia de Novembro, na véspera do dia
consagrado a todos os mortos, e era de reminiscências bem antigas, que aqui me
escuso de referir ou tão cedo não sairíamos daqui; era, como vinha dizendo, um
ritual de “comer
a morte” ritual esse que pode representar a continuidade da vida, como se do
ventre da morte pudéssemos ver nascer ou até renascermos na própria vida; era o
Morrer para Renascer; era o ensinamento que diariamente o Sol propiciava (e
propicia se o quisermos/pudermos ver/entender) nascendo incansavelmente e a
cada dia no Oriente, de onde vem a Luz, para inexoravelmente se extinguir
moribundo, no útero devorador do mundo, o Ocidente.
Estará então o homem condenado à morte e
à vida, ambas repetitivas e eternas? A ser assim a morte e vida serão dois
aspectos de uma mesma realidade? Eclodirá a vida da morte qual planta que brota
da semente que se decompõe no seio da terra?
A ser assim, a morte será um bem
colectivo que dá continuidade à criação e que funciona como regresso à essência
do universo.
Será o verdadeiro objectivo da vida
chegar “purificado” “com mais luz” ou “aperfeiçoado” à “morte”?
Assim sendo, a “vida” outra coisa não será
senão uma caminhada com vista à santificação da nossa existência; viver para
morrer, tendo que sofrer para viver eternamente como preconizava Kierkegaard?
Ou será que a vida se nos apresenta como
um verdadeiro desafio, e uma grande oportunidade para percorrer o caminho que
nos leva à porta da imortalidade? Nascer para morrer e então renascer para
viver o caminho; no fundo um caminho iniciático.
Não é só a morte, porém, que atesta,
talvez consagre, a impermanência. A impermanência é desde logo, a vida ou, se
preferirmos, o percurso “desta” vida com todos os seus mitos e dúvidas.
Lemos em Fernando Pessoa: (13JUN1888 – 30NOV1935) in
Mensagem - II - Os
Castelos - Primeiro/Ulisses
O mytho
é nada que é tudo.
O mesmo
Sol que abre os céus
É um
mytho brilhante e mudo –
O corpo
morto de Deus,
Vivo e
desnudo.
Este, que aqui aportou,
Foi por
não ser existindo.
Sem
existir nos bastou.
Por não
ter vindo foi vindo
E nos
criou.
Assim a lenda se escorre
A entrar
na realidade,
E a
fecundá-la decorre.
Em
baixo, a vida, metade
De
nada, morre.
E ainda: in Livro do Desassossego
Tudo quanto vive, vive porque
muda; muda porque passa; e, porque passa, morre. Tudo quanto vive perpetuamente
torna-se outra coisa, constantemente se nega, se furta à vida.
Foi “este” Fernando Pessoa que muito nos
chamou a atenção, tanto para as coisas que nos rodeiam, como para a nossa “pessoa”,
os nossos rostos e as nossas máscaras, da nossa permanente transformação, e do
nosso perpétuo movimento, e que, na pele de Bernardo Soares, nos ensinou a
aceitar, sem mais questões, a impermanência: gozo a brisa que me dão e a alma que me deram para
gozá-la, e não interrogo mais nem procuro.
A impermanência porém, com frequência,
assusta-nos … todavia não somos nós, bem por dentro da nossa vivência, a
personificação acabada dessa impermanência?
Afinal a vida é uma prática mortal, um
livro de desassossego que se abre ao fascínio dos humanos!
Poderia aqui deixar páginas de citações
sobre a impermanência; fiquemos apenas por estas:
i) O progresso
é impossível sem mudança.
Aqueles
que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.
George Bernard Shaw (26JUL1856
a 02NOV1950)
ii) Nada é permanente, excepto a mudança.
Heráclito de Éfeso (540AC a 475AC**)
iii) Uma mudança deixa sempre patamares para uma nova mudança.
Maquiavel (03MAI1469 a 21JUN1527)
iv) Tudo é mudança; tudo cede o seu lugar e desaparece.
Eurípedes (481AC a 407AC)
v) Muda-se o ser, muda-se a
confiança;
Todo o
mundo é composto de mudança
Tomando
sempre novas qualidades.
Continuamente
vemos novidades,
Diferentes
em tudo da esperança;
Do mal
ficam as mágoas na lembrança,
E do
bem, se algum houve, as saudades.
Luís de Camões (+- 1524 a 10JUN1580)
Conto-vos agora uma história na primeira
pessoa, e vai ser na primeira pessoa do singular; eu sei que poderia utilizar a
primeira pessoa do plural e dar-lhe um ar mais majestático, mas, de todo, não
me parece que seja necessário:
Certo dia, aí pelos meus trinta e poucos,
numa conversa de café, ou melhor numa conversa de club, pois o facto que aqui
relato ocorreu na sala de convívio do C.R.M. (Club Recreativo Mortuense), quando
em cavaqueira com um grupo de jovens com quem “brincava” aos teatros
(pretendíamos levar à cena “A Promessa” de Bernardo Santareno), uma das
raparigas do grupo tratou-me por senhor.
Nesse momento não percebi lá muito bem o
que se estava a passar, fiquei um pouco sem jeito e com a capacidade de
raciocínio afectada, pelo que, com um pedido de desculpa, antecipei o meu
regresso a casa.
Já mais refeito e no aconchego relativo do
meu lar, olhei-me ao espelho e apercebi-me que esta barriguinha, que hoje envergo,
despontava, bem como umas aberturas no cabelo, por sobre as têmporas, aquilo
que ao tempo se chamava, e, embora isso já não me preocupe, acho que ainda se chama,
de “entradas”!
Dei então conta que havia uma grande
distância entre a idade com que me sentia e a minha verdadeira idade biológica;
percebi que tinha parado na idade em que os ideais surgem e nos sentimos vivos
em qualquer circunstância. Até tinha ido à guerra e voltado, tinha sido
atropelado e sobrevivido!
O que eu tinha mesmo, era percorrido cerca
de uma década e meia sem que tivesse dado por ela.
Era impossível que essa mudança drástica
se tivesse dado naquele exacto momento em que dela eu me apercebi!
É claro que, fisicamente, a cada momento
que tinha passado na minha vida, algumas células foram morrendo e outras nascendo,
o meu cabelo tinha iniciado uma viagem sem retorno, a minha fisionomia tinha mudado,
e o espelho lá de casa não tinha servido para nada, pois não me avisou! É
igualmente claro que paralelamente a cada um desses momentos, a perspectiva que
eu tinha das coisas, do mundo e de mim mesmo, com certeza que essa perspectiva foi
igualmente mudando, só que o fez de forma tão sorrateira que, para mim, se
tornou imperceptível, mas, de repente, e porque uma jovem me tratou por senhor,
toda a percepção do mundo me caiu cima!
Aquela história do “eu sou assim”, “sempre
fui assim” “serei sempre assim” firmemente convicto da minha permanência foi-me
muito mal contada até ao dia em que caí na realidade porque algo tão simples
como a palavra “senhor” finalmente me tocou/afectou.
Por esse tempo percebi e, claro aceitei,
que até eu um dia teria um fim; fim que já conhecia e aceitara, mas para os
outros … Na sequência, um sentimento de desilusão, ou talvez insatisfação instalou-se
no meu íntimo, tal como no dia em que, ainda criança, desvendei o truque do
ilusionista… já nada era o que aparentava ser…!
Nós, enquanto seres sencientes, por
muito que nos custe admitir, não passamos de manifestações transitórias
totalmente interdependentes de tudo o que nos rodeia.
Somos o somatório, não desagregável,
neste ponto da vida em que nos encontramos, de matéria e consciência, ou corpo
e espírito, se preferirmos.
Vivemos num meio muito escrutinado e de grandes
expectativas, e, deixamo-nos levar pela ilusão de que são as certezas que nos farão
felizes e quando a vida nos mostra que nada é controlável e que a permanência
não existe, sofremos e somos os únicos responsáveis por esse sofrimento, e provavelmente
apenas quando com clareza nos apercebermos que há uma grande harmonia nos
caminhos naturais da vida, estaremos prontos para aceitar a impermanência.
O budismo tem da impermanência um
conceito muito simples: “Nada é permanente, a não
ser a própria impermanência das coisas”.
Continuadamente e em todo o tempo, as
nossas vidas, interna e externa, se movimentam e por mais que julguemos que
podemos controlar todas as coisas, ou pelo menos algumas, não o conseguimos;
estamos apenas a escolher um guia errado, a ilusão; e a ilusão é perigosa, pois
cria expectativas e necessidades que não existem.
Na descrição freudiana, o ser humano é
um animal que nasce prematuramente, em condição de dependência absoluta, que desde
cedo busca o amparo e a protecção necessários à sua sobrevivência, e é instado
a responder a solicitações e injunções dos meios físico, biológico e cultural.
O “eu” da psicanálise é fragmentado e governado
por forças que ele próprio não domina; é uma montagem mais ou menos
bem-sucedida que leva o sujeito a agir no mundo, a buscar satisfações e a lidar
de alguma maneira com o desamparo, a angústia e o desejo.
Esse “eu”, para usar uma expressão do
filósofo Daniel Dennett, (28MAR1942 - 75 anos), é “um centro de gravidade que
não tem substância pois tudo nele deriva dos efeitos produzidos pelas
interacções:
i) com
os outros aspectos significativos de sua história;
ii) com
o ambiente natural e simbólico que o circunda; e
iii) com
as expectativas e desejos projectados sobre ele, mesmo antes que tivesse
nascido, no desejo inconsciente dos pais”.
Afinal, o que é, ou quem é o “eu”? A não
resposta parece ser a única resposta.
O rio da vida flui continuamente, mas
para o “eu” da psicanálise, cuja existência depende de congelar esse fluxo de
mudança, tal fluência é aterrorizante, pois não a conseguirá nunca tornar permanente,
e isso, de certo modo, encaminha-o na direcção da impermanência. O que quer que
pareça ser permanente na nossa vida é, na realidade, bastante temporário. Vem e
vai incerto e inserto na roda da fortuna.
O fortuna
Velut luna
Statu
variabilis
Semper
crescis
Aut
decrescis
Vita
detestabilis
Nunc
obdurat
Et tunc
curat
Ludo mentis
aciem
Egestatem
Potestatem
Dissolvit ut glaciem
|
Oh, fortuna
És como a Lua
Estado mutável
Sempre cresces
Ou decresces
A detestável vida
Ora oprime
E ora cura
Para brincar com a mente
Miséria
Poder
Dissolve-os como gelo
|
|
Carl Orff (10JUL1895 a 29MAR1982) - "Cantiones profanæ
cantoribus et choris cantandæ" …a roda da fortuna,
girando eternamente, trazendo alternadamente a boa e a má sorte… é mais uma parábola da vida
humana exposta à constante mudança.
De tudo o antes exposto resulta ser a
impermanência um fenómeno, ou se quisermos, um conceito (gostemos ou não, tudo
o que nos rodeia na cultura humana está conceptualizado e vemo-nos obrigados a
usar os conceitos para podermos, com êxito, nos relacionar com os outros), um
conceito que convém ser trabalhado se nos queremos aproximar do conhecimento e
aceitação de nós mesmos, dos outros e deste mundo que nos contém e nos rodeia.
Claro que tudo tem um início e um fim;
no planeta terra já viveram dinossauros… porém esta evidência de princípio e
fim tornou-se tão translúcida que quase deixámos de a ver, o que, erradamente,
nos pode levar a crer que certas coisas são eternas, sejam elas as casas que
habitamos, as cidades que povoamos, as estradas que percorremos ou um sem fim
de objectos que usamos. Acaba por ser esse mesmo conceito que erradamente
aplicamos à nossa própria existência, mesmo sabendo que num dado momento, muito
embora ainda desconhecido, abandonaremos este plano em que nos encontramos, continuando
porém a comportarmo-nos como se fossemos, nesta configuração, por cá ficar eternamente.
Passamos e gastamos muito do nosso tempo
no nosso plano actual, a fazer a manutenção constante das coisas, sempre em
luta contra o caos (a entropia), e ainda assim, a entropia (o caos) acaba sempre
por nos ganhar a batalha, pois todas as coisas, tarde ou cedo, acabam
destruídas ou gastas e atiradas para o respectivo caixote do lixo, seja ele
qual seja.
E isto ocorre e acontece com tudo, as
relações incluídas (e nem sequer me vou referir às amorosas); o que era
maravilhoso e quase eterno ao princípio, torna-se frágil, estranho,
desnecessário, incómodo e todo o rol de tantos quantos adjectivos quisermos
acrescer!
Por muito que queiramos e nos esforcemos
por perpetuar certas coisas todas elas são finitas, incluindo as que só nos
deixam no nosso fim. A impermanência acaba por se nos impor e a ilusão de criar
uma eternidade “a la carte” daquilo que queremos prolongar
traz consigo o apego, essa amarra que se converte numa pena que teremos que
carregar, e tudo fará para manter em nós essa sensação de permanência, o que, duma
forma ou doutra, mais cedo ou mais tarde nos irá conduzir ao sofrimento.
E assim nós existimos, mas existimos
apenas porque a existência global, essa sim, permanece, mas permanece na sua
impermanência e indiferente à nossa existência individual, e persiste em ser
movimento contínuo, estar acima do bem e do mal, em não ter forma estática, em
ser indefinível, inapreensível, cambiante, caprichosa e, para nós, “ilógica”; essa
existência é e contém o vento, as árvores, a terra, as nuvens, as ondas, o
conflito, o movimento, equilíbrio e o rio sob a ponte (recordo aqui Heráclito - ninguém vai duas vezes ao mesmo rio, pois nem o rio é o mesmo rio,
nem o homem é o mesmo homem).
É importante, para não dizer necessário,
cultivar o desapego como regulador universal do estado de alma; será essa a
chave que nos permitirá crescer e passar a outro nível de funcionamento onde a impermanência seja permanente (Heráclito).
Nascemos sós e nus; conforme a nossa
vida se desenrolar, passaremos por todas as situações possíveis: necessitar,
possuir, perder, sofrer, chorar, tentar… etc., mas depois morreremos, e, tal
como nascemos, morreremos sós, e aí não fará a menor diferença se fomos ricos
ou pobres, conhecidos ou desconhecidos; com mais ou menos pomposo enterro, maior
ou menor acompanhamento, a morte será sempre o grande e último nivelador da
nossa passagem por este estado.
A Siddhartha Gautama (+- 563AC a +- 483AC**), o primeiro Buda (o Iluminado)
atribuem a seguinte frase: “Há uma única lei do
universo que não muda, e essa lei é que tudo muda”.
Por vezes, provavelmente muitas, temos/teremos
alguma dificuldade em perceber a realidade, pois nosso ego possui vários, para
não dizer muitos, momentos de permanência através do seu apego a sentimentos, a
momentos e a pessoas; é uma defesa interna mas é igualmente uma ilusão, e esta
é a maior e mais perigosa ilusão que podemos manter na vida, pois sempre que
tentarmos controlar as coisas, tarde ou cedo, vamos perceber que as coisas não
são controláveis, e daí provém a frustração, o que é bom, pois é essa
frustração que nos leva à desconstrução e ao consequente fim do sofrimento.
Para sermos por inteiro e vivenciar tudo
o que há para viver, teremos que colocar as ilusões de lado e olhar para a vida
real tal como ela é, com toda a sua beleza e toda a sua impermanência.
Nós não precisamos de ser culpados das coisas!
Nós não precisamos de arranjar culpados
para as coisas!
Concluindo:
Impermanência é um conceito segundo o qual tudo
está em constante movimento; nada é estável, fixo ou imutável; nada, incluindo
aquilo a que temos por hábito chamar de fim.
Ao que a lagarta chama o
fim do mundo o mestre chama borboleta -
Richard Bach (23JUN1936 – 81 anos).
Sendo ou estando tudo em impermanência
quem é ou onde está o “eu”, que no fundo é o “nós”, porque “não passamos de manifestações transitórias totalmente interdependentes
de tudo o que nos rodeia”?
Quem é e onde está então, e neste
momento, o “eu/nós” que redigiu estas linhas?
Disse V\M\
ARS
M\M\
* Apenas
por curiosidade; Drucker e Kierkegaard faleceram ambos a 11 de
Novembro.
** Pode ser mera coincidência mas não deixa de ser
interessante: Siddhartha Gautama é contemporâneo de Heráclito. Numa época em
que, ao que eu saiba a globalização não ocorria ainda, nem mesmo aquela temporã
dos Descobrimentos Portugueses, época em que não havia aviões como os de hoje
que levam meio-dia a fazer esse trajecto, como é que dois indivíduos a 5.700
quilómetros de distância e desconhecendo a existência um do outro (ou não?)
proclamam o mesmo?