Da Regularidade:
Enquanto Grão Mestre da Grande Loja Regular de Portugal, encerro nesta Grande Loja de hoje, um ciclo completo: dois solstícios: dois equinócios: um ano solar, fecho com o compasso maçónico um círculo justo e perfeito.
Antes de mais, agradecer a todos: as horas felizes, os sorrisos, a força, as ajudas, a lealdade, a harmonia, o companheirismo fiel e fraterno.
Dizer ainda que crescemos em Obreiros e em Lojas, que nos fortalecemos, que nos consolidamos, que aumentamos a nossa estruturação e eficácia, o nosso rigor, e através de uma sede de Grande Loja renovada e mais fina e ritualmente adornada, damos corpo a uma melhor imagem de nós, mais bela, espaço repositório da história e memória da nossa Obediência, mais condizente, mais justa e perfeita.
Sendo a nossa sede local onde trabalham 21 Lojas nos dois templos ali consagrados, é no entanto o espaço de todos os Mações e de todas as Lojas da GLLP/GLRP, visitável por Irmãos, Famílias e profanos em horários pré-determinados.
Mantivemos e reforçamos os nossos relacionamentos internacionais credibilizando ainda mais a nossa Grande Loja e demos corpo ao reforço estratégico dos laços da lusofonia.
E por fim conversar convosco sobre Regularidade. E falar-vos deste tema, porque somos uma grande Obediência Maçónica que se filia com total plenitude na Regularidade Maçónica, a maior família maçónica do planeta, que conta já com muitos séculos de tradição.
Por vezes somos levados a não valorizar suficientemente a real importância da nossa Regularidade, porque nos esquecemos que funcionamos tal uma orquestra sinfónica, totalmente afinada: embora o maestro seja fundamental para marcar o tempo, cada músico tem que cuidar do seu instrumento, da sua partitura, da sua melodia, manter-se a si próprio aprumado e ensaiado, estar atento e seguir escrupulosamente o tempo que a batuta do maestro dita, para se poder atingir a coesão e a coerência, para se poder realizar uma execução com unidade interpretativa, em plena harmonia.
E embora o maestro conte imenso, cada um dos restantes elementos conta igualmente imenso. Obrigado a todos por mantermos esta contínua harmonia, obrigado a cada um pelo papel fundamental que tem sido capaz de interpretar e desempenhar.
A regularidade maçónica é filiação que se conquista arduamente, é realidade que se merece depois de conseguida a harmonia, mas é também realidade que se mede ininterruptamente, e que por isso se pode perder a cada nova sinfonia que a nossa orquestra queira interpretar, porque a maléfica tentação da cacofonia espreita insistentemente, o individualismo desintegrador ameaça todos os dias, mas eu garanto-vos que serei sempre um devorador de desunião, um comedor de egocentrismos, um maestro da união e da harmonia.
Não queiramos apenas acreditar nas nuvens de algodão que descobrimos pelas janelas dos aviões, porque elas já foram beber a todas as gotas de orvalho, a todos os rios, a todos os lagos, a todos os mares, a todos os oceanos! Também assim se forma a regularidade maçónica universal, tal uma cadeia que se irmana através de elos que são cada Irmão, cada Loja, cada Grande Loja, cada confederação de Grandes Lojas, continuamente escrutinadas pela Grande Loja Unida de Inglaterra: tal uma romã, a tal meligrana que em várias ocasiões já vos falei.
Sem complexos, servilismos ou perda de soberania da nossa Obediência, a Grande Loja Unida de Inglaterra é uma autoridade indisputável no que a questões de Regularidade dizem respeito, não só porque é a Grande Loja fundadora da Maçonaria tal como a conhecemos mas porque ao longo dos anos emitiu e produziu doutrina sobre a Regularidade constituindo-se assim um referencial incontornável.
E se perdermos a regularidade o que seremos? Pura e total insignificância! Um grupo de homens livres que quer muito ser maçon, mas a quem mais ninguém no mundo lhe reconhece essa qualidade, porque deixamos de emanar luz, para ser apenas reflexo de passageiras venturas, olvidado que já foi o farol primordial que nos alicerça na nascente, que através da distância e do tempo se purificou, sem que qualquer ilusão ou miragem o venha reinventar, amortalhando assim a resplandecência da pureza inicial: e nada mais que grandes ilusões permanecerão, grandes vazios, grandes dissidências e desuniões, paraísos falsos totalmente perdidos.
Pode haver a tentação de deixarmos subir através de nós a vontade de noite, trazida por um ímpeto silêncio que acaricia a pele dos nossos egoísmos, enquanto se estende um imenso lençol de pesada sombra aniquiladora, tão serena que até dá tempo à concretização de todas as grandes destruições, que nos precipitarão em plena garganta de todos os precipícios.
Mas nós preferimos antes sonhar o rio da união como quieta lagoa que não tem que suportar o arrepio, nem tolerar saltos incertos e ousados de contrabandistas que navegam no fio da navalha dos abismos, porque a eternidade Regular, nunca acabará de passar, por isso seguiremos em justo e harmonioso silêncio, o silêncio justo da tradição e da universalidade, para não sermos esmagados pelas desilusões!
E vou continuar a falar-vos do tema da regularidade, mas agora de uma outra regularidade, a regularidade democrática em que o nosso País, o nosso querido Portugal, já se mantem há mais de quarenta anos. E falar desta regularidade democrática, porque se vão mais uma vez desenrolar eleições livres no próximo dia 4 de Outubro, o ato popular e universal que consubstancia a regularidade democrática de cada estado e que a Maçonaria tanto lutou. E não me atrevendo a opinar sobre os partidos políticos que a elas concorrem, creio constituir elemento relevante, o Grão Mestre alertar todos os maçons da sua Augusta Ordem, para que sejam cidadãos intervenientes mas inteiros, agentes plenos de cidadania, que nunca deixarão o seu país derivar para obscurantismos e outros regimes totalitários, por isso serão agentes valorizadores da democracia plena e portanto do ato popular mais sagrado das democracias modernas: as eleições livres.
Dizer ainda que durante estas últimas quatro décadas vividas em democracia, Portugal mudou radicalmente para melhor, tendo sido capaz de responder cabalmente a vários grandes desígnios e causas nacionais tal: a liberdade, a democracia, a descolonização, a infra-estruturação básica, a Europa, o desenvolvimento.
Mas ficam-nos ainda vários grandes desígnios nacionais por resolver, e dentro dos mais prementes, penso ser muito importante frisar três fundamentais: a coesão e justiça social, a coesão e justiça territorial, o respeito e defesa do ambiente.
Coesão e justiça Social para que sejamos realmente capazes de amenizar os sofrimentos dos mais desprotegidos e frágeis, não os deixando em sofrimento à beira da estrada.
Coesão e justiça territorial, de forma a esbatermos o fosso que se cavou entre o litoral mais povoado, mais rico e desenvolvido e o interior em contínuo e total abandono, caminhando a passos largos para o total despovoamento, muito mais pobre, profundamente deprimido e muito menos desenvolvido que a finíssima faixa litoral.
E por fim o respeito e defesa do ambiente, porque apenas temos este país e este planeta para viver, e temos o dever de os deixar aos nossos vindouros, pelo menos em tão bom estado de saúde, como aquele que recebemos dos nossos ascendentes.
É ainda importante frisar, que foi apenas no mês passado, que pela primeira vez um presidente em exercício nos EUA, o nosso Irmão Barack Obama, pisou o Ártico americano, para enfatizar a necessidade do combate drástico ao aquecimento global: e nós por cá não queremos nada que o nosso litoral se afunde, nem o nosso interior se erme!
E neste tempo de equinócio, a União da grande família dos maçons regulares, é de rigor: façamos o mundo mais feliz, e por contágio, sejamos todos mais felizes.
E era esta a mensagem simples que hoje vos queria comunicar, e dela imbuídos, continuaremos o nosso caminho, humildemente, harmoniosamente, assumindo a plenitude universal da nossa Regularidade Maçónica, como a regularidade democrática para Portugal, para continuar a consolidação e edificação da nossa Augusta Ordem, a bem da Humanidade, à Glória do Grande Arquiteto do Universo.
Júlio Meirinhos
Grão Mestre