19 maio 2010

Loja Mestre Affonso Domingues - 20 Anos de História

A imagem acima é a da (simples, como convém) capa do livro que a Loja Mestre Affonso Domingues tem já no prelo e vai publicar brevemente. A sessão de lançamento terá lugar precisamente no dia em que, dia por dia, se completam exatamente vinte anos sobre a emissão, pelo Grão-Mestre da Grande Loge Nationale Française, da carta-patente que marca a criação da Loja, o próximo dia 30 de junho, pelas 19 horas, no Grémio Literário, Rua Ivens, n.º 37, em Lisboa (gente fina é outra coisa...).

No livro, com bem preenchidas 152 páginas, consta a memória dos vinte anos vividos pela Loja. Os bons e os maus momentos, os êxitos e os fracassos, a participação, ao longo deste tempo, de quase duzentos obreiros. Regista-se e dá-se a conhecer os tempos de implantação, o primeiro crescimento, a grande crise de 1996/1997, a recuperação, os tempos mais recentes. São também evocados aqueles que, em qualquer momento, foram obreiros da Loja e já passaram ao Oriente Eterno. Publicam-se dezoito trabalhos (nós, maçons, chamamos-lhes "pranchas") de dezoito obreiros atuais da Loja - e apenas dezoito porque só isso o espaço disponível permitiu...

O livro é edição de autor - da Loja. É a Loja que paga os respetivos custos de produção, armazenagem e comercialização. Mesmo assumindo o risco destes custos, a Loja,confiante no bom acolhimento desta sua iniciativa de comemoração do seu vigésimo aniversário, abalançou-se a uma edição considerável, que ultrapassa a média das edições de autor, de poucas centenas de exemplares.

A comercialização desta primeira edição do livro vai ser exclusivamente feita fora do circuito comercial. Vai ser totalmente efetuada diretamente pela Loja. A sua divulgação vai assentar essencialmente na Internet.

O preço fixado para o livro é de 14 Euros. Porém, uma vez que a Loja assume o risco da publicação, decidiu privilegiar as compras e encomendas efetuadas até ao dia do lançamento. Assim, os livros vendidos no dia do lançamento e os livros encomendados e pagos até esse dia custarão apenas 12 Euros.

As encomendas podem ser feitas mediante o envio de mensagem de correio eletrónico para mestreaffonsodomingues@gmail.com, indicando nome, o número de exemplares pretendido e endereço postal para envio. Será acusada a receção da mensagem e fornecido o NIB da conta para onde deverá ser efetuada transferência do custo de aquisição e um código que deve ser mencionado na ordem de transferência (esta menção de código é essencial para determinar quem procedeu ao pagamento, em ordem a ser-lhe enviada a encomenda). A expedição da encomenda para a morada indicada será confirmada por envio de mensagem de correio eletrónico para a caixa de correio de onde partiu a encomenda.

Em alternativa, pode também a encomenda ser feita mediante envio de cheque do valor correspondente ao número de livros encomendados e indicação de nome e endereço postal para envio para Apartado 22777, EC Socorro, 1147-501 LISBOA.

Em qualquer dos casos, o envio será feito, a partir de 15 de junho, no prazo máximo de cinco dias após a receção do pagamento e, para as encomendas anteriores a esta data, entre 15 e 18 de junho. De onde resulta que quem fizer rapidamente a encomenda receberá o livro ainda antes do seu lançamento público!

Bom, e agora o aviso: a edição é grande, mas não é ilimitada. Este blogue é lido nos cinco continentes, a Loja Mestre Affonso Domingues é conhecida por muita gente, entre os maçons e os profanos. COMO É QUE É? ESTÁ À ESPERA QUE ESGOTE E NÃO CONSIGA O LIVRO? Toca mas é a despachar e proceder à encomenda do livro!!!!

Rui Bandeira

14 maio 2010

A Grande Máquina

Eis a GRANDE MÁQUINA !

Aí está ela tão bem explicadinha que até eu percebo.

E não é fácil conseguir esse resultado... (sou eu que digo !)

Quando estudei, com o saudoso Prof. Sedas Nunes, a revolução industrial e seus efeitos (há que anos...) nunca me passou pela cabeça que ao fim de tantos anos fosse levado a estabelecer estas analogias, chegando a conclusões bem conservadoras.

De facto continua mais ou menso claro como se mantem a máquina em funcionamento.
Um pingo de óleo aqui, um pouco de massa lubrificante acolá...
Talvez uma vez ou outra a substituição de alguma peçazita, uma reparaçãozita mais além...

Mas... quem deu à manivela a primeira vez ?
E o primeiro exemplar, mesmo pensando-o simplicado, quem o montou ?


Estamos com o anúncio de um campeonato, ou algo semelhante, de robôts e esses eu conheço, ou posso conhecer facilmente, quem os monta agora e quem os montou no passado.
É mesmo muito fácil saber quem construiu/montou e pôs a funcionar (o tal primeiro movimento da manivela) o primeiro dos primeiros robôts.

São elas, também, máquinas complexas, com muitos sub-sistemas que se organizam num conjunto harmónico com um único e comum objetivo à vista.

Mas aquele do boneco ?
Quem foi o primeiro ?
Qual foi o primeiro ?
Quando foi o primeiro ?


BUUUUMMMMMMMMMM.... e lá salta um daqueles... Pois, talvez...

Recorro à expressão de um outro professor, e desse dizia-se que era maluco (e devia ser já que foi o único 20 da minha carreira de estudante).

Diria ele neste momento da "conversa", "talvez sim, talvez não ou talvez talvez ?"

Nunca soube a resposta a esta pergunta que ele fazia continuamente já que a nossa insegurança nos faz muito pouco assertivos. Refiro a época dos 15 aos 18 anos na qual se misturam as certezas absolutas com as dúvidas sistemáticas.

É tudo... muito talvez !!!

Vocês já não se lembravam destas charadas para distração de fim de semana.

Deixo-vos esta. Entretenham-se.

Bom fim de semana.

J.P.Setubal

12 maio 2010

Loja Mestre Affonso Domingues: o sítio e o blogue


A presença na Internet da Loja Mestre Affonso Domingues processa-se em dois planos: o sítio da Loja (http://www.rlmad.net/) e este blogue. São dois espaços de comunicação diferentes, embora ambos expressamente pensados e organizados para serem lidos por maçons e por profanos.

O sítio da Loja assume um cariz mais institucional - embora não demasiado. Publica textos maçónicos e material de divulgação, que consideramos interessante. Em suma, procura espelhar a identidade coletiva da Loja.

Este blogue procura ser mais coloquial, diversificado, subjetivo. O seu objetivo é mostrar como pensam, o que são, os maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. Por isso, o subtítulo deste blogue afirma que este é feito por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues - não pela Loja! Este blogue é a concretização de um dos princípios essenciais da Maçonaria: o respeito da identidade individual de cada um, a riqueza que constitui a integração da diversidade - de pensamento ou da simples opinião, da religião, de sentimentos, de estilos, de personalidades.

Com estes dois diferentes instrumentos (sítio e blogue), a Loja mostra a quem quiser ver duas diferentes facetas da Maçonaria: enquanto grupo, com um acervo de valores comuns (o sítio, cujo responsável sabe que tudo o que ali é publicado é visto, lido e entendido como manifestação da Loja) e (blogue) enquanto indivíduos, pessoas, maçons individualmente considerados, que espelham as suas opiniões, sentimentos, estilos, com a diversidade que cada um que aqui escreve mostra. O todo composto por indivíduos com um núcleo de valores comuns (sítio), os indivíduos que, na sua diversidade, contribuem para as caraterísticas específicas do grupo (blogue). Quem consulta o sítio, consulta a informação, as ideias do grupo, do todo, da Loja; quem lê o blogue, contacta com as ideias de quem escreve, assumindo-se como maçom e como integrante da Loja, mas sempre e principalmente posições individuais, independentes, pessoais. No sítio, tem-se o pensamento coletivo da Loja; no blogue os pensamentos individuais dos maçons que integram a Loja e que se dispõem a aqui os expressar, e quando a tal se dispõem.

Por isso, ainda que este blogue tenha tido, até agora, a maior parte dos textos nele publicados escrita por mim, sempre deixei bem claro e bem frisado que este blogue não é o blogue do Rui Bandeira e amigos, é o blogue dos Mestres Maçons da Loja Mestre Affonso Domingues. A maioria dos textos, até agora ter sido minha, haver períodos em que só se publicam textos meus, são apenas elementos circunstanciais, alteráveis a todo o tempo e, seguramente se, como espero, este blogue tiver longa existência e prosseguir enquanto a Loja existir, a médio ou longo prazo inevitavelmente alterados. Tempo virá - talvez mais próximo do que longínquo - em que os textos que eu aqui publico serão minoria; tempo se seguirá em que outrem assegurará o essencial deste blogue; tempo chegará em que este blogue prosseguirá sem novos textos meus, em que, na coluna da direita o meu nome não estará mais no rol dos que escrevem aqui - quando muito será porventura referenciado no número dos que aqui escreveram...

As caraterísticas que este blogue foi assumindo, individualidade de textos, interatividade com os leitores que decidem comentar, diálogo entre os maçons que escrevem e aqueles, profanos ou maçons, que comentam, os caminhos, quiçá anárquicos mas de uma riqueza e abertura gratificantes, que segue, à boleia da interação dos pensamentos de quem escreve e de quem comenta, podem, por vezes, fazer esquecer que este é um projeto executado por maçons da Loja Mestre Affonso Domingues, um meio, um tipo, uma forma específicos, de comunicação da Loja com o seu exterior. Mas é! Que isso por vezes não se note é a confirmação do êxito do projeto! O blogue A Partir Pedra espera merecer ser considerado um Hino à Liberdade de Pensamento dos Maçons da Loja, enquanto o sítio da Loja, desejavelmente, é a Sinfonia do Pensamento da Loja.

Aqui no blogue, vamos falando, debatendo, expondo ideias sobre de tudo um pouco, sejam matérias maçónicas, seja temas que nada têm a ver com a Maçonaria. O tema aqui é, afinal, a forma como os maçons pensam e vêem o Mundo, as coisas e os interesses que têm e que cultivam. O tema do sítio é o pensamento maçónico, que se divulga e mostra, para que quem quiser encontre, veja e leia. O responsável do sítio entende que alguns dos textos que se publicam aqui no blogue merecem estar incluídos também no sítio - e assim o sítio é também uma espécie de arquivo de textos selecionados do blogue. Isso mostra que o que os maçons da Loja Mestre Affonso Domingues aqui escrevem, sendo o produto do seu labor, do seu pensamento e da sua liberdade individuais, também integra o acervo do conjunto multifacetado de fontes que integram o pensamento institucional da Loja - e deixa-nos, aos que aqui escrevem, felizes.

A diferente natureza dos meios sítio e blogue é conscientemente utilizada em planos diversos. Que seja do meu conhecimento, a Loja Mestre Affonso Domingues é pioneira nesta utilização integrada e diferenciada das ferramentas proporcionadas pelas atuais Tecnologias de Informação. Procura utilizar rentavelmente os diferentes meios do século XXI para divulgar uma mensagem cujas raízes ideológicas provêm do Iluminismo e de mais além. E, com isso, procura desmontar dois mitos em relação Maçonaria: o seu secretismo e o seu poder oculto. Ninguém de boa fé pode acusar de secretismo uma Loja que põe à disposição de quem a ela quiser aceder dois meios de comunicação diferentes, com diferentes níveis e estilos de comunicação e com mais de dois milhares de textos sobre si própria, o seu pensamento, a forma como se organiza, o que faz, porque o faz, como o faz, etc., etc.. E quem ler e souber ler, atentar e souber entender, facilmente concluirá que o único poder que a Maçonaria busca é o de esclarecer, divulgar e, sobretudo, praticar os seus princípios.

A Loja Mestre Affonso Domingues está à beira e comemorar o vigésimo aniversário da sua criação. Esta comemoração envolve iniciativas internas e iniciativas pensadas e trabalhadas e colocadas à disposição de todas as pessoas, sejam ou não maçons. Nos tempos mais próximos, as duas diferentes dimensões do sítio e do blogue vão, temporariamente, aproximar-se. O blogue e o sítio, ambos, vão dedicar parte dos seus espaços à divulgação do vigésimo aniversário da Loja e às iniciativas por esta efeméride suscitadas.

Para já, fiquem atentos: a primeira iniciativa a ser divulgada é dedicada a todos, profanos e maçons. Mas só vou revelar o que é daqui por uma semana...!

Rui Bandeira

08 maio 2010


Ora meus Queridos Manos, Amigos, Curiosos e demais gente boa que vai lendo o que se passa neste "hemisfério discursivo" e "blogueiro".

Sei que têm dado muito pela minha falta, de tal maneira que tenho a caixo do correio cheia de mensagens de agradecimento pelo meu desaparecimento do circuito.

Mas desiludam-se... isto está a correr mal para o Vosso lado.

ESTOU DE VOLTA ! PIM !

E regresso porque a partir de hoje, 8 de Maio, arranca a Campanha do Pirilampo Mágico 2010.
E esta eu não perdôo.

É mais uma tradição do Maio português a que todos, novos e velhos, homens e mulheres, nacionais ou estrangeiros, costumam corresponder com entusiasmo comprando o boneco, este ano de côr “salmão”, lindo, amável e patusco como sempre, pelos 2 euros de sempre.
O resultado da venda vai direitinho para as Cerci’s, que bem necessitam de ajuda, com a certeza do agradecimento das “crianças” ali recolhidas e tratadas.
Comprem o Pirilampo, e/ou o PIN que sempre o acompanha, e contribuam para a alegria das “Crianças” das CERCI’s.

E não se demorem.
Não arrisquem a estragar a coleção dos Pirilampos anuais por falta de um exemplar.

Em caso de dificuldade deixem aqui um comentário com a V. indicação, porque tratarei de vos fazer chegar um Pirilampo, destes, lindos por todos os lados.

E tão fofiiiinhos......

JPSetúbal


05 maio 2010

Réplica e tréplica


Na sequência dos textos A viagem e Repto aceite, Diogo apresentou a seguinte réplica:

Confesso que no meu comentário anterior me desviei da alegoria de Charles Evaldo Boller para mergulhar de cabeça nos aspectos físicos da questão. Com isso ter-me-ei agarrado ao acessório científico e perdido o essencial do pensamento filosófico do autor. Peço desculpa ao Rui por isso. Li e reli de novo o artigo. Não consigo deixar de fazer um paralelismo entre a maçonaria e um misto de teísmo [O Grande Arquitecto, o Sol que tudo ilumina] e de Budismo – a constante procura da perfeição pessoal: Retirado de “O que é o budismo?” - «no entanto, o praticante Vajrayana iniciado nas instruções secretas, muitas delas dadas somente de mestre para discípulo oralmente, também denominadas, verdades sussurradas ao ouvido, iria pelo rio em busca das bagas venenosas, para as retirar directamente do rio, e assim todos poderem livremente beber a água o mais rápido possível.» Mas eu sou ateu. A minha filosofia de vida é aprender o mais possível (não num sentido moral) e fazer conscientemente o máximo de bem e o mínimo de mal. Bom, posto isto, vamos então ao debate: Rui: «E, desculpar-me-á o Diogo, mas a sua afirmação de que, na ausência de um terceiro ponto de referência nem sequer se pode afirmar que há movimento, não está certa: se variar a posição relativa entre o ponto A e o ponto B, é indesmentível que há movimento. O que pode desconhecer-se, na ausência de um terceiro ponto de referência, é se o movimento foi de A, foi de B ou foi de ambos...» Sem um terceiro ponto de referência não pode afirmar que há movimento. O movimento é sempre relativo. A move-se em relação a B em função de C. Mais, o movimento é uma função do espaço e do tempo. Pior, o tempo é uma função de um movimento em relação a outro movimento. Enfim, uma grande salgalhada. Evidentemente, estou a falar num sentido estritamente físico, o que não era a intenção do autor. Quanto ao ponto 4 – O que é o Tempo? Há algum relógio universal a medir o Tempo? Rui: «Esta pergunta, Diogo, tenho-a por retórica... Então o nosso céptico, hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e de que ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço e o tempo (conferir http://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3%A3o-big/)? Meu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada ao Einstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller... Não lhe faço a injúria de considerar que estava a colocar esta objeção a sério... Assentemos em que estava só a testar se eu estava distraído...» Estou a falar muito a sério Rui. Tanto a teoria da relatividade como a do Big Bang estão muito longe de estarem confirmadas. Eu estou convencido que ambas estão erradas. Acredito num Universo infinito e estacionário, sem princípio e sem fim. Quanto ao ponto 5 – Mas haverá matéria sólida? Se continuar a diminuir de tamanho e entrar dentro dos núcleos dos átomos e dos electrões não irá perceber que afinal todo o Universo é apenas energia? «Meu caríssimo Diogo, está a objetar a quê? Esta sua afirmação é precisamente a afirmação do texto do Irmão Charles Evaldo Boller...» - estou de acordo consigo. Quanto 6 - «Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes? » - também estamos de acordo. Rui: «Para cada argumento que se possa aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual fortaleza que defende essa existência.» Onde é que o Rui foi buscar este postulado? Rui: «à pergunta quem criou o Mundo?, respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de esperar uma repetição do fenómeno?» Como lhe disse acima, a teoria do Big Bang está muito longe de estar provada. Eu não acredito nela. De qualquer forma, um Deus, qualquer Deus, teria de ser considerado um ser vivo por mais imaterial que o consideremos. Ele não pensa? Não age? Rui: «Respondendo directamente às suas perguntas, Diogo, o significado da Vida e da criação (ou da primitiva aparição) da Vida é o Grande Enigma. Uns, como eu, crêem só poder ter sucedido e existir pela intervenção de um Poder Criador (que eu designo por Grande Arquiteto do Universo); outros acreditam que a Vida surgiu de uma enorme e incalculável sucessão de acasos cumulativos, que superam em milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais milhões aí...) de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões. Por mim, tudo bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu sou crente, quem acredita nessa incalculável megassucessão de mega-acasos, o que é? Talvez... crédulo???» Curiosamente, eu também não sou darwinista e portanto também não acredito que a vida e a evolução sejam fruto do acaso. Mas o que é a vida? Entre as muitas dezenas de descrições que podemos encontrar aqui – http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:http://pt.wikipedia.org/wiki/Vida - uma diz que: «Vida é um sistema que reduz localmente a entropia mediante um fluxo de energia» Donde, será aquilo a que chamamos vida apenas um aglomerado relativamente vulgar no Universo de matéria e energia? Moléculas com um determinado comportamento? Algo, afinal, sem nada de mágico? Quanto ao ponto 9 - «O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objectivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos. » Rui, aqui não vou discutir consigo. Você já sabe a minha opinião.

E eu formulo a tréplica que se segue:

Uma vez que Diogo reconhece que as suas primitivas críticas ao texto A viagem não tiveram em consideração o caráter alegórico do mesmo, tenho-as por retiradas.

De factual ou científico, a única diferença de opinião que, se bem ajuízo, resta entre Diogo e eu próprio é a questão da necessidade de um terceiro ponto de referência para a verificação se, entre um observador A e um ponto B, algum deles, ou ambos, se movimentam(m). Questão menor, convenhamos. E que, para a economia do debate das nossas ideias e do aprofundamento delas me parece perfeitamente lateral. Desde já declaro não ser um especialista da matéria (aliás, já o declarei neste blogue, considero que não sou especialista de nada, a não ser, hipoteticamente, um "especialista em ideias gerais"), pelo que a minha posição é meramente empírica. E como melhor ilusto as minhas ideias com imagens, procure o Diogo ver a razão da minha afirmação - de que discorda: imagine-se num comboio que, a certa altura, parou numa estação, e está a olhar pela janela. Do lado de lá dela, está um outro comboio, igualmente parado e, olhando pela janela, em sua direção, está uma bela mulher que chama a sua atenção, ao ponto de só a fixar a ela e nada mais. (Temos outra situação de observador A e ponto B e nada mais - que capte a atenção, pelo menos). A certa altura, a sua perceção é que a mulher que fixa se está movimentar para a sua direita. Dois pontos, um observador e o observado. O observador, sem necessidade de mais qualquer ponto de referência, regista a existência de movimento. Precisa efetivamente de um terceiro ponto de referência é para determinar se é o comboio "dela" que suavemente se movimenta, ou o "seu" (ou ambos, eventualmente). Dito isto, não procuro convencer o Diogo de nada, tal como certamente o Diogo não espera convencer-me do contrário do que afirmei. Fique cada um com a sua convicção - e felizmente que esta matéria é de irrisório interesse para nosso debate.

Diogo introduz a sua réplica com uma afirmação interessante e que eu não vejo motivos para rejeitar liminarmente: afigura-se-lhe que a Maçonaria será um misto de teísmo e budismo. É uma forma curiosa de pôr a questão. E é, no meu ponto de vista, irrespondível: a Maçonaria defende precisamente o máximo de liberdade da interpretação individual dos fenómenos. Certamente algumas pessoas partilharão facilmente da curiosa interpretação do Diogo, algumas outras dela discordarão, outras ainda tenderão a concordar, mais ou menos difusa ou parcialmente com a mesma. Em termos de ética maçónica a única reação a ter é registar a tese, respeitá-la e integrá-la como mais um elemento para a nossa própria análise. Ou seja: o Diogo tende a considerar a Maçonaria um misto de teísmo e budismo. Tudo bem, é a sua análise, que não é, de todo, inverosímil. E mais não há que comentar...

O outro aspeto da réplica de Diogo que considero merecer especial realce é o conjunto de proposições que começa com a sua afirmação de princípio (que é esclarecedora e que também só pode merecer uma atitude de respeito pela mesma) de que se considera ateu. Fica esclarecido. Nada a comentar ou objetar. Já na sua réplica especificada, Diogo formula ainda uma reveladora e (para mim) inesperada consideração: está pessoalmente convencido que, quer a teoria da relatividade, quer a teoria do Big Bang estão erradas. E prossegue declarando que acredita num Universo infinito e estacionário, sem princípio nem fim. Estas afirmações de princípio de Diogo abrem, creio, um campo de análise porventura interessante e que talvez o próprio Diogo não tenha ainda detetado.

Não vou tecer qualquer crítica ao entendimento expresso pelo Diogo - isso seria a violação daquilo que, como maçom, acredito dever-lhe: respeito e tolerância pela sua opinião. Nem vou procurar aproveitar-me para extrair conclusões porventura indevidas das suas proposições. Pretendo apenas contribuir para uma reflexão - de quem me ler e do próprio Diogo, em particular. Vou, portanto, formular apenas algumas perguntas. As respostas cada um as dará. O Diogo em particular, em especial no íntimo de si mesmo - onde não tem de temer reações, nem necessita de ninguém impressionar.

Já reparou o Diogo que as caraterísticas que atribui ao Universo que concebe (infinito, estacionário, sem princípio nem fim - portanto, eterno) são aquelas que os crentes atribuem à Divindade? Já reparou que eu poderia descrever o Grande Arquiteto do Universo nos mesmos termos? Será que o ateu que o Diogo se declara afinal se limita a transferir a resposta ao Grande Enigma da Divindade para o Universo? O que é então esse Universo infinito, estacionário, eterno? Não será afinal o ateu Diogo afinal um crente no panteísmo? Não andaremos afinal todos a falar da mesma coisa - só que chamando-lhes nomes diferentes?

Se assim o entender, pense o Diogo, calma e maduramente, nestas questões e nas que estas sugerem. Mas faça-o apenas perante si mesmo. Não com o intuito de refutar outrem ou de concordar com quem quer que seja. Apenas para aprofundar efetivamente as suas ideias, as suas dúvidas, as suas certezas,os seus desconhecimento. E tirar as suas conclusões. Que - se o Diogo for como eu - serão sempre provisórias. E serão suas. Que ninguém tem o direito de criticar ou pôr em causa. Que guardará para si ou partilhará com quem entender, quando entender, se entender.

É esta a felicidade e glória de ser Humano! Seja-se maçom ou profano, ateu ou crente, teísta, ateísta, budista, deísta, panteísta ou outro "ista" qualquer!

Rui Bandeira

28 abril 2010

Repto aceite


A publicação do interessante texto de Charles Evaldo Boller A Viagem motivou, até o momento em que escrevo este texto, quatro comentários. O primeiro a ser produzido, claramente crítico: "Li o texto cuidadosamente e sou da opinião que o Mestre Maçon, Charles Evaldo Boller, mistura alhos e bugalhos, faz várias afirmações contraditórias e outras das quais não tem ideia nenhuma. Nada das suas premissas lhe permite tirar qualquer conclusão. Estou disposto a discutir consigo o artigo, ponto por ponto." (Diogo). Depois, dois comentários sintéticos e adjetivantes: "Inspirador e belo" (LuxAeterna) e "Maravilhoso" (Júnior). Finalmente, um novo comentário de Diogo, no qual, em nove pontos, procura concretizar as razões das suas considerações inclusas no seu anterior texto.

Estas reações mostram-me que acertei ao ter pedido ao Irmão Charles Evaldo Boller autorização para aqui publicar o seu texto: só textos de qualidade são suscetíveis de gerar tão contraditoriamente extremas reações...

Se aos comentários adjetivantes pouco mais há a acrescentar, os comentários críticos - absolutamente legítimos - do Diogo abrem perspetivas interessantes e que talvez propiciem um diálogo frutuoso, de onde resulte um melhor entendimento do texto de Charles Evaldo Boller.

Aceito a proposta do Diogo. Discutamos o texto, então. Troquemos opiniões, analisemos o que nele se escreve. Vamos lá então, ponto por ponto, conforme sugerido.

1 - «Este é nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo parado e apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos sem ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existe ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos.»

1 – Se estamos só nós e o Sol e sem ponto de referência a não ser o Sol, não podemos afirmar que nos estamos a mover ou que o Sol se está a mover. De facto, sem um terceiro ponto de referência, nem sequer podemos afirmar que há movimento.

Esquece o Diogo que, assumidamente, o texto é uma alegoria - não um tratado científico. Não atentou que, no próprio trecho que transcreve, consta "Neste ambiente especial construído por nossa imaginação".

A premissa apenas nós nos movemos é estabelecida pelo autor. Faz parte da alegoria...

E, desculpar-me-á o Diogo, mas a sua afirmação de que, na ausência de um terceiro ponto de referência nem sequer se pode afirmar que há movimento, não está certa: se variar a posição relativa entre o ponto A e o ponto B, é indesmentível que há movimento. O que pode desconhecer-se, na ausência de um terceiro ponto de referência, é se o movimento foi de A, foi de B ou foi de ambos... Mas, mesmo assim, na economia da alegoria, uma vez que um dos pontos é o observador e este é um ser senciente, é possível ao observador afirmar que ele se move (porque sente o movimento).

É certo que, mesmo com esta premissa, não se pode afirmar, com certeza absoluta, que só o observador se move e o Sol está imóvel, pois o observador sente o seu movimento, verifica a diferença de posição relativa em relação ao Sol, mas não pode afirmar, com absoluta certeza que essa variação de posição relativa se deve apenas ao seu movimento ou também ao movimento do Sol. Mas, mesmo considerando este aspeto, a objeção do Diogo carece, a meu ver, de sentido, em face do enquadramento semântico da frase: o Sol - o segundo ponto de referência, na economia do texto está fora do ambiente referido pelo autor. É assim logicamente correta a afirmação de que Neste ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos.

Parece-me, consequentemente, infundamentada esta primeira objeção do Diogo.

2 - «Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta a nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e sem horizonte. »

2 – Que imensidão, se existo apenas eu e o Sol? Novamente preciso de outro ponto de referência para medir um espaço (a tal imensidão).

Esquece o Diogo, ao formular esta sua objeção, que o ponto de partida da alegoria não é um observador absoluta e completamente desconhecedor do mundo e da vida e das leis da Natureza. A alegoria coloca um ser vivente, que viveu, que sentiu, que viu, que algo sabe, enfim, um ser humano normal - metaforicamente o leitor que acompanha o autor na viagem - na situação descrita. Ora, o observador assim hipotizado tem uma experiência de vida, um conhecimento ao menos empírico, que lhe permitem interpretar as suas sensações. Esse conhecimento empírico permite-lhe recordar a dimensão normal como o Sol é visto, no dia a dia, o conhecimento do seu tamanho e a noção de perspetiva. Logo, em função do tamanho aparente da estrela e da noção empírica de perspetiva, qualquer observador mediano pode ter uma noção, ainda que porventura não precisamente precisa da distância a que estará o objeto observado, de forma a poder considerá-la uma imensidão.

Mais uma vez, não é absolutamente necessário o terceiro ponto de referência pretendido pelo Diogo, pelo que também me parece infundamentada esta segunda objeção.

3 - «não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido. »

3 – Mais uma vez, sem outros pontos de referência, tanto de espaço como de tempo, não posso ter nenhuma ideia de velocidade.

Não atenta o Diogo no contexto da frase, que demonstra que a situação descrita é a hipotizada. A afirmação de que a velocidade de deslocação é estonteada não é uma conclusão - é uma premissa.

Ora leia lá o parágrafo todo:

Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente um salto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaço tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma que adotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos agora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido.

Atente lá: Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. A premissa dada é que existe noção de espaço, logo de dimensão, logo - e mais uma vez sensorialmente se usando a perspetiva e a sensação de movimento - é possível a noção de velocidade, independentemente de "outros pontos de referência" (que, aliás, nesta passagem do texto se não diz que não existam; apenas não são expressamente referidos, obviamente por desnecessários para a exposição...).

Também rejeito, consequentemente, a pertinência desta terceira objeção do Diogo. E atrevo-me a inferir que, subjacente a estas infundadas objeções do Diogo está sempre a desatenção a que se está perante e numa alegoria, em que assumidamente o autor - logo no início! - declara ser necessário utilizar a imaginação, a fantasia.

E, por favor, não me objete, Diogo, que a imaginação não tem lugar no pensamento científico. Se me fizesse essa objeção, de novo teria de afirmar estar errado: a própria ciência experimental baseia-se na confirmação, repetida, através de experiências práticas, de hipóteses colocadas como objeto de investigação. De onde surgem essas hipóteses iniciais senão da imaginação, da capacidade de considerar algo que pode ser verdadeiro ou falso (as experiências o confirmarão ou infirmarão...)?

4 - «Vamos restaurar o fluxo do tempo. »

4 – O que é o Tempo? Há algum relógio universal a medir o Tempo?

Esta pergunta, Diogo, tenho-a por retórica... Então o nosso cético, hiper-racionalista Diogo esqueceu-se da teoria do Big Bang e de que ela postula que com o dito cujo se criou o Universo, o espaço e o tempo (conferir http://pt.shvoong.com/exact-sciences/496537-teoria-da-grande-explos%C3%A3o-big/)? Meu caro Diogo, essa sua pergunta deveria ter sido formulada ao Einstein, não ao Irmão Charles Evaldo Boller...

Não lhe faço a injúria de considerar que estava a colocar esta objeção a sério... Assentemos em que estava só a testar se eu estava distraído...

5 - «É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria, com quase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto do Universo produziu toda a matéria sólida do Universo. »

5 – Mas haverá matéria sólida? Se continuar a diminuir de tamanho e entrar dentro dos núcleos dos átomos e dos electrões não irá perceber que afinal todo o Universo é apenas energia?

Meu caríssimo Diogo, está a objetar a quê? Esta sua afirmação é precisamente a afirmação do texto do Irmão Charles Evaldo Boller...

Ora atente lá nesta passagem do texto do Irmão Boller:

É assim que se forma a matéria sólida de que são formados nossos corpos, o mausoléu de nossos pensamentos. A velocidade com que os elétrons giram ao redor de seus núcleos cria a matéria, lhe proporciona solidez. É como tudo no Universo físico é construído.

Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nós mesmos.

E releia mais esta passagem:

O que acabamos de afirmar e virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o elétron e o próton contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que o garante?

Existem considerações científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia.

Aí então a nossa pasma intelectualidade entra em pane!

Se os átomos não são nada mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio, nada somos!

Diogo, cuidado! Onde pensava haver divergência, há, afinal, correspondência de pontos de vista!

6 - «Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes? »

6 – Legitima. O facto de pensar implica a existência de algo que pensa.

Corretíssimo, Diogo. Se reparar bem, a pergunta do texto do Irmão Boller é meramente retórica. Ele também pensa assim - igualzinho ao Diogo!

Mau! Duas vezes seguidas o Diogo a pensar o mesmo que um maçom? Onde é que este mundo vai parar? (Não se zangue com a brincadeira, Diogo! Isto só demonstra que les bons esprits se rencontrent...)

7 - «Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado. Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que constatamos em nossa experiência; o ser é o nada que o constitui. »

7 – O nada de Heidegger é energia.

Bem, Diogo, aqui confesso a minha ignorância! O que não quer dizer falta de diligência... Da breve busca que fiz, apurei que a primeira obra importante de Heidegger se intitulou O Ser e o Tempo - daí talvez a referência do Irmão Boller.

Mas nada encontrei que confirmasse a sua afirmação de que "o nada de Heidegger é energia" (confira-se, designadamente, na Wikipedia - http://pt.wikipedia.org/wiki/Martin_Heidegger - e em http://aquitemfilosofiasim.blogspot.com/2008/07/sobre-ser-e-tempo-de-heidegger-i.html).

8 - «Porque olhando em nossa própria essência, sequer deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam para uma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de se manifestar… Conscientizou-se agora do quanto somos livres e iguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do Universo? »

8 – Como é damos o salto da existência da vida para a existência de um Grande Arquitecto? Não é muito mais simples aceitar o aparecimento da vida no Universo do que a existência de um «Grande Arquitecto»? Porquê a existência de um «Grande Arquitecto» que criou um Universo e depois criou a vida?

Diogo, para o peditório do debate entre crentes e ateus (ou agnósticos) já dei... Se quiser fazer o favor de conferir o que escrevi no texto Serei crente?, já há mais de dois anos, entenderá perfeitamente a minha posição sobre a inutilidade desse debate:

Deparei há dias com um notável texto intitulado Serei ateu?, que me inspira o texto de hoje. Não é uma resposta, nem uma manifestação de desacordo - pelo contrário! O meu propósito é tão somente complementar as ideias expressas naquele texto com o meu, de algum modo simétrico, entendimento. Daí, aliás, a escolha do titulo deste meu escrito...

Mas, para bem entender ao que aqui venho, faça o leitor, antes de mais, a fineza de aproveitar o atalho que acima coloquei e ler o dito texto Serei ateu?, da autoria de Carl Sagan. Vale a pena!

Já está? Prossigamos, então!

Ao ler o referenciado texto de Carl Sagan, a minha primeira reacção foi de admiração por ser possível uma tão grande comunhão de pensamento entre duas pessoas que, de alguma forma, estruturaram a sua forma de ver o mundo a partir de pressupostos opostos: noventa e muitos por cento daquilo que Carl Sagan naquele texto escreveu poderia ter sido escrito por mim - se, para tanto, tivesse tido engenho e arte... No entanto, enquanto Carl Sagan se define como ateu (embora colocando na devida perspectiva a sua posição), eu defino-me como crente. E, parafraseando o que Carl Sagan escreveu, também eu julgo adequado colocar um ponto de interrogação à frente da minha afirmação, porquanto também eu, na mesma linha, me considero crente até que alguém me prove racional e definitivamente que não existe um Criador.

Concordo plenamente com o entendimento de Carl Sagan sobre a racionalidade, o método científico, o cepticismo, a invenção de seres sobrenaturais pelo Homem, a inocuidade moral do ateísmo, as religiões, os fundamentalismos e os princípios que nos unem na Augusta Ordem Maçónica, independentemente das suas variantes!

No entanto, com essa tão grande, tão extensa, concordância, definimo-nos simetricamente: ele ateu, eu crente; ambos cum granum salis, o que vale por dizer, salvo melhor opinião e com reserva de mudança de opinião, se sobrevierem elementos que levem ao convencimento da necessidade dessa mudança.

Como é isso possível? Como é possível que tão similar forma de pensar conduza a conclusões diversas e, não diria opostas, mas simétricas? Será que a um se sobrepõe a Fé à Razão, ao contrário do outro? A tentação primária é afirmá-lo. Mas creio que seguir tal tentação seria um erro!

Pelo contrário, julgo ser asado concluir que ambos baseamos a nossa postura não só em postulados racionais, como até no mesmo postulado essencial: pese embora todo o Conhecimento Científico, toda a Especulação Racional, todos os Postulados de todas as Crenças, há duas afirmações opostas que, até agora, são racional e cientificamente indemonstráveis e racional e cientificamente irrefutáveis em absoluto: Deus existe; Deus não existe!

Para cada argumento que se possa aduzir em abono de que Deus existe, existe um argumento com igual força que o refuta; para cada argumento que se apresente demonstrando que Deus não existe, existe um outro, de igual fortaleza que defende essa existência.

Para não alongar muito este texto, apresento uma sumaríssima demonstração desta realidade, a um nível propositadamente primário: à pergunta quem criou o Mundo?, respondem os crentes que foi Deus; mas de imediato surge então a irrespondível pergunta de quem criou Deus?; similarmente, a tese da Ciência contemporânea de que o Universo teve origem num Big Bang é reduzida à sua dimensão de nada realmente explicar se se pergunta o que (ou quem...) criou, originou esse Big Bang, como e de onde surgiu essa tão fenomenal e extraordinária Força que do Nada fez surgir o Tudo. E, sendo postulado da Ciência que tudo o que existe pode ser reproduzido (e nisso se baseia a Ciência Experimental), como se explica que, desde há biliões e biliões de anos, só haja conhecimento de UM Big Bang, quando seria de esperar uma repetição do fenómeno?

E por aí fora se poderia, horas e dias e meses e anos, argumentar, especular, refutar, insistir. Bem o pontua Carl Sagan: não é possível, à luz dos nossos conhecimentos e da nossa razão, nem provar, nem refutar a existência de Deus.

Carl Sagan, legitimamente, acolhe-se ao seu cepticismo científico para concluir (se bem ajuízo): porque não está provado que exista Deus, não creio que exista e portanto classifico-me como ateu; não posso, no entanto, excluir que se possa vir a provar que existe e, se assim vier a suceder, mudarei de posição.

Com igual legitimidade, a minha posição é a de que se não pode provar e se não provou que Deus não exista e a única explicação que encontro para o Universo e para o sentido da Vida é essa existência e portanto classifico-me como crente; não posso, no entanto, excluir que outras prova e explicação possam vir a surgir e, logo, mantenho a minha mente aberta e atenta...

Quando olho, numa noite sem nuvens, o Firmamento e vejo milhares e milhares de pontos de luz, maravilho-me com a grandeza, o rigor, a precisão, do Universo e concluo que só uma Vontade Superior e uma Capacidade inentendível ao nível humano pode ter criado toda aquela incomensurável maravilha e mais a Vida que alberga e mais o Homem e a sua capacidade de abstracção, de ética, de razão... Penso que, se tudo isto fosse tentado explicar como um mero fenómeno natural, então ficava por explicar como e porque foi único, e assim, e de onde veio a força, e a matéria, e...

É exactamente pelo mesmo uso da Razão que sou crente. É por ter o mesmo cepticismo que Carl Sagan que, como ele, acrescento um ponto de interrogação ao meu postulado.

Temos a mesma ética, os mesmos princípios. Olhamos ambos para a mesma cerca - só que cada um do seu lado. O que não é nenhuma tragédia... O que nos diferencia não é a Razão, que ambos partilhamos, nem a Fé, que, penso, ambos admitimos apenas como possível consequência, nunca fundamento. O que nos diferencia, creio, é algo intermédio: a Convicção. A Convicção que se funda na Razão e que, quando a Razão não sabe, não pode, dar resposta, parte dela para ir além dela. A Convicção que parte da Razão para, de braço dado com a Intuição, procurar descortinar para além do ponto de partida e do horizonte que nele é visível.

É por isso que dois homens habituados a ser racionais e cépticos podem, sem desdouro nem problema, ter diferentes convicções. Até ao horizonte, vêem o mesmo e de igual forma; para além do horizonte, cada um interpreta os elementos que tem e intui o que pensa que para lá estará.

Respondendo diretamente às suas perguntas, Diogo, o significado da Vida e da criação (ou da primitiva aparição) da Vida é o Grande Enigma. Uns, como eu, crêem só poder ter sucedido e existir pela intervenção de um Poder Criador (que eu designo por Grande Arquiteto do Universo); outros acreditam que a Vida surgiu de uma enorme e incalculável sucessão de acasos cumulativos, que superam em milhões de milhões de milhões (e ponha ainda mais milhões aí...) de vezes as probabilidade de ganhar o Euromilhões. Por mim, tudo bem: cada um acredita no que acredita. Mas, se eu sou crente, quem acredita nessa incalculável megassucessão de mega-acasos, o que é? Talvez... crédulo???

Nesta grande interrogação, o que impera é a convicção. Fique cada um com a sua e não apode quem tem diferente convicção de errado.

Neste ponto, Diogo, assentemos num empate! Nenhum de nós pode provar ou infirmar aquilo em que acredita!

9 - «O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos. »

9 – Quase nada separa a maçonaria das outras grandes religiões.

Quase que fui tentado a pensar que todo o seu comentário foi uma introdução a esta frase final, Diogo...

Pois bem, Diogo, não vá por aí: releia o texto precisamente anterior ao que motivou o seu comentário (A Maçonaria não é uma religião) e não insista em afirmações inconsequentes como a da sua última frase: além do mais, esta tecla de afirmar que a Maçonaria é uma religião é normalmente tocada pelos fundamentalistas evangélicos americanos - e o Diogo vale muito mais que isso e do que eles!

Rui Bandeira

21 abril 2010

A viagem


Hoje, resolvi elevar a qualidade deste blogue até ao nível que os seus leitores merecem e, obviamente com a devida e indispensável autorização do seu autor, publico aqui um texto que descobri através do Grupo Maçônico Orvalho do Hermon e que foi já publicado, pelo seu autor, no seu blogue Segredo Maçônico. O texto é um pouco longo, mas vale a pena lê-lo e, sobretudo, a partir dele meditar. Eis, portanto, da autoria de Charles Evaldo Boller, Mestre Maçom da Augusta e Respeitável Loja Maçônica Apóstolo da Caridade, n.º 21 da Grande Loja do Paraná,


A VIAGEM

Acompanhe-me numa singular viagem.

Para isto é necessário que você aceite alguns postulados e a pouca consistência do que mostrarei, considerando que, em essência, tudo não passa de simples fantasia, mas os conceitos são os mais modernos de que a ciência dispõe. Façamos à semelhança de nossas lendas na Maçonaria, que mesmo em sendo ficções, pretendem transmitir profundos conhecimentos filosóficos, dependendo apenas do grau de interesse e desenvolvimento de cada indivíduo e da perseverança em alcançar o conhecimento que leva a educação natural.

Tenha certeza que a pretensão é flutuar por caminhos fascinantes que poderão revelar entendimento de verdades complexas e difíceis de explicar de outra forma.

Preparando o Ambiente da Viagem

Façamos de conta que estamos parados no centro de uma loja aberta ritualisticamente. Aparelhada com todos os instrumentos de trabalho do maçom, bem como sua matéria prima: a pedra bruta.

Esotericamente falando, o teto não existe, então, vamos tirar de vez esta cobertura do lugar de onde está e empurrá-la para bem longe, tão longe que desapareça. Descortina-se sobre nós o espaço infindo e ao longe brilha o sol.

Empurremos também as paredes de nosso templo para bem longe. Estamos no centro do espaço infindo que só não é totalmente negro porque a luz do luzeiro o ilumina.

Eliminemos igualmente o piso de nosso templo, afastando-o mais devagar para que nossa mente se acostume lentamente com o flutuar no espaço. Como não temos mais referenciais, não sabemos ao certo se é o piso da loja e a Terra que estão se afastando, ou se somos nós que estamos levitando, viajando espaço afora.

Se pensar que paramos aí, enganou-se, agora possuímos poderes sobrenaturais que nos permitem parar o tempo, o que fazemos.

Este é nosso novo Universo: nada ao nosso redor, o tempo parado e apenas o Sol a nos iluminar. Neste ambiente especial construído por nossa imaginação, apenas nós nos movemos. Estamos sem ponto de referência a não ser o sol. Longe de tudo. Não existe ruído ou necessidade de ar. Somos poderosos.

Olhamos ao redor e observamos a imensidão. Como é diminuta a nossa estatura em relação a este Universo ilimitado e sem horizonte.

Com nossa nova capacidade de imaginação deixamos nosso corpo material e flutuamos para fora de nossa prisão. Olhamos para as pedras brutas que somos pelo seu lado externo de formas como nunca nos foram dadas observar. Observamos como é nosso túmulo material. Como já aprendemos, o que este corpo tem por fora é mero invólucro de nossa manifestação material no Universo tridimensional, o importante desta massa é seu conteúdo interno, algo que aos olhos materiais é impossível identificar.

Foi devido a esta limitação que saímos de nossos túmulos materiais e estamos aqui fora olhando para eles.

Aqui somos finitos e infinitos. Nesta existência artificial não rege tempo ou matéria, não existe início ou fim. Todas as coisas materiais que possuímos em nossa efêmera vida material são nada se comparados com a imensidão que ora contemplamos ao lado de fora de nossos cárceres que nos servem apenas como instrumentos de nossas experiências sensoriais.

Locke defendeu que as idéias são formadas a partir de experiências sensoriais exteriores e que a reflexão interior colocava em seu devido lugar. Combateu o Inatismo, filosofia que parte do pressuposto do homem possuir idéia inata do Grande Arquiteto do Universo; que esta idéia já nasce com a pessoa. Vamos comprovar esta assertiva ao sairmos do nosso corpo apenas por força de nosso pensamento e levarmos junto conosco apenas nossas capacidades de ver e pensar.

Na Maçonaria nos é ensinado que nascemos livres porque nascemos racionais e os seres humanos são, por isto, considerados iguais, independente de governos e outros homens. Usamos desta experimentação sensorial não apenas através de nossos dispositivos de percepção da realidade, criamos uma nova percepção, pela fantasia, e por um exercício do pensamento estamos passeando fora de nossos corpos físicos pelo espaço infindo.

Parece insanidade, mas é divertido. E como diz Domenico de Masi: não sei se estou trabalhando, aprendendo ou me divertindo.

Os trabalhos do Rito Escocês Antigo e Aceito querem demonstrar ser o homem infinito e que suas posses são finitas. Locke concebe o infinito como resultante da unidade homogênea de espaço, número e duração, e o que diferencia uma da outra é que o infinito apenas não tem limite. Deduzimos que o homem material é finito enquanto presa da materialidade e torna-se infinito quando desperta para a liberdade da razão apoiada pelo conhecimento.

É isto a que este passeio conduz.

Início do Passeio

Percebe quão devagar estão nossos passos neste passeio? Não há necessidade de correr. Nossas experiências mais eficientes não ocorrem sempre aos saltos, mas em pequenos avanços de uma dimensão para a outra de um conhecimento alicerçando o próximo, ciclos eternos de tese, antítese e síntese. Assim se faz na Maçonaria. O salto é dado pela mente e não pelo corpo material. É disto que devemos nos libertar para penetrar nos segredos de nós mesmos. Apenas em condições especiais obtemos a verdadeira luz para investigar a verdade oculta em nós mesmos. Nossa fantasia cria o ambiente, nossa racionalidade preenche os vazios.

Se olharmos todo o trajeto que nos trouxe até aqui é realmente um salto imenso para a nossa pequenez de criatura vivente do espaço tridimensional. Aqui só existe a noção de espaço porque trouxemos junto conosco as carcaças que nos contêm. Qualquer forma que adotarmos, seja ela material ou assim como nos imaginamos agora, não passamos todos de simples viajantes espaciais, é o que todos somos; astronautas deslocando-se permanentemente pelo espaço sideral numa velocidade estonteante a um destino desconhecido.

Vamos diminuir de tamanho, aliás, nós não temos dimensão, podemos ser imensamente grandes ou infinitamente pequenos, basta querer. Nossa mente vai fazer com que diminuamos de tamanho lentamente, porque ainda faz pouco tempo que abandonamos nossa clausura física e adentramos nesta nova condição de existência.

Vamos encolher até que possamos entrar pelo ouvido do meu corpo material aí em frente e que conheço bem, haja vista que já fiz alguns passeios dentro dele ultimamente. Vamos diminuir de tamanho até que possamos divisar as moléculas desta carcaça.

Percebeis como meu corpo está desaparecendo?

O corpo está se dissolvendo lentamente.

Porque será?

Um Universo Interior

Boyle foi o primeiro que não aceitou mais as teorias de Aristóteles dos quatro elementos: água, terra, ar e fogo e formulou as bases e conceitos dos elementos químicos.

A diversidade de moléculas com que um corpo físico é composto é enorme, então escolhamos a primeira molécula que encontrarmos e vamos continuar a diminuir de tamanho para podermos abordar um dos átomos.

Sabia que não foi Boyle quem criou a idéia de átomo? Isto já foi cogitado na antiga Grécia, por Demócrito; é dele a idéia que os materiais são formados por partículas minúsculas. Hoje dispomos deste conhecimento porque estamos apoiados nos ombros de gigantes do passado.

Pode-se dizer que o átomo é formado por duas regiões que ocupam o espaço: o núcleo, que é seu centro compacto e pesado, e uma coroa ou eletrosfera. No núcleo estão os nêutrons e prótons e na eletrosfera movem-se os elétrons em diversas órbitas.

Rutherford sugeriu que o tamanho do átomo seria algo em torno 0,000.000.01 centímetro. Para imaginarmos melhor o significado desta dimensão consideremos o homem do tamanho de um átomo e toda a população da Terra caberia na cabeça de um alfinete e ainda sobraria muito espaço.

E nós estamos do tamanho de um átomo agora.

Só que não vemos nada.

Por quê? Se moléculas das mais diversas compõem um corpo físico, elas deveriam estar em todo lugar, trilhões delas deveriam estar presentes aqui, e deveriam obliterar a luz do sol.

Onde estarão?

A eletrosfera de um átomo é cerca de 10.000 a 100.000 vezes maior que o núcleo. Então, porque não estamos vendo nada?

Vamos diminuir mais umas 100.000 vezes o nosso tamanho. Ainda não vemos nada. O corpo pelo qual estamos viajando simplesmente sumiu. O que existe ao nosso redor é apenas espaço vazio. Só a luz do sol chega até nós.

Continuemos a procurar até encontrar um núcleo de átomo, formado de prótons, nêutrons e outras partículas insignificantes, e assim como nós, desloca-se solitário nesta imensidão do espaço. É do tamanho de uma laranja, e cabe em nossa mão.

Onde estará o elétron que faz par com este núcleo?

Sabemos que a massa do elétron tem em torno de 1.840 vezes menos massa que o núcleo. Muito pequenos para serem vistos, mesmo com estes olhos que temos agora. Temos que diminuir ainda mais de tamanho para divisar corpúsculo tão diminuto, será por isto que não vemos o elétron?

Não! Ele não é visto porque nós paramos o tempo, lembra?

Somos criaturas muito poderosas em nosso mundo de fantasia.

O elétron deste átomo está parado em algum lugar que pode estar em termos proporcionais a nossa atual estatura a alguns quilômetros daqui, ou até bem perto como alguns centímetros. Não o vemos apenas devido suas dimensões relativas diminutas.

Estou cansado. Vamos diminuir mais nossa estatura, até ficarmos tão pequenos que possamos sentar confortavelmente sobre o núcleo deste átomo.

Ainda não vemos o elétron, e teríamos que encolher ainda cerca de quase umas 2.000 vezes a nossa atual estatura, e ainda assim seria muito difícil encontrá-lo.

Vamos restaurar o fluxo do tempo.

Não se assuste com a escuridão!

Consegue imaginar o que aconteceu?

Porque esta escuridão súbita?

São os elétrons! Eles nos deixaram cegos! Esconderam o Sol.

O Mundo Material

Os elétrons em movimento impedem a luz de chegar até nós. Isto porque a velocidade com que o elétron gira em torno do núcleo é tão alta que mesmo com sua minúscula massa impede a passagem da luz.

Sua velocidade é tal que pode ser comparada à própria velocidade da luz.

A velocidade dos elétrons é de tal magnitude que num determinado instante cada um deles pode estar ocupando qualquer espaço ao redor do núcleo. Ele tem apenas uma probabilidade de estar fisicamente num determinado lugar, num determinado instante. As fórmulas matemáticas da mecânica da física quântica não oferecem valores determinados, apenas probabilidades.

Compare com as hélices de um avião; as pás parecem estar em todo o entorno de seu eixo ao mesmo tempo, podemos olhar através delas porque sua velocidade é inferior a da luz. Mesmo assim, as pás parecem estar em todo lugar ao mesmo tempo. Com o elétron é parecido, mas em escala de velocidades imensamente superior.

É assim que se forma a matéria sólida de que são formados nossos corpos, o mausoléu de nossos pensamentos. A velocidade com que os elétrons giram ao redor de seus núcleos cria a matéria, lhe proporciona solidez. É como tudo no Universo físico é construído.

Esta é a assinatura do Grande Arquiteto do Universo dentro de nós mesmos.

Isto até contradiz Locke, mas não esqueçamos que nossa existência aqui é apenas resultado de ficção, do exercício de nossa mente criativa.

Mesmo assim, esta constatação nos leva a inferir ser este, de fato, o nosso local mais sagrado. Como é imenso o corpo físico de qualquer ser vivente! O homem em sua inteireza, considerando a carcaça, a mente, as emoções, sua espiritualidade e outros detalhes é um universo tremendamente complexo, semelhante ao grande Universo.

A este universo que existe dentro de cada ser vivente, devido exatamente a esta diversidade e complexidade, denominamos Macrocosmo apenas para simplificar nossas limitações de entendimento.

É assim, de forma espantosa, com quase nada de matéria, com quase absoluto espaço vazio que o Grande Arquiteto do Universo produziu toda a matéria sólida do Universo.

Milagre ou realidade?

Será que legitima a expressão do penso, logo existo, de Descartes?

Se tomarmos a realidade do ponto de vista em que nos encontramos agora, certamente deduziríamos que nada somos. Tudo o que existe é feito essencialmente de espaço vazio, somos feitos do nada, então nada deveríamos ser. Existimos apenas como que por milagre. Um maravilhoso feito do Incriado.

Heidegger argumentava que o ser se faz no tempo; e é o que constatamos em nossa experiência; o ser é o nada que o constitui.

Platão afirmava que o Universo em que vive o homem é ilusório, feito de sombras e aparências; em nossa experiência, quanto desta assertiva é verdadeiro?

O que acabamos de afirmar e virtualmente constatar, foi baseado na informação de que o elétron e o próton contêm massas, isto é, que sejam efetivamente feitos de matéria sólida, mas que o garante?

Existem considerações científicas atuais que dizem terem os átomos ora o comportamento de partícula e ora de fenômeno ondulatório, isto é, não possuírem massa e serem constituídas exclusivamente de campos de força, de campos eletromagnéticos, de energia.

Aí então a nossa pasma intelectualidade entra em pane!

Se os átomos não são nada mais que campos de força, então somos efetivamente feitos de puro espaço vazio, nada somos!

Simples fótons?

Campos magnéticos em interação e deslocando-se à velocidade da luz?

Ainda sem considerar a teoria das Supercordas que remetem até o instante do inicio da expansão do Universo, o inicio de toda a história que nossos cientistas sonhadores dão para o Universo e ao qual denominam big bang, já nos satisfazemos com o fato de constatar que existe um projeto racional e um objetivo válido para tomar parte nesta grande orquestra da vida, esta milagrosa massa de seres viventes. Porque olhando em nossa própria essência, sequer deveríamos existir! É um milagre! Os fatos apontam para uma realidade onde a vida tem uma insignificante possibilidade de se manifestar.

A Improbabilidade da Vida

Partindo da constatação que as fórmulas da mecânica quântica nos fornecem apenas probabilidades e nunca certezas qual seja a verdadeira constituição do átomo. Acrescente-se que as moléculas de que nossas carcaças são formadas constituem apenas um por cento de toda a massa do Universo, isto porque, 75% de toda matéria do Universo é formada por Hidrogênio, 24% é Hélio, e o restante 1% (um por cento) é constituído por todos os demais elementos da tabela periódica. Desde o lítio, passando pelo carbono até chegar ao urânio.

A química que dá origem à vida é uma insignificância quantitativa em relação ao gigantismo do Universo!

Daí nossa intelectualidade vir a se preocupar com a existência e a realidade nos faz singelos na imensidão deste Universo - especula-se que existam outros Universos. É deveras um milagre possuirmos consciência!

Percebe a maravilha desta descoberta dentro de nós mesmos?

Consegue observar o quanto somos infinitos na forma em que nos encontramos e o resto do Universo é finito? Em termos absolutos poderíamos até dizer que nem infinitos somos, mas inexistentes.

Conscientizou-se agora do quanto somos livres e iguais neste Universo criado pelo Grande Arquiteto do Universo?

É razão mais que suficiente para buscar o conhecimento para nos entendermos melhor uns com os outros.

Fazer estes tipos de viagens é o único caminho que dispomos para trilhar pelos caminhos que conduzem para a liberdade e perfeição; simplesmente porque nos conscientizamos que existe um criador, não é possível que tudo seja resultado de obras do acaso sem a presença de uma mente pensante por traz de tudo o que se manifesta na natureza.

Esta nossa realidade, esta nossa insignificância perante o milagre da existência material já é suficiente para nos levar a entender do porque o amor fraterno é o único caminho para a verdadeira igualdade.

Na essência somos todos relacionados e iguais. Somos imperfeitos em nossa materialidade, mas alcançamos a perfeição em nossa racionalidade, da mesma forma como disse Platão: o único círculo perfeito é a idéia de círculo que existe em nossa imaginação.

Abrangência do Mundo Interior

Estenda esta visão às outras dimensões que temos: espiritualidade, emotividade, pensamentos, e outros. Este conhecimento de nós mesmos não fica limitado ao que estamos percebendo neste instante, este crescimento exige a perfeição tanto do espírito como do coração.

Há necessidade de treinar nossas percepções tanto do visível como do invisível, e tudo é dedutível por nossa capacidade de abstração, de fantasia, até vir a comprovar-se pela experimentação científica. Assim como aconteceu com Pitágoras, que na tradição intelectual do mundo ocidental teve transformada a sua capacidade de mística matemática numa espécie de ponte entre a razão humana e a inteligência divina. De nossa parte, enquanto sonhamos, não temos provas materiais da imaginação ser realizável, ao menos enquanto estivermos restritos ao nosso cárcere material, ao nosso corpo físico. Tampouco criamos proposições que não possam ser questionadas, até contrariadas, pois algo assim, nas palavras de Isaiah Berlin, não contém informação.

Devemos procurar a justiça e a fraternidade, o amor fraterno, para obter a possibilidade de, mesmo imperfeitos em alguns aspectos, sermos levados à perfeição do intelecto e da espiritualidade pela força do pensamento.

E assim como efetuamos nossa caminhada até ficarmos sentados aqui nesta escuridão sem ter medo de nada, quando o tempo está em marcha, aonde chegamos devagar, um passo de cada vez. A Maçonaria nos ensina que o caminho da perfeição também não se dá aos saltos, senão com muita prudência e lentidão. Velocidade é coisa de elétron em sua órbita, nós devemos lentamente ir formando uma base educacional em busca da verdadeira liberdade que nos liberta do fanatismo, do ódio e outros vícios. Pois se viéssemos até aqui na superfície deste núcleo de átomo num salto, certamente desfaleceríamos. A escuridão nos enlouqueceria! Não entenderíamos que na escuridão de nosso mais recôndito ser, na falta da liberdade a que o elétron nos levou, nos sentiríamos presos, imobilizados, com medo de nos mexer, inclusive de pensar. E o medo desta prisão certamente nos induziria a adotar alguma postura fanática e alienante, quem sabe até, num ato desesperado, o suicídio.

Percebe o quanto a nossa capacidade de sonhar é infinita e como isto nos diferencia do homem-fera primitivo? A filosofia do Rito Escocês Antigo e Aceito está conectada ao conhecimento humano, desde sua pequenez diante do Universo, até o gigantismo de sua capacidade de sonhar e pensar. É pela capacidade racional inteligente que todo maçom deriva conhecimentos detalhados e genéricos para a sua própria sobrevivência física e intelectual. Uma coisa puxa a outra.

O sonhar leva a predispor o iniciado na busca contínua de instruções e conhecimentos. Isto o leva a efetuar saltos mentais e lhe impõem denodo quando se interna na caminhada dos mundos desconhecidos, reservados apenas aos que têm coragem de enfrentar as veredas do desconhecido. Mesmo que lá reine escuridão, a mente continuará a irradiar a luz do entendimento de verdades cada vez mais complexas e intrincadas.

O peregrino cego carrega junto de si a luz do entendimento ao buscar intensamente dentro de si mesmo o conhece-te a ti mesmo, de Sócrates. O homem pensador passa a aperfeiçoar-se.

Depois que se aperfeiçoou e descansou parte em nova jornada, em ciclos eternos de sonhos, racionalizações e sedimentações de novos conceitos.

Fica evidente que ao adentrarmos no mausoléu que somos, despertam idéias ocultas que até então não percebíamos. Encontramos alguns porquês da existência: De onde venho? Para onde vou? Algo que é possível descobrir com viagens ao interior de nós mesmos. Faz da passagem para o oriente eterno apenas mais uma etapa da vida; algo que alivia o constrangimento e medo da morte. Este é o conhecimento, a luz que o profano busca em nossos templos; é a travessia que o iniciado faz quando se desloca do ocidente para a luz do oriente. Ao nos libertarmos do medo da morte, rompem-se os grilhões da escravidão do mundo material e passa a brilhar a luz da sabedoria do Grande Arquiteto do Universo.

Templos Vivos

Todo maçom é considerado de fato um templo vivo.

Só a partir desta constatação o maçom passa a considerar-se criatura pura e sagrada. Certamente tudo faz para não conspurcar o ambiente sagrado de que é constituído seu templo interior, derivando que isto induza o desenvolvimento de conceitos morais e éticos cujo objetivo preservará a pureza do lugar sagrado de seu interior. Isto faz do mundo interior um lugar perenemente limpo e puro.

Desperta adicionalmente que apenas limpar o templo interior não é suficiente. A pureza moral e ética é insuficiente. Exige-se que o interior do templo, local da razão e dos sentimentos equilibrados, nutram o cérebro com estímulos que levem a buscar a perfeição. Daí ressalta-se a importância em velar na maioria das vezes do centro das emoções, o coração, de modo a mantê-lo subjugado à mente, pois é considerado esotericamente um mausoléu e tudo aponta para o coração como túmulo do maçom; ao menos enquanto não morrer o maçom que o contém.

O caminho para a liberdade e perfeição do maçom é dominar suas paixões com o objetivo de acabar com atitudes extremadas e fanáticas. E a vereda do espírito passa pela capacidade de sonhar, com grandes chances de converter a fera humana, apenas controlada pelas leis, em ser humilde diante da grandiosidade do que daqui divisamos.

Quando o tempo se desloca, em nosso interior reina escuridão enquanto não efetuarmos um salto para dentro de nós mesmos iluminados pela sabedoria do entendimento desta viagem. Este deslocamento é realizado em pequenas estações, para que o choque da descoberta desta escuridão não nos deixe cegos e com medo, assim como fazemos em nossa evolução pelos graus do Rito Escocês Antigo e Aceito.

O medo pode nos imobilizar e escravizar aos extremismos.

É necessária coragem para desbravar o caminho.

Agora que mostrei a minha senda, faça as tuas viagens a sós para dentro de você mesmo e descubra teus próprios caminhos. Só não se assuste com a escuridão do lugar, leve sempre junto a luz de tua capacidade intelectual para de lá sair em segurança. Ao homem maçom é dado caminhar só na busca de sua espiritualidade e liberdade, exatamente porque ninguém a pode fazer por outrem. É tarefa individual e intransferível.

E saiamos daqui, pois os trabalhos encerraram a meia-noite.


Bibliografia:

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda, Filosofando, Introdução à Filosofia, Editora Moderna, 1993.
ASLAN, Nicola, Instruções Para loja de Perfeição para o Grande 4 ao 14, Quarta Edição, Editora Maçônica A Trolha Ltda., 2003.
BOSQUILHA, Gláucia Eliane, Minimanual compacto de Química, Editora Rideel, 1999.
CAMINO, Rizzzardo da, os Graus Inefáveis, Loja de Perfeição, Volume 1, Primeira Edição da Editora Maçônica A Trolha Ltda., 1995.
Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, versão 1.0, 2001.
GLEISER, Marcelo, Criação Imperfeita, ISBN 978-85-01-08977-7, 1ª edição, Editora Record, 366 páginas, São Paulo, 2010.
GUIMARÃES, João Francisco, Maçonaria, a Filosofia do Conhecimento, Primeira Edição, Madras Editora Ltda., 2003.
LOCKE, John, Ensaio Acerca do Entendimento Humano, Editora Nova Cultural Ltda., 2005
OLIVEIRA FILHO, Denizar Silveira de, Comentários aos grandes Inefáveis do Rito Escocês Antigo e Aceito, primeira Edição, Coleção Biblioteca do maçom, Editora Maçônica A Trolha Ltda., primeira Edição, 1997.
REALE, Giovanni e ANTISERI, Dario, História da Filosofia, Volume 1, Editora Paulus, 9ª edição, 2005.

Com a devida vénia ao autor,

Rui Bandeira

14 abril 2010

A Maçonaria não é uma religião


M. A., em comentário a O maçom e a Religião, formulou as seguintes questões:

Sendo a Respeitável Loja um espaço sagrado, para os maçons, um espaço onde se executam determinados rituais (agora não em causa) e um templo, não será a Maçonaria, ela mesmo, uma religião?

Não será a fusão das várias religiões, profanas, na cultura de um único grande Arquitecto, também um movimento orgânico de criação de uma religião própria, em alternativa às várias confissões, religiões existentes?

Não será esta uma forma de criar uma religião alternativa, agarrada a um lema, “profano”, da necessidade de o homem se tornar livre, honrado e mais culto, uma forma de “angariar novos membros para essa tal e hipotética nova religião?


As perguntas colocadas e as respostas que tenho para elas fazem-me lembrar uma peça processual que há muitos anos vi, escrita por um antigo, patusco e bem-humorado Advogado, uma contestação a uma ação em que eram alegados três factos. Escreveu então o meu bem-humorado Colega:

Art. 1.º: Não.

Art. 2.º: Não.

Art. 3.º: Não.

Art. 4.º: Resumindo: não, não e não!

Já sabe M. A. quais as minhas respostas às três perguntas! Mas, obviamente que não vou ser tão sintético como o meu bem~humorado Colega.

Não, a Maçonaria não é, nem pretende ser, uma religião. Não prega, não detém, não apregoa, não oferece, qualquer Salvação. A Religião é a ligação entre os homens e o Divino. A Maçonaria Regular limita-se - e muito é! - a buscar a melhoria dos homens que crêem no Divino.

A Religião é o conjunto de preceitos seguido por um crente para se ligar, ascender, ao Divino. A Maçonaria não intemedeia entre o Homem e o Divino, destina-se unicamente ao Homem, enquanto tal. É um meio, um método, um ambiente destinado a favorecer o aperfeiçoamento, a melhoria, o crescimento, dos homens crentes. Mas cada um seguindo a sua crença, a sua religião, e nos termos em que entende praticá-la.

A Maçonaria nasce na Europa cristã. É completa e absolutamente teísta e cristã, na sua origem. Perante as lutas, dissensões, querelas, entre católicos e protestantes, fez ressaltar esta simples verdade: uns e outros criam no mesmo Deus, sendo insano matarem-se uns aos aos outros em nome das suas diferentes formas de se relacionarem com o mesmo Deus. Esta base cristã demorou poucos anos a alargar-se ao judaísmo: também o Deus da religião judaica é o mesmo... E seguidamente a lógica impunha o alargamento ao islamismo: o Deus permanece o mesmo, o nome é que muda, as culturas é que divergem. E, partindo-se de uma base monoteísta, em que existe um único Deus, qualquer que seja a sua designação, racionalmente é indiferente que outras religiões (hinduísmo, por exemplo) sejam politeístas: para o monoteísta, o politeísmo mais não é do que diferentes manifestações do mesmo e único Deus...

Sobre a base teísta, acrescenta-se posteriormente e admite-se também o crente deísta, isto é, aquele que prescinde da intermediação da Revelação, da igreja, do sacerdote, na sua relação com o Divino, aquele que crê poder estabelecer essa relação sem necessidade dessa intermediação. A partir do momento em que a maçonaria se alarga até este ponto, admite no seu seio qualquer crente, qualquer que seja a sua crença individual. Deixa portanto de ser essencial qualquer conceção de Criador, do Divino. Porque reconhecida a liberdade individual de crença, é a crença individual que conta. Uma ponte a todos une: a crença de que somos mais do que mera carne e ossos e sangue e miolos, a crença que somos também, ou quiçá principalmente, espírito, que sobreviverá à extinção da chama da vida na carne, nos ossos, no sangue e nos miolos. O que essencialmente conta é portanto a crença na permanência da dimensão espiritual do Ser, chame-se ela vida para além da vida, reencarnação, ressurreição, nirvana - o que for. Assim a tónica se estende à espiritualidade, inclusiva, por exemplo, dos budistas.

Não, a Maçonaria não é uma religião. É um espaço comum de crentes em todas as religiões, organizadas ou individualmente sentidas. É um espaço comum de convívio, de fraternidade e, sobretudo, de instrumento para o aperfeiçoamento de cada um, segundo a sua crença, a sua vontade, o seu caminho.

Rituais não são exclusivos de religião. Rituais existem em muitas Tradições não religiosas (rituais de passagem, de acesso à idade adulta, por exemplo). Templo é apenas designação, nada mais.

Nada se pretende ou cria em alternativa a nada. Acentua-se o que de bom em todas as religiões existe. Mostra-se o que de essencialmente semelhante em todas elas há. Deixa-se as particularidades das diferenças para as práticas particulares de cada um. A Maçonaria não é a religião das religiões. É, se se quiser, o primeiro espaço ecuménico, em que os crentes das diversas religiões desde sempre puderam confraternizar e aperfeiçoar-se, nos aspetos comuns, sem se deixarem perturbar ou afetar pelas diferenças. É portanto um espaço em que a diferença é assumida, apreciada e valorizada. Nada se funde. Tudo se aceita no que contribui para os demais.

Não se pretende criar alternativas a nada. Dentro do quadro do que existe e do que cada um livremente crê e aceita, procura-se aproveitar de cada um o que de útil possa dar aos demais, recebendo cada um dos demais o que para si tenha de útil. Tão simples...

Tão simples afinal como o ovo de Colombo. Só que, conta a historieta, antes de Colombo ninguém se tinha lembrado de tão simples forma de pôr o ovo em pé...

Rui Bandeira

07 abril 2010

A propósito de três perguntas que já não existem...


Um leitor deste blogue deixou, num comentário que posteriormente ele próprio eliminou, três perguntas, a propósito do texto O maçom e a Religião. Ausente do país na última semana, li o comentário, mas não lhe respondi por duas razões: em primeiro lugar, a minha ausência e menor disponibilidade; em segundo, o facto de ter logo decidido que as pertinentes questões mereciam ser respondidas num texto autónomo e não em simples comentário.

Regressado, verifiquei que o autor do comentário o eliminara, não sei por que razão. Terá receado serem as três perguntas demasiado incómodas? Se foi esse o motivo, o receio foi infundado: neste espaço já várias vezes ficou patente que as perguntas pertinentes, cómodas ou incómodas, têm sempre a melhor resposta que somos capazes de lhes dar. Terá duvidado da pertinência das perguntas? Asseguro que as considero pertinentes - tanto que reservei um texto para lhes responder... Terá, relido o comentário, dele discordado ao ponto de ter achado melhor eliminá-lo? Ou simplesmente decidiu não gastar cera com este ruim defunto?

Não sei qual a motivação da retirada do comentário. Mas só me cabe acatar a decisão do seu autor.

Tenho arquivado o texto do comentário eliminado (maravilhas da tecnologia... e perigos dela, também... ) e poderia responder às perguntas, já que as conheço, as acho pertinentes e suficientemente interessantes para terem resposta no espaço principal do blogue. Mas não seria correto fazê-lo. Por muito que discorde da decisão de eliminação do comentário, por muito pertinente que o tenha achado, por muito interessante que eu ache a elaboração de um texto de resposta às tais ditas questões, se o autor do comentário entendeu por bem eliminá-lo, não tenho o direito de agir como se não o tivesse feito. As razões da sua decisão são dele e, convenha-me ou não a dita decisão, concorde ou não com ela, tenho de, sobretudo, a respeitar. Não o fazer seria defraudar tudo o que postulo neste espaço.

A Maçonaria é - tem de ser, só faz sentido sendo-o - também ética. E a ética manda que se faça o que se deve fazer, convenha-nos ou não.

Fiquei, porém, com a necessidade de resolver outro dilema: por um lado, entendo não dever responder a um comentário que o seu autor entendeu por bem eliminar - apesar de o ter achado pertinente e que seria interessante para os leitores deste blogue apreciarem as perguntas feitas e as respostas que julgo asado dar-lhes; por outro, não é justo privar os leitores do blogue de uma matéria que eu julguei que seria interessante ser objeto de um texto...

Nem de propósito, após ter publicado um texto sobre O maçom e o conflito, necessito de, "ao vivo e a cores", em frente de todos vós e de quem mais isto leia, gerir e, se possível, resolver ou atenuar este conflito entre o respeito pela decisão do comentador arrependido e o que eu considero ser do interesse dos leitores do blogue de serem aqui tratados os assuntos objeto das perguntas publicamente eliminadas. Vejamos então se e como aplico eu na prática a "receita" que tive o arrojo de proclamar...

Respeito a decisão do comentador arrependido. Esse é o ponto de partida reafirmado. Mas será que existe realmente conflito entre a decisão dele de apagar o comentário e a minha pretensão de às perguntas nele formuladas responder? Para o apurar, necessito de saber qual a razão, qual o motivo, da decisão de apagar o comentário e, designadamente, se a mesma resultou de (injustificado, já o afirmei) temor de ofender ou de ter formulado perguntas impertinentes. Se assim foi - ou situação similar - fica o comentador arrependido sabedor de que considero esse temor injustificado e que, não só nada me desagradou nas questões, como gostaria de a elas responder.

Importa, portanto, antes do mais, ouvir o interessado - se ele entender por bem esclarecer-me, é óbvio. Convido assim o comentador arrependido (sei quem é, mas obviamente que não julgo pertinente aqui designá-lo...) a, em comentário a este texto ou através de mensagem privada, esclarecer se, no seu juízo - que sem reserva será absolutamente respeitado - entende dever ficar definitivamente esquecido que alguma vez elaborou o comentário que apagou, ou se concorda em que eu divulgue as três perguntas que fez e a elas procure responder.

Consoante a existência ou ausência de resposta e, existindo, o teor da dita, assim definirei o texto da próxima semana.

Portanto, e para quem se deu ao trabalho de reler o texto sobre o maçom e o conflito, minimizo ou anulo o conflito acima exposto, procurando reduzi-lo à sua real dimensão (não está em causa todo o comentário, mas apenas as três perguntas a que desejo responder) e inquiro se, com esta menor dimensão, o conflito persiste.

Se souber que não persiste, o texto da próxima semana conterá as ditas perguntas e as respostas que for capaz de lhe dar. Se persistir, procurarei harmonizar os interesses em tempos e planos diversos: por um lado, não mais me referirei ao comentário apagado; por outro, oportunamente arranjarei maneira de escrever um ou mais textos em que o tema será o correspondente às tais perguntas, mas obviamente sem que quem o(s) ler (exceto o comentador arrependido e eu) se aperceba da origem desse(s) tema(s).

Os problemas, pequenos ou grandes, existem para serem resolvidos...

Rui Bandeira

31 março 2010

O maçom e o conflito


O conflito faz parte das nossas vidas. Quer queiramos, quer não. Existem interesses divergentes, quantas vezes inconciliáveis. Quando tal sucede, várias formas de lidar com o assunto existem: a força, a imposição de poder, a desistência, a conciliação, a cooperação, a hierarquização, etc..

Os maçons também vivem e estão sujeitos a conflitos. Tanto como qualquer outra pessoa vivendo em sociedade.

Mas os maçons aprendem a lidar melhor com o conflito. Desde logo, porque aprendem, interiorizam e procuram praticar a Tolerância. Esta postura não elimina, obviamente, os conflitos, nem leva quem a pratica a deles fugir, ou a ceder para os evitar. Pelo contrário, ensina e possibilita a melhor gerir o conflito. E mais bem gerir um conflito não é procurar ganhar a todo o custo. Mais bem gerir um conflito consiste em detetar e obter a melhor solução possível para o mesmo. Por vezes, "vencer" o conflito pode parecer a melhor solução no curto prazo, mas revelar-se desastrosa depois.

O maçom aprende a gerir o conflito, desde logo treinando-se a fazer algo que, sendo básico, é muitas vezes esquecido: ouvir! Ouvir o outro, as suas razões, pretensões. Ouvir o outro não é apenas deixá-lo falar. É prestar efetivamente atenção ao que diz e como o diz. Para procurar determinar porque o diz e para que o diz. E assim lobrigar exatamente em que medida existe realmente conflito de interesses entre si e o outro - ou se existe apenas uma aparência de conflito de interesses, por deficiente entendimento, de uma ou das duas partes, de propósitos, intenções, objetivos.

Ouvir o outro é o primeiro exercício prático da Tolerância, da verdadeira Tolerância. Porque esta não é o ato de, condescentemente, admitir que o outro tenha uma posição diferente da nossa e permitirmos-lhe, "generosamente", que a tenha. A verdadeira Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. A verdadeira Tolerância resulta do pressuposto filosófico de que ninguém está imune ao erro. Nem nós - por maioria de razão. Portanto, tolerar a opinião do outro, a exposição do seu interesse, porventura confituais com a nossa opinião e o nosso interesse, não é um ato de generosidade, de condescente superioridade. É a consequência da nossa consciência da Igualdade fundamental entre nós e o outro. Que implica o inevitável corolário de que, sendo diferentes as opiniões, se alguém está errado, tanto pode ser o outro como podemos ser nós. A Tolerância não é um ponto de chegada - é uma base de partida. Não é demais repeti-lo.

Porque a consciência disto possibilita a primeira ferramenta para a gestão do conflito: a disponibilidade para cooperar com o outro, para determinar (1) se existe verdadeiramente divergência entre ambos; (2) existindo, qual é ela, precisamente; (3) em que medida é essa divergência, superável, total ou parcialmente; (4) ocorrendo superação parcial da divergência, se o conflito se mantém e, mantendo-se, se conserva a mesma gravidade; (5) finalmente, em que medida é possível harmonizar os interesses conflituantes: cada um abdicando de parte do seu interesse inicial? Garantindo ambos os interesses, seja em tempos diferentes, seja em planos diversos?

Treinando-se na prática da Tolerância, o maçom aprende a lidar melhor com o conflito, porque é capaz de, em primeiro lugar, determinar se existe mesmo conflito, em segundo lugar predispõe-se para cooperar na superação do conflito e finalmente adquire a consciência de que existem várias, e por vezes insuspeitas, formas de superar, controlar, diminuir, resolver, conflitos - quantas vezes logrando-se garantir o essencial dos interesses inicialmente em confronto.

E tudo, afinal, começa por saber ouvir e por saber tolerar (o que implica entender) a posição do outro.

Por isso o primeiro exercício que é exigido ao maçom é a prática do silêncio. Para que aprenda a ouvir, para que se aperceba do que realmente é dito, para que reflita sobre a melhor forma de resolver os problemas que ouça expostos.

Através do silêncio, aprende o maçom a sair de si e a atender ao Outro. Através da Tolerância da posição do Outro, aprende o maçom a descobrir a forma de harmonizá-la com a sua. Através da busca da Harmonia, aprende o maçom a gerir os conflitos. Através da gestão dos conflitos, torna-se o maçom melhor, mais eficiente, mais bem sucedido.

Rui Bandeira